sábado, 30 de junho de 2007

O CABELO DO JORGE VIANA


Não é do "renomado" Instituto Referencial, mas vale a pena participar da primeira enquete organizada pelo blog:

Você acha que o Jorge Viana devia pintar o cabelo?

Na coluna à sua direita, vote: sim, não, usar xampu cinza, pintar com jenipapo, fazer corte moicano, raspar tipo Ronaldinho ou usar tranças rastafari.

Não deixe de votar. É muito importante para Jorge Viana.

MARA "NATUREZA" RÉGIA


A jornalista Mara Régia, produtora e apresentadora do programa Natureza Viva, da Radiobras, faz parte da vida de milhares de ouvintes na Amazônia. "O rádio na região é uma questão de sobrevivência", afirma.

E o programa dela é transmitido simultaneamente, há 14 anos, todas as manhãs de domingo, pela Rádio Nacional da Amazônia, para os nove estados da Amazônia Legal.


No ano passado, Mara Regia foi a primeira colocada do Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente, na categoria Arte e Cultura, pela contribuição que presta na defesa do desenvolvimento sustentável da Amazônia.

A jornalista, uma das poucas mulheres da história do Prêmio Nobel da Paz a disputá-lo, estava ontem em Rio Branco, após uma visita à fábrica de camisinha que será inaugurada em breve em Xapuri.

Na entrevista a seguir, sem edição, Mara Régia se emociona ao falar do Natureza Viva, o programa que já não interessa aos apoaiadores WWF-Brasil e GTA (Grupo de Trabalho Amazônico).

sexta-feira, 29 de junho de 2007

TOMA-LÁ-DÁ-CÁ

O Acre é realmente uma terrinha de muro baixo e eu um repórter bastante desinformado. O engenheiro Semy Ferraz, ex-deputado estadual e ex-secretário do ex-governador Zeca do PT, do Mato Grosso do Sul, já está na ativa, no Governo da Floresta, nomeado para a assessoria do governador Binho Marques.

Ferraz é dono do Instituto Referencial Pesquisas e Opinião de Mercado Ltda, empresa que já conta como parceiros de negócios o jornal A Gazeta, a prefeitura de Rio Branco e a Companhia de Selva, a agência de propaganda que detém as contas do governo estadual e da prefeitura.

É impressionante como a máquina pública funciona para alguns com tamanha agilidade. Para aqueles considerados da casa e da causa se exige sempre competência técnica, diploma, e tem-se na ponta da língua a alegação de que no governo estadual ninguém é nomeado apenas por amizade, parentesco ou laços partidários.

Cabe imaginar que o tráfico de favores, isto é, o toma-lá-dá-cá, possa seguir alguma orientação da executiva nacional do PT para que os eleitos socorram companheiros derrotados em disputas eleitorais nos outros estados.

Em tempo: o deputado federal Fernando Melo (PT) nomeou para trabalhar no gabinete dele um filho da desembargadora Eva Evangelista, corregedora do Tribunal de Justiça do Acre. Por sua vez, a desembargadora nomeou uma filha do parlamentar para trabalhar no gabinete dela.

E assim vamos caminhando para tornar o Acre o melhor lugar para se viver na Amazônia.

MORRE NOMÍNIMO


Compareça ao funeral do NoMínimo. Clique aqui para ler o epitáfio.

REFERÊNCIAS INCONVENIENTES


Não custa nada ficar atento à parceria do jornal A Gazeta com o Instituto Referencial Pesquisas e Opinião de Mercado Ltda, do Mato Grosso do Sul. Prometeram para hoje a primeira pesquisa tendo como tema a reforma política - financiamento público de campanha, fidelidade partidária e voto em lista fechada ou aberta - para conhecer e avaliar a opinião dos acreanos.

A Gazeta apresentou apenas Nilo Ferraz Júnior como diretor da empresa. Mas na verdade o instituto pertence ao engenheiro Semy Ferraz (foto), ex-deputado estadual do PT no Mato Grosso do Sul. Nas duas últimas eleições que disputou, Ferraz foi derrotado para prefeito de Paranaíba (MS) (veja o site do então candidato), além de não ter conseguido ser reeleito deputado estadual.

No perfil dele na web (leia aqui) consta que a vida já o fez "embrenhar-se no distante Acre para trabalhar". Semy Ferraz foi "entregrador de jornal, pacoteiro, cadastrador de imóveis, militante estudantil, engenheiro civil, sindicalista, assessor parlamentar, empresário. Depois, presidente da Sanesul, diretor-geral da Agesul, secretário executivo do Governo do Estado e, finalmente, deputado estadual".

Fica a impressão de que retorna ao Acre para trabalhar porque a situação não deve estar nada boa pelas bandas do Mato Grosso do Sul. Por aqui, além da nova parceira Gazeta, aparece na lista de clientes da empresa a prefeitura de Rio Branco.


Existiu aqui um jornalista chamado José Chalub Leite, cuja memória é cultuada por alguns petistas da florestania. Zé Leite costumava escrever que "ninguém vem para o Acre impunemente".

Será que o Instituto Referencial serviu para antecipar os resultados das duas derrotas eleitorais de Semy Ferraz e para indicar-lhe um novo tempo de prosperidade no Estado no qual se embrenhou quando ainda não era dominado pelo PT?

Semy Ferraz também é blogueiro. Leia aqui.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

APELO AO REI DO GADO


Postado pelo jornalista Tales Farias no Blog dos Blogs.

CIRCO, HOSPÍCIO OU PRESÍDIO?

Leila Jalul

Pessoalmente, não tenho nada contra o senador Sibá Machado. Sei o quanto estas manifestações no país devem estar mexendo com a cabeça dele. Ou não. Desde o tal de mensalão, passei a ter na TV Senado uma opção de "entretenimento".

Acompanhei reunião por reunião, desempenhos os mais diversos, depoimentos indecorosos, perguntas ofensivas, respostas evasivas, choros, histórias macabras de mortes no PT, ou a mando deste, ou, em última instância, com o conhecimento deste. E fui formando um juízo.

Hoje, a coisa continua igual. Neste e em outros escândalos, minha possante de 33" fica ligada direto na TV Senado, sem que me assuste a possíbilidade que se queimem os "transistores" ou se apaguem os "fusíveis". E vejo tudo. Vejo a parte boa, pois os escândalos costumam enevoar os trabalhos sérios.

Ontem mesmo o senador Paulo Paim deu o exemplo disso. Ninguém considerou sua denúncia de atos nazistas contra os negros na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


Por ser daqui, minha mira, evidentemente é estar de olho nos senadores Tião Viana, Geraldinho Mesquitinha e nosso herói Sibá Machado.

No caso do mensalão, jogos de bingo, morte de prefeitos, cueca recheada de dólares, aviões com carregamento de dinheiro cubano (tadinho dos cubanos famintos), assisti muitas vezes as intervenções do senador Tião Viana, cabíveis, quase sempre, serenas, sempre. Diferentes do tom vaselinoso do Geraldinho Juninho. Vaselinoso, é verdade, mas válidos, de vez em quando.

Agora, o suplente Sibá, já naquele período, parecia uma barata tonta, despreparado, quase sempre ofegante, já que pulava de uma plenária para outra. Quase onipresente, já que seu trabalho era fazer o que os outros se negavam. Foi, muitas e muitas vezes, repreendido pelo Delcídio Amaral e por outros membros das comissões, que se negavam a aceitar com paciência os seus gracejos inoportunos.

Sibá parecia querer incorporar aquele menino amolecado, de calças curtas, que deixa irado, além da professora, também os colegas, mesmo aqueles não tão inteligentes e sérios. Foi um fiasco. Um Juquinha sem graça, sabe como é? Claro que observei muito mais coisas, mas vou poupar-me.

Ontem, lembrando da postura séria de Marina Silva, arrancada do Senado já nos primeiros dias para compor o ministério de Lula, me veio uma preocupação: que Deus nos livre, por alguma razão fortuita, ou mesmo por uma mudança de rumos, nos seja retirado o Tião Viana.

O suplente dele, Aníbal Diniz, repetiria o que vemos agora? Não o conheço e fui me informar. Pois bem, fiquei tranquila. Tive excelentes referências do suplente. Me informaram que é íntegro e tem compostura para assumir, não só o Senado, mas para exercer qualquer função pública. Menos mal.

Quem sabe, na ausência de uma reforma política, os suplentes sejam doravante escolhidos em perfeita harmonia com as idéias do titular. O PT tem quadros para isso.

Não gosto de falar de política, mas não devo me negar, quando preciso. Nos escândalos sucessivos, que impedem os trabalhos sérios e de cunho realmente social, só se pode afirmar que o Congresso, se cobrir, vira circo; se cercar, vira hospício. E eu acrescento: se apurar, vira presídio e tem que ser de segurança máxima.

Pode ser que depois disso tudo o Sibá Machado se esforce para não envergonhar a titular e o Estado que representa.

Leila Jalul é cronista acreana

SIMBAD, O MARUJO DA FLORESTA


Clique aqui para assistir a charge "O suspeito da semana".

quarta-feira, 27 de junho de 2007

DESENVOLVIMENTO?


Confirmado para os dias 4 e 5 de julho, no campus da Universidade Federal do Acre, o seminário "Hidrelétricas, Agronegócios, Gás e Petróleo: que desenvolvimento é esse?". O objetivo do evento é promover discussões sobre o modelo de desenvolvimento em curso na Amazônia e seus impactos para as populações.

A conferência de abertura, às 19 horas da próxima quarta-feira, será da professora da Universidade Federal do Pará, Edna Maria Ramos de Castro, que tem experiência sociologia do desenvolvimento. Na quinta-feira, o seminário seguirá sua programação com mesas redondas e debates sobre hidrelétricas, agronegócios, gás e petróleo.

Entre os convidados para o debate, os professores Oswaldo Sevá (Unicam), Elder Andrade (Ufac) e Luís Fernando Novoa (Unir), além de representantes das comunidades que sofrem os impactos sócio-ambientais como, por exemplo, Wesley Lopes do Movimento dos Atingidos por Barragens (RO).

O seminário se propõe a formular um documento sobre a prospecção de gás e petróleo no Vale do Juruá. O evento é uma realização da Universidade Federal do Acre, Centro de Documentação e Informação Histórica e programas de mestrado letras (linguagem e identidade), desenvolvimento regional, agronomia (produção vegetal e ecologia e manejo de recursos naturais.

A Agência Brasil noticiou ontem que o Conselho Nacional de Pesquisa Energética (CNPE) aprovou na segunda-feira a realização da 9ª Rodada de Licitação de blocos exploratórios de gás e petróleo, que deverá acontecer na primeira semana de novembro. A prioridade será prospecção de gás e, em segundo lugar, de petróleo, em áreas de grande potencial como Campos, Santos, e Recôncavo Baiano.

Os blocos serão escolhidos a partir de proposta da Agência Nacional do Petróleo junto ao Ministério de Minas e Energia, segundo informou o diretor da ANP, Aroldo Lima, depois de participar da reunião do conselho. Dentro de 15 dias deverá ser publicado o pré-edital "que permitirá a confluência de opiniões dos diversos setores sobre a licitação". Quarenta e cinco dias depois sairá o edital definitivo.

AQUI JAZ UMA INVERDADE


A senadora Fátima Cleide (PT-RO) disse que Sibá Machado é senador porque assumiu a vaga da senadora Marina Silva (PT-AC) - mas que se não fosse por isso teria tido votos suficientes para se eleger senador. Ela não entende nada dos eleitores acreanos e parece desconhecer que até o Sibá votou na Marina.

JÓZIMO DE SOUZA MARTINS

O blog revelou recentemente que Józimo de Souza Martins vazou para a imprensa o processo que tramitava em segredo de justiça contra o procurador de justiça Oswaldo D'Albuquerque Lima Neto. Na ocasião, a presidente do Tribunal de Justiça do Acre, desembargadora Izaura Maia, determinou a abertura de sindicância para apurar o caso, enquanto Józimo Martins moveu no Juizado Especial uma ação contra o blog na qual pleiteia indenização de R$ 15 mil. A perícia da sindicância confirmou a autoria do vazamento. Ele foi exonerado de cargo comissionado, afastado preventivamente do quadro do Judiciário e vai responder a processo administrativo disciplinar . Confira as portarias assinadas ontem pela desembargadora Izaura Maia e que constam na edição de hoje do Diário de Justiça:

Nº 608, de 26.6.2007 – Art. 1º - Exonera o servidor Józimo de Souza Martins, Auxiliar Judiciário, pertencente ao quadro de pessoal efetivo deste Poder, do cargo de provimento em comissão de Assessor de Imprensa, código PJ-DAS-101.4, do Gabinete da Presidência deste Tribunal, bem como revoga a Portaria n.º 354/2007, publicada no Diário da Justiça n.º 3.441, de 9 de abril de 2007.

Art. 2º - Nomeia Antônio Kleber Bezerra da Silva, para exercer o cargo de provimento em comissão de Assesssor de Imprensa, código PJ-DAS-101.4, do Gabinete da Presidência deste Tribunal, e o lota no Gabinete da Vice-Presidência, para exercer as atividades inerentes ao cargo, inclusive junto à Escola Superior da Magistratura do Acre.

Art. 3º - Os efeitos desta Portaria entram em vigor a partir desta data.

Nº 609, de 26.6.2007 – Considerando a gravidade dos fatos apurados nos autos da Sindicância n.º 2007.001445- 7;

Considerando que a Comissão Sindicante concluiu que as faltas cometidas pelo servidor Józimo de Souza Martins infringem, em tese, o disposto nos incisos II, III e VIII do artigo 166 e incisos II e IX do artigo 167, ambos da Lei Complementar Estadual n.º 39/93;

Considerando que deve ser apurado se foram observadas pelo servidor as vedações impostas pelo artigo 26, da Resolução nº 05, de 05.01.2006, do Conselho de Administração do Tribunal de Justiça do Estado do Acre, que regulamenta a gestão da Tecnologia da Informação do Poder Judiciário do Estado do Acre;

Art. 1º - Instaura Processo Administrativo Disciplinar contra o servidor Józimo de Souza Martins, designando de acordo com o artigo 203, da Lei Complementar Estadual n.º 39/93, os servidores Janice Fontenele Oliveira Xavier, Alexandre Bonfim Nunes e Josafá da Costa Mendonça, todos do quadro de pessoal efetivo deste Poder para, sob a presidência da primeira integrarem a comissão incumbida de apurar a conduta do servidor.

Parágrafo Único – Os servidores ora designados ficam dispensados de suas atividades regulares nos dias de coleta de provas em geral, bem como para elaboração da instrução e do relatório final.

Ar t. 2º - Estabelecer o prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da publicação desta Portaria, para que a Comissão ora constituída realize os trabalhos.

Art. 3º - Determinar o afastamento preventivo do servidor Józimo de Souza Martins, matrícula n.º 0120.123, pelo prazo de 60 (sessenta) dias, contados a partir da publicação desta Portaria, nos termos do artigo 198, da Lei Complementar Estadual n.º 39/93.

BARRIGA

Redator da coluna política do jornal A Tribuna foi atropelado pelos fatos ao dar na edição de hoje aquela contumaz puxadinha em quem está no poder:

"O senador Sibá Machado, que estava sendo fritado pela imprensa nacional, acusado de manobrar na presidência do Conselho de Ética para salvar a pele de Renan Calheiros, começou ontem a dar a volta por cima ao decidir colocar em votação hoje, no órgão, o parecer do senador Epitácio Cafeteira sobre a denúncia contra o presidente do Senado. Depois de ameaçar até renunciar à presidência do Conselho de Ética, Sibá não agüentou as pressões e resolveu seguir adiante no processo de cassação de Renan".

Avisem ao redator que Sibá Machado renunciou ao papel de bobo da corte.

terça-feira, 26 de junho de 2007

O ACRE E O GRUPO BERTIN

Mauro Ribeiro

A tarefa de atrair investidores não é fácil em nenhum lugar do Brasil, e o nosso Acre não foge à regra. No entanto, nossas reais oportunidades (pecuária de excelência, economia florestal ascendente, localização estratégica etc.) vão, aos poucos, estabelecendo um diferencial positivo para a inserção da nossa gente num mundo cada vez menor, cada vez mais próximo. Nesse sentido, as reuniões que ocorreram com um dos proprietários do Grupo Bertin e seu executivo da área de produção, foi das mais objetivas.

O Governo, junto com a iniciativa privada (representada pelo Fórum de Desenvolvimento Sustentável e pela Federação da Agricultura) expôs os objetivos que quer ver alcançados, relacionados ao fortalecimento de uma economia justa e competitiva; apresentou os resultados alcançados nos últimos oito anos; detalhou as perspectivas de expansão da agropecuária acreana; a importância da manutenção de um sistema de defesa animal eficiente etc., colocando à disposição do grupo empresarial, todas as possibilidades de incentivos estabelecidos pela legislação estadual, em especial as Leis 1.358 e 1.361, que tratam diretamente do incentivo às atividades industriais.

O Grupo Bertin fez a análise do que fora apresentado e acordou um cronograma de atividades que resultarão, tenho confiança e convicção, na instalação de uma unidade industrial que em muito contribuirá para o desenvolvimento local.

É valioso dizer que o Grupo Bertin possui as qualidades desejáveis para virar parceiro dos acreanos. Trata-se de gente séria, decente, trabalhadora, com profunda tradição no segmento de carnes e subprodutos e um significativo reconhecimento nacional e internacional pela sua atuação. Para nós, o Grupo Bertin representa uma importante conquista aos que querem ver o fortalecimento da economia acreana, atuando na exportação da melhor carne brasileira.

Entendo que é passada a hora do Acre desenvolver seus diferentes potenciais. Por isso, a atuação integrada do Governo do Estado com o Fórum de Desenvolvimento Sustentável, dirigido com o reconhecido empenho do ex-governador Jorge Viana, trará investidores com relevância no cenário nacional, pra desespero dos que insistem em torcer por um Acre sempre atrasado e nem percebem as transformações sólidas que ocorrem em nossa economia.

Vão perder suas apostas novamente, a exemplo do que já ocorreu na discussão acerca da revitalização da agroindústria do açúcar e do álcool, cujo investimento caminha rapidamente para sua consolidação, ao atingir mais de 2 mil hectares de cana plantados e gerar cerca de 500 oportunidades de empregos a acreanos que, com muita dignidade, estão ajudando a transformar o cenário produtivo daquela região.

Mauro Ribeiro é agrônomo e secretário de Agricultura do Acre. Pena que não tenha mencionado o comunicado do Grupo Bertin que, evidentemente, teve o objetivo de desfazer algumas inverdades que foram ditas e veiculadas pela imprensa. Ribeiro, que é um amigo e sabe onde as corujas dormem, enviou a nota com a seguinte mensagem:

"Caro Altino,

acompanho com interesse o teu Blog, que tem o poder de nos instigar a pensar o Acre e definir de que lado nos posicionamos.

Eu e o meu monte de defeitos, estaremos lutando muito pra ajudar a desenvolver nosso Estado.

Por isso acredito na vinda do Grupo Bertin e de outros grupos empresariais, que contribuirão pra gente fortalecer cada vez mais nossa incipiente economia.

Em tempo: ontem, quando estava em Cruzeiro do Sul, acessei teu Blog e enviei um comentário a respeito do primeiro "post" (é isso mesmo?) relacionado ao Grupo Bertin. Como não vi publicado, estou reenviando estes comentários para o teu e-mail.

Minhas duas corujas, que agora são quatro lá na fazenda, te mandam um abraço amigo".

ARRAIAL DA PAZ


De 1 a 8 de julho, às 17 horas, na rua São Sebastião, 524 - Nova Estação.

LÔRO


Egberto Gismonti & Academia de Danças
Sanfona - 1981

Egberto Gismonti (piano, 10-string guitar, indian organ, voice), Mauro Senise (soprano & alto saxophone, flute), Zeca Assumpção (bass) e Nene (drums, percussion).

GATO


Do artista plástico Fernando França - nanquim sobre papel 33 x 40 cm (2007). R$ 1 mil. Clique na imagem. Contato.

FALARAM DEMAIS


Perdi tempo ao esperar hoje a atualização das edições on-line dos quatro diários de Rio Branco. No dia 15 de junho, todos noticiaram que o Grupo Bertin iria se instalar no Acre. Esperava que trouxessem alguma explicação em relação ao Grupo Bertin ter negado ontem que esteja investindo R$ 75 milhões na construção de um frigorífico no Estado.

Os jornais sequer citaram o comunicado distribuído pelo Grupo Bertin, que menciona a "possibilidade" de instalação de uma unidade local. "A companhia acredita no potencial de crescimento do Acre nos próximos anos e no plano de desenvolvimento traçado por seus governantes, mas esclarece que o momento é de análise de viabilidade econômica".

Após o comunicado, torna-se até patética a leitura do que foi publicado a respeito de políticos, empresários e autoridades empenhadas em atrair o Bertin. Os jornais reproduziram na ocasião um texto de autoria do repórter Edmilson Ferreira, da assessoria de imprensa do governador Binho Marques. Confira:

A Gazeta: Maior frigorífico do Brasil, Grupo Bertin, anuncia indústria de alimentos no Acre

Página 20: Grupo Bertin anuncia indústria de alimentos no Estado do Acre

A Tribuna: Grupo Bertin instalará agroindústria no Acre

Vale a pena ler, ainda, uma notícia assinada pelo jornalista Romerito Aquino, assessor de imprensa do senador Tião Viana (PT). É de novembro de 2004. Nela, Aquino destaca que o Banco Mundial é criticado por expandir pecuária na Amazônia ao conceder empréstimo ao Grupo Bertin. Leia aqui.

Bem, alguém deve explicações à opinião pública por conta do desmentido que o Grupo Bertin distribuiu "em razão dos recentes artigos publicados na imprensa". O episódio faz lembrar, por exemplos, quando os jornais anunciaram a construção no Acre de uma fábrica de cimento do Grupo Votorantin, de uma fábrica de baterias Moura...

segunda-feira, 25 de junho de 2007

BERTIN


Do Cartunista Braga

BERTIN NEGA INVESTIMENTO NO ACRE

Ao contrário do conteúdo da intensa propaganda do governo do Acre e das versões divulgadas pela imprensa local, a empresa Bertin Ltda, a segunda maior no processamento de carnes no país, nega que esteja se instalando no Estado para investimento de R$ 75 milhões num frigorífico para abate de 1,2 mil bois por dia e geração de mais de mil empregos diretos.

O Grupo Bertin enviou ao site Amazônia um comunicado no qual "esclarece que o momento é de análise de viabilidade econômica". Na semana passada, a reportagem "Boiada anima governo da floresta", baseada em fontes do Acre, informava que a empresa estava se instalando no Estado turbinada pelo empréstimo de U$ 90 milhões do Banco Mundial e pelo entusiasmo de fazendeiros e políticos da região.

Ana Mangieri, da assessoria de imprensa da Bertin, disse que a diretoria da empresa foi convidada pelo governo estadual a conhecer as potencialidades do Acre. "Durante o calor das conversas, foi sugerido investimento no Acre e o grupo sempre estuda as possibilidades de investimentos no estados. Mas, no caso do Acre, não existem avanços e nada de concreto ainda", disse.

Leia a íntegra do comunicado do Grupo Bertin:

"Em razão dos recentes artigos publicados na imprensa, o Grupo Bertin informa que executivos da empresa estiveram reunidos com representantes do Governo do Acre, a fim de conhecerem as condições e incentivos propostos pelo Estado para atrair novas empresas.

No encontro, levantou-se a possibilidade de instalação de uma unidade local do Bertin.

A companhia acredita no potencial de crescimento do Acre nos próximos anos e no plano de desenvolvimento traçado por seus governantes, mas esclarece que o momento é de análise de viabilidade econômica".

domingo, 24 de junho de 2007

VIVA SÃO JOÃO!









Fogueira do Alto Santo
Altura: 4m
Largura:
4,30m

sábado, 23 de junho de 2007

A PRISÃO DE LUIZ CALIXTO

Isac de Souza Guimarães Júnior

A prisão do deputado Luiz Calixto pela Polícia Militar, quando ele voltava de uma "sessão itinerante" da Assembléia Legislativa realizada em Brasiléia, em 15 de junho, me fez lembrar da bem conhecida e tantas vezes pronunciada frase “sabe com quem está falando?”. O velho dito expõe as bases autoritárias e hierarquizadas da estrutura social de que fazemos parte. Por isso mesmo, tal enunciado foi eleito pelo antropólogo Roberto DaMatta como um gancho para analisar, em seu livro "Carnavais, Malandros e Heróis", as formas de sociabilidade estabelecidas entre as várias classes sociais no Brasil.

De acordo com o antropólogo, nossa sociedade quer sempre ser percebida como cultivadora dos valores universais de solidariedade, cordialidade e pacificidade, especialmente nos segmentos socialmente privilegiados. Os inferiores que são os “brigões”. De modo geral, somos avessos à crise, ao conflito e ao confronto, mas desde que todos e cada um assuma, reconheça e aceite o seu lugar na ordem social. Existiria uma hierarquia social em que cada indivíduo encontraria o seu lugar, ali devendo permanecer. Daí porque o recurso à tão famigerada frase “sabe com quem está falando” é considerado tão pernóstico e pedante, expondo a pessoa que a usa a um certo constrangimento que, no entanto, só vem a ocorrer porque alguém (desinformado, distraído ou com falta de percepção social) desrespeitou a hierarquia, deixando de reconhecer o seu lugar e o do outro nessa cadeia. Ou seja, a diferença que era para ser aceita como natural e estável, acaba se transformando em crise e expondo o conflito.

Pois bem, voltando ao caso da prisão do deputado e sua condução à delegacia de Xapuri, ao que tudo indica muita coisa parece ainda estar bastante obscura em ambas as versões, tanto na do parlamentar quanto na da polícia. Necessário se faz que se dê o devido desconto nas acusações dos dois lados (reconhecendo-se, evidentemente, o fato irrecusável de que um deputado foi preso por meio de procedimentos policiais um tanto estranhos) e que façamos, ainda, um exercício de imaginação para visualizar possíveis excessos também de ambos os lados, pensando inclusive na velha lei da ação e reação, sem que, neste caso (dada a obscuridade mencionada acima), saibamos de que lado partiu a ação geradora da ofensa. Feitas estas necessárias observações, chama a atenção um dado muito interessante em todo esse imbróglio, qual seja: o deputado não deu a famosa “carteirada”, ou seja, não proferiu o fatídico “você sabe com quem está falando?”. Esse teria sido seu grande e mortal pecado, se levarmos em consideração as declarações dos policiais, que reclamam que o parlamentar não se identificou.

Por outro lado, se dermos crédito ao estudo de DaMatta, os desatentos policiais também parecem ter incorrido em falta gravíssima (de acordo com o pacto dos lugares sociais) ao se demonstrarem desinformados, distraídos ou, minimamente, com ausência de percepção social, quando não reconheceram naquele aparente cidadão comum (portanto inferior a eles, revestidos de autoridade) um membro da casta superior dos políticos acreanos. Deu-se o conflito, instalou-se a crise.

Podemos considerar louvável a atitude do deputado de não perguntar se os policiais sabiam com quem estavam falando, afinal, se fazem o que fizeram com um deputado, é de se imaginar o que ocorreria com o dito cidadão comum ou com professores e estudantes, como maquele 7 de setembro de 2005, quando um professor da Universidade Federal do Acre foi jogado numa cela algemado. Mas é possível pensar, ainda, que por trás dessa aparente e modesta indignação com os maus-tratos pode se esconder uma severa repreensão à falta dos militares por não terem, naturalmente, reconhecido o seu lugar e o lugar de superioridade do outro. Isto no caso do deputado.

No lado dos policiais, se não lhes faltou percepção social e não sobrou desinformação, fica evidente que houve a decisão de romper com o rigor da hierarquia social de que fala DaMatta. Neste caso, se explicaria perfeitamente a solidariedade, apoio ou, no mínimo, atenção dos demais parlamentares e até mesmo do governador Binho Marques para com o deputado, pois a violação que põe em risco a superioridade de um ameaça a autoridade da casta inteira. Já pensou se vira moda? Neste caso, segundo as velhas, enraizadas e conservadoras convenções sociais, cabe resgatar aquela ordem, estabilidade e cordialidade que põem “cada macaco no seu galho”. Esta é a prática quando alguém deixa de reconhecer o seu lugar nessa escala, do contrário o conflito vira revolta e, como tal, deve ser rigorosamente reprimida, afinal não é essa a função exercido pela polícia? Mas e quando é a própria polícia quem viola o pacto?

Isac de Souza Guimarães Júnior é professor da Universidade Federal do Acre e mestrando em comunicação e estudos discursivos na Universidade Federal Fluminense.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

PECUÁRIA EM RESERVA EXTRATIVISTA

Carlos Valério Aguiar Gomes



Oportuno o tema da “expansão da pecuária” trazido por Altino Machado, Judson Valentim e Antonio Alves, a partir da instalação da empresa Bertin Ltda no Acre. A expansão será um grande problema caso ocorra sem critérios técnicos e tecnológicos, como aponta Valentim, que é quem de fato tenta indicar caminhos com bases sustentáveis para a pecuária na região. Também posso contribuir com o debate sobre a expansão da pecuária entre as populações tradicionais de seringueiros que, apesar de óbvia, não vem sendo abordada, pelo menos pelo poder político, embora as práticas e culturas de populações tradicionais sejam a base do discurso do Governo do Acre. Este foi o tema de minha tese de doutorado intitulada “A Evolução da Pecuária na Reserva Extrativista Chico Mendes – Desafios e Soluções?”, na Universidade da Flórida.

Na semana passada, estive no seringal Filipinas, localizado na Reserva Extrativista Chico Mendes, subindo o Rio Xapuri e o Riozinho. Ouvi de um seringueiro que vive na mesma colocação há 36 anos a seguinte frase:

- Nós lutamos contra os fazendeiros por conta do gado e agora nós seringueiros estamos fazendo o mesmo que eles.

A fotomontagem acima demonstra a preocupação deste e de muitos outros seringueiros em ver a Reserva Chico Mendes transformada em pastagem pelos próprios seringueiros. Outras reservas, como a do Alto Juruá e Cazumbá-Iracema, enfrentam os mesmos desafios.


O Acre é o berço das discussões do conceito de reservas extrativistas. O Estado tem optado pela implantação de reservas federais, com cinco delas equivalendo a 2,7 milhões de hectares, o que corresponde a 17,7% do território acreano. É o maior percentual de áreas de reservas extrativistas na Amazônia. Ao longo de quase 20 anos, o conceito de reservas extrativistas se expandiu pela Amazônia, atingindo diversos ecossistemas e vários grupos de populações rurais da região. Os ganhos deste conceito são diversos. Grandes problemas foram superados, velhos problemas persistem e novos desafios surgem.

Um problema que persiste é a busca por alternativas que possam gerar melhores condições econômicas. Uma opção vislumbrada por parte da população de seringueiros é, principalmente, a criação de gado em pequena escala, que se constitui em um dos principais desafios e deixa em xeque o papel ambiental das áreas.

Considerando quatro atividades produtivas (borracha, castanha, agricultura e gado), no caso de oito seringais da Reserva Extrativista Chico Mendes, o que vemos é a renda combinada de gado e agricultura corresponde a aproximadamente 70% da renda familiar (Assis Brasil), acima de 40 (Xapuri) e 30% (Brasiléia). No seringal Icuriã, às margens do Rio Iaco, o gado sozinho representa mais de 50% da renda das famílias. Na maioria dos seringais a renda da borracha representa menos de 10% da receita geral das famílias. São seringais que registram os maiores índices de desmatamento, o que não é representativo da realidade dos 45 seringais de toda a reserva.

De fato, a reserva Chico Mendes apresenta duas realidades distintas, ambas com problemas. Nos seringais da parte sul da reserva, ao longo da BR-364, ocorre uma grande ocupação e os moradores estão enfrentando dificuldades para seguir as normas de uso. Em contraste, vastas áreas da reserva, na parte central e norte, margeando o Rio Iaco, estão praticamente vazias, não atendendo as premissas iniciais do conceito de Reserva Extrativista, que prevê a ocupação humana.

É notório que dentro das organizações de base há espaço para discussão sobre esse dilema das populações extrativistas. Contudo, no âmbito do “governo da floresta” as coisas não são bem assim, sendo possível apontar tomadores de decisões totalmente avessos ao tema. Eles se arrepiam e fogem. Nenhuma iniciativa do governo Jorge Viana abordou a pecuarização em reservas extrativistas, o que parece representar uma importante perda de oportunidade. Hoje existem residentes da Reserva Extrativista Chico Mendes com mais de 300 cabeças de gado numa colocação. É certo que a situação não é a regra, mas indica uma tendência.

O Plano de Manejo da Reserva Extrativista Chico Mendes, elaborado pelo Ibama, mascara o problema. A própria Embrapa desenvolve nenhuma iniciativa junto às populações de seringueiros vivendo em reservas extrativistas. No plano das ONGs locais, o WWF contratou um consultor para abordar o tema, mas não desenvolveu nenhuma atividade prática. O CTA promoveu dois debates sobre o assunto e nenhuma proposta efetiva foi consolidada. Porque será que nenhuma instituição local desenvolveu atividades abordando a questão da pecuária em reservas extrativistas? Será porque o tema é “politicamente sensível” e poderia fazer com que tais instituições pudessem ser acusadas de estar “estimulando” a pecuária dentro de reservas extrativistas?

O que fazer então? Tenho certeza que os seringueiros se apropriariam da iniciativa para buscar soluções conjuntas que possam garantir a sustentabilidade de seus modos de vida e produção, o que seria uma renovação de suas esperanças anunciadas no inicio das discussões do conceito de Reservas Extrativistas. Enquanto suas esperanças se desgastam, as suas visões e decisões se distanciam da práxis política das instituições que os apóiam politicamente. Os seringueiros criaram o conceito de reservas extrativistas e agora estão a cada dia investindo mais na pecuária de pequena escala. A decisão é deles, até por falta de outra opção para geração de renda e pela falta de políticas adequadas voltadas para a valorização da produção agroextrativista.

Enquanto estas famílias não contarem com alternativas agroextrativistas que lhes traga benefícios econômicos, ao menos similares ao que a pecuária promove, a tendência é que eles continuem investindo na criação de gado dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes. O caminho é acabar com os resquícios do romantismo ainda existente e analisar as decisões dos seringueiros-residentes. Deste modo, poderemos enfrentar a expansão da pecuária com as tecnologias disponíveis, buscando adequá-las ao modelo de reservas extrativistas e, se necessário, pesquisar novas opções tecnológicas com base na realidade das famílias produtoras. Quem vai tomar a frente e trazer este debate para as instituições locais?

O acreano Carlos Valério Aguiar Gomes é geógrafo com doutorado na Universidade da Flórida.

INCRA AGRAVA CONFLITO FUNDIÁRIO

Superintendente Raimundo Cardoso desrespeita reivindicação dos extrativistas de Porto Dias


O superintendente do Incra no Acre, Raimundo Cardoso, excedeu-se ontem ao receber no gabinete dele uma comitiva que buscava solução para o conflito fundiário que se desenrola no seringal Porto Dias, em Acrelândia, onde Antonio Carlos Ferreira, o Carlão, vem sendo acusado de fazer ameaças de morte e de converter em fazenda área do projeto agroextrativista de 22 mil hectares.

Os extrativistas procuraram o blog para tornar público o tratamento dispensado pelo superintendente do Incra. Além de representantes da comunidade do Projeto de Assentamento Agroextrativistas Porto Dias, participaram da reunião lideranças do Conselho Nacional dos Seringueiros, Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Acre e Centro dos Trabalhadores da Amazônia.

Causa espanto a conduta do agrônomo Raimundo Cardoso, que ganhou recentemente na justiça o direito de utilizar seu verdadeiro nome - Carlos Augusto Lima Paz. Cearense, o ex-guerrilheiro "Porongaba" trocara de nome para agir na clandestinidade pretensamente em defesa dos trabalhadores durante a ditadura militar. Após o relato da situação em Porto Dias pelos trabalhadores, Cardoso respondeu:

– Peço até desculpas a vocês, mas tudo isso que está acontecendo no PAE Porto Dias é culpa da comunidade que não se organiza para resolver esse problema. O Incra tem recebido uma chuva de ofícios, mas a própria comunidade já poderia ter resolvido a situação fazendo empates, se organizando e se mobilizando para enfrentar os capatazes dos fazendeiros.

Cardoso disse que as derrubadas e as retiradas ilegais de madeira são problemas que a comunidade é quem deve resolver. Quando um trabalhador argumentou que a associação dele fica às margens do rio Abunã, mas o problema ocorre na parte do PAE próxima da BR-364, recebeu de Cardoso um conselho:

- Você precisa mobilizar o povo e vai brigar com os madeireiros. Caso não resolva, aí me procure para que eu possa tomar as providências necessárias.

Dirigindo-se à humilde Maria Albanízia, da Associação Agroextrativista S. José, o superintendente do Incra acrescentou:

- A senhora deve é ir lá na porteira do Carlão e arrebentar o cadeado e ficar fiscalizando a porteira.

Carlão possui uma fazenda de gado dentro do assentamento agroextrativista, modalidade destinada às comunidades tradicionais. Trata-se de um modelo de assentamento conquistado pelo movimento social do Acre, também conhecido por movimento dos seringueiro. A sua conquista custou a vida de lideranças como Wilson Pinheiro e Chico Mendes.

Reuniões como a de ontem são comuns no cotidiano de um gestor público de uma organização da natureza do Incra, onde produtores rurais e florestais buscam dialogar sobre seus direitos de legítimos beneficiários da reforma agrária junto ao órgão competente.

Porém, no Acre, berço das reservas extrativistas e assentamentos extrativistas, o descaso pelo controle fundiário (Incra) e ambiental (Ibama e Secretatria Estadual do Meio Ambiente) dessas áreas se aproxima de um limite. O PAE Porto Dias é apenas um exemplo de uma situação generalizada em todo o Estado e certamente em toda a Amazônia.

A presença do fazendeiro Carlão serve para acobertar a presença de diversos outros pecuaristas, caçadores e extratores de madeira ilegais que, sem o menor perfil extrativista, empreendem negócios dentro do PAE a fim de explorar os recursos ambientais.

Freqüentemente, a comunidade local é ameaçada por capatazes de Carlão, que é apoiado por políticos ligados ao "governo da floresta". Atualmente, o fazendeiro mantém suas porteiras fechadas com corrente e cadeado, fato que impede o direito de ir e vir da comunidade local. Além dos cadeados, mantém em suas terras um rebanho de gado, com reses valentes.

A situação vem sendo exposta repetidas vezes, por escrito, há mais de dois anos, mas o superintendente do Incra teima em não tentar resolver o conflito fundiário. Durante a reunião foram firmados compromissos:


1) Cardoso informou que o processo de desapropriação contra Carlão se encontra na procuradoria do órgão. Vicente Brito, procurador do Incra, está analisando o processo para dar parecer. Caso o parecer seja favorável, o processo será encaminhado para o Incra em Brasília, que efetuará a indenização do Carlão. Após o pagamento, Carlão terá direito a recurso, no entanto, a propriedade deverá ser desocupada.

2) Carlos Eduardo Sturm, diretor do Incra, se comprometeu a verificar a questão das porteiras trancadas que impedem o livre acesso dos moradores.

3) O mesmo diretor foi convidado e aceitou participar, no dia 4 de julho, de uma reunião onde estarão presentes as três associações de moradores do PAE Porto Dias. Na oportunidade o Incra poderá se manifestar em relação às denuncias feitas pela comunidade local sobre invasão e ocupação ilegal de terras no PAE. Também firmou o compromisso de realizar um diagnóstico da ocupação no PAE Porto Dias.

Durante a reunião, os trabalhadores lembraram que foram eles que colocaram os atuais gestores no poder para representarem os seus interesses. Reconheceram que esses gestores assumiram organizações e estruturas que historicamente serviram para atender os interesses das classes dominantes.

Assista ao vídeo das entrevistas com Aclício Daniel Alencar e Maria Albanízia, da Associação Agroextrativista S. José.

NA VANGUARDA DA PQP

Menino, vai dar água pros bois!

Antonio Alves


O engenheiro agrônomo Judson Valentim, um dos mais dedicados pesquisadores da Embrapa que, há duas décadas vem estudando alternativas tecnológicas para a pecuária no Acre, publicou um artigo no blog do Altino em que expressa suas esperanças com a chegada do mega-abatedouro Bertin Ltda. Não para responder ao Judson, que é gente boa, mas para demonstrar meu cansaço com toda essa onda desenvolvimentista, postei lá um comentário mal-educado que o Altino colocou na página principal. Repito aqui o que escrevi:

E a minha esperança é que todo esse gado morra e seja comido pelos urubus. E também que os "pequenos produtores" percebam que a floresta é uma "poupança" muito melhor para o futuro de seus filhos, netos, bisnetos e tataranetos.

Talvez o Mário Lima, que é professor de economia, possa escrever algo mais respeitável. De minha parte, estou apelando para a ignorância. Acontece que estou de saco cheio da economia, da sociologia, da política, do crescimento, do desenvolvimento, do escambau. E estou impressionado com a facilidade com que aceitamos o capitalismo como se fosse uma lei imutável da natureza.

Querem um exemplo? Ninguém, na cidade de Rio Branco, esboça um protesto conta a privatização da água potável. Só as famílias mais pobres bebem a água do Saerb, uma espécie de cloreto de merda que sai do poluído rio Acre e percorre toda a cidade em canos furados até pingar nas torneiras das casas. Do poço não dá pra beber, todo o lençol freático está contaminado, assim como os igarapés, pelos dejetos do favelão que é a cidade. Resultado: a maioria compra água para beber e cozinhar. Falta água? Liga para a distribuidora, vai ao supermercado ou ao posto de gasolina mais próximo. Compra. É tão natural, ninguém sente qualquer estranheza.

(Antes que digam que estou brigando com a Prefeitura ou o Saerb, vou esclarecendo: não estou. Os governantes atuais tem apenas a culpa de manter, sem grandes mudanças, um sistema de “saneamento” que herdaram dos governos anteriores, as ETAs, cogumelos e canos do PMDB e PDS.)

Daqui a uns dias virá “investir no Acre” uma grande empresa de vender ar engarrafado. Nos meses de agosto e setembro, quando pequenos e grandes “produtores” cobrem a Amazônia com um manto de fumaça, a venda de ar engarrafado será um ótimo negócio. Logo alguma firma oferecerá serviço de oxigenação de salas de reunião, e então poderemos respirar ar puro enquanto planejamos as obras de infra-estrutura e os investimentos econômicos que colocarão o Acre em destaque no PAC e na vanguarda da PQP.

Antonio Alves, ideólogo da florestania, é da assessoria do governador Binho Marques. Escreve no blog O Espírito da Coisa. Vale a pena lembrar que resolver o problema de abastecimento de água da capital foi uma das principais promessas do PT.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

MINHA ESPERANÇA

Judson Valentim

Caro Altino,

Eu li a sua reportagem "Boiada anima governo da floresta" e creio que ficou muito boa. Apenas um pequeno reparo: o rebanho bovino do Acre vai atingir 4,3 milhões de cabeças independente do Grupo Bertin se instalar no Acre ou não.

Como você pode observar, a pecuária é e vai continuar sendo no futuro a caderneta de poupança dos pequenos e médios agricultures do Acre e de outros estados da Amazônia. Estes são os produtores que desmatam anualmente 2 hectares para a produção de alimentos e depois convertem estas áreas em pastagens para dar suporte ao crescimento da sua poupança - o gado.

Na mente destes produtores -do ponto de vista dos custos e benefícios individuais estão cobertos de razão- a criação de gado é uma atividade de baixo risco, com rentabilidae garantida que assegura o seu futuro na velhice e o dote de seus filhos para começar uma nova família.

Infelizmente, por serem milhares de famílias em áreas de difícil acesso, sem tradição na atividae, geralmente estes produtores desenolvem uma pecuária extensiva, com baixa produtividade e rentabilidade.

O grande desafio é dar acesso a estes produtores à tecnologias já disponíveis e perfeitamente acessíveis às suas condições socioeconômicas e que lhes permitam ter a sua caderneta de poupança, ao mesmo tempo, desenvolverem uma atividade que concilie a melhoria de renda e qualidade de vida destas famílias sem causar impactos significativos no meio ambiente.

Nós temos muitas experiência de sucesso com pequenos, médios e grandes produtores e eu gostaria de convidar você para conhecer estas experiências.

A minha esperança é de que, com a entrada de uma empresa que tem a sua competitividade e a sua inserção nos mercados insternacionais mais valorizados, dependente da certificação de qualidade do seu produto e da garantia do respeito ao meio ambiente a às quastõe sociais relacionadas à cadeia produtiva, isso possa contribuir para gerar estímulos de tal forma que o crescimento do rebanho ocorra mais em função de ganhos de produtividade e menos da expansão da pecuária em novas áreas de floresta.

Judson Valentim é engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa no Acre.


OUTRA ESPERANÇA


Antonio Alves

E a minha esperança é que todo esse gado morra e seja comido pelos urubus. E também que os "pequenos produtores" percebam que a floresta é uma "poupança" muito melhor para o futuro de seus filhos, netos, bisnetos e tataranetos.

Antonio Alves, ideólogo da florestania, é da assessoria do governador Binho Marques

BOIADA ANIMA "GOVERNO DA FLORESTA"

A empresa Bertin Ltda, a segunda maior no processamento de carnes no país, começa a se instalar no Acre turbinada pelo empréstimo de U$ 90 milhões do Banco Mundial e pelo entusiasmo de fazendeiros e políticos do "governo da floresta". Nos próximos três anos, segundo o agrônomo Judson Valentim, pesquisador da Embrapa, o frigorífico contribuirá para que o rebanho bovino do Acre salte de 2,6 milhões para 4,3 milhões de cabeças.

Na Amazônia, a Bertin já atua no Pará, Mato Grosso e Rondônia e, junto com o Banco Mundial, tem sido duramente criticada por Ongs e institutos de pesquisa que atuam na região, que tentaram sensibilizar a instituição a desistir de financiar um empreendimento classificado pela próprio banco na categoria A de risco ambiental, isto é, capaz de resultar em "impactos diversos, irreversíveis ou sem precedentes" na Amazônia.

O frigorífico Bertin vai abater diariamente 1,2 mil bois, que serão comprados de pecuaristas do Acre e do Sul do Amazonas. O ex-governador Jorge Viana, que agora preside o Fórum Empresarial do Acre, é o mais entusiasmado com a presença do frigorífico no Estado. Ele acredita que a empresa contribuirá para o desenvolvimento da pecuária e da indústria e a consequente geração de emprego e renda. "A floresta não sofrerá pressão porque no Acre existem regras. Além de mim, existe a ministra Marina Silva e o governador Binho Marques para buscar o melhor possível para a população".

Na semana passada, quando o Grupo Bertin anunciou que fará investimento de R$ 75 milhões na construção de um frigorífico no Acre, o governador Binho Marques (PT), também não escondeu a empolgação. Nos anos 80, Marques era um dos braços do sindicalista Chico Mendes na organização da resistência dos trabalhadores rurais contra a expansão da pecuária na região. "Estou muito feliz porque, neste momento, o Acre tem o valor agregado do Grupo Bertin. Sua presença é a marca dos eixos de uma economia, limpa e competitiva", disse o governador.

A Bertin tem no horizonte a exportação de carne para os mercados do Peru, Bolívia, Estados Unidos e Ásia por causa da localização estratégica do Acre, a partir da abertura da Estrada do Pacífico. A direção repetiu no Acre que a empresa não comprará gado de pecuaristas “que não possuem títulos de terras ou apresentam documentos fraudulentos”.

Relatório FAO, órgão da ONU voltado para agricultura e combate à fome, ressalta os potenciais prejuizos ao meio ambiente: "o setor pecuário é responsável por 9% do CO2 procedente de atividades humanas, mas produz um percentual muito mais elevado dos gases de efeito estufa mais prejudiciais. Gera 65% do dióxido nitroso de origem humana, que tem 296 vezes o Potencial de Aquecimento Global (GWP, na sigla em inglês) do CO2. A maior parte deste gás procede do esterco". A FAO também considera que a pecuária não só ameaça o meio ambiente, mas também é uma das principais causas da degradação do solo e dos recursos hídricos.

Dinheiro público
Para o pecuarista Assuero Veronez, presidente da Federação da Agricultura do Acre, o aumento do rebanho no Estado tammbém não significará pressão nos arredores da floresta. Ele disse que a Bertin vai gerar demanda apenas nas áreas já desmatadas e que façam incorporação de tecnologia. "O que nós queremos é buscar cada vez mais a certificação das propriedades para evitar agressão ambiental. Muitos ambientalistas fazem terror, mas o dinheiro público investido em empreendimentos como esse da Bertin é bem mais produtivo para o país do que aquele que o Ministério do Meio Ambiente destina às Ongs".

O pesquisador Judson Valentim assinala como virtude da Bertin a disposição de comprar carne apenas de empresários cujas propriedades estejam regularizadas. "O produtor que não tiver nível tecnológico ficará de fora", avalia Valentim, que está preocupado com o fato de que 52% do rebanho bovino está localizado em propriedades com até 500 cabeças, o que corresponde a 96% dos proprietários.

Segundo Valentim, no início da década de 70, um hectare de pastagem alimentava 1,14 cabeças de gado bovino por ano e as pastagens, geralmente, degradavam três a cinco anos depois de formadas. Em 2004, a pecuária bovina, com um rebanho de 2 milhões de cabeças, ocupava 81,1% das áreas desmatadas no Acre, com 1,3 milhão de hectares de pastagens e taxa de lotação média de 1,54 cabeças por hectare.

Entre 1990 e 2004, o rebanho bovino do Acre cresceu 416%, enquanto a área desmatada aumentou 147%. O pesquisador considera que isso foi possível graças à adoção de tecnologias que contribuíram para o prolongamento da vida produtiva média das pastagens, passando de 3-5 anos para 10-20 anos; e para o aumento da capacidade média de suporte das pastagens no Estado, passando de 1,1 cabeças por hectare, em 1970, para 1,54 cabeças por hectare, em 2004. "Este aumento de 38% na taxa de lotação das pastagens permitiu evitar o desmatamento de 630 mil hectares de florestas, para a implantação de pastagens no Acre entre 1970 e 2004", afirma Valentim.

Passivo ambiental
Apesar destes esforços, apenas cerca de 40% dos pequenos, médios e grandes produtores do Acre adotaram tecnologias que aumentam a produtividade e a rentabilidade da pecuária, além de reduzir os impactos ambientais dessa atividade. "O Acre precisa ampliar as políticas que premiem os produtores que adotem processos produtivos que não dependam do desmatamento e das queimadas, permitam a recuperação de áreas degradadas e a sua reincorporação aos processos produtivos, tenham produtividade acima da média do Estado e sejam mais intensivos no uso de mão-de-obra em relação aos sistemas agrícolas tradicionais", recomenda Valentim.

Existe, ainda, no Acre, a questão do passivo ambiental, isto é, aqueles desmatamento superiores a 20% das áreas, ocorridos antes da legislação que limita em 20%. Quem desmatou 50%, que era permitido antes, após a restrição ficou com 30% de área desmatada. Para casos assim, o governador Binho Marques instituiu durante a semana um grupo de trabalho para elaborar uma proposta de regularização do passivo ambiental das propriedades rurais.

"O governo estadual continuará buscando novas políticas para promover sistemas de produção agropecuários e agroflorestais sustentáveis, com foco na recuperação das áreas degradadas e aumento da produtividade nas áreas já desmatadas e na promoção da preservação e uso sustentável dos recursos florestais. Estabelecemos as regras com o Zoneamento Ecológico-Econômico e o governo deverá se pautar por isso para poder orientar o processo de desenvolvimento", disse o secretário de Meio Ambiente, Carlos Edegard de Deus.

Leia mais no site Amazônia.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

DISPUTA NO MINISTÉRIO PÚBLICO


No final de maio, o procurador de justiça Cosmo Lima de Souza (foto), titular da Coordenadoria de Defesa do Patrimônio Público, pediu à Procuradoria Geral da República ajuizamento de ação direta de inconstitucionalidade para "sanar prejuízos ao erário do Estado do Acre" decorrentes do pagamento de subsídio mensal a ex-governadores.

A representação foi ignorada pela imprensa local, mas a sua autoria passou a ser mencionada nos últimos dias porque o procurador ingressou na "lista tríplice" para concorrer com Edmar Monteiro à chefia da Procuradoria Geral de Justiça. A imprensa trata agora desse tema, que ela considera tabu, porque espera exercer alguma influência na escolha do nome que o governador Binho Marques fará para chefiar o Ministério Público Estadual (MPE).

Conversei com duas fontes bem próximas de Binho Marques. Uma disse que o MPE é uma instituição independente e o governo não pode e nem vai interferir na eleição da composição da lista. A outra assegurou que, entre Cosmo Souza e Edmar Monteiro, o governador optará pelo primeiro nome. As fontes foram unânimes em afirmar que a ação contra o pagamento de aposentarias não interfere na decisão do governador.

A representação, iniciada pelos cidadãos Fernando Antônio Magalhães Carneiro e Ernani Ferreira do Nascimento, foi enviada ao Ministério Público Federal, mas, antes disso, o procurador da República no Acre, Fernando Piazenski, já havia representado no mesmo sentido. Portanto, nesta altura do campeonato, a bravura da imprensa acreana é tentar explorar o tema contra Cosmo Souza, no sentido de criar rejeição ao nome dele junto ao governador do Acre quando da nomeação ao cargo de Procurador Geral de Justiça.

Trata-se de uma simples representação. Não quer dizer que a Procuradoria Geral da República vá acatá-la. Claro que a iniciativa incomoda políticos, como o ex-governador Jorge Viana, que requereu o benefício da aposentadoria antes da representação. Da parte de Binho Marques, o que existe é mera expectativa de direito.

A disputa no Ministério Público neste ano será diferente, pois Cosmo Souza está na lista e a disputa agora é para saber se ele ou Edmar Monteiro será o mais votado. Souza poderá ser o menos votado, uma vez que Monteiro está no poder há oito anos. Caso o atual procurador geral seja nomeado para mais um mandato, completará 10 anos no cargo.

Souza foi candidato em 2003 e 2005. Neste ano, porém, preferiu anunciar uma viagem de seis meses para estudos nos EUA. A direção do MPE facilitou o atendimento do pedido. Como não havia outro candidato além de Edmar Monteiro, vinte minutos antes de esgotar o prazo legal, Cosmo Souza surpreendeu a todos com o ingresso de seu nome como candidato à lista.

O Acre paga subsídio mensal vitalício a ex-governadores no valor de R$ 22.111,25 para cada um, aí incluídas as viúvas e beneficiários de pensão vitalícia, com amparo no art. 77, §§ 1º, 2º e 3º da Constituição do Estado do Acre, promulgada em 3 de outubro de 1989. Ao todo são 14 beneficiários, o que resulta numa despesa mensal média de R$ 309.557,50 aos cofres públicos.

Quando era deputada estadual, Marina Silva tinha como bandeira o fim da aposentadoria a ex-governadores. Binho Marques é considerado por Marina Silva o melhor amigo. Com certeza ainda não divergem sobre o tema.

Para conhecer um pouco do perfil e do que pensa Cosmo Souza a respeito do MPE, leia a entrevista que fiz com ele para o jornal Página 20, em junho de 2003. Clique aqui.

O PESO DAS ARROBAS

Do blog do Noblat:

Em reunião fechada com a bancada do PT, o presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), até então aliado de Renan Calheiros (PMDB-AL), comunicou uma decisão para a reunião de hoje: se o PMDB insistir em votar o processo imediatamente e couber a ele, Sibá, desempatar a votação, Renan vai perder:


- Eu não vou ficar com esse peso nas minhas contas -, afirmou Sibá às lideranças do PT.

A FARRA DAS GRATIFICAÇÕES

Um dia depois de reajustar as funções em até 139%, governo cria 626 cargos comissionados elevando para 22.189 o número total

Luciano Pires

Alheio às críticas dos sindicatos de servidores, que protestaram na segunda-feira contra o reajuste dos cargos de Direção e Assessoramento Superior (DAS), o governo anunciou ontem a criação de mais gratificações dessa natureza. Uma medida provisória publicada no Diário Oficial autorizou a abertura de outros 626 postos comissionados, elevando para 22.189 o número total. Com isso, o governo Luiz Inácio Lula da Silva amplia um recorde que já lhe pertencia, de 21.563 DAS disponíveis. Em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, o saldo era de 19.209.

Com o aumento no número de cargos de confiança, o governo fortalece as críticas da oposição no Congresso Nacional, que o acusa de aparelhamento da máquina pública, e estimula a disputa política entre as muitas correntes que lhe dão sustentação. Ao mesmo tempo, o Palácio do Planalto acomoda interesses dos próprios servidores de carreira, que, por competência técnica ou afinidade ideológica, acabam sendo prestigiados com os DAS.

Os novos cargos oferecem salários que vão de R$ 1,9 mil a R$ 10,4 mil e serão distribuídos, em sua maioria, na Secretaria de Patrimônio da União (SPU) — ligada ao Ministério do Planejamento —, com 224 DAS, nas Superintendências de Desenvolvimento do Nordeste e da Amazônia (Sudene e Sudam), com 140 cargos de comissão, e na Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, com 83 cargos. A despesa extra neste ano é de R$ 13,5 milhões. Em 2008, a conta será de R$ 23,2 milhões. Além desses DAS, foram abertas 34 funções gratificadas.

Josemilton Costa, secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), classificou como “vergonhosa” a criação dos novos DAS. “O governo perdeu o sentido da realidade. Não dá para profissionalizar o setor público com esse número exagerado de gratificações”, disse. O representante da entidade afirmou que a medida deverá acirrar ainda mais os ânimos dos servidores em greve.

Reivindicações
O governo negocia com pelo menos oito categorias que protestam por melhores salários. No início da semana, outra medida provisória determinou reajustes entre 30,57% e 139,75% para os cargos de confiança, aqueles em que o ocupante não precisa ser sempre concursado. Retroativo a 1º de junho, o aumento tem impacto previsto de R$ 277 milhões este ano e de R$ 475,6 milhões em 2008. Segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, o Orçamento reserva os recursos necessários para essa revisão.

Os funcionários que recebem DAS-3 tiveram, em percentual, o maior reajuste (139,75%): a gratificação paga a 3.588 pessoas passou de R$ 1.575 para R$ 3.777. Já os níveis 2 e 1, destinados a 12.187 servidores, receberam aumentos entre 60% e 80%. Os DAS-4 passaram de R$ 4.898 para R$ 6.396 e os DAS-5 saltaram de R$ 6.363 para R$ 8.400. O valor pago aos ocupantes dos cargos mais altos do funcionalismo, que recebem DAS-6, agora é de R$ 10.448 e não mais R$ 7.575.

Para Maurício Rands (PT-PE), os ataques da oposição e dos sindicatos que se opõem à política de recursos humanos desenvolvida pelo governo não se justificam. Segundo ele, há um empenho do presidente Lula em reestruturar as carreiras efetivas, mas também os cargos comissionados. “Não tem nada a ver com aparelhamento”, completou. O parlamentar defende um amplo debate sobre o papel do Estado. “É uma medida consistente e coerente com as determinações do governo”, afirmou.


Luciano Pires é da equipe do Correio Braziliense

terça-feira, 19 de junho de 2007

ARTE E DESASTRE


Do site "Erros 24 Horas".

O PORTUGUÊS


Ninguém merece: um gajo d’além mar surgiu no meu mensageiro instantâneo e começou a falar como se nos conhecêssemos desde o descobrimento do Brasil. Contei pro Cartunista Braga e ele fez o desenho acima. Divirta-se com o diálogo:

Gajo
Já recebi o preço dos esquilos terrestres. Ficam a 130 euros, cada. Saíram um poquito mais caros que o ano passado.

Altino
São esquilos originários de onde?

Gajo
Só um minuto tenho aqui clientes. (pausa) Planícies do nordeste da América do Norte.

[Imaginei que poderia tratar-se de biopirataria e tentei ampliar a prosa].

Altino
E a documentação?

Gajo
Documentação?

Altino
Não terei problemas com as autoridades?

Gajo
Claro que não. São animais perfeitamente legais em Portugal. O que precisa é apenas a factura. Nem sequer são animais que vem com CITES (sigla em inglês para Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção, também conhecida por Convenção de Washington).

Altino
A exportação deles é legal nos Estados Unidos?

Gajo
Na loja só vendemos animais que estão de acordo com a nossa legislação. Se provenierem dos EUA, aí sim, a sua importação é ilegal.

Altino
E são provenientes de onde?

Gajo
Para já, nem sequer passam nas nossas alfândegas. No ano passado vieram de Xangai. Apesar de serem originários da América do Norte, não são criados lá. É um dos grandes problemas com os cães da pradaria. É que existe muito pouca criação fora dos EUA. Desde que barraram a importação dos EUA que são raros de se encontrar.

Altino
Qual é mesmo o nome de sua loja? É em Lisboa?

Gajo
Altino lembre-me só: no bate-papo eletrônico, o user verg também é seu, certo? Ou estou a fazer confusão? A loja chama-se Petos Land e é em Vialonga...

Altino
Vocês vendem animais da Amazônia? Tenho um amigo muito interessado na compra de papagaios, macacos e araras...

Gajo
É assim: Papagaios e araras pode-se arranjar consoante a importação e, claro se for legal a sua venda. Existem espécies protegidas. Quanto a macacos, esqueça! É estritamente ilegal vender ou ter qualquer espécie de primatas em Portugal. – kkkk- Não pode ter macaco em Portugal! Papagaios e araras pode-se encomendar e esperar, pois não existe muita criação cá em Portugal.

Altino
Você sabe quanto custa um desses animais da Amazônia?

Gajo
Depende muito da espécie em questão, são sempre preços que temos de consultar primeiro junto aos criadores. Existem araras que chegam a custar mais de 2000 euros.

[Percebi que se tratava apenas de um negociante português atrapalhado diante do computador].

Altino
Olha amigo, na verdade sou jornalista brasileiro. Meu blog tem muitos leitores em Portugal. Vou reproduzir nele a nossa conversa.

Gajo
Só uma dúvida, e ver se me pode esclarecer uma coisa: O Altino teve cá na loja, correcto? Ou estou a fazer confusão com outro cliente??

Altino
Estás a fazer confusão.

Gajo
Ok! Deve de ser confusão.

Altino
Você é português mesmo.

NAS ALAGOAS O BOI AVOA



Do Cartunista Braga

SAIA JUSTA DO SIBÁ


Não seria surpresa caso os coronéis da política brasileira estivessem a apoiar agora o indefensával Renan Calheiros. Mas Sibá Machado poderia poupar o Acre e os eleitores de Marina Silva da vergonha nacional decorrente da conduta dele no Conselho de Ética do Senado. Ele está que nem cachorro que caiu do caminhão de mudança.

A BUROCRACIA NO MATO

José Carlos dos Reis Meirelles

Quem trabalha em regiões distantes dos grandes centros urbanos, adaptados às inovações burocráticas quase diárias, criadas por portarias, decretos, memorandos, considerandos, normas, bulas, dogmas e outras idiossincrasias, cada dia mais se encontra em uma situação, no mínimo, curiosa, para não dizer estapafúrdia. Recebemos os recursos e não podemos gastá-los.

Recebi recursos para pagamento de serviços de oficina mecânica para conserto de motores da Frente Envira, no valor de R$ 1 mil - serviços prestados em Feijó e Jordão. Para que tal altíssima quantia fosse gasta pelo erário era necessário que as oficinas possuíssem notas fiscais de serviço, conta bancária, e que fossem cadastradas no SICAF. Acontece que nenhuma oficina, nas duas cidades, possui nota fiscal, seus donos não têm conta bancária e quando falei em SICAF, alguns fizeram caras de espanto, outros não entenderam o que foi dito e o último quis botar pra briga, pensando que SICAF fosse um palavrão, dos mais ofensivos, assim como ser cadastrado num clube de cornos.

Liguei para a administração da Funai em Rio Branco tentando solucionar a questão. Sugeri que me fosse concedido um suprimento de fundos para pagar os donos de oficina, mediante um recibo. A resposta foi ainda mais complicada: a Funai não concedia mais suprimento de fundos à maneira antiga - só no tal cartão coorporativo, que nem o camarada do setor financeiro, e nem ninguém sabia como era e como funcionava.

Ainda pensei em pedir reprogramação dos recursos para material de consumo, tirar uma nota fria em um comerciante amigo, receber dele o dinheiro menos o imposto da nota e pagar as contas. Aí, o comerciante, por mais amigo seu, pensa: "Esse cabra tá roubando". Pior a emenda que o soneto, solicitei à administração que devolvesse o dinheiro para Brasília, pois não tinha como gastá-lo.

Fico aqui a pensar que teremos que despachar um motor Yanmar NSB18, que pesa 250 quilos, de avião para Rio Branco, para que ele seja consertado. O frete deste motor, ida e volta, sai por uns R$ 2,5 mil. Fora a mão-de-obra de despachos, mais papéis como memorandos, ordens de serviço, autorizações para transporte em carros da Funai, consulta de preço da oficina mais barata, orçamentos, empenhos, e o final pagamento, e, a contar com a eficácia do pessoal da administração, a demora será de, no mínimo, uns seis meses para devolver o motor, isso se tudo corresse bem e nenhum funcionário gripasse.

Ou o Governo Federal fecha todos os estabelecimentos que não possuem a papelada para poder receber seus recursos, principalmente na Amazônia, ou teremos que parar de trabalhar em campo. E me parece que a idéia é mesmo esta. Vai todo mundo para as capitais de estados, cada um se senta diante de um computador e se dana a escrever estórias irreais acerca dos poucos índios que ainda teimam em morar no mato, ou passa o dia jogando paciência, mandando e recebendo e-mails bobos ou vendo mulher pelada na internet, com a despesa paga pelo Estado.

Termino aqui plagiando o João Ubaldo Ribeiro em seu romance "O Feitiço da Ilha do Pavão", onde um de seus personagens, o índio Tatánhangá, mal entendido, a começar pelo nome, e chamado Totonhangá, batizado por Balduíno da Anunciação, apelidado Balduíno Galo Mau, em um discurso inflamado a seu amigo Nhô Pepeu, quando protestava contra a decisão dos mandatários da Assinalada Vila de São João do Esmoler do Mar do Pavão, que os índios de seu povo deveriam a voltar a morar, definitivamente, no mato.

- Pessoá quer que índio vá pro mato! Índio não vorta pra mato! Tem anzol no mato? Tem vrido no mato? Tem dinheirim no mato? Tem cachacinha no mato? Tem jogo de baráio no mato? Tem calçado, tem refrigerante, tem açuca, tem travessero, tem cochão, tem carro, bicicreta, água gelada, casa de muié-dama no mato? Tem loja de roupa na mato? Tem faca no mato? Tem posentadoria no mato? Branco mora na cidade! Se mato fosse bão branco morava no mato. No mato só tem pium, maruim, catuqui, carapanã, cobra e perreação. Índio não vorta pra mato! Não vorta! Só vai pra mato quando tem sodade de lavá cu no rio, enquanto branco não chuja água dele. E tem mais, se mato fosse bão, branco não derribava mato.

Desconfio que temos que, o mais rápido possível, fazer contato com os índios isolados, chamados brabos, aposentar os mais velhos, ensinar os mais novos a tomar cachaça e a andar com os tênis da moda e ir todo mundo pra cidade. Afinal eu já estou aposentado.

O sertanista José Carlos dos Reis Meirelles é chefe da Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira, na fronteira do Acre com o Peru.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

MUSA


Óleo sobre tela 50 x 70 cm (2005), do artista plástico Fernando França. Esta é uma das 28 telas do artistas em exposição no salão da Fundação Elias Mansour, no Calçadão da Gameleira.

GEOGLIFOS DO ACRE

Museu Goeldi e universidades do Pará, Acre e Helsinque iniciam pesquisas dos sítios arqueológicos

Flamínio Araripe

Será iniciada este mês em Rio Branco, a pesquisa de campo do "Projeto Geoglifos: Natureza e Sociedade na História da Amazônia Ocidental", do Museu Paraense Emílio Goeldi e das Universidades do Acre, do Pará e de Helsinque, financiada pela Academia de Ciências da Finlândia/Instituto Renvall. Liderado pela pesquisadora Denise Pahl Schaan, do Museu Goeldi, o trabalho visa o estudo da ocupação pré-colonial na região ocidental do Acre, onde foram identificadas gigantescas estruturas de terra que vêm sendo chamadas de "geoglifos".

Até a segunda quinzena de agosto, cinco geoglifos próximos a Rio Branco vão ser estudados pela equipe, que esperou mais de um ano pelas autorizações do CNPq e Iphan para iniciar o trabalho de campo. Conforme Denise Schaan, as estruturas de terra foram identificadas primeiramente pela equipe do professor Ondemar Dias e, mais tarde, registradas em diversas localidades através de fotografias aéreas pelo paleontólogo Alceu Ranzi.

"Os geoglifos constituem-se, sem dúvida, em um dos mais espetaculares achados da arqueologia Amazônica dos últimos tempos", afirma a coordenadora do projeto. Denise Schaan lembra que Ranzi descreveu os geoglifos em entrevista dada para o jornal "A Tribuna", de 2002.

"Alguns são em forma quadrada com 215 metros em cada lado, e circundados por um fosso que tem 15 metros de largura e quatro metros de profundidade. Para construí-los era necessário movimentar nada menos 51.600 metros cúbicos de terra. O detalhe é que o material retirado do fosso era cuidadosamente amontoado pelo lado de dentro ou de fora dos desenhos, formando assim uma borda de dois e meio a três metros acima do nível do solo".

Google Earth
A edição de maio da revista EOS, da União Geofísica Americana (AGU) publica artigo de Alceu Ranzi, Roberto Feres e Foster Brown, da UFAC, que usaram a base de dados do Google Earth para identificar geoglifos no sudoeste da Amazônia. Intitulado "Software de busca na Internet ajuda na localização de geoglifos amazônicos", o trabalho define estas estruturas de terra como "expressões paisagísticas de civilizações passadas".

Desde 2000, relatam os autores, cerca de 60 geoglifos foram observados em vôos acima de regiões de paisagens recentes deflorestadas no sudoeste da Amazônia, leste do Acre. São estruturas circulares ou retangulares na escala de 100 metros ou mais de diâmetro escavadas no solo com borda de trincheira com 1 a 3 metros de profundidade. Datação de um fragmento de carvão vegetal realizada com Carbono 14 proveniente de um geoglifo indicou que possuem 2.500 anos a 1.000 anos.

Os autores do artigo no EOS levantam questões sobre a distribuição dos geoglifos – se estes foram construídos em savanas extensas ou florestas tropicais, qual a densidade populacional humana à época, e quanto da floresta atual pode ter sido influenciada pela atividade humana.

"As respostas têm implicações importantes para entender as ramificações das mudanças climáticas atuais e as perspectivas para uso da floresta em longo prazo, e a densidade sustentável de população humana na região Amazônica. A análise sistemática da distribuição de geoglifos poderia ajudar a responder essas perguntas", afirmam os autores.

O relato dos três autores destaca a importância da incorporação das imagens pelo Google Earth no leste do Acre, e compara que em apenas poucas horas de estudo com uso da ferramenta na Internet "o número de geoglifos mais do que quadruplicou".

O artigo cita o pesquisador Charles Mann, autor do livro "1491- Novas revelações das Américas antes de Colombo", na afirmação de que os estudos na linha dos geoglifos podem ajudar a resolver problemas de como o clima mudou nesta parte da Amazônia. Os autores identificam áreas de maior densidade e distribuição espacial de geoglifos no Acre.

A edição do livro de Mann, em português, da editora Objetiva, traz na página 13 foto dos geoglifos do Acre, o da "Fazenda Colorado", observa Alceu Ranzi. O pesquisador disse ter falado com Charles Mann, que informou a intenção de visita ao Acre para lançamento do livro, que já teria autorização da National Geographic.

Proteção
Denise Schaan informa que em 1999, Alceu Ranzi, paleontólogo da Universidade Federal do Acre, ao viajar de avião de Porto Velho para Rio Branco, observou estruturas de terra com dimensões gigantescas numa área de pasto. Em sobrevôos, cerca de 25 destes sítios arqueológicos (com mais de um geoglifo cada um) foram identificados do ar em áreas recentemente desmatadas da vegetação original de floresta para a plantação de pastagens para o gado, em uma grande área localizada na parte oriental do Estado do Acre.

"Foi realizada uma visita preliminar em vários destes sítios, sendo tomadas medidas e feitas observações. Em um dos sítios, localizado na Fazenda Colorado, uma estrada vicinal havia cortado uma destas estruturas, deixando à mostra o interior de uma parede, de onde foi retirada uma amostra de carvão para datação. Graças a esta análise, sabe-se agora que o sítio foi ocupado durante o século XIII da nossa era, três séculos antes da chegada dos europeus às Américas", afirma a coordenadora geral do Projeto Geoglifos.

De acordo com Denise Schaan, estas estruturas, que depois foram descobertas em vários lugares ao longo da BR-317, estão sendo chamadas pelos pesquisadores de geoglifos, sendo comparadas às linhas de Nazca, no Peru. "Considera-se que o volume de terra removido para a construção das trincheiras tenha sido fenomenal, o que corrobora a hipótese de que tenham sido realizadas por uma sociedade avançada sociopoliticamente", avalia.

Denise Schaan informa que a pesquisa tem com objetivos principais reconstruir a história cultural da Amazônia Ocidental, os processos culturais, econômicos, étnicos e demográficos antes, durante e depois da chegada dos europeus. Destaca que o estudo irá fornecer informações e recomendará medidas às autoridades locais para a proteção de sítios e seu entorno, visando subsidiar iniciativas turísticas sustentáveis e cooperar com a Ufac, ao ensinar e treinar estudantes em arqueologia.

A coordenadora cita ainda como intuito informar os habitantes locais sobre os sítios e seu valor como herança cultural. "Exibições de longa duração e exibições itinerantes em museus e escolas podem ser um dos produtos da pesquisa".

A pesquisa será realizada na região ocidental do Acre, na Fazenda Colorado, na BR-317, km 4; Chácara Quinauá, na BR-364, km 22; Colônia Santo Antônio, lote 86, BR-317, km 30; Colônia Bom Começo, BR-317, km 40; Chácara Dois Irmãos, BR-364, km 26. Já foi obtida autorização dos proprietários para realização da pesquisa e coleta de material, conforme solicitação do CNPq para concessão de licença para coleta e remessa de material científico por equipe estrangeira.

De acordo com Denise Schaan, a pesquisa visa entender os processos de construção dos sítios – avaliar se os fossos e muros seriam relacionados à defesa ou se seriam somente construídos para a produção de alimentos para as comunidades. "Uma idéia é de que os fossos fossem micro-ambientes aquáticos para recursos tais como peixes, tartarugas ou moluscos para consumo doméstico", observa.

A pesquisa visa investigar modos de produção de alimentos e a intensidade e extensão desta produção em torno dos sítios, de maneira a avaliar possíveis mudanças, processos de adaptação e práticas de uso da terra entre as comunidades. O estudo pretende ainda datar os sítios individualmente através do método radiocarbônico de maneira a obter uma seqüência cronológica e verificar se houve uma evolução da área dos sítios em forma e/ou extensão, informa a coordenadora.

Para atingir as metas propostas, a metodologia inclui técnicas de pesquisa de campo arqueológicas, cartográficas e paleoecológicas, informa Denise Schaan. Serão feitas prospecções arqueológicas para ampliar o conhecimento que existe sobre a dispersão geográfica dos
geoglifos, principalmente a partir de imagens de satélite, fotos aéreas e cartografia. Os dados obtidos através do sensoriamento remoto serão checados em campo.

A pesquisa envolve ainda mapeamento detalhado nos sítios a serem escavados. Estão previstas escavações arqueológicas mais intensas em sítios com maior potencial informativo; amostras paleoecológicas (coletadas através de flotação) de estratos culturais dos sítios e, se
possível, sondagens em bacias sedimentares (se encontradas) para análise polínica. Além, de análise botânica do entorno dos sítios.

O projeto está pensado para durar três anos, disse a coordenadora. Segundo ela, as escavações e mapeamentos se iniciam no final de junho. A equipe faz prospecções para identificar mais sítios e prepara um cadastro dos sítios e um livro com as informações já existentes, disse ela ao informar que no dia 23 vai ao Acre para fechar a edição. No Congresso da Sociedade de Arqueologia Americana em Austin, Texas, no final de abril, Denise e Alceu apresentam o trabalho intitulado "Geoglifos do Acre: Estruturas de terra monumentais da Amazônia ocidental".

"Estamos preparando também uma campanha para sensibilização das pessoas sobre a necessidade de preservação. Muitas estradas e outras obras já danificaram os geoglifos. Precisamos de apoio dos setores do governo e da sociedade em geral para evitarmos esse tipo de coisa e fazermos cumprir a legislação que proíbe a mutilação de sítios arqueológicos", disse Denise Schaan.

Sítios arqueológicos atraem cientistas
Os geoglifos já atraíram a atenção de diversos pesquisadores que vieram visitá-los no Acre, tais como o Michael Heckenberger, arqueólogo; Giuseppe Orefici, de Nazca Peru; Dr. Rossano Bastos, arqueólogo do IPHAN; Sanna Saunaluoma, da Finlândia, arqueóloga Maura Imazio (Goeldi), arqueóloga Niéde Guidon (Fumdham); a "turismóloga" Adalgisa Araújo e o arqueólogo Dr. Rodrigo Aguiar, co-autor com Alceu Ranzi do livro Geoglifos da Amazônia - Perspectiva Aérea.

Alceu Ranzi ressalta que os aspectos jurídicos de proteção dos geoglifos foram objeto de dissertação do biólogo Tiago Juruá Damo Ranzi na graduação em Direito pela Univali em Santa Catarina. Segundo Alceu, Ondemar Dias da UFRJ pesquisou no Acre e notou as primeiras estruturas circulares em 1977. A seguir, os integrantes da equipe de finlandeses e brasileiros que irá trabalhar este mês no Acre:

A coordenadora geral é Denise Pahl Schaan, Ph.D., do departamento de Antropologia da UFPA, pesquisadora associada do Museu Goeldi, curadora do Museu do Marajó, que trabalha com arqueologia amazônica desde 1994. É a responsável brasileira no projeto perante o CNPq, IPHAN e demais
instituições, participa das atividades em campo e coordena as análises de artefatos, assim como participa da análise de dados, elaboração de relatórios e produção de artigos científicos.

Martti Pärssinen, Ph.D. coordenador científico, é professor de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Helsinque, com experiência em arqueologia sul-americana, história e antropologia, trabalhando nesta área desde 1987. Também consultor no projeto, participadas atividades
em campo, análise de dados, elaboração de relatórios e produção de artigos científicos.

Alceu Ranzi, Ph.D. – Geólogo, paleontólogo e consultor, estuda paleoambientes. "Tem sido a pessoa que realmente fez este projeto acontecer, por sua capacidade de colocar todos em contato. Colocou os geoglifos na mídia e chamou a atenção para sua importância, a necessidade de seu estudo e preservação", assinala Denise Schaan. Vinculado ao Laboratório de Pesquisas Paleontológicas da UFAC e Prefeitura de Rio Branco.

Sanna Saunaluoma, M.A. – Estudante de Doutorado na Universidade de Helsinque e curadora do "National Board of Antiquities"; participou de diversas escavações arqueológicas e prospecções na América do Sul desde 1995. Tem trabalhado em sítios arqueológicos pré-contato na vizinha Bolívia. Coordenará os trabalhos de campo, participando da análise de dados, elaboração de relatórios e produção de artigos científicos.

Jacó Piccoli - Antropólogo, professor da UFAC, já desenvolveu pesquisa em geoglifos na década de 1990.

Flamínio Araripe escreve para o Jornal da Ciência.