sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O GRILO E A SOMBRA



- O grilo e o reflexo - diz o Braga

COLAR DE CONTAS

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Acre comemora 22 anos nesta sexta-feira (30), quando entregará mais de 5 mil (sim, mais de cinco mil) certificados de MBA em gestão pública.

Também haverá palestras sobre controle externo, mas o ponto alto está reservado para a entrega do "Colar de Contas" ao governador Tião Viana (PT), outorgado a personalidades de alta expressão, segundo o TCE.

Apesar da pompa e do custo, em estado que depende de repasses de verbas da União, qual corrupto foi preso ou devolveu ao menos um centavo aos cofres públicos do Acre por causa da existência do TCE?

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

MATAR A FOME E ENSINAR A PESCAR

Luciano Martins Costa

Algumas críticas ao projeto Bolsa Verde, ainda pouco conhecido e ainda menos debatido nos círculos do ambientalismo, parecem desconsiderar certas complexidades das questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável.

Uma delas é a conveniência de oferecer instrumentos diferenciados conforme o estágio de pobreza da comunidade que se quer alavancar. Outra é a perspectiva de agregar rapidamente essa população assistida a um projeto de desenvolvimento mais amplo, que englobe não apenas a comunidade mas toda a microrregião.

Também faz pouco sentido comparar o Bolsa Verde com o Bolsa Floresta, um conceito criado pelo governo do Acre e reproduzido pela Fundação Amazônia Sustentável em 2007, por meio de convênio com o governo do Amazonas.

Considerado mais sofisticado e completo, o Bolsa Floresta foi pioneiro ao propor o pagamento de serviços ambientais para famílias de caboclos que se comprometem com a redução do desmatamento, trazendo como resultados combinados a geração de renda e o desenvolvimento da cultura da preservação.

Conforme as características da comunidade a ser beneficiada, esse programa eventualmente é aplicado em áreas nas quais já predomina o extrativismo, pontos esparsos de ocupação no "Amazonas profundo", onde atividades econômicas mais nocivas ao ambiente, como a pecuária extensiva, têm poucas chances de prosperar. Essa redundância levanta questionamentos que já produziram mudanças no projeto, como a segmentação do Bolsa Floresta.

Em outras circunstâncias, e de maneira contraditória, é o próprio sucesso do programa que faz germinar o vírus do desmatamento, quando, arrancados da miséria, grupos familiares passam a buscar um rápido incremento na renda, optando por negociar com madeireiras clandestinas, mesmo sob risco de perder o auxílio oficial.

Essa distorção ocorre no Acre, onde até mesmo empresas certificadas são acusadas de prejudicar as áreas onde vivem famílias que vivem do extrativismo.

Um grupo de moradores do seringal São Bernardo, em Rio Branco, denunciava ontem, pelo Blog da Amazônia, do jornalista Altino Machado, os danos causados por máquinas e caminhões da empresa Triunfo, madeireira devidamente certificada.

Os moradores das chamadas "colocações" em que se dividem os seringais, se distinguem da maioria dos agricultores familiares do Acre pela cultura de preservação herdada do movimento que teve Chico Mendes como líder mais destacado. Muitos têm sido seduzidos pela chance de ganhar dinheiro com atividades que contrariam esses princípios.

As críticas a programas de transferência de renda como o Bolsa Verde já foram soterradas em uma série de seminários sobre avaliação econômica de projetos sociais, organizados pela Fundação Itaú Social. Para efeito de mensuração de resultados, pouco importa se um programa "dá o peixe" ou "ensina a pescar".

Quem se beneficia quer a chance de sair da miséria. Desse primeiro degrau da escala social, é preciso ter instrumentos para consolidar o processo, evitando que os beneficiários abandonem os princípios que lhes deram a perspectiva de uma vida melhor respeitando o meio ambiente.

Luciano Martins Costa é jornalista e escritor, consultor em estratégia e sustentabilidade. Escreve no Brasil Econômico.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

CRIME AMBIENTAL NO ACRE


Três moradores do seringal São Bernardo, em Rio Branco (AC), assinam uma nota contra os danos ambientais causados no Riozinho do Rola pelo manejo de madeira da empresa Triunfo.

Auxiliados por ativistas da igreja católica, os moradores tentam uma reunião na manhã desta quarta-feira (28), em Rio Branco, com a presença de representantes do Ministério Público Estadual e de órgãos dos governos estadual e federal da área de meio ambiente.

A madeireira Triunfo se instalou no Acre em 2004 incentivada pelo “governo da floresta”. Ela beneficia madeira para exportação, principalmente para Europa e China. O então governador Jorge Viana (PT), atualmente senador, à época disse que estava interessado em qualidade e não em quantidade.

- Esta é uma empresa que tem tradição na indústria florestal racional e é isso que nós queremos no Acre: empresas que trabalhem com qualidade e com madeiras certificadas. Isso é a garantia de que teremos nossas florestas preservadas. O que queremos é acabar com a garimpagem de madeira no Acre - assinalou Viana.

"Agonia da Bacia do Riozinho do Rola"

"Nós, moradores das colocacões Centrinho, Catuaba e Cambito, no seringal São Bernardo, em Rio Branco, denunciamos à opinião pública do Acre e do Brasil o que a natureza vem sofrendo em nossa comunidade.

O manejo da Madeireira Triunfo que se instalou no seringal São Bernardo tem causado vários problemas: fuga da caça, obstrução de mananciais e das estradas de seringa e castanhais.

Um dos problemas mais graves é a obstrução de grandes igarapés, como o Vai-se-Ver e o Riozinho do Rola.


O manejo da Madeireira Triunfo construiu uma barragem no igarapé Vai-se-ver e fechou o canal que passávamos com as canoas e represou a água do outro lado. Desta forma, passamos a ficar ainda mais isolados no período do inverno.

Nesta semana, para passamos sob a ponte do Riozinho do Rola, de canoa, tivemos que tirar o barro de meio do canal do rio, colocando nossas vidas em risco, pois o barro podia desabar a qualquer instante.


Todas as intervenções do manejo da Madeireira Triunfo causam fuga e mortandade de peixes, comprometendo não só o nosso transporte como também uma de nossas fontes de alimentação, além de um grande dano ambiental para nossa comunidade e para o planeta.

Quando as máquinas abriram os ramais para escoar a madeira, os entulhos de árvores mortas e barro foram jogados às margens dos ramais, impedindo a passagem para nossas estradas de seringas e castanhas.


O barulho das máquinas afugenta a caça e isso tem influência em nossa renda familiar, comprometendo a nossa sobrevivência.

A poeira causada pelo transporte de madeira fez aumentar o numero de crianças com doenças respiratórias, pondo em risco a vida de nossos filhos.


O manejo da Madeireira Triunfo não respeita sequer acordos firmados. O posseiro Manuel Careca, morador há mais de 15 anos na colocação Cambito, não aceitou a abertura de um ramal dentro de sua colocação, mesmo assim o ramal foi aberto e o transporte de madeira é feito passando no terreiro de sua casa.

Todos sabemos que a Bacia do Riozinho do Rola, que está sendo alvo de tantos crimes ambientais, é importante também para a zona urbana de Rio Branco, a capital do Acre.


O Riozinho do Rola é o principal afluente do Rio Acre, que é a fonte de onde o município de Rio Branco retira toda água para consumo da população. O dano causado a esta bacia também influencia de forma direta quem vive em Rio Branco.

As fotos provam a nossa denúncia.

Por todos estes motivos, pedimos socorro aos órgãos governamentais da área de meio ambiente, direitos humanos, conflitos agrários, instituições de pesquisa e sociedade como um todo.


Este problema não é só da nossa comunidade. É também do nosso município de Rio Branco, do nosso Acre e do nosso Brasil.

Para dar legitimidade a esta denúncia, assinamos este documento.

Antônio Pereira dos Santos (Sulino), morador da colocação Catuaba e Presidente da Associação de Seringueiros do Vai-se-ver

João Manuel de Lima(Careca), morador da colocação Cambito

Antonio Evangelista da Silva, morador da colocação Centrinho"


Clique aqui para ver mais fotos.

Atualização, às 19h10:

O empresário Jandir Santin, da Laminados Triunfo Ltda., enviou nota em que afirma que "inexiste crime ambiental".

Eis a nota:

"É com perplexidade que tomamos conhecimento da denúncia apresentada por tão somente três pessoas, pois de um grupo de dezenas de moradores ribeirinhos não foi exposta qualquer reclamação.

Com olhos para a verdade, a Laminados Triunfo sempre primou pela prática do bom manejo, que já lhe rendeu reconhecimento nacional e internacional de seus produtos e serviços, em decorrência da responsabilidade ambiental, como também por sua mais profunda preocupação com a população ribeirinha.

Assim trabalhando, é totalmente inverídica a denúncia caluniosa de que a Laminados Triunfo tenha praticado qualquer crime ambiental, e para tanto convida os representantes dos meios de comunicação, bem como qualquer representante de órgão fiscalizador, para acompanhar seus trabalhos, pois, aquilo que realmente vemos nos convence mais do que boatos que ouvimos dizer.

Portanto, a empresa Laminados Triunfo, assegurando assim o contraditório e a ampla defesa, como manda o bom jornalismo,  vem por meio deste esclarecer o seguinte:

1. A Triunfo Amazônia é uma empresa séria e idônea, cujos princípios básicos são calcados no desenvolvimento econômico e social da população, onde explora a matéria prima;

2. Todos os seus procedimentos são certificados por rígidos processos de auditorias por organismos nacionais e internacionais de meio ambiente que certificam a madeira;

3. O ramal recuperado pela empresa para escoar a madeira oriunda de projeto de manejo aprovado pelos órgãos ambientais foi autorizada pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre;

4. A propriedade onde é explorada a madeira está há 15 quilômetros do local;

5. A ponte sobre o Riozinho do Rola,  bem como o bueiro em outro igarapé, serão removidos quando da chegada do inverno, para não obstruir o fluxo das águas;

6. Não houve nem há fuga de caça, obstrução de estradas de seringa ou castanha ou de mananciais;

7. A empresa busca o desenvolvimento dessas comunidades, gerando emprego e renda além dos benefícios sociais, sempre primando pela observação das legislações, ambiental e trabalhista.

Por último, a empresa compromete-se a levar ao local objeto desta denúncia, as pessoas que estiverem interessadas para ver de perto a situação e conversar com as pessoas beneficiadas, para que, desta forma, possa fazer um melhor juízo de valor, ouvindo as partes envolvidas."

terça-feira, 27 de setembro de 2011

SEBASTIÃO TAPAJÓS SOBRE A DIVISÃO DO PARÁ

"Não vão gastar mais do que estão roubando"


Natural de Santarém (PA), o músico e compositor Sebastião Tapajós, 67, já sabe o que responderá nas urnas, no dia 11 de dezembro, quando será realizado o plebiscito que decidirá sobre o desmembramento do Pará e sobre a criação de dois novos estados: Carajás e Tapajós.

Serão feitas duas perguntas aos eleitores durante o pleito. A primeira: “Você é a favor da divisão do Estado do Pará para a criação do Estado do Carajás?”. A segunda: “Você é a favor da divisão do Estado do Pará para a criação do Estado do Tapajós?”.

Caso a resposta da maioria para as duas perguntas seja afirmativa, o Estado se dividirá em três partes: uma continuará sendo o Pará, a outra será o Estado de Tapajós e a outra será o Estado de Carajás. Há quem diga que o custo financeiro dessa divisão seria elevado, mas o músico é quase lacônico ao se contrapor:

- Não vão gastar mais do que estão roubando.

Sebastião Pena Marcião nasceu dentro de um barco, no rio Surubiú, quando seus pais viajavam com destino a Santarém. Foi registrado como se fosse do município de Alenquer. De tão apaixonado pela região onde nasceu, adotou e registrou posteriormente o nome do maior rio da região e se assina como Sebastião Tapajós Pena Marcião.

Tapajós, que estuda violão desde criança, em 1964 mudou para a Europa e se formou no Conservatório Nacional de Música de Lisboa, em Portugal. Mas seguiu estudando na Espanha até regressar ao Brasil três anos depois.

Consagrado na Europa, especialmente na Alemanha, já lançou mais de cinqüenta discos. Realiza anualmente pelo menos duas turnês internacionais, mas o lugar dele mesmo é Santarém.

- Na verdade eu sou mocorongo de coração.

Veja a entrevista no Blog da Amazônia.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

NO ACRE, UM TEATRO DE CRIME E IMPUNIDADE

Paulo Andreoli


A morte do meu pai, Francisco Andreoli, no dia 14 de setembro de 2004 continua sem solução. O dentista de formação e humanista de coração morreu no banheiro de sua residência no conjunto Castelo Branco em Rio Branco ( AC) vitimado por dois disparos de arma de fogo.

Sua companheira na época e única testemunha do crime, Irene Veloso de Castro afirmou que o mesmo se suicidou. Os laudos periciais indicam assassinato. O inquérito está arquivado. Ninguém está pagando pelo crime cometido. A sede por justiça me corrói.

Dia da morte

Segundo Irene Veloso, meu pai teria levantado da cama do casal por volta de 6hs, caminhado até o banheiro social da casa e após se trancar no banheiro, teria cometido suicídio com dois tiros. Um no coração e outro na cabeça.

No seu depoimento, alega que teria acordado com o primeiro disparo. Quando chegou na porta do quarto ouviu o segundo tiro. Então caminhou até o banheiro que se encontrava fechado, quando escutou o barulho de uma pessoa caindo no chão.

Preocupada com o marido, pegou o controle remoto do portão de sua casa e saiu em busca de socorro. Irene foi prontamente atendida por seu vizinho Everton Simão e sua mãe. Em depoimento, Everton Simão disse que por volta de cinco da manhã, ouviu um tiro e ficou apreensivo.

Ao ouvir gritos de socorro, o mesmo saiu de casa e encaminhou-se para a casa de Andreoli. Simão alega ter ouvido a expressão “ladrão” e após ter entrado na casa, ficou com receio de arrombar a porta do banheiro por pensar que Andreoli pudesse estar sendo mantido refém dentro do banheiro.

Após baterem muito na porta, Simão resolveu dar um ponta pé, arrombando-a. Encontrou Andreoli caído dentro do box, de frente para a porta, com uma perfuração na cabeça, tendo muito sangue salpicado nas paredes.

Viu também um revólver e um óculos posicionados do lado esquerdo do corpo. Simão só tomou conhecimento que eram dois tiros na parte da tarde quando estava sendo interrogado pela Polícia Civil.

Versão fantasiosa de suicídio

Segundo Irene Veloso, seu companheiro estava muito deprimido por causa de dívidas e ameaças de prisão civil por parte de uma ex-companheira, por seguidos atrasos no pagamento de uma pensão alimentícia. Andreoli também alegava que estava com a diabete alta. Tinha emagrecido muito e emocionalmente não era mais a mesma pessoa.

Andreoli estava sendo executado por bancos por ter sido fiador de dois empréstimos que não foram honrados. Uma fiança foi para a compra de um avião por um Policial Rodoviário Federal de prenome Getúlio. O avião caiu, não tinha seguro, Getúlio não pagou e Andreoli estava sendo executado.

A outra fiança era para Sérgio Castagnha, seu contador que tirou dinheiro do banco para comprar gado. Também não pagou e o dentista estava sofrendo ação de cobrança. Um ponto comum em todos os ouvidos no inquérito, alegado inclusive como uma provável causa de suicídio, seriam as cobranças de uma pensão alimentícia que o mesmo já não conseguia pagar. O valor alto (R$ 2.400,00) a ser pago por mês, inviabilizava o pagamento e o dentista lutava na justiça para abaixar o valor.

Vivia reclamando das ameaças de prisão pela ex-companheira. No depoimento de suas funcionárias, tanto da clínica como de sua residência, este poderia ser um dos motivos para tal ato insano.

Laudo

O IML – Instituto Médico Legal designou os médicos legistas Wilson Queiroz e Carlos Calderon para procederem o exame cadavérico. A necropsia iniciou-se às 14hs e estendeu-se até às 22hs. Após oito horas de exames, dezessete radiografias e coleta de materiais para exames residuais de pólvora nas mãos de Andreoli, o laudo Nº01.217.09.04 , confirmou que meu pai recebeu dois disparos de arma de fogo, sendo um na cabeça no lado esquerdo e outro no coração. Ambos considerados lesões fatais.

De acordo com o laudo, se o primeiro tiro tivesse sido no coração, Andreoli não teria condições de disparar o segundo, seja pela gravidade da lesão, que em autópsia, mostrou que literalmente explodiu o órgão.

Também é sabido na literatura criminal que quando um corpo é atingido, ocorre no ato da penetração do projétil, uma pancada que faz o corpo cambalear e trocar de posição. Em função disto, o suicida não teria condição de efetuar o segundo disparo, principalmente em outro lugar do corpo, no caso específico, tendo que elevar a mão para efetuar o outro disparo na cabeça.

No laudo conclusivo, os peritos invertem a seqüência dos tiros, considerando o primeiro na cabeça. Por ter sido disparado a “queima roupa”, com o cano encostado na cabeça, a explosão dos gases de pólvora, mais a lesão na região parietal esquerda, produziu um túnel no cérebro, considerada uma lesão gravíssima.

Chicão, como era conhecido pelos amigos não teria condições de efetuar o segundo disparo no coração.

O mais gritante nesta história é que no exame residual de pólvora não encontrou vestígios nas mãos de Andreoli que era canhoto, demonstrando que a vítima não disparou em si mesmo os projéteis que lhe atingiram o corpo.

Conclusão dos legistas: homicídio

O médico legista Deusmar Singui também analisou o laudo e concluiu pela hipótese de homicídio, lembrando em seu despacho que via de regra um homicida não efetua mais que um disparo de arma para dar cabo da vida.

Singui afirma também que o projétil que atingiu o crânio foi perpendicular ao ponto de entrada na calota craniana, sendo que nos casos de suicídio, este trajeto tende ser obliquado para cima. O legista afirma ainda em seu laudo que qualquer dos disparos, tamanho o dano causado, poderia causar a morte instantânea do dentista.

“Logo, se estivéssemos ainda dando crédito à hipótese de suicídio, no caso em tela, só poderíamos aceitar as lesões produzidas por um dos tiros, a presença do segundo disparo, qualquer que tinha sido ele, corrobora com a hipótese de homicídio” escreveu Deusmar Singui na sua conclusão.

Laudo da Polícia Técnica

Dentro dos procedimentos investigativos, o diretor do Instituto de Criminalística na época, Francisco das Chagas Paiva, designou os peritos André Luiz Lima da Silva e Alcineide Almeida de Queiroz Matos para realizarem o exame em local de morte violenta.

Os peritos se dirigiram ás 7hs para a residência de Andreoli na quadra 2, casa 2 do conjunto Castelo Branco. No laudo 2431/04 os peritos levantaram novas informações.

No estudo do ambiente físico da residência, constatou-se a ausência de movimentação violenta ou qualquer tipo de violação nas áreas de acesso e ventilação da residência. O cadáver também não possuía marcas de ferimentos ou escoriações nos membros superiores e inferiores, indicando que a vitima foi caminhando até o local de sua morte.

O estudo das manchas de sangue no piso, por gotejamento, espargimento, contato e o escorrimento no corpo da vitíma, apontam para a probabilidade mais provável do primeiro disparo ter sido efetuado no peito (coração), quando o mesmo se encontrava na parte mediana do banheiro.

A grande concentração de sangue, as marcas de escorregão dos pés da vitima neste ponto do banheiro confirmam esta tese.

O segundo tiro recebera quando já estava tombado, sendo atingido da esquerda para a direita, evidenciado tanto pela ferida de entrada do projétil, quanto pelo deslocamento da cabeça e ainda do escorrimento do sangue na parede na mesma linha da ferida.

Outro ponto que chamou a atenção dos peritos foi a disposição do óculos da vitima, com as alças devidamente dobradas e sem sangue na parte voltada para cima, encontrando –se num local com certa quantidade de sangue.

O gotejamento sob a lente reforça a hipótese de ter sido colocado após os disparos, haja visto que se tivessem caído com o impacto dos tiros, teria no mínimo, as partes que se encontravam voltadas para cima, ficarem impregnadas de sangue.

Quanto ao fato da porta do banheiro estar fechada, os peritos concluíram que existe a possibilidade de seu fechamento por fora, já que a mesma é do tipo “quadrada”, muito frágil e que pode ser acionada por meio de instrumento rígido como chave de fenda e similares.

Constatou-se ainda que existe um sistema de fechadura idêntico no quarto em frente ao banheiro, não estando no local no ato dos exames a chave desta porta, que sumiu do local. Concluindo os peritos afirmaram no laudo que no local ocorreu um Homicídio.

Dia anterior

Por volta de 12hs, no dia que antecedeu seu assassinato, Andreoli chegou de uma reunião no CRO/AC – Conselho Regional de Odontologia do Acre. De acordo com depoimento da empregada da casa, com ar de preocupado, Andreoli foi até seu quarto. No alto de um armário, guardava um revolver calibre 38. A arma era legalizada e meu pai tinha autorização de porte.

Subiu numa banqueta para procurar sua arma. Com ar preocupado, saiu de casa. No depoimento de Irene, ela diz ter encontrado Andreoli nas proximidades do bairro. Em nenhum outro depoimento, foi dito que Andreoli encontrou a arma que viria ser usada no seu assassinato. O irmão de Irene afirma ter estado na casa um dia antes da morte de Andreoli.

Outro fato que chama atenção é o de que sua camionete, uma L200 foi retirada da casa pelo advogado de Irene. O documento do carro tinha a assinatura de Andreoli em caneta tinteiro, sua marca registrada. Possuía uma coleção de canetas antigas.

Com uma esferográfica azul, Irene preencheu o documento de venda para seu nome, colocando data de 13/9, um dia antes do assassinato de meu pai. A camionete foi levada para uma oficina, segundo Irene para consertar um vazamento de óleo do motor. Como uma esposa pode pensar em mandar arrumar o carro, minutos após a morte do seu companheiro. Estranho, muito estranho.

Providências

No depoimento de Irene Veloso, que é defendida pelo advogado Roberto Duarte, ao diretor geral de Polícia Civil do Acre, delegado Walter Leitão Prado e que foi acompanhado pelo promotor de justiça Álvaro Luis Araújo Pereira, a mesma afirmou que a causa da morte foi suicídio.

Quando do nosso depoimento, filhos de Andreoli, o delegado Walter Prado, disse-nos que existe na literatura policial diversos casos em que o suicida tenha tirado a vida com mais de um tiro.

Até hoje, o delegado que virou deputado no Acre, não apresentou tais estudos para a família. Afastado do caso por motivo de doença, assumiu o caso a delegada Jussara Leite Viana.

A delegada dando seqüência ao inquérito ouviu o irmão de Irene, Iraldo Veloso de Castro, com quem Andreoli já teria tido desavenças e teria estado na casa no dia anterior ao crime.

Andreoli e Iraldo tiveram um grave atrito por causa de uma moto serra da vítima que foi vendida pelo cunhado sem seu conhecimento.

Em conversas rotineiras com meu pai, concluo que Iraldo mentiu ao afirmar que tinha um bom relacionamento com a vítima. Não tinha. O velho vivia reclamando de Iraldo e suas atividades na fazenda.

Assumiu o caso o delegado Ilzomar Pontes do Rosário, na época responsável pela Corregedoria da Polícia.

O delegado novamente ouviu Irene que afirmou que não havia ninguém na casa no dia do crime além dela e seus dois filhos menores. Disse também que não possuía nenhum seguro de vida em seu nome e que o marido teria passado a camionete para ela, um dia antes de ter se “suicidado” com receio do veiculo ser penhorado pela justiça, daí sua transferência repentina.

Irene, de acordo com o laudo residográfico não possuía pólvora nas mãos. Não foi feito exame nas mãos de Iraldo, o suspeito de desavenças com Andreoli. A reportagem constatou que Irene só foi submetida ao exame, dois dias após o assassinato de Andreoli.

Com este depoimento, embasado pelos laudos periciais, de posse da informação que Irene possuía sim, dois seguros de vida tendo seu nome como beneficiaria feitos pelo falecido e que a mesma teria inclusive tentado sacar quatro dias após o crime, complementado pela assertiva de Irene de que não havia ninguém na casa, Ilzomar pediu sua prisão preventiva que foi deferida pelo juiz Elcio Sabo Mendes Junior, da vara do Tribunal do Júri.

Andreoli, alguns meses antes de morrer, teria passado para o nome de Irene, uma fazenda nas proximidades de Rio Branco. Imóvel rural formado e de grande valor. Na época, Iraldo trabalhava na fazenda.

Sua prisão não contribuiu para o avanço das investigações, Irene não foi novamente ouvida enquanto se encontrava presa e ninguém foi chamado para prestar novos esclarecimentos. Também não foi feita até hoje a reconstituição do assassinato.

Vencido o prazo de sua prisão preventiva, o Ministério Público pediu sua liberação por falta de provas.

O processo hoje

Passado sete anos da morte do velho Chico Andreoli, o crime continua sem solução. Mataram meu pai. Mataram meu companheiro de aventuras. Mataram meu amigão.

Um grosso inquérito de paginas já amareladas, no fundo de uma prateleira de uma delegacia é o que sobrou da investigação da polícia acreana. Uma apuração fraca, com a inserção de uma lorota de um delegado que quis impingir um ato de suicídio ao meu pai.

Sua fotografia no meu escritório é minha companhia do velho italiano. Vim com ele em 1983 para Rondônia. Levei-o de volta, para São José dos Campos (SP) onde foi sepultado. Foi decretado dois dias de luto oficial na cidade do Vale do Paraíba. Andreoli foi militante e vereador do MDB – Movimento democrático Brasileiro nos anos de chumbo. Poeta e autor de livro, além de engajamento em atividades sociais e religiosas.

A morte do velho levou os irmãos por caminhos diferentes. “Sobrou eu” aqui em Porto Velho. Vivo com a esperança de um dia ser feita a justiça dos homens. A justiça divina é perfeita, nela tenho o aplacamento da minha dor. Da minha saudade.

Rogo as autoridades acreanas que reabram o caso. Estendo meu pedido aos fiscais diligentes da lei, o brioso Ministério Público.

Também aguardo os tais documentos que o deputado/delegado acreano disse existir e que comprovam que uma pessoa pode se matar com dois tiros.

Paulo Andreoli é jornalista em Porto Velho. O artigo foi publicado originalmente no site Rondonia ao Vivo. O Brasil tem 90 mil processos inconclusos de crimes contra a vida. O Acre é um dos campeões (veja) em inquéritos policiais como o que foi narrado por Andreoli.

DEVEMOS TER MEDO DE DILMA DINAMITE?

Eliane Brum

Antonia Melo é uma mulher forte, reta. O Brasil não sabe, porque ela vive bem longe do poder central, mas todos nós temos uma dívida histórica com Antonia que há décadas luta pelos direitos humanos e pelo desenvolvimento sustentável em uma das regiões mais conflagradas da Amazônia. Hoje, Antonia é uma das principais vozes contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte – a maior e mais controversa obra do PAC. É neste ponto que a história de Antonia Melo cruza com a de Dilma Rousseff, que mesmo antes de ser presidente era chamada por Lula de “mãe do PAC”.

Em 2004, as lideranças da região do Xingu, na Amazônia, foram surpreendidas pela informação de que os boatos eram verdadeiros: apesar do compromisso assumido no programa do candidato Lula e contra todas as promessas de campanha, o projeto de Belo Monte estava na mesa de Dilma Rousseff, ministra de Minas e Energia. O deputado federal Zé Geraldo (PT-PA) convidou então um grupo de lideranças para uma audiência com a ministra, em Brasília, onde poderiam expor suas preocupações. Lula havia sido eleito com o apoio maciço do movimento social do Xingu e, neste momento, era fácil acreditar que seriam bem recebidos. E, principalmente, escutados.

Antonia Melo preferia declinar do convite porque, naquele período, estava em curso o julgamento do caso dos meninos emasculados de Altamira, no Pará. E ela havia dedicado mais de uma década da sua vida à luta para que os assassinos fossem descobertos e punidos. Mas a insistência foi grande, e Antonia viajou a Brasília para compor o grupo de lideranças que se encontraria com a ministra. O que aconteceu ali eu escutei da sua boca, recentemente, quando estava na sua casa, em Altamira, para entrevistá-la. Os olhos de Antonia se encheram de lágrimas e sua voz embargou. Fiquei pensando no que poderia causar tanta dor àquela mulher que enfrentava grileiros de peito aberto, já havia sido ameaçada de morte e perdera vários companheiros assassinados por pistoleiros. Só depois de ouvir o relato compreendi que, para alguém com a dignidade de Antonia Melo, o sentimento de ser traída poderia ser devastador. Foi isso que ela me contou, enquanto um dos seus netos pequenos dormia no quarto.

- Quando chegamos à audiência, a Dilma demorou um pouco para aparecer. Aí veio, com um cara do lado e outro do outro, como se fosse uma rainha cercada por seu séquito. Nós estávamos ali porque, se era desejo do governo estudar esse projeto, queríamos ter certeza de que seria um estudo eficiente, já que sabíamos que todos os estudos feitos até então eram uma grande mentira, sem respeito pelos povos da floresta nem conhecimento do funcionamento da região. Então, já que o governo queria estudar a viabilidade de Belo Monte, que o fizesse com a seriedade necessária. A Dilma chegou e se sentou na cabeceira da mesa. O Zé Geraldo nos apresentou e eu tomei a palavra. Eu disse: "Olha, senhora ministra, se este estudo vai mesmo sair, queremos poder ter a confiança de que será feito com seriedade”. Assim que eu terminei essa frase, a Dilma deu um murro na mesa. Um murro, mesmo. E disse: "Belo Monte vai sair". Levantou-se e foi embora.

Clique aqui e leia mais na coluna de Eliane Brum.

AMAZALERT

Cientistas querem prever impactos do desflorestamento e das mudanças climáticas nas águas, clima e sociedade da Amazônia



Uma equipe de cientistas de 14 renomadas instituições européias e sul-americanas (Brasil, Bolívia, Colômbia, Peru) iniciaram um novo e ambicioso programa de pesquisa para prever o que poderá acontecer com a Amazônia ao longo das próximas décadas.

O programa Amazalert, orçado em 4,7 milhões de euros, é financiado conjuntamente pela Comunidade Européia e organizações nacionais. A reunião inaugural Amazalert será realizada de 3 a 5 de outubro na sede do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos(SP).

Relatórios sugerem que sob contínuas mudanças climáticas e desflorestamento, as florestas da região amazônica estarão vulneráveis a alguma forma de degradação em diversos aspectos, como suas águas, seu clima e sua sociedade. O programa Amazalert tem como objetivo testar o quanto essas previsões são prováveis e, em caso positivo, antecipar onde, como e quando isso deve acontecer.

A equipe do Amazalert, liderada pelos pesquisadores Bart Kruijt, da Universidade de Wageningen, Países Baixos (WUR), e Carlos Nobre, do Inpe, vai estudar um possível sistema que detecte sinais de degradação de grandes dimensões na floresta, o que inclui o desenvolvimento de um sistema de alerta para detectar impactos irreversíveis sobre os serviços ecossistêmicos na Amazônia.

O Amazalert também avaliará os impactos e efetividade de políticas públicas e medidas para a prevenção da degradação da Amazônia. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também atuará na identificação dos grupos de interesse relacionados à temática do projeto e na análise de políticas e cenários, com base nos distintos contextos sócio-econômicos e ambientais da Amazônia.

O Inpe informou que a equipe Amazalert reunirá informações disponíveis em trabalhos anteriores sobre clima regional, sensibilidade das florestas e ciclo da água, desflorestamento, os impactos sobre as leis e respostas aos impactos na Bacia Amazônica.

Existe uma riqueza de observações resultantes, por exemplo, de programas como o Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) e simulações de mudanças climáticas globais, conduzidas pelos relatórios do IPCC, que também serão exploradas em detalhes.

No entanto, modelos de clima, vegetação, e suas interações estão em constante desenvolvimento e são escassas informações sistemáticas sobre o papel das pessoas e da sociedade na funcionalidade da Amazônia como uma região.

Pesquisadores do Inpe consideram que é necessário um melhor conhecimento dos sistemas de retroalimentação dentro do sistema e citam como exemplo as interações entre a mudança da cobertura vegetal e o clima na região amazônica.

- Um importante objetivo é a compreensão dos funcionamentos e impactos da reciclagem da água da chuva pela presença da floresta. Se esse processo for alterado - talvez por meio de perda de floresta de grande escala - pode ocorrer uma deterioração dos ecossistemas da Amazônia - assinala o Inpe.

Os pesquisadores dizem que o Amazalert vai melhorar a nossa compreensão do papel do fogo, e como as pessoas, a agricultura e os governos irão responder às mudanças do clima e do meio ambiente. A equipe envolverá atores de instituições e governamentais para que suas perspectivas sejam incluídas na modelagem e para auxiliar no desenvolvimento de um modelo para um Sistema de Alerta.

Existe expectativa de que, dentro de três anos, o projeto forneça um conjunto de ferramentas aprimoradas para avaliar, e assessorar as tomadas de decisão na gestão futura da região amazônica, incluindo formas de monitorar o funcionamento da Amazônia para se evitar mudanças irreversíveis em seus serviços ambientais.

GRETCHEN PARLATO

Cantora americana de jazz interpreta Flor de Lis, de Djavan


domingo, 25 de setembro de 2011

CARTA ABERTA À COMISSÃO DA VERDADE

POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE

Ofício nº 01/2011
Assunto: Cadê o Thomazinho?

Senhores Membros da Comissão da Verdade,

Saudações,

Escrevo-lhes para solicitar que esclareçam o paradeiro de Thomaz Antônio da Silva Meirelles Neto, o único amazonense incluído na lista oficial de “desaparecidos” na ditadura militar.

Sei que a Comissão não foi ainda constituída, que sua estrutura só será votada no Senado nos próximos dias, que seus integrantes sequer foram escolhidos. Se me antecipo, é apenas para garantir um lugar na fila. É que os “desaparecidos” são centenas, e apenas sete os membros da Comissão que, entre outras tarefas, terá de descobrir, no prazo de dois anos, as graves violações dos direitos humanos praticadas entre 1946 e 1988.

Assim, quando a presidente Dilma indicar os nomes, a Comissão já encontrará sobre sua mesa este ofício, contendo dados que podem facilitar vosso árduo trabalho. Anotem: Thomazinho nasceu em 1º de julho de 1937, em Parintins. Mudou para Manaus em 1950, onde estudou no Colégio Estadual do Amazonas. Viajou para o Rio de Janeiro, em 1958. Foi eleito secretário geral da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) em 1961. Ouçam o depoimento do titiriteiro Euclides Souza, roraimense que hoje vive no Paraná e com ele conviveu naquela época:

-Viajei com Meirelles por todo o Brasil na UNE-volante, ele representava a União Nacional dos Estudantes e eu o CPC – Centro Popular de Cultura. Como nós dois éramos caboclos e comunistas, ficávamos sempre no mesmo quarto e passávamos as noites discutindo cultura popular e socialismo.

Foi aí que Thomazinho ganhou uma bolsa de estudos para a Universidade Lomonosov, em Moscou. Lá, casou com Miriam Marreiro, uma amazonense que estudava Direito na Universidade Patrício Lumumba. Com ela teve dois filhos: Larissa, nascida na Rússia, em 1963, e Togo, no Brasil, para onde o casal voltou depois do golpe militar de 1964.

Acontece que quando Thomazinho saiu do Brasil, quem governava o país era um presidente eleito democraticamente pelo voto popular. Quando voltou, a situação era outra. Os militares, descumprindo o juramento que fizeram de obedecer às leis vigentes, haviam rasgado a Constituição e ocupado o poder pela força, instaurando uma ditadura militar através de um golpe. Thomaz e outros companheiros deram, então, combate à ditadura. Quem estava na ilegalidade eram os militares e não os que contra eles lutavam.

Thomaz e seus companheiros sonhavam com um Brasil sem injustiças, onde o chibé seria compartilhado entre todos. Entregou-se, generosamente, à luta por este ideal, sacrificando família, conforto, bem-estar, carreira pessoal. Por causa de sua luta, enfrentou policia, sofreu prisão, foi espancado e torturado. Saiu de lá todo quebrado.

- Meu filho estava bastante machucado, tinha muitas marcas no corpo” – revelou sua mãe, dona Maria, que conversou com ele em fevereiro de 1973, num “ponto” em Copacabana. Essa foi a última vez que o viu. Ele permaneceu na clandestinidade até ser preso outra vez no dia 7 de maio de 1974.

Senhores, de acordo com o projeto aprovado nesta semana pela Câmara de Deputados, a Comissão da Verdade poderá colher testemunhos, receber documentação com garantia de anonimato e requisitar informações de órgãos públicos, mesmo aquelas classificadas como sigilosas. Requisitem, portanto, documentos do Arquivo do DOPS/SP, onde está registrada a prisão de Thomazinho, efetuada quando viajava do Rio para São Paulo.

Busquem, senhores membros da Comissão da Verdade, o Relatório do Ministério da Marinha, que confirma a prisão de Thomazinho. Encontrem outros documentos. Chequem a notícia publicada pelo Correio da Manhã (03/08/79) que revelou uma lista com 14 mortos, entre os quais está o nome de Thomaz Meirelles, cujo corpo até hoje não foi localizado. Identifiquem e convoquem, para serem ouvidos, aqueles que violaram os direitos humanos, torturaram e mataram presos que estavam sob a guarda do Estado.

Ao contrário de outros países, no Brasil a Comissão da Verdade não poderá, lamentavelmente, punir ou perseguir judicialmente os torturadores, cujos salários eram pagos pelo contribuinte e que praticaram tais crimes hediondos contra a humanidade. Na Argentina, no Chile e no Peru, vários agentes do Estado, entre eles generais e ex-presidentes da República, responsáveis por torturas e mortes, estão presos. É nessas horas que sentimos inveja de argentinos, peruanos e chilenos, que não contemporizaram com a tortura.

Mesmo assim, senhores, apesar dessas limitações, descubram os nomes dos assassinos de Thomazinho. Se eles não podem ser punidos judicialmente, serão moralmente execrados pela opinião pública. Dessa forma - quem sabe? - a luta para descobrir o paradeiro de Thomaz Meirelles pode contribuir para coibir a tortura que continua a ser praticada hoje, no Brasil, contra negros, mulatos, pobres, favelados.

Localizem, senhores membros da Comissão da Verdade, o túmulo de Thomazinho para que possamos ir lá depositar uma flor e fazer uma oração, como queria sua mãe, que morreu sem qualquer informação sobre o seu paradeiro.

Nem mesmo o sistema ditatorial mais cruel da história da humanidade aprovou uma lei determinando a ocultação de cadáveres. A família e os amigos dos “desaparecidos” têm o direito de saber o que aconteceu com eles, da mesma forma que a sociedade brasileira tem o direito de conhecer a história e de construir uma narrativa sobre ela, para evitar que tais crimes sejam cometidos outra vez. Só dessa forma Thomazinho e tantos outros “desaparecidos” poderão descansar em paz.

P.S.: Ah, senhores, façam um esforço também de localizar os nomes dos índios “desaparecidos” na luta contra a ditadura, entre eles alguns Waimiri-Atroari, Krenhakore, Kané, Surui, Cinta Larga e tantos outros que foram assassinados porque se opunham aos projetos de exploração econômica e aos belos montes da ditadura militar.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO). Escreve no Taqui pra ti.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

ARROUBO


O senador Jorge Viana (PT-AC) disse no programa Gazeta Entrevista, em Rio Branco, que a oposição no Acre "quer voltar ao poder para roubar, enganar o povo e saquear o Estado".

Viana contou o que teria feito por dois opositores dele - o senador Sérgio Petecão (PMN-AC) e o candidato derrotado ao governo, Tião Bocalom (PSDB):

- Tudo o que o Petecão e o Bocalom têm hoje fui eu que dei.

Sendo assim, perguntar não ofende: o patrimônio de Petecão e Bocalom é resultante de roubo?

Clique aqui e assista ao vídeo da entrevista.

JUSTIÇA DO ACRE ENFRENTA "SITUAÇAO TERRÍVEL"

Escola de ensino online vende diploma a menino de três anos

Por constatar a existência de “fortes indícios de inidoneidade”, o presidente do Tribunal de Justiça do Acre, desembargador Adair Longuini, determinou a abertura de processo administrativo e a imediata suspensão de pagamento de gratificação a mais de 500 servidores do Judiciário que se beneficiaram com base em certificados emitidos pelo Instituto Atual de Educação, que oferece cursos de capacitação à distância no País.

O corregedor geral da Justiça do Acre, desembargador Arquilau Melo, revelou que durante a investigação o Instituto Atual de Educação matriculou e concedeu certificado a uma criança de três anos, que não sabe ler nem escrever. O trabalho enviado em nome da criança foi extraído da internet. Após pagamento, o trabalho foi avaliado e o certificado enviado, sendo atribuída nota 9.

- Nós estamos tendo que cortar na própria carne, mas temos informações de que essa é uma situação que se estende aos demais poderes, dentro e fora do Acre. Esses cursos permitem que os servidores pleiteiem aumento de salários. Porém, temos que levar em conta que julgamos as pessoas e não podemos tolerar mais essa situação terrível. Investigamos com muita paciência e constatamos que não podemos conviver com isso - afirmou Melo.

O presidente do Tribunal de Justiça pediu ao Ministério Público do Acre que apure a responsabilidade criminal dos servidores Clemilson Laurentino dos Santos e Jorge Ferreira de Souza e dos administradores do Instituto Atual.

- Deve-se ressaltar que o ato suspensivo não configura violação do princípio do contraditório e da ampla defesa, visto que os servidores atingidos pela medida serão cientificados para que apresentem defesa - escreveu Longuini em sua decisão publicada na edição desta sexta-feira (23) do Diário da Justiça do Estado do Acre.

A maioria dos requerimentos de gratificação de capacitação apresentados pelos servidores do Judiciário do Acre estão amparados em certificados expedidos pelo Instituto Atual de Educação, cujo site expõe as facilidades:

“Estude o material do Curso pretendido (ou dos Cursos) e quando estiver preparado mande seu Trabalho de Conclusão para que possamos avaliar. Você pode enviar seu Trabalho Final quando quiser, em até 1 dia de Curso ou quando estiver preparado. Sua avaliação final pode ser um Artigo já feito por você em outros cursos, desde que seja pertinente ao assunto que você solicita a Certificação”.

Mediante pagamento, os pretendentes a certificados ganham login e senha para acessar o site o Instituto Atual de Educação. Na área interna, os clientes enviam um texto sobre o assunto do curso escolhido. Cada página equivale a uma carga horária diferente: 1 página (40 horas de carga horária): R$ 25,00; 2 páginas (60 horas): R$ 35,00; 3 páginas (80 horas): R$ 45,00; 4 páginas (100 horas): R$ 55,00; 5 páginas ou mais (120 horas): R$ 70,00; 6 páginas ou mais (150 horas): R$ 90,00; 8 páginas ou mais (200 horas): R$ 120,00; 10 páginas ou mais (280 horas): R$ 150,00. “Após o Envio do Trabalho Final você será avaliado e sendo aprovado poderá efetuar o pagamento do Certificado para que seja enviado para a sua residência”.

No Rio de Janeiro, Fábio Melo, da secretaria do Instituto Atual de Educação, disse desconhecer a decisão do Tribunal de Justiça do Acre.

- Nós capacitamos gente no Brasil inteiro, dentro da legalidade. Não necessitamos de registro no Ministério da Educação porque o que oferecemos são cursos de capacitação e aperfeiçoamento. Você pode ver no nosso site que o Insituto Atual de Educação é idôneo e está de acordo com as normas legais. O doutor Cláudio, que assina os certificados, poderá prestar mais esclarecimentos quando chegar ao escritório - disse Melo.

A investigação do Tribunal de Justiça constatou que não existe controle por parte do Instituto Atual na expedição dos certificados. Ele não solicita certificado ou diploma de conclusão do ensino médio nem documentos de identificação de quem se inscreve no site. Além disso, não é verificado casos de plágio.

- Com certeza alguém usou o nome da criança para obter um certificado. Uma criança de três anos não sabe ir ao banco pagar uma mensalidade, por exemplo - assinalou o funcionário do Instituto Atual de Educação, sem conseguir explicar os critérios de fiscalização e controle que utiliza.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

NO ACRE, OI PRIVA CLIENTES DE ACESSO AO TWITTER

Desde a segunda-feira (19), um suposto erro de configuração nos equipamentos da Oi tem privado os clientes da operadora no Acre do acesso aos sites e aos aplicativos que dão acesso ao Twitter.

Quem usa adsl ou modem 3G da Oi não consegue sequer visualizar o site. Foram feitos testes com celulares 3G e modem 3G da operadora Claro e Tim e o acesso está normal.

O blog relatou o problema à diretora de relações institucionais da Oi no Acre, Kátia Garbin, que também não conseguiu acessar o perfil dela no Twitter a partir de um computador no escritório da operadora.

AÇUDES DO ACRE

Nota do secretário de Agricultura e Pecuária Mauro Ribeiro

Caro Altino,

Em respeito à manifestação da presidente Dercy Teles de Carvalho, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, presto os seguintes esclarecimentos:

1 – O Governo do Acre, com ajuda do Governo Federal, iniciou a construção de 693 açudes nos municípios de Mâncio Lima (91), Tarauacá (90), Assis Brasil (50), Porto Acre (62), Feijó (66), Brasiléia (66), Epitaciolândia (66), Senador Guiomard (66), Capixaba(70) e 66 em Xapuri, sendo 18 localizados na Resex Chico Mendes.

2 – Os açudes destinam-se ao fortalecimento da piscicultura como atividade econômica. Além da construção, o Governo disponibiliza assistência técnica e fornecimento de alevinos aos produtores selecionados, bem como  tubos e curvas para secar os açudes e facilitar a despesca;

3 – Cada propriedade contemplada recebeu visita de técnicos do Governo do Estado e foram observados critérios como a aptidão do produtor para a atividade; a existência de local apto e facilidade de construção da barragem com as 22 horas disponibilizadas; inexistência de açude apropriado para piscicultura; localização  e facilidade de escoamento da produção, etc.

4 – Com base nas informações colhidas, em todos os municípios foram feitas alterações na listagem inicial. Em vários casos, a substituição ocorreu porque o único local disponível para a construção do açude era inapropriado, uma vez que resultaria em inundação da área de reserva legal. Em outras, não havia local para construção de açudes – faltava-lhe uma “bacia” para reserva de água.

5 – Não sei a que lista a Sra. Presidente do STR faz alusão, porque, em verdade, nenhum dos nomes citados na correspondência faz parte da primeira lista de 66 produtores indicados. Mesmo assim, determinei à equipe técnica da SEAP para visitar tais propriedades e relatar de sua aptidão para a criação de peixes, a fim de submetê-las às mesmas regras para inclusão em quaisquer dos programas de fomento à piscicultura que o Governo do Estado oferece, afinal, o governador Tião Viana quer o Acre cada vez mais forte no setor produtivo e não tem medido esforços nem recursos para atingir tal feito.

Atenciosamente,

Mauro Ribeiro

terça-feira, 20 de setembro de 2011

SÉRGIO PETECÃO X JORGE VIANA

Discurso em que o senador Sérgio Petecão (PMN-AC) acusa o governador do Acre, Tião Viana (PT), de persegui-lo e pede proteção policial. Petecão foi aparteado pelo senador Jorge Viana (PT-AC). Clique aqui e veja a repercussão. 



Petecão - Srª Presidente Marta Suplicy, Srªs e Srs. Senadores, confesso a vocês que relutei muito em usar esse espaço democrático para trazer ao conhecimento desta Casa, a qual pertenço com muito orgulho, um fato que, nos últimos dias, tem me deixado muito preocupado que é a situação política que o meu Estado do Acre está passando, um clima ruim, um clima tenso, um clima muito pesado.

Quero relatar para vocês os últimos fatos que aconteceram, até porque algumas situações já vêm ocorrendo desde que assumi este mandato. Srªs Senadores, Srs. Senadores, as atitudes do Governador do Estado do Acre Tião Viana estão mostrando um total descontrole e ele, como Governador, que deveria dar um bom exemplo tem nos deixado muito preocupados.

O Governador Tião Viana tem utilizado nos últimos dias os meios de comunicação e até mesmo sua página pessoal na Internet – é o caso do seu Facebook – para tentar desmoralizar aqueles que ousam falar das mazelas que atingem a sofrida gente do meu Estado. Isso é ruim, isso é péssimo!

Pasmem, senhores, ao invés de dar bom exemplo e administrar o Acre com imparcialidade, o Governador Tião Viana tem se valido da mídia oficial e incentivado seus aliados, alguns pagos com salários altos do Estado, para sacar inverdades e tentar macular a honra das pessoas. Como se não bastasse, o Sr. Tião Viana, também por meio dessas atitudes, procura intimidar seus adversários políticos, os quais ele os vê como se fossem seus inimigos pessoais.

Não é isso, governador. Democracia não é isso. O governador, senhores, não tem sabido aceitar qualquer crítica feita ao seu governo. Exemplo disso foi dado na semana passada pelo seu líder na Assembléia Legislativa do Estado do Acre que sugeriu e também defendeu de forma veemente a prisão de toda e qualquer pessoa que fosse pega lendo ou distribuindo uma reportagem publicada pela revista IstoÉ na qual o irmão do governador o Senador Jorge Viana foi destaque principal da matéria. A revista mostra a relação promíscua de alguns ex-governadores com as empreiteiras que estão trabalhando na rodovia BR 364... 

Jorge Viana - Permite um aparte, Senador? 

Petecão - ... que nos últimos doze anos já consumiram quase R$2 bilhões... 

Jorge Viana - V. Exª me permite um aparte, Senador? 

Petecão - Só um minutinho, Senador Jorge Viana.... E até agora a obra não foi concluída, infelizmente. Pasmem: no meu Estado, a reportagem da IstoÉ não chegou ao conhecimento da população. A edição inteira da revista desapareceu misteriosamente das bancas de revistas. Eu concedo um aparte ao Senador Jorge Viana. 

Jorge VianaQuero lamentar. Aqui V. Exª está vendo que quase o senhor não é ouvido. Sabe por quê? Porque aqui nesta Casa o nome Tião Viana construiu uma respeitabilidade que lamentavelmente as acusações que V. Exª faz não têm eco. V. Exª aqui falou tanto de democracia, isso é parte. O Senador Tião Viana, hoje governador, não pode escrever o que ele quer na sua página. V. Exª tem sua página e isso é parte do jogo democrático. Agora, o clima ruim que tem no Acre é de um grupo de políticos que já enganou muita gente. Enganam seus familiares, usam seus familiares, enganam o povo simples, se beneficiam da pobreza para subir. E essas pessoas agora estão tentando tomar o Acre de assalto, com mentira, com agressão. Das agressões que me estão sendo feitas estou recorrendo à Justiça. Agora, confundir reportagem, tentar mudar, alterar reportagem, isso é crime. Foi isso que foi feito no Acre. Não é a repercussão de uma reportagem. A reportagem está aí, está na Internet para todo mundo ver. Lamentavelmente V. Exª aqui está fazendo de conta que não conhece o Acre. O Senador Tião Viana foi uma das pessoas que ajudou a construir o nome do Acre aqui, e o nome dele é muito respeitado aqui. E como governador está honrando o povo do Acre. V. Exª, inclusive, logo que assumiu o mandato, foi lá elogiar, talvez tentando fazer, mais uma vez, aquilo que já fez comigo e com outros que já governaram o Acre, ou seja, nos enganar. Mas isso não pega mais, Senador. V. Exª tem todo o direito de falar o que quiser. Só estou querendo que fique registrado aqui que não tem nenhuma agressão do Governador Tião Viana à democracia quando ele estabelece o contraditório. Acho que V. Exª poderia muito bem falar dos seus problemas, das suas frustrações, das suas ansiedades, dessa turma – a que V. Exª de alguma maneira se associa – que quer, de algum jeito, tomar de assalto um Estado que está dando certo.

Que está melhorando a vida do povo, que é respeitado no Brasil, que passou muito tempo no ostracismo e que, agora, exatamente por estar dando certo, por não ter a dívida que tinha antes, ter crédito, por ter pessoas ganhando um salário digno, sem atraso, como temos há 13 anos, por ter, agora, um setor produtivo produzindo e crescendo, por ter, agora, uma interligação com a Bolívia e com o Peru, que não tinha antes, por ser, agora, respeitado em Brasília e em qualquer outro Estado, como o Governador Tião Viana é, tem um grupo querendo se apropriar do Estado. Parte da democracia, mas se apropriem ou tentem se apropriar pelas vias democráticas, sem usar da mentira, sem usar de artifícios, de tentar se esconder em cima de fumaça, de nuvem de fumaça, vão, debatam, ninguém, no Acre, foi mais agredido do que eu até hoje, nenhuma pessoa, perseguido, correndo risco de vida, nunca, ninguém, no Acre, correu tanto risco, o ex-Presidente Fernando Henrique foi lá me socorrer, o ex-Presidente Lula sempre me deu a proteção necessária, mas corri o risco para tirar o Acre do atraso em que estava, agora, ter pessoas inventando situações para levar o Acre para trás de novo, aí, sinto muito, Senador.

Acho que V. Exª tem todo o espaço, aqui é o lugar adequado, aqui é tribuna, é Parlamento, para falar o que quiser, mas acho que V. Exª deveria respeitar mais a história do ex-Senador Tião Viana, aqui, e a história recente do Governador Tião Viana, porque é uma dedicação como poucos tiveram na história do Acre. O Governador Binho deu uma grande contribuição, procurei dar a minha, mas a minha contribuição, a minha dedicação está sendo superada, graças a Deus, pela dedicação do Tião Viana. E, aí, acho que, sinceramente, V. Exª, aqui, está querendo encontrar alguma outra coisa com esse seu discurso, menos, repercutir nesta Casa, porque esta Casa, aqui, V. Exª não vai conseguir enganar, porque esta Casa conhece a história de Tião Viana.

Então, de minha parte, lamento, profundamente, é importante o debate, V. Exª sabe o que já passei e o que fiz para o Acre ter alcançado o respeito, eu e muitas outras pessoas, o respeito que o Acre alcançou, mas é lamentável, V. Exª está trabalhando contra o Estado por conta de interesses de setores, de grupos que não são legítimos, podem até ser parte do jogo democrático, mas não são legítimos, porque estão se escorando na mentira, na agressão, na inverdade, e acho isso inteiramente lamentável.

Aqui é um espaço de convivência democrática, V. Exª já deve estar vendo, se bem que cada um tem uma maneira de interpretar, mas o nosso Estado do Acre não merece um discurso como esse. Eu queria ver V. Exª lutando aqui para que o Estado do Acre siga melhorando, eu queria ver um discurso aqui de V. Exª lutando para que a vida do povo siga mudando.

Mas não o discurso que tenta atingir uma pessoa que está ausente, que é o Governador Tião Viana. Ele passou 12 anos nesta Casa e trabalhou com muita dedicação, virou exemplo e virou uma referência, assumiu a Presidência nesta Casa. E agora, na ausência dele, V. Exª faz uma agressão ao Senador Tião Viana. E eu, não só como irmão, mas como Senador da República, por conhecer um pouco a história desta Casa, estou – e agradeço este aparte – fazendo aqui justiça à ausência e à história de Tião Viana. 

Petecão - Eu lhe concedi o aparte, Senador Jorge Viana, para o senhor ver como é que funciona a democracia. Infelizmente, lá no nosso Estado... Estou usando esta tribuna, porque lá no nosso Estado, 99,9 da mídia é na mão de vocês e nós não temos paz. É por isso que estou usando esta tribuna aqui, porque este é um espaço sagrado que o povo do Acre me deu. Eu relutei em vir aqui, porque este não é tema que nós pudéssemos debater aqui, não. Estou debatendo aqui porque lá no Acre – o senhor sabe – o senhor tem 99%... O senhor vai para a rádio, me agride e me impede que eu vá a rádio para me defender. As rádios, que são estatais do governo, vocês usam para fazer política. É por isso que eu estou aqui. É por isso que eu estou aqui... E lhe dei o espaço para você sentir o gosto da democracia, entendeu?

Agora, eu não estou aqui agredindo o Senador. Estou aqui usando de um direito... Em momento algum faltei com o respeito. Ele, como Senador, reconheço o trabalho dele; mas ele, como Governador, ele não tem correspondido. Pasmem! No meu Estado reportagem da Istoé não chegou ao conhecimento da população/A edição inteira da revista desapareceu misteriosamente das bancas de revista. Após o sumiço da reportagem surgiram cópias no Estado da matéria reproduzidas da revista Istoé. E o que fez o governador?

Sem averiguar a verdade dos fatos, ou consultar a população a exemplo do que fez quando decidiu por conta própria mudar o horário oficial do Acre o senhor Tião Viana, mostrando-se descontrolado e desesperado, partiu para baixaria e elegeu a mim como principal alvo de seu ódio.

O Governador, além de usar os meios de comunicação oficiais do Estado ainda teve a capacidade de utilizar a sua página pessoal no Facebook para atribuir a mim palavras de baixo calão, chamou-me de "covarde" e "desonesto", além de insinuar uma possível autoria do material com a reportagem da Istoé, espalhando em todo o Estado.

Senhor governador, covarde é quem contrata jornalistas e blogueiros para...

Senhor governador, covarde é quem contrata jornalistas e blogueiros para espalhar boatos acerca da honra das pessoas.

Desonesto é quem age para impedir que o povo do meu Estado saiba da verdade, como foi feito no caso da reportagem da revista Istoé.

Sr. Presidente, para finalizar, gostaria que ficasse registrado nos anais dessa Casa, até porque irei fazer, através de oficio à Mesa Diretora, que de hoje em diante, o que acontecer comigo e a minha família é de inteira responsabilidade das pessoas que hoje estão a frente do governo do meu Estado.

Digo isso, Presidente porque neste final de semana, quando percorri vários municípios do meu Estado, meus assessores constataram que nós estávamos sendo seguidos por um carro não identificado.

A história do meu Estado recomenda que, nestes casos, para que não aconteça como aconteceu com o ex-governador Edmundo Pinto, assassinado em 1992, num quarto de hotel, em São Paulo, necessário se faz, pedir a esta Casa providências no sentido de preservar a minha integridade física e dos meus familiares assim como o livre exercício das minhas atividades parlamentares no Estado pelo qual o povo do Acre me elegeu.

Por esta razão, vou pedir à Mesa, proteção e garantia de vida para mim e a minha família. O clima no meu Estado está tenso, acabaram de assistir o aparte pedido aqui pelo Senador Jorge Viana.

No momento era o que eu tinha para dizer, Sr. Presidente.

PISCICULTURA E SINDICALISMO

Apelo de Dercy Teles de Carvalho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri

"Caro Altino,
        
Mais uma vez nos dirigimos ao seu conceituado blog para denunciar a manobra utilizada pela prefeitura de Xapuri e a gerência da Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) local, para descartar produtores rurais do Programa de Piscicultura lançado pelo governo do Acre no inicio do ano.

Vários produtores se inscreveram no programa, na expectativa de construírem açudes e, consequentemente, no futuro, melhorar suas rendas a partir dessa atividade. Porém, o tempo passou e nenhuma informação sequer foi dada a respeito da construção dos açudes.

Como o final do verão já se aproxima, um grupo de produtores (Raimunda da Silva, Delzuite Barroso, Valmir Aquino, José Alves e a vereadora Maria Luceni) foi até o gerente da Seaprof, José Selmo Dantas, em busca de informações a respeito do assunto. Ao ser solicitada a relação dos produtores cadastrados, descobriram que havia sido feito uma nova seleção e que seus nomes já não constavam no atual cadastro.

Insatisfeitos com a situação, os produtores indagaram do gerente da Seaprof quais foram os critérios adotados para justificar o descarte de nomes que estavam no cadastro. O gerente responsabilizou os técnicos da Secretaria de Agricultura e Pecuária (Seap) pela seleção.

Inconformados com a resposta, os mesmos se dirigiram até a sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri para pedir ajuda no sentido de saber de quem é mesmo a competência de proceder a seleção.

Telefonamos para a Seap e falamos com o técnico responsável pelo Programa de Piscicultura. Ele nos informou que a seleção dos produtores nos municípios é de inteira responsabilidade dos gestores municipais.

Partindo desse principio, ficou provado que o gerente da Seaprof, juntamente os gestores do município, fizeram uma manobra política para beneficiar os seus apadrinhados, subestimando a inteligência dos produtores que foram descartados sem nenhuma justificativa convincente, ou mesmo de caráter técnico.

Diante do exposto, repudiamos o ato de politicagem ocorrido em Xapuri. Esperamos que o governador Tião Viana tome as providências cabíveis em atos dessa natureza."

Outro lado

Consultado pelo blog, o secretário de Agricultura e Pecuária, Mauro Ribeiro, negou que haja "politicagem" envolvendo a seleção de produtores do Programa de Piscicultura do Acre. Ribeiro, que se encontra no interior do Estado, prometeu enviar ao blog uma nota para explicar ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri os critérios que adotados na seleção dos produtores que se dispõem a criar peixe na região.

A INTEROCEÂNICA ESTÁ PRONTA. E AGORA?

Vídeo de Maria Emília Coelho mostra efeitos desastrosos e o que pode vir pela frente

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

CANTOR MORA NA RUA

Sem casa, alegria de popular é cantar “de graça” nas ruas de Rio Branco (AC)


Qual o seu nome?

- Me chamam de Baiano, mas não sou baiano.

E foi embora cantarolando Waldick Soriano.

MARINA SILVA EM REUNIÃO NA ONU

A ex-senadora Marina Silva está em Nova York para participar das reuniões de trabalho do MDG Advocacy Group e do UN Private Sector Forum 2011 “Energia Sustentável para Todos”, que acontecem nesta terça-feira (20).

Desde março último, Marina Silva é a única representante da América Latina no Millennium Development Goals (MDG) Advocacy Group, organismo voltado para trabalhar juntamente com o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon para articulação de uma vontade política e uma mobilização global para que os Objetivos do Milênio sejam realizados até 2015, em benefício dos pobres e vulneráveis.

Na reunião do MDG, que acontece na parte da manhã, será discutida a implentação de um plano de ação e elaborada uma mensagem para os líderes do Grupo G20, com o objetivo de alavancar o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio estabelecidos pela ONU. Entre as metas do Milênio estão a melhora da qualidade de vida dos habitantes do planeta, a redução substancial da pobreza, a busca de igualdade entre os gêneros e de sustentabilidade ambiental do mundo.

O grupo, criado em junho de 2010, é composto por 20 membros de diferentes nacionalidades e áreas de atuação. Entre eles estão Jeffrey Sachs (economista norte-americano da Universidade de Columbia), Muhammad Yunus (banqueiro de Bangladash premiado com o Nobel da Paz em razão de seu programa de microcrédito para redução da pobreza), Wangari Maathai (ambientalista queniana que também recebeu o Nobel da Paz) e Ted Turner (fundador de canal de notícias norte-americano CNN e um dos principais acionistas do grupo Time-Warner).

Logo depois, Marina participa do UN Private Sector Forum 2011 com a presença de mais de 300 chefes-de-estado, executivos, lideranças da sociedade civil e chefes de agências da ONU. O objetivo é discutir ações que envolvam governos, setor privado e sociedade civil no desafio global de promover a geração, a eficiência e o acesso à energia renovável e sustentável.

EXPEDIÇÃO NAZISTA NA AMAZÔNIA

POR EDILSON MARTINS


A história do Brasil é curiosa, como toda história nacional, mas não prima pela transparência. Não é à toa, certamente, que ainda agora assistimos a dois ex-presidentes, José Sarney e Fernando Collor - de memória nada grata, unidos, e se merecem - recorrerem a medidas protelatórias para impedir a abertura de documentos passados de nossa história oficial. Vai ver que sabem muito bem porque assim procedem.

Pois bem, é possível acreditar que a Amazônia, às vésperas da II Grande Guerra, recebeu, hospedou e recepcionou uma expedição nazista dita científica, e que de científica, acredita-se hoje, nada tinha?

Durante os anos de 1935 a 1937 - dois anos depois o mundo mergulharia de cabeça numa guerra mundial - essa expedição, poderosa, robusta conforme se diria hoje, instala-se ao longo do Rio Jari, na foz do Amazonas, entre os estados do Pará e atual Amapá.

Vieram com um apoio logístico invejável, um número expressivo de participantes, militares, principalmente, barcos, aviões, e uma tecnologia que, à época, era assustadora. E o mais bizarro de tudo é que foram guiados, durante esse período, por índios isolados, sem nenhum contato com o estado brasileiro, que lhes serviram de cicerones nas incursões pelos rios, brenhas de mato, varadouros, e principalmente selva.

A revelação desse episódio, dessa incursão nazista em um país soberano, na calada da selva e dos rios de então, permaneceu no limbo por mais de 75 anos e só agora sabemos dela. O mais contundente é que essa revelação não resulta da descoberta de documentos, achados, vamos dizer assim, por acaso, ou de um ou vários testemunhos oculares. O que em si já seria uma baita revelação.

O que vemos são imagens, takes que resistiram ao tempo, e que foram produzidos pela máquina de propaganda do estado nazista. Essas imagens, e são mais de duras horas de gravação, têm o DNA de Joseph Goebbels, o talentoso e diabólico chefe da propaganda nazista de Hitler e seus seguidores. Algo nos pode levar a acreditar, que este filme deve ter sido exaustivamente exibido para o povo alemão.

Não menos patético, e ao mesmo tempo assustador, é hoje sabermos que o estado nazista, no seu empenho de dominar o mundo, tinha absoluta consciência da importância estratégica da Amazônia, e que Hitler, em nenhum momento fez segredo, sendo prova disso o envio da expedição. Patético, dito um pouco atrás, é o recurso aos selvagens mais primitivos que a Amazônia ainda guardava, liderando militares, cientistas, espiões, enfim, tudo o que era necessário para um projeto dessa envergadura.

Como foi possível tudo isso? O nosso Congresso, as lideranças políticas, as Forças Armadas desconheciam essa invasão? Certamente, sim. Mais isso é outra história.

O Brasil estava entre a cruz e a suástica. Corria a segunda metade dos anos 1930, e a guerra se tornara inevitável. O Partido Nazista tornara-se hegemônico, Hitler fora alçado à chancelaria alemã, e o Brasil, inclusive Getúlio Vargas e as Forças Armadas, não escondiam admiração pelo III Reich.


A simpatia não tinha pejo de aparecer e se manifestar. Nas Forças Armadas, tínhamos chefes militares de peso: Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra entre 1936 e 1945, e logo depois presidente da República; general Góis Monteiro, ministro da Guerra em 1934; Filinto Muller, chefe de Polícia da Capital Federal, responsável pelo serviço de Inteligência da ditadura getulista, e assim por diante.

No baú dos intelectuais a coisa foi curiosa, senão bizarra, vista com os olhos de hoje. Tivemos San Tiago Dantas, Gustavo Barroso, Plínio Salgado, o líder maior dos “camisas verdes”, Câmara Cascudo, Alfredo Buzaid, Augusto Frederico Schmidt, Adonias Filho, e pasmem, Dom Helder Câmera. Até o poetinha, Vinicius de Morais, que tive a honra de ter como amigo, revelava ter sido ele, também, picado pela sedução do movimento fascista brasileiro.

Getúlio Vargas, notável e maquiavélico estadista, gostemos ou não, dançou na corda bamba dessas duas nações – Alemanha e Estados Unidos –, dissimulou, fez jogo de cena, deu um golpe de Estado, prendeu, torturou, mas terminou por tirar partido dessa disputa internacional, fez a opção correta, mandou Hitler para a calendas, e iniciou o processo de industrialização do País, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ). Tudo isso, antes e pós 2ª Grande Guerra.

Essa expedição nazista na foz do Amazonas de patética não tinha nada. Ela tinha objetivos claros. Não é nenhum exercício de teorias conspiratórias imaginar a importância dessa ocupação, a dimensão estratégica desse enclave. O não previsto foi o açodamento da máquina de guerra alemã, precipitando a anexação da Áustria, a invasão da Polônia e, já um pouco antes, a experimentação da aviação nazista na guerra civil espanhola.

A expedição permanece, portanto, durante três longos anos na Amazônia. Alguns de seus membros -cientistas, militares e espiões -, a terra comeu seus pés no vale do próprio Rio Jari. As imagens das cruzes com as suásticas são mostradas. Tiveram que sair batido, a toque de caixa, já que, a partir de 1937, a Europa começa a pegar fogo.

O não menos curioso, e nada nessa história é irrelevante, é que 30 anos depois, exatamente em 1967, o magnata norte-americano Daniel Ludwig, aos 80 anos, um visionário, é levado, pelas mãos de Roberto Campos, ao gabinete então presidente, general Castelo Branco, em plena primavera ditatorial. Ali, a ditadura lhe garante segurança, e ele compra a maior extensão de terra até então da Amazônia –mais de 2 milhões de hectares – na mesmo região antes ocupada pela expedição nazista.

Ludwig implanta o projeto Carajás, assusta o País, as forças ditas nacionalistas e de esquerda denunciam que, enfim, definitivamente, a Amazônia começa a ser internacionalizada, e o Brasil passa, então, a contar com um enclave norte-americano na foz do Amazonas. Eram os vaticínios. Tudo bobagem. Os movimentos nacionalistas, além da xenofobia inerente, sempre foram mestres em teorias conspiratórias.

Numa coisa Ludwig estava certo, e o terceiro milênio está provando: a partir de agora, o desafio do mundo é alimento e energia. E o magnata apostou nas duas coisas no projeto Jari. Perdeu.

Agora, ainda na linha das teorias conspiratórias, que essas duas presenças históricas, todas duas consentidas pelo Estado brasileiro, não podem ser apenas coincidências, lá isso leva a pensar. Que deve ter coisa aí, lá isso devem...

Até porque hoje acordei com a forte impressão que estou sendo seguido. Em verdade não é impressão. Estou mesmo. Ha ha ha.

Edilson Martins é jornalista, escritor e documentarista. Nesta segunda-feira (19), às 23 horas, na TV Brasil, estreia a série “AmazôniAdentro”, de quatro capítulos, com direção de Edilson Martins e Bruno Martins.

Foto: Edilson Martins