domingo, 30 de abril de 2006

AFROPRESS

"Prezado Altino,

Parabéns pelo blog. Peço sua autorização para postar na
Afropress - Agência Afroétnica de Notícias, a entrevista que você fez com a primeira pagé brasileira. Aguardo seu retorno.

Com o abraço do
Dojival Vieira"




NOTA:
O poeta, advogado e jornalista Dojival Vieira (foto) é responsável pela Afropress. Clique em
Portal do Voluntário para ler uma boa entrevista na qual ele afirma que a Afropress se propõe a ser um espaço, na internet, de informação ágil e dinâmica, em linguagem jornalística, bem como de reflexão e debate a respeito da questão racial e étnica no Brasil e no mundo. Bom proveito da entrevista, Dojival. Saudações acreanas.

sábado, 29 de abril de 2006

SEM TROTE, POR FAVOR

Torço para ninguém mais telefonar ao Notícias da Hora, êpa!, Erros da Hora, para passar trote, dizendo, por exemplo, que o bispo casou com uma freira em cerimônia secreta e viajou em lua-de-mel ao Vaticano.

O Roberto Vaz, editor do site, nos últimos três dias mobilizou as autoridades de segurança do Acre, a direção do Banco do Brasil e gerou preocupação de correntistas. Ele assina o relato de um suposto telefonema anônimo que teria recebido dando conta que um hacker de Curitiba estaria em Rio Branco para aplicar golpe de R$ 10 milhões na praça.
Clique aqui para ler o primeiro capítulo da história.

A reportagem do Erros da Hora foi pra rua e teria constatado que a "denuncia de que kacker estaria na iminiência de fazer um super saque em diversas contas do BB, provoca corrida de correntistas aos terminais". Agora
clique aqui para ler o segundo capítulo inverossímil.

É o mesmo site que publicou, no dia 22 de março, que teria aparecido, no hospital de Cruzeiro do Sul, um bebê de sete meses que falava como se fosse uma criança de cinco anos.
Clique aqui para ler a mentira.

O Acre sempre foi uma ilha, onde sua oligarquia brincava de fazer casinhas: casinha do fórum, casinha da assembléia, casinha da câmara, casinha de serrar gente, casinha de jornalista. Só que as casinhas, aos poucos, estão caindo.

Caro Pero Roberto Vaz de Caminha, contrariando seu pedido, não dá para esquecer o seu site. O que você faz nele não é jornalismo.

P.S.: Quanta coincidência! Ontem, no final da tarde, recebi um press-release. Com a permissão da paciência dos leitores, reproduzo um trecho:

"Acessar a conta bancária em um computador pode parecer, inicialmente, apenas um dos vários benefícios da tecnologia, mas, a comodidade representa riscos, e eles estão cada vez mais em discussão. Os curiosos que querem conhecer as ameaças do mundo virtual, e melhor, aprender como se proteger delas, participam hoje do curso “Segurança na Internet”, que acontece das 14 às 18 horas, no auditório do hotel João Paulo. Direcionado a profissionais que atuam em empresas, órgãos governamentais e não governamentais, e todo usuário que utiliza os diversos serviços da internet, o curso está sendo promovido pelo Clube do Hacker, referência no assunto, na região Norte".

LOS PORONGAS EM NATAL

A banda acreana Los Porongas (Diogo Soares, Márcio Magrão, João Eduardo e Jorge Anzol) está de malas prontas para participar da oitava edição do Festval Música Alimento da Alma - MADA 2006, um dos maiores da música independente no Brasil, responsável pela revelação da Detonautas, CPM22 e Pitty. O festival terá como atrações Racionais MC’s, Nando Reis e O Rappa.

A banda Los Porongas teve início, em 2003, quando Diogo Soares (vocal) e João Eduardo (guitarra), já parceiros desde o Festival Universitário do Acre/2002, se uniram a Márcio Magrão (baixo) e Jorge Anzol (bateria).

Com uma formação instrumental básica (baixo, bateria e guitarra), a banda faz a sua leitura do rock, unindo som e letras que retratam o imaginário e cotidiano amazônico (urbano e florestal), forjando uma linguagem própria que transcende os limites do regionalismo.

A banda se apresenta na sexta-feira 5, no mesmo dia em que se apresentam a baiana Pitty, além das bandas Bonnies e Moptop, sendo essa úmtima a sensação da cena indie nacional, que abriu recentemente, em São Paulo, o show dos britânicos do Oasis.

- O festival pode abrir muitas portas para a banda e para a música acreana. É o que atrai o maior número de jornalistas especializados, da Folha de S. Paulo, MTV, revista Bizz, Alto-Falante, Dinamyte. As citações na mídia nacional consolidam o trabalho da banda e chamam a atenção para a Amazônia e, principalmente, para o Acre - afirma Diogo Soares.

Recentemente, o site Laboratório Pop, conisderado uma referência da música pop no Brasil, realizou uma enquete para saber qual será a banda revelação do MADA 2006. Los Porongas, dentre sete opções, foi a indicada, com 45% dos votos. Ficou na frente da Moptop e da Revolver.

Antes de desembarcar em Natal, a banda terá um encontro, em Brasília, com Fernando Rosa e Phelippe Seabra (Plebe Rude), sócios do selo Senhor F Discos que, provavelmente, gravará e lançará o disco dos acreanos ainda este ano. Depois que retornar a Rio Branco, a banda viaja novamente com destino a Goiânia, onde se apresentará no festival Bananada, dia 19.

NOVO MASSACRE DE ÍNDIOS

Madeireiros invadiram territórios de povos indígenas isolados, anteontem, na província de Orellana, no Equador, e mataram cerca de 30 homens e mulheres em resposta à morte, a golpes de lança, de trabalhador ilegal de madeira, ocorrida há alguns dias.

A batalha ocorreu em Cononaco Chico (rio Chiripuno), a mais de 92 quilômetros ao sul de Francisco de Orellana (Coca).

Pessoas de Tiquino, a comunidade huaorani mais próxima do local do massacre, informaram que retiraram do interior da floresta dois corpos de mulheres de aparência taromenane com sinais de que foram assassinadas com tiros de escopeta.

Desde ontem a Polícia Nacional realiza o trabalho de reconhecimento dos corpos das vítimas e continua hoje a sobrevoar a região, para tentar identificar o lugar exato do massacre.

A organização Veeduría para la Protección de los Pueblos Aislados de Yasuní tem chamado a atenção da opinião pública desde 2004 na tentativa de sensibilizar o governo do Equador a adotar medidas concretas que protejam os direitos, a vida e os territórios dos frágeis e últimos povos isolados da Amazônia equatoriana.

A Veeduría exige que seja realizada uma investigação exaustiva dos eventos ocorridos em Yasuní a fim de determinar autores e cúmplices do novo massacre a um povo indígena isolado. Pede que sejam bloqueadas de imediato as vias (estradas e rios) de acesso à região da Zona Intangível de Yasuní, para evitar novas hostilidades e massacres.

A organização pede a expulsão dos madeireiros ilegais que trabalham na região de Yasuní e que as informações sobre o caso circulem livremente e se leve em conta os processos de controle que a sociedade civil realiza.

- Solicitamos também que o relator especial das Nações Unidas para povos indígenas, Rodolfo Stavenhagen, que atualmente visita oficialmente o Equador, recolha esta informação e inste as autoridades equatorianas a uma solução integral que proteja permanentemente aos "povos ocultos" de Yasuní.

Petrobrás
No começo do ano, após longa campanha, que mobilizou entidades e autoridades locais e internacionais, a Petrobrás decidiu rearranjar planos para exploração de petróleo no Parque Yasuní. Em um comunicado oficial publicado em seu website, e enviado à organização não-governamental Save America´s Forests, a empresa brasileira anunciou que alterou significativamente seu projeto para exploração de petróleo no Bloco 31, na região central do parque.


Vale assinalar que a Petrobrás conseguiu recentemente firmar contrato com o governo peruano para a exploração de um lote de petróleo localizado bem próximo às cabeceiras do rio Jordão, na terra dos Kaxinawá, no Acre. No lado peruano, esse lote está sobreposto à Reserva Territorial Murunahua, destinada a povos indígenas isolados.

Mais informações sobre os conflitos no Parque Nacional Yasuní podem ser obtidas nos sites do jornal equatoriano El Comercio e da organização brasileira Amazônia.org.

sexta-feira, 28 de abril de 2006

DAVI SOPCHAKI

Meu amigo Davi Sopchaki, 18 anos incompletos, é estudante de engenharia florestal da Universidade Federal do Acre e apaixonado pela caótica Rio Branco. Desde os 15 anos se dedica a fotografar cada cantinho da cidade. É dele a fotomontagem "antes e depois" do Calçadão da Gameleira, centro antigo da cidade, enviada com a seguinte mensagem:

- Ainda bem que não me lembro mais daquele tempo.

Descendente de poloneses, Sopchaki desde o ano passado mantém uma galeria de fotos da cidade no portal Guia Rio Branco.

- Sempre foi do meu interesse divulgar a cidade. Resolvi tirar um monte de foto porque não achava quase nenhuma na internet. Quando apareceu uma câmera digital aqui em casa, resolvi tirar as fotos e as divulgava num fórum nacional relacionado a fotografia. Quando publiquei no Orkut, o Alan Assad, dono do Guia Rio Branco, me chamou pra ter a galeria - conta.

O estudante disse que vem conseguindo o que queria: divulgar a cidade. Deixou o endereço do MSN dele na página e muita gente o procura. Geralmente são pessoas que estão se preparando para viagem ao Acre a trabalho.

- Elas perguntam de tudo, desde o nome dos melhores bairros até se existe lugar que faz chapinha permanente no cabelo.

Clique aqui para conhecer um pouco da cidade e o trabalho voluntário desse nobre acreano.

CACA DE CAMINHONEIRO

Caro secretário de Meio Ambiente de Rio Branco, Arthur César Pinheiro Leite, gostaria de saber se a polícia de trânsito já localizou o caminhoneiro que despejou essa montanha de lixo, anteontem, na estrada da Área de Proteção Ambiental Raimundo Irineu Serra. A placa do caminhão, originário de Sinop (MT), é IDO-9467. Quem duvidar e quiser conferir as imagens ampliadas deve clicar sobre as fotos. Além de multado, o sujeito deveria ser deportado da pátria acreana. No ano passado, outro sujeito pagou multa por despejar lixo na mesma estrada. E foi obrigado a recolhê-lo. Confira aqui e aqui aquele flagrante do blog.

Resposta do secretário Arthur Leite:

- Altino, ainda não localizamos o caminhoneiro, mas a polícia de trânsito está com uma ordem de busca e apreensão. Já falei com o dono anterior do caminhão, que vive em Cuiabá. Ele disse que vendeu o veículo em 2004. Quando a polícia pegar o cabra, te aviso. Um abraço.

OLHA O PUTANIC AÍ, GENTE!



"A CENA É de Rio Branco, no Acre. Nesta espécie de plataforma, funciona o Bar e Restaurante Flutuante. Mas o povo, sabe como é, adora uma gaiatice e inventou um apelido para o "barcão", que virou o "Putanic", versão tropical do Titanic. Quem descobriu a curiosidade foi Glória Perez, a novelista, que prepara uma minissérie sobre o Acre, onde nasceu. A foto está no blog do coleguinha Altino Machado".

Nota: A foto e o texto acima estão na edição de hoje do jornal O Globo, na coluna do coleguinha Ancelmo Gois. O Putanic vai ficar bom mesmo, com sangue novo de atores e atrizes, a partir de setembro, quando começa a gravação da minissérie.

quinta-feira, 27 de abril de 2006

PRIMEIRA PAJÉ BRASILEIRA

O jornalista Silvestre Gorgulho, editor da Folha do Meio Ambiente, fez bom uso dos textos e fotos deste modesto blog sobre as pajés yawanawá. Foram quatro páginas na edição de abril, que costuma ser dedicada aos índios. Clique aqui para assistir a entrevista delas em vídeo.

- Os pajés encarnam a sabedoria de seu povo. Levados pela intuição e pelo conhecimento de seus ancestrais, os pajés são como uma noite estrelada: com milhares de olhos, eles fitam a natureza e cada angústia de seu povo. Eles eram sempre do sexo masculino. O Brasil acaba de apresentar ao mundo as duas primeiras pajés. São as índias acreanas Raimunda (foto) e Kátia Yawanawá - destaca o editor.


As Pajés Yawanawá


A primeira pajé brasileira Raimunda Yawanawá foi uma das cinco personalidades homenageadas este ano pelo Senado por ocasião do Dia Internacional da Mulher

Silvestre Gorgulho, de Brasília

Eles são curandeiros e os mensageiros dos poderes sobrenaturais. Eles encarnam a sabedoria de seu povo. Levados pela intuição e pelo conhecimento de seus ancestrais, os pajés são como uma noite esplendidamente estrelada: com milhares de olhos, eles fitam o mundo, fitam a natureza e fitam cada angústia de sua tribo. Médicos, sacerdotes e guias, os pajés são sempre o destaque de cada povo indígena. E com um detalhe. São sempre do sexo masculino. Bem, eram sempre do sexo masculino. Agora o Brasil acaba de apresentar ao mundo uma pajé. Aliás, duas. São as índias acreanas Raimunda Putani Yawanawá, 27 anos, e Kátia Yawanawá, 26 anos. A Pajé Raimunda Putani Yawanawa foi uma das cinco mulheres premiadas pelo Senado Federal, este ano, na 5a edição do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. Com a índia acreana, também foram premiadas Elizabeth Altina Teixeira (PB), Geraldina Pereira de Oliveira (PA), Jupyra Barbosa Ghedini (DF) e Rosmary Corrêa (SP).

Não foi fácil para Raimunda e Kátia Yawanawá vencerem a resistência dos sábios da tribo e ostentarem, hoje, o título de Pajé. As mulheres estão fora desta função."Precisei provar da vida de branco para entender a importância de minha cultura", diz Raimunda Putani Yawanawá, a primeira Pajé brasileira. Para acabar com esta tradição, Raimunda e Kátia Yawanawá passaram por uma provação. Ambas enfrentaram uma dura prova de resistência, ficando um ano isoladas na mata. Neste "No Limite" cultural, Raimunda e Kátia tinham que fazer abstinência sexual e comer apenas alimentos crus. De bebida, apenas uma especial à base de milho.

Vitoriosas nesta prova de resistência, as irmãs Yawanawá ficaram prontas para a nova missão. Pajés de sua tribo, agora elas são conselheiras, guardiãs da cultura, dos costumes e da sabedoria do seu povo.

E Raimunda Yawanawá explica, em português, para os brancos com a mesma docilidade com que fala na língua Yawanawá à sua gente: "Tive muita vontade de aprender, de estudar e de viver nossos usos e costumes. Era uma força que estava dentro de mim. Quero poder ajudar e a guiar o meu povo. A vida tem que ter um sentido, ter uma seqüência".

As irmãs Yawanawá sabem de suas responsabilidades quando fizeram o juramento ao Rare, planta sagrada de seu povo. "Hoje eu sei quem eu sou. Estou em paz. Minha língua, minha cultura são muito ricas e bonitas. Elas são nossa identidade. Sei da beleza e da força da natureza. Sinto a força do pensamento. Quando ele é firme, não existe nada impossível, nem nada superior ou inferior. Somos iguais nesta passagem pela vida. Cada um com sua função e o poder de seu querer, que deve ser usado sempre para o bem de todos", ensina a primeira Pajé brasileira.

Pajé Raimunda Yawnawá - ENTREVISTA

Por Altino Machado (*)

Segundo Laura Soriano Yawanawa, Kátia Hushahu e Raimunda Putani nasceram na Terra Indígena do Rio Gregório, no Acre, no sudoeste da Amazônia brasileira. Hushahu e Putani foram as únicas mulheres que tiveram coragem de fazer juramento ao Rare, a planta sagrada do povo Yawanawá, que inicia ao aprendizado do mundo espiritual do xamanismo. Elas juraram ao Rare e aos espíritos dos ancestrais que iriam dedicar suas vidas a aprender e a ajudar o povo yawanawá na sua ciência tradicional. Quando as duas foram iniciadas no conhecimento espiritual yawanawá, ninguém acreditava nelas, principalmente os homens da aldeia. Falavam que não existia mulher Pajé dentro da cultura yawanawa e que a atitude delas era contra a cultura de seu povo. Mas o velho e sábio Tuin Kuru falou:

- Isso não é verdade. Nosso conhecimento é espiritual e não tem nada a ver com o sexo, cor ou cheiro. Sendo homem ou mulher, todos podem aprender porque o nosso conhecimento é espiritual.



O momento mais difícil
Raimunda - Foi viver isoladamente. Ficamos um ano, precisamente nove meses, apenas na companhia do meu pai e do pajé Tata. A gente começou a tomar rapé e ele me dava muito porre. Uma vez cheguei a cair, a desmaiar mesmo. A pressão dele dá muita sede, causa falta de fôlego, o corpo adormece completamente e o coração fica a mil por hora. A gente não podia tomar água.

Sem tomar água
Raimunda - Até o momento a gente não toma água. Agora começamos a tomar água com limão. Tem que ser algo azedo, que não contenha doce. Isso é para que nossas palavras e nossas mãos fiquem sempre com poder. O doce corta o poder. É como se algo estivesse pegando fogo e alguém jogasse água. O fogo apaga. Dessa forma, o nosso pensamento, a nossa palavra, têm poder para o que a gente falar acontecer.

A prova da cobra
Raimunda - Logo após dois meses da dieta, quando mexemos com a planta sagrada, o Rare, meu pai trouxe a jibóia e nós tomamos o cuspe dela. Tomamos o cuspe e o conhecimento dela. A gente não sentiu medo.

Reação da tribo pela decisão de ser Pajé
Raimunda - Não existe na história do nosso povo que uma mulher tenha mexido na planta sagrada, o Rare. Nunca nenhuma mulher foi à luta para ser pajé. Quem sempre era pajé eram os homens. A mulher é sempre a dona de casa, faz a caiçuma, cria os filhos, está sempre do lado do esposo.

Pra gente ir para essa outra parte da nossa cultura, do nosso conhecimento, foi tipo quebrar um tabu. Por isso que levamos ao pé da letra o cumprimento da dieta. Muitos, quando fomos fazer a dieta, disseram que nós não aguentaríamos com o argumento de que mulheres têm muitos desejos. Está com um ano e dois meses que não temos relação com homem.

Rare, a planta sagrada
Kátia - O Rare é uma planta muito sagrada. A partir do momento que a gente come, a gente já planta ele dentro da gente. A partir desse momento, a gente já passa a ter o conhecimento e o poder do Rare. E o nosso espírito passa a ter o poder de curar uma doença, de fazer o que for. Podemos tocar numa pessoa e dizer para ela que vai ficar boa. As nossas palavras são muito sagradas. Ele é uma planta, mas é espírito. Ele também tem uma mulher. Sempre é uma mulher tanto nele quanto na jibóia.

Nos nossos sonhos é sempre uma mulher que traz o conhecimento. Ele é muito poderoso.

A gente não pode passar perto dele falando alguma coisa. Tem que passar devagar, de cabeça baixa. Se acontecer de tocar, tem que passar dois meses fazendo a mesma dieta que nós estamos fazendo. Ele, para nós, é como se fosse Deus. Acreditamos no que fazemos, no que sai da nossa boca.


Até ao pensarmos em alguma coisa, a gente já fez, já aconteceu. Basta a gente pensar com o coração. Ele também previne o que vai acontecer. Se uma pessoa chegar com pressentimento ruim, o nosso corpo já sente. Quem rebate isso aí é o rapé e o uni.


Humildade e sofrimento
Kátia - Para chegar aonde chegamos carregamos muita humildade em nossos corações. Acho que é um exemplo que podemos dar para o mundo, para o Brasil, deixando a mensagem de que tudo a gente consegue com sofrimento e humildade em nossos corações. E que isso é necessário para o engrandecimento do espírito. E também queremos pedir para trazer em nossos pensamentos coisas boas para o mundo. Quando estamos lá no mato, nós sopramos para cima, para o céu, para o sol que ilumina o mundo inteiro, e pedimos paz para esse mundo que é de muita violência e sofrimento.

Reação à notícia do prêmio?
Raimunda - Na verdade quem recebeu o prêmio é o povo yawanawá. Somos duas mensageiras. Viemos trazer a mensagem não apenas do nosso povo, mas de todo os povos indígenas. Para nós foi motivo de muita alegria, de muito respeito. O nosso povo agradece por vocês olharem pra gente com respeito, pois somos humanos, que temos pensamentos, corações, as coisas boas. Isso mostra que somos filhos do mesmo criador. Na verdade nós somos todos irmãos. Existe apenas a diferença física dos olhos, da cor, mas na verdade no coração e no pensamento somos iguais. Quando a gente vai para outra dimensão, vamos no mesmo caminho e lá vamos nos encontrar da mesma forma.


Laura, o Rare e o resgate cultural

Altino Machado (*)

Laura Soriano Yawanawa é índia de origem mexicana, das etnias mixteco e zapoteco, formada em antropologia e relações internacionais pelo Principio College de Ilinois (EUA) e assessora dos projetos sociais e econômicos do povo yawanawa. É casada com Joaquim Tashka, um dos líderes yawanawá. O Rare que ela cita é a raiz da planta mais sagrada para o povo yawanawá. Representa o Criador. É tão sagrada que mulheres e crianças não podem passar por perto. Apenas os pajés podem tocar a raiz do Rare. Ao tomar Rare, o espírito da cobra, que é o ser iluminado e de força espiritual, vem habitar no seu coração. A partir do momento que se faz juramento ao Rare a vida muda, sobretudo a forma de pensar. A pessoa renasce e acorda para o mundo espiritual, passando a encará-lo sob nova perspectiva.

(*) O jornalista Altino Machado é acreano e tem um blog chamado "Blog do Altino" http://altino.blogspot.com/. Trabalhou em Rio Branco, Goiânia, Brasília e Manaus durante os dez anos em que permaneceu como repórter dos jornais O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo. Hoje trabalha na Secom do Governo do Acre.

ENTREVISTA COLETIVA

Conversei ontem com a Glória Perez, a quem sugeri uma entrevista exclusiva ao blog e fui prontamente atendido. Além de exclusiva, pode-se dizer que a entrevista será virtual e coletiva, pois mais gente participou e as perguntas foram enviadas para o correio eletrônico dela.

Explico: pedi a um grupo de amigos (três jornalistas, uma cientista política, uma antropóloga e um estudante de jornalismo) que elaborassem perguntas para a entrevista. Eles também aceitaram prontamente a colaboração ao blog.

Não sou a Glória Perez, mas fica criado um certo suspense ao publicar abaixo as perguntas. Agora vamos esperar a novelista emergir com as respostas e as fotos que serão usadas para ilustrar a entrevista.


Perguntas do jornalista Altino Machado

Há seis anos, quando a entrevistei pela primeira vez, à última pergunta você respondeu que seu grande sonho era escrever sobre o Acre, que tinha a certeza de que isso viria a ser o seu trabalho mais bonito. Continua convencida disso, agora que começou a escrever a próxima série da Rede Globo sobre a história de sua terra?

O que pode significar para o povo brasileiro a história do povo acreano, em parte tão desconhecida?

Após tantas pesquisas, qual a leitura que você faz agora de Luis Galvez e Plácido de Castro?

O escritor Araújo Lima chegou a sugerir em livro alguns romances de Plácido de Castro no Acre. O que você já conseguiu resgatar da vida afetiva do nosso herói?

No começo do século passado, após a Revolução Acreana, a companhia feminina era privilégio de poucos. Como apresentar um herói solitário, obcecado por fortuna e poder, sem que seja dada margem à questionamentos sobre a sexualidade dele?

Naquela primeira entrevista, consegui localizá-la na internet e você também respondeu às perguntas que enviei para o seu correio eletrônico. Na semana passada, o colunista Luiz Gravatá, do Globo, se referiu a você como internauta-escritora. Como encara o advento da internet no seu trabalho, especialmente da blogosfera e das comunidades virtuais?


Perguntas da professora e cientista política Letícia Mamed:

A Amazônia é comumente tratada pela grande mídia de modo homogêneo, o que dificulta a compreensão de suas reais características e particularidades internas. Como você pensa em tratar o contexto acreano no sentido de destacar o que lhe é mais peculiar?

A princípio, o que você já tem identificado como características singulares do Acre e da sua história?

Sobre o compromisso social deste seu novo trabalho, o que mais tem lhe motivado e/ou inspirado a estudar e a trabalhar o Acre?


Perguntas da antropóloga Mary Allegretti:

Como você vai mostrar o movimento social que estava associado ao Chico?

Qual a causa que pretende promover, como sempre faz em suas novelas?

Você tem tem consciência do fato de que o Brasil continua insistindo em não reconhecer o Chico como um herói (apesar de estar no Panteão da Pátria) enquanto o mundo o reverencia todo o tempo? A minissérie poderia ser uma oportunidade de popularizar a história dele?


Perguntas do jornalista Elson Martins:

Você já construiu, em suas novelas e minisséries, algum personagem parecido com Chico Mendes?

Na sua opinião, Chico Mendes parece mais com Ghandi, Che Guevara, John Lennon, Evo Morales ou quem mais?

Na Amazônia começamos a refletir sob o olhar do colonizador. Historicamente, ele tem “traduzido” a região para o país e o mundo, o que nos leva a dar pouca importância às nossas riquezas naturais e ao nosso conhecimento de povos da floresta. Acreano, atualmente com 66 anos, experimentei no passado uma certa vergonha de ser amazônida. Agora, assumo o olhar do colonizado como arma de ataque e defesa, e me orgulho disso. A pergunta é: como acreana e escritora renomada, você percebe a diferença entre esses olhares e a importância que poderá ter no Acre de hoje?

Eu acho que a Rede Globo trabalha com o olhar do colonizador no país, sobretudo na Amazônia. Vai dar para contornar esse “mau olhado” na minissérie?

Alguns escritores já se referiram à lezeira amazônica confundindo-a com “lerdeza”. Na verdade, a lezeira tem a ver com o estado de espírito das pessoas, o tempo em que elas se movem, se alimentam, trabalham, amam etc. A lezeira estará contemplada na minissérie?

Fui aluno de português de seu pai, Miguel Ferrante, no Colégio Acreano dos anos 50. Lembro que era um homem alto, elegante e apaixonado por literatura. Naquela época, era difícil perceber a ideologia dos mestres, até porque a expressão comunismo assustava muitas famílias. Seu pai era comunista?


Perguntas do estudante de jornalismo Hermington Franco:

Nos meios acadêmicos a TV Globo é vista com reservas no que se refere a qualquer pureza de intenções de seus programas. Boa parte do horário da Globo é destinada à teledramaturgia e essa produção também é questionada como grande veiculadora de ideologias por parte da emissora. Os autores de novelas da Rede Globo são livres até que ponto?

A minissérie sobre o Acre terá quais principais fontes de pesquisas? Já teve alguma surpresa, alguma curiosidade sobre essa pesquisa que possa nos adiantar?

A principal diferença entre escrever sobre temas “emergentes” ou histórias de época é a pesquisa? Como é pensada a diferença da narrativa nesses casos?

A declaração de inconstitucionalidade da lei de crimes hediondos pode beneficiar pessoas condenadas por crimes bárbaros, como o que vitimou a Daniella. Você pretende incluir uma possível crítica a isso em alguma obra futura?

Como é ser acreana num mundo de paulistas e cariocas?


Perguntas do professor de jornalismo Maurício Bittencourt:

É comum em minisséries a mistura de fatos históricos com fictícios, o que pode confundir o público quando o limite ficção/história é impreciso. Como pretende lidar com isso em "De Galvez a Chico Mendes"?

Que critérios você usa para dar nuances fictícias a fatos históricos?

Algumas idéias da revolução acreana permanecem ousadas, pois assuntos da época continuam em pauta, entre eles, a discussão sobre o conceito de desenvolvimento e a influência internacional na Amazônia. Como tratará desses temas presentes nos motivos da Revolução?

E a pesquisa para a minissérie: pode descrever o funcionamento de sua equipe?

Há muito contraste quando se confronta o "discurso oficial" da História com os dados da pesquisa para a minissérie?

Você é reconhecida como autora de grandes sucessos. A batalha por audiência influencia de alguma maneira o seu trabalho?

Em produções como "JK" e "Mad Maria", a Globo parece tender ao estereótipo na caracterização de personagens "bons" ou "maus". Até onde vai a certeza de que no vídeo o personagem será reproduzido fielmente em relação ao texto? Como funciona essa dinâmica autor/produção/direção?

Que mitos, festas, rituais da cultura acreana vai mostrar na minissérie?


Pergunta do jornalista Antonio Alves, que mais uma vez se esforçou para chegar atrasado, inspirado que é em Juvenal Antunes, o autor do "Elogio da preguiça":

Caramba, Altino! Só agora abri minha caixa, não almocei ainda e não tem nem como pensar em perguntas pra Glória Perez. Só me lembro de uma idéia que tive tresantonte, quando soube que ela ia colocar o Juvenal Antunes como personagem da minissérie sobre o Acre: que tal ela pesquisar também a vida do Garibaldi Brasil? Ah, não, mas se a gente for sugerir personagens, nesta próvíncia tão farta de tipos, a minissérie vira uma novelona. Agora vou comer e depois tenho uma reunião. Antes dela, se lembrar de alguma coisa, te mando. Abraço e boa entrevista.

MARCHA PARA O OESTE

Por Elson Martins (*)

Nos anos 30 do século passado, estava em voga no Brasil a “Marcha para o Oeste” - definida como verdadeiro sentido da brasilidade. A primeira marcha foi organizada pelo presidente da Fundação Brasil Central, João Alberto, no final da Revolução de 30.

O mitológico general Rondon, amigo dos índios, e o ex-presidente norte-americano Ted Roosevelt já haviam ligado seus nomes à região, este último com uma expedição que resultara em livro. Faltava o ditador Getúlio Vargas completar a mesma glória.

Era tempo do Estado Novo e Getúlio mandou imprimir cartazes sobre a marcha e espalhá-los pelo país. Depois, seguiu naquele rumo em grande comitiva. Foi recebido por milhares de índios xavante e outros, que lhe ofereceram uma grande festa.

Um dos índios dançarinos, pintado de urucum e ornado de penas coloridas, impressionou demais a Getúlio. No final da recepção, o presidente mandou chama-lo à sua presença para presenteá-lo de algum modo.

- O que você quer do chefe branco? – perguntou ao índio dançarino.

- Eu "telo" um cartório - respondeu o índio.

A segurança do presidente foi chamada para explicar a resposta estapafúrdia e logo descobriu que o índio carnavalesco era, na verdade, um esperto membro da polícia do Rio de Janeiro, infiltrado na tribo por questões de segurança: Edson Sacramento, policial nascido em Xapuri, no Acre.

Claro que ele foi imediatamente depenado e “desterrado” para sua terra natal.

P.S.: A história me foi narrada pelo escritor xapuriense Océlio Medeiros.

(*) Elson Martins é jornalista acreano

KAMPÔ



Povo Katukina faz alerta contra
uso indevido da “vacina do sapo”



Por Bruno Weis, do ISA


Índios do Alto Juruá, no Acre, divulgam carta denunciando o uso não autorizado de seu nome na comercialização da secreção da perereca Phyllomedusa bicolor, cuja aplicação tem sido divulgada nas grandes cidades do País como uma terapia indígena milagrosa. Enquanto isso, a substância e suas moléculas são patenteadas no mundo todo e o governo federal tenta fazer do kampô um caso emblemático de repartição de benefícios associados aos recursos genéticos da biodiversidade brasileira.

A popularização do uso da secreção da perereca kampô (Phyllomedusa bicolor) nas grandes cidades brasileiras começa a preocupar os mais antigos detentores deste conhecimento, os Katukina, povo indígena do Alto Juruá, no Acre. No começo deste mês, a Associação Katukina do Campinas (Akac) divulgou uma carta solicitando que as pessoas que fazem a prática comercial da “vacina do sapo”, como a substância é conhecida, não utilizem o nome da etnia como forma de “legitimar” a atividade. A carta é direcionada em especial a duas terapeutas, uma de São Paulo e outra de Belo Horizonte, citadas nominalmente no documento, que estariam valendo-se do nome da Akac para divulgar a aplicação da substância e lucrar com isso. No documento, os Katukina também afirmam que a comercialização do kampô trouxe problemas para a comunidade indígena e pedem que a prática seja encerrada. Leia aqui a carta na íntegra.

A associação indígena enviou cópias da carta aos escritórios da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, em Rio Branco, e deu vinte dias para que o uso indevido do kampô em nome dos índios fosse abandonado. O prazo se encerrou ontem, 26 de abril. “Estamos preocupados porque não autorizamos ninguém a usar nosso saber. A polícia e o Poder Judiciário precisam saber disso”, afirma Fernando Katukina, vice-presidente da Akac. O líder indígena esclarece que a preocupação é em relação ao uso do nome de seu povo na venda das aplicações da secreção da jia. “Tem muita gente se promovendo em cima do nosso povo, mas nós queremos que o kampô seja utilizado de forma legal, com respeito ao nosso conhecimento e sem estimular a biopirataria”.

Os Katukina utilizam a secreção principalmente como um estimulante capaz de aguçar os sentidos dos caçadores, para que a busca por alimento na mata seja bem-sucedida. Quem sofre de panema (azar na caça), portanto, é tratado com aplicações da substância. A antropóloga Edilene Coffaci de Lima, da Universidade Federal do Paraná, uma das maiores estudiosas da etnia, explica que, fora do contexto da caça, homens e mulheres Katukina também fazem uso do kampô. “Desde muito cedo, entre o primeiro e segundo ano de vida uma criança começa a receber o kampô, quase sempre por iniciativa dos avós”, descreve.

A antropóloga afirma que “este uso moderado é feito para aliviar indisposições diversas, como diarréias e febres ou sonolência, que tiram o ânimo das pessoas para o desempenho das atividades mais simples. Mas, ainda que se queira debelar o incômodo físico que diversas patologias causam, o uso do kampô é determinado muito mais pela avaliação moral que se faz do desânimo que proporcionam. Afinal, depois de ser recomendado como estimulante aos caçadores, o kampô é recomendado àqueles que padecem de preguiça (tikish)”.


Panacéia da floresta

Nos últimos anos, o uso do kampô tem se popularizado entre a população das grandes cidades brasileiras como uma milagrosa terapia indígena. Em folhetos de divulgação, a substância é classificada como um poderoso energizante e fortalecedor do sistema imunológico, uma verdadeira panacéia, capaz de tratar doenças do coração em geral, hepatite, cirrose, infertilidade, impotência, depressão, entre outras enfermidades. De acordo com o material de divulgação, o kampô seria eficaz até mesmo no tratamento de câncer e AIDS. Cada aplicação da secreção do anfíbio – feita sobre pequenas feridas abertas na pele do usuário a partir de queimaduras - custaria até R$ 120,00. Veja aqui um folheto que divulga as propriedades do kampô e usa de forma indevida o nome da Associação Katukina do Campinas (Akac).

A popularização do kampô também se valeu de inúmeras reportagens em televisão e revistas, produzidas a partir da experiência de jornalistas que se submeteram aos efeitos da substância. A maioria dos narradores descreve que, após receber a aplicação do kampô, sente em poucos minutos um forte mal-estar, acompanhado geralmente de vômitos. Em seguida, o kampô provocaria uma sensação de revitalização de todo o organismo e aguçamento dos sentidos.

Em 2004, o uso indiscriminado da secreção cresceu tanto que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu sua propaganda, que vinha sendo feita principalmente na internet. Meses antes, em abril de 2003, as lideranças da Terra Indígena Campinas/Katukina já haviam solicitado oficialmente ao governo federal que tomasse providências para proteger e valorizar o uso tradicional do kampô pelos índios. Além dos Katukina, os Yawanawá, Kaxinawá e Marubo, entre outros povos indígenas, também têm no kampô um elemento cultural importante. A demanda dos Katukina levou o Ministério do Meio Ambiente (MMA) a elaborar um projeto para, a partir do caso do kampô, aprimorar o acesso aos recursos genéticos da biodiversidade brasileira e a repartição de benefícios aos detentores dos conhecimentos tradicionais associados.

Moléculas patenteadas
O projeto conta com diversas parcerias governamentais e não-governamentais e também tem, entre seus objetivos, “contribuir para a estruturação sustentável da cadeia produtiva da ‘vacina do sapo’, promovendo estudos dos efeitos da aplicação da substância sobre a sustentabilidade sociocultural e ambiental, com vistas a se iniciar um processo que contribua para a análise da possibilidade de validação do uso não-tradicional e a proteção do uso tradicional desse etnofármaco”, conforme texto do próprio ministério. Em outras palavras, o projeto visa combater a biopirataria do kampô e desenvolver pesquisas que resultem em medicamentos a partir da secreção daquele anfíbio. Segundo levantamento feito pela ONG Amazonlink, existem dez pedidos de patentes sobre a Philomedusa Bicolor feitos por laboratórios, universidades ou centro de pesquisas em escritórios de patentes no exterior.

Um dos coordenadores do projeto, Bruno Filizola, do Programa Brasileiro de Bioprospecção e Desenvolvimento Sustentável de Produtos da Biodiversidade (Probem), do MMA, afirma que a secreção da perereca tem cerca de 200 moléculas com potencial comercial e que existem pelo menos 80 pedidos de patente sobre o gênero Philomedusa, em escritórios de patentes no mundo todo. Os registros recaem principalmente sobre moléculas com potencial antimicrobiano. A própria Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa), que faz parte do projeto governamental sobre o Kampô, tem a patente de uma outra espécie de sapo, cuja secreção também tem propriedades com potencial para a produção de medicamentos.

Alguns pesquisadores da Embrapa, inclusive, não reconhecem que existe conhecimento tradicional associado ao uso do kampô. Argumentam que a “ciência” já havia chegado ao conhecimento sobre as propriedades do gênero Philomedusa, independentemente do conhecimento dos índios do Acre. “Realmente muitos cientistas ainda não internalizaram os princípios da CBD (Convenção da Biodiversidade)”, reconhece Filizola. A CBD prevê a repartição de benefícios do acesso aos recursos genéticos da biodiversidade aos detentores de conhecimentos tradicionais associados a estes recursos. “A transformação deste bem cultural dos índios em bem de mercado certamente vai gerar impactos nas comunidades indígenas. Por isso queremos viabilizar a cadeia produtiva do kampô”, diz Bruno Filizola.

O advogado do ISA, Fernando Mathias, questiona a eficácia do projeto do governo brasileiro em um caso no qual “a biopirataria já se consumou”. “O que o governo vai fazer em relação às patentes que já existem? Esse passivo vai ser objeto de negociação entre os índios e as empresas? Vai haver espaço para discutir a quebra ou ao menos a abertura das patentes já concedidas ou os índios vão apenas receber um troco em troca da privatização de seus conhecimentos e do patrimônio genético brasileiro?”, pergunta. “Se o que de fato prevalece neste e outros casos são os interesses das corporações transnacionais farmacêuticas, este projeto do governo corre o risco de não passar de uma cortina de fumaça no campo da repartição de benefícios”.

DA TERRA DA CAXINGUBA

O jornalista Armando Nogueira, que aparece na foto do time do Ginásio Acreano, mora no Rio desde os 17 anos. Os pais dele, Rodovaldo e Maria Soares, vieram parar no Acre fustigados pela seca cearense. Casaram e tiveram dois filhos. Armando, o mais novo, começou as primeiras letras ainda em Xapuri, onde nasceu, mas logo mudou para Rio Branco, onde fez o ginásio e o comercial. Em 1944, ele foi sozinho para o Rio, com uma pequena mesada concedida pelo pai.

Em 1950, iniciou intensa atividade jornalística em jornais e revistas, escrevendo, entre outros, para o Diário Carioca, O Cruzeiro, Manchete e Jornal do Brasil. Como comentarista esportivo, dedica-se, também, ao telejornalismo (TV-Rio, Rede Globo de Televisão, TV-Bandeirantes e Globosat).

Todos os seus livros têm como tema o universo do futebol. O estilo poético, marcado pela simplicidade, sofreu forte influência do poeta potiguar Juvenal Antunes, que viveu no Acre, autor do "Elogio da Preguiça".

O poeta, o Ginásio Acreano e a famosa Xapuri estarão presentes na próxima minissérie da Rede Globo, que está sendo escrita pela acreana Glória Perez.


Além de Armando, outros ilustres nasceram em Xapuri: o cardiologista Adib Jatene, o humorista Zé Vasconcelos, a cantora Nazaré Pereira, o seringueiro Chico Mendes e o ex-ministro Jarbas Passarinho, que não esconde o desconforto quando alguém lembra do fato.

No Acre, Xapuri é alvo das mesmas piadas que os brasileiros fazem contra Pelotas (RS). É conhecida como a Terra da Caxinguba, uma figueira arbórea apreciadíssima pelos cervídeos. Há, ainda, quem prefira chamá-la de Princesinha do Acre.

DE BRUXELAS

Puxa Altino, por essa eu não esperava. Tem uma overdose de João Donato no seu blog! Gostei muito!

E gostei de saber que existe um jornalista acreano ligado em tudo e estabelecendo essa rede de contatos com os conterrâneos saudosos da terra natal.

E olha que eu - infelizmente - nunca fui ao Norte e já morro de saudades!

Grande abraço,

Joana Donato

Nota: A advogada Joana Donato é filha do João Donato. É carioca e mora em Bruxelas, onde é a representante para União Européia, de uma banca de advogados, a Advocacia Gandra Martins S/C. No ano passado, quando o príncipe Philippe da Bélgica veio chefiar a visita de uma missão comercial do seu país ao Brasil, Joana foi a intérprete do grupo.

quarta-feira, 26 de abril de 2006

PELO PAÍS

Nelson de Sá, da coluna Toda Mídia, da Folha de S. Paulo, faz hoje a seguinte referência ao blog:

"O que não pára, na campanha eleitoral, são as articulações nos Estados, do PSDB do Ceará ao PT do Mato Grosso do Sul -que podem ser seguidas pelos blogs que surgem, às dúzias, por todas as regiões.

Vão de Altino Machado, no Acre, à Nova Corja, no Rio Grande do Sul, de Armando Anache, no Mato Grosso do Sul, a Mário Kertész, na Bahia".

BACANAL NO HOTEL MADRID

Por Elson Martins (*)

O irreverente escritor, jornalista e poeta xapuriense Océlio Medeiros, que tem entre 90 e 93 anos de idade, segundo o próprio, escreveu, em 1940, um livro de poemas eróticos que permanece inédito.

A obra contém cerca de 150 peças das mais “cabeludas”, entre as quais a que homenageia o lendário poeta Juvenal Antunes, hóspede e principal atração do histórico Hotel Madrid, do Segundo Distrito de Rio Branco.

A inspiração teria vindo após uma memorável bacanal da qual ambos, autor e homenageado, participaram. Lá vai um trecho:

EM MEMÓRIA DO JUVENAL ANTUNES


(Bacanal romana no Madrid - 1940)


Também participei da bacanal boêmia,

com a nata cultural da sociedade airada.

No fim do rega-bofe, a tíade Noêmia,
ao impulso das tuas taras, nua foi deitada
sobre a toalha...E tu, sardento desdentado,
aos risos, sobre a Vênus, vinho derramaste.

-Oh! sátiro caprípede do Acre liberado! –


E da cabeça aos pés, a ninfa babujaste...

Mas não foi isto o fim da orgíaca noitada...

Um naco do rosbife semi-cru enfiaste
entre as coxas da mênade, ainda menstruada,
e metendo a tua língua, o naco retiraste!...

O Océlio, você sabe, assim como o Juvenal, merece ser personagem da minissérie que a conterrânea Glória Perez escreve para a Rede Globo.

(*) Elson Martins é jornalista acreano

CASO FOSSE A SUA MÃE

O site "Erros da Hora" deveria respeitar os seus leitores, sem apelar pro sensacionalismo de baixíssima categoria como o faz agora. Manchetou o redundante título "Aposentada é atropelada e morta em acidente fatal".

- E que fatalidade - comentou um atento leitor deste blog.

Mas o mais bizarro foi a decisão do editor Roberto Vaz de publicar as fotos do corpo dilacerado da velha, com a recomendação de que não sejam abertas na presença de crianças.

Eu fico a imaginar como o Roberto Vaz teria reagido caso a mãe dele, que era deficiente física, tivesse morrido atropelada e as fotos do corpo dela estivessem publicadas num veículo de comunicação.

Outro dia, Vaz publicou uma sequência de fotos de um suicida enforcado. Convém mesmo manter as crianças afastadas do "Erros da Hora".

NOTA: o título da notícia já foi corrigido após o registro aqui, mas as fotos permanecem no site. Tomara que a família da aposentada Maria Lopes Marques tome conhecimento e busque na Justiça uma indenização merecida. O Roberto Vaz enviou ao blog a seguinte mensagem:

"Gostaria que o nobre jornalista esquecesse este site. Você não vai conseguir brigar comigo. Você já pensou se fossêmos reclamar da Folha, Estadão, O Globo... pelas fotos publicadas com corpos dilacerados pelos ataques suicidas? Tudo bem. Que Deus continue te fazendo feliz. Nada mais tendo a comentar, tchau!

Roberto Vaz
Editor do Notícias da Hora"

PRÊMIO GOLDMAN

Ele liderou esforços para criar o maior grupo de áreas protegidas de floresta tropical em região remota do Pará ameaçada pela extração ilegal de madeira. Apesar das ameaças de morte, trabalhou com organizações locais para criar reservas e expôs atividades madeireiras ilegais ao governo brasileiro.

O brasileiro Tarcísio Feitosa da Silva, 34, representante de uma aliança formada por 114 entidades sociais do Pará, está entre as seis personalidades ganhadoras do Prêmio Goldman de Meio Ambiente (Goldman Environmental Prize), que é considerado o maior reconhecimento às lideranças sociais que arriscam e dedicam suas vidas em defesa de causas ambientais.

Trabalhando com organizações locais, Feitosa revelou a vasta exploração ilegal de madeira e violações de direitos humanos. Seu trabalho impeliu o governo a proteger um mosaico de áreas de floresta tropical que, juntamente com as terras indígenas existentes, constituem a maior área (225 mil km2) de floresta tropical protegida do mundo.

Tarcísio é natural de Altamira, na região Terra do Meio (PA), um dos locais mais violentes da Amazônia. No mosaico estão as reservas extrativistas Verde para Sempre e Riozinho do Anfrísio, o Parque Nacional da Serra do Pardo, a Estação Ecológica da Terra do Meio e a Resex do Iriri, que será criada nos próximos meses.

- Apesar da criação dessas unidades de conservação, não podemos parar. A luta agora será para tirar essas novas áreas do papel. Seria importante que se fosse repensado o passivo ambiental deixado pelos crimes que já foram cometidos contra a floresta. Se o governo brasileiro fosse mais rígido na punição desses criminosos, poderíamos criar um fundo para auxiliar na implementação de projetos de desenvolvimento que valorizassem a floresta em pé. O que poderia ser uma nova alternativa de crescimento sustentável para a região - afirmou Feitosa.

O brasileiro volta a falar hoje novamente para uma platéia internacional formada por políticos, lideranças sociais mundiais e representantes das principais organizações não governamentais. A cerimônia acontece na sede do National Geographic Society e será a segunda vez que a falta de justiça social e ambiental na Amazônia e a necessidade de preservação da floresta serão lembradas ao mundo pelo brasileiro.

- Ele é a pessoa que está em contato com o mundo exterior, o elo entre os moradores das comunidades ribeirinhas tradicionais e o movimento ambientalista nacional no Brasil. Ele é o elo de ligação a nível local - afirma Stephen Schwartzman, co-diretor do Programa Internacional do Environmental Defense [Fundo de Defesa do Meio Ambiente].

A premiação, que foi idealizada por Richard e Rhoda Goldman, em 1990, acontece todos os anos, em abril, para coincidir com as celebrações do Dia da Terra. Os seis defensores do meio ambiente premiados pelo Goldman são de regiões da África, Ásia, Europa, Ilhas e Nações-Ilhas, Américas do Norte, do Sul e Central.

O premiados freqüentemente são personalidades simbólicas e representativas, afastadas das luzes das grandes cidades: homens e mulheres que vivem em áreas isoladas e regiões do interior e que arriscam suas próprias vidas para defender o meio ambiente. A premiação atual do Goldman Prize é de U$ 125 mil.

O primeiro brasileiro a receber um Goldman Prize foi Carlos Alberto Ricardo, um dos fundadores do Instituto Sócio Ambiental (ISA) e ex-coordenador do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI). Ele foi premiado em 1992 por sua ação na garantia dos direitos dos povos indígenas durante a elaboração da Constituição Federal de 1989, além de sua trajetória relacionada à demarcação da terra Yanomani. Posteriormente, em 1996, ministra Marina da Silva, foi premiada por sua atuação na implantação das Reservas Extrativistas no Acre.

Além do brasileiro Tarcísio Feitosa da Silva, também foram premiados: Olya Melen (Ucrânia), Craig Willinas (EUA), Silas Siakor (Libéria), Anne Kajir (Papua nova Guiné) e Yu Xiaogang (China), envolvidos com a luta em defesa da preservação do rio Danúbio, do armazenamento seguro do lixo produzido por armas químicas nos EUA, da defesa das florestas da Libéria, do fim do corte ilegal de madeira em Papua Nova Guiné e do respeito aos impactos sociais gerados pela construção de barragens na China.

terça-feira, 25 de abril de 2006

USINA DE ARTE JOÃO DONATO



A solenidade de inauguração da Usina de Arte João Donato demorou quase três horas.

Alegria, esperança, amor e paz quase causam a explosão da caldeira da antiga usina de beneficiamento de castanha-do-brasil.

Assista ao vídeo (imperdível, modéstia à parte) para compartir da emoção.


DOIS MUNDOS DISTANTES

Vale a pena conferir a análise que a antropóloga Mary Allegretti faz no blog dela a respeito da entrevista concedida ao Roda Viva pelo presidente da Bolívia Evo Morales.

Segundo a antropóloga, o fato dos jornalistas brasileiros estarem desiludidos com o PT, Lula e a esquerda em geral, talvez não justifique a cobrança, frieza e até certa arrogância em relação a um presidente que assumiu um governo com os problemas que tem a Bolívia.

Ao final, Mary Allegretti comentou a respeito de uma cobrança feita por mim:

"Altino Machado que tem o blog mais rico que conheço, em informação e temas, reclama da minha ausência na blogosfera - fico mais de uma semana sem voltar ao meu blog! Mas Altino, que culpa eu tenho de não acontecer tanta coisa interessante aqui em Curitiba! Impossivel competir com o Acre. Curitiba é uma gracinha de cidade, planejada, moderna, limpa e organizada. Gosto de tudo isso. Mas às vezes me pergunto: como conectar esses dois mundos tão distantes?

Na verdade, Curitiba vai se conectar com o Acre até o final do ano de uma forma surpreendente. Mas isso é surpresa - é um projeto que a Secretaria de Meio Ambiente vai implementar em memória de Chico Mendes. Conversa para daqui alguns meses. É por isso que não tenho tido tempo de blogar, Altino, estou envolvida nessa novidade".

NOTA: Querida Mary, como não acontece tanta coisa interessante no Paraná quanto no Acre, gostaria de saber o seguinte: Você foi contratada pelo Governo da Floresta com consultora para finalizar a proposta do programa piloto de conversão de dívida externa em investimentos no Acre. A proposta inicial foi aprovada pelo Ministério da Fazenda e chegou a ser apresentada ao Tesouro dos EUA, em Washington, pelo governador Jorge Viana. A promessa era de que a sociedade tomaria conhecimento da proposta em março. O que você nos conta a respeito disso? Agradeço de coração pelas suas referências elogiosas. Um forte abraço.

MARY ALLEGRETTI: É importante acompanhar esse projeto, Altino. Será uma iniciativa pioneira e duradoura, inteiramente voltada para as ONGs. Durante o semestre passado o Governador fez as articulações em Washington e Brasília e, em dezembro e janeiro eu entrevistei os principais órgãos de governo e as ONGs para construir uma veresão preliminar para discussão. Antes de chegar na versão final o Governador Jorge Viana certamente irá apresentar à sociedade e, depois de incorporar as mudanças, estará pronto para ser encaminhado ao Ministério da Fazenda e ao Tesouro dos Estados Unidos. Será a primeira troca da dívida por meio ambiente realizada no Brasil.

segunda-feira, 24 de abril de 2006

SIMPLESMENTE JOÃO DONATO

É certo que micos acontecem em qualquer lugar, mas ontem dois se propagaram em ondas médias, curtas e tropicais e até foram presenciados pelo governador Jorge Viana: a Rádio Difusora Acreana não possui em sua discoteca vinil ou CD de João Donato. Além disso, ao comparecer ao estúdio da "Voz das Selvas" para ser entrevistado, o músico foi recepcionado pelo locutor, no ar, com a seguinte primeira pergunta: quem é o senhor?

Falei com João Donato e a mulher dele, a jornalista Ivone Belém, na sexta-feira, sugerindo a conveniência da entrevista. Aceitaram prontamente e tratei de agendá-la com o diretor da emissora, Washington Aquino, que, mui genero, disse que o músico poderia comparecer entre 9 horas e meio-dia.

Fiquei em casa esperando que João ou Ivone telefonasse, mas ambos seguiram para a rádio achando que eu já estaria lá. Diante da demora, fui almoçar, depois liguei o notebook e acessei a transmissão da emissora via internet. João estava no ar falando como nunca e tocando sanfona.

Telefonei pra rádio e participei da conversa. Contei que estava acompanhando a transmissão via web e João contou que uma ouvinte acompanhava da Espanha da mesma maneira.

O músico veio ao Acre porque o governo estadual decidiu homenageá-lo batizando de João Donato a Usina de Comunicação e Artes
. Ele não se afetou por ser um ilustre desconhecido para o apresentador do programa, mas depois, durante a tarde, várias vezes manifestou surpresa com o fato de não existir vinil ou CD de suas músicas na emissora onde começou a carreira.

- Você vai ter que pagar jabá pro pessoal da Difusora - brincou a cineasta Tetê Morais, mulher de Lysias Ênio, irmão de Donato, um dos principais letristas das canções do compositor. Ambos acompanham o músico. A artista plástica Eneida, irmã de Donato, também.

Ela estudou piano durante nove anos e foi parceira de Donato no começo da carreira. Desistiu da parceria musical ao perceber que Donato esbanjava talento para voar sozinho. Eneida, que é comissária de bordo aposentada, passou 60 anos e um mês até voltar ao Acre.

O ministro Gilberto Gil participa hoje, às 17 horas, da inauguração da Usina de Comunicação e Artes, mas nem vai pernoitar no Acre. Talvez o cerimonial diga que Gil tem uma reunião importante com Lula em Brasília, mas na verdade o próximo compromisso dele é Cannes.

Ele desembarca de jatinho da FAB por volta do meio-dia. A Usina João Donato foi idealizada pelo ex-secretário de Educação e vice-governador Binho Marques, que é o pré-candidato do PT à sucessão de Jorge Viana.




João Donato e Ivone Belém














Donato foi pra beira do Rio Acre tocar sanfona




















- O rio tem a mesma cor de quando eu era garoto. Cadê o canoeiro que me deu a melodia de "Lugar comum"?


Lysias Ênio foi patinar na lama após mergulhar no Rio Acre













O piloto e coronel João Donato de Oliveira, pai do músico

domingo, 23 de abril de 2006

ENEIDA, JOÃO E LYSIAS



Eneida, 74, João, 70, e Lysias, 69, são os filhos do coronel João Donato de Oliveira, o primeiro acreano a pilotar avião e que chegou a criar no Acre, nos anos 30, um aeroclube.

Eneida estudou piano durante nove anos, mas desistiu da parceria musical com João Donato no começo da carreira. Compatibilizou a profissão de comissária de bordo com a de artista plástica. Passou 60 anos e um mês distante do Acre.

Lysias é o principal letrista das canções de Donato. Está escrevendo um romance, baseado na saga da família Oliveira, que veio para o Acre, em 1877, durante a grande seca no Ceará.

Após a publicação do romance, pretende se dedicar a escrever a biografia de João Donato.

Lysias ficou emocionado ao chegar na beira do Rio Acre e mergulhou. Portava isqueiro, óculos e carteiras de documentos e cigarros. E gritava:

- A água é benta.

MERGULHO NA ALMA

A entrevista com Eneida teve que ser interrompida porque o poeta Lysias Ênio não conteve a emoção e mergulhou no Rio Acre.

A PAZ

João Donato canta e toca sanfona numa interpretação improvisada da canção que compôs em parceira com Gilberto Gil.

"A paz invadiu o meu coração
De repente me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse os meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais

A paz fez um mar da revolução

Invadir o meu destino a paz
Como aquela grande explosão
De uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão na paz

Eu pensei em mim

eu pensei em ti
Eu chorei por nós
Que contradição
só a guerra faz
Nosso amor em paz

Eu vim

vim parar na beira do cais
Onde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos ais

A paz invadiu o meu coração"

LUGAR COMUM

João Donato canta e toca uma de suas composições mais famosas. Ele ouviu "Lugar comum" pela primeira vez quando criança, assobiada por um desconhecido canoeiro que descia o Rio Acre. Anos mais tarde, contou a história e apresentou a melodia a Gilberto Gil, que escreveu o seguinte:

"Beira do mar, lugar comum
Começo do caminhar
Pra beira de outro lugar
Beira do mar, todo mar é um
Começo do caminhar
Pra dentro do fundo azul

A água bateu, o vento soprou
O fogo do sol, O sal do senhor
Tudo isso vem, tudo isso vai
Pro mesmo lugar de onde tudo sai"

USINA JOÃO DONATO

sexta-feira, 21 de abril de 2006

I LOVE YOU, JOÃO DONATO

O compositor João Donato desembarca na noite de sábado em Rio Branco, onde será homenageado, a partir das 17 horas de segunda-feira, com a inauguração da Usina de Comunicação e Artes João Donato. Volta ao Acre acompanhado da mulher dele, a jornalista Ivone Belém, e do irmão Lisyas Ênio, um dos principais letristas de sua obra. O governador Jorge Viana e o ministro Gilberto Gil lideram a homenagem ao gênio da raça acreana.

Donato traz na bagagem o instrumento que ganhou de presente da cantora Marisa Monte, uma sanfona que voltou a tocar com a mesma empolgação de quando garoto. Joãozinho não se cansa de ser um bom menino. No domingo, o músico comparecerá aos estúdios da Rádio Difusora Acreana, a Voz das Selvas, para conversar e tocar sanfona. Foi lá o começo dos 70 anos de carreira.

Eu tinha 14 anos, morava ainda em Cruzeiro do Sul, quando meus pais compraram, na Casa Badarane, um móvel de marca Semp, de alta fidelidade, no qual se podia ouvir a sequência de até 12 discos de vinil. O aparelho começou a ser pago no crediário, mas faltava dinheiro para comprar discos.

Certo dia, Egberto, um de meus irmãos, não resistiu a uma liquidação e voltou para casa com dois discos: um do brega Fernando Mendes e outro de um sujeito cujo nome e rosto sequer apareciam na capa. A contragosto, ganhei o desconhecido, mas até hoje é meu irmão quem gosta de música brega.

Aquele era o vinil "Quem é quem", de João Donato, que desde então não parei de ouvir. Quis o destino que me tornasse merecedor da amizade desse gênio da música brasileira. Donato jamais se desligou da raiz acreana, que influencia fortemente a sua música.

Na contracapa daquele velho vinil está o perfil que me ajudou, garoto de um disco só, a ficar encantado e a desenvolver bom gosto musical:


"João Donato vem lá do Acre. Tocando uma sanfona de 8 baixos, logo renegada por uma de 120 baixos, começou a se apresentar na Rádio Difusora acreana "A Voz das Selvas". Anos mais tarde, já tendo trocado a sanfona por um piano malandro, foi, ao lado de João Gilberto, Tom, Vinícius e outros, um dos professores da bossa nova (palavras do próprio Tom). "Minha Saudade", do Donato e do João Gilberto, "Amazonas", "A Rã" (Corongondó) foram alguns dos maiores sucessos dele.

Foi convidado a participar do célebre concerto de bossa nova do Carnegie Hall, mas não compareceu. Foi morar em Los Angeles. Casou com Patrícia (americana), teve uma filha, Jodel (linda), e quando Jodel tinha 6 anos, separou-se de Patrícia. E Jodel foi com Patrícia.

Lá nos States, tocou com João Gilberto, Caymmi, Astrud, Marcos, Luiz Bonfá, transou com músicos cubanos, americanos, gravou, foi gravado, tudo isso durante uns 10 anos. Foi inclusive considerado "Brazils nº 1 Pianist" pela coluna de jazz do jornal "San Francisco Chronical".

Agora, voltou por um amor, que acabou não dando pé. Mas resvolveu ficar. Encontrou-se com Marcos Valle, e decidiu-se por se fazer um disco novo de Donato na Odeon. Aliás, é o segundo que ele faz para a Odeon, pois o primeiro foi feito em meados de 50, tocando acordeom, produzido pelo Tom.

É Donato com músicas novas, tocando piano elétrico e até cantando, que foi uma idéia nascida num papo entre ele, Marcos e Agostinho dos Santos".

I love you, João Donato.

POESIA



A Lua (dizem os ingleses)

A Lua (dizem os ingleses)
É feita de queijo verde.
Por mais que pense mil vezes
Sempre uma idéia se perde.

E era essa, era, era essa,
Que haveria de salvar
Minha alma da dor da pressa
De... não sei se é desejar.

Sim, todos os meus reveses
São de estar sentir pensando...
A Lua (dizem os ingleses)
É azul de quando em quando.

Fernando Pessoa, 14.11.1931

quinta-feira, 20 de abril de 2006

LULA LÁ



Do presidente Lula ao astronauta Marcos Pontes:

- Eu teria vontade de estar no seu lugar. Eu sei que eu não estou com preparo físico adequado como você. Não tenho coragem de mergulhar cinco metros dentro do mar, mas eu teria coragem de ir numa nave espacial.

Agora o que escreveu o poeta Olavo Bilac (1865 - 1918):

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Nota: Este blog abre uma campanha (com caixa 2, claro) para arrecadar dinheiro e tornar realidade o sonho de Lula partir numa nave espacial. Colaborem. Lula lá!

CHAGAS FREITAS NO GLOBO



A arte que passou pela fresta do comunismo

Eduardo Fradkin

Ninguém parodiou melhor na literatura a opressão do comunismo que o inglês George Orwell. Algumas de suas idéias — como a de uma espécie de televisão que, além de transmitir imagens, recebe-as, funcionando como um vigia do Estado dentro de cada casa — podem parecer excêntricas demais. Não para o ex-diplomata Francisco Chagas Freitas [foto], que trabalhou na embaixada brasileira na Berlim Oriental de 1984 (mesmo ano que dá título à obra de Orwell) a 1991. Conversar com amigos na própria casa tendo que abafar as vozes com música alta era prática comum. Os tais amigos eram artistas marginalizados. Na Alemanha comunista, assim como durante o regime nazista, arte abstrata era “arte degenerada”.

Escutas telefônicas e alerta para interromper reunião

O clima de paranóia era palpável, conta Freitas:

— O serviço secreto comunista era mais temido que o Mossad (equivalente israelense). Instalavam escutas nas casas, grampeavam telefones e davam boas recompensas a quem denunciasse atividades suspeitas, o que jogava até filhos contra pais. Quando saía do prédio e olhava para trás, sempre havia uma cortina se mexendo. Os olheiros estavam por toda parte. Uma dia, eu estava ao telefone, sem ter discado, e lamentei em voz alta ter esquecido o prefixo de Weimar. De repente, uma voz do outro lado me deu o número. Outra vez, numa reunião com artistas na minha casa, o telefone tocou: era um funcionário do serviço secreto mandando que pusesse fim naquilo.

As histórias são muitas. Freitas teve a casa revirada enquanto estava fora (“Mudavam as coisas de lugar, mas nada levavam. Era só para mostrar que estiveram lá”) e até uma foto de si próprio, tirada sem ele saber quando visitara um artista proscrito, enviada com uma mensagem irônica, mencionando seu estado patológico: “Se a alergia piorar, cuidaremos bem do senhor”. Apesar disso, ele conclui, surpreendentemente:

— Não passei maus momentos. Nunca fui vítima de uma ação direta do governo. Tive sorte. Muitos artistas que conhecia foram interrogados.

Durante os sete anos que morou na Alemanha, encarregado do setor cultural da embaixada, o acriano Freitas usou quase todo o seu salário — de cerca de US$ 4 mil mensais, pelo que se lembra — para adquirir obras de arte abstratas. Formou assim uma coleção com mais de mil pinturas, desenhos, gravuras, colagens e esculturas que agora guarda na sua casa em Brasília. Na exposição “Além do muro”, que será aberta ao público amanhã, 45 dessas obras poderão ser vistas gratuitamente, na galeria da Caixa Cultural (Avenida Chile 230, Centro).

Hoje, com a valorização desses artistas que antes viviam na penúria (pois não desenvolviam um trabalho paralelo nos moldes impostos pelo governo), Freitas afirma que seria impossível comprar uma fração do acervo que constituiu. E não tem intenção de vender um quadro sequer.

— A maioria das obras que tenho é das escolas de Dresden e de Weimar, duas cidades da Alemanha Oriental, e feita nos anos 70 e 80. Mais de 90% delas foram adquiridas diretamente com os autores. As galerias na Alemanha Oriental, exceto uma que havia em Dresden, pertenciam ao Estado, então havia dificuldade de acesso para esses artistas. Fora do circuito oficial, um indicava outro. Foi assim que eu fui conhecendo cada um deles — lembra Freitas, que iniciou esse círculo de amizade graças à ajuda da dona de uma pequena galeria em Berlim que vendia camufladamente arte abstrata, enquanto expunha oficialmente nas paredes a arte figurativa aprovada pelos dirigentes comunistas.

Boa parte das obras angariadas por Freitas é em papel, pois telas custavam caro aos artistas e eram difíceis de encontrar. Além da carência de material, eles sofriam com a de modelos, já que era perigoso manter vínculos com aqueles “marginais”.

— Posei para retratos que hoje estão em museus de todo o mundo e ganhei de presente quadros que passaram a valer muito. Conheci artistas que sofreram tanto no nazismo quanto no comunismo, como Hermann Glöckner e Hans Winkler. A maioria das obras de Glöckner, que faleceu aos 98 anos, foi adquirida pelo governo, o que dá medida de sua importância hoje. Winkler era da escola de Weimar e fez telas que lembram Pollock e De Kooning, como as que estão expostas aqui, sem que ele tivesse acesso à produção de Pollock e De Kooning — diz o marchand.

Só um artista fez mais de 20 retratos do diplomata

Entre os principais nomes incluídos na mostra “Além do muro”, ele destaca Ralf Winkler (também conhecido como A.R. Penck), Strawalde, Max Uhlig e Gerda Lepke.

— Penck é o artista mais importante da Alemanha Oriental da geração que hoje tem entre 60 e 70 anos. O trabalho de seu ex-professor, Strawalde, também pode ser visto nesta exposição. Ele mesmo o verá, pois vem ao Rio. Outro grande nome é Max Uhlig, a quem o ex-chanceler Gehard Schröder encomendou um retrato. Quando não era famoso, ele fez mais de 20 retratos meus — conta.

O curador alemão Matthias Flügge, vice-presidente da Academia de Artes de Berlim, afirma que o brasileiro teve “papel fundamental” na luta contra as amarras artísticas da época. Para Alfons Hug, curador das últimas duas bienais de arte de São Paulo, a coleção de Freitas é “possivelmente a mais importante de pintura alemã oriental fora da Alemanha”.

Nota: A reportagem de Eduardo Fradkin pertence ao jornal O Globo, que agora usa proteção contra a cópia dos seus textos na web. Quando quiser copiar texto de "material protegido", faça o seguinte: salve a página e depois abra com algum editor HTML. A foto do Chaguinha, cidadão do mundo nascido no rio Muru, em Tarauacá, foi tirada na varanda de minha casa no dia 16 de abril de 2004. O cara é pré-candidato ao governo do Acre, mas já sabe que vou votar noutro cara, o Binho Marques, amigo também, de velhos carnavais. Leia mais sobre as obras do colecionador Chagas Freitas em "A arte oculta da antiga Alemanha Oriental", na Agência Carta Maior.

BOA MÚSICA ACREANA

“Na Garagem”. Esse é o nome do mais recente projeto cultural idealizado pela banda Camundogs e pelo selo fonográfico Catraia Records, em parceria com o Mira Shopping e demais bandas autorais acreanas, além do apoio cultural da RBTrans. O projeto visa abrir espaço para as bandas.

Aliando-se ao Estúdio Comunitário de Ensaio e outras iniciativas da turma do rock independente, quer fotalecer a cena da música autoral de Rio Branco. Quase resolve dois pontos importantes de sua cadeia produtiva: local propício de ensaios e palcos para apresentação.


- Um dos pontos cruciais da cadeia produtiva da música independente são as apresentações das bandas. Se não há palco e ambiente adequado e direcionado para se mostrar o trabalho autoral, não há o fortalecimento e o desenvolvimento desse cenário - assinala Aarão Prado, vocalista da Camundogs e um dos organizadores do projeto.

O nome “Na Garagem” é uma alusão ao estacionamento subsolo do MiraShopping, no centro da cidade. É também uma alusão ao fato de que as bandas independentes são geralmente intituladas de “bandas de garagem”.

O projeto surge num ótimo momento para a música acreana, que tem tem se engajado no movimento nacional do rock independente e se tornado protagonista do mesmo. Nos últimos meses, foram feitos vários elogios às bandas acreanas na mídia nacional especializada em música.

O primeiro evento "Na garagem" acontecerá no domingo 23, entre 17 e 22 horas, e trará como atrações as bandas Camundogs, Los Porongas e Nicles. A intenção dos organizadores é de que as apresentações dos grupos que fazem parte do circuito de rock autoral independente de Rio Branco se sucedam em eventos quinzenais, sempre aos domingos.

Está aprevsista a apresentação de outros artistas e bandas: Pia Vila, Dona Xica, Sufrágio, Dead Flowers, TPM, FarStar, Afazia, Alt F4, Teu Pai, dentre outras.


- A idéia principal é fomentar e incentivar as bandas mais recentes a abraçar a causa da música autoral. Não que tenhamos algo contra se tocar “covers”. Mas para isso já se tem espaço nos bares e casas noturnas da cidade. A música autoral, genuinamente composta aqui, é que precisa de incentivo e de espaço - disse Max Arraes, da Catraia Records.

Com essa iniciativa, o selo Catraia e as bandas locais inauguram mais uma franquia a serviço do rock e da música autoral de Rio Branco, adicionando-se aos já conhecidos projetos “No Balanço da Catraia”, “No Balanço da Concha”, “Ecos da Tribo” e “Festival Varadouro”.

Nota: Essa turma do rock independente acreano é mesmo boa. Além de produzir boa música, redige os press-releases, cujos textos são infinitamente melhores que 99,99% do que publicam os jornais da cidade.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

INJUSTO



Por Aldo Nascimento (*)

Um pai apareceu na capa do jornal A Tribuna. Ele espancou o filho, uma criança de quatro anos.

O pai, acredito, será punido. A lei, no entanto, uma vez aplicada, não servirá de exemplo para humanizar a sociedade.

Observe a foto.

Como é impossível para esse pai amar o próprio filho? Impensável dizer: "Filho, eu te amo mais que a minha própria vida".

Por meio de livros e de filmes, penso que a ruína das relações humanas emerge quando não há mais a força do simbólico.

Em "Amarelo Manga", em "Elefante", em "Império dos Sentidos", em "Laranja Mecânica", só para ofertar alguns exemplos cinematográficos, o simbólico inexiste e, por causa de sua ausência, imperam os objetos, ou seja, a ausência do afeto.

(*) Aldo Nascimento é professor de português e escreve no blog Liberdade de Imprensa.