sexta-feira, 29 de julho de 2005

COMPANHEIRA

A Folha de S. Paulo revela hoje que a fox terrier Michele, 14, animal de estimação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, morreu na última quarta-feira na Granja do Torto, de insuficiência múltipla dos órgãos. A cadela foi enterrada na Granja do Torto.

"Já fazia meses que apresentava problemas decorrentes da velhice, como prostração e falta de apetite. Na semana passada, ficou cinco dias internada por causa de insuficiência hepática", explicou o veterinário Marlon Ferrari, de Brasília.

MINGUANTE


Quer saber mais a respeito dela? Visite a Wikipédia, a enciclopédia livre. Ou, se preferir, o website Cosmobrain, onde é possível obter imagem da Lua gerada em tempo real e que mostra o aspecto do disco lunar no momento, caso esteja visível.

Da astróloga Barbara Abramo:

- Agosto tem reputação ruim no imaginário nacional. Não é para menos, vendo-se a história. Os astros explicam - um pouco - essa tendência. É que o Brasil faz aniversario em 7/9 e no período que antecede seu aniversário as crises de teste do organismo do estado se acentuam. E é só analisar a história para ver as "coincidências"!

Leia o prognóstico completo Céu de agosto

quarta-feira, 27 de julho de 2005

OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

Do jornalista Luciano Martins Costa no artigo "A inexorável desconstrução de Lula":

- A imprensa trabalha para desconstruir Lula, para deixá-lo só, sem uma base partidária e sem condições de consolidar uma aliança que lhe desse a possibilidade de lutar pela reeleição. Quer lhe ensinar uma lição de História: lugar de operário é ao pé da máquina. Quer fazê-lo ver que a eleição de 2006, mesmo que ele chegue lá com a popularidade preservada, será um massacre, porque a massa vai votar naquele que ficar bem na TV. E ninguém fica bonito tendo ao fundo um mar de lama.

Luciano faz a análise mais sensata que li nos últimos dias sobre mídia e crise política. Vale a pena ler o artigo no Observatório da Imprensa.

terça-feira, 26 de julho de 2005

SENHOR X

O site Noticias da Hora promete revelar ainda hoje a "verdadeira identidade do Senhor X, o personagem que detonou o esquema de compra de votos na emenda da reeleição de FHC".

Segundo o site, muitos pensam que se trata do empresário Narciso Mendes mas as apurações levam à conclusão que ele foi apenas um dos participantes da trama que gerou a renúncia de deputados acreanos.

O site promete divulgar uma entrevista exclusiva na qual o empresário faz revelações bombásticas do poder e lista deputados acreanos que venderam o voto na reeleição de FHC. Narciso teria garantido que "tem deputado acreano que recebe religiosamente o mensalão".

Meu palpite: Narciso, que é dono do Cemitério Morada da Paz e dos moribundos jornal e TV Rio Branco, tem duas opções caso queira ser enfático: abrir uma cova e sustentar que o ex-deputado federal Carlos Airton, que cometeu suicídio em abril, era o Senhor X; ou acusar seu antigo desafeto, o jornalista Tião Maia, que era assessor de Carlos Airton à época, de ser o autor das gravações.

A segunda hipótese poderia até ser considerada a mais provável, pois Tião Maia atualmente é assessor de imprensa do senador e vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT), que por sua vez é irmão do governador Jorge Viana.

Falando sério, se ainda é possível quando o assunto é política: O Senhor X é a metamoforse de vários personagens da política acreana. Narciso era um deles - o que planejou a operação e distribuiu tarefas aos demais. Estará mentindo caso não deixe isso evidente na entrevista.

Eu morava em Brasília quando o escândalo veio à tona e o encontrei duas vezes quando jornalistas o caçavam a qualquer custo. Tomara que não ouse dizer que sou o Senhor X. Estaria desmentido desde já. Quem sabe mesmo quem é o Senhor X é o jornalista Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo.

Vamos esperar a "bomba". Ou o traque.

RIO ACRE


É assustador percorrer o rio Acre a partir dos serviços de busca de fotos por satélite. Já percorri várias vezes, de carro, barco ou avião, o trecho de Boca do Acre (AM) até Assis Brasil.

Mas nada se compara às imagens 3D de satélite. Elas são chocantes ao expor o impacto que a pecuária teve e ainda terá em determinar a morte do rio.

Para fazer essa viagem horripilante, você tem as opções de usar o website Virtual Earth, da Microsoft, ou o serviço de mapas do Google, que se vale do mesmo banco de fotos de satélite usadas pela Microsoft.

Mas o melhor mesmo é baixar o Google Earth, que traz todo o planeta Terra para dentro do seu computador e torna mais ágil a navegação. Os recursos da ferramenta são formidáveis.

Da para observar do alto, com um simples clique no mouse, o que muita gente tenta esconder aqui embaixo. Lamento, mas não da para desejar boa viagem a quem decidir navegar o cenário de devastação que vai nos tragar.

O poeta Beto Brasiliense já havia cantado "Mil acres" assim, no começo dos anos 80:

Em tantos mil hectares
Milhares de acres
E a terra é de quem
Vamos andando pro espaço vazio
Com as matas queimadas
E as patas dos bois
Na beira dos rios

Nas cabeceiras se fala
De tribos, índios arredios
Que só se vê quando sonha
Nas noites de frio
Estradas bem asfaltadas arroz cor-de-rosa
E leite azul
Muita comida enlatada
E tudo o que é útil
Primeiro de abril

Vamos seguindo pro espaço vazio
Com as matas queimadas
E as patas dos bois
Na beira dos rios

O por-do-sol multiplica
Cores violentas
Laranja e violeta
Muita poeira e fumaça
Anúncios do fim
Não tem segredo
Não adianta ter medo
Não adianta sair
Acreditar em mil acres
Na força dos fracos
Ficar por aqui

Acreditar em milagres
Na força dos fracos
Ficar por aqui

segunda-feira, 25 de julho de 2005

QUESTÃO DISCURSIVA


Esse estudante teria tudo para ser tornar jornalista no Acre. Leia o texto a seguir e clique sobre a foto para ler o original, caso haja dúvida.

"Os fungos realmente são bastante nocivos aos interesses humanos. Fungando, uma pessoa pode estar inalando milhões e milhões de vírus e bactérias do ambiente em que se respira. Mas há também a utilidade. Uma boa fungada pode efetivamente retirar aquele catarro preso na garganta, sendo que quanto mais o som emitido pela fungada maior é a sua eficiência e precisão na retirada daquela substância indesejada. Há quem diga que fungar é porcaria, mas pesquisas científicas revelam que, além de serem métodos eficientes, as fungadas fazem parte do dia-a-dia de pessoas em todo o mundo. É como diz a famosa frase: aquele que nunca deu uma fungada que atire a primeira pedra".

Filipe Rodrigues

FORA DE ÓRBITA


Quem conhece a história do Acre sabe que um título desse pode causar efeito devastador nos meios políticos.

De fato, os cruzeirenses, localizados na ponta mais ocidental do Estado, se sentem excluídos da administração estadual há mais de um século, tanto que se tornaram empreendedores aprendendo a crescer sozinhos. E nas eleições municipais de 2002 levantaram a bandeira da emancipação!


A manchete colocada em destaque na “página do empreendedor” (jornal Página 20, pág.11, edição de domingo) soa no mínimo como provocação; ou “mangofa”; ou premonição.

De qualquer modo, dá asas a quem procura separar o segundo mais importante município do Acre do mapa do Estado, atuando na contramão dos esforços do atual governo, que se esfola para concluir a estrada da integração definitiva do Vale do Juruá.


Na verdade ( e historicamente) os cruzeirenses estão no Acre desde muito antes de nós do Vale do Acre e Purus. Riririri!

Jornalista Elson Martins

NOTA DO BLOGUEIRO: Caro Elson, está provado que quem não tem competência se estabelece no Acre facilmente. É conveniente ao "sistema acreano" manter profissionais como você afastados das redações. Aí dá nisso. Até o site do Sebrae reproduz essa aberração. Aliás, será que o press-release foi distribuído pela assessoria de impresa do próprio Sebrae? Mas nada justifica.

domingo, 24 de julho de 2005

CARTA DE CHICO MENDES

Xapuri 18 de outubro de 1987

Prezados companheiros e companheiras

Estamos chegando ao final de 1987. Um ano de muita luta de grandes sucessos, mas também um ano de muitas perseguições e calúnias.

Todos nós, mais uma vez somos convidados a nos mantermos unidos, cada vez mais na fé, na coragem e na confiança e esperança de vencer. Precisamos mais do que nunca estar unidos, pois desta união depende o nosso futuro, o futuro de nossos filhos. As forças inimigas estão se organizando para nos combaterem. Estas forças são os fazendeiros, e o prefeito de nossa cidade, juntamente os políticos que o apóiam.

E nós vamos ficar de braços cruzados?..

A igreja também está sendo atacada e nós vamos ficar calados?... Companheiros, assim não dá. Vamos à luta. Neste sentido, convidamos todos os delegados sindicais desta área e todos seus auxiliares para um grande treinamento de lideranças sindicais, a se realizar nos dias 27, 28 e 29 de dezembro. Não faltem, por favor. E dia 30 a 31 de dezembro, grande assembléia geral do sindicato. Aí é hora de todo mundo comparecer, homens e mulheres, pois a luta é de todos nós. Precisamos nesta assembléia aprovar nossos planos de luta para 1988, pois neste ano, pela primeira vez vamos enfrentar as forças da maldita UDR.

Espero contar com a colaboração da todos vocês.

Saudações sindicais do companheiro

Chico Mendes

NOTA DO BLOGUEIRO: Chico Mendes foi assassinado por um complô de políticos, empresários e fazendeiros acreanos dentro da casa dele, em Xapuri, no dia 22 dezembro de 1988. O fazendeiro Darly Alves da Silva e o filho dele, Darci Alves Pereira, ambos condenados como mandante e assassino do seringueiro, foram apenas os braços armados da conspiração. Reportagem de Silvânia Pinheiro, do jornal A Gazeta, revelou como foi obtida a carta escrita por Chico Mendes há 18 anos.

TORDON


Balão de propaganda do Tordon na Feira Agropecuária do Acre - Expoacre. O herbicida foi utilizado na guerra do Vietnã como desfolhante, para eliminar as folhas das florestas e expor os vietnamitas aos ataques dos norte americanos.

Também conhecido como "agente laranja", pois eram embalados em tambores de cor laranja, quem teve contato com ele carrega seqüelas incuráveis em todo o organismo.

O Tordon é ainda utilizado no Brasil para capina química de ervas daninhas em diversas culturas inclusive a cana de açúcar. O Tordon 2D10, proibido pelo Ibama por ser altamente tóxico, pode até provocar câncer e mutações em humanos.

Mas os fazendeiros costumam utilizar o agrotóxico impunemente no desmatamento de áreas florestais na Amazônia. Eles usam aviões para espalhar o veneno pela floresta.

Depois que é jogado na floresta, os fazendeiros não esperam muito para realizar a queimada.

De tão poderoso, o veneno provoca o ressecamento das folhagens em apenas dois dias. Tocam fogo e depois semeiam o capim.

AMAZÔNIA AGREDIDA

Pecuária derruba floresta na Reserva Extrativista Chico Mendes

Alerta foi dado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais (CNPT) do Ibama

Imagens de satélite revelam que cerca de 3% dos 950.570 hectares da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, no Acre, estão tomados pela pecuária bovina, segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais (CNPT) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

"Em relação a anos atrás, a pecuária está bastante avançada, por falta de alternativa para as pessoas sobreviverem. A renda que eles têm mais fácil é criar gado e vender, porque os frigoríficos vão comprar lá dentro", disse Odinéia Teixeira, 26 anos, que nasceu e viveu na reserva até os 22 anos e cuja família ainda mora lá. "Na Resex Chico Mendes o gado de corte está derrubando a floresta", denunciou Luciano Mattos, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Empraba).


A Resex Chico Mendes foi a primeira do Brasil, criada em 1990, logo após o assassinato do líder sindical seringueiro. Ela abrange os municípios de Assis Brasil, Brasiléia, Capixaba, Xapuri, Sena Madureira e Rio Branco. A rodovia BR-317, a chamada Estrada do Pacífico, que contorna a área da reserva em seu lado leste-sul, foi asfaltada (em duas etapas, concluídas em 1998 e em 2001). "Há fazendas de um lado e de outro da BR. O asfaltamento aumentou a pressão no entorno da reserva", explicou Raimundo Francisco de Souza, chefe do CNPT no Acre.

Segundo ele, entretanto a situação ainda está sob controle. "O Ibama está tomando medidas para evitar o avanço da pecuária na Resex Chico Mendes. Estamos fazendo um levantamento de campo, com Global Positioning System (GPS) - aparelho que fornece a latitude e a longitude do local - para verificar o que já está derrubado e qual o tamanho do rebanho. Esse estudo deve terminar em agosto. Em breve também a gerência local do Ibama publicará uma Ordem de Serviço que proíbe o uso como pasto de áreas dentro de qualquer reserva extrativista do estado que recebam autorização para desmatamento", revelou Souza.

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc), instituído em 2000, proíbe a criação de animais de grande porte em áreas de proteção ambiental. Mas o Plano de Utilização da Resex Chico Mendes autoriza a pecuária, desde que respeite o limite máximo de até 5% da colocação (área destinada a cada família). Raimundo ressaltou que o tamanho das colocações varia muito, mas a média é de 400 hectares. Vivem hoje na reserva, segundo ele, 1.794 famílias, o que totaliza cerca de 8.970 pessoas.

Texto da jornalista Thaís Brianezi, da Radiobrás

CAVALGANIA

Em qual dos quatro jornais diários de Rio Branco o leitor ousaria acreditar?

Página 20
A cavalgada que marcou a abertura da Expoacre 2005 reuniu ontem 50 mil pessoas na Via Chico Mendes. O passeio começou às 10 horas, no Calçadão da Gameleira, e levou mais de quatro horas até chegar ao estacionamento do Parque de Exposições Marechal Castelo Branco. No local, foram realizados um ato religioso e a confraternização dos cavaleiros.

A Gazeta
A cavalgada, composta por mais de três mil cavaleiros e amazonas, marcou o início da Expoacre, na manhã de ontem, no Parque de Exposição Marechal Castelo Branco, depois de três horas do percurso que começou na Gameleira.

A Tribuna
Cerca de mil animais participaram da cavalgada e todos foram vacinados pelas equipes do Instituto de Defesa Agroflorestal. Hoje um dos pontos altos da festa promete ser o show com o cantor Raimundo Fagner, com portões abertos aos visitantes.

O Rio Branco
Cerca de 1,5 mil pessoas participaram, ontem pela manhã, da cavalgada de abertura da Exposição Agropecuária do Acre (Expoacre). Montando belos animais, autoridades, pecuaristas e muitos jovens saíram do Calçadão da Gameleira, às 10h, cavalgando até o Parque de Exposição Marechal Castelo Branco.

FLOR DE JAGUBE


Flor de jagube (Banisteriopsis caapi), também conhecido como cipó mariri. O caule do jagube, adicionado com água às folha do arbusto rainha, caapi ou chacrona, em alta temperatura, resulta na bebida conhecida como ayahuasca ou Santo Daime , rica em harmina, harmalina e DMT (dimetil triptamina).

A bebiba, cuja origem se atribui aos índios peruanos, é utilizada ritualisticamente pelas populações da Amazônia, sobretudo pelas populações do Acre.

O jagube, que floresce nessa época, é da família das malpighiáceas. Ele é cultivado por vários povos indígenas.

Tem ramos longos, com folhas opostas e oblongas, das quais se extrai um alcalóide, a harmina, e flores róseas e racemosas. É empregado pelos pajés.

A foto da flor foi tirada de um jagube que existe no meu quintal. Dê um clique nela para visualizá-la melhor.

sábado, 23 de julho de 2005

ELE VAI CAIR?


Essa foto foi tirada às 10h59 do dia 22 de agosto de 2002, durante a caminhada em apoio aos candidatos Lula e Jorge Viana. Da esquerda pra direita: Marcos Afonso, Júlio Eduardo, Josué Amorim, Marina Silva, Perpétua Almeida, Lula, Jorge e Tião Viana. Não guardei as fotos originais, mas elas estão no arquivo online do site do PT. Quem quiser ver outras três fotos que tirei no mesmo dia deve clicar em Caminhada em Rio Branco.

sexta-feira, 22 de julho de 2005

LUA: 20h02


Sete mil vezes
Caetano Veloso

Sete mil vezes
Eu tornaria a viver assim
Sempre contigo
Transando sob as estrelas
Sempre cantando a música doce
Que o amor pedir pra eu cantar
Noite feliz
Todas as coisas são belas

Sete mil vezes
E em cada uma outra vez querer
Sete mil outras
Em progressão infinita
Quando uma hora é grande e bonita assim
Quer se multiplicar
Quer habitar
Todos os cantos do ser

Quarto crescente pra sempre
Um constante quando
Eternamente o presente você me dando
Sete mil vidas
Sete milhões e ainda um pouco mais
É o que eu desejo
E o que deseja esta noite
Noite de calma e vento
Momento de prece e de carnavais
Noite de amor
Noite de fogo e de paz

VIVA A EXPOACRE!


Amanhã é o dia da abertura de mais uma Feira Agropecuária do Acre. A Expoacre se consolidou como o maior evento do Governo da Floresta. Parece um paradoxo, mas não é.

Quem quiser saber mais a respeito, clique aqui para visitar o site da feira. Ou então cantarola e rebola com a letra da música do Todo Torto:

Cowboy Viado
by Todo Torto

Iai Cowboy Viado!!Longe de casa faz mais de uma semana...Aqui você é macho, né?Mas a gente sabe da sua fama!Anda pra lá e pra cá...Com essa sua calça jeans...Socada no rego...E ainda paga de machão!Monta no cavalo.. e sai com o rabo todo empinado!!

Ae cowboy Viado!!

Senta!! Eu sei que senta!!Ele senta!! Eu sei que senta!! Ele senta!! Eu sei que senta!! Ele senta!! Eu sei que senta!!Senta no cavalo só pra levanta o rabo!! Senta no cavalo só pra levanta o rabo!! Senta no cavalo só pra levanta o rabo!!Senta no cavalo só pra levanta o rabo!!

Iai cowboy viado?? Chapeuzinho dobrado..E aqui no rodeio.. cheio de querer ser peão!! Fivela na calça... Engraxa seu sapato...E paga de machão!!

Senta!! Eu sei que senta!!Ele senta!! Eu sei que senta!!Ele senta!! Eu sei que senta!!Ele senta!! Eu sei que senta!!Senta no cavalo só pra levanta o rabo!! Senta no cavalo só pra levanta o rabo!! Senta no cavalo só pra levanta o rabo!! Senta no cavalo só pra levanta o rabo!!

Iai cowboy viado..Anda de pickup... com chifre colado no capo...com a carroceria cheia de macho..Enquanto isso lá em casa..a patroa só com o Ricardão!!

Ae cowboy Viado!!

Senta!! Eu sei que senta!! Ele senta!! Eu sei que senta!! Ele senta!! Eu sei que senta!! Ele senta!! Eu sei que senta!!Senta no cavalo só pra levanta o rabo!! Senta no cavalo só pra levanta o rabo!! Senta no cavalo só pra levanta o rabo!! Senta no cavalo só pra levanta o rabo!! Anda de pickup... com chifre colado no capo...com a carroceria cheia de macho..Enquanto isso lá em casa..a patroa só com o Ricardão!!

Ae cowboy Viado!!

Senta!! Eu sei que senta!!Ele senta!! Eu sei que senta!!Ele senta!! Eu sei que senta!! Ele senta!! Eu sei que senta!!Senta no cavalo só pra levanta o rabo!! Senta no cavalo só pra levanta o rabo!! Senta no cavalo só pra levanta o rabo!!Senta no cavalo só pra levanta o rabo!!

quinta-feira, 21 de julho de 2005

FERNANDO BRANT

Carta à República

Sim, é verdade, a vida é mais livre
O medo já não convive nas casas, nos bares, nas ruas
Com o povo daqui
E até dá pra pensar no futuro e ver nossos filhos crescendo sorrindo
Mas eu não posso esconder a amargura
Ao ver o que o sonho anda pra trás
E a mentira voltou
Ou será mesmo que não nos deixará?
A esperança que a gente carrega é um sorvete em pleno Sol
O que fizeram da nossa fé?
Eu briguei, apanhei, eu sofri, aprendi
Eu cantei, eu berrei, eu chorei, eu sorri
Eu saí pra sonhar meu país
E foi tão bom, não estava sozinho
A praça era alegria sadia
O povo era senhor
E uma só voz, numa só canção
E foi por ter posto a mão no futuro
Que no presente preciso ser duro
Que eu não posso me acomodar
Quero um país melhor

Retirado de uma crônica do mesmo autor, intitulada "Vinte anos no poder", publicada no jornal O Estado de Minas, de 20 de julho de 2005.

ABRAHIM FARHAT

O Toinho Alves disse que põe a mão no fogo com a certeza de que o Abrahim Farhat, o Lhé, fundador do PT no Acre, não tem envolvimento com as maracutaias do partido. E argumenta:

- O Abrahim não carrega mala e não usa cueca.

Bem, aproveito para transcrever a mensagem enviada hoje pelo Lhé:

Altino, hoje, 21 de julho de 2005, completa 25 anos do assassinato de Wilson Pinheiro, pioneiro da luta contra a devastação da floresta, fundador do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia e do Partido dos Trabalhadores. Tirei do baú uma poesia feita na década de 70:


Cavaleiro do Apocalipse

Como aves de rapina
Alguns atraídos, não pela carniça
Mas pelas terras, seringais acreanos
A preço de banana
Histórica poesia
1970, por aqui aportaram;
Pareciam tutti buona gente
Mas, de repente
Transmudaram-se em cavaleiros do Apocalipse
Travestiram-se de irmãos amazônicos
Em direção à feira agropecuária
Montaram em suas bestas feras
No caminho até a feira
Para todos nós anunciavam
Com seus berrantes e trombetas
E o ronco das moto-serras

Lhé, de hoje em diante
Na nova era
Aldeias e seringais
Índios e seringueiros
Já ... era!

Um abraço!

Abrahim Farhat

MÍDIA E CRISE POLÍTICA

Para escancarar os podres poderes

Luciano Martins Costa (*)

O Brasil que vai emergir do mar de lama, como numa metáfora escatológica do Gênesis, não há de ser necessariamente um país mais maduro, mais honesto, ou uma democracia mais bem-estruturada. Seremos apenas uma nação menos inocente, possivelmente mais desconfiada de milagres, santos guerreiros e heróis. Seremos provavelmente um povo menos alegre, como são mais tristes aqueles que têm menos ilusões.

Praticamente todas as nossas instituições, colocadas à prova na nossa história recente, apresentaram um desempenho abaixo de medíocre, para não dizer que foram reprovadas com vexame. Nem mesmo o futebol foi capaz de nos proporcionar um espetáculo completo, culminando com atos de barbárie o que deveria ser a celebração da competição mais importante da temporada. A religião, em sua versão mais tradicional, ficou no caminho, por conta de certa incapacidade para entender a modernidade que dá aos humanos mais arbítrio sobre si mesmos do que desejariam os sacerdotes, e, na versão das seitas liberais, atrapalha-se com malas de dinheiro de origem nebulosa.

O Judiciário já deu sua contribuição ao descrédito geral, na sucessão de Lalaus e Rocha Mattos, em decisões tecnicistas ou contaminadas por uma noção de igualdades diferenciadas segundo o extrato social dos protagonistas. O Congresso Nacional nos brinda agora com esse festival de antropofagismo que apenas oferece, ao cidadão perplexo, razões para desconfiar de que temos enviado a Brasília não o melhor de nossa sociedade, mas os mais espertos. O Executivo, já emporcalhado em outras épocas, ainda precisa provar que não tem autoria direta no escândalo que a cada dia se revela em detalhes mais escabrosos.

Como há 10 anos

A imprensa, essa instituição da qual sempre esperamos a luz da informação e o oxigênio da reflexão, brinda-nos com um registro histórico na dimensão exata de suas premissas, revelando uma visão tacanha das instituições e da sociedade e uma grande vulnerabilidade à manipulação. Imobilizada pela falta de recursos para a investigação independente, fica à mercê da disposição de personagens suspeitos e do interesse político dos protagonistas em revelar ou ocultar aspectos dos fatos que deveriam estar abertos como um leque ao escrutínio da coletividade.

Na seqüência dos episódios que a imprensa nos tem trazido há dois meses, ficamos sabendo que o caixa das campanhas políticas é alimentado basicamente por dinheiro de origem não-revelada, e que o atual presidente da República, como outros que o antecederam, pode ter sido conduzido ao poder à custa de falcatruas. Mas ninguém se habilita a nos informar sobre as responsabilidades do setor financeiro, por onde o dinheiro entra sujo e sai limpo. Nem mesmo nos explicam a coincidência de endereço – a agência do Banco Rural de Brasília citada no escândalo atual é a mesma, e semelhante a prática, onde tinham contas-correntes os fantasmas José Carlos Bonfim, Regina Silva Bonfim e Manuel Dantas Araújo, personagens gerados no esquema de Paulo César Cavalcante Farias.

Passa-se uma década e continua igual o esquema, agora sofisticado por recursos tecnológicos, sem que uma reportagem nos escancare definitivamente quem são os agentes ocultos dessas operações, e que diabo faz o Banco Central que não acaba definitivamente com esse sistema de lavanderias financeiras. Um ou outro abnegado – como o ex-secretário nacional antidrogas Walter Maierovitch – repetem há anos que não há crime organizado ou corrupção sistêmica sem a leniência do sistema financeiro. Mas somos convencidos, de tempos em tempos, de que cada caso é um caso.

Ações combinadas

Também somos informados de que há diferenças entre os sonegadores que servem à classe média empobrecida e aqueles que atendem o topo da pirâmide social. Vai uma grande distância da Estação da Luz à Daslu. O chinês da Luz, da Rua José Paulino e adjacências paulistanas, é jogado algemado no camburão sob aplausos da mídia para a ação policial. A dama da Daslu é detida com direito a telefonemas para pessoas importantes, com tempo para refazer a maquiagem e levada em veículo adequado, e a imprensa vê na ação da polícia apenas exibicionismo ou desejo de desviar a atenção pública do escândalo político.

Do noticiário aos editoriais, passando por articulistas sempre prontos a reiterar com grande senso de oportunidade a opinião dos donos da mídia, somos levados a acreditar que a Polícia Federal é um bando de trapalhões que sai por aí a prender senhoras inocentes só porque elas são ricas. Fica escondido o fato – como irrelevante – de que a ação policial foi precedida por muitos meses de investigações, e que a liberdade dos suspeitos colocava em risco o sucesso do inquérito.

Nenhum repórter foi buscar possíveis ligações com outro fato policial recente, a detenção do notório advogado tributarista Newton Oliveira Neves, de longa data conhecido da Receita Federal, por sua expertise em aliviar empresas e milionários das responsabilidades sociais que eles e a imprensa chamam de "custo Brasil". Diga-se, de passagem, que, na contabilidade do "custo Brasil", nenhum jornalista costuma incluir a sonegação e a corrupção, mas apenas o valor dos direitos trabalhistas.

Aliás, estavam presentes mais de 100 jornalistas, em dezembro de 2002, na conferência sobre jornalismo investigativo realizada na USP, quando o procurador da República Celso Antônio Três e o coordenador-geral de Pesquisa e Investigação da Receita Federal, Deomar Vasconcellos de Moraes, comentaram que os clientes do referido advogado e de outros escritórios eram objeto de constante vigilância por parte das autoridades. Investigava-se a existência de uma indústria de liminares e de atuações combinadas contra o Fisco e a Previdência Social, que poderiam conduzir a polícia a endereços muito chiques. Menos de três anos depois, a imprensa não se lembra de nada. Ou não quer lembrar.

Quebra do lacre

Estamos entrando numa semana decisiva para o esclarecimento do escândalo que envolve diretamente o Partido dos Trabalhadores e seus aliados. Estão em jogo interesses muito complexos. Desde o parlamentar destemperado que quebra os protocolos de educação cívica e chama o presidente da República de idiota – cumprindo seu roteiro de coadjuvante ruidoso – até o ex-ministro todo-poderoso reconduzido ao jogo das sombras nos corredores do Congresso, personagens revelados e ocultos dessa história degradante estarão torcendo e se movimentando para que, no desespero de reduzir sua pena, o despachante Marcos Valério Fernandes de Souza conte apenas parte da história que conhece.

Da imprensa, espera-se que não se satisfaça com o que lhe cai na cabeça. Dependendo de como terminar este capítulo vergonhoso da nossa história, poderemos ainda dizer que o país amadurece com as crises, que aprendemos e crescemos. As forças políticas e econômicas que tradicionalmente fazem uso da corrupção nas licitações fraudulentas, como autores ou receptores de favorecimentos à custa do erário, com certeza querem manter sob controle as informações que agora virão a público.

Esta é uma oportunidade rara para a imprensa quebrar o lacre, que alguns já tentam selar, em torno do sistema que há décadas domina os negócios públicos. É hora de destampar a caixa de Pandora. Como no mito grego, talvez seja necessário conhecer todos os males para nos reencontrarmos com a esperança.

(*) Jornalista

Fonte: Observatório da Imprensa

quarta-feira, 20 de julho de 2005

ZUENIR VENTURA

O temido desfecho

Acada dia que passa, a cada depoimento ou revelação, a sensação é de que a crise política está caminhando para um desfecho que não se deseja — por se temer o que possa vir depois — mas que parece inevitável: a descoberta de que o envolvimento do presidente com os acontecimentos é maior do que se admite. Ninguém gostaria de ver Lula comprometido diretamente com os escândalos, nem mesmo a oposição, não por solidariedade, evidentemente, mas porque prefere mantê-lo no governo fraco e desmoralizado, até 2006.


O problema é que Lula não tem colaborado e continua cometendo erros uns atrás dos outros, mantendo uma relação esquizofrênica com a realidade. Ele se comporta como se o país estivesse dentro da normalidade. Quando se esperava que fosse reagir ao desastre com uma obra de saneamento, aterrando o lamaçal para começar de novo sobre outras bases, única maneira de atenuar os estragos sofridos, promove uma reforma ministerial em cuja eficácia só ele parece acreditar.

Quando resolve falar, foi o que se viu em Paris, onde até a escolha do veículo é discutível: por que, tendo toda a imprensa brasileira lá, preferiu uma freelancer da televisão francesa? Com tanta coisa para dizer, optou por justificar um crime eleitoral sob a alegação de que é cometido “sistematicamente”, como se a repetição conferisse legitimidade ao ilícito e esquecendo que 53 milhões de pessoas votaram nele justamente para mudar esse sistema corrupto. Cobrou que se diga à sociedade “onde o PT errou, por que o PT errou”, mas nada sobre os próprios erros. Será que não desconfia que, tanto quanto o PT, ele deve explicações ao país? Ou será que não dá por que não as têm?

“Trabalhar com a verdade é muito melhor”, ele disse, e todo o trecho soou como uma gafe diante da barafunda geral de mitômanos e cleptômanos que cercam seu governo: “A desgraça da mentira é que você, ao contar a primeira, passa a vida inteira contando mentiras para justificar a primeira que você contou.” Pois é.

O senador Pedro Simon, do PMDB do B, ou seja, do bem, que torce pelo melhor, disse anteontem no programa do Jô que Lula ainda poderia aproveitar a crise para passar tudo a limpo, através de um choque moral e de gestão, tentando uma volta por cima. “Lula tem a obrigação de fazer uma limpa, de demitir, por exemplo, o presidente do Banco Central, que está sendo processado por corrupção.”

Só que, ele completou meio desanimado, em lugar de governar com a sociedade, “Lula prefere se aliar a Sarney e a Renan Calheiros”. O primeiro seria hoje o principal conselheiro do rei.

Fonte: O Globo

terça-feira, 19 de julho de 2005

O EXEMPLO DA PERUA

Do jornalista Ronaldo Brasiliense no artigo O exemplo da perua:

- Nessa turnê amazônica, vale destacar Raimundo Angelim, prefeito eleito em Rio Branco, capital do Acre de Chico Mendes e do duas vezes governador Jorge Viana. Ele não recebeu um tostão sequer de José Genoíno, Delúbio Soares e Silvio Pereira (leia-se: Diretório Nacional do PT). Da receita de R$ 503.489,00 declarada ao TSE, Angelim levou quase um terço duma tal de Marquesa S/A (R$ 150 mil em contribuição, em cheque, no dia 15 de agosto de 2004 – quase uma perua).

Enquanto isso, "a perua Marta [Suplicy] deu um show na sua prestação de contas da campanha de 2004 à Justiça eleitoral. Declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter gasto exatos R$ 220.260,66 na campanha contra o tucano José Serra, quando foi massacrada nas urnas".

ACREANO NO FURACÃO

O acreano Antônio Batista Brito foi afastado ontem do cargo de diretor comercial da Brasilveículo durante reunião extraordinária do Conselho de Administração. Também foi afastado o gerente do núcleo do Centro Cultural Banco do Brasil, Josenilton Andrade.

O Ministério Público, a CPI dos Correios e a Polícia Federal investigam um saque de R$ 326 mil de um ex-auxiliar do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato nas contas da empresa DNA, do publicitário Marcos Valério, no ano passado.

Brito teria ficado com parte do dinheiro que o ex-diretor recebeu de Valério, no início do ano passado. Na última sexta-feira, ele e Andrade pressionaram o contínuo da Previ (fundo de pensão dos funcionários do BB) Luiz Eduardo Ferreira da Silva, o Duda, a aceitar a responsabilidade pelo pacote de dinheiro.

Foi Duda que, na época, retirou os valores (R$ 326 mil) numa agência do Banco Rural no Rio e o entregou a Pizzolato. Os dois funcionários teriam levado Duda até a casa de Pizzolato para tentar persuadi-lo.

A direção do BB decidiu também abrir dois processos administrativos para apurar os indícios de irregularidades e se houve descumprimento das normas de conduta do banco e do código de ética. Brito e Andrade também terão que esclarecer a participação deles no episódio. Os dois foram indicados para as subsidiárias do BB pelo PT.

Detalhes nas reportagens dos jornais Folha de S. Paulo e O Globo.

segunda-feira, 18 de julho de 2005

LIÇÃO POLÍTICA

"Pode-se discordar das soluções propostas pelo Ministério do Meio Ambiente para o desmatamento. Mas, no meio desse atoleiro em que se meteu o governo, é das poucas áreas que se mexe", afirma em artigo Sérgio Abranches, mestre em Sociologia pela UnB, PhD em Ciência Política pela Universidade de Cornell e Professor Visitante do Instituto Coppead de Administração, UFRJ.

- A equipe do Meio Ambiente, mostrou, nos últimos eventos, estar disposta a encontrar o caminho político para garantir os meios necessários à execução de seus programas. No caso do PL das Florestas, a ministra, ao contrário de seus colegas de Esplanada, não hesitou em procurar o ex-presidente Fernando Henrique, para que a ajudasse a remover obstáculos à sua aprovação criados por deputados do PSDB. Soube aproveitar o fato de que os parlamentares estão na defensiva e sensíveis a danos de imagem e usou a pressão ambiental para fazer passar um projeto polêmico, que tem muitos adversários e seu governo não apoiou politicamente. Se essa habilidade fosse mais comum no governo, ele poderia fracassar porque as soluções que imagina não são boas, mas não por paralisia e inação.

Clique em Lição Política para ler a análise de Sérgio Abranches.

domingo, 17 de julho de 2005

PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO

" Não perco nunca a minha esperança’

Dá pena publicar esta entrevista. O leitor que acompanhar este papo animado certamente não entenderá o que quero dizer com isso. Conversamos aqui com um homem que, diante de desânimos e desatinos, mantém a fé e a luta para resgatar esperanças. Enquanto a legenda se dissipa em denúncias, engaja-se na recuperação do PT, partido pelo qual foi deputado, candidato a governador de SP e um de seus líderes. Neste momento, um alento. Por que a tristeza? É que nesta viagem, em torno da mesa do Caderno B, em metade do trajeto percorremos os causos e os personagens da biografia pessoal do Plínio. Militante cristão desde os 15 anos, por decantação descobriu-se socialista. Deputado do Jango e participante dos movimentos de base. Relator da Frente Parlamentar Nacionalista. Considerado pela FAO um dos maiores especialistas mundiais em reforma agrária. Como a proposta era discutirmos o momento atual – a crise do PT e do país – nestas duas páginas tivemos que nos concentrar nisto e 30 anos ficaram de fora. Ziraldo, temos que trazer o Plínio novamente a este espaço para contarmos a sua história. Quem sabe em setembro, depois das eleições no PT, ele possa voltar, até como presidente de um novo PT. Ou melhor, do PT anterior. Aquele onde a esperança vencia. (Ricky Goodwin)

Ana Maria Tahan – Como você se envolveu com o PT?


Plínio de Arruda Sampaio
– Quando voltei do exílio, em 76, vim com a idéia de fazer um partido socialista democrático. Almino Affonso, Fernando Henrique Cardoso e eu tínhamos uma combinação nesse sentido, feita no exterior. Chegando aqui, procuramos o pessoal que estava na briga: Jarbas Vasconcelos, Waldir Pires, a esquerda do MDB. Passamos 76, 77 e 78 articulando no Brasil inteiro. A idéia era FH disputar na eleição de 78 uma sublegenda dentro do MDB e, se passássemos de 1 milhão de votos, teríamos base para formar um partido. Fernando teve 1 milhão e 200 mil votos. Foi uma euforia: “Vamos estourar a boca do balão!”. No dia seguinte acordei cedo, liguei a TV e vi o flamante sociólogo sendo entrevistado como o ás da eleição. E ele dizia: “Neste momento a unidade da oposição é importantíssima e qualquer saída do MDB é divisionismo”. Telefonei para ele: “Desci do bonde! Não foi isso o combinado”.


Ricky Goodwin – E ele respondeu: “Esqueçam tudo que combinei!”

Plínio –
Vocês não fazem idéia de como fiquei abatido! Quando a FAO me convidou para trabalhar na Europa, com base na minha experiência com reforma agrária durante meu exílio, eu aceitei. Nesse meio tempo, Lula começou a montar um partido e aí José Álvaro Moisés me procurou para que eu fizesse o estatuto deste futuro Partido dos Trabalhadores. É curioso porque a minha campanha hoje à presidência do PT, nas eleições de setembro próximo, está referida a esta concepção de partido. Isto que está acontecendo no PT é porque esta concepção foi abandonada.


Demerval Netto – E que concepção é essa?

Plínio –
“No PT as bases mandam.” O PT usou isto como slogan mas não o adotou na prática. As decisões teriam que ser tomadas pela base. Podia ser numa fábrica, num bairro ou numa corporação, mas esses petistas deveriam ser consultados por todas as instâncias do partido antes de se tomar decisões.


Ziraldo – Mas isso é muito imobilizador, né?

Plínio
– É o que eles diziam. Eu não acho. É o pau que está dando na minha campanha agora. Mas, na verdade, é o sadio anarquismo dos cristãos. E com a internet essa organização ficou mais fácil.


Ana Maria – Não é o assembleísmo de que tanto acusam o PT?

Plínio
– Mas precisamos politizar o nosso povo. Um partido político é um instrumento pedagógico. Por exemplo: a campanha do desarmamento. Dizem que vão consultar o povo. Mas antes do povo se pronunciar ele precisa discutir a questão. Para mim, isto está sendo usado para desviar das causas reais da violência. E a transposição do Rio São Francisco, que vai afetar a vida de milhões de pessoas? O povo não está discutindo isso.


Demerval – Em que momento o PT deixou de ouvir as bases?

Plínio
– O PT eram três forças: os católicos, os sindicalistas e os ex-revolucionários. Os católicos não têm formação política, a Igreja os proveu de uma indignação moral contra a injustiça mas não lhes deu a teoria. Não tinham organicidade. Os sindicalistas eram corporativistas. Quem tinha teoria política era a turma que veio da luta armada.


Demerval – Esse pessoal: José Dirceu, Genoino...

Plínio
– Que estavam interessados em ter contato com a massa. Então promoviam assembléia atrás de assembléia. Era o auge das Comunidades Eclesiásticas, da CUT, do MST, das Pastorais da Terra, Associação de Moradores, e tudo isso convergiu no PT. Neste primeiro momento, os núcleos de base eram muito vivos e o povo ficou fascinado por discutir política. Os cristãos e os sindicalistas não conseguiam entender isso e às vezes ficavam indignados. O PT então tinha uma estratégia de dois braços: um era a pressão direta de massas (estende o braço esquerdo) e outro buscava ocupar espaços na estrutura institucional do Estado através das eleições (estica o braço direito). Naquele primeiro momento os deputados do PT viviam aqui (aponta o braço esquerdo). Não tinha greve ou ocupação em que não estivessem à frente. Hoje não se vê deputado do PT em assembléia nenhuma. De 81 a 89 houve um PT aguerrido, voltado para as bases.


Ana Maria – E já com uma participação no poder. Em 88 elegeu Erundina em SP.

Plínio
– Com o tempo esse braço paralisou (encolhe o braço esquerdo) e esse braço cresceu (estica ainda mais o direito). No momento em que se tornou uma alternativa eleitoral, a coisa complicou. Tenho a impressão de que subiu à cabeça a idéia de conquistar o Estado, e através do Estado fazer a transformação. E aí não usaram mais os métodos artesanais, mas os profissionais. Mal interpretado, deu no que deu. Num certo momento, o PT optou por isto. A primeira campanha do Lula, em 89, teve um programa muito forte. Ali realmente desequilibraríamos. Sem dúvida, aquele era um processo de ruptura. Muito difícil. Possivelmente nem terminaríamos o mandato. A decisão de mudar era real em todos os níveis, a começar pela renegociação da dívida.


Ricky – Conseguiria alguma coisa ou era mesmo um sonho de verão?

Plínio
– Alguma coisa, mas a gente cairia. Haveria o embate.


Ricky – Pelo menos cairia de pé e não de quatro, como agora.

Plínio
– Um ano depois, quando fui candidato a governador de SP, eu dizia que era o terceiro turno. Meu filho Plínio, mais inteligente do que eu, dizia: “Papai, mudou tudo. Não vai ter terceiro turno”. Pensaram também que a candidatura de Lula em 94 seria um terceiro turno, mas foi uma coisa morta. Lula estava com 40% e em um mês caiu totalmente. Sua estratégia era a mesma de 89 e não pegava mais.


Ricky – Mas o PT em 89 chegara tão perto do poder, mas tão perto, que provou daquela água e nunca mais esqueceu o gosto. Não queria mais parar de concorrer.

Plínio
– E alguma coisa mudou. Em 98 o Lula chegou a ter dúvidas de que seria candidato. Tive a oportunidade de ter uma longa conversa com ele sobre isso. Vínhamos num avião para Pedro Canário, onde íamos dar uma mão ao José Rainha. Estávamos Vicentinho, João Paulo Magalhães, eu e o Lula, que disse: “Não posso ficar bloqueando os outros nomes do partido... não sei, também se eu perder novamente vou ficar com pecha de perdedor... o que vocês acham?” Eu disse: “O senhor deve ser candidato porque é o único que tem alcance nacional, mas não deve fazer uma campanha para ganhar”. “Como? Uma campanha para perder?!” “Você vai perder de qualquer maneira. E se por acaso ganhar não leva. Faça então uma campanha para denunciar o sistema e para enunciar o socialismo, que nunca foi enunciado para o povo brasileiro. Exponha essas idéias para o povo conhecer.” Me lembro da cara do João Paulo (boquiaberto): “Mas como? Campanha para perder?!” Expliquei: “É evidente que ele não vai chegar na TV e dizer ‘Meus amigos, eu quero perder’. Não estou propondo que seja burro e sim realista. Não vai ganhar agora mas pode plantar para mais adiante.” Lula ficou tão preocupado com isso que reuniu os companheiros mais chegados para discutir o assunto. Foram umas 50 pessoas, no Instituto de Cidadania. Não pude ir e mandei o Plininho, que depois me telefonou: “Ih, pai, tua idéia apanhou que nem vaca na horta! Acharam um absurdo!” Me contaram depois que uma das pessoas da reunião dizia: “Que isso, Lula, pára com isso, é uma estupidez do Plínio. O negócio é marketing! Marketing!”


Ana Maria – Quem falou isso? Por que aconteceu justamente isso!

Plínio
– Não tenho o nome do santo mas o milagre está aí.


Ivan Alves – No documentário Entreatos, Lula faz referência a esta conversa.

Plínio
– Tanto isso foi uma coisa forte que anos depois ainda comenta, revoltado: “Imaginem que um intelectual disse pra mim que eu devia perder!” Lembram da euforia que ele estava no final da campanha? Ali tinham feito a opção pelo marketing e pelo processo normal de chegar ao poder. Fizeram a opção pelo que está acontecendo agora. E isso com que agora as vestais estão horrorizadas, todos os governantes do Brasil fizeram! Todos, sem exceção! Desde Pedro Álvares Cabral, que deve ter pago mensalão para algum cacique!


Ana Maria – O primeiro marqueteiro foi Pero Vaz de Caminha!

Ziraldo
– Estão caindo em cima do Lula como se ninguém mais tivesse feito! Por que alguns faladores estão caladinhos e ninguém quer que se estenda a CPI pra trás?


Claudius – E as privatizações? E as teles? E a reeleição de FH?
Ivan – O PT obteve em 2002 uma formidável vitória eleitoral e hoje está derrotado politicamente. A que você atribui isso?

Plínio
– Tudo tem uma lógica interna. Se opto para chegar ao poder através da eleição tenho que ampliar meu eleitorado entre a classe média. Logo, tenho que tomar cuidado ao falar algumas coisas. Começo a adocicar minha mensagem de tal maneira que eu fale o que o eleitor quer ouvir. O marqueteiro é isso: um especialista em fazer você falar o que o outro quer ouvir.


Ivan – Mas o povo votou por mudanças. Se o PT encarnasse essas mudanças o povo apoiaria.

Plínio
– O povo votou sem saber que a mudança tem um preço. Esse é o drama do Brasil. Não há solução sem um período forte de instabilidade e de grande disputa. Tem que enfrentar o imperialismo e não pagar a dívida. Não pagando a dívida, a inflação sobe. Subindo a inflação, atrapalha o equilíbrio econômico e setores ficarão sem emprego, outros ficarão sem abastecimento. Como é que se enfrenta uma situação dessas? Com o povo do seu lado.


Ricky – Que é a linha Chávez.

Plínio – O Chávez fica lá porque o povo vai pra rua. Mas se você tem 53 milhões de votos conseguidos pelo Duda Mendonça, dizendo “paz e amor, bicho”, qual a segurança que você tem de que o povo vai te agüentar na hora em que você sofrer represálias?

Claudius – O que está faltando não é justamente essa convocação ao povo? O PT seria o único partido capaz de clamar por mudanças. Mas não fez.

Rodolfo Athayde – Já não havia uma acomodação ideológica tal, antes da eleição, que seria impensável qualquer tipo de mudança consistente depois de tomado o poder?

Plínio – Sim. Estas decisões foram tomadas há mais tempo. Tanto que fui convidado para ser da coordenação da campanha de 2002 e não aceitei.

Claudius – O que aconteceu na vida dessas pessoas que tinham uma certa biografia? José Dirceu, por exemplo, que agora está saindo à francesa?

Plínio – Houve uma queda brutal no pensamento socialista. O comunismo acabou e verificaram que na Rússia havia era a pilantragem. Os soviéticos continuavam com sua fé religiosa e de noite rezavam para Rosa de Luxemburgo. Sobrou o quê? O poder. “Para mudar as coisas, vamos para o poder!” Isso matou o partido. É um pouco essa idéia de que os fins justificam os meios.

Ivan – Só que o fim acabou e foi substituído pelos meios!

Ricky – Vale a pena ainda lutar então pelo socialismo?

Plínio – Eu estou mais preocupado em falar umas tantas coisas que precisam ser ditas e em resgatar umas esperanças que precisam ser resgatadas. Principalmente as esperanças das pessoas muito simples. Hoje, vindo para cá, aproximou-se de mim um homem com uma criança no colo e disse: “O senhor é o Dr. Plínio? Ô, doutor, que situação, hein! Confio no senhor, hein!”. Não estou vendo nenhuma revolução socialista amanhã.

Ziraldo – (abraça Plínio) Que maravilha! Setenta e cinco anos e ainda pensa num futuro distante!

Plínio – Se a nossa geração deixar um instrumento político sério para o povo brasileiro, cumpriu seu papel.

Ivan – Você fala muito no efeito do marketing. Mas na verdade o que ganhou a eleição foi a figura do Lula, que encarnou a esperança do povo brasileiro.

Plínio – Ele foi um bom produto, mas criou-se uma esperança infundada. Ninguém pensou que para repartir a terra teria que brigar com o agronegócio, que aí não exporta, caindo então a receita de dólares, e aí não se pode pagar a dívida. Já há aí uma primeira briga. Uma segunda briga seria mexer com o capital imobiliário. Experimenta fazer isso aqui no Rio para ver quem se levantará contra! E a mídia inteira contra? Vai brigar com ela também? Só se transforma esse país com uma tremenda luta e o PT era para preparar essa luta e não para preparar medidas administrativas.

Claudius – E agora, acabou a esperança? Volta o medo?

Plínio – Olha, a minha chapa se chama Esperança Militante. Eu não perco minha esperança de jeito nenhum.

Ricky – Quem é sua chapa?

Plínio – São uns loucos que querem ver esse troço dar certo. Estou com três tendências que são gente finíssima: a Ação Popular Socialista do Ivan Valente, o Brasil Socialista do Bruno Maranhão e o Fórum Socialista do Renato Simões. Estou também com dissidências da articulação de esquerda e um grupo de Minas Gerais chamado Tendência Marxista-Leninista.

Ana Maria – Somados, dão quantos por cento do diretório do PT?

Plínio – Do diretório atual, uns 15%. Mas... (abre seu caderno para uma folha em branco) o PT são 4 ou 5 mil pessoas na sede do partido (desenha um círculo pequeno no centro). Aqui tenho uns 15%. Depois tem o grupo de pessoas que vota sempre no PT, acompanha tudo de política e tal (desenha um círculo maior em torno do primeiro). Os mesmos 15% devo ter aqui. Mas em volta destes todos existem 800 mil filiados que votam (desenha um círculo enorme englobando os anteriores). O discurso que estou fazendo hoje para vocês tem muita entrada no PT. Esse pessoal aqui (aponta para o segundo e terceiro círculos) está indignado com o que está acontecendo.

Demerval – Se você ganhar, o que o PT vai fazer com o Lula?

Plínio – Se eu ganhar será uma revolução enorme. Terá um impacto brutal. O grande esforço do governo Lula, através do Palocci, é o confidence building: construir a confiança dos credores. Se ganha uma pessoa que diz ao JB ser a favor da renegociação da dívida... Não falo em não pagar, mas em ter uma atitude soberana, sentar todo mundo para renegociar, dizendo: “O Brasil precisa dos recursos para atender a sua situação social terrível e para investir em seu crescimento e criar empregos. O que sobrar daí será usado para pagar a dívida”. Se eu ganho, então, a pergunta não é o que o PT fará com o Lula, mas o que o Lula fará com o PT. O efeito será tal que terá que tomar uma posição, pois o PT estará engajado na campanha da renegociação da dívida.

Ivan – Kirchner tomou essa posição e sobreviveu.

Plínio – Eu vou dizer: “Lula, você é o portador da esperança de mudança. Minha vitória é a demonstração de que o partido quer mudança. Oferecemos a você um programa que não é de ruptura, mesmo porque você tem um ano e meio de governo, mas que implica em gestos. Mudar a política econômica é um gesto”.

Claudius – E como o PT vai compor esse governo? Sem as alianças é um partido minoritário.

Plínio – Tem que se desfazer de todas essas alianças. O regime é presidencialista e o presidente pode governar em minoria. Não seria o primeiro a governar sem maioria. Temos uma Constituição. O presidente tem o veto, tem a iniciativa das leis que implicam em gastos e tem a faculdade de requisitar qualquer veículo de comunicação a qualquer momento para falar ao povo. No dia daquela conversa com o Lula eu disse a ele: “O Brasil não precisa de um presidente. O Brasil precisa de um líder. Não se muda uma sociedade com um presidente, mas com um líder sim. De Gaulle era um líder”. Claro, sempre será necessária alguma composição. A política não é só uma ciência, é também uma arte. O problema é ser hegemônico nesse processo. Por exemplo: em 89 tentei trazer o PMDB para apoiar o Lula, mas era o PMDB do Ulysses, do Covas, do Severo Gomes e do Montoro.

Claudius – Esse papel de líder não está muito próximo ao de um ditador? Não é o contrário de tudo o que você está pregando com relação a consultar as bases?

Plínio – Todo processo tem uma figura de liderança.

Demerval – Mas isso não vira uma figura messiânica?

Plínio – Há uma diferença entre líder carismático e líder populista. Lula foi diferente dos líderes populistas brasileiros por sempre ter sido um homem de partido, e de um partido forte. Mas o que está acontecendo agora? Estão deslocando a figura do Lula do seu partido político. É um retrocesso. Lula terá a conexão direta com a massa sem a intermediação de um partido, o que é perigoso. É por isso que o noticiário dos jornais conservadores colocam José Dirceu como o grande vilão da história e preservam o Lula.

Ziraldo – Mas o Lula está se prestando a isso! Vai se candidatar novamente e vai ser reeleito como uma rainha da Inglaterra. Vão impor um ministério a ele. E só daqui a seis anos vamos ter uma luz.

Claudius – Isso seria uma tragédia maior do que perder a eleição.

Ricky – Seria melhor que o PT tivesse perdido em 2002?

Plínio – Não deveríamos ter ganhado em 2002 – e com isto não ganharíamos em 2006 – e neste tempo poderíamos ter construído um líder que chegasse lá com sustentação firme. Uma coisa é chegar ao governo. Outra é chegar ao poder. Não podemos queimar etapas. O que aconteceu com o PT foi que chegou ao governo antes de ter poder. De que adianta chegar ao poder se não tem os elementos para fazer o que considera necessário?

Ricky – Como conseguir esses elementos?

Plínio – Mobilização.

Ziraldo – Por que você não foi pro PSOL?

Plínio – Estão loucos atrás de mim, mas precisamos rever o método de fazer política. Fazer um outro partido através de três ou quatro deputados é continuar no andar de cima. Deveriam estar se preocupando com cursos de formação, em solucionar os problemas de comunicação, mas não, é a eleição, depois outra eleição... Devido ao atual estado emocional do país pode haver uma grande votação mas não haverá uma base. E eles não deveriam ter saído do PT. Tem um grupo inclusive dizendo: “Se o Plínio ganhar eu volto”.

Demerval – Plininho, seu filho, disse que o PT é irrecuperável.

Plínio – As limitações do PT precisam ser vistas dentro do prisma de que este é um país de dois andares (constrói com as mãos um prédio imaginário de dois andares). A política sempre foi privativa da elite. Até 1930, nem passava perto do andar de baixo. De lá para cá, uma facção de cima, para ser governo, passou a ter que ir lá embaixo, conseguir votos e voltar. Com isto já se estendeu a educação e se abriu o funcionalismo para a classe média. O PT é a primeira cabeça-de-ponte que o povo, do andar de baixo, consegue no andar de cima. A primeira com dimensão nacional, para não fazer injustiça com os companheiros que foram torturados nos partidos comunistas anteriores, partidos que fizeram essas cabeças-de-ponte, mas pequenas, não agüentaram. O que era grande no PT era sua heterodoxia, misturando cristãos com comunistas e com sindicalistas, num amálgama autêntica. Dava pau, era doído, mas era autêntico. Isso precisa ser reconstruído. Precisamos primeiro esgotar a experiência petista.

Claudius – Como essa crise é decantada e chega ao andar de baixo?

Plínio – Foi a primeira vez que o povo gestou uma coisa dele. Como coisa do povo, teve os defeitos do povo, mas sentiram que era alguma coisa a ver com eles. Temos dificuldade em perceber isto porque um homem do povo fala conosco como se fôssemos girafas. Seus padrões de julgamento não são os nossos. Outro dia a direção dos sem-terra estava em casa comigo discutindo: “Mas o Lula tem coragem de dar um aumento de R$ 6!”. Aí um caboclinho da base, que tinha vindo com eles, falou: “Pô, mas R$ 6 é uma grana, meu!”.

Demerval – Você falou que sua eleição influenciaria o Lula a tomar algumas atitudes, mas é possível realmente haver uma volta deste governo às origens do PT, com esses compromissos que já assumiu na política econômica e na política externa? Não é uma visão romântica?

Plínio – Você vai numa estrada. Tem uma encruzilhada. Escolhe um rumo e anda por dez quilômetros até perceber que está no caminho errado. O que você faz? Volta. Durante o tempo que gasta voltando, poderia estar andando no caminho certo, mas a única maneira é voltar para a encruzilhada e refazer seu rumo. A possibilidade de avanço que o Lula tinha com 53 milhões de votos está perdida, não existe mais. Mas se fizer um ou dois gestos pelo menos estará marcando um rumo, menor, é verdade, mas evitando seguir no caminho errado. A grande massa que votou nele ainda tem uma imensa confiança nele.

Fonte: Jornal do Brasil

quinta-feira, 14 de julho de 2005

REPÚDIO AO PESACRE

Prezado Altino!

Embora nem seja da ADUFAC, recebi esta nota e ainda estou perplexo. Por isso, peço-lhe o favor de dar publicidade ao assunto.

Atenciosamente,

Marcos Vindin

PS: Apesar de não conhecer você ainda, costumo tomar o primeiro café em seu sitio.

Eis a nota:

Pelo direito ao trabalho, à vida e à crítica


Até onde sabemos, as malas estão longe do Acre. Os “jefersons, dirceus, valérios, valdomiros, delúbios...”, também. Mas, estamos no Brasil, e, lamentavelmente, não é só o Planalto Central que encena episódios do que poderíamos chamar uma “República” inconclusa. No reino encantado da floresta, o autoritarismo transcende os domínios dos três poderes e se aloja candidamente na esfera da sociedade civil, mais precisamente em organizações teoricamente comprometidas com os segmentos sociais subalternos. Referimo-nos em particular a uma ONG, o PESACRE, cujas origens estão ligadas à UFAC. O PESACRE, em atitude no mínimo reprovável, demitiu uma de suas técnicas justificando “incompatibilidade ideológica”.

Marineide da Silva Maia, técnica, engenheira agrônoma e aluna da Universidade Federal do Acre, junto ao Curso de Especialização em História – Cultura, Natureza e Movimentos Sociais na Amazônia –, em seu trabalho junto ao PESACRE – e agora, longe de lá – vem ousada e corajosamente pondo-se a serviço das trabalhadoras e trabalhadores do campo e da floresta. Mais especificamente, tem desenvolvido importante trabalho junto a camponesas e camponeses do Movimento dos Pequenos Agricultores no Acre, articulando sua capacidade técnica com o comprometimento político e crítico, tão caro ao papel da Universidade Pública Brasileira.

Ironicamente, a crítica construída junto à Universidade Federal do Acre foi alijada da relação à qual a Universidade busca construir: a relação com a sociedade mais distante dos privilégios, do mando e do poder, por um ato político, facista e autoritário do PESACRE, em que permeiam as relações de trabalho e em função, reafirmamos, de uma certa “incompatibilidade ideológica” de Marineide. Como entidade crítica, a ADUFAC deve, além que repudiar tal ato, persistir na luta pela construção da autonomia intelectual e responsabilidade social da Universidade Brasileira, como requisito fundamental no engajamento por uma sociedade em que os Movimentos Sociais sigam sua tarefa histórica de transformação.

Também, ironicamente, o PESACRE, ao demitir pela justificativa de “incompatibilidade ideológica” pela relação orgânica que Marineide estabelece com as mulheres e homens trabalhadores do campo e da floresta, parece se esquecer que a origem de muitas ONGs no Acre – e seu papel – foi dada por um dos mais expressivos Movimentos Sociais do Brasil e do mundo: o Movimento Seringueiro, o Movimento dos Empates. Não fosse ele, talvez as organizações não-governamentais de “defesa da natureza”, hoje, estariam longe daqui ou mesmo nem existissem.

Nesse sentido, a demissão de Marineide não apenas atinge o trabalho sério e crítico da Universidade Pública, e sim o que há de mais importante e significativo no atual campo de luta política no Brasil, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, uma vez que o Movimento dos Pequenos Agricultores tem relação direta com o MST. O PESACRE, assim, “demite” de seu campo também milhares e milhares de mulheres e homens da terra, que devem ser os sujeitos centrais de qualquer organização de defesa da floresta, do trabalho e da vida.

A Associação dos Docentes da Universidade Federal do Acre – ADUFAC –, em respeito e em solidariedade à mulher, companheira e aluna Marineide da Silva Maia, manifesta seu profundo desagravo e repúdio ao ato autoritário, preconceituoso e discriminatório executado pelo PESACRE. Nesse mesmo sentido, a ADUFAC reafirma seu compromisso com a crítica, a liberdade – em especial de atuação e expressão – e o apoio irrestrito a todas e a todos que lutam por uma vida melhor, principalmente próximos àquelas e àqueles historicamente alijados do poder mas que, ousada, livre e fraternalmente, tem se organizado e EMPATADO os mandos e os desmandos governamentais e não-governamentais.

Rio Branco – AC, 12 de julho de 2005.

ADUFAC
(Moção aprovada em Assembléia Geral)

quarta-feira, 13 de julho de 2005

BANDA LARGA

Uma dica para quem é assinante no Acre do serviço adsl da BrasilTelecom: ligue para o 103 e peça para aderir ao plano de fidelização com prazo de dois anos de duração.

No meu caso, por exemplo, como usuário da central 3228, a tarifa do serviço vai baixar de R$ 79,90 para R$ 59,90.

Em ambiente monopolizado pela BrasilTelecom, achei compensadora a opção, embora esteja sujeito a pagar multa de R$ 120,00 em caso de quebra de contrato.


O plano de fidelização foi uma recomendação da Anatel às operadoras de telefonia, mas nem todas as centrais telefônicas possibilitam a adesão de seus usuários.

Em Brasília, apenas duas centrais telefônicas estão habilitadas a operar o plano de fidelização. Nenhuma em São Paulo, por exemplo.


Os descontos também variam de acordo com cada central telefônica. Um amigo de Porto Velho que passou a dica teve a conta reduzida de R$ 79,90 para R$ 49,90.

Como o plano de fidelização tem impacto na receita das operadoras, elas evitam a sua divulgação.

Preferem apresentá-lo quando o cliente telefona disposto a cancelar a assinatura do serviço de banda larga por causa do preço ou motivado por outra insatisfação qualquer.

Ligue djá pro 103! É uma boa opção para quem não está na lista do mensalão ou não possui malas e cuecas carregadas de dólares e reais.

terça-feira, 12 de julho de 2005

TERRA PROMETIDA


Enquanto isso, não havia carro nem pessoal para prestar socorro a uma trabalhadora.

Na volta para Rio Branco, no começo da noite, encontrei em chamas o pasto da camponesa Dulcilene Gurgel, na margem esquerda do ramal de acesso à usina da Alcobrás, na BR-317.

Dona Dulcilene, que tentava conter as chamas com ajuda de um jovem e três anciões, contou que o fogo começou ao meio dia:


- Certamente foi algum vagabundo que tocou fogo no meu pasto. O gado está em pânico no meio do fogo. Já chamamos o Corpo de Bombeiros, mas até agora ninguém apareceu. Meu medo também é que o fogo atinja a usina da Alcobrás. Avisamos o pessoal da Vigilacre, que cuida da usina, mas eles disseram pra gente não se arriscar tentando apagar o fogo caso ele atinja a área da usina - relatou.

Avisei ao pessoal do posto da Polícia Militar mais próximo, que demonstrou pouca sensibilidade:

- Vou comunicar pelo rádio, mas vai ser difícil o Corpo de Bombeiros vir até aqui. O senhor sabe se lá tem algum igarapé para que possam abastecer o caminhão com água?

- Não sei - respondi.

Ao chegar ao Quinari, telefonei para um amigo ponto gov, que prometeu tomar providências.

ZONA LIVRE


Passei o dia em Brasiléia e Cobija, na Bolívia, onde um maldito automóvel se interpôs, às 16h56, quando tentei tirar a foto de uma sacoleira que foi aguardada por mais de 20 minutos, em carro da Polícia Civil do Acre, na porta de uma loja da Zona de Livre Comércio da capital do departamento de Pando.

A mulher, que foi levada cedo no mesmo carro, demorou tanto nas compras que o delegado Mardilson Vitorino teve que descer do carro para buscá-la na loja.

As sacolas de muambas foram acondicionadas pela mulher no bagageiro do carrão que pertence ao serviço público.

Para anotar o número da placa da "viatura", dê um clique sobre a foto.

segunda-feira, 11 de julho de 2005

MAIOR ERRO

O governador Jorge Viana declarou à Agência Estado que o maior erro do PT ao assumir o governo federal "foi estabelecer uma relação política buscando construir maioria jogando o jogo dos adversários históricos, da política tradicional brasileira, no campo do adversário, com as regras do adversário".

Comentário meu:

O jogo dos adversários que o PT sempre denunciou foi o jogo da corrupção. No poder, dava para ter deixado de lado a obsessiva cantilena da governabilidade e seguir na luta sem uma cueca borrada.

A metáfora usada por Jorge Viana é muito boa. Ele é um dos poucos expoentes do PT a admitir publicamente que o partido estava mergulhado no pântano da corrupção.

Vamos ver o que ainda existe para emergir de lá.

domingo, 10 de julho de 2005

ADEUS ÀS ILUSÕES

Luiz Francisco de Souza, procurador que denunciou irregularidades na gestão FHC e já foi filiado ao PT, diz se sentir revoltado com o governo Lula

"Quando os políticos brigam, o país ganha"

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ex-petista de carteirinha, mas ainda petista de coração, Luiz Francisco de Souza, procurador da República em Brasília, está surpreso e "revoltado" com as denúncias que envolvem a cúpula do PT e o governo Lula.

Para ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja demais e deveria dar mais atenção ao país.

"O governo contrariou a história do PT e traiu a confiança de milhões de brasileiros, que esperavam um pacote de projetos de leis anticorrupção, ampliação de direitos trabalhistas, auditoria da dívida pública e investigação sobre privatizações. A cúpula do PT, responsável por isso, deveria ser afastada do partido e do Estado."


Souza é um dos mais controvertidos procuradores da República do país. Ex-militante filiado ao PT, foi o responsável pela gravação de conversa do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) a respeito da violação do painel eletrônico do Senado que resultou na renúncia de ACM.


Travou um embate público com Eduardo Jorge Caldas Pereira, o EJ, ex-secretário-geral da Presidência da República no governo Fernando Henrique (1995-2002), a quem investigou por corrupção, sem encontrar provas. E processou o banqueiro Daniel Dantas, dono do grupo Opportunity.


Para o procurador, o país só se beneficia com investigações sobre os governos: "Quando os políticos brigam, o país ganha, pois os corruptos de todos os lados são nominados e apontados. Então, ganha o Brasil em luzes e transparência. Tenho medo é que façam acordos secretos, nos bastidores".


A seguir, os principais trechos da entrevista que o procurador concedeu à Folha.


Folha - O presidente Lula é conivente com o processo de corrupção que envolve o PT?
Luiz Francisco de Souza - Até agora, não vejo ligação com Lula. Até pode ser dito que ele, como presidente, deveria ter cuidado mais do país, vigiado mais, dedicado umas dez ou 12 horas ao expediente.

Folha - O que ele deveria fazer nesse momento?
Souza - Parar de viajar e enviar um pacote de projetos de leis contra corrupção, lavagem de dinheiro e sonegação. Aumentar as penas contra corruptos e malversadores e permitir que qualquer cidadão possa processar por improbidade. Hoje, apenas o Ministério Público pode [processar], há um monopólio errado. Deveria banir os foros privilegiados e as prisões especiais, extinguir o Refis [Programa de Recuperação Fiscal], acabar com a extinção da punibilidade para os sonegadores que pagam os tributos sonegados, ampliar o Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras], que hoje tem apenas uns 30 servidores, quando deveria ter uns 3.000 ou mais, abrir o TCU [Tribunal de Contas da União] e todas as investigações e não permitir mais ministros escolhidos pelo Palácio.
Os ministros devem ser velhos servidores que trabalharam ali por 20 anos ou mais, essa deveria ser a regra. Deveria ainda diminuir o sigilo bancário, retirar dos cargos todas as pessoas suspeitas e diminuir os cargos comissionados, que hoje são cerca de 23 mil quando bastaria que fossem cerca de 500.

Folha - O sr. ficou surpreso com o número de denúncias no governo petista?
Souza - Fiquei surpreso e revoltado. A cúpula do PT centralizou tudo na Casa Civil. O Lula manteve-se afastado e desinteressado, viaja demais, então, o grupo de José Dirceu [ex-ministro da Casa Civil] geria milhões de reais da arrecadação do PT. Acho que essa centralização é uma das causas fundamentais da crise. E também há as coligações com pessoas que tinham acusações de irregularidades, como o deputado Roberto Jefferson [PTB-RJ], Romero Jucá [ministro demissionário da Previdência], [Henrique] Meirelles [presidente do Banco Central] e outros. Abri o caso contra Meirel- les, representei contra Romero Jucá, contra Gilberto Gil [ministro da Cultura], que gastou mais de R$ 9 milhões em reformas em quatro andares, sendo que R$ 3 milhões foram com o ar-condicionado, o que é imoral.

Folha - Como o sr. vê todas essas denúncias envolvendo o PT?
Souza - Estou gostando muito. O que me irrita e entristece é quando eles vivem de conluios e acordos secretos, como os que ocorreram na CPI do Banestado. Quando os políticos brigam, o país ganha, pois os corruptos de todos os lados são nominados e apontados. Então, ganha o Brasil em luzes e transparência. Tenho medo é que façam acordos secretos, nos bastidores, como acho que fizeram na CPI do Banestado.

Folha - Quem da direção do PT deve ser afastado imediatamente?
Souza - Toda a Executiva do partido e todos os ministros e autoridades suspeitas, como querem o deputado Chico Alencar [PT-RJ], o senador Pedro Simon [PMDB-RS], a senadora Heloisa Helena [PSOL-AL] e outros parlamentares éticos.

Folha - O presidente do PT, José Genoino, afirma que assinou, sem ler, um documento para empréstimos ao partido [no qual o avalista é o publicitário Marcos Valério, acusado de operar o "mensalão"] em confiança a Delúbio Soares [tesoureiro afastado do PT]. O que o sr. acha disso?
Souza - Ninguém assina documentos sem ler. Isso não existe.

Folha - Como está a investigação do suposto "mensalão"?
Souza - O caso do "mensalão" está com o procurador-geral da República e alguns procuradores da Procuradoria da República no Distrito Federal. Eles estão avançando, já quebraram o sigilo da GTech [empresa que gerencia loterias federais] e o caso está avançando...

Folha - Roberto Jefferson tem sido visto como o grande denunciador da corrupção no PT. Mas é fato que ele admitiu ter recebido dinheiro do partido para ajudar na campanha, via fontes não-oficiais. Qual a sua avaliação sobre as denúncias que ele faz?
Souza - Roberto Jefferson era do grupo de Collor [ex-presidente Fernando Collor de Melo], o que já é dizer muito. Ele usa a tática do gambá. Quando um gambá vai atacar um galinheiro e os cachorros o farejam e saem à sua busca, o gambá vai espalhando mau cheiro em todos os lugares para desviar a atenção do cachorro que tem seu faro atrapalhado. A CPI dos Correios pode atingir em cheio Roberto Jefferson, então, ele fala do "mensalão" para desviar a atenção. Não acho que minta em tudo, acho que tem "mensalão" mesmo e nisso ele prestou serviço ao país, mas as investigações sobre os Correios e sobre o IRB precisam ser duras, pois não se pode aceitar tática de despiste. Roberto Jefferson merece elogios por ter falado sobre o "mensalão", mas deve ser investigado com rigor, ele e o PTB, no caso da ECT e do IRB.

Folha - Em que outros órgãos e entidades há corrupção?
Souza - Os Correios são um pântano, mas o IRB [Instituto de Resseguros do Brasil, órgão em que ex-dirigentes são suspeitos de integrar um esquema de arrecadação de dinheiro para partidos políticos] deve ter ainda mais corrupção e justificava a abertura de CPIs. A CGU [Controladoria-Geral da União] está investigando tanto a ECT [Empresa de Correios e Telégrafos] como o IRB. Espero que a CPI faça uma faxina nessas entidades.

Folha - Considerando as denúncias feitas até agora, o que deve ser investigado primeiro? Por quê?
Souza - Os Correios. Porque, volto a repetir, é mesmo um poço de corrupção, de contratos escusos. A Petrobras, se for investigada, espero que vejam as centenas de dispensas de licitação no outro governo também [FHC], pois praticamente não havia licitações. Espero que aumentem as penas contra corruptos, terminem com a prerrogativa de foro para improbidade, aumentem o poder de investigação do Ministério Público, dêem mais poder para a imprensa, para que possa requisitar documentos, ter acesso ao Siafi [sistema de acompanhamento dos gastos federais]. E espero que quebrem o sigilo bancário de uns cem parlamentares, mais seus assessores e familiares. Espero que investiguem também Ricardo Sérgio e os tesoureiros de outros partidos.

Folha - O sr. acredita que a reforma política pode resolver ou diminuir a atual crise?
Souza - Sim, com o financiamento público das campanhas eleitorais e também com o fim das reeleições, ou seja, uma emenda constitucional que possa abolir o "instituto da reeleição", para os cargos de presidente, governador e prefeito e isso já para o ano que vem. Dessa forma, Lula deixaria de ser um alvo e o debate poderia cingir-se à descoberta e punição de corruptos, tal como estabelecer normas melhores para punir a corrupção no país.

Folha - Quem deve ser investigado no governo do PT por corrupção? Por quê?
Souza - Delúbio [Soares], José Dirceu, Genoino e outros que centralizaram o poder nas mãos e praticaram atos que a maioria do PT desconhecia. Mais, Meirelles, Romero Jucá, Eunício [Eunício Oliveira, ex-ministro das Comunicações] e outros. Por mim, instalavam a velha CPI da Corrupção, abarcando casos dos carlistas, do grupo de Jader Barbalho e de EJ, do "mensalão"... Poderiam ser até duas comissões, uma na Câmara e outra mista ou bastava a mista. E espero que ponham para funcionar a CPI das Privatizações, dos Bingos, da Privatização do Sistema Elétrico, e que abram também a CPI da Reeleição e da Dívida Pública.

Folha - Qual a fonte de corrupção no Brasil?
Souza - O financiamento privado das campanhas; as regras complacentes de licitação; o sigilo comercial e bancário exacerbado; a impunidade que alimenta tudo; os prazos pequenos de prescrição; a prescrição retroativa; a morosidade judiciária por conta do excesso de recursos, da escassez de magistrados e de membros do Ministério Público Federal, tal como de policiais federais, de auditores da Receita Federal. Também o abismo social, pois somos o país com mais desigualdade social e econômica; o analfabetismo funcional; a falta de transparência do Estado, o Siafi deveria estar disponível a todos; e outras causas, como a existência de trustes e cartéis que permitem a burla das licitações por conluios.

Folha - O brasileiro acusa o político de corrupto, mas muitos corrompem o guarda de trânsito. A corrupção é generalizada? Por que?
Souza - A corrupção é generalizada, especialmente entre parte do empresariado que vive sonhando em comprar servidores públicos. Como têm muito dinheiro e os servidores ganham pouco... O Estado é burocratizado. O analfabetismo é real e funcional. Temos a maior desigualdade social do planeta, junto com a maior taxa de juros, os maiores latifúndios e a maior taxação sobre ganho de capital.

Folha - O sr. pode comparar as acusações de corrupção do governo Lula com as do governo FHC?
Souza - Corrupção é corrupção e deve ser combatida em qualquer governo, sem considerar as cores partidárias. A corrupção no governo FHC atingiu vários bilhões de reais, especialmente com a privatização de mais de cem estatais, o estabelecimento de prerrogativa de foro para improbidade administrativa, o acréscimo de formas de extinção de punibilidade nos crimes fiscais e a criação do Refis, a recriação de prerrogativa de foro para ex-prefeitos e secretários estaduais, a decuplicação da dívida pública interna e a duplicação da dívida externa, o escândalo do Banestado envolvendo principalmente o banco Araucária ligado a políticos do PFL, o escândalo da reeleição e a forma como foi feita a desvalorização cambial após ser mantido o real sobrevalorizado e ainda outras dezenas de casos.

Folha - E a corrupção no governo Lula?
Souza - A corrupção no governo Lula nasce da manutenção das mesmas estruturas, especialmente da política econômica. A cúpula do PT, a mesma que está sob fogo, foi conivente na CPI do Banestado, no caso da GTech, dos Bingos e bloqueou projetos importantes como o estabelecimento da lista tríplice para escolha do PGR [Procurador Geral da República], manteve e ampliou o Refis, fizeram uma reforma da Previdência contra os idosos, manteve os foros privilegiados e ainda ampliou no caso de Meirelles e atrapalhou o Ministério Público ao negociarem um regulamento que impede os membros de investigarem crimes "ex officio", ou seja, quem achar que tem algo errado não pode investigar, deve enviar à distribuição o caso e houve outras desgraças. Ao fazerem isso, contrariaram a história do PT e traíram a confiança de milhões, que esperavam um pacote de projetos de leis anticorrupção, a ampliação dos direitos trabalhistas, a auditoria da dívida pública, investigação sobre privatizações. Acho que é menor, mas a cúpula do PT, responsável por isso, deveria ser afastada do partido e do Estado.

Folha - No Brasil, o corrupto vai para a cadeia? Por quê?
Souza -Corruptos ricos dificilmente vão para a cadeia. Por quê? Por causa das penas pequenas, dos prazos prescricionais pequenos e da demora na tramitação dos processos. A demora ocorre pois num processo apenas pode haver dezenas de recursos. Então, a Polícia Federal, que é pequeníssima em número, demora de dois a três anos para investigar, os magistrados, também em número ínfimo, demoram de dois a três anos para julgarem os processos e depois há os recursos para os TRFs [Tribunais Regionais Federais], que demoram seis anos ou mais para julgarem uma apelação de quatro páginas. Após seis ou sete anos no TRF, há recurso para o STJ [Superior Tribunal de Justiça] e para o STF [Supremo Tribunal Federal] e ali os recursos demoram mais cinco ou até dez anos para serem julgados. Então, ocorre bem antes disso a prescrição. Para evitar isso, é preciso que o STF fique restrito ao papel de Corte Constitucional como ocorre nos Estados Unidos ou na Europa, que acabem os foros privilegiados e as prisões especiais, ampliem as penas para os crimes contra o patrimônio público, ampliem os prazos de prescrições e que o número de recursos diminua. A ampliação da Polícia Federal, do MPF, do Judiciário, da Receita, do Coaf, que deveria ter escritórios em cada capital, da CGU, dos auditores do TCU e outros fiscais, é o ponto mais importante, com o aumento do poder de investigação desses agentes, das sanções a serem aplicadas.

Folha - O que as CPIs devem fazer para ampliar as chances de encontrar corruptos?
Souza -O sigilo da GTech deveria ser quebrado o quanto antes, pois pode haver depósitos nas contas de agentes públicos. Isso no caso dos bingos. No caso do "mensalão", seria importante que a CPI mista requeresse dados fundamentais para cada parlamentar, seus assessores e seus familiares. Se quiserem fazer uma faxina deveriam estender isso a todos os membros do Judiciário e do MPF.

Fonte: Folha de S. Paulo