segunda-feira, 31 de março de 2008

"MATARAM OS IDEAIS DO CHICO"


Ilzamar Mendes, a viúva do líder sindical e ecologista Chico Mendes, faz uma dura avaliação no momento em que o virtual Comitê Chico Mendes, o PT e o "governo da floresta" do Acre começam a "comemorar" os 20 anos do assassinato do seringueiro de Xapuri. "Essas pessoas mataram os ideais do Chico", afirma a presidente da Fundação Chico Mendes. Eis a entrevista:

Chico Mendes vive?
Eu acredito que quando é pra usar a imagem do Chico, ele vive. Os ideais verdadeiros do Chico ainda existem nos corações e nas mentes das pessoas, dos seus verdadeiros companheiros, mas, infelizmente, hoje eles não têm voz nem vez na política estadual ou federal.

Por que acontece isso?
Infelizmente as pessoas que estão no poder mudaram muito seus pensamentos, seus ideais. Na verdade, o pensamento, a posição, os ideais do Chico, eram outros que, como acabei de falar, infelizmente são esquecidos.

Qual o ideal do Chico Mendes que morreu?
Chico lutava pela vida, pela preservação da Amazônia. Infelizmente tenho que dizer que o que se vê é a destruição da nossa Amazônia. As nossas madeiras, as nossas florestas, estão sendo destruídas. Eu dou como exemplo o seringal Cachoeira, entendeu? Foi o berço, onde o Chico começou a ser perseguido mesmo, onde começou a sua luta em defesa e hoje se você for lá vai constatar que o seringal Cachoeira está completamente destruído. Transformou-se em fazenda. Para sobreviver, os colonos são obrigados a vender as madeiras, as suas terras porque não existe uma política para ajudar os colonos, ribeirinhos.

A ministra Marina Silva, o ex-governador Jorge Viana e o atual governador Binho Marques. A conquista do poder não significou avanços?
Tenho que falar, e não estou falando só por mim, mas dos companheiros do Chico com os quais ainda tenho contato. Infelizmente, essas pessoas, que conviveram lado a lado com o Chico, que eram sabedoras dos seus ideais, da sua luta, infelizmente mudaram seus pensamentos. Hoje, o que é importante para essas pessoas é o poder e não os ideais do Chico. Fazem qualquer coisa para se manter no poder. Companheiros que realmente estavam lado a lado com o Chico não têm voz para dizer para estas pessoas o que eles necessitam. Hoje o que se vê são pessoas dentro de seus gabinetes, no ar-condicionado, fazendo o que bem entendem, mas não vão ouvir o que a população carente necessita.

Como seria tratado alguém que surgisse hoje com as mesmas atitudes do Chico Mendes?
Eu teria até pena. Fariam qualquer coisa para eliminar essa pessoa. Mas elas existem. Se não são ouvidas, se não têm voz, é porque as pessoas que estão no poder não dão voz a essas pessoas. Mas ainda existem pessoas que querem dar continuidade aos ideais do Chico e que não têm voz e não são ouvidas.

Estamos completando 20 anos do assassinato do Chico Mendes. Fala-se muito em comemoração...
Eu daria até um recado a essas pessoas: que não são 20 anos de comemoração, mas de avaliação dos 20 anos, porque os verdadeiros ideais do Chico estão esquecidos, não existem mais. Que este seja um ano de avaliação e que estas pessoas que estão no poder hoje se lembrem verdadeiramente, com humildade, dos ideais do Chico, que não era o de fazer qualquer coisa para se manter no poder, mas sim defender a vida dos mais humildes, levar escola, educação, alimentação e ser igual a todo mundo, sem poder para meia dúzia de pessoas, esquecendo dos que realmente defendem a Amazônia, que realmente precisam sobreviver porque são elas que realmente sabem como tratar a floresta. Que estes 20 anos sirvam para que as pessoas possam avaliar isso. Para mim, que fui companheira do Chico, é, ainda, um ano de muita tristeza porque infelizmente os ideais do Chico foram esquecidos.

Você acha que é possível mudar ou existe uma tendência de esquecimento mesmo?
Eu, após 20 anos da morte do Chico, não tenho mais esperança. É uma tendência de esquecimento mesmo. O Chico vai ser lembrado sempre em comemoração, para que as pessoas possam aparecer, mas quanto aos ideais dele não tenho mais nenhuma esperança.

O governo do Acre e o Comitê Chico Mendes estão planejando uma série de eventos em memória desses 20 anos. Você tem participado disso, tem sido consultada?
Eu quero deixar bem claro aqui: no governo do Jorge Viana eu ainda era convidada a participar de alguma coisa, mas no governo do Binho Marques eu fui eliminada, assim como outros companheiros. Não sou convidada a participar de nada. Para você ter uma idéia: participei do Prêmio Chico Mendes porque a Elenira, que faz parte do Instituto Chico Mendes, chegou para mim e falou: "Mãe, você não foi convidada, mas você tem que participar". E eu entrei de bicão porque não me convidaram. Fui e participei, mas não fui convidada. Infelizmente eu ou os companheiros do Chico, que conviveram com ele lado a lado, nós não somos convidados para discutir qualquer situação.

Como você, presidente da Fundação Chico Mendes, lida com a imagem do Chico Mendes?
A imagem do Chico é muito importante, mas vou ser sincera: eu preservo mais os ideais dele. Isso é o que é mais importante. O Chico deu a vida dele por uma causa justa, em defesa da vida, da Amazônia. Acho que é essa a nossa luta e s pessoas que estão no poder têm que começar a ouvir a gente. Eu fico muito triste quando vejo pessoas que hoje estão no poder, que conviveram lado a lado com o Chico, inclusive comigo muitas vezes fazendo almoço, janta, dando apoio a essas pessoas. Tenho que ressaltar aqui: pessoas que colocavam mochilinhas nas costas, que não tinham como pagar uma refeição e que tinham o apoio meu e do Chico para dormir ou fazer uma refeição. Hoje esquecem disso e fazem qualquer coisa para ficar no poder. Procuram eliminar de qualquer forma tanto eu como os companheiros dele, porque a nossa posição é essa. Hoje, a política do Acre está voltada para a pecuária. Quem não lembra do fazendeiro Darli, que queria destruir o seringal Cachoeira, que o Chico organizou os seringueiros para impedir que fosse transformado em pasto para criar boi? Na minha opinião a política no Acre está mais voltada para a pecuária do que em defesa da vida, dos seringueiros, da Amazônia.



A pecuária é a atividade prioritária no governo da floresta?
Infelizmente essa é a minha opinião. E se você for conversar com outros companheiros do Chico, vai encontrar a mesma opinião. Acho que a política do Estado está voltada pra pecuária. E o que é a pecuária? É a destruição - criar pasto e criar boi. Se você voltar 20 anos atrás, você vai ver qual era a verdadeira luta do Chico.

O que você considera um erro do Chico Mendes?
Ter confiado em algumas pessoas. O Chico confiou em algumas pessoas e infelizmente ele morreu. Pessoas que o traíram e que na época já tinham a intenção de trair.

E como o PT se comporta em relação a isso?
Eu vou falar do Chico político. O Chico, se fosse vivo, não estaria no PT. Dias antes do assassinato, fui comunicada de que ele estaria pedindo a desfiliação do PT e iria se filiar no PV. Ele não estaria no PT hoje.

Você sente por parte das lideranças do PT que atuam dentro do governo do Acre cerceamento do movimento social em defesa da floresta?
Existe um grupo de pessoas que tentam controlar, que eliminam de qualquer jeito as pessoas que têm posições contrárias. Fazem isso para se manter no poder.

Nesta semana a imagem de Chico Mendes passou a figurar no topo da primeira página do Diário Oficial do Acre. Além disso, todos os impressos do governo estadual reproduzirão a mesma imagem. Isso contribui para firmar os ideais dele?
Não. É mais uma imagem sendo usada em vão. Os ideais do Chico realmente não são postos em prática. É a imagem sendo usada. Por quê? Porque a imagem do Chico vai dar poder a alguém. Os ideais dele morreram para essas pessoas. Não morreu para mim nem para os companheiros do Chico, mas para essas pessoas morreu.

Ou como você me disse ontem...
Essas pessoas mataram os ideais do Chico.

Como você vê o desempenho de sua filha, a Elenira...
Vou dizer isso a você em primeira mão: orgulho-me da Elenira porque vejo hoje o que o Chico pediu para mim há 20 anos atrás: que a Elenira desse continuidade à luta que o pai dela não iria conseguir vencer. O que vejo na minha filha é isso. Tenho certeza de que minha filha, em nome de Jesus, vai ter força, vai vencer e dar continuidade aos ideais do pai dela. E eu vejo nela a pessoa que vai ter condições de resgatar esses ideais que para muitas pessoas morreram.

É pelo fato de falar mesmo quando decide falar que você parece causar tanto mal-estar em antigos companheiros do Chico?
Essas pessoas podem querer achar que são os donos da imagem, que são os donos do Chico, mas eu tenho uma coisa que essas pessoas não têm: eu fui companheira, fui a esposa, e sou a mãe dos filhos dele. E foi no meu colo que o Chico deu o último suspiro. Então eu sei, porque era comigo, apesar de quem está no poder hoje não reconhecer e não aceitar isso... Eles conhecem o Chico líder, político, mas o Chico político e homem quem conhece sou eu.

Alias, ouvi do jornalista Elson Martins que você deveria ser respeitada pelo menos por ter sido a mulher que o Chico amou.
Exatamente.

Você acha que o Acre vê na figura do Chico Mendes o mito que ele é no plano internacional? Ou ele continua sendo alvo de preconceito e intolerância?
Existem grupos onde ele continua sendo alvo de preconceito, mas algo que nos deixa felizes é que todo ano, em época de vestibular procuram à gente porque a vida e a luta do Chico estão sempre presentes, está sempre formando os ideais dele em pessoas que depois possam dar continuidade. Para muitos a imagem do Chico é importante para o mundo, para o Brasil, em defesa da Amazônia, da vida.

Os governos petistas tentam nos fazer acreditar que os fazendeiros se alinharam ao discurso de defesa da Amazônia, da sustentabilidade. Você acredita nisso?
Eu não acredito. Sabe por que as pessoas sempre falam isso? É porque na época de eleição são os fazendeiros e madeireiros que financiam as candidaturas. Mas essas pessoas não são o progresso. Elas não são defensoras da vida. Essas pessoas são a destruição. Na verdade os seringueiros, as pessoas mais humildes, elas só são lembradas na época do voto. Elas não têm condições financeiras para financiar nada.

Quero agradecer pela entrevista, sobretudo após você ter recusado uma para o documentário que a TV árabe All Jazeera prepara sobre a história de Chico Mendes. Por que você recusou?
Eu não acredito em muitas pessoas. Eu preciso estar segura das pessoas sérias, das pessoas que vão realmente divulgar o meu pensamento, do que eu acho. É muito difícil eu dar entrevista. A Veja me liga oferecendo espaço e eu tenho sempre me mantido calada. Mas chega uma hora que a gente tem que falar, tem que falar, é preciso. Eu acredito muito num outro plano e o Chico está lá. Uma hora nós vamos nos encontrar e uma hora eu vou ter que chegar para ele não se envergonhar de mim e dizer que eu fiquei aqui e defendi. Hoje eu penso dessa forma.

sábado, 29 de março de 2008

HERDEIROS DE CHICO MENDES


Estive ontem e hoje na companhia da família -a viúva Ilzamar, os filhos Elenira e Sandino, e a neta Maria Luisa- do seringueiro, líder sindical e ecologista Chico Mendes cujo assassinato, ocorrido em Xapuri, completará 20 anos em dezembro.

Embora tenha recusado na semana passada uma entrevista para o documentário que a TV árabe All Jazeera prepara sobre a história de Chico Mendes, Ilzamar abriu o coração numa entrevista exclusiva para este blog.

Ela afirma que os ideais de Chico Mendes foram mortos por antigos companheiros do seringueiro, mas está vivo nos corações e mentes de pessoas que não têm voz e vez na política dos governos federal e estadual.

- Quando é para se usar a imagem do Chico, ele vive. Seus antigos companheiros hoje fazem qualquer coisa para ficar no poder. A política do Acre está voltada para a pecuária, que significa a destruição.

Perguntei o que Ilzamar considera um erro de Chico Mendes. Ela respondeu que foi o de ter confiado em algumas pessoas.

- Chico confiou em algumas pessoas e infelizmente ele morreu. Pessoas que o traíram e que na época já tinham a intenção de trair.

A entrevista com Ilzamar Mendes tem 20 minutos de duração e será publicada aqui, sem edição, na segunda-feira. Causará incômodo a muita gente, especialmente no ano em que está sendo organizada uma programação para "comemorar" os 20 anos do assassinato do seringueiro.

Alguns trechos da entrevista exclusiva com Ilzamar Mendes estão no vídeo abaixo.

sexta-feira, 28 de março de 2008

REENCONTROS



"
Prezado Amigo Xará,

Há dias enviei-lhe, por e-mail, três contos - "A Grande Luta", "Stella!", e "A Figura Refletida", - para serem publicados um de cada vez, é claro, como você disse que o faria.

Agora vai um exemplar de "Reencontros", meu quinto livro de contos. Dos quatro anteriores, elencados na contracapa deste, não há mais nenhum; as edições estão esgotadas. Vou procurá-los nos sebos e remeterei quando os encontrar. No ínterim, digitarei os escritos mais curtos e lhe mandarei. Aguarde-os, pois. Com o livro, vão "O Amor Primeiro" e "A Esfera no Espaço".

É-me sempre emocionante lembrar e falar do querido Acre, pedaço doce e importante de minha esvaída juventude, mormente aos 84 anos, já tendo extraído um câncer da bexiga e ficado cego do olho direito, por glaucoma mal cuidada, para não falar de erro médico...

Faço-o, contudo, com extrema gratidão, recordando saudoso, a calorosa recepção popular, o carinho amigável de todos, lamentando apenas o só ter ficado tão pouco tempo no Governo do Território Federal do Acre (pela renúncia de Jânio Quadros). Recordo, grato, a fraternidade cívica do mandato de deputado federal e, anos depois, quando me supunha esquecido, a honrosa outorga do Títutlo de Cidadão Riobranquense.

Vem-me à lembrança, neste instante, o diálogo tido com o Saudoso Amigo (com "A" maiúsculo) Otacílio:

- Dr. Altino, enquanto existir a letra "A" no alfabeto, o Acre se lembrará de Altino Machado.

- Não Otacílio, é ao contrário: enquanto existir a letra "A" no alfabeto, eu, Altino Machado, me lembrarei do Acre.

E aduzi:

- O Acre faz parte de minha vida. Está integrado em meu peito, em minha memória, em meu imo, em meu coração.

E isto, caro Xará, perdura, intocado e eterno, dentro de mim, neste momento que lhe escrevo.

Desculpando-me pelo alongado da missiva, digitada com a tinta da saudade, relembro a fala de minha netinha, hoje com 19 anos:

- Vovô, dá um beijo no Acre.

E um abração afetuoso para você.

Do Xará paulista e riobranquense,

José Altino Machado"

José Altino Machado era governador do Território Federal do Acre, nomeado pelo presidente Jânio Quadros, quando meu pai, Manuel Eriberto Saraiva Machado, decidiu homenageá-lo registrando-me José Altino da Cruz Machado. E tem sido uma honra merecer a amizade do ex-governador, conselheiro aposentado do Tribunal de Contas do Município de São Paulo e escritor, membro da Academia Paulista de Letras e da Academia Cristã de Letras. Quando trabalhei no Estadão e assinava alguma reportagem, os amigos dele, sabedores de que fora governador do Acre, perguntavam se havia se tornado repórter do jornal. E ele confirmava, mas a mim reclamou várias vezes por não usar o José antes da assinatura Altino Machado. Mas vejo agora que até ele decidiu potencializar a sonoridade de seu nome ao adotar apenas Altino Machado no livro "Reencontros", 83 páginas, da editora Book Mix, cujo exemplar em minhas mãos tem a seguinte dedicatória: "Ao ilustre Jornalista Altino Machado, meu honrado e competente xará acreano, que me distingue com a longínqua mas afetuosa amizade, cuja reciprocidade lhe asseguro, meu livro de contos e minha homenagem fraterna". Na capa, quatro estátuas que representam o átrio da Academia Paulista de Letras: primavera, verão, outono e inverno, aparecem no conto que dá nome ao livro. A capa é de autoria do filho dele, Caio Guimarães Machado. Clique aqui para ler um dos contos que ele enviou - "A Grande Luta".


O desembarque no Acre


Com a família no dia da posse no Palácio Rio Branco


Vetereno da Revolução Acreana o presenteia com arma usada em combates contra os bolivianos


Material de campanha




Com a família em São Paulo

ATÉ NO ACRE O AMOR É LINDO


Comentário do empresário Walmir Lopes:

"Nós, heterossexuais masculinos convictos, deveríamos aplaudir de pé a decisão desses dois rapazes, no mínimo por três motivos.

Primeiro, por ser um direito inalienável. Segundo, porque são dois concorrentes a menos no mercado. Terceiro, porque todos nós sabemos que há muitos cavalheiros por aí que, não obstante as aparências, são verdadeiras damas.

Como lhes falta a coragem necessária para enfrentar a postura ainda refratária da sociedade e assumir abertamente seus pendores, tomam decisões equivocadas e casam-se com mulheres, que só mais tarde descobrem que o seu José é Josefina.

O resultado dessas decisões é catastrófico para o mundo heterossexual masculino, pois muitas mulheres, desiludidas com a situação, vingam-se de sua Josefina e tornam-se José, cooptando ainda uma ou mais mulheres para se tornarem sua(s) companheira(s), o que cria uma defasagem insuportável no mercado.

Na verdade, considerando que o insano deixou de ser um concorrente, perdemos ainda, no mínimo, uma mulher, o que não é pouco. Portanto, aproveitando esta oportunidade, quero conclamar a todos os companheiros heterossexuais masculinos convictos: Vamos aplaudir de pé e apoiar abertamente os casamentos homossexuais masculinos, pois como anteriormente afirmado, é um direito inalienável deles.

Com uma ressalva, apenas. Que eles nos apóiem, em contrapartida, a combater sem tréguas qualquer tentativa de casório entre homossexuais enrustidos e mulheres, ou mesmo entre duas mulheres, o que é um direito inalienável nosso. Feito o acordo, que eles sejam felizes para sempre".

VEJA A IMPORTÂNCIA DA AMAZÔNIA

Veja desta semana trouxe a didática reportagem especial "Amazônia: a verdade sobre a destruição da floresta", assinada por José Edward e Leonardo Coutinho, correspondente da revista na região, cuja base era Belém (PA).

Embora a Amazônia seja considerada estratégica para a humanidade, a revista segue o exemplo de outros veículos da suposta grande imprensa que se retiraram da região após o julgamento dos assassinos do líder sindical e ecologista Chico Mendes . Apenas Estadão e Folha mantêm correspondentes em Manaus para a cobertura de sete estados.

Leonardo Coutinho vai agora se desdobrar para escrever, a partir de Salvador, sobre os 17 estados das regiões Norte e Nordeste. Leiam a mensagem que o repórter enviou para uma lista de amigos:

"Prezados,

Tudo bom?

Escrevo-lhes para comunicar que estou de mudança. Atendo a um pedido da revista para reabrir a correspondência de VEJA no Nordeste. A partir da próxima semana, minha base será em Salvador.

Gostaria de agradecê-los, enormemente, por tudo que fizeram para me ajudar nos últimos sete anos na Amazônia. Assim que estiver instalado na Bahia enviarei os contatos.

A revista não mandará um substituto para Belém, portanto, continuarei de olho nas coisas que se passam por aqui. Portanto, esta minha mudança é "apenas" de endereço. Seguirei contando com a ajuda de todos para manter os leitores de VEJA informados sobre o que se passa na Amazônia.

Sou infinitamente grato pela experiência compartilhada.

Um grande abraço

Leonardo Coutinho"

CHICO MENDES VIVE. ONDE?


O Diário Oficial do Acre passa a circular a partir de hoje tendo no topo da primeira página a imagem do líder sindical e ecologista Chico Mendes, assassinado há 20 anos, em Xapuri.

Insistem em dizer que Chico Mendes ainda vive, mas na verdade os ideais dele fenecem sob a camisa-de-força costurada por alguns de seus antigos companheiros que conquistaram poder no Acre.

Nos últimos 10 anos, a imagem de um "símbolo de todo o planeta", conforme escreveu o New York Times, se tornou recorrente aos três governos do PT, embora na prática haja uma ofensiva deliberada para anular pessoas e organizações que tenham como referência a conduta questionadora do seringueiro.

Chico Mendes vive. Elvis não morreu. E eu não estou nada bem.

JUIZ ESCREVE SOBRE AYAHUASCA

Jair Araújo Facundes

M. (chamemo-la assim) vamos tomar um potente psicoativo? Uma substância de efeito forte, que lhe trará visões várias, estimulando seus sentidos, inteligência, possibilitando percepções diferentes da realidade, expandindo sua consciência, além de permitir enorme autoconhecimento?

- Deus me livre. Isto é droga. Coisa do diabo. Quero não - respondeu-me.

- Mas a senhora toma Daime - contrapus.

- Daime é da Divindade, me aproxima de Deus, das pessoas, da minha família. Não é droga.


Em que contexto ayahuasca deixa de ser uma crença e passa a ser apenas uma substância psicoativa? Ou, como querem alguns pesquisadores, quando que o psicoativo passa a ser o sagrado?

O caboclo amazônida, na sua resposta simples, demonstra saber discernir um de outro, como indica o diálogo, verdadeiro, que introduz este texto. A simplicidade de sua resposta resume a complexa questão referente ao uso ritual da ayahuasca e revela como as pessoas, que dela fazem uso, a diferenciam de outras substâncias e/ou de outros contextos. Ao mesmo tempo indica o quanto essa bebida representa como elemento importante na construção de sua identidade cultural.

A ayahuasca, para esse povo simples e caboclo, não é ingerida na busca de sensações psicodélicas, ou como tentativa de esquecer, por alguns momentos, a vida e seus problemas, frustrações e desafios. Ou para se divertir. Ingerem ayahuasca com a serena convicção de que praticam ato de fé, tendo nela meio de comunhão com a Divindade.

Entre os índios, onde se originou a prática religiosa, não há uma forma única de uso, e a multiplicidade de nomes (yagé, mariri, caapi, natema etc) indica a multiplicidade de rituais e de modos de preparo. Apesar das diferenças, uma característica se destaca, pouco importando o nome da bebida ou o ritual: ayahuasca como elemento do sagrado que agrega, que integra o homem ao seu meio, ao seu grupo; ayahuasca como religião, mas não só: ayahuasca como importante fator de identidade, capaz de acentuar e estimular o sentido de pertencimento a um tempo, grupo e lugar.

No meio urbano seu primeiro uso doutrinário é atribuído a Raimundo Irineu Serra, que trouxe ayahuasca, após conhecê-la no Peru, para a cidade de Assis Brasil/AC, em meados da década de 20 do século passado. No fim da década de 40, também no Acre, um discípulo seu, Daniel Pereira de Matos, dá início a outra doutrina, que veio a se tornar popular com o nome de "Barquinha", com caracteres bem distintos. No começo da década de 60, José Gabriel da Costa cria a União do Vegetal, em Porto Velho-RO, atribuindo à bebida o nome de "Vegetal", delineando um uso ritualístico também com características bem próprias.

Jair Araújo Facundes é juiz federal da Seção Judiciária do Estado do Acre e adepto da doutrina do Daime. Clique aqui para continuar a leitura do artigo "Ayahuasca: do sagrado ao mundano. Breve prosa de sua conversão em psicoativo", publicado originalmente no blog do advogado Sanderson Moura.

quinta-feira, 27 de março de 2008

SEM "EMPATE" EM XAPURI

Raimari Cardoso

O vice-presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais do Acre, Raimundo Mendes de Barros, o Raimundão, classificou como "violência" o cumprimento de um mandado judicial que expulsou anteontem famílias de produtores rurais de uma área em litígio no seringal Boa Vista, em Xapuri.

O mandado de manutenção e reintegração de posse, em favor do fazendeiro Antônio Izídio de Souza, foi expedido pela juíza Zenair Ferreira Bueno Vasquez Arantes, da Vara Cível da Comarca de Xapuri. Apesar da revolta dos posseiros, que prometiam resistir à expulsão, a ação de desocupação das terras aconteceu de forma pacífica. Pelo menos cinco barracos foram destruídos com motosserra pela Polícia Militar.

Raimundo de Barros reagiu à medida judicial creditando a situação à lentidão com que o Incra está tratando o processo de regularização das terras da gleba Sagarana, área remanescente da Reserva Extrativista Chico Mendes que é palco de problemas gerados pela indefinição de limites há cerca de 15 anos e onde ocorre a disputa em questão. Raimundão acusa ainda a juíza Zenair Ferreira de insensatez na condução da questão.

- Um ato de violência como esse só ocorre por causa da morosidade de um órgão como o Incra e da insensatez de uma magistrada - afirma ele.

Apesar da expulsão, 16 famílias ainda permanecem no local por força de um acordo celebrado em audiência judicial. Esse acordo determina que os posseiros terão apenas que sair do local onde estão e se estabelecer em outro, que foi oferecido por Antônio Izídio, mais ao fundo da propriedade. A resistência das famílias em ir para essa área dá-se, segundo seus representantes, pelo fato do lugar ser ruim de água e longe de vias de acesso e da rede de energia elétrica.

A própósito, a abertura de um ramal e a chegada do programa Luz para Todos nesta localidade foi, de acordo com as lideranças do lugar, o motivo que levou Antônio Izídio a se interessar pela área de maneira especial. Os agricultores não reconhecem o direito de Antônio Izídio sobre a terra. Para eles, o antigo capataz da fazenda Boa Vista, abandonada há mais de 15 anos por seus legítimos proprietários, seria apenas mais um posseiro, como eles, que já havia ocupado a área onde ficava a sede da fazenda sem, no entanto, fazer uso da terra.

Antônio Izídio, por sua vez, alega direito sobre as terras como ressarcimento de dívidas que os legítimos donos têm para com ele. Em 2007, cedeu lotes de cinco hectares para que 16 famílias fizessem uso da terra. Após a chegada dos benefícios como luz e ramal, teria resolvido empurrar essas famílias para os fundos da propriedade, o que deu início aos desentendimentos. Para piorar a situação aconteceu a invasão de outras famílias que agora foram expulsas pela justiça.

Raimari Cardoso escreve no blog Xapuri Agora. Empate, segundo palavras de Chico Mendes: "É uma forma de luta que nós encontramos para impedir o desmatamento. É forma pacífica de resistência". E eu digo: ninguém empata mais nada no Acre de Chico Mendes por causa do excesso de pelegos. Detalhe do texto acima: "Apesar da revolta dos posseiros, que prometiam resistir à expulsão, a ação de desocupação das terras aconteceu de forma pacífica". Pacífica, mas o mesmo blogueiro diz na linha seguinte: "Pelo menos cinco barracos foram destruídos a moto-serra pela Polícia Militar". Se o Raimundão, primo de Chico Mendes, diz que houve violência, por que o blogueiro afirma que a desocupação foi pacífica?

Raimari Cardoso explica:

"Caro Altino,

Concordo que o raciocínio possa ter soado incoerente, são as armadilhas em que caio nesta vã tentativa de me expressar bem, mas o que eu quis dizer com a frase "Apesar da revolta dos posseiros, que prometiam resistir à expulsão, a ação de desocupação das terras aconteceu de forma pacífica" foi que não houve resistência dos posseiros nem confronto com a polícia. A maioria deles, inclusive, desocupou os barracos antes que os cumpridores da lei chegassem ao local; outros solicitaram tempo para que terminassem a colheita de suas lavouras, o que foi concedido pelo oficial de justiça. Alguns terão mais 30 dias para deixar a área. Quer dizer: o clima de pacificidade (ou terá sido passividade?) foi tamanho que havia policiais com lágrimas nos olhos, mas com o moto-serra na mão, é claro. Um grande abraço e obrigado pela publicação do texto".

ALTINO ROSAS


Leonildo Rosas flagrou-me usando o notebook cor-de-rosa de minha irmã Erinete, tirou a foto e publicou-a no blog dele. Disse que também sou da família Rosas. Não reparem a cor. Nada a ver com isto ou aquilo. Mas não deixem de visitar o blog do Leo, cujo slogan é o sugestivo "flores e espinhos da política". Foi lá que tomei conhecimento que o governo do Acre dispensou licitação para contratar o escritório do advogado Aristides Junqueira por R$ 150 mil, para defender um ex-diretor do Deracre. Clique aqui.

quarta-feira, 26 de março de 2008

RESPEITEM CHICO MENDES

Elenira Mendes

Sabemos que o meio acadêmico se constitui em ambiente ideal de questionamento dos padrões ditados pela sociedade. Todos que tiveram a oportunidade de cursar uma faculdade sabem do que estou falando, porém a liberdade de expressão no ambiente universitário jamais pode extrapolar o respeito ao indivíduo como pessoa detentora de padrões éticos e morais.

Podemos livremente questionar determinada ação de um individuo sem atingir mortalmente a sua honra, ou caluniar a sua índole. Podemos não concordar com os ideais de um grupo sem que haja animosidade e falta de caráter na crítica. Mas tudo isso só é possível se considerarmos que o sujeito que se expressa livremente seja alguém que detenha condições éticas, morais, emocionais e, acima de tudo, intelectuais para fazê-lo.

O conteúdo do blog Aldeia Sideral, sob a responsabilidade de alguns universitários do Iesacre, se revelou no mínimo degradante à memória das virtudes idealizadas em defesa da floresta por meu saudoso pai, o seringueiro Chico Mendes. É uma vergonha que no grupo esteja o estudante Francisco Costa, que já atua no mercado como repórter da TV Acre, emissora afiliada à Rede Globo. Como uma metralhadora anticultural, o grupo disparou uma rajada de inverdades acerca da figura de Chico Mendes, o que denota falta de equilíbrio intelectual ao publicá-las. Caso pretendam seguir a carreira jornalística, pelo tom que adotaram, deverão fazer parte do jornalismo marrom, sensacionalista e medíocre.

Como ficou provado pleno desconhecimento de tais universitários em relação à vida de Chico Mendes, recomendo que tenham a coragem de sair de suas salas de aula climatizadas, que abdiquem por algumas semanas das suas farras e visitem as comunidades seringueiras de Xapuri. Chico Mendes lutou para que o povo de sua terra tenha pleno domínio da verdade, visto que nos seringais não estava assegurado pelo poder público o direito fundamental à vida ou à dignidade de manutenção da vida.

Meu pai jamais direcionou sua luta àqueles que hoje e sempre estiveram ao lado dos ubres fartos do poder político. Se muitos dos amigos de luta dele estão no poder, isso decorre da verdade assumida democraticamente pelo voto da maioria. E também é a prova de que a ideologia de um mundo melhor, pregado por Chico Mendes, não era uma utopia, mas uma possibilidade real que podemos concretizar a cada dia.

Os estudantes de jornalismo do Iesacre, asseclas da imbecilidade dominante de certas classes, deveriam no mínimo aprender a respeitar a vida pessoal de figuras que na compreensão popular se concretizam como marcos de extrema significância. Chico Mendes é fator de sensibilização da continuação de um ideal, de uma realidade social mais digna a todos que estão à margem das políticas públicas.

Infelizmente, para universitários desse naipe, é bem mais prático acompanhar a disputa do Big Brother, saber a escalação dos times cariocas e paulistas, ou, ainda, folhear a ultima edição da revista masculina preferida, do que pesquisar de fato a vida de Chico Mendes.

É inconcebível que tenhamos ainda que suportar tamanha falta de conhecimento e de identidade cultural no contexto acreano a partir de jovens de uma universidade particular. Quiseram 15 segundos de fama afrontando a memória do movimento sindical, dos povos da floresta, ultrajando sobremaneira a figura do líder Chico Mendes.

Desnecessário relatar a importância que meu pai tem para lutas e conquistas que hoje beneficiam o povo do Acre. Mas quero ressaltar que os pretensos universitários deveriam aprender a analisar fatos históricos e não a deturpá-los.

Eles ofenderam à minha família e à memória do povo de Xapuri, que reconhece por direito o significado da luta de meu pai. Mas o que esperar de pessoas que certamente fazem parte de uma camada social que sempre se pautou por explorar a classe que Chico Mendes defendia?

Que a virtude da sabedoria desça sobre os universitários apedeutas e junto com ela o espírito da responsabilidade e da sensibilidade social.

Elenira Mendes é presidente do Instituto Chico Mendes.

CONGADA

O jornalista Luis Nassif interpreta Congada (letra e música de autoria dele), em apresentação no MIS - São Paulo, de novembro de 2006.

FOI BOM NÃO TER CURSADO JORNALISMO

Eles insistiram em pedir minha opinião publicamente. Ei-la:

Vamos de mal a pior. Achei de mau gosto, intolerante, preconceituoso e eivado de erros de português, o blog Aldeia Sideral, criado por estudantes de jornalismo do Instituto de Ensino Superior do Acre.

Veja o que escreveram, por exemplo, sobre o sindicalista Chico Mendes:


"Nunca pegou numa enchada (sic), era um preguiçoso e tinha vida conjugal dupla. A amante virou esposa e ficou com o dinheiro da pensão da outra. Chico liderava somente a cachaça no seringal. Assim como Moisés no mar vermelho (sic), Chico Mendes abriu o Rio Acre e atravessou com os seringueiros escravizados para a terra que nunca foi prometida, depois caminhou sobre as águas do Igarapé São Francisco. Chico Mendes não é Deus, mesmo depois de morto continua sendo o melhor marqueteiro e vai continuar trabalhando. Antes de ser assassinado Chico fez a "última ceia", repartiu a macaxeira e o gole de cachaça e entregou a seus discípulos (Jorge, Tião, Marina, Binho, Carioca, Angelim e Lula...)"

Está no post "Teorias e condenações de universitários radicais, fúteis e loucos", onde dizem que "os textos são resultados (sic) de escultas (sic), observações, comentários de acadêmicos de todas as faculdades do Acre".

Será?

O grupo ocultou o conteúdo do blog minutos após o meu comentário, fez mudanças e restabeleceu a publicação com uma nota de esclarecimento. Ele me trata na nota como "escorpião rei", embora eu prefira usar o veneno letal das surucucus de barranco. Professores do Iesacre deveriam acompanhar esse tipo de atividade, realizada em nome da instituição de ensino. Francisco Costa, repórter da TV Acre, é o principal colaborador do Aldeia Sideral.

COMEÇA A GUERRA ELEITORAL

Do blog do deputado Luiz Calixto (PDT) sobre o jornal A Tribuna:

"Todo o Acre sabe que o seu dono, Ely Assem de Carvalho, sempre o utilizou para fazer negociatas com o governo.

O prédio onde funcionava o jornal foi alugado para a Secretaria Municipal de Saúde.

Aliás, a redação do louvaminheiro funciona atualmente numa salinha cedida pela prefeitura.

A impressão do Diário Oficial do Estado, acerto espúrio entre o governo e o dono da gráfica, custa aos cofres públicos uma fortuna.

Qualquer outra gráfica imprimiria o diário por um terço do preço.

Daí as razões da autoridade que o PT exerce dentro da redação do jornal.

Todos os acreanos sabem que a maioria dos comentários publicados no jornal são encomendados ao jornalista-pedófilo Mário Emilio Malaquias, que as escreve de dentro de um presídio.

Além disso, o dono do jornal A Tribuna é condenado a 40 anos de prisão por roubo na Eletroacre, ocorrido na época do então governador Edmundo Pinto".

Leia mais aqui.

JÁ COMEÇOU ACERTANDO

Narciso Mendes

Se só o tempo dirá se o PDT vai saber escolher e ser feliz com seus novos aliados no Acre, uma coisa já se pode dizer: ele acertou, em cheio, ao sair dessa oposição que está aí. Ainda que filiado ao PDT, devo confessar: não exerci nenhuma influência quanto à decisão tomada pelo seu diretório regional.

Limitei-me tão somente a aplaudi-la, afinal de contas, enoja-me saber quem são os neo-oposicionistas da política acreana: Márcio Bittar, Sérgio Petecão, Tião Bocalon, N. Lima, entre outros. Na melhor das hipóteses, essa gente poderia ser rotulada de dissidente, jamais como oposicionistas. Quem se fartou comendo em sua gamela, não pode dizer que é oposição à Frente Popular do Acre (FPA).


Não fui o negociador da entrada da PDT na FPA, apenas, e por uma deferência especial do Dr. Hedilberto Saraiva, fui comunicado da decisão que o diretório regional do PDT havia tomado, qual seja: buscar novos aliados.

A despeito dessas verdades, volta e meia, por má-fé ou para me provocar, meu nome tem aparecido como um dos articuladores de tal negociação. A provocação até que admito, mas à má-fé reagirei à altura, como é de meu costume.

Ao deixar a militância política-partidária não o fiz com o propósito de me tornar um aliado do governo, ou o que seria mais reprovável a minha conduta, uma tentativa de buscar uma hipotética chance de me aproximar do governo. Nada disto.

Larguei-a decepcionado com os rumos tomados pela própria oposição, sobretudo a partir da presença do arrivista Márcio Bittar como uma de suas mais destacadas figuras. Larguei-a tarde e atrasado, porém à tempo, afinal de contas, seria dose pra elefante engolir um Sérgio Petecão dizendo ser de oposição à FPA.


Fiz e não me arrependo ter feito oposição à FPA, mas nunca o fiz com o propósito de criar dificuldades para conseguir facilidades. Não obstante meu afastamento da política-partidária, é essa oposição que pretendo vê-la ressurgir no Brasil, e sobretudo, no Acre. Democracia sem oposição tira a legitimidade de quem exerce o poder.

Concluo dizendo: não articulei a ida do PDT para a FPA, embora tenha aplaudido a decisão tomada pelo seu diretório regional, até porque, qualquer que seja o destino a que seja levado o PDT, será um lugar bem melhor - ou menos ruim – que conviver com a canalhice política.

O empresário Narciso Mendes, dono do jornal e da TV Rio Branco, passa a escrever neste blog às quartas-feiras. O Acre continua carente de liberdade e de respeito às diferenças de opinião. Leia mais sobre a polêmica no blog do deputado Luiz Calixto.

O BRASIL PRECISA CONHECER

Cláudio Prado Junior

Em pesquisas no Google, a respeito dos estados do Acre e Amazonas, encontrei seu blog e gostei muito do conteúdo. Também sou jornalista profissional, e durante todo o ano de 2006, tive a oportunidade conhecer a sua região, mais especificamente atuei na cidade de Envira (AM), para o prefeito Ivon Rates, que considero uma das pessoas mais inteligentes do meio político amazonense.

Por causa do trabalho, tive a felicidade de viajar pelo Acre e Amazonas, conhecendo diversas cidades destes importantes estados. O Acre para mim foi uma surpresa agradável e ao mesmo tempo preocupante. Rio Branco é uma cidade próspera, com um crescimento acelerado, mas ainda carece de muita estruturação pública. Fiquei impressionado com o volume de lixo nas ruas, não no centro da cidade, mas nos bairros em geral, além de uma falta constante de asfaltamento.

Mas uma coisa supera isso tudo: o povo acreano é muito especial, as pessoas são mesmo muito gentis, fato este que senti também nas cidades amazonenses.

Desde que retornei, tenho procurado colaborar com textos diversos, principalmente no Jornal de Piracicaba, que é a cidade que atualmente moro e trabalho, um município com cerca de 500 mil habitantes, que é hoje a cidade líder mundial em tecnologias do álcool combustível e do biodíesel.

Um fato tem que ser sempre destacado: a Amazônia que é divulgada, principalmente para o sudeste do país, não é aquela que é vivenciada pelos seus moradores. O que a gente recebe por aqui nada mais é do que o que é vendido para os estrangeiros. Estando aí, conheci uma realidade única, original e ímpar. Com todas as contrariedades que se tem ao viver próximo deste mar de florestas, o povo que sobreviveu às intempéries da mata, desenvolveu uma fibra e uma adaptabilidade digna de nota.

Com todas as dificuldades que um cidadão de Envira, Eirunepé, Xapuri, Feijó, Tarauacá passa em seu dia-a-dia, ainda dá tempo de sorrir, se divertir sem culpa no forró de final de semana, ou, ainda, na "danceteria" improvisada. A classe política ainda é muito arraigada no estilo do coronelismo e do cabresto, isso é bem verdade, porém, algumas mudanças foram percebidas por mim, em alguns políticos que conheci.

A religiosidade também é algo marcante. A presença de religiões como União do Vegetal, Trigueirinho, Santo Daime, a própria vacina do sapo, que eu experimentei e achei fenomenal, são referências dessa integração do homem com seu ambiente da mata.

Outro ponto é a criatividade fabulosa deste povo, a capacidade de usar a arte e a cultura em seu favor. Artesão magníficos, são capazes de transformar um simples côco de jarina ou açaí em tremendas peças de joalheira ou acessórios diversos. A culinária, a cultura, a fauna e a flora, são mesmo algo que deveria ser reconhecido por todos os recantos do Brasil.

Pretendo retornar em breve, para poder reencontrar os amigos que aí deixei e matar a saudade disso tudo. Apesar do volume de trabalho que tenho, penso sempre em poder de alguma forma colaborar novamente com este povo que tantas alegrias me deu.

De uma coisa pode ter certeza, estarei sempre entrando em teu blog para saber das novidades. Estou te enviando um de meus textos sobre a Amazônia, que foi veiculado recentemente, espero que goste. E desejo a você cada vez mais sucesso em seus compromissos pessoais e profissionais.

Um grande abraço!

Claudio Prado Junior é jornalista e assessor de imprensa da prefeitura de Piracicaba (SP). Leia "A Amazônia de Lula é diferente".

CARGA SINISTRA


Nada mais sinistro do que um carregamento com 250 caixões, como o que presenciei para abastecer hoje uma das funerárias da cidade.

terça-feira, 25 de março de 2008

CAROS AMIGOS


"O jornalista Sérgio de Souza, 73, editor e um dos fundadores da revista "Caros Amigos", morreu na madrugada desta terça-feira (25) no hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo.

O editor morreu às 5h40 da manhã de hoje, foi velado no cemitério da Vila Alpina, na zona leste de São Paulo, e cremado às 16h30 no mesmo local".

Convidado pela jornalista Vera Artaxo, em outubro estive num bar na Vila Madalena, em São Paulo, pariticipando de uma comemoração com uma turma da revista "Caros Amigos".

Na foto, Michaella Pivetti (editora de arte), Mylton Severiano (editor executivo) e Sérgio de Souza (editor).


Leia mais na Folha Online.

REDAÇÃO MODERNINHA


Eis a equipe de redação do site AC 24 Horas: a impressora, o iMac e a panturra do empresário e radialista Roberto Vaz.

CAPA OFICIAL

A capa da edição de hoje do jornal Página 20 é destaque no site do jornalista Chico Bruno. E ele nos avisa disso com o seguinte comentário:

- Altino, a capa do P20 é muito bandeirosa, como se diz por aqui. Parece mais do Diário Oficial do que de um jornal.

Caro Chico Bruno, você ainda não viu nada. O jornal funciona como uma repartição pública, tanto que estava sem circular desde a quinta-feira. Foi por isso que o Elson Martins, colaborador gratuito do diário, não tinha onde publicar e enviou para o blog a bela reportagem sobre a passagem do Che Guevara pelo Acre. Mas prepare-se: teremos capas piores até o dia da eleição. É por essas e outras que o leitor torce o nariz e não tem coragem de desembolsar R$ 1,50 pelo exemplar de um dos quatro (quatro mesmo) diários que temos em Rio Branco. São todos mantidos com verba pública. Nenhum tem tiragem diária suficiente para custear metade do piso salarial de um repórter - R$ 1.321,00.

ADIOS NONINO

La Camorra, quinteto argentino de tango

MENOS, CÉSAR

Do vice-governador César Messias (PP) durante uma solenidade de premiação do prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim (PT), segundo o Página 20:

- Ser prefeito não é fácil. É acordar todos os dias e encontrar um monte de problemas novos para resolver com um orçamento não muito favorável. Angelim consegue resolver tudo porque não tem projeto político, e sim projetos para a cidade de Rio Branco.

Meu comentário: em velório ou festa de aniversário, a melhor coisa que político faz é ficar caladinho. Será que o vice-governador pronunciou mesmo as duas frases tão "demagogentas"?

Porque quem se candidata a prefeito é sabedor que numa cidade surgem novos problemas todos os dias. Sabe, ainda, que o orçamento nunca será suficiente para realizar tudo o que é prometido durante a campanha.

O vice-governador não necessita se valer da inverdade segundo a qual o prefeito "resolve tudo". Também não precisa se iludir ou tentar iludir quem quer seja com essa história de que Raimundo Angelim não tem projeto político.

Só faltou dizer que ser prefeito, assim como uma mãe, é padecer no paraíso. Menos, César.

DE ENERGIA SE FAZ A VIDA


Na guerra pelo progresso, o homem não mede esforços e as conseqüências dos seus atos. O importante é avançar. Numa batalha desigual, destrói insanamente os recursos naturais, essenciais à sobrevivência. A resposta da natureza pode até demorar, mas não falha. Às vezes, é imediata, intrigante ou mesmo desafiadora. Só precisamos interpretá-la.

Num ato silencioso e inusitado, ela respondeu aos afiados machados e às violentas motosserras, maiores formas do desrespeito destruidor. Insistiu e exigiu seu espaço para expor a beleza de suas flores e a generosa sombra de sua copada, numa grande demonstração de energia e desejo de viver.

Derrubado e transformado em poste para suporte dos fios da rede elétrica, o Ipê amarelo não se entregou. Com uma reação estupenda, recuperou sua pompa e reinado de árvore símbolo nacional. Rebelou-se à condenação injusta, criou suas raízes no solo e voltou a reinar absoluto, esbanjando alegria e beleza com sua identidade marcante.

Reconsiderando o seu ato, o homem decidiu transferir a rede elétrica a um poste de concreto instalado ao lado. Agora o Ipê reina livre dos fios.

Este Ipê que pode ser honrado com “I” maiúsculo, é uma atração pública em Porto Velho, capital de Rondônia, distante 3.500 quilômetros de Porto Alegre.

Doce privilégio dos moradores do bairro, a exemplo do fotógrafo amador Leandro Barcellos, gaúcho de Passo Fundo que reside em Porto Velho nos cede a imagem para saboreio dos eletricitários gaúchos.

Com forte herança dos povos latinos, durante algumas décadas, Rondônia exerceu forte poder de atração sobre sulistas e nordestinos para exploração mineral, extrativismo e agricultura, desenvolvendo uma nova cultura miscigenada.

O texto de autor desconhecido e a foto circulam na web. Meu amigo Thiago Fialho viu a foto, leu o relato e ficou preocupado. Teme que o governo do Acre possa querer fincar postes similares por aqui -os "postes da floresta".

segunda-feira, 24 de março de 2008

CORRUPÇÃO TAMBÉM FAZ BEM

Muitos petistas tentam convencer o povo dizendo que a corrupção na administração pública no Acre é coisa do passado desde que o PT assumiu o governo estadual há quase 10 anos. Outros petistas, mais sensatos, reconhecem que a corrupção apenas diminuiu um pouquinho.

É o caso do jornalista Antonio Alves, assessor do governador Binho Marques, para quem a corrupção nem sempre é o pior dos males na vida pública e até pode contribuir para melhorar a qualidade de vida de uma população.

Alves lembra que durante a gestão do governador peemedebista Flaviano Melo (1987-1990) o Acre recebeu milhões de cruzados do governo federal para obras de saneamento, entre as quais 18 lagoas de decantação (penicões) em Rio Branco.

- Apenas três lagoas foram construídas, uma já foi desativada e o que não falta é gente a pedir o fechamento das demais. Sem a corrupção daquele governo alguém consegue mensurar como seria hoje o transtorno da população com 18 penicões em sua vida? - indaga.

Em tempo: quem gerenciava as verbas públicas para saneamento durante a gestão de Flaviano Melo era o engenheiro Edilson Cadaxo, que posteriormente integrou a equipe do governador petista Jorge Viana, e que agora é pré-candidato a prefeito de Rio Branco pelo PMDB. O falecido Edson Cadaxo, pai de Edilson, foi vice de Viana.

"O transtorno passa. A obra fica". Lembram do slogan?

sábado, 22 de março de 2008

CHE GUEVARA FEZ A BARBA NO ACRE

Elson Martins



Ouvi essa história na semana passada, da boca da menininha que aparece no colo da mãe na foto acima, de 1933. Ela está hoje com 74 anos, chama-se Maria Ferreira Martins e é advogada aposentada. O pai, João Martins Xavier, veio do Ceará para o Acre em 1946 com toda a família. No Quixadá (CE), trabalhava como marceneiro e chegou a ser preso e torturado como comunista.

No Acre, João Xavier trocou de profissão e montou uma barbearia no bairro Seis de Agosto, no Segundo Distrito de Rio Branco. Era um estabelecimento humilde, com apenas uma porta e uma janela de frente, mas muito freqüentado. O dono não trocou de ideologia: foi um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro (PCB) do Acre e quando irrompeu o golpe militar de 1964 teve que se esconder num seringal para não ser preso.

João Barbeiro, como ficou conhecido, estimado e temido, em meados dos anos sessenta (65 ou 66), recebeu a visita de um integrante do PCB, à noite, que lhe pediu para fazer a barba de um estranho. Achou esquisito quando ele, sem pedir autorização, fechou a porta e a janela do pequeno estabelecimento. E também por terem – o amigo e o estranho - permanecido calados o tempo todo. Não era essa a rotina da barbearia.

Barba feita, o cliente agradeceu com um sorriso e gestos e desceu a escadinha de três degraus, de madeira, desaparecendo na escuridão da rua da frente. O amigo (que está vivo, mas não autorizou a citação de seu nome) então voltou e cochichou ao ouvido de João Barbeiro:

- Você acabou de fazer a barba do comandante Che Guevara.

Maria Ferreira Martins comenta que o pai, com idade avançada na época, poderia ter morrido de emoção porque admirava o comandante Che Guevara e falava o tempo todo de sua luta como exemplo. Ao saber a identidade do cliente, tremeu todo e quase desmaiou.

João era um crítico impiedoso dos governos, dos ricos, dos reacionários e corruptos, até das pessoas comuns que não reagiam contra as injustiças sociais. Com os filhos, era intolerante e ríspido:

- Se a gente mentisse, ele adivinhava!

Maria afirma, entretanto, que o pai nunca conseguiu politizá-la nem seus sete irmãos, que permaneceram anticomunistas. Até por que todos sofreram de alguma forma, discriminação por serem filhos do “comunista radical” João Barbeiro.

O velho e honrado comunista faleceu em 1984, aos 85 anos, ironicamente, atropelado por uma bicicleta.

Coincidência histórica
O líder seringueiro Chico Mendes também teria cruzado com Che Guevara na mesma época que João Barbeiro. Numa entrevista que concedeu ao sociólogo Pedro Vicente, ex-delegado do Sesc no Acre, professor da UFAC e autor do livro “Exercícios Circunstanciais”, publicado em 1997 pela editora “Coivara”, de Natal (RN), ele narra o encontro ocasional:

"Eu nunca tinha visto seu retrato (do Che) nos jornais, porque não circulavam revistas ou jornais no seringal. Tinha ouvido seu nome através da Rádio Central de Moscou. Não me recordo bem o ano, creio ter sido em meados de 65 ou 66, eu estava caminhando do seringal para a cidade (de Xapuri). As pessoas costumavam fazer longas caminhadas pela BR-317, na estrada velha, em direção a Brasiléia ou Xapuri.. Eu estava cansado e parei no bar, no entroncamento, a 12 quilômetros de Xapuri. Naquele instante chegou um cidadão vindo das bandas de Rio Branco. Demonstrava ser uma pessoa muito educada, encostou-se no bar e puxou conversa comigo e com outros que estavam próximos. Falou que tinha interesse em conhecer a selva amazônica, principalmente, os seringais e a selva boliviana. Indagou se eu era seringueiro, respondi que sim e há muitos anos. Perguntou se eu não gostaria de acompanhá-lo até os seringais da Bolívia, pois não tinha costume de caminhar na selva. Precisava de uma pessoa que conhecesse os varadouros e o levasse na direção da fronteira. Dava para identificar que não era brasileiro, misturava um pouco de português com espanhol.

Ele conduzia uma mochila, falou que possuía jóias que aproveitava para vendê-las e sobreviver durante o percurso. Não dispunha de muito dinheiro, mas perguntou quanto eu queria por dia para ir com ele até onde pudesse. Não aceitei o convite. Alguém me disse que era perigoso, podia ser um bandido. Não acreditei, mas não podia ir. Alguns meses depois, em Xapuri, passei diante da delegacia e um retrato me chamou atenção. Dizia que Che se encontrava em território boliviano para organizar o terror na região. Fiquei abalado. Lembrei-me que havia visto e conversado com aquela pessoa no entroncamento. Nunca pude imaginar, pensei comigo mesmo, que aquela pessoa fosse um terrorista. Olhei várias vezes a fotografia. Não tive a curiosidade de pegar uma propaganda, um cartaz e guardar comigo. Tempos depois, ao ler o livro sobre a guerrilha do Che na Bolívia, reafirmei a convicção de que cruzei com ele. Posso afirmar com certeza, era o Che!”

Essa história exige a intervenção de um historiador ou pesquisador para confirmá-la. O norte-americano Jon Lee Anderson escreveu uma completa biografia de Che Guevara, publicada em português pela editora Objetiva, em 1997. Trata-se de um calhamaço de 920 páginas que encerra com a trágica aventura do grande revolucionário na Bolívia: Che foi assassinado por militares bolivianos a 9 de outubro de 1967, aos 39 anos de idade, na região do Beni, portanto não muito distante de Xapuri.

Elson Martins é jornalista acreano. A foto de 1933 mostra o cearense João Xavier Martins que se transformou no João Barbeiro acreano, de pé ao lado da mulher Francisca Teixeira Martins com os filhos Juarez, Maria (a entrevistada, ainda no colo) e Chico.

sexta-feira, 21 de março de 2008

DIABO, COCAÍNA E ESTRADA

Tive a impressão de que "o diabo fez a festa" na Semana Santa ao assistir ao telejornal da TV Acre.

Marcelo Rodrigues Benedetti (veja-o no Orkut), jovem de classe média, 19, estudante de arquitetura, chegou com dois amigos ao apartamento da mãe dele por volta das 5 horas da manhã. Logo começou a passar mal e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência foi acionado pelos amigos. O atendimento teria demorado mais de uma hora para chegar. E quando chegou o estudante estava morto em decorrência de overdose de cocaína.

Até agora, a construção da Estrada do Pacífico, que liga o Acre ao Peru, serviu apenas para aplainar o acesso dos narcotraficantes bolivianos, peruanos e brasileiros. Não há fiscalização e aumentou a oferta de cocaína vendida nas ruas dos bairros de todas as cidades acreanas. O estudante é mais uma vítima de um problema social que não está no foco dos governos estadual e federal.

Pode-se dizer que a venda e o consumo de cocaína pura e da pasta-base de cocaína estão liberados no Acre. Os jovens das famílias de baixa renda se afogam na "mela", mais barata, enquanto a juventude da classe média começa a cheirar a pura cada vez mais cedo. Em Rio Branco já existe até disk-cocaína operando 24 horas. A cidade está ficando famosa no país por possuir cocaína mais "pura" e mais barata do que a encontrada nas grandes cidades.

A região de fronteira do Acre com o Peru e a Bolívia, que está dominada pelo narcotráfico e a exploração ilegal de madeira, segue sendo tratada com cinismo pelo poder público.


Mas voltemos à violência durante a Semana Santa, que começou na quinta-feira, às 15 horas, com um acidente com vítima fatal em Assis Brasil, na fronteira com o Peru e a Bolívia. Um ônibus colidiu com um táxi. O motorista do táxi, Ozéas Sales da Silva, 36, morreu na hora. Ele teria estacionado na contramão da estrada para pegar passageiros.

No Instituto Médico Legal (IML) foi registrada a entrada de um feto e quatro corpos, sendo de três vítimas de homicídios e de uma vítima de acidente de trânsito.

O primeiro homicídio aconteu na parada final do ônibus do bairro Irineu Serra, considerado um dos mais tranquilos da cidade. Um homem ainda não identificado foi executado a tiros logo no começo da noite da quinta-feira.

Num trecho da estrada que liga Rio Branco a Boca do Acre (AM), Francisco Pereira Barbosa, 49, foi encontrado morto a facadas, precisamente no quilômetro 82 da BR-317.

A outra vítima de homicídio, ainda sem identificação, foi levada ao Pronto Socorro, assim como um feto, de aproximadamente quatro meses, que foi levado pela Polícia Federal para o IML.

No mais, um fazendeiro Carlos Cavalcante Neto, 36, cometeu suicídio supostamente por causa de dívidas. E, ainda, os registros de dois flagrantes por embriaguês ao volante e do homicídio de Raimundo Pereira, 23, outra vítima de esfaqueamento. O crime aconteceu no bairro Taquari. O acusado é um primo da vítima. Ambos tinham envolvimento com drogas.

Esse era o saldo da Semana Santa até às 7h30 da manhã. Falta saber as ocorrências registradas nas delegacias de combate a assaltos e de defesa da mulher.


O jornalista Leonildo Rosas, que está em Cruzeiro do Sul, conta no blog dele que não é apenas em Rio Branco, a capital, que os jovens se drogam. Até em Marechal Thaumaturgo, município no Alto Juruá, o uso de "mescla" entre a juventude é preocupante.

Rosas lembra que o inspetor Silveira, da Polícia Rodoviária Federal, declarou recentemente que a Estrada do Pacífico permitiu o aumento da entrada de droga no Acre.

- A declaração foi publicada no Página 20. Aliados históricos do governo, os dirigentes do jornal foram chamados à atenção por assessores do governador Binho Marques. Os assessores repreenderam afirmando que o governo fez um grande esforço para integrar o Acre com o Peru e não aceitará que histórias sejam inventadas - conta o jornalista.

No blog Ambiente Acreano, Evandro Ferreira trata do mapa da violência no Brasil e diz que "
o Acre ainda é uma ilha de tranquilidade, se compararmos com a situação vivida no vizinho estado de Rondônia".

Esclarecimento de Evandro Ferreira:

- Altino, realmente o Acre é uma ilha de tranquilidade (ainda) no que toca ao número relativo de assassinatos. Entretanto, quando o assunto tem a ver com drogas, somos primeiro mundo. Em agosto do ano passado até escrevi (leia aqui) um post no qual sugeri que os acreanos em breve iriam ser conhecidos como os "colombianos" do Brasil.

BENDITO

Na quarta-feira Jesus com seus discípulos
Foi a Oliveira, foi a Jerusalém
Foi a Páscoa, meu Jesus com seus discípulos
Que padeceu a favor de nosso bem

Na quinta-feira Jesus banhou os pés
Com grande gosto, prazer e contentamento
Depois da ceia, meu Jesus restitui-se
Com grande gosto meu Santíssimo Sacramento

Na sexta-feira Jesus subiu ao horto
Foi rezar três horas de oração
Encontrou Judas na frente de uma tropa
Já vinha ele de alferes capitão

Judas pelo lado direito
Com falsidade lhe beijou devidamente
Jesus disse: - Eu conheço a falsidade
Com este beijo que agora tu me destes

Neste dia Nossa Senhora chegou
Às oito horas, Sexta-Feira da Paixão
Encontrou-se com o seu filhinho preso
Madalena, ó que dor no coração

Depois de Jesus Cristo arrastado
Cobriram ele em trono pequenino
Lhe botaram uma coroa na cabeça
Era tecida com 72 espinhos

Daí saíram com Jesus à rua estreita
Certamente a rua da amargura
Encontrou-se com a Sempre Virgem Maria
Era sua mãe que chorava com ternura

Ó, minha Mãe, que por mim tanto chorava,
Sendo ela Maria e Madalena
Quando eu cuido que vinha em meu socorro
Cada vez mais redobrava a minha pena

Chegou Longuinho com a lança e cravou
No peito esquerdo, em cima do coração
Quando o sangue lhe batia pelo rosto
Se ajoelhou, a meu Deus pediu perdão

De autoria anônima

quinta-feira, 20 de março de 2008

SOLIDARIEDADE DO PT

"Olá Altino,

A executiva regional do PT reuniu-se ontem à tarde e aprovou uma nota de solidariedade ao companheiro Abrahim Farhat Neto, o Lhé. Fique à vontade, caso queira tornar público.

Um abraço,

Leonardo de Brito
Presidente do Diretório Regional do PT no Acre

NOTA DE SOLIDARIEDADE

O Partido dos Trabalhadores (PT), por meio de sua Executiva Regional do Acre, solidariza-se com o companheiro Abrahim Farhat, nosso querido "Lhé", fundador e militante histórico do PT acreano, neste momento difícil que vem sendo enfrentado por ele e seus familiares.

Da mesma forma, repudiamos qualquer tentativa de uso político visando atingir a honra deste valoroso companheiro ou do próprio do Partido dos Trabalhadores, ressaltando a importância do PT e de Abrahim Farhat para a construção da democracia e da justiça social no Acre, sempre à frente das lutas populares, na defesa dos direitos humanos, dos trabalhadores, das mulheres, dos idosos e da ética na política.

Rio Branco, 19 de março de 2008

Partido dos Trabalhadores
Executiva Regional"

FLOR DO GENGIBRE

OS APÓCRIFOS


Nag Hammadi é a pequena localidade no Alto Egito, onde, em 1945, o camponês Muhammad Ali as-Salmman encontrou um grande pote vermelho, de cerâmica, contendo 13 livros de papiro encadernados em couro. No total descobriram cinquenta e dois textos naquele sítio.

Na primeira análise, para surpresa do professor Gilles Quispel - antigo amigo e colaborador do psiquiatra Carl Jung - a primeira linha traduzida do copta foi: "Essas são as palavras secretas que Jesus, O Vivo, proferiu, e que seu gêmeo, Judas Tomé, anotou".

Os manuscritos, hoje conhecidos como Evangelhos Gnósticos, ou Apócrifos (livro secreto), revelam ensinamentos, apresentados segundo perpectivas bastante diversas daquelas dos Evagelhos Oficiais da Igreja Romana; como, por exemplo, o trecho atribuído a Jesus, o Vivo: "Se manifestarem aquilo que têm em si, isso que manifestarem os salvará. Se não manifestarem o que têm em si, isso que não manifestarem os destruirá".

Além dos Evangelhos (ensinamentos atribuídos a Jesus Cristo através de seus apóstolos) outros textos compõem o legado de Nag-Hammadi, de cunho teológico e filosófico.

Os papiros encontrados em Nag-Hammadi, tinham cerca de 1.500 anos, e eram traduções em copta de manuscritos ainda mais antigos feitos em grego e na língua do Novo Testamento, como constatou-se ao verificar que parte destes manuscritos tinham sido encontrados em outros locais, como, por exemplo, alguns fragmentos do chamado Evangelho de Tomé. As datas dos textos originais estão estimadas entre os anos 50 e 180, pois em 180, Irineu, o bispo ortodoxo de Lyon, declarou que os hereges "dizem possuir mais evangelhos do que os que realmente existem".

Acredita-se que os manuscritos foram enterrados por volta do século 4, quando, na época da conversão do imperador Constantino, os bispos católicos passaram ao poder e desencadearam uma campanha contra as heresias. Então, algum monge do mosteiro de São Pacômio, nas cercanias de Nag-Hammadi, tomou os livros proibidos e os escondeu no pote de barro, onde permaneceram enterrados por 1.600 anos.

A literatura apócrifa é uma outra Bíblia. Existem 112 livros apócrifos, sendo 52 em relação ao Primeiro Testamento e 60 em relação ao Segundo. Assim como a Bíblia, a literatura apócrifa está composta de Evangelhos, Atos, Apocalipses, Cartas, Testamentos. Existem também outras listas desses livros.

Foram os homens da Igreja Católica que editaram a Bíblia com os livros que conhecemos hoje, determinando a inclusão dos que eram julgados sagrados e a exclusão dos que eram julgados apócrifos. A leitura dos apócrifos evidencia a tênue linha que separa o que pode ser considerado sagrado ou não.

Os escritos descobertos em Nag Hammadi permitem vislumbrar a complexidade do início do cristianismo. O que identificamos como tradição cristã representa, na verdade, apenas uma pequena seleção de fontes específicas, escolhidas entre dezenas de outras

Quem fez a seleção? E por que razões? Por que os outros escritos foram excluídos e proibidos como ‘heresia”? O que os tornou tão perigosos?

Com informações do site Teologia Gnóstica, que é um guia de referência, de caráter impessoal, construído com o intuito de solidariedade humana, indicando fontes de informações para estimular estudos e pesquisas. Vale a pena, ainda, uma busca complementar no Google sobre os Manuscritos do Mar Morto.

MOÇÃO DE APOIO AO "LHÉ"

Célia Pedrina

Caro Altino,

Tenho acompanhado o que acontece com Abrahim Farhat, o "Lhé", desde a semana passada, quando estive na casa dele e presenciei alguns fatos e, posteriormente, ao ler o desabafo do mesmo aqui (leia).

Estou em casa
meio convalescente ainda, pois na semana passada também levei um susto com a minha saúde. Fui hospitalizada, dei uma passadinha pro lado de lá, mas acabei retornando. Não era a hora ainda.

Acho que voltei por ter ainda que dizer um bocado de coisa para algumas pessoas, mas tudo a seu tempo. E quando a gente vê com maior clareza essa questão do tempo, percebe que não precisa ser dominada pela “falta de tempo”.

Pretendia escrever sobre o que o Ministério Público do Acre fez com o Lhé, ia pedir para você publicar no blog e até tinha pedido um espaço para o Sílvio Martinello também publicar no jornal A Gazeta. Mas conversei com algumas pessoas – amigos e amigas que temos em comum – e resolvemos chamar algumas instituições para sairmos em apoio ao Lhé.

Afinal, não é verdade que até o Lula quando vem para o Acre quer sempre a presença do Lhé nas atividades programadas? Foi mentira que o Lhé desceu no avião presidencial quando da primeira visita do Lula ao Acre depois de eleito?

Por isso fizemos uma moção de apoio, assinada por 15 entidades, lida e aprovada no final da Conferência Estadual de Meio Ambiente, e que deverá circular por outros organismos no Brasil e fora dele.

Nossa esperança não é passiva, nem imobilizante. Pelo contrário, ela nos arranca da estagnação e nos leva a pensar. E se pensar é transgredir, partimos para a ação, para criar o novo em cima do fato. Não dá para aceitar que a vida se resuma na eterna repetição do “sempre foi assim, sempre será assim”.

Se você concordar, publica a moção. Muito obrigada.

A professora Célia Pedrina é fundadora do PT no Acre.

MOÇÃO

Nós, abaixo assinados, representantes de entidades e pessoas amigas, queremos demonstrar nossa solidariedade e apoio, incondicionais, ao companheiro ambientalista ABRAHIM FARHAT, nosso Lhé, repudiando as situações constrangedoras sofridas por ele e sua família nos últimos dias, por parte de alguns membros do Ministério Público Estadual, assim como queremos também registrar nosso reconhecimento e nosso respeito por sua inegável luta pela liberdade do povo acreano, sempre em defesa da Floresta Amazônica.

CUT
SINTEAC
SINDECAF
Sindicato dos Bancários do Acre
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Acre
Sindicato dos Urbanitários
Sindicato das Trabalhadoras Domésticas
Associação dosMoradores e Produtores Rurais da Estrada do Amapá
Associação Vertente
Moradia e Cidadania
Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular
Associação dos Empregados da Caixa

quarta-feira, 19 de março de 2008

CARTA DO PAI DE NARCISINHO

Narciso Mendes de Assis

Meu caro e venenoso jornalista Altino Machado

Só o fato de ser um dos assíduos leitores do seu blog (venenos à parte), é porque o considero um profissional bem informado. Às vezes, infelizmente, em detrimento de sua vasta bagagem de conhecimentos, você exagera a dosagem do seu veneno. Senão vejamos:

O espírito da lei 8666/93, a chamada lei das licitações, bem como de todas as outras leis que versam sobre a matéria, fundamenta-se, em primeiríssimo lugar, no sentido de evitar a interferência político-partidário nos negócios que se realizam entre Estado e seus cidadãos: quer sejam pessoas físicas ou jurídicas.

A despeito da franca e leal oposição que fiz ao governador Jorge Viana, jamais me senti privado de participar das licitações realizadas no seu período de governo por temer retaliações de natureza política. À propósito, nunca o critiquei por tal comportamento.

Se hoje o meu filho Narciso Mendes de Assis Junior, engenheiro de mão cheia, acreano nascido no Hospital Santa Juliana e registrado no Cartório do 15, decidiu ser empresário, e não por acaso, na área para a qual se preparou, se especializou e se graduou, salvo melhor juízo, ele agiu como deve agir todas as pessoas que verdadeiramente amam e querem dar sua cota de contribuição para o desenvolvimento do Acre. A este respeito devo esclarecer-lhe: ao concluir seus estudos e retornar ao Acre, ao invés de ir atrás de um emprego público, Narcisinho, como carinhosa e afetivamente lhe chamo, se dispôs a fazer justamente o que o Acre mais precisa: gerar empregos.

Os contratos que sua construtora está executando para o poder público tiveram origem em licitações. E o mais importante: não existem superfaturamentos nem as perversas intenções de executá-las fora das especificações.

De uma coisa tenha a mais absoluta e cristalina certeza: Narcisinho herdou quase todas as minhas virtudes e muito pouco dos meus defeitos. É isto que costumo ouvir das pessoas que tiveram a oportunidade de, em conhecendo-nos, melhor nos avaliar. Isto não é uma revelação de um pai coruja, e sim, o depoimento de um pai sensato.

Atender ao chamamento de um edital e sagrar-se vencedor de uma licitação, após o concorrente haver cumprido todas as suas exigências tanto é legal quanto moralmente correto. Havendo conotação político-partidária e possíveis apadrinhamentos, aí sim, seria ilegal e imoral.

Narciso Mendes de Assis é empreiteiro e dono do jornal e da TV Rio Branco. É necessário esclarecer: sem os supostos venenos contra estrelas como Jorge Viana, Tião Viana, Narciso Mendes e tantos outros, este blog seria tão enfadonho quanto a imprensa bajuladora do Acre. Reconheço mais uma vez três virtudes do empresário: é o melhor redator do jornal dele, não guarda rancor contra os desafetos e está sempre aberto ao debate. A cena política fica menos divertida com Narciso Mendes cooptado pela Frente Popular do Acre. O petista Francisco Afonso "Carioca" Nepomuceno costumava dizer que Narciso Mendes era o adversário perfeito. E explicava o motivo: "Tudo o que a gente joga nele, prega". Tudo mudou mesmo e vou acatar a sugestão que ouví anteontem de Aníbal Diniz, assessor do governador Binho Marques: "Deixa o Narciso trabalhar em paz, Altino". Bem, como este blog não é mesmo tão sério quanto aparenta, aproveitei o telefonema do empresário para convidá-lo a escrever aqui semanalmente. Ele aceitou e espero que seja pra valer. É certo que o companheiro terá mais leitores neste blog do que no jornal O Rio Branco.