Da coluna de política do jornal A Gazeta, assinada por Luis Carlos, a respeito da tribo yawanawá, que recebeu na semana passada o senador Tião Viana, vice-presidente do Senado:
Latifúndio improdutivo
Os índios da região do rio Gregório (no máximo 600) ganharam uma reserva de 190 mil hectares. Deviam meter um cadeado no Acre, com uma placa: Proibido o progresso.
◙ O colunista pode levar algumas flechadas dos yawanawá após a manifestação de intolerância. Nossa imprensa é um latifúndio improdutivo, cevada com verba pública pelo governo da floresta. Assista (abaixo) ao vídeo que mostra o senador durante o Festival Yawa. Clique aqui para ver belo ensaio fotográfico sobre o povo da queixada, de autoria do Odair Leal.
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
MEMÓRIA E IDENTIDADE
Fátima Almeida
A memória e a identidade são dois conceitos que se constroem mutuamente, de modo que a eliminação de um é a eliminação de outro. Na primeira gestão de Gregório Filho como presidente da Fundação Cultural do Estado, o antigo prédio da Radional foi reformado e adaptado para instalação de um Museu do Seringueiro. Estudantes e turistas podiam adentrar no recinto a qualquer hora e se deparar com uma casa de seringueiro feita de paxiúba com todos os apetrechos da lida diária de um seringueiro, afora exposições, ambiente para projeção de vídeo, relacionados à temática.
No anexo, uma exposição permanente de Hélio Melo, artista plástico acreano que mais se aproximou de uma arte autenticamente amazônica, desde a temática, desenho e iluminação, afora o fato inconteste de ser uma arte vinda de baixo, uma arte de resistência, portanto. Além disso, Gregório Filho criou um programa de pesquisa sobre a cultura dos seringais, aberto a todos interessados, contratando inclusive, orientadores.
Na gestão “democrática” do PT, o espaço foi reformado e transformado em Museu dos Autonomistas, com muito requinte, diga-se de passagem. O movimento autonomista tem vários significados, conforme o olhar do historiador. A meu ver foi uma luta das oligarquias locais pela elevação do Território Federal do Acre à condição de mais um Estado patrimonialista.
Hoje, naquele espaço, podemos ver uma galeria de fotografias de todos os governadores. Qual a memória que se quer perpetuar e acondicionar às novas gerações? A dos Chefes de Estado, claro. A memória dos trabalhadores, bem como suas formas de resistência, desapareceram do cenário. Hoje temos populações desenraizadas e o vazio deixado pelas lideranças dos movimentos sociais, cooptadas, está sendo preenchido por promessas enganosas de todas as vertentes do oportunismo.
Esse é o modo como os governos, no Brasil, eliminam as possibilidades das classes populares sentirem-se parte da história, serem excluídas da participação nas decisões. E, desse modo, os governantes ficam à vontade para moldar a cidade conforme os interesses das empreiteiras, construtoras e concessionárias de carros. O povo não se sente parte do processo e por isso ocorrem as depredações, as queimadas, a violência de que temos notícia, a toda hora.
No Brasil, os projetos de urbanização e modernização, desde o início da República, têm por padrão a eliminação das classes pobres do centro da cidade. Os centros são espaços nobres, para as classes médias, turistas e ricos. Os pobres devem ser varridos para a periferia e desse modo excluídos também do exercício da cidadania, dos espaços decisórios. E assim os problemas sociais são varridos para debaixo do tapete.
O espaço urbano é sempre ocupado de acordo com os interesses das construtoras, da especulação imobiliária, das empresas de transportes, que são aqueles que decidem. E, que desenfreados, elevam os preços de compra, aluguéis e transporte de forma insuportável para as classes baixas, afora os danos ambientais, tais como eliminação de áreas verdes urbanas e excessiva pressão sobre os esgotos que vão dar no rio Acre. Quanto a isso, aos danos, todos nós pagamos a conta, inclusive os que ainda nem nasceram.
Não existe, portanto, arte pela arte. Nem mesmo a ciência pode ser neutra. Não pode haver beleza na mentira, no engôdo, na omissão, apenas desgosto. A estética e a ética estão também uma para a outra. Não é por isso que Abaporu é a obra das obras do modernismo brasileiro? A gestão dos órgãos de cultura não pode fugir às determinações históricas. Ou é comprometida com a memória e a identidade das classes baixas, ou é passiva e conivente com os interesses dos tubarões, que controlam os governos em todo o mundo.
Para a classe artística o problema está colocado nesses termos: ser ou não ser Estado. Recomendo o historiador Sidney Challoub que aprofunda essa discussão a partir de seu trabalho sobre demolição dos cortiços no Rio de Janeiro, quando teve início a era das favelas naquela cidade, e também o filme sobre Milton Santos, grande alma, geógrafo baiano, marxista, que ganhou o prêmio Júri Popular no último Festival de Cinema de Brasília, com narração de Fernanda Montenegro.
◙ Fátima Almeida é historiadora
A memória e a identidade são dois conceitos que se constroem mutuamente, de modo que a eliminação de um é a eliminação de outro. Na primeira gestão de Gregório Filho como presidente da Fundação Cultural do Estado, o antigo prédio da Radional foi reformado e adaptado para instalação de um Museu do Seringueiro. Estudantes e turistas podiam adentrar no recinto a qualquer hora e se deparar com uma casa de seringueiro feita de paxiúba com todos os apetrechos da lida diária de um seringueiro, afora exposições, ambiente para projeção de vídeo, relacionados à temática.
No anexo, uma exposição permanente de Hélio Melo, artista plástico acreano que mais se aproximou de uma arte autenticamente amazônica, desde a temática, desenho e iluminação, afora o fato inconteste de ser uma arte vinda de baixo, uma arte de resistência, portanto. Além disso, Gregório Filho criou um programa de pesquisa sobre a cultura dos seringais, aberto a todos interessados, contratando inclusive, orientadores.
Na gestão “democrática” do PT, o espaço foi reformado e transformado em Museu dos Autonomistas, com muito requinte, diga-se de passagem. O movimento autonomista tem vários significados, conforme o olhar do historiador. A meu ver foi uma luta das oligarquias locais pela elevação do Território Federal do Acre à condição de mais um Estado patrimonialista.
Hoje, naquele espaço, podemos ver uma galeria de fotografias de todos os governadores. Qual a memória que se quer perpetuar e acondicionar às novas gerações? A dos Chefes de Estado, claro. A memória dos trabalhadores, bem como suas formas de resistência, desapareceram do cenário. Hoje temos populações desenraizadas e o vazio deixado pelas lideranças dos movimentos sociais, cooptadas, está sendo preenchido por promessas enganosas de todas as vertentes do oportunismo.
Esse é o modo como os governos, no Brasil, eliminam as possibilidades das classes populares sentirem-se parte da história, serem excluídas da participação nas decisões. E, desse modo, os governantes ficam à vontade para moldar a cidade conforme os interesses das empreiteiras, construtoras e concessionárias de carros. O povo não se sente parte do processo e por isso ocorrem as depredações, as queimadas, a violência de que temos notícia, a toda hora.
No Brasil, os projetos de urbanização e modernização, desde o início da República, têm por padrão a eliminação das classes pobres do centro da cidade. Os centros são espaços nobres, para as classes médias, turistas e ricos. Os pobres devem ser varridos para a periferia e desse modo excluídos também do exercício da cidadania, dos espaços decisórios. E assim os problemas sociais são varridos para debaixo do tapete.
O espaço urbano é sempre ocupado de acordo com os interesses das construtoras, da especulação imobiliária, das empresas de transportes, que são aqueles que decidem. E, que desenfreados, elevam os preços de compra, aluguéis e transporte de forma insuportável para as classes baixas, afora os danos ambientais, tais como eliminação de áreas verdes urbanas e excessiva pressão sobre os esgotos que vão dar no rio Acre. Quanto a isso, aos danos, todos nós pagamos a conta, inclusive os que ainda nem nasceram.
Não existe, portanto, arte pela arte. Nem mesmo a ciência pode ser neutra. Não pode haver beleza na mentira, no engôdo, na omissão, apenas desgosto. A estética e a ética estão também uma para a outra. Não é por isso que Abaporu é a obra das obras do modernismo brasileiro? A gestão dos órgãos de cultura não pode fugir às determinações históricas. Ou é comprometida com a memória e a identidade das classes baixas, ou é passiva e conivente com os interesses dos tubarões, que controlam os governos em todo o mundo.
Para a classe artística o problema está colocado nesses termos: ser ou não ser Estado. Recomendo o historiador Sidney Challoub que aprofunda essa discussão a partir de seu trabalho sobre demolição dos cortiços no Rio de Janeiro, quando teve início a era das favelas naquela cidade, e também o filme sobre Milton Santos, grande alma, geógrafo baiano, marxista, que ganhou o prêmio Júri Popular no último Festival de Cinema de Brasília, com narração de Fernanda Montenegro.
◙ Fátima Almeida é historiadora
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
AMAZÔNIA, UMA REGIÃO DE POUCOS
Trabalhar na floresta amazônica não é mesmo para fracos de coração. O vídeo que você assistirá poderia ter sido resultante de uma ficção tosca, mas na verdade mostra a realidade de um país que cultiva grotões sem lei. "Amazônia, uma região de poucos" foi produzido pelo Greenpeace. O que você verá acontece em todos os estados da Amazônia, inclusive no Acre. Tudo aconteceu na semana passada, entre segunda e quarta-feira. Imperdível.
◙ Clique aqui para ler mais sobre o vídeo. Escreva uma mensagem para o e-mail de denúncia do Ministério Público Federal de Mato Grosso.
◙ Clique aqui para ler mais sobre o vídeo. Escreva uma mensagem para o e-mail de denúncia do Ministério Público Federal de Mato Grosso.
PC DO B REAGE. EU TAMBÉM
Jornal A Tribuna publica na edição de hoje um press-release do presidente da Assembléia Legislativa do Acre. Segue o material, permeado por meus comentários:
"EDVALDO REBATE CRÍTICAS DE BLOGUEIRO"
[Não critiquei o nobre deputado]
O presidente do PC do B no Acre, deputado estadual Edvaldo Magalhães, reagiu indignado às especulações publicadas pelo repórter Altino Machado, em seu blog, afirmando que o partido do parlamentar estaria antecipando o debate sucessório do governador Binho Marques.
[Descabida a suposta indignação, pois bastava ter enviado a contestação e a mesma teria sido publicada "de grátis" neste blog, sem necessidade de pagar com dinheiro público, como é praxe na publicação de press-release pelas editorias de política da imprensa acreana]
Altino escreveu que “embora o senador Tião Viana (PT) já esteja em visível campanha para suceder ao governador Binho Marques (PT) em 2010, os marqueteiros do PC do B avaliam o momento certo para deflagrar o movimento “Volta, Jorge”, que defenderá a candidatura do ex-governador Jorge Viana ao Palácio Rio Branco. O PC do B acredita que o ex-governador tem força suficiente para retribuir o afago influenciando na escolha do presidente da Assembléia Legislativa, Edvaldo Magalhães, para ser o candidato a vice-governador”.
[Reafirmo que a informação é verdadeira, baseada em duas fontes, sendo uma delas de alto coturno no próprio PC do B]
Edvaldo alfinetou lembrando que “ultimamente, a criatividade está tomando conta de algumas mentes brilhantes, mas não passa de criatividade”.
[Alfinetada? Ai! Parece coisa daquele estilista Ronaldo Ésper. Para alfinetar também, concordo com o pensamento sem brilho e originalidade do deputado]
De acordo com o presidente comunista, nesse momento, o PC do B está focado na importante tarefa de ajudar a consolidar o governo Binho Marques. “Alguns esquecem que o governo só está começando e começam a tratar como se o governo estivesse terminando e já vêm tratando da sucessão”, disse.
[É uma inverdade. A fauna e a flora são testemunhas de que o ex-sindicalista conduz a Assembléia Legislativa e o PC do B de modo a viabilizar velho sonho de se tornar governador ou vice-governador do Acre]
O deputado lembrou que do ponto de vista da sucessão do governo, “os apressados esquecem que existe uma eleição no meio que é do ano que vem, e que as forças políticas de agora estão todas se esforçando para construir um cenário de 2008, portanto, discutir 2010 é apenas ocupação para quem anda desocupado”.
[Erro imperdoável do redator ao consolidar um longo período, que induz o leitor a considerar o deputado um desocupado]
Por último, Edvaldo assegurou que “nem o PC do B está pensando nisso, nem o Jorge Viana está querendo isso e nem é momento para discutir a sucessão. O governo de Binho Marques está apenas começando e por uma questão de respeito ao governador não é recomendável tratar disso nesse instante”.
[Falácia do camarada, claro]
"EDVALDO REBATE CRÍTICAS DE BLOGUEIRO"
[Não critiquei o nobre deputado]
O presidente do PC do B no Acre, deputado estadual Edvaldo Magalhães, reagiu indignado às especulações publicadas pelo repórter Altino Machado, em seu blog, afirmando que o partido do parlamentar estaria antecipando o debate sucessório do governador Binho Marques.
[Descabida a suposta indignação, pois bastava ter enviado a contestação e a mesma teria sido publicada "de grátis" neste blog, sem necessidade de pagar com dinheiro público, como é praxe na publicação de press-release pelas editorias de política da imprensa acreana]
Altino escreveu que “embora o senador Tião Viana (PT) já esteja em visível campanha para suceder ao governador Binho Marques (PT) em 2010, os marqueteiros do PC do B avaliam o momento certo para deflagrar o movimento “Volta, Jorge”, que defenderá a candidatura do ex-governador Jorge Viana ao Palácio Rio Branco. O PC do B acredita que o ex-governador tem força suficiente para retribuir o afago influenciando na escolha do presidente da Assembléia Legislativa, Edvaldo Magalhães, para ser o candidato a vice-governador”.
[Reafirmo que a informação é verdadeira, baseada em duas fontes, sendo uma delas de alto coturno no próprio PC do B]
Edvaldo alfinetou lembrando que “ultimamente, a criatividade está tomando conta de algumas mentes brilhantes, mas não passa de criatividade”.
[Alfinetada? Ai! Parece coisa daquele estilista Ronaldo Ésper. Para alfinetar também, concordo com o pensamento sem brilho e originalidade do deputado]
De acordo com o presidente comunista, nesse momento, o PC do B está focado na importante tarefa de ajudar a consolidar o governo Binho Marques. “Alguns esquecem que o governo só está começando e começam a tratar como se o governo estivesse terminando e já vêm tratando da sucessão”, disse.
[É uma inverdade. A fauna e a flora são testemunhas de que o ex-sindicalista conduz a Assembléia Legislativa e o PC do B de modo a viabilizar velho sonho de se tornar governador ou vice-governador do Acre]
O deputado lembrou que do ponto de vista da sucessão do governo, “os apressados esquecem que existe uma eleição no meio que é do ano que vem, e que as forças políticas de agora estão todas se esforçando para construir um cenário de 2008, portanto, discutir 2010 é apenas ocupação para quem anda desocupado”.
[Erro imperdoável do redator ao consolidar um longo período, que induz o leitor a considerar o deputado um desocupado]
Por último, Edvaldo assegurou que “nem o PC do B está pensando nisso, nem o Jorge Viana está querendo isso e nem é momento para discutir a sucessão. O governo de Binho Marques está apenas começando e por uma questão de respeito ao governador não é recomendável tratar disso nesse instante”.
[Falácia do camarada, claro]
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
OU É PAU OU CACETE
José Carlos dos Reis Meirelles
Notícias frescas do alto Envira. O pessoal da Frente de Atração Etno-Ambiental voltou hoje ao local do tiro. Os índios ainda estavam lá. Eles correram, mas o pessoal ainda viu um: cabelo cortado, tipo cuia, parecido com corte jamináwa. Eram aproximadamente 20 homens, com base nos vestígios e rastros.
Também encontram no local uma flecha, diferente das do povo que mora nas malocas conhecidas da região. Ou é pau mandado dos madeireiros, ou estão expulsando mesmo os índios do Peru para o lado brasileiro, aos montes.
O pessoal está com as barbas de molho. São 20 contra três. É covardia. Meu filho Artur está subindo o Envira com mais um companheiro. Serão 20 contra 5. Assim está melhor. Somos doidos mesmo.
Estou avisando ao meu chefe em Brasília, via e-mail. Tudo leva a crer que é povo do território peruano. Estão de muda ou a mando. Como já disse, ou é pau ou cacete.
◙ José Carlos dos Reis Meirelles é chefe da Frente de Proteção Etno-Ambiental da Funai no alto Envira, na fronteira do Brasil com o Peru.
Notícias frescas do alto Envira. O pessoal da Frente de Atração Etno-Ambiental voltou hoje ao local do tiro. Os índios ainda estavam lá. Eles correram, mas o pessoal ainda viu um: cabelo cortado, tipo cuia, parecido com corte jamináwa. Eram aproximadamente 20 homens, com base nos vestígios e rastros.
Também encontram no local uma flecha, diferente das do povo que mora nas malocas conhecidas da região. Ou é pau mandado dos madeireiros, ou estão expulsando mesmo os índios do Peru para o lado brasileiro, aos montes.
O pessoal está com as barbas de molho. São 20 contra três. É covardia. Meu filho Artur está subindo o Envira com mais um companheiro. Serão 20 contra 5. Assim está melhor. Somos doidos mesmo.
Estou avisando ao meu chefe em Brasília, via e-mail. Tudo leva a crer que é povo do território peruano. Estão de muda ou a mando. Como já disse, ou é pau ou cacete.
◙ José Carlos dos Reis Meirelles é chefe da Frente de Proteção Etno-Ambiental da Funai no alto Envira, na fronteira do Brasil com o Peru.
O URUBU E A BOLACHA
Embora o senador Tião Viana (PT) já esteja em visível campanha para suceder ao governador Binho Marques (PT) em 2010, os marqueteiros do PC do B avaliam o momento certo para deflagrar o movimento "Volta, Jorge", que defenderá a candidatura do ex-governador Jorge Viana ao Palácio Rio Branco. O PC do B acredita que o ex-governador tem força suficiente para retribuir o afago influenciando na escolha do presidente da Assembléia Legislativa, Edvaldo Magalhães, para ser o candidato a vice-governador.
- A estiagem da política será mais longa, mas talvez as ambições em conflito provoquem um racha na Frente Popular em um dia não muito distante - escreveu Antonio Alves, assessor do governador Binho Marques, amigo da ministra Marina Silva e bastante respeitado como analista visionário da política acreana.
É natural que o ambiente político se configure incerto nesta hora. Existe até quem duvide, por exemplo, que Tião Viana possa se tornar realmente o candidato da Frente Popular ao governo em 2010. Jorge Viana, o irmão dele, gosta de exercer o poder como executivo e nunca conseguiu esconder uma pontinha de ojeriza pela atividade parlamentar. Caso Tião Viana seja o candidato eleito em 2010, a volta de Jorge Viana ao governo estadual estaria comprometida por mais de uma década.
Jorge Viana não poderia, por força da legislação em vigor, ser candidato para suceder ao irmão após quatro ou oito anos de mandato. Teria que ser eleito um novo governador-tampão, como o é Binho Marques. Até lá, Jorge já teria enfrentado no mínimo 12 anos de abstinência. Como é algo impensável para Jorge Viana, com toda a sua boa vontade, força e carisma, lideranças menos expressivas da Frente Popular semeiam no ar a ameaça de que vão escapar ao cerco do vianismo. É o caso dos deputados Sérgio Petecão (PMN) e Fernando Melo (PT), que flertam abertamente com a oposição.
E Marina Silva? A ministra emite sinais de que vai mesmo abandonar a política. Já disse a amigos que gostaria de trabalhar na África ou criar uma ONG para a defesa de causas socioambientais. Não voltaria a lecionar em escolas públicas do Acre e nem estaria disposta a dar pitaco na política paroquial. Com isso, até o ex-governador Orleir Cameli, que o jornal O Globo chamou em manchete de "um campeão de falcatruas na cadeira de governador", está de olho na vaga dela.
Quem vive na floresta precisa ter sono de tetéu, um pássaro que fica sempre na praia dos rios. Quando alguém pisa na ponta da praia ele alarma, de dia ou de noite. É branco, pernas cor de rosa e gola preta. Bota na areia, no verão, ovos pintadinhos de preto. Sob o sol quente, enterra os ovos. O sol choca de dia e ele de noite. Sabido que nem o leitor. Dorme, dizem os índios, apoiado em uma perna só. A outra ele levanta e mete a unha dentro do ouvido. Quando a cabeça pende em sono profundo, a unha machuca o ouvido. E ele acorda e canta assim:
- Fói, fói.
Ao comentar o artigo de Antonio Alves, reproduzido neste blog, um anônimo abusado escreveu que "o urubu caga bolacha, mas a frente não racha tão cedo". Vamos esperar. Em terra onde não há amigo certo a gente dorme com um olho fechado e outro aberto.
- A estiagem da política será mais longa, mas talvez as ambições em conflito provoquem um racha na Frente Popular em um dia não muito distante - escreveu Antonio Alves, assessor do governador Binho Marques, amigo da ministra Marina Silva e bastante respeitado como analista visionário da política acreana.
É natural que o ambiente político se configure incerto nesta hora. Existe até quem duvide, por exemplo, que Tião Viana possa se tornar realmente o candidato da Frente Popular ao governo em 2010. Jorge Viana, o irmão dele, gosta de exercer o poder como executivo e nunca conseguiu esconder uma pontinha de ojeriza pela atividade parlamentar. Caso Tião Viana seja o candidato eleito em 2010, a volta de Jorge Viana ao governo estadual estaria comprometida por mais de uma década.
Jorge Viana não poderia, por força da legislação em vigor, ser candidato para suceder ao irmão após quatro ou oito anos de mandato. Teria que ser eleito um novo governador-tampão, como o é Binho Marques. Até lá, Jorge já teria enfrentado no mínimo 12 anos de abstinência. Como é algo impensável para Jorge Viana, com toda a sua boa vontade, força e carisma, lideranças menos expressivas da Frente Popular semeiam no ar a ameaça de que vão escapar ao cerco do vianismo. É o caso dos deputados Sérgio Petecão (PMN) e Fernando Melo (PT), que flertam abertamente com a oposição.
E Marina Silva? A ministra emite sinais de que vai mesmo abandonar a política. Já disse a amigos que gostaria de trabalhar na África ou criar uma ONG para a defesa de causas socioambientais. Não voltaria a lecionar em escolas públicas do Acre e nem estaria disposta a dar pitaco na política paroquial. Com isso, até o ex-governador Orleir Cameli, que o jornal O Globo chamou em manchete de "um campeão de falcatruas na cadeira de governador", está de olho na vaga dela.
Quem vive na floresta precisa ter sono de tetéu, um pássaro que fica sempre na praia dos rios. Quando alguém pisa na ponta da praia ele alarma, de dia ou de noite. É branco, pernas cor de rosa e gola preta. Bota na areia, no verão, ovos pintadinhos de preto. Sob o sol quente, enterra os ovos. O sol choca de dia e ele de noite. Sabido que nem o leitor. Dorme, dizem os índios, apoiado em uma perna só. A outra ele levanta e mete a unha dentro do ouvido. Quando a cabeça pende em sono profundo, a unha machuca o ouvido. E ele acorda e canta assim:
- Fói, fói.
Ao comentar o artigo de Antonio Alves, reproduzido neste blog, um anônimo abusado escreveu que "o urubu caga bolacha, mas a frente não racha tão cedo". Vamos esperar. Em terra onde não há amigo certo a gente dorme com um olho fechado e outro aberto.
terça-feira, 28 de agosto de 2007
TIÃO COM OS PÉS NO CHÃO
Deu no G1:
Vice-presidente do Senado participa de festival indígena
Tião Viana (PT-AC) esteve em Tarauacá, no Acre, para a abertura da cerimônia.
Descontraído, vestindo camiseta e short, o vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), participou da abertura do festival Yawa, realizado pelos índios Yawanuawiá. O evento é realizado há seis anos em Tarauacá, no Acre.
◙ Espera-se que a participação no Festival Yawa possa ter contribuído para sensibilizar ainda mais o coração do senador Tião Viana em relação aos alertas (leia "Um tiro na fronteira" e "Danielle Miterrand no Acre") do povo ashaninka e do sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, que chefia a Frente de Proteção Etno-Ambiental da Funai, na fronteira do Brasil com o Peru. Ambos têm denunciado a invasão do território brasileiro por madeireiros peruanos. Na foto acima, de Odair Leal, aparecem os pajés Tatá e Kátia, o senador Tião, e os jovens líderes Biraci e Tashka.
UM TIRO NA FRONTEIRA
José Carlos dos Reis Meirelles
Ainda hoje cedo conversava com meu amigo Altino Machado sobre a exploração de madeira pelos peruanos na região da fronteira e também li no blog dele um apelo dos ashaninka do Amônea, sobre a existência de índios peruanos armados, a mando dos madeireiros, querendo matar os índios que são contra a exploração de madeira.
Nas cabeceiras do Envira, onde trabalhamos, de uns tempos para cá, passamos a ouvir muitos tiros. Alguns índios foram vistos, mas suas aparências não têm qualquer semelhança com a dos índios isolados que conhecemos. Ainda durante a conversa com o jornalista, disse que esta história vai acabar mal.
Pois bem, hoje recebo pelo rádio, às 16 horas, do pessoal da Frente de Proteção Etno-Ambiental (foto), a notícia de dois trabalhadores que receberam um tiro quando retornavam, de canoa, de uma caçada, próxima à sede da frente. Felizmente o chumbo passou de raspão e deu nágua.
Tiro de cartucho de fábrica, de grosso calibre. Não há a mínima possibilidade de que seja de caçadores. A área é distante e para caçar é preciso ir de canoa. O fato ocorreu acima da base da Frente de Proteção Entno-Ambiental.
Já havia alertado uma vez que alguns "índios isolados", com muitas aspas, que estão transitando no alto Envira, poderiam ser índios aculturados, moradores do Peru, a mando dos madeireiros. Agora isso acontece!
Eu já levei uma flechada, nossos trabalhadores também. Agora tiro. É o início de um grande desastre que está por acontecer nas fronteiras. Conosco, com os ashaninka, ou com qualquer um que resida ou trabalhe na região.
Será que, além da invasão para retirar madeira em nosso país, os madeireiros peruanos vão nos matar a tiros, dentro de nosso território? Se nada for feito, acontecerá, mais breve do que se possa imaginar. Mais uma vez fica o alerta. Esperamos rapidez na prevenção e não no resgate de corpos.
◙ José Carlos dos Reis Meirelles chefia a Frente de Proteção Etno-Ambiental da Funai na fronteira do Brasil com o Peru
Ainda hoje cedo conversava com meu amigo Altino Machado sobre a exploração de madeira pelos peruanos na região da fronteira e também li no blog dele um apelo dos ashaninka do Amônea, sobre a existência de índios peruanos armados, a mando dos madeireiros, querendo matar os índios que são contra a exploração de madeira.
Nas cabeceiras do Envira, onde trabalhamos, de uns tempos para cá, passamos a ouvir muitos tiros. Alguns índios foram vistos, mas suas aparências não têm qualquer semelhança com a dos índios isolados que conhecemos. Ainda durante a conversa com o jornalista, disse que esta história vai acabar mal.
Pois bem, hoje recebo pelo rádio, às 16 horas, do pessoal da Frente de Proteção Etno-Ambiental (foto), a notícia de dois trabalhadores que receberam um tiro quando retornavam, de canoa, de uma caçada, próxima à sede da frente. Felizmente o chumbo passou de raspão e deu nágua.
Tiro de cartucho de fábrica, de grosso calibre. Não há a mínima possibilidade de que seja de caçadores. A área é distante e para caçar é preciso ir de canoa. O fato ocorreu acima da base da Frente de Proteção Entno-Ambiental.
Já havia alertado uma vez que alguns "índios isolados", com muitas aspas, que estão transitando no alto Envira, poderiam ser índios aculturados, moradores do Peru, a mando dos madeireiros. Agora isso acontece!
Eu já levei uma flechada, nossos trabalhadores também. Agora tiro. É o início de um grande desastre que está por acontecer nas fronteiras. Conosco, com os ashaninka, ou com qualquer um que resida ou trabalhe na região.
Será que, além da invasão para retirar madeira em nosso país, os madeireiros peruanos vão nos matar a tiros, dentro de nosso território? Se nada for feito, acontecerá, mais breve do que se possa imaginar. Mais uma vez fica o alerta. Esperamos rapidez na prevenção e não no resgate de corpos.
◙ José Carlos dos Reis Meirelles chefia a Frente de Proteção Etno-Ambiental da Funai na fronteira do Brasil com o Peru
BLOG PAUTA THE NEW YORK TIMES
Enquanto Brasil defende sua biodiversidade, regras amarram os cientistas
Larry Rohter
No Rio de Janeiro
Marc van Roosmalen é um primatologista de renome internacional cuja pesquisa na Amazônia levou à descoberta de cinco espécies de macacos e de um novo gênero de primata. Mas devido precisamente a este trabalho, Van Roosmalen foi recentemente preso e sentenciado a quase 16 anos em Manaus, Brasil.
No início de agosto, seus advogados conseguiram que ele apelasse em liberdade da condenação por suposta biopirataria. Mas cientistas daqui e do exterior estão ultrajados, descrevendo o caso como o exemplo mais clamoroso de leis e políticas governamentais que dizem ser xenófobas e que cada vez mais dificultam a pesquisa científica.
"A pesquisa precisa ser estimulada, não criminalizada", disse Enio Candotti, um físico que nos últimos quatro anos foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a principal entidade científica do país. "Em vez disso, temos uma situação na qual burocratas com excesso de zelo consideram qualquer um culpado a menos que possa provar sua inocência".
Joaquina Karitiana (dir.) diz que amostras de seu sangue foram vendidos sem consentimento
Em uma conferência de biólogos realizada no México no mês passado, 287 cientistas de 30 países assinaram uma petição dizendo que a prisão de Van Roosmalen indicava "uma tendência de repressão governamental aos cientistas no Brasil".
O tratamento dado a eles, eles alertaram, é indevidamente duro e "já desencoraja a pesquisa biológica no Brasil, tanto por cientistas brasileiros quanto por potenciais doadores internacionais".
Autoridades do governo brasileiro disseram não ter nada contra cientistas e que apenas estão protegendo o patrimônio genético e natural do país; elas também se recusaram a conversar sobre o caso de Van Roosmalen.
O temor da biopirataria, definida vagamente como qualquer aquisição ou transporte não autorizado de material genético ou flora e fauna viva, são profundos e antigos no Brasil. Há quase um século, por exemplo, o boom da borracha na Amazônia sofreu um colapso depois que sir Henry Wickham, um botânico e explorador britânico, contrabandeou sementes de seringueiras para fora do Brasil, as enviando para colônias no Ceilão e Malaia (atualmente Sri Lanka e Malásia), que rapidamente dominaram o mercado internacional.
Nos anos 70, a companhia farmacêutica Squibb usou veneno de jararaca para o desenvolvimento do captopril, usado no tratamento de hipertensão e insuficiência cardíaca, sem pagamento dos royalties que os brasileiros consideram devidos. Mais recentemente, tribos indígenas brasileiras se queixaram de que amostras de seu sangue, obtidas sob circunstâncias consideradas não éticas, estão sendo usadas em pesquisa genética ao redor do mundo.
Nos últimos anos o Brasil aprovou uma legislação para coibir tais práticas. O sentimento nacionalista favorece as leis, mas os cientistas se queixam de que elas vão longe demais, são vagas demais, conferem poder demais para autoridades sem nenhum conhecimento científico e criaram a suposição de que todo pesquisador está envolvido em biopirataria.
"Nós queremos proteger o meio ambiente e o conhecimento tradicional, mas a legislação é restritiva demais, dando origem a abusos e falta de bom senso", disse Candotti. "O resultado é paranóia e um desastre para a ciência. Há talebans no governo que dizem estar defendendo o interesse nacional, mas eles acabam o enfraquecendo e prejudicando."
Para a realização de pesquisa de campo no Brasil, pode ser necessária a autorização de até cinco órgãos governamentais. Apesar da lei exigir uma resposta em até 90 dias, os cientistas dizem que a aprovação pode demorar até dois anos porque os órgãos carecem de verbas e pessoal, particularmente funcionários com conhecimento do método científico.
Isto leva a uma situação na qual muitos pesquisadores prosseguem com seu trabalho supondo que no final será aprovado. Candotti estima que até metade da pesquisa de campo realizada no Brasil pode estar tecnicamente irregular, mas a prisão de Van Roosmalen, que a revista "Time" elegeu como um de seus "Heróis do Planeta" em 2000 devido ao seu trabalho na Amazônia, fez com que muitos pesquisadores fizessem uma pausa e reavaliassem sua situação.
"Se eles podem prendê-lo por acusações inventadas, eles podem pegar qualquer um de nós", disse um cientista baseado em Manaus, que falou sob a condição de anonimato por temer que futuros projetos de pesquisa sejam rejeitados. "Todos dobram as regras, porque elas são onerosas demais a ponto de impossibilitar que qualquer trabalho seja feito caso você as siga à risca".
Alguns cientistas estrangeiros também disseram que devido aos temores de biopirataria aqui, eles não podem mais considerar o Brasil como um parceiro confiável de pesquisa. Como exemplos, eles citaram casos em que amostras de material de pesquisa originalmente obtido no Brasil e posteriormente levado para o exterior foram apreendidas pelas autoridades do governo e até mesmo incineradas quando enviadas de volta ao Brasil por empréstimo para os cientistas daqui.
Os estrangeiros não são os único que se queixam. Os cientistas brasileiros também relatam problemas para a aprovação de propostas de pesquisa e dizem estar enfrentando limitações não razoáveis ao seu trabalho e confisco de material.
Em um caso recente, um pesquisador do Instituto Butantã em São Paulo queria estudar uma espécie de borboleta amazônica, de interesse farmacêutico potencial porque sua larva secreta uma substância tóxica que causa insensibilidade, paralisia e pode contribuir para a artrite. A autorização demorou meses e, quando finalmente chegou, era para apenas um dia - em fevereiro, semanas após as larvas terem concluído sua metamorfose.
Em outro caso, um pesquisador foi investigado após ter enviado por correio slides de tecido de verme para um colega na Alemanha em vez de enviar os dados genéticos por e-mail. De forma semelhante, um ornitólogo autorizado a manter aves raras em cativeiro foi detido por não ter a permissão de levar as aves de uma instalação de pesquisa na Amazônia para outra, e o pedido de um pesquisador para transportar uma colônia de formigas foi negada, supostamente devido ao estresse que causaria aos insetos.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o principal órgão do governo que lida com pesquisa científica no Brasil, se recusou a disponibilizar algum representante para entrevistas sobre o caso Van Roosmalen ou sobre as queixas de outros cientistas. A secretaria de imprensa do órgão sugeriu inicialmente uma entrevista com o diretor, Marco Antonio Zago, mas voltou atrás após ver a lista de perguntas, preferindo emitir uma declaração por escrito em seu nome.
"Não há base para acreditar que o governo brasileiro tentaria intimidar a comunidade científica, seja na Amazônia ou em qualquer outra região do país", disse a declaração. O governo federal está apenas "adotando medidas para proteger a soberania e biodiversidade do país com base nas leis promulgadas pelo Congresso".
No Conselho de Defesa Nacional, outro órgão que nos últimos anos está envolvido na aprovação de alguns pedidos de pesquisa em conseqüência das mudanças na lei, uma funcionária, Renata Furtado, reconheceu que há problemas, mas disse que os próprios cientistas são os principais culpados. Eles freqüentemente não fornecem informação suficientemente detalhada sobre os pedidos de pesquisa, ela disse, eles "não se comprometem", resistem à supervisão e querem trabalhar em áreas de fronteira sensíveis.
"Nós estamos tentando tornar o processo mais democrático, mais aberto ao diálogo, convidando todas as partes interessadas, incluindo as forças armadas e os grupos indígenas, e quando isto acontece, naturalmente você tem pessoas a favor e contra" a proposta, ela disse. "A pesquisa científica legalizada feita por estrangeiros no Brasil está indo muito bem, obrigado, mas precisamos abrir este processo ainda mais para que verdadeiros pesquisadores sejam encorajados a vir, não apenas mochileiros".
Os advogados de Van Roosmalen, um cidadão brasileiro naturalizado que nasceu na Holanda, disseram que ele é em grande parte vítima do sentimento xenófobo associado aos temores de biopirataria. Eles notaram que ele foi julgado como estrangeiro, teve inicialmente negado o habeas-corpus e o direito de apelação do veredicto contra ele, recebeu pena quase máxima apesar de ser réu primário e foi enviado para um presídio barra pesada.
"Este julgamento foi conduzido de forma altamente irregular e por acusações inventadas", disse Miguel Barrella, um dos advogados de Van Roosmalen. "Eles não puderam provar as acusações de biopirataria, então maquinaram uma série de acusações espúrias, como manter macacos sem autorização em sua casa, onde ele tem um centro de reabilitação de primatas".
Edmilson da Costa Barreiros, o procurador federal em Manaus que relatou o caso contra Van Roosmalen, não respondeu aos pedidos de comentário. Mas um artigo no "A Crítica", o principal jornal local, o citou como tendo pedido para que o cientista fosse transformado em um "exemplo para que outros vejam que não podem fazer o que bem entendem em uma instituição pública".
Ao longo dos anos Van Roosmalen entrou várias vezes em choque com as autoridades brasileiras, incluindo com seus superiores no Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica (INPA), em Manaus, que é financiado pelo governo. Ele já foi detido durante uma viagem de barco por transporte de macacos sem permissão, e quando enviou excremento do animal para o exterior para análise em um laboratório, ele também se viu com problemas com a lei. No final, ele foi demitido do INPA, onde colegas cientistas disseram que o reconhecimento que ele recebeu da revista "Time" provocou ressentimento entre os administradores burocráticos.
Para levantar dinheiro para a continuidade de sua pesquisa, ele fez uma oferta em seu site de batizar as espécies de macacos que descobriu em homenagem aos seus doadores, que incluem o príncipe Bernhard da Holanda. Esta é uma prática comum desde que Linnaeus criou o sistema moderno de classificação biológica no século 18 e reis e duques financiavam as expedições em troca de imortalidade taxonômica. Mas as autoridades brasileiras consideraram isto ilegal, o que serviu de base para uma das acusações de "apropriação indébita" pela qual Van Roosmalen foi condenado.
Mesmo os mais ardorosos defensores de Van Roosmalen disseram que ele freqüentemente é teimoso, birrento e nada deferente à autoridade. Mas Wim Veen, um ex-condiscípulo que é um dos fundadores do Ajude Marc van Roosmalen, um fundo e comitê de defesa criado na Holanda, disse que tais falhas não são importantes diante das questões maiores em jogo.
"Se há alguém no Brasil que defende a Amazônia, é Marc", disse Veen, "o que torna particularmente cínico vê-lo transformado em vítima de uma legislação criada não para ele, mas para aqueles que querem extrair as riquezas da floresta tropical para benefício material próprio".
◙ Larry Rohter é correspondente do New York Times no Brasil. A tradução é de George El Khouri Andolfato (The New York Times, Uol.com/Mídia Global, 28/8). O caso Marc van Roosmalen vem sendo ignorado pela imprensa brasileira. Leia mais a respeito, neste blog, os posts "Mensagem da Holanda", "Prisão de Marc Von Roosmalen" e "Na SBPC, em Belém".
Larry Rohter
No Rio de Janeiro
Marc van Roosmalen é um primatologista de renome internacional cuja pesquisa na Amazônia levou à descoberta de cinco espécies de macacos e de um novo gênero de primata. Mas devido precisamente a este trabalho, Van Roosmalen foi recentemente preso e sentenciado a quase 16 anos em Manaus, Brasil.
No início de agosto, seus advogados conseguiram que ele apelasse em liberdade da condenação por suposta biopirataria. Mas cientistas daqui e do exterior estão ultrajados, descrevendo o caso como o exemplo mais clamoroso de leis e políticas governamentais que dizem ser xenófobas e que cada vez mais dificultam a pesquisa científica.
"A pesquisa precisa ser estimulada, não criminalizada", disse Enio Candotti, um físico que nos últimos quatro anos foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a principal entidade científica do país. "Em vez disso, temos uma situação na qual burocratas com excesso de zelo consideram qualquer um culpado a menos que possa provar sua inocência".
Joaquina Karitiana (dir.) diz que amostras de seu sangue foram vendidos sem consentimento
Em uma conferência de biólogos realizada no México no mês passado, 287 cientistas de 30 países assinaram uma petição dizendo que a prisão de Van Roosmalen indicava "uma tendência de repressão governamental aos cientistas no Brasil".
O tratamento dado a eles, eles alertaram, é indevidamente duro e "já desencoraja a pesquisa biológica no Brasil, tanto por cientistas brasileiros quanto por potenciais doadores internacionais".
Autoridades do governo brasileiro disseram não ter nada contra cientistas e que apenas estão protegendo o patrimônio genético e natural do país; elas também se recusaram a conversar sobre o caso de Van Roosmalen.
O temor da biopirataria, definida vagamente como qualquer aquisição ou transporte não autorizado de material genético ou flora e fauna viva, são profundos e antigos no Brasil. Há quase um século, por exemplo, o boom da borracha na Amazônia sofreu um colapso depois que sir Henry Wickham, um botânico e explorador britânico, contrabandeou sementes de seringueiras para fora do Brasil, as enviando para colônias no Ceilão e Malaia (atualmente Sri Lanka e Malásia), que rapidamente dominaram o mercado internacional.
Nos anos 70, a companhia farmacêutica Squibb usou veneno de jararaca para o desenvolvimento do captopril, usado no tratamento de hipertensão e insuficiência cardíaca, sem pagamento dos royalties que os brasileiros consideram devidos. Mais recentemente, tribos indígenas brasileiras se queixaram de que amostras de seu sangue, obtidas sob circunstâncias consideradas não éticas, estão sendo usadas em pesquisa genética ao redor do mundo.
Nos últimos anos o Brasil aprovou uma legislação para coibir tais práticas. O sentimento nacionalista favorece as leis, mas os cientistas se queixam de que elas vão longe demais, são vagas demais, conferem poder demais para autoridades sem nenhum conhecimento científico e criaram a suposição de que todo pesquisador está envolvido em biopirataria.
"Nós queremos proteger o meio ambiente e o conhecimento tradicional, mas a legislação é restritiva demais, dando origem a abusos e falta de bom senso", disse Candotti. "O resultado é paranóia e um desastre para a ciência. Há talebans no governo que dizem estar defendendo o interesse nacional, mas eles acabam o enfraquecendo e prejudicando."
Para a realização de pesquisa de campo no Brasil, pode ser necessária a autorização de até cinco órgãos governamentais. Apesar da lei exigir uma resposta em até 90 dias, os cientistas dizem que a aprovação pode demorar até dois anos porque os órgãos carecem de verbas e pessoal, particularmente funcionários com conhecimento do método científico.
Isto leva a uma situação na qual muitos pesquisadores prosseguem com seu trabalho supondo que no final será aprovado. Candotti estima que até metade da pesquisa de campo realizada no Brasil pode estar tecnicamente irregular, mas a prisão de Van Roosmalen, que a revista "Time" elegeu como um de seus "Heróis do Planeta" em 2000 devido ao seu trabalho na Amazônia, fez com que muitos pesquisadores fizessem uma pausa e reavaliassem sua situação.
"Se eles podem prendê-lo por acusações inventadas, eles podem pegar qualquer um de nós", disse um cientista baseado em Manaus, que falou sob a condição de anonimato por temer que futuros projetos de pesquisa sejam rejeitados. "Todos dobram as regras, porque elas são onerosas demais a ponto de impossibilitar que qualquer trabalho seja feito caso você as siga à risca".
Alguns cientistas estrangeiros também disseram que devido aos temores de biopirataria aqui, eles não podem mais considerar o Brasil como um parceiro confiável de pesquisa. Como exemplos, eles citaram casos em que amostras de material de pesquisa originalmente obtido no Brasil e posteriormente levado para o exterior foram apreendidas pelas autoridades do governo e até mesmo incineradas quando enviadas de volta ao Brasil por empréstimo para os cientistas daqui.
Os estrangeiros não são os único que se queixam. Os cientistas brasileiros também relatam problemas para a aprovação de propostas de pesquisa e dizem estar enfrentando limitações não razoáveis ao seu trabalho e confisco de material.
Em um caso recente, um pesquisador do Instituto Butantã em São Paulo queria estudar uma espécie de borboleta amazônica, de interesse farmacêutico potencial porque sua larva secreta uma substância tóxica que causa insensibilidade, paralisia e pode contribuir para a artrite. A autorização demorou meses e, quando finalmente chegou, era para apenas um dia - em fevereiro, semanas após as larvas terem concluído sua metamorfose.
Em outro caso, um pesquisador foi investigado após ter enviado por correio slides de tecido de verme para um colega na Alemanha em vez de enviar os dados genéticos por e-mail. De forma semelhante, um ornitólogo autorizado a manter aves raras em cativeiro foi detido por não ter a permissão de levar as aves de uma instalação de pesquisa na Amazônia para outra, e o pedido de um pesquisador para transportar uma colônia de formigas foi negada, supostamente devido ao estresse que causaria aos insetos.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o principal órgão do governo que lida com pesquisa científica no Brasil, se recusou a disponibilizar algum representante para entrevistas sobre o caso Van Roosmalen ou sobre as queixas de outros cientistas. A secretaria de imprensa do órgão sugeriu inicialmente uma entrevista com o diretor, Marco Antonio Zago, mas voltou atrás após ver a lista de perguntas, preferindo emitir uma declaração por escrito em seu nome.
"Não há base para acreditar que o governo brasileiro tentaria intimidar a comunidade científica, seja na Amazônia ou em qualquer outra região do país", disse a declaração. O governo federal está apenas "adotando medidas para proteger a soberania e biodiversidade do país com base nas leis promulgadas pelo Congresso".
No Conselho de Defesa Nacional, outro órgão que nos últimos anos está envolvido na aprovação de alguns pedidos de pesquisa em conseqüência das mudanças na lei, uma funcionária, Renata Furtado, reconheceu que há problemas, mas disse que os próprios cientistas são os principais culpados. Eles freqüentemente não fornecem informação suficientemente detalhada sobre os pedidos de pesquisa, ela disse, eles "não se comprometem", resistem à supervisão e querem trabalhar em áreas de fronteira sensíveis.
"Nós estamos tentando tornar o processo mais democrático, mais aberto ao diálogo, convidando todas as partes interessadas, incluindo as forças armadas e os grupos indígenas, e quando isto acontece, naturalmente você tem pessoas a favor e contra" a proposta, ela disse. "A pesquisa científica legalizada feita por estrangeiros no Brasil está indo muito bem, obrigado, mas precisamos abrir este processo ainda mais para que verdadeiros pesquisadores sejam encorajados a vir, não apenas mochileiros".
Os advogados de Van Roosmalen, um cidadão brasileiro naturalizado que nasceu na Holanda, disseram que ele é em grande parte vítima do sentimento xenófobo associado aos temores de biopirataria. Eles notaram que ele foi julgado como estrangeiro, teve inicialmente negado o habeas-corpus e o direito de apelação do veredicto contra ele, recebeu pena quase máxima apesar de ser réu primário e foi enviado para um presídio barra pesada.
"Este julgamento foi conduzido de forma altamente irregular e por acusações inventadas", disse Miguel Barrella, um dos advogados de Van Roosmalen. "Eles não puderam provar as acusações de biopirataria, então maquinaram uma série de acusações espúrias, como manter macacos sem autorização em sua casa, onde ele tem um centro de reabilitação de primatas".
Edmilson da Costa Barreiros, o procurador federal em Manaus que relatou o caso contra Van Roosmalen, não respondeu aos pedidos de comentário. Mas um artigo no "A Crítica", o principal jornal local, o citou como tendo pedido para que o cientista fosse transformado em um "exemplo para que outros vejam que não podem fazer o que bem entendem em uma instituição pública".
Ao longo dos anos Van Roosmalen entrou várias vezes em choque com as autoridades brasileiras, incluindo com seus superiores no Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica (INPA), em Manaus, que é financiado pelo governo. Ele já foi detido durante uma viagem de barco por transporte de macacos sem permissão, e quando enviou excremento do animal para o exterior para análise em um laboratório, ele também se viu com problemas com a lei. No final, ele foi demitido do INPA, onde colegas cientistas disseram que o reconhecimento que ele recebeu da revista "Time" provocou ressentimento entre os administradores burocráticos.
Para levantar dinheiro para a continuidade de sua pesquisa, ele fez uma oferta em seu site de batizar as espécies de macacos que descobriu em homenagem aos seus doadores, que incluem o príncipe Bernhard da Holanda. Esta é uma prática comum desde que Linnaeus criou o sistema moderno de classificação biológica no século 18 e reis e duques financiavam as expedições em troca de imortalidade taxonômica. Mas as autoridades brasileiras consideraram isto ilegal, o que serviu de base para uma das acusações de "apropriação indébita" pela qual Van Roosmalen foi condenado.
Mesmo os mais ardorosos defensores de Van Roosmalen disseram que ele freqüentemente é teimoso, birrento e nada deferente à autoridade. Mas Wim Veen, um ex-condiscípulo que é um dos fundadores do Ajude Marc van Roosmalen, um fundo e comitê de defesa criado na Holanda, disse que tais falhas não são importantes diante das questões maiores em jogo.
"Se há alguém no Brasil que defende a Amazônia, é Marc", disse Veen, "o que torna particularmente cínico vê-lo transformado em vítima de uma legislação criada não para ele, mas para aqueles que querem extrair as riquezas da floresta tropical para benefício material próprio".
◙ Larry Rohter é correspondente do New York Times no Brasil. A tradução é de George El Khouri Andolfato (The New York Times, Uol.com/Mídia Global, 28/8). O caso Marc van Roosmalen vem sendo ignorado pela imprensa brasileira. Leia mais a respeito, neste blog, os posts "Mensagem da Holanda", "Prisão de Marc Von Roosmalen" e "Na SBPC, em Belém".
A CARTA DE CRÉDITO DO PT
Fátima Almeida
Assisti na semana passada um show de artistas locais, patrocinado pelo BASA, no qual várias composições aludiam à natureza. Temas como “Amazônia”, “Chico Mendes” são constantes. No entanto, ficava a lembrar dos vários caminhões que vi trafegar acelerados em direção a Rondônia portando toras imensas. Dias depois vi a mesma cena numa manhã de domingo. São incansáveis. Para a população são apenas caminhões trafegando com madeira. Por alguma deficiência orgânica, falta de vitamina B12, por exemplo, além da deficiência em leitura, não consegue relacionar aqueles caminhões com a seca, o calor excessivo e a própria miséria.
Por sua vez não temos mais, no Acre, artistas militantes. O apelo à natureza, em composições é apenas uma apropriação de discurso demagógico. Os artistas de hoje não querem mais estar onde o povo está e sim na área de influência das benesses do Estado. Não são tradutores dos anseios do povo, não exercem a crítica, não produzem nenhum efeito junto à sociedade mesmo porque não possuem identidade de classe como ocorre com as bandas de rap das Ceilândias do Brasil.
O clímax do citado show aconteceu no encerramento, com a banda “menina dos olhos” do Governo, da vocalista Carol, que apresentou carinhosamente os seus músicos, entre eles o Daniel Zen, que se contorcia com sua guitarra e caminhava depois pelo estacionamento como se pisasse no céu, feliz e realizado.
O Zen é o atual Secretário de Cultura do governador Arnóbio Marques. Como contraponto, o Pia Vila, chamado de “velho doido” na música interpretada pela vocalista, ajoelhou-se para beijar, no palco, a mão da moça. Desmemoriado, o Pia Vila nem lembra mais que participou do show “Flora Sonora”, em 76, a primeira bandeira de resistência cultural à barbárie dos pioneiros sulistas que chegavam para devastar o Acre. Ainda bem que Felipe Jardim nem saiu de casa para ver o parceiro tal qual um índio a vender a floresta em troca de espelhos e bugigangas.
Antes da escolha dos secretários, artistas de outra geração mobilizaram um Fórum de Cultura, em Rio Branco, para enviar uma lista tríplice ao governo com seus candidatos à presidência da Fundação Cultural. Entre os nomes figurava o de Henrique Silvestre, professor de letras da Universidade Federal do Acre, que participou ativamente do meio artístico-cultural por duas décadas, e das campanhas do PT. O governador não deu a mínima. Ao que dizem, prefere apostar no sangue jovem.
Os artistas militantes do período da ditadura militar, da resistência à ocupação desordenada dos seringais nativos - transformados, “num tapa”, em pastos para pecuária extensiva- que traduziam os anseios da população através do teatro, arte plástica, literatura e outros, não participam do governo do PT. Não é estranho?
Foram eles, também, junto com sindicatos rurais e urbanos, jornalistas, comunidades eclesiais de base, indigenistas, lideranças do movimento estudantil, que construíram a imagem e a credibilidade do Partido dos Trabalhadores no Acre. Diga-se de passagem, a atual Frente Popular, que reúne siglas de diversos partidos, não traduz, nem de longe, a verdadeira frente popular que construiu a carta de crédito do PT.
Democracia e cidadania não podem ser dadas pelo Estado, são conquistadas, permanentemente, com muita mobilização e luta. Mas tudo arrefeceu, temos artistas medíocres, estudantes quase imobilizados, sindicatos atrelados, uma igreja calada porque ganhou uma ou duas secretarias, e de contrapeso, um exército de evangélicos militantes e fundamentalistas, a propagar, entre outras coisas, a homofobia.
A meu ver, os partidos progressistas pegaram o trem deixado pelos militares e seguiram fagueiros pelos mesmos trilhos, levando em seus vagões os ovos da serpente. Pela janela, a bandeira de unidade na luta é mais um traste no lixo.
◙ Fátima Almeida é historiadora
Assisti na semana passada um show de artistas locais, patrocinado pelo BASA, no qual várias composições aludiam à natureza. Temas como “Amazônia”, “Chico Mendes” são constantes. No entanto, ficava a lembrar dos vários caminhões que vi trafegar acelerados em direção a Rondônia portando toras imensas. Dias depois vi a mesma cena numa manhã de domingo. São incansáveis. Para a população são apenas caminhões trafegando com madeira. Por alguma deficiência orgânica, falta de vitamina B12, por exemplo, além da deficiência em leitura, não consegue relacionar aqueles caminhões com a seca, o calor excessivo e a própria miséria.
Por sua vez não temos mais, no Acre, artistas militantes. O apelo à natureza, em composições é apenas uma apropriação de discurso demagógico. Os artistas de hoje não querem mais estar onde o povo está e sim na área de influência das benesses do Estado. Não são tradutores dos anseios do povo, não exercem a crítica, não produzem nenhum efeito junto à sociedade mesmo porque não possuem identidade de classe como ocorre com as bandas de rap das Ceilândias do Brasil.
O clímax do citado show aconteceu no encerramento, com a banda “menina dos olhos” do Governo, da vocalista Carol, que apresentou carinhosamente os seus músicos, entre eles o Daniel Zen, que se contorcia com sua guitarra e caminhava depois pelo estacionamento como se pisasse no céu, feliz e realizado.
O Zen é o atual Secretário de Cultura do governador Arnóbio Marques. Como contraponto, o Pia Vila, chamado de “velho doido” na música interpretada pela vocalista, ajoelhou-se para beijar, no palco, a mão da moça. Desmemoriado, o Pia Vila nem lembra mais que participou do show “Flora Sonora”, em 76, a primeira bandeira de resistência cultural à barbárie dos pioneiros sulistas que chegavam para devastar o Acre. Ainda bem que Felipe Jardim nem saiu de casa para ver o parceiro tal qual um índio a vender a floresta em troca de espelhos e bugigangas.
Antes da escolha dos secretários, artistas de outra geração mobilizaram um Fórum de Cultura, em Rio Branco, para enviar uma lista tríplice ao governo com seus candidatos à presidência da Fundação Cultural. Entre os nomes figurava o de Henrique Silvestre, professor de letras da Universidade Federal do Acre, que participou ativamente do meio artístico-cultural por duas décadas, e das campanhas do PT. O governador não deu a mínima. Ao que dizem, prefere apostar no sangue jovem.
Os artistas militantes do período da ditadura militar, da resistência à ocupação desordenada dos seringais nativos - transformados, “num tapa”, em pastos para pecuária extensiva- que traduziam os anseios da população através do teatro, arte plástica, literatura e outros, não participam do governo do PT. Não é estranho?
Foram eles, também, junto com sindicatos rurais e urbanos, jornalistas, comunidades eclesiais de base, indigenistas, lideranças do movimento estudantil, que construíram a imagem e a credibilidade do Partido dos Trabalhadores no Acre. Diga-se de passagem, a atual Frente Popular, que reúne siglas de diversos partidos, não traduz, nem de longe, a verdadeira frente popular que construiu a carta de crédito do PT.
Democracia e cidadania não podem ser dadas pelo Estado, são conquistadas, permanentemente, com muita mobilização e luta. Mas tudo arrefeceu, temos artistas medíocres, estudantes quase imobilizados, sindicatos atrelados, uma igreja calada porque ganhou uma ou duas secretarias, e de contrapeso, um exército de evangélicos militantes e fundamentalistas, a propagar, entre outras coisas, a homofobia.
A meu ver, os partidos progressistas pegaram o trem deixado pelos militares e seguiram fagueiros pelos mesmos trilhos, levando em seus vagões os ovos da serpente. Pela janela, a bandeira de unidade na luta é mais um traste no lixo.
◙ Fátima Almeida é historiadora
DANIELLE MITERRAND NO ACRE
Danielle Mitterrand, ex-primeira-dama
francesa, vai sobrevoar na próxima segunda-feira, junto com o Exército e Ibama, a região da fronteira do Acre com o Peru, onde vivem os índios ashaninka, que têm denunciado ao mundo a invasão de suas terras pela madeireira Forestal Venao.
Aos 83 anos, a viúva do estadista francês François Mitterrand (morto em 1996), vai conhecer a escola Yorenka Ãtame (Saberes da Floresta), criada pelos ashaninka para ensinar extrativistas e ribeirinhos do Vale do Juruá a estabelecerem uma relação com a floresta sem danos ambientais.
A ex-primeira-dama vai renovar seu compromisso com a defesa da Amazônia. Ela preside da fundação France Libertés.
Recentemente, o índio Valdete Ashaninka andou encantando alguns círculos culturais franceses com o filme "Shomõtsi" que tive o prazer de assistir outro dia em Cruzeiro do Sul. É uma crônica hilária do cotidiano de Shomõtsi, um índio ashaninka.
E hoje, no Rio de Janeiro, às 18 horas, será realizada a exibição e premiação do vencedor do Prêmio Panamazônia ActionAid 2007. Isaac Piyãko Ashaninka vai receber o prêmio pelo filme "A gente luta mas come fruta", que mostra o manejo agroflorestal realizado pelos ashaninka na sua comunidade no rio Amônia.
Os ashaninka mostram como estão trabalhando para recuperar os recursos da terra, muito explorada pelos brancos. O filme foi produzido pelo projeto Vídeo nas Aldeias e é dirigido pelos índios Bebito Piãko e Isaac Piãko.
Mas é do blog da aldeia Apiwtxa que os ashaninka lançaram ontem o relato de novas ameaças morte na fronteira:
"Amigos,
mais uma notícia das mais graves na fronteira Brasil-Peru.
Recebemos a informação de que índios peruanos estariam atacando moradores da Reserva Extrativista do Rio Juruá que acompanharam, como guias da expedição, a última operação de fiscalização na nossa fronteira.
Essa é mais uma notícia para o blog porque, mesmo que ainda tenhamos pouquíssima informação à respeito, a gravidade da notícia justifica ficarmos todos em estado de alerta, e alertarmos, por meio de divulgação, todos que estão conosco acompanhando os acontecimentos da fronteira, e temos que divulgar, especialmente, para as organizações indígenas do Peru.
Também queremos agradecer a todos que já repercutiram, inclusive contando com o auxílio de outras fontes, as informações que trazemos agora".
francesa, vai sobrevoar na próxima segunda-feira, junto com o Exército e Ibama, a região da fronteira do Acre com o Peru, onde vivem os índios ashaninka, que têm denunciado ao mundo a invasão de suas terras pela madeireira Forestal Venao.
Aos 83 anos, a viúva do estadista francês François Mitterrand (morto em 1996), vai conhecer a escola Yorenka Ãtame (Saberes da Floresta), criada pelos ashaninka para ensinar extrativistas e ribeirinhos do Vale do Juruá a estabelecerem uma relação com a floresta sem danos ambientais.
A ex-primeira-dama vai renovar seu compromisso com a defesa da Amazônia. Ela preside da fundação France Libertés.
Recentemente, o índio Valdete Ashaninka andou encantando alguns círculos culturais franceses com o filme "Shomõtsi" que tive o prazer de assistir outro dia em Cruzeiro do Sul. É uma crônica hilária do cotidiano de Shomõtsi, um índio ashaninka.
E hoje, no Rio de Janeiro, às 18 horas, será realizada a exibição e premiação do vencedor do Prêmio Panamazônia ActionAid 2007. Isaac Piyãko Ashaninka vai receber o prêmio pelo filme "A gente luta mas come fruta", que mostra o manejo agroflorestal realizado pelos ashaninka na sua comunidade no rio Amônia.
Os ashaninka mostram como estão trabalhando para recuperar os recursos da terra, muito explorada pelos brancos. O filme foi produzido pelo projeto Vídeo nas Aldeias e é dirigido pelos índios Bebito Piãko e Isaac Piãko.
Mas é do blog da aldeia Apiwtxa que os ashaninka lançaram ontem o relato de novas ameaças morte na fronteira:
"Amigos,
mais uma notícia das mais graves na fronteira Brasil-Peru.
Recebemos a informação de que índios peruanos estariam atacando moradores da Reserva Extrativista do Rio Juruá que acompanharam, como guias da expedição, a última operação de fiscalização na nossa fronteira.
Essa é mais uma notícia para o blog porque, mesmo que ainda tenhamos pouquíssima informação à respeito, a gravidade da notícia justifica ficarmos todos em estado de alerta, e alertarmos, por meio de divulgação, todos que estão conosco acompanhando os acontecimentos da fronteira, e temos que divulgar, especialmente, para as organizações indígenas do Peru.
Também queremos agradecer a todos que já repercutiram, inclusive contando com o auxílio de outras fontes, as informações que trazemos agora".
FRIAGEM NO ACRE
O Acre enfrentou nas últimas semanas temperatura média de 37°C, sendo que a sensação térmica era de pelo menos 40°C. Ela começou a virar na tarde de ontem, quando vento e chuva a fizeram despencar dos 36°C para os atuais 14°C. A umidade relativa relativa do ar, que era de 45%, nesta manhã é de 100%.
- Áreas de instabilidade formadas pelo deslocamento de uma frente fria pelo país espalham muitas nuvens carregadas. O tempo fica chuvoso e a temperatura cai - diz a previsão dos serviços de meteorologia.
Para os acreanos mais antigos é sinal dos tempos que haja no final de agosto uma friagem - queda repentina de temperatura causada pela frente fria provinda da região ártica.
Existe gente que não acredita quando contamos que no Acre, geralmente entre maio e junho, às vezes chegamos a atravessar madrugadas sob 9°C.
Em maio de 1992 o então governador do Acre, Edmundo Pinto, foi assassinado em São Paulo e acabei sendo transferido por segurança para a sucursal do Estadão em Brasília.
O repórter Antônio Marcello foi escalado para vir ao Acre para a cobertura dos dias de comoção. Ele perguntou-me o tipo de roupa que deveria usar aqui durante a viagem. Disse-lhe com uma dose de exagero que trouxesse até sobretudo, pois era tempo de friagem.
Marcello, claro, não acreditou e foi se aconselhar com outro repórter, o João Domingos, que já havia viajado várias vezes para a região. Domingos também deu o mesmo conselho e Marcello decidiu viajar sem roupa de frio porque imaginou que estivéssemos apenas querendo pregar uma peça.
- Fui bobo por não acreditar em vocês. Estou enfrentando o maior frio da minha vida e voltei agora da loja onde fui comprar roupa - avisou ao telefone Marcello na manhã seguinte.
Continuamos sem aquele fumaceiro que alguns tentam nos fazer acreditar que seja resultante de queimadas na Bolívia, Rondônia e Mato Grosso. Embora o vento sul continue a soprar com velocidade de 9km/h, a fumaça não aparece por aqui porque deixamos de queimar descontroladamente neste ano.
Após a forte chuva de ontem, está praticamente descartada a possibilidade de incêndios de pastagens e florestas nas proporções trágicas registradas há dois anos.
Imperdível a leitura do artigo "Respirando, às vezes", do Toinho Alves, logo abaixo, que bem sintetiza o que tem sido os governos do PT e seus aliados no Acre.
- Áreas de instabilidade formadas pelo deslocamento de uma frente fria pelo país espalham muitas nuvens carregadas. O tempo fica chuvoso e a temperatura cai - diz a previsão dos serviços de meteorologia.
Para os acreanos mais antigos é sinal dos tempos que haja no final de agosto uma friagem - queda repentina de temperatura causada pela frente fria provinda da região ártica.
Existe gente que não acredita quando contamos que no Acre, geralmente entre maio e junho, às vezes chegamos a atravessar madrugadas sob 9°C.
Em maio de 1992 o então governador do Acre, Edmundo Pinto, foi assassinado em São Paulo e acabei sendo transferido por segurança para a sucursal do Estadão em Brasília.
O repórter Antônio Marcello foi escalado para vir ao Acre para a cobertura dos dias de comoção. Ele perguntou-me o tipo de roupa que deveria usar aqui durante a viagem. Disse-lhe com uma dose de exagero que trouxesse até sobretudo, pois era tempo de friagem.
Marcello, claro, não acreditou e foi se aconselhar com outro repórter, o João Domingos, que já havia viajado várias vezes para a região. Domingos também deu o mesmo conselho e Marcello decidiu viajar sem roupa de frio porque imaginou que estivéssemos apenas querendo pregar uma peça.
- Fui bobo por não acreditar em vocês. Estou enfrentando o maior frio da minha vida e voltei agora da loja onde fui comprar roupa - avisou ao telefone Marcello na manhã seguinte.
Continuamos sem aquele fumaceiro que alguns tentam nos fazer acreditar que seja resultante de queimadas na Bolívia, Rondônia e Mato Grosso. Embora o vento sul continue a soprar com velocidade de 9km/h, a fumaça não aparece por aqui porque deixamos de queimar descontroladamente neste ano.
Após a forte chuva de ontem, está praticamente descartada a possibilidade de incêndios de pastagens e florestas nas proporções trágicas registradas há dois anos.
Imperdível a leitura do artigo "Respirando, às vezes", do Toinho Alves, logo abaixo, que bem sintetiza o que tem sido os governos do PT e seus aliados no Acre.
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
RESPIRANDO, ÀS VEZES
Antônio Alves
A secura de agosto mode a dos piores, com sol vermelho e lua amarela de fumaça. Tudo quente: a água, por sinal mui pouca, a terra de rachar a sola e o vento que sopra confuso pra toda banda. Viver difícil em tudo, começando pelo respirar, essa sufocação. E o doençal se espalhando, pegando velho e moço, e sem pena de criança.
Querem política? Pois eu faço o desagrado, que nasci com o direito de dizer o que penso: a Frente Popular é a fumaça do verão da política, por essas bandas. Trágica ironia, formou-se para vingar o povo, a sociedade, o movimento social. Para abrir todas as portas e janelas da democracia, debater tudo às claras, garantir a voz de todos. Agora controla tudo com avareza. Na imprensa, nas prefeituras, no Ministério Público, na Assembléia, no Tribunal, nos sindicatos, na associação dos jogadores de peteca, no raio que o parta, em qualquer lugar que tiver uma eleição, uma pergunta, uma escolha, logo aparece o comitê de controle para fazer a operação-abafa.
No governo tem aqueles que fazem o que podem e os outros, que fazem o que mandam. Trinta e tantos mil funcionários ocupados em fazer qualquer coisa todos os dias e receber qualquer coisa no fim do mês. Atendem o público no balcão e os líderes no sofá. Lá fora fica a oposição. Uma direita ressentida como sempre e mais desmoralizada do que nunca. Uma meia dúzia de três ou quatro empatadores de esquerda, gritando palavras gastas. Uns armados de faca, outros de baladeira, investem furiosamente contra a fumaça e saem tossindo sua derrota.
O verão vai passar, em algumas semanas, quando chegarem as chuvas da redenção. A estiagem da política será mais longa, mas talvez as ambições em conflito provoquem um racha na Frente Popular em um dia não muito distante. No mais, como dizem os velhos chavões, o futuro a Deus pertence e a longo prazo todos estaremos mortos.
Nesse ente, ao contrário do que dizem as canções, vou para onde tenha cuva ou coisa parecida. Daqui a uns dias viajarei nas águas poucas do Juruá para conhecer a escola ashaninka na boca do Amônia e rever os amigos contanauas no Tejo. Respirarei a fumaça abrandada pela floresta.
Pensarei.
◙ Antônio Alves é da assessoria do governador Binho Marques. Escreve de quando em vez no blog O Espírito da Coisa.
A secura de agosto mode a dos piores, com sol vermelho e lua amarela de fumaça. Tudo quente: a água, por sinal mui pouca, a terra de rachar a sola e o vento que sopra confuso pra toda banda. Viver difícil em tudo, começando pelo respirar, essa sufocação. E o doençal se espalhando, pegando velho e moço, e sem pena de criança.
Querem política? Pois eu faço o desagrado, que nasci com o direito de dizer o que penso: a Frente Popular é a fumaça do verão da política, por essas bandas. Trágica ironia, formou-se para vingar o povo, a sociedade, o movimento social. Para abrir todas as portas e janelas da democracia, debater tudo às claras, garantir a voz de todos. Agora controla tudo com avareza. Na imprensa, nas prefeituras, no Ministério Público, na Assembléia, no Tribunal, nos sindicatos, na associação dos jogadores de peteca, no raio que o parta, em qualquer lugar que tiver uma eleição, uma pergunta, uma escolha, logo aparece o comitê de controle para fazer a operação-abafa.
No governo tem aqueles que fazem o que podem e os outros, que fazem o que mandam. Trinta e tantos mil funcionários ocupados em fazer qualquer coisa todos os dias e receber qualquer coisa no fim do mês. Atendem o público no balcão e os líderes no sofá. Lá fora fica a oposição. Uma direita ressentida como sempre e mais desmoralizada do que nunca. Uma meia dúzia de três ou quatro empatadores de esquerda, gritando palavras gastas. Uns armados de faca, outros de baladeira, investem furiosamente contra a fumaça e saem tossindo sua derrota.
O verão vai passar, em algumas semanas, quando chegarem as chuvas da redenção. A estiagem da política será mais longa, mas talvez as ambições em conflito provoquem um racha na Frente Popular em um dia não muito distante. No mais, como dizem os velhos chavões, o futuro a Deus pertence e a longo prazo todos estaremos mortos.
Nesse ente, ao contrário do que dizem as canções, vou para onde tenha cuva ou coisa parecida. Daqui a uns dias viajarei nas águas poucas do Juruá para conhecer a escola ashaninka na boca do Amônia e rever os amigos contanauas no Tejo. Respirarei a fumaça abrandada pela floresta.
Pensarei.
◙ Antônio Alves é da assessoria do governador Binho Marques. Escreve de quando em vez no blog O Espírito da Coisa.
ÓBITO VIRTUAL EM TEMPO REAL
Está no AC 24 Horas:
Título: "Mulher envolvida em acidente não morreu"
Texto do desmentido: "Em reportagem divulgada esta manhã em ac24horas.com informamos no título da chamada que “Mulher não obedeceu placa de parada obrigatória e morre em acidente”. O site errou, pois as duas mulheres sofreram apenas lesões leves e foram atendidas no Pronto Socorro de Rio Branco. Lorraina, inclusive já foi liberada e apenas sua irmã Samaira continua sob observação médico. Nossas desulpas as vítimas e familiares".
Título: "Mulher envolvida em acidente não morreu"
Texto do desmentido: "Em reportagem divulgada esta manhã em ac24horas.com informamos no título da chamada que “Mulher não obedeceu placa de parada obrigatória e morre em acidente”. O site errou, pois as duas mulheres sofreram apenas lesões leves e foram atendidas no Pronto Socorro de Rio Branco. Lorraina, inclusive já foi liberada e apenas sua irmã Samaira continua sob observação médico. Nossas desulpas as vítimas e familiares".
CHUVA E GENTE INÚTIL
Choveu bastante durante a tarde de hoje em Rio Branco e possivelmente em outras cidades da bacia do Rio Acre. A cota do rio está no segundo nível mais baixo desde 1971 e o pesquisador Foster Brown alertava na sexta-feira que sua tendência era baixar mais ainda.
Como há pouca água no subsolo da bacia do Rio Acre a montante de Rio Branco, segundo dados da Defesa Civil, tentei mensurar o impacto que a chuva de hoje teria. Contatei o serviço de meteorologia da Força Aérea Brasileira em Rio Branco para pedir a medição da precipitação pluviométrica.
- Temos o índice de precipitação na área de Rio Branco, mas isso é restrito e só pode ser informado com pedido oficial, explicando para quê quer saber - foi a resposta.
A chuva deve ser considerada assunto de segurança nacional. Essa gente faz questão de continuar sendo inútil.
Como há pouca água no subsolo da bacia do Rio Acre a montante de Rio Branco, segundo dados da Defesa Civil, tentei mensurar o impacto que a chuva de hoje teria. Contatei o serviço de meteorologia da Força Aérea Brasileira em Rio Branco para pedir a medição da precipitação pluviométrica.
- Temos o índice de precipitação na área de Rio Branco, mas isso é restrito e só pode ser informado com pedido oficial, explicando para quê quer saber - foi a resposta.
A chuva deve ser considerada assunto de segurança nacional. Essa gente faz questão de continuar sendo inútil.
RAIO "X" DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Estudo indica deficiências na gestão como um dos principais desafios na Amazônia brasileira
Uma análise atualizada de dados sobre a gestão de 200 unidades de conservação (UCs) da Amazônia brasileira mostra que elas estão sendo mal gerenciadas devido à falta de instrumentos de planejamento, recursos humanos e infra-estrutura básica. A pesquisa, realizada pela Fundação Vitória Amazônica, foi lançada na quarta edição da revista eletrônica Política Ambiental, publicada pela ONG Conservação Internacional e que estará disponível para download no site da Conservação Internacional - Brasil.
De acordo com o estudo, um dos grandes desafios institucionais na Amazônia é a gestão de uma vasta gama de unidades de conservação estaduais e federais espalhadas em extensas regiões - são ao todo 287. As UCs são consideradas por especialistas em todo o mundo como a estratégia mais eficaz para a conciliação entre a proteção e o uso sustentável da biodiversidade. “A simples criação de uma UC não garante que sua implementação seja efetivada. Agora, se forem bem gerenciadas, elas oferecem uma valiosa contribuição para que consigamos evitar a extinção de espécies, o desmatamento em larga escala e o mau uso dos recursos naturais”, explica José Maria Cardoso, vice-presidente de ciência da CI-Brasil. Ele ressalta que torna-se primordial, portanto, concentrar a atenção na avaliação sobre a forma com que as UCs criadas estão sendo gerenciadas e garantir esforços para a plena implementação destas áreas.
Mudanças importantes ocorridas no cenário recente - como a criação de várias novas áreas protegidas na região e a Lei que em 2000 regulamentou o novo Sistema de Unidades de Conservação do Brasil (SNUC) - foram fatores motivadores da pesquisa. “Percebemos que era necessária a realização de uma nova análise geopolítica do atual sistema de UCs da Amazônia brasileira”, afirma Sérgio Borges, Coordenador do Programa de Pesquisa Científica da Fundação Vitória Amazônica e autor principal do estudo.
Para tanto, foram feitas análises quantitativas e qualitativas sobre o presente conjunto de UCs da região, com a elaboração de um banco de dados das unidades federais e estaduais baseado em documentos legais atualizados até dezembro de 2006, além das informações de outros bancos de dados e informações de órgãos estaduais de meio ambiente.
Cenário atual – O sistema de unidades de conservação na Amazônia se configurou graças às contribuições dos governos estaduais e do governo federal, que influenciaram de modo diferenciado no desenho das UCs. Os governos estaduais deram prioridade à criação de unidades de uso sustentável, enquanto o governo federal parece buscar um equilíbrio entre unidades de proteção integral e aquelas de uso sustentável, onde o manejo de recursos naturais é permitido.
Hoje, 23% da Amazônia Brasileira encontram-se dentro dos limites das 287 Unidades de Conservação, o que equivale a uma área de mais de 116 milhões de hectares, configurando um dos maiores sistemas de áreas protegidas do mundo. As unidades de uso sustentável continuam sendo dominantes, ocupando 61% da área total de UCs da região. Além das UCs, o estudo aponta as Terras Indígenas (TI) como parte importante do abrangente sistema de áreas protegidas da Amazônia. Ainda que não sejam formalmente reconhecidas como UCs, os autores defendem que, do ponto de vista prático, elas desempenham um papel importante na proteção dos recursos ambientais. Um exemplo disso é a TI Kaiapó, no sul do Pará e norte do Mato Grosso, que tem se mostrado uma exceção numa paisagem altamente degradada pelo desmatamento para a implementação de agricultura extensiva.
Análise estrutural – Para o estudo, foi elaborado um diagnóstico geral das UCS da Amazônia brasileira a partir de entrevistas a técnicos de órgãos estaduais de meio ambiente, solicitação de informações aos técnicos do IBAMA, consultas a páginas de internet e literatura existente. Foram utilizados três indicadores simples dos processos de gestão: documentos de planejamento, infra-estrutura local e número de técnicos lotados na unidade. Outro indicador de gestão importante, o conselho gestor, não foi incorporado na pesquisa devido ao fato de que a composição de conselhos ainda é bastante incipiente nas UCs da Amazônia.
Ao todo, foram analisadas 200 UCs, o que corresponde a quase 68% das unidades locais. Uma parte muito pequena das UCs da Amazônia possui estratégias definidas de gestão, sendo que vários dos planos amostrados estão desatualizados, 63% das UCs não possuem planos de manejo e em 12,5% dos casos, estes estão em andamento. Os recursos humanos são insuficientes, com 80% das UCs estaduais sem ter sequer um técnico lotado e média de 0,6 funcionário por unidade, enquanto as federais apresentam média de quatro funcionários. A infra-estrutura tampouco é adequada, sendo que a grande maioria das UCs estaduais não dispõe de nenhum tipo de infra-estrutura.
Estes dados revelam que, apesar dos avanços importantes nas últimas décadas no processo de criação de unidades, os órgãos ambientais responsáveis por estas unidades pouco têm feito para implementar estas unidades em campo. Segundo o estudo, estas estatísticas são piores nas UCs estaduais. Um caso ilustrativo é o de Rondônia, onde as UCs do estado estão sofrendo taxas alarmantes de desmatamento, superiores aos índices registrados nas UCs federais e Terras Indígenas.
Para Sérgio Borges, “se a implementação das UCs da Amazônia for mesmo uma prioridade de governo, nos próximos anos deverão ser investidos um grande volume de recursos financeiros pelo governo federal e pelos governos estaduais para fortalecer seus respectivos órgãos ambientais, dotando-os de recursos humanos adequados (em número e capacidade técnica) e orçamentos condizentes com o desafio de implementar um dos maiores e mais complexos sistemas de Unidades de Conservação do mundo”.
Iniciativas e recomendações – O estudo destaca algumas novas abordagens empreendidas nos últimos anos pelos governos estaduais e federal, em parceria com entidades da sociedade civil organizada, para o gerenciamento das UCs já existentes e a identificação de áreas prioritárias para a conservação. Dentre elas, o Projeto Corredores Ecológicos das Florestas Tropicais do Brasil (Projeto Corredores, 1997) e o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA, 2000), que têm concentrado os esforços de uma grande parte dos órgãos ambientais estaduais, federais, organizações não-governamentais, populações locais e doadores internacionais. Com objetivos similares, mas estratégias e escalas de atuação distintas, ambas iniciativas são apontadas pelo estudo como tendo uma enorme influência na gestão futura das áreas protegidas da Amazônia. “Se bem gerenciados e devidamente implementados, poderão garantir a conservação de uma significativa porção da biodiversidade amazônica”.
Os autores indicam algumas recomendações gerais, que podem auxiliar na gestão de UCs na região amazônica, tais como a implementação e a manutenção de um sistema de informações sobre as UCs, conforme previsto no SNUC; o fortalecimento das organizações estaduais de meio ambiente; o estabelecimento de parcerias com organizações da sociedade civil; avaliações regulares da gestão e a capacitação dos atores que compõem os Conselhos das UCs, dentre outras.
Uma análise atualizada de dados sobre a gestão de 200 unidades de conservação (UCs) da Amazônia brasileira mostra que elas estão sendo mal gerenciadas devido à falta de instrumentos de planejamento, recursos humanos e infra-estrutura básica. A pesquisa, realizada pela Fundação Vitória Amazônica, foi lançada na quarta edição da revista eletrônica Política Ambiental, publicada pela ONG Conservação Internacional e que estará disponível para download no site da Conservação Internacional - Brasil.
De acordo com o estudo, um dos grandes desafios institucionais na Amazônia é a gestão de uma vasta gama de unidades de conservação estaduais e federais espalhadas em extensas regiões - são ao todo 287. As UCs são consideradas por especialistas em todo o mundo como a estratégia mais eficaz para a conciliação entre a proteção e o uso sustentável da biodiversidade. “A simples criação de uma UC não garante que sua implementação seja efetivada. Agora, se forem bem gerenciadas, elas oferecem uma valiosa contribuição para que consigamos evitar a extinção de espécies, o desmatamento em larga escala e o mau uso dos recursos naturais”, explica José Maria Cardoso, vice-presidente de ciência da CI-Brasil. Ele ressalta que torna-se primordial, portanto, concentrar a atenção na avaliação sobre a forma com que as UCs criadas estão sendo gerenciadas e garantir esforços para a plena implementação destas áreas.
Mudanças importantes ocorridas no cenário recente - como a criação de várias novas áreas protegidas na região e a Lei que em 2000 regulamentou o novo Sistema de Unidades de Conservação do Brasil (SNUC) - foram fatores motivadores da pesquisa. “Percebemos que era necessária a realização de uma nova análise geopolítica do atual sistema de UCs da Amazônia brasileira”, afirma Sérgio Borges, Coordenador do Programa de Pesquisa Científica da Fundação Vitória Amazônica e autor principal do estudo.
Para tanto, foram feitas análises quantitativas e qualitativas sobre o presente conjunto de UCs da região, com a elaboração de um banco de dados das unidades federais e estaduais baseado em documentos legais atualizados até dezembro de 2006, além das informações de outros bancos de dados e informações de órgãos estaduais de meio ambiente.
Cenário atual – O sistema de unidades de conservação na Amazônia se configurou graças às contribuições dos governos estaduais e do governo federal, que influenciaram de modo diferenciado no desenho das UCs. Os governos estaduais deram prioridade à criação de unidades de uso sustentável, enquanto o governo federal parece buscar um equilíbrio entre unidades de proteção integral e aquelas de uso sustentável, onde o manejo de recursos naturais é permitido.
Hoje, 23% da Amazônia Brasileira encontram-se dentro dos limites das 287 Unidades de Conservação, o que equivale a uma área de mais de 116 milhões de hectares, configurando um dos maiores sistemas de áreas protegidas do mundo. As unidades de uso sustentável continuam sendo dominantes, ocupando 61% da área total de UCs da região. Além das UCs, o estudo aponta as Terras Indígenas (TI) como parte importante do abrangente sistema de áreas protegidas da Amazônia. Ainda que não sejam formalmente reconhecidas como UCs, os autores defendem que, do ponto de vista prático, elas desempenham um papel importante na proteção dos recursos ambientais. Um exemplo disso é a TI Kaiapó, no sul do Pará e norte do Mato Grosso, que tem se mostrado uma exceção numa paisagem altamente degradada pelo desmatamento para a implementação de agricultura extensiva.
Análise estrutural – Para o estudo, foi elaborado um diagnóstico geral das UCS da Amazônia brasileira a partir de entrevistas a técnicos de órgãos estaduais de meio ambiente, solicitação de informações aos técnicos do IBAMA, consultas a páginas de internet e literatura existente. Foram utilizados três indicadores simples dos processos de gestão: documentos de planejamento, infra-estrutura local e número de técnicos lotados na unidade. Outro indicador de gestão importante, o conselho gestor, não foi incorporado na pesquisa devido ao fato de que a composição de conselhos ainda é bastante incipiente nas UCs da Amazônia.
Ao todo, foram analisadas 200 UCs, o que corresponde a quase 68% das unidades locais. Uma parte muito pequena das UCs da Amazônia possui estratégias definidas de gestão, sendo que vários dos planos amostrados estão desatualizados, 63% das UCs não possuem planos de manejo e em 12,5% dos casos, estes estão em andamento. Os recursos humanos são insuficientes, com 80% das UCs estaduais sem ter sequer um técnico lotado e média de 0,6 funcionário por unidade, enquanto as federais apresentam média de quatro funcionários. A infra-estrutura tampouco é adequada, sendo que a grande maioria das UCs estaduais não dispõe de nenhum tipo de infra-estrutura.
Estes dados revelam que, apesar dos avanços importantes nas últimas décadas no processo de criação de unidades, os órgãos ambientais responsáveis por estas unidades pouco têm feito para implementar estas unidades em campo. Segundo o estudo, estas estatísticas são piores nas UCs estaduais. Um caso ilustrativo é o de Rondônia, onde as UCs do estado estão sofrendo taxas alarmantes de desmatamento, superiores aos índices registrados nas UCs federais e Terras Indígenas.
Para Sérgio Borges, “se a implementação das UCs da Amazônia for mesmo uma prioridade de governo, nos próximos anos deverão ser investidos um grande volume de recursos financeiros pelo governo federal e pelos governos estaduais para fortalecer seus respectivos órgãos ambientais, dotando-os de recursos humanos adequados (em número e capacidade técnica) e orçamentos condizentes com o desafio de implementar um dos maiores e mais complexos sistemas de Unidades de Conservação do mundo”.
Iniciativas e recomendações – O estudo destaca algumas novas abordagens empreendidas nos últimos anos pelos governos estaduais e federal, em parceria com entidades da sociedade civil organizada, para o gerenciamento das UCs já existentes e a identificação de áreas prioritárias para a conservação. Dentre elas, o Projeto Corredores Ecológicos das Florestas Tropicais do Brasil (Projeto Corredores, 1997) e o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA, 2000), que têm concentrado os esforços de uma grande parte dos órgãos ambientais estaduais, federais, organizações não-governamentais, populações locais e doadores internacionais. Com objetivos similares, mas estratégias e escalas de atuação distintas, ambas iniciativas são apontadas pelo estudo como tendo uma enorme influência na gestão futura das áreas protegidas da Amazônia. “Se bem gerenciados e devidamente implementados, poderão garantir a conservação de uma significativa porção da biodiversidade amazônica”.
Os autores indicam algumas recomendações gerais, que podem auxiliar na gestão de UCs na região amazônica, tais como a implementação e a manutenção de um sistema de informações sobre as UCs, conforme previsto no SNUC; o fortalecimento das organizações estaduais de meio ambiente; o estabelecimento de parcerias com organizações da sociedade civil; avaliações regulares da gestão e a capacitação dos atores que compõem os Conselhos das UCs, dentre outras.
FALÁCIA
Era mesmo falácia quando o governo do Acre dizia, nos últimos dois ou três anos, que nesta época de verão amazônico estávamos a respirar fumaça decorrente das queimadas na Bolívia e nos estados de Rondônia e Mato Grosso.
Apesar dos quase 40 graus e da baixa umidade relativa (45%) com que temos sido castigados, ainda enxergamos em pleno agosto o céu azul, enquanto sobressai uma tênue cortina de fumaça na linha do horizonte. É fato que estamos queimando pouco em relação aos demais anos.
No Diário Oficial continuam sendo publicadas autorizações para queimadas, mas a maioria da população parece decidida a não tocar fogo em pastagens e florestas de qualquer jeito.
A grande prova será nos primeiros dias de setembro. Enquanto isso, na Bolívia, Rondônia e Mato Grosso o fogo não pára. Veja aqui.
domingo, 26 de agosto de 2007
MARINA SILVA APÓIA RIO BRANCO
Ministra participa da apresentação da candidatura da cidade à comitiva da Fifa
Thiago Lavinas
Os encantos da Floresta Amazônica e um moderno estádio são os trunfos da candidatura de Rio Branco, no Acre. Os representantes da cidade apresentaram o projeto neste domingo, no Rio de Janeiro, à comitiva da Fifa que está no Brasil para avaliar as cidades brasileiras que querem receber jogos da Copa de 2014.
A recém-inaugurada Arena da Floresta foi projetada pelo mesmo engenheiro responsável pela Arena da Baixada, em Curitiba. O engenheiro Luiz Volpato foi um dos principais nomes da apresentação. Ele explicou como será a ampliação do estádio. Atualmente com capacidade para 20 mil pessoas, ele vai receber 40.900 torcedores no futuro. Mas o projeto, que está orçado em R$ 330 milhões, vai depender da escolha da cidade como um das sedes da Copa.
- Temos a vantagem de ter toda a infra-estrutura perto ao estádio. Não haverá desmatamento. Também não vejo grandes problemas com vias de acesso - explica Volpato.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ator José Wilker também participaram da apresentação da candidatura de Rio Branco.
- A apresentação foi emocionante. A cidade tem um bom estádio e será muito importante para divulgar a preservação do meio ambiente - disse a ministra Marina Silva.
A candidatura do Acre rivaliza diretamente com as outras duas da Região Norte: Manaus e Belém. Para impressionar a comitiva da Fifa, os representantes pela candidatura de Rio Branco decoraram a sala com folhas secas e ambientada como a floresta amazônica.
◙ Thiago Lavinas é repórter do Globo.com.
Thiago Lavinas
Os encantos da Floresta Amazônica e um moderno estádio são os trunfos da candidatura de Rio Branco, no Acre. Os representantes da cidade apresentaram o projeto neste domingo, no Rio de Janeiro, à comitiva da Fifa que está no Brasil para avaliar as cidades brasileiras que querem receber jogos da Copa de 2014.
A recém-inaugurada Arena da Floresta foi projetada pelo mesmo engenheiro responsável pela Arena da Baixada, em Curitiba. O engenheiro Luiz Volpato foi um dos principais nomes da apresentação. Ele explicou como será a ampliação do estádio. Atualmente com capacidade para 20 mil pessoas, ele vai receber 40.900 torcedores no futuro. Mas o projeto, que está orçado em R$ 330 milhões, vai depender da escolha da cidade como um das sedes da Copa.
- Temos a vantagem de ter toda a infra-estrutura perto ao estádio. Não haverá desmatamento. Também não vejo grandes problemas com vias de acesso - explica Volpato.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ator José Wilker também participaram da apresentação da candidatura de Rio Branco.
- A apresentação foi emocionante. A cidade tem um bom estádio e será muito importante para divulgar a preservação do meio ambiente - disse a ministra Marina Silva.
A candidatura do Acre rivaliza diretamente com as outras duas da Região Norte: Manaus e Belém. Para impressionar a comitiva da Fifa, os representantes pela candidatura de Rio Branco decoraram a sala com folhas secas e ambientada como a floresta amazônica.
◙ Thiago Lavinas é repórter do Globo.com.
SEDE VERDE DA COPA
Aníbal Diniz
Caro Altino
A defesa de Rio Branco como cidade sede da Copa 2014 no Brasil, feita hoje, aqui no Rio de Janeiro, foi muito impactante. Se depender do conteúdo apresentado, Rio Branco vai sediar jogos e o Acre será a sede verde da Copa 2014.
Os argumentos são fortes e a exposição foi bastante competente por parte do governador Binho Marques, ministra Marina Silva, ex-governador Jorge Viana e os presidentes das federações que representam o setor produtivo do Estado.
Quem deu um apoio especial para a proposta do Acre foi o ator José Wilker, ainda bastante sensibilizado com a riqueza cultural que vivenciou no Acre durante as gravações da minissérie Amazônia.
Os cinco integrantes da comissão internacional da FIFA e os três representantes da CBF que assistiram a apresentação demonstraram bastante entusiasmo. Tanto que praticamente não fizeram perguntas. Suas manifestações foram mais no sentido de mostrar que a proposta do Acre é original, singular.
Está lançada a sorte. O que posso dizer, como impressão pessoal, é que me sinto cada vez mais seguro da possibilidade de sediarmos jogos da Copa 2014, e que isso vai fazer muito bem para a nossa auto-estima.
O deputado Edvaldo Magalhães, o prefeito Raimundo Angelim e os empresários George Pinheiro, João Salomão e Leandro Domingues também fizeram parte da comitiva do Acre e podem falar melhor sobre como foi a emocionante defesa da proposta do Acre.
Entre os brindes e regalos conferidos à comissão da FIFA está uma bola de couro vegetal (foto) produzida no projeto "Pintando a Liberdade", da penitenciária do Acre.
Um grande abraço, e sorte ao Acre!
◙ O jornalista Aníbal Diniz é assessor do governador Binho Marques. Partiu dele a sugestão para o Acre pleitear Rio Branco como sede da Copa 2014. A atriz acreana Brendha Haddad (foto) foi a embaixadora da campanha. A Comissão de Inspeção da Fifa analisou ontem Florianópolis (SC) e Curitiba (PR) e mais outras três cidades candidatas a sediar partidas da Copa do Mundo de 2014. Hoje foi a vez de Belém (PA), Manaus (AM) e Rio Branco (AC). A comitiva da Fifa é composta de cinco membros – Hugo Salcedo (chefe da comitiva), Jaime Byrom (responsável pela área de acomodações e transportes), Jorge Batista (imprensa), Walter Gagg (segurança e estádios) e Jaime Yarza (secretário geral). Até a o dia 1º de setembro, quando concederão uma entrevista coletiva, tais membros da entidade máxima do futebol mundial analisarão diversos aspectos da candidatura do Brasil, assistindo a apresentações, fazendo inspeções nas possíveis cidades sede e reunindo-se com autoridades. A Fifa decidirá no dia 30 de outubro, em Zurique, na Suíça, se o Brasil será ou não a sede da Copa do Mundo de 2014. Se isto for confirmado, o país tem até o dia 31 de outubro do ano que vem para divulgar as cidades escolhidas para abrigar as partidas. Clique aqui para saber mais no site da campanha acreana.
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
BLOG DO TIÃO
O senador Tião Viana, vice-presidente do Senado, a partir de hoje também é blogueiro:
- Estou seguindo uma tendência que já inclui 24 milhões de pessoas no mundo. O mundo está vivendo um momento novo na área de comunicação. O mundo está vivendo fortes transformações nesta área e quem não acompanhar essa transformação estará fora do mundo. As projeções indicam que até 2015 poucas pessoas no mundo não terão um computador e nós estamos procurando nos adequar a esse novo momento. Minha preocupação foi apenas no sentido de evitar mensagens anônimas e, com elas, ofensas à honra de outras pessoas e manifestação de preconceito. Mas, com identificação, haverá espaço até para manifestações de discordância. Penso que discordar é também uma forma de colaboração - disse o senador.
Falta apenas Tião Viana escrever na primeira pessoa para ser um blogueiro de verdade. Já está na lista de meus favoritos. Vamos lá prestigiá-lo. Clique aqui.
WORLD POLITICS REVIEW
"Caro Altino,
Já vistes a reportagem do jornal norte-americano World Politics Review, assinada por Marcelo Ballve, sobre a questão energética brasileira e a Amazônia? O material está logo abaixo. Ele cita você e o blog. E cita, ainda, um trecho da polêmica que publicastes sobre o rio Madeira.
Um abraço,
Kenzo Jucá"
PRESSÃO DO PRESIDENTE BRASILEIRO POR REPRESAS NA BACIA DO AMAZONAS PROVOCA CONTROVÉRSIAS
Marcelo Ballve
Exclusivo para o caderno sobre política mundial
Brasil sempre tratou seus problemas de energia da mesma maneira – com a construção de mais e mais represas. Durante a ditadura militar dos anos 1970, pensou-se que uma ou duas mega-represas resolveriam os problemas de energia do país por uma geração, pelo menos. Foi quando o Brasil começou uma colaboração com o vizinho Paraguai para construir a super represa de Itaipu, que fornece aproximadamente um quinto da energia do Brasil.
A despeito da alternativa de Itaipu, a maior economia da América Latina ainda tem problemas com a estabilidade de suas fontes de energia. No ano passado, a Bolívia pôs o Brasil em uma posição delicada ao ameaçar restringir o fluxo do gás natural, provocando um frenesi diplomático que revelou o quanto o Brasil está vulnerável. Poucos no Brasil esqueceram o apagão, ou o “grande blackout” de 2001 e 2002. Aquela crise energética foi superada (momentaneamente) por uma conservação voluntária, mas ressaltou o espectro de blackouts impostos.
O Presidente Luiz Ignácio “Lula” da Silva, de inclinação de esquerda, tem feito da questão energética um foco de seu segundo mandato, como parte de um planejamento maior para elevar o crescimento econômico do Brasil, o qual foi de 3,7 por cento em 2006. Muitas economias asiáticas e latino-americanas estão crescendo duas vezes mais rápidas que isso. Para crescer, o Brasil precisa de energia abundante, e o presidente Lula está apostando o futuro na energia hidroelétrica.
O aceno da bacia do Amazonas
Atualmente o Brasil consegue 80 por cento de sua energia de fontes hidroelétricas, portanto a estratégia do governo Lula não pareceria ser tão revolucionária. Mas o seu plano contém um novo foco de exploração da bacia do rio Amazonas. A região da floresta em foco é formada por um sistema de robustos cursos de água ricos em vegetação de várzea. O problema para o governo brasileiro, entretanto, é que a região também tem uma florescente sociedade civil, compostos por indígenas, clérigos, e pesquisadores eco-ativistas que guardam zelosamente pela cultura original e pelo meio ambiente único da bacia do Amazonas.
O governo de Brasil planeja construir 10 novas represas nos rios da bacia por volta de 2010. Este esquema aponta para um re-ordenamento hidrológico de vários bilhões de dólares dos ciclos de águas naturais da bacia. Embora nenhuma dessas represas rivalize em termos de tamanho com a represa de Três Gargantas da China, muitas das represas planejadas são grandes o suficiente para merecer a etiqueta de “mega-represas,” e tem gerado controvérsias com ambientalistas desde que foram propostos pela primeira vez por governos passados.
Feito um exame, a nova política hidroelétrica representa uma tentativa de transformar a bacia do Amazonas em um tipo de “fazenda de energia aquática”, escreve Luis Fernando Novoa Garzón, um ativista social e professor universitário. No jornal A Tribuna, da cidade “florestal” de Rio Branco, ele descreveu o impulso para novas represas como “o começo de um ciclo de projetos maciços de infraestrutura que submetem a região amazônica para um novo uso de seu território”.
O Brasil quer gerar algo em torno de 27.000 megawatts de energia nova como parte do “Plano de Aceleração Econômica” do governo, conhecido pelo acrônimo português de PAC. Cerca de metade dessa quantidade virá das represas hidroelétricas da bacia do Amazonas, de acordo com informações disponíveis online sobre o PAC. Duas destas represas, com um valor estimado de 11 bilhões de dólares, serão construídas no rio de Madeira, na bacia ocidental do Amazonas, próximo da fronteira com a Bolívia. Quando concluídas, as represas -- Santo Antonio e Jirau – produzirão algo em torno de 6.500 megawatts da eletricidade, três vezes o que é produzido pela represa Hoover, nos Estados Unidos.
A Batalha Regulatória
O exame do processo que conduziu à aprovação do projeto por agências reguladoras revela apenas o quanto é difícil avaliar se os custos das mega-represas são compensados pelos seus benefícios.
A agência brasileira de proteção ambiental, conhecida pelo acrônimo IBAMA, foi relutante em aprovar as represas do rio Madeira devido ao interesse sobre sedimentação, inundações, impactos sobre a biodiversidade aquática (especificamente um grande peixe tipo bagre) e a potencial dragagem rio acima de depósitos tóxicos de mercúrio, que são um subproduto da mineração ilegal de ouro, entre outros riscos.
O presidente Lula aplicou uma tremenda pressão política para viabilizar essa alternativa, forçando a hesitante Ministra de Meio Ambiente Marina Silva a aquiescer em favor de seu ponto de vista de que os benefícios da energia das represas justificam os riscos potenciais. No fim, a resistência da agência resultou na formação (ou divisão) em duas grandes agências regulatórias oficiais.
Não somente isso, mas o descontentamento do presidente Lula com o ritmo lento da aprovação conduziu-lhe em rachar a agência de proteção ambiental ao meio, dividindo a função regulatória da agência de seu trabalho de conservação.
A divisão do IBAMA foi interpretada em Brasília, capital do Brasil, como uma tática de força usada para assegurar-se de que não mais haveria mais obstáculos no caminho para o trâmite rápido dos projetos de infraestrutura, tais como os das represas.
Antes que a aprovação viesse finalmente em julho, o presidente Lula foi citado pela mídia brasileira exalando as suas frustrações. Ele até fez um gracejo em forma de desabafo sobre os argumentos da agência a respeito do peixe bagre “dourada”: “Nós não podemos fazê-las (referindo-se às represas) por causa de um bagre?” perguntou Lula, sarcasticamente.
A opinião dos críticos
Obviamente que a oposição às mega-represas são mais profundas do que o interesse por uma única espécie. Os críticos perguntam se as mega-represas, as quais disrompem e degradam ciclos de águas naturais, são no longo prazo o método o mais inteligente para capitalizar a riqueza aquática da região.
“Considerando a desfiguração e mercantilização (comodização) da água do planeta e a eminência de uma crise de água, é inaceitável que os rios de Amazonia, nossa principal reserva hidrológica, seja o principal alvo para represas,” diz um manifesto anti-represa divulgado pela SOS Xingu, um coletivo de indígenas, religiosos, e eco-ativistas.
“Vale a pena considerar como improvável que o país terá dinheiro para limpar os rios para futuros usos,” diz o manifesto, que se dirigem às facilidades para viabilizar a hidroelétrica de Belo Monte no rio de Xingu, outro projeto de controversa rapidez para sua viabilização.
Lucio Flávio Pinto, um veterano jornalista baseado na região amazônica, nota que algumas características dos rios da bacia os fazem problemáticos para represas. Muita deles experimentam variações dramáticas de níveis de água em estações chuvosas e secas, significando que a logística da represa são mais desafiantes da que seriam em rios onde os níveis de água permanecem relativamente estáveis.
Da mesma forma, os rios da bacia fluem ao longo de declividades que não são muito íngremes, o que significa que a gravidade não acelerará a água através das turbinas e o volume completo deve ser confiável a ponto de gerar energia. Isto significa que maiores represas e reservatórios terão que ser construídos, e, portanto, os projetos terão “pegadas” ecológicas maiores.”
Os críticos são mais irritados, contudo, porque sentem que as condições ecológicas e sociais locais são raramente levadas em conta quando o governo se aventura na selva. Os políticos e os tecnocratas, ávidos em reuniões com objetivos de geração de energia, ficam demasiado irritados para ouvir recomendações de ativistas e de grupos indígenas, que pedem que as represas sejam calibradas para minimizar os impactos.
Sala para compromisso?
Para o sociólogo Kenzo Jucá, uma política hidroelétrica racional e mensurável é possível na bacia do Amazonas. Mas diz que o governo necessita ser mais paciente e ter interesse em investir dinheiro e desenvolvimento de conhecimento nos processos produtivos locais, e moldar projetos para os interesses das comunidades.
A mesma capacidade que o governo mostra em disponibilizar e aplicar recursos para construir mega-represas, “devem ser aplicados para garantir um eficiente controle social,” Jucá escreve em um popular blog brasileiro de notícias, coordenado pelo repórter Altino Machado.
As autoridades do governo e os controladores das represas “devem assumir responsabilidades para as conseqüências e alterações resultantes, nunca negá-las ou ignorá-las, a prática usual no Brasil.”
Em outras palavras, desenvolvimento, comunidade, e meio ambiente não são valores necessariamente opostos. Tanto que o presidente Lula disse em um discurso de rádio em 14 de agosto: “O Brasil pode crescer preservando, entretanto, a Amazônia.”
Isto parece apontar para uma sala de compromissos entre mega-represas e advogados da floresta. A pergunta é se o governo do Brasil tem a paciência para bancar um diálogo como este como meio para impulsionar o crescimento econômico.
◙ Marcelo Ballve é jornalista e comentarista baseado em Buenos Aires, Argentina. A tradução do texto é do professor Valcir Santos, do Departamento de Economia da Universidade Federal do Pará, que estuda os acordos de pesca (pactos populares das colônias de pescadores) e compõe equipe multidisciplinar da universidade, responsável por elaboração de insrumentos de planejamento, gestão e ordenamento territorial na região a jusante da UHE Tucuruí.
O LADRÃO DE BICICLETA
A Polícia Militar prendeu, às 10h25, um homem que tentou roubar uma bicicleta no estacionamento do Pronto Socorro de Rio Branco. Enquanto tirava as fotos, o sargento sugeriu-me procurar os jornais para vender as tais fotografias em que aparece de coturno bem lustrado. Foi uma prisão espetacular a do ladrão de bicicleta. Parabéns à brava PM do Acre. Quem dera pudesse exibir a mesma agilidade e força contra os corruptos de colarinho branco que operam na máquina pública.
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
XINANE
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
EFRÉM RIBEIRO, DIRETO DO PIAUÍ
Ele foi um dos repórteres mais prestigiados da Folha de S. Paulo durante os anos que passou como correspondente do jornal em Manaus. Tive oportunidade de participar de algumas coberturas na Amazônia com a presença dele, quando trabalhava no jornal O Estado de S. Paulo.
Efrém tratava as pessoas de “senhor” ou “senhora” e tinha verdadeira obsessão por driblar a segurança de qualquer autoridade. Foi assim no Hotel Tropical, em Manaus, com o então presidente Fernando Collor de Mello. Naquele dia, a equipe da Folha que participava da cobertura estava sem "lead".
O repórter driblou a segurança e seguiu o presidente durante o cooper. Aproximou-se dele e o tratou por “você” ao fazer uma pergunta. Collor respondeu:
- Você é a puta que pariu. Eu sou presidente República. Vou estourar a boca do balão.
O ex-ministro Rogério Magri carrega até hoje um processo por corrupção passiva por causa de gravação na qual teria admitido o recebimento de US$ 30 mil para liberar verbas para o Canal da Maternidade, no Acre, sob a responsabilidade da Construtora Norberto Odebrecht, a mesma que anda promovendo eventos por aqui na atualidade.
Magri viajou para a Europa e foi visto passeando por lá com duas loiras. Irmãs de um fazendeiro paulista residente em Rio Branco, as duas mulheres vieram da Europa para cá tentando se esconder do assédio da imprensa.
A Folha mandou Efrém Ribeiro vir de Manaus para tentar entrevistá-las e eu o acompanhei até o escritório do pecuarista. Outro fazendeiro se irritou com as perguntas do Efrém, expulsou-o da entrada do escritório e começou a espancá-lo na rua. Tive que aplicar uma paulada no fazendeiro para que largasse o colega.
Noutra ocasião, conseguimos encontrar o saudoso governador Edmundo Pinto, que disse que não falaria mais comigo porque eu estava sendo muito cruel com críticas à gestão dele. Pinto uniu a ponta dos dedos indicadores e pediu-me para que os apartasse. Eu o atendi e quando o governador deu as costas, Efrém comentou com a mão no queixo:
- O senhor é doido, seu Altino. Ficou de mal com o governador.
Sob temperatura de 40 graus, Efrém Ribeiro andava nas ruas de Manaus ou de Rio Branco de blazer de cores berrantes (verde, laranja ou amarelo), calça sempre preta e camisa com gola de bispo, fechada até o ultimo botão. Certa vez perguntei se não gostava de mulher.
- Seu Altino, a minha noiva é o jornalismo. Eu não consigo pensar em sexo.
Foi muito divertido encontrar no blog "Diário de um juiz", de Carlos Zamith Júnior, um vídeo com essa figuraça polêmica e famosa nas redações do país. Quem conviveu com ele tem sempre alguma história para contar. Veja o que diz Zamith a respeito do vídeo a seguir:
- Efrém é um pouco gago e conta suas fofocas de um jeito todo peculiar (assista o vídeo que você vai entender o “peculiar”). Agora, por favor, assista-o até o final, para ver ele relatar o flagrante de um delegado de polícia cometendo... Não, não vou contar. Assista. Impagável.
SERINGAL DAS MERCÊS
Silvana de Faria Ditcham escreve a legenda da foto:
"Altino,
Aproveitando a levada da Glória Perez com fotos do Acre antigo, eis aqui uma raridade. Desculpa o estado da cópia da cópia da cópia. Trata-se da foto do meu avô, o coronel José Cezário de Faria, do Seringal Mercês, em Sena Madureira, minha avó, dona Emília Vieira Escócio Drummond de Faria e, da esquerda para a direta: Raimundo Escócio de Faria, a babá dos filhos, Cézar Escócio de Faria (meu pai), ainda neném, e a menina é Clotilde, chamada de Cotinha. A foto deve ter sido tirada por volta de 1912. Papai nasceu em 1910 e faleceu em 2002".
ACRE ANTIGO
Glória Perez disponibilizou no blog "De tudo um pouco" 183 fotografias antigas do Acre. Tenha um pouquinho de paciência até a página abrir para conferir a beleza de cada foto. Vale a pena.
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