quinta-feira, 31 de agosto de 2006

JAPÃO FILMA OS GEOGLIFOS



Documentário será assistido por 30 milhões de pessoas

Uma equipe da Tokyo Broadcasting System está no Acre para realizar o primeiro documentário internacional sobre os geoglifos. Dirigido por Minoru Nakamura, o documentário terá uma hora de duração e será exibido no Japão, em março, para 30 milhões de pessoas.


Os documentários de Minoru Nakamura sempre abordam temas ligados às civilizações pré-históricas. Ele são exibidos uma vez por ano e exercem forte influência nas viagens de turistas japoneses para diversas partes do mundo.

Nakamura disse que as grandes civilizações se organizaram próximas dos grandes rios, mas até hoje não há constatação de que o mesmo tenha ocorrido na Amazônia. Ele acredita que os geoglifos são uma evidência de que uma grande civilização também se estabeleceu na região.

Guiados pelo palentólogo Alceu Ranzi, da Prefeitura de Rio Branco, que é o maior estudioso e divulgador dos geoglifos, os japoneses já visitaram três áreas ao longo da BR-317, na confluência dos estados do Acre e Amazonas. Os geoglifos também estão sendo filmados em sobrevôo, que é o melhor meio para visualizar a imponência deles no ambiente.

A equipe japonesa vai acompanhar futuramente as escavações que serão relaizadas sob a coordenação da arqueóloga Denise Schaan, do Museu Paraense Emílio Goeldi, com a participação do casal de arqueólogos finlandeses Heli Pärssinen e Martti Pärssinen, da Universidade de Helsinque, associada na pesquisa à Universidade Federal do Acre.

Já foram identificados mais de 120 geoglifos no Acre, mas a construção deles permanece um enigma. Os japoneses estão interessados em documentar todos os anos os resultados dos estudos. As imagens de satélite do Google Earth permitiram triplicar a quantidade de geoglifos identificados. Um artigo científico a respeito será publicado em breve por três pesquisadores.

Denise Schaan, que tomou conhecimento dos geoglifos a partir de fotos enviadas por Alceu Ranzi, considera-os uma das descobertas mais fantásticas da arqueologia amazônica – ou sul-americana – dos últimos tempos.


No Acre, a partir dos geoglifos, surgem evidências de que também se desenvolveram sociedades complexas na Amazônia, que promoveram enorme alteração na paisagem. Os pesquisadores trabalham com a hipótese de que no Acre, há mil anos, viveram sociedades mais numerosas do que a população existente hoje.

Os acreanos ainda demonstram enorme desconhecimento em relação aos geoglifos. Embora não exista nada organizado para facilitar o acesso do público, o arqueólogo finlandês Martti Pärssinen acredita que seja fácil o tombá-los como patrimônio da humanidade. Por enquanto, não foi sequer tombado pelo Estado ou municípios.

Pesquisas para conhecer algo a respeito da civilização que construiu os geoglifos e a abertura ao turismo poderiam contribuir pesadamente para protegê-los. Apesar da divulgação, alguns geoglifos têm sido afetados por tratores ou torres de transmissão de energia elétrica.

Há poucos meses, por exemplo, Alceu Ranzi tomou conhecimento que um poste do programa Luz para Todos iria ser instalado sobre um geoglifo na BR-317. Procurou o coordenador do programa no Acre, que confessou não saber o que são geoglifos.

Os apelos do pesquisador não foram suficientes para impedir um crime: a fixação de um poste, que poderia ter sido desviado de um dos geoglifos mais imponentes, na BR-317, em forma de quadrado com um círculo dentro, na fazenda de Jacó Sá.

Após 12 horas em campo, entrevistei o diretor Minoru Nakamura, com auxílio do intérprete Mário Obara. Assista ao vídeo clicando na setinha abaixo.




Assista ao vídeo no qual aparecem o paleontólogo Alceu Ranzi e a equipe da TBS percorrendo um pequeno trecho de um geoglifo na BR-317. Ranzi dá explicações em inglês ao repórter Katsuhiko Hibino.



Há 17 anos, quando se estabeleceu no projeto Pedro Peixoto, o paranaense Antonio Rufino derrubou a floresta e tocou fogo para formar um pasto em sua propriedade de 154 hectares, no ramal Areia Branca.

Quando o geoglifo em sua propriedade se tornou visível, ouviu explicações de vizinhos de que eram trincheiras abertas pelos seringueiros brasileiros da Revolução Acreana durante os combates com o exército da Bolívia.

Ele agora gosta de receber visitantes interessados em conhecer os dois monumentais geoglifos existentes em sua propriedade. Assista a entrevista.




Leia mais:

Os geoglifos do Acre
Janela para o passado
Geoglifos da Amazônia

Veja fotos:
Fazenda Arizona
Fazenda Atlântica
Fazenda Baixa Verde
Fazenda Quinauá

GEOGLIFOS PRA BOI PASTAR

Elson Martins

Há cerca de 20 anos, o paleontólogo Alceu Ranzi, da Universidade Federal do Acre, clama num imenso deserto onde reina a ignorância e o descaso com as coisas da ciência que podem ajudar a entender e valorizar a Amazônia. Com uma mochila no ombro e alguns cadernos de anotações, ele tem saído pelas cabeceiras dos rios acreanos e penetrado algumas matas onde já encontrou fósseis que podem ter mais de 12 mil anos de existência. Por sugestão sua, a Ufac institucionalizou a pesquisa paleontológica e guarda hoje expressiva coleção de Crocodylia, na qual se encontra um crânio de Purussaurus, reconhecido como o maior jacaré do mundo. A coleção tem também fósseis de tartarugas descomunais e da preguiça gigante que o cientista americano e pesquisador do Museu Goeldi, David Oren, diz ser o nosso lendário "mapinguary", com cerca de três toneladas de peso. Atualmente, Ranzi se empenha em desvendar o mistério dos geoglifos que encontrou em 1977 em algumas fazendas próximas de Rio Branco.

Alceu lançou em 2000 o livro "Paleoecologia da Amazônia", em co-edição das universidades de Santa Catarina e do Acre, onde procura chamar atenção para a fauna pleistocênica (não encontrei a tradução disso aí nem no Aurélio) da Amazônia sul-ocidental. Há poucos dias ele apareceu com um segundo livro, publicado na Finlândia: "Western Amazônia", em parceria com os cientistas Martti Pärssinen e Antti Korpisaari, que valorizam seu trabalho e querem ampliar as pesquisas no Estado. Nesta segunda obra, o destaque é para os geoglifos que o paleontólogo catarinense-acreano descobriu quando viajava num Boeing no trecho Porto Velho-Rio Branco. Ao sobrevoar algumas fazendas próximas da capital, ele viu enormes figuras geométricas desenhadas nos pastos e ficou apressado em encontrar uma explicação. Convenceu o Governo do Estado a financiar duas horas de vôo sobre a região, em avião pequeno, e com a despesa de cinco mil reais colocou o Acre entre as regiões mais importantes do mundo em ternos de ocorrência desses registros.

Na semana passada, Ranzi foi convidado por um grupo de 15 pessoas (entre jornalistas, advogados, professores, funcionários públicos ligados ao turismo, entre outros) para explicar a importância dos geoglifos. Embora este seja um assunto dos arqueólogos, ele o descreveu com a propriedade de um especialista. E assim vai abrindo caminho na mídia para ver se surge alguma alma interessada em ampliar a pesquisa que iniciou por conta própria. A repercussão de sua descoberta tem sido maior nos Estados Unidos e na Finlândia, mas aqui no Brasil o programa "Fantástico", da TV Globo, registrou as primeiras imagens dos geoglifos na televisão em julho do ano passado. O apresentador descreveu o que viu:

— Em uma hora de sobrevôo, foi possível visualizar 17 formas diferentes, mas existem cerca de 50. São círculos, quadrados, quadrados com círculos internos, e até octógono, uma figura com oito faces iguais. A possibilidade de serem estruturas naturais, como fendas ou ondulações, está descartada devido a incrível precisão dos símbolos. Um dos maiores geoglifos encontrados é um retângulo perfeito. A figura tem 150 metros de comprimento, 10 metros de largura e 6 metros de profundidade.

Quando se refere à evolução da Amazônia, o paleontólogo assume a versão de que a América do Sul se despregou da África há 80 milhões de anos e na separação formou-se a Cordilheira dos Andes. Como sinais dessa erupção da terra, ele cita que na Serra do Moa, região pré-andina do Acre, foram encontrados dentes de tubarão e que nas arraias amazônicas vivem parasitas que são os mesmos das arraias do Oceano Pacífico. "Temos muitos fósseis de peixe de água salgada no Acre", diz. Ele argumenta que com a elevação da Cordilheira, que separa o Oceano Pacífico da Amazônia brasileira, esta nossa região viveu um bom tempo inundada e somente há 11 milhões de anos cresceu a floresta. Antes desta crescer, teriam existido populações antigas que - a ciência pode comprovar - construíram os geoglifos encontrados.

A versão leiga, entretanto mais corrente por aqui, de que os geoglifos seriam trincheiras erguidas no começo do século pelos exércitos de Plácido de Castro e da Bolívia na disputa das terras acreanas, é descartada pelo pesquisador. Até porque as formas geométricas são perfeitas, o que é impossível imaginar que tenham sido construídas numa imensa e irregular floresta tropical com árvores de troncos com mais de dois metros de diâmetro. Afinal, os geoglifos só apareceram com os desmatamentos feitos no Acre nas décadas de setenta e oitenta. Os fazendeiros que os encontraram ficaram curiosos num primeiro momento; depois, procuraram escondê-los para não chamar a atenção dos cientistas e da mídia para sua propriedade. Alguns parecem ter recorrido ao seguinte e criminoso artifício: encheram d'água para que pareçam açude para criação de peixe.

Na opinião de Alceu Ranzi, eles ganhariam muito se transformassem os geoglifos numa atração turística como a que existe na região de Talca, no Peru, que ocupa uma planície no deserto de Palpa há 400 quilômetros de Lima. Lá, os turistas fazem fila e pagam 50 dólares por um sobrevôo de meia hora para ver os desenhos gigantes na forma de animais (aranha, macaco, beija-flor). Os desenhos são tão grandes que só podem ser vistos de uma altitude de mais de 300 metros. Sobre os geoglifos do Acre, Alceu faz muitas perguntas ao mundo científico: uma delas, "se há algum simbolismo estético, religioso, espiritual, teológico, climático, astronômico ou bélico que justifique sua construção pelos nossos ancestrais amazônicos"?

Elson Martins é jornalista acreano. O artigo foi publicado originalmente no jornal Folha do Amapá, em novembro de 2003.

quarta-feira, 30 de agosto de 2006

XÔ SARNEY AGORA É MODA



De Patrícia Andrade, do blog Paralelo 2000:

- Estou lançando uma nova moda. Acho que vai pegar. O Chico Bruno viu e gostou da camiseta!

MAUS GESTORES

A Agência Brasil tem uma galeria de candidatos a deputado estadual condenados pelo Tribunal de Contas da União por má gestão de dinheiro público.

Consegui localizar apenas um acreano, o Antonio Barbosa de Sousa (Zum), do PPS, ex-prefeito de Assis Brasil.

- Em 1992 recebeu recursos mas não comprovou a construção de casas populares, escolas e posto de saúde. Também não comprovou uso correto de dinheiro destinado à compra de equipamento escolar - diz a nota.

Clique aqui para conferir a galeria.

A FORÇA DOS BLOGS

A discussão política na internet já não se restringe às páginas dos partidos e candidatos. Os debates sobre as propostas para o país agora também estão em espaços virtuais mais independentes, conhecidos como blogs, destaca a Agência Brasil, em notícia assinada pela repórter Juliana Cézar Nunes, intitulada "Blogs abrem novos espaços para discussão política, aponta especialista"

No mundo, existem cerca de 50 milhões de blogs. Eles se popularizaram no Brasil como uma espécie de diário onde os internautas compartilhavam textos e experiências.

- Hoje, eles são também espaços para a manifestação da militância mais básica, onde qualquer pessoa tem a possibilidade de publicar intenções sobre os candidatos. É um novo espaço de troca de informações - aponta, em entrevista à Rádio Nacional, José Murilo Junior, editor de uma página na internet chamada Ecologia Digital e consultor da organização internacional Global Voices.


Em setembro do ano passado, José Murilo Junior (foto), que vive em Brasília e costumava ler este modesto blog, enviou-me uma mensagem se dispondo a desenvolver um novo modelo visual, o que aceitei prontamente. A sua última atitude voluntariosa aconteceu na segunda-feira, quando colaborou ao publicar uma nota no Global Voice para amplificar o movimento anti-censura no Amapá para a web de língua inglesa.

- Aqui, no Brasil, nessa eleição, ainda vai ter uma predominância da televisão no aspecto da decisão em relação às candidaturas. Mas as pessoas já começam a perceber que realmente é um poder a ser exercitado, um poder de mídia a ser exercitado, de uma forma completamente nova - afirma.

José Murilo Junior é, ainda, gerente de Informações Estratégicas do Ministério da Cultura e colaborador permanente deste blog.

JORGE GALLINA

Olá Altino!

Estou morando na invernosa Porto Alegre. Pra passar o tempo, me ocupar e ganhar algum, estou dando aulas de planejamento gráfico em duas universidades e fazendo algum free eventual.

Tenho lido sistematicamente teu blog pra não perder o contato com Rio Branco e com os irmãos do Norte. O blog está muito bom, competente, apimentado, cheio de informações diversificadas. Parabéns!

Altino, saí de Rio Branco meio apressado, cansado com a descortesia de uns e outros, que não honraram com o compromisso assumido, e cheguei a esquecer de me despedir à altura de você e sua família.

Digo isso, porque fui recebido pelos Machado com muito carinho e afeto. Intermináveis almoços, jantares e belos papos na varanda da sua casa. Bem, se aceitares agora, estou agradecendo pela sua hospitalidade!!

Grande abraço do seu amigo

Jorge Gallina

Jorge Gallina, tem 33 anos de jornalismo. Trabalhou na Zero Hora e na sucursal da Gazeta Mercantil, em Porto Alegre, depois mudou para a Gazeta Esportiva, em São Paulo. Ex-editor do jornal Página 20, no Acre. Se especializou no desenvolvimento de projetos gráficos, tendo trabalhado para várias publicações brasileiras. Estávamos na varanda de minha casa, em fevereiro de 2003, no dia em que meu neto Samuel veio ao mundo. É um profissional com quem aprendi bastante como seu assistente. Estamos prontos para recebê-lo com a hospitalidade de sempre. Saudações acreanas, tchê.

LUIZ INÁCIO FALOU

Frases de Lula no livro "Viagens com o Presidente - Dois Repórteres no Encalço de Lula do Planalto ao Exterior", de Eduardo Scolese e Leonencio Nossa, que cobrem o Palácio do Planalto para a Folha e O Estado de S. Paulo:

"Marina, essa coisa de meio ambiente é igual a um exame de próstata: não dá pra ficar virgem toda a vida. Uma hora eles vão ter que enfiar o dedo no cu da gente. Então, companheira, se é pra enfiar, é melhor que enfiem logo".


"Tem horas, meus caros, que eu tenho vontade de mandar o Kirchner para a puta que o pariu".


"Aquele lá [referindo-se a Jorge Battle, então presidente do Uruguai] não é uruguaio porra nenhuma. Aquele lá foi criado nos Estados Unidos. É filhote dos americanos."

"O Chile é uma merda. O Chile é uma piada. Eles fazem os acordos lá deles com os americanos. Querem mais é que a gente se foda por aqui. Eles estão cagando para nós."

"Tem que acabar com essa porra de fazendeiros que toda hora vem pedir dinheiro ao governo".

Diálogo entre Lula e Fernando Henrique Cardoso, no dia seguinte à vitória do petista em 2002:

Lula: "Fernando, como você faz para dar uma escapadinha?"

FHC: "É impossível, Lula...impossível...Aqui tem ajudante-de-ordens para todos os lados".

terça-feira, 29 de agosto de 2006

BRASILEIROS E BRASILEIRAS

Blogs fazem campanha "xô Sarney"

Thiago Reis

Blogs políticos e de jornalistas do Brasil e do exterior estão publicando notas de repúdio ao que consideram "censura" praticada pela coligação encabeçada pelo senador José Sarney (PMDB), que concorre à reeleição no Amapá.

Ao menos 80 blogs já aderiram ao "movimento" desde que a Justiça Eleitoral determinou, no último dia 25, que a jornalista Alcilene Cavalcante retirasse de seu blog a foto de um muro de Macapá no qual a expressão "Xô" é representada com uma caricatura do senador.

A foto está agora reproduzida na maioria desses blogs. O jornalista Marcelo Tas, em seu blog, disse que é preciso "varrer do mapa, aposentar de vez da vida pública brasileira, um dos maiores vermes da nossa história: o ex-maranhense e presidente Zé Sarney".

Tas colocou no ar, inclusive, um santinho da principal adversária de Sarney ao Senado e escreveu: "Voto declarado".

A irmã de Alcilene, Alcinéa Cavalcante, republicou a foto do muro em seu blog e listou blogueiros que fizeram o mesmo pela internet.

A coligação de Sarney já entrou com nove representações contra o blog de Alcinéa. Nas últimas, frisou: "É inaceitável que indivíduos que se dizem jornalistas armem uma longa teia de comunicação na internet para a prática de crimes".

A coligação acusa a rede de blogueiros de estar "organizada em prol de atingir a boa imagem do candidato". Segundo a representação, os jornalistas "convocam eleitores e mais jornalistas e internautas a comporem esse bando, inclusive de outros países". "É inaceitável que a disputa eleitoral seja maculada com tão abjeta nódoa."

A Folha entrou em contato com o assessor de imprensa do senador e da coligação União Pelo Amapá (PDT, PMDB, PP, PV, PSC e Prona), mas ele não ligou de volta.

Alcilene Cavalcante assessora a campanha do candidato ao governo João Capiberibe (PSB). O TRE-AP considerou, no entanto, nas decisões em que negou os pedidos contra o site de sua irmã Alcinéa, que os blogs fazem parte de uma "rede de relacionamento totalmente facultativa e por isso fora do âmbito do direito eleitoral".

Quase dois meses após o início da campanha eleitoral, a coligação de Sarney já conseguiu que cinco meios de comunicação do Amapá saíssem do ar ou tivessem reportagens retiradas das páginas da internet. Outros meios já foram notificados por publicar charges ou notas com referência ao senador.

Thiago Reis é repórter da Agência Folha. Ao censurar o blog de Alcilene Cavalcante, José Sarney não imaginava que estava mexendo com vara curta numa casa de marimbondos de fogo.

LOS PORONGAS NO YOUTUBE

A banda acreana Los Porongas (Diogo Soares, Márcio Magrão, João Eduardo e Jorge Anzol) disponibiliza no Youtube show realizado no Acre.

Os vídeos foram gravados em Rio Branco por Thiago Fialho, do blog Coca Mata, e Adaildo Neto, do blog Hey ho punk, no dia 26 de agosto.



Estão disponíveis as interpretações de "O Escudo", "Lego de Palavra", "Tudo ao Contrário", "Suspeito de si", "Nada Além", "Enquanto uns Dormem", "Como o Sol", "Espelho de Narciso", "Subvertigem", além de um cover da banda Capu, lendária formação roqueira de Rio Branco dos anos 70/80.






Visite o blog e o site Los Porongas. O show completo da banda pode ser visto aqui. Assista abaixo "Enquanto uns dormem".

TORDON MATA O ACRE



Tirei a foto acima no dia 24 de julho do ano passado, durante a Feira Agropecuária do Acre. A imagem do balão de propaganda num evento organizado pelo Governo da Floresta serviu para ilustrar a nota sobre o "Tordon", derivado do herbicida que foi utilizado na guerra do Vietnã para eliminar as folhas das florestas e expor os vietnamitas aos ataques do exército norte-americano.

Impressionante que nunca tenha existido autoridade ou organização social preocupada com o problema do uso indiscriminado e criminoso de Tordon há décadas na região. Agora leia o trecho da entrevista do geógrafo Claudemir Mesquita ao jornalista Sílvio Martinello, de A Gazeta, que está reproduzida integralmente neste blog:


A GAZETA: Além do nível dos rios, o que o senhor observou mais que sumiu nesses últimos anos?

Mesquita: Antes, podia-se ver botos, jarus e outros grandes peixes no Rio Acre. Com a carga poluidora dos esgotos e dos agroquímicos ou agrotóxicos, eles sumiram.

A GAZETA: E tem isso também de agrotóxicos?

Mesquita: De 1970 para cá, 80% da carga de agrotóxicos que chegou ao Acre foi para atender a formação de fazendas no Vale do Acre. Hoje, o Estado possui em torno de 2 milhões de cabeças de gado. Por aí, pode-se calcular o quanto de agrotóxicos foi e ainda está sendo absorvido pelo solo, do solo para as nascentes e igarapés e dos igarapés para o rio. É uma quota altísssima.

A GAZETA: Consta inclusive que se usou muito o herbicida Tordon, um derivado do Agente Laranja que os norte-americanos usaram na Guerra do Vietnã.

Mesquita: Sim, o Tordon. Há registros, em Brasiléia e Xapuri de várias mortes por asfixia na aplicação do Tordon.

A GAZETA: Mas parece que agora a fórmula foi modificada.

Mesquita: Foi modificada para pior, para ser mais letal. Para economizar tempo e dinheiro, aplicam uma quantidade maior e aí exterminam tudo, de uma vez. Por isso que os grandes peixes foram embora ou já morreram. Estou fazendo uma cartilha mostrando as belezas e as riquezas que o Rio Acre possuía e o que restou dele agora.

Clique aqui para ler a nota sobre a propaganda de Tordon na Feira Agropecuária do Acre.

BLOG DA DIREÇÃO

Marcos Schechtman, diretor de "Amazônia - de Galvez a Chico", relata no Blog da Direção a "operação de guerra" da Globo para gravar no Amazonas:

"Só conseguimos retomar a gravação no sábado, depois de enfrentarmos uma verdadeira epopéia, das mais emocionantes. Isso porque a balsa que trazia grande parte do nosso equipamento encalhou no Rio Madeira. Para resolver isso, a gente teve que fazer uma operação de guerra, que envolveu três aviões e um barco.

Uma parte do nosso equipamento veio de avião. A outra – três toneladas de roupas, material de cena, objetos de cenografia, itens da produção de arte etc – veio por terra, de caminhão, conduzida pelas estradas até Porto Velho e, de lá, seguindo de balsa pelo Rio Amazonas. É assim que funciona na Amazônia: o rio é a principal via de transporte. Só que a balsa encalhou, porque já está começando o período da seca. Tivemos que levar um barco até a balsa, para descarregar nosso equipamento todo e levar até a margem. De lá, a carga foi distribuída entre três aviões, que finalmente levaram tudo para Manaus. E só então conseguimos gravar.

Essa saga toda reflete o que os pioneiros enfrentavam em 1900. O Acre só é navegável por embarcações grandes durante três meses do ano, quando está na época da cheia. Então, os vapores da época, que chegavam trazendo alimentos, ferramentas, utensílios domésticos, roupas e toda a provisão necessária para a vida no seringal, só apareciam nesses três meses. Essa limitação levou as pessoas a adotarem um sistema de produção muito sofisticado, porque elas tinham que prever tudo o que iam pedir para o ano seguinte, e tudo tinha que durar um ano inteiro. E a gente aqui, de repente, se viu numa situação similar. A Globo teve que montar uma operação muito complexa de resgate para podermos voltar a gravar".

Na foto acima, Marcos Schechtman com Suyane Moreira, a atriz na qual a direção está apostando. Os diretores informam que Suyane fará o papel de uma índia da tribo ashaninka, do Acre. Ela já já gravou em locações em Manaus. Mais informações no Blog da Direção.

A AGONIA DO RIO ACRE

Na semana passada, quando fiz uma breve viagem de uma hora no rio Acre, para tirar fotos da cidade cenográfica de Porto Acre, a canoa encalhou oito vezes.

Entre a Porto Acre real e o núcleo cenográfico da Rede Globo, existem trechos onde é possível atravessar o rio com água pouco acima do tornozelo.

Fiquei especialmente impressionado com o trecho mostrado precariamente na foto acima, onde o assoreamento deixou a calha do rio com menos de 10 metros de largura.

O jornalista Sílvio Martinello, diretor do jornal A Gazeta, assina hoje a reportagem
"Os rios que 'comandavam a vida' na Amazônia estão morrendo ", onde expõe a situação dramática do rio Acre, uma vítima dos crimes ambientais cometidos pelos fazendeiros que devastaram as florestas de suas margens para plantar capim.

Sempre vale a pena ler o que o coleguinha Martinello escreve, quando busca alguma história fora dos limites de sua cabine refrigerada e monitorada por câmeras de TV.


Os rios que 'comandavam a vida' na Amazônia estão morrendo


SÍLVIO MARTINELLO


Não dá para prever se será daqui a um ou dez anos, mas uma coisa é certa: se não forem tomadas medidas urgentes para preservar e revitalizar o Rio Acre, a cidade de Rio Branco e mais seis cidades acreanas correm sério risco de sofrer colapso no abastecimento d'água".

A afirmação é do geógrafo Claudemir Mesquita, especialista em Planejamento e Uso de Bacias Hidrográficas, pode parecer alarmista, mas não é. Tanto é que o governo do Estado e a prefeitura de Rio Branco, a Capital do Acre, prevenindo-se do susto causado pela grande seca do ano passado, apressaram-se este ano em comprar mais duas bombas de captação de água do Rio Acre, que abastece uma população de cerca de 300 mil habitantes.

Com efeito, os sinais dessa morte lenta e anunciada podem ser vistos do cimo dos barrancos, formando um cenário de desolação, numa sucessão de crimes ambientais impunes. Do porto do mercado municipal à terceira ponte, passando pelo Centro da cidade e dezenas de bairros periféricos, o rio transformou-se em uma cloaca.

Suas margens escalavradas apresentam fendas enormes, provocadas pela erosão. Desprotegido de qualquer tipo de vegetação ciliar nativa, até as canaranas foram destruídas, a erosão vai depositando todo tipo de entulhos, formando bancos de areia, os quais, em alguns pontos, já tomaram mais da metade do rio, como se quisessem estrangulá-lo.

Neste período de estiagem, o rio virou um estreito canal de apenas vinte a trinta metros, permitindo apenas a passagem de pequenas embarcações, como canoas, catraias e batelões. No porto do mercado, pode-se ver dezenas de batelões parados, que transportam a produção dos colonos ribeirinhos. Alguns avariados ou porque encalharam nos bancos de areia, foram abandonados.

São 11h da manhã, vários donos dessas embarcações dormem debaixo das lonas ou coberturas de madeira, extenuados pelo esforço da viagem que empreenderam desde madrugada, para trazer ao mercado melancias, cachos de banana, galinha caipira e outros produtos hortigranjeiros.

Antônio Carlos Ferreira, 35 anos, dono de um batelão, que possui uma colônia no Seringal Capatará, que pertenceu ao libertador do Acre, o gaúcho Plácido de Castro, confirma que em alguns trechos, logo acima da cidade, o rio está ameaçando "apartar".

Em um desses trechos, nas proximidades do bairro Taquari, Antônio Carlos conta que, se o batelão vier muito carregado, é obrigado a descarregar para poder passar vazio pelo estreito canal e depois carregar de novo, o que atrasa a viagem em horas e exige um esforço redobrado. Não bastasse isso, acrescenta, há inúmeras dragas retirando toneladas de areia, impedindo a passagem das embarcações dos ribeirinhos.

Fosse apenas o baixo nível do rio, provocado pelo assoreamento, a situação do Rio Acre não seria tão grave, porque no período das chuvas, no "inverno amazônico", de novembro a maio, o nível das águas pode subir até a 13 metros. Outro problema tão ou mais sério é a poluição e neste aspecto o cenário é desolador, revoltante.

Ao longo das duas margens do rio, mais de cinqüenta bairros foram se formando, desde a década de setenta, quando ocorreu o êxodo rural em massa de seringueiros, com a substituição dos seringais pelas fazendas de gado. Das casas e palafitas, penduradas nas barrancas, num equilíbrio que desafia a lei da gravidade, escorre o esgoto a céu aberto diretamente para dentro do rio. No bairro da Base, um dos mais tradiconais e movimentados da cidade, a vida parou no tempo. No casario antigo, atingido pelas sucessivas cheias, só se vê placas de "vende-se".

No trajeto em que o rio corta a Capital, nesta época do ano em que está no nível mais baixo, a água transformou-se numa lama fétida, viscosa, sem vida. Não se vêm mais peixes de espécie alguma. Nem sapos ou cobras. Sem ter com que se alimentar, as aves aquáticas também sumiram.

"Até a cobra grande que morava na curva da Gameleira não agüentou o fedor e foi embora", diz o catraieiro Manoel Severino, numa alusão à lenda da "cobra grande" que alimentou o imaginário popular desde a formação da cidade, no começo do século passado.

Pelo menos neste trecho, o Rio Acre já morreu, confirmando que a previsão do geólogo Claudemir Mesquita, de fato, não é catastrófica.

Se não bastasse o esgoto, há outro fator de poluição ainda mais grave. Emborcada na areia, em um descampado onde pastam algumas cabeças de gado, pode-se ver uma lata do agrotóxico Tordon, um herbicida derivado do Agente Laranja que os norte-americanos usavam na Guerra do Vietnã. Segundo o geólogo Claudemir Mesquita, este desfolhante vem sendo usado pelos fazendeiros para combater as pragas das pastagens.

Como também não há nenhum cuidado em dar o devido destino a outros agentes poluidores. O colono Antônio Carlos conta que, na grande seca do ano passado, chegou a ver dez carcaças de bois ainda em carniça jogadas no leito do rio.

Algum visitante mais desavisado poderia se impressionar com as carrancas que sobressaem do filete de água, imaginando jacarés e outros animais que se vê nas novelas. Engano. São troncos de árvores e galhadas que a força das águas arrasta nas cheias e permanecem depois enterradas, apodrecendo nos bancos de areia.

Nem tudo, porém, está perdido. Ao construir a terceira ponte sobre o Rio Acre, para des-viar os caminhões de carga do Centro da cidade, o governador Jorge Viana fez questão de preservar no entorno da obra uma das poucas áreas verdes que ainda subsistem dentro da cidade. Em breve, deverá concluir também uma nova estação de tratamento de esgotos.

Ao mesmo tempo, a Secretaria Municipal de Meio Am-biente da Prefeitura de Rio Branco, junto com o Ibama, concluíram há poucos dias estudos técnicos para a limpeza e desobstrução das bacias hidrográficas do Riozinho do Rola e do Igarapé São Francisco, os dois principais afluentes do Rio Acre.

Temendo a repetição da grande seca de 2005, o governo do Estado, através do Instituto do Meio Ambiente (Imac) tomou este ano medidas mais drásticas: proibiu por dois meses (julho e agosto) todo tipo de queimadas, nas cidades e no campo, em toda a região do Vale do Acre, onde se concentram as grandes fazendas.

Ao mesmo tempo, o Imac, o Ibama e outros órgãos estão ensinando os colonos a fazer seus roçados para plantio sem o uso do fogo ou coivaras e treinando brigadas contra os incêndios.


O rio das "ferraduras"

Logo mais, em setembro, quando José Wilker, Alexandre Borges, Giovana Antonelli, Vera Fischer, Chris-tiane Torloni e outros artistas globais chegarem ao Acre para encarnar o aventureiro espanhol Luiz Galvez, o gaúcho Plácido de Castro e suas fogosas mulheres, talvez, tenham que esperar um pouco.


Se a novelista Glória Perez e o diretor Marcos Schechtemann quiserem dar mais realismo aos principais feitos que libertaram o Acre da Bolívia, na virada do século XIX para o século XX, terão que esperar pelo "inverno amazônico", no final de outubro, começo de novembro, quando as águas do Rio Acre subirem com as chuvas, para compor a minissérie sobre a História do Acre, "Amazônia - de Galvez a Chico Mendes".

Aliás, não é possível entender a saga de Galvez, que fundou o Estado Independente do Acre, sem disparar um tiro, a de Plácido de Castro ou a do ditador boliviano Mariano Melgarejo, que trocou com o embaixador brasileiro Regino Correia 500 mil km² de território boliviano por dois cavalos de raça, sem falar do Rio Acre.

Foi através das águas amareladas, barrentas do Rio Acre, e às suas margens, que se locomoveram, nos primeiros anos do século XX, esses personagens, tidos como heróis, para conquistar o Acre do domínio boliviano.

Nascido na fronteira do Acre com o Peru, passando nos fundos dos quintais da Bolívia, este rio de águas barrentas, atravessa toda a microrregião do Vale do Acre, corta Rio Branco, a Capital do Estado, e desemboca no legendário Rio Purus, do escritor Euclides da Cunha. É um rio caprichoso, que provoca superstições com suas incontáveis "ferraduras" a darem a impressão ao navegante que estaria voltando no mesmo ponto por onde passara horas antes.

Só a título de lembrança, foi na margem esquerda do Rio Acre, em Puerto Alonso, que depois passou a se chamar Porto Acre, que, em 1900, Galvez proclamou seu Estado independente e na ribanceira do rio construiu seu palácio imperial de paxiúba.

Foi também através do Rio Acre, dois anos depois, que Plácido de Castro chegou até Xapuri e na madrugada de 6 de agosto, ele e seu exército de seringueiros-guerrilheiros, surpreenderam um batalhão de soldados bolivianos ainda dormindo e tomaram a cidade.

"Es temprano para la fiesta", reclamou o comandante boliviano ainda de ceroulas, em alusão às festividades do Dia da Independência da Bolívia. "Não é a festa, comandante; é a revolução", respondeu Plácido de Castro.Também, nesta ocasião sem a necessidade de dar um tiro.

Na verdade, o surgimento das principais cidades amazônicas e sua civilização deu-se às margens dos grandes rios da região. No final do século XIX e sobretudo no começo do século XX, os rios eram o caminho natural e único por onde chegaram, primeiro, os aventureiros, depois os migrantes nordestinos para extrair o látex das seringueiras. Eram os rios que comandavam a vida (também a morte) na vasta região amazônica.

Foi também através dos rios que, com a exportação da borracha e sua alta cotação no mercado internacional, surgiram as cidades mais importantes da região. No fausto e desperdício formou-se o que os bons historiadores chamam de "civilização do látex". Manaus, localizada às margens do grande Rio Amazonas, chegou a ser chamada de a "Paris dos Trópicos", reproduzindo a belle èpoque francesa.

Nos barracões dos seringais, construídos no cimo dos barrancos, com telhas importadas da Europa, adornados em suas fachadas com lambrequins folheados a ouro, viviam os seringalistas ou "coronéis de barranco", formando a casta da "nobiliarquia barranqueira". Mesmo que essa riqueza e luxo tenham sido tão fugazes quanto os rolos de fumaça que su-biam no meio da floresta dos tapiris onde os seringueiros defumavam o látex. (S.M)

O PROFETA DO RIO

Sílvio Martinello

Ele mesmo conta que até há pouco tempo, onde chegava nos bares, no mercado, na própria universidade, os freqüentadores iam logo dizendo "lá vem o chato, lá vem o alarmista, lá vem o profeta do rio" e o evitavam. Pelos cabelos e barba revoltos, o geógrafo Claudemir Mesquita, 55 anos, um acreano franzino, puxando de uma perna mais curta, é o próprio "profeta". Contudo, ele não se importa com o que dizem dele. Ao contrário, inflama-se e se indigna, quando passa a alertar, a denunciar os crimes ambientais que vêm sendo cometidos contra o Rio Acre e seus afluentes. Especialista em Planejamento e Uso de Bacias Hidrográficas pela Fundação Getúlio Vargas, o geógrafo aponta nesta entrevista as principais causas que estão envenenando e matando os rios da região, numa morte lenta e inexorável, se medidas urgentes não forem tomadas:

A GAZETA: Há vários anos o senhor vem anunciando a morte do Rio Acre. O senhor continua mantendo essa previsão ou mudou?

Mesquita: Mantenho e para mim está muito claro. Na medida em que as cidades crescem e aumenta a demanda pelos recursos do rio, não só por água, mas por outros recursos como a areia para as construções, o rio tem cada vez menos chances de sobreviver. As empresas ganham muito dinheiro extraindo a areia. A água, claro, é o principal recurso e vem sendo cada vez mais comercializada.

A GAZETA: Quais seriam os principais sintomas ou causas dessa morte lenta do rio?

Mesquita: Há vários sintomas ou causas. O principal deles ou a principal causa é o desmatamento. Desmatou, a água não infiltra mais no solo. Se infiltra é muito pouco e esse pouco não abastece mais o lençol freático como antigamente.

A GAZETA: Por que não abastece?

Mesquita: Porque numa estiagem mais prolongada, o rio não pode garantir com essa pouca água infiltrada a sua perenidade por um tempo maior. Este é um aspecto importante. O outro ponto é que quando se desmata, desmata-se também a vertente e esta vertente - eu vejo isso todos os dias no campo - está sendo pisoteada, socada e a água não brota mais desse veio. Ou seja, a vertente que nasce rente ao solo, escoa, seca mais facilmente. Ora, era essa infinidade de vertentes ou mesmo filetes d'água que abasteciam os igarapés e os igarapés que abasteciam os rios, que mantinham a perenidade dos rios por mais tempo. Se essa cadeia é quebrada, conseqüentemente, aumenta o déficit de água dos rios. Por isso é que é importante entender a natureza.

A GAZETA: No caso aqui do Rio Acre, quais seriam os principais igarapés que já estariam faltando com essa contribuição? O Riozinho do Rôla, o Igarapé São Francisco...

Mesquita: Não me restrinjo apenas a esses igarapés. Vou mais longe. Eu parto do Igarapé Grande, em Assis Brasil (na fronteira do Acre com o Peru), que já está muito antropisado...

A GAZETA: O que é antropisado?

Mesquita: Antropisado significa que já está muito desmatado, pisoteado em suas margens, agredido pela ação do homem. Por sorte, o Igarapé Grande possui ainda uma área preservada, na reserva Chico Mendes, que ainda mantém sua perenidade. Aí, eu venho para o Rio Xapuri. O Xapuri tem suas nascentes na mesma reserva e pode-se dizer que é único rio aqui do Vale Acre que ainda é perene. Já o Riozinho do Rôla não é mais perene e não foi pelas longas estiagens. Foi pela excessiva falta de umidade relativa do ar. Agora mesmo, só temos dois meses de falta de chuva e ele secou. Vindo, então, para Rio Branco, temos o Igarapé São Francisco, que seria outro contribuinte do Rio Acre. Ora, este todo mundo conhece, já não tem mais floresta. Em suas margens existem apenas alguns pequenos bosques, cercado por todos os lados por campos de pastagens. Além disso, para acabar de matar o São Francisco, o Incra assentou em suas cabeceiras o PAD Carão (Projeto de Assentamento Dirigido). O PAD Carão está em cima das nascentes do igarapé. Além dos colonos, os fazendeiros ocuparam toda a área à sua volta, na AC-90, na Transacreana, desmatando tudo, sem deixar nenhuma reserva. Nesses rios ou igarapés não existe mais água suficiente nem para os produtores manterem seu cultivo. O que se vê hoje são os resíduos ou dejetos jogados diretamente em seus leitos. Conseqüentemente, para o futuro, a conti-nuar assim, com esse desmatamento desbragado e a poluição, nossos filhos não verão um peixe em torno de 100 km². Isso me deixa triste, porque poderíamos crescer, desenvolver economicamente, mas também ambientalmente.

A GAZETA: Neste período do ano, de "verão amazônico", de estiagem, já se pode ver que em alguns locais o Rio Acre está quase 'apartando'...

Mesquita: Ah, pode-se ver sim. Do Riozinho do Rôla até Rio Branco, na semana passada, um barco com cinco pessoas não conseguia avançar. É triste dizer isso, e quando se alerta, as pessoas ainda acham que se está exagerando...

A GAZETA: ...alarmando...

Mesquita: Pois é, alarmando. Dizem que não se deveria dizer ou mostrar essa realidade em nome do 'progresso'. Mas é a realidade e uma realidade incontestável. Qualquer ribeirinho, que depende do rio para sobreviver, vai dizer a mesma coisa. Contudo, é preciso que nos preocupemos hoje não só por nós, mas por nossos filhos e nossos netos.

A GAZETA: E do lado do Peru, onde estão as principais nascentes do Rio Acre, como é a situação?

Mesquita: Pois é, o Rio Acre nasce de dois rios no lado peruano: do Rio Eva e Rio das Pedras. Há bem pouco tempo, a área no entorno desses rios ainda possuía uma cobertura vegetal bastante vasta. Atualmente, através dos satélites, já se detectam desmatamentos de 10 mil km² em torno desses dois rios peruanos. Como não existe uma lei ambiental rígida no Peru, o ritmo do desmatamento continua cada vez mais acelerado. Na medida, portanto, em que a pressão econômica aumentar também naquele país vizinho, vamos ter muita dificuldade para fazer um trabalho ambiental conjunto entre os dois países.

A GAZETA: O senhor disse que os nossos filhos e netos não verão mais os peixes. Tudo bem. Porém, a questão é que as cidades localizadas às margens desses rios e igarapés estão crescendo ou 'inchando' e, cada vez mais, precisam de água. Aqui mesmo em Rio Branco, está-se comprando mais bombas e cavando o rio para aumentar, facilitar a captação. Como conciliar isso?

Mesquita: Este é outro ponto nevrálgico da questão. Na medida em que se faz, por exemplo, um investimento de R$ 30 milhões para aumentar a captação e não se faz o mesmo investimento para preservar e revitalizar o rio, está-se dando um tiro no escuro.

A GAZETA: Por que?

Mesquita: Porque corre-se o risco de daqui a dez anos não se ter mais água, mais rio. Portanto, será que esse investimento valeu a pena? O que defendo é que se faça um investimento básico de preservação e revitalização e depois de captação. Só que estamos fazendo o inverso. Isso tem que ser dito, sem melindres. O gestor público, os prefeitos, os governadores, o colono, os fazendeiros, os pescadores, todos precisamos nos conscientizar sobre essa realidade e a necessidade urgente de tomar providências para não deixar os rios e igarapés morrerem. Precisamos organizar caravanas até Assis Brasil, ir até ao Peru, levando cartilhas ou outros subsídios, alertando sobre esses riscos e a necessidade de preservação. Precisamos atravessar a fronteira e dizer aos peruanos e bolivianos que os impactos da seca de 2005 foram terríveis; que nós precisamos que eles também preservem as margens dos rios e igarapés que nascem em seus territórios, porque precisamos de sua água.

A GAZETA: A propósito, como analisar a grande seca de 2005 que atingiu não só os rios do Acre, mas de toda a Amazônia? Teria sido um fenômenos atípico ou já seria conseqüência do desmatamento cada vez maior da floresta amazônica?

Mesquita: Infelizmente, precisou que viesse uma grande seca como a do ano passado para chamar a atenção e a sociedade começar a preocupar-se com a gravidade do problema. Quando faltou água nas torneiras, os rios, os igarapés e os açudes secaram, só então as pessoas começaram a nos procurar pedindo informações e sugestões.

A GAZETA: Mas como explicar aquela seca?

Mesquita: Vamos lá: Este ano ou neste "verão amazônico" está até chovendo mais do que no ano passado. Porém, como não é muito, é possível que os rios da região continuem secos até dezembro. Se isso ocorrer, vamos ter um problema para explicar ou medir os períodos de maior ou menor estiagem, de mais ou menos chuvas. Num ano, como este, tem-se dois meses de estiagem; no outro, como no ano passado, tivemos cinco meses de estiagem. Ou seja, fica difícil estabelecer parâmetros ou fazer uma medição de um período do ano em que o clima está se modificando muito rapidamente. O fato incontestável é que a situação está cada vez pior porque o desmatamento aumenta, com um agravante em relação ao Rio Acre: praticamente todos os investimentos que estão sendo feitos no Estado estão sendo localizados na microrregião do Vale do Acre. E isso preocupa, porque o rio será mais castigado ainda.

A GAZETA: Como conciliar, então, essa pressão econômica com a preservação? O que se observa, de modo geral, é que a sociedade, os governantes querem esses investimentos. Alguns segmentos políticos, nesta campanha eleitoral, propõem abertamente que é preciso derrubar a floresta para abrir mais fazendas, para plantar soja, como se fez em Rondônia, no Mato Grosso e está-se fazendo no Pará.

Mesquita: A pressão econômica é inevitável. Não tem como fugir dela. O desenvolvimento é necessário para melhorar a qualidade de vida. Contudo, é necessário e imprescindível que aconteça de forma harmônica, sustentável. Ou seja, esse desenvolvimento tem que ser monitorado pelos órgãos ambientais. Se for necessário desmatar uma área, que se verifique antes o impacto ambiental, se essa área não possui nascentes. Enfim, que o governo tenha governabilidade e controle sobre o que se vai fazer.

A GAZETA: Com relação ainda à seca do ano passado, observou-se que não foram só os rios do Acre que secaram, mas de modo geral em toda a Amazônia. Isso foi um fenômeno atípico, localizado ou já é um fenômeno global?

Mesquita: É global, é global. No caso do Acre, sofremos mais, porque estamos localizados nas nascentes dos grandes rios da região amazônica. Claro, outros estados também sofreram. Mas, nós sofremos mais, porque todos os grandes rios nascem nesta parte mais ocidental da Amazônia. Este, aliás, é mais um motivo para cuidarmos do nosso espaço, para garantir a perenidade dos rios de outros estados amazônicos.

A GAZETA: Outra questão: como analisar os açudes que os produtores rurais estão cada vez mais construindo para se livrarem da seca?

Mesquita: Esses açudes são uma praga (risos).


A GAZETA: Por que?

Mesquita: Pelos motivos já expostos. Porque as águas das nascentes, que deveriam abastecer os igarapés e os igarapés, os rios, são represadas num buraco. Ou seja, um fazendeiro ou colono que faz isso estão se apropriando de um bem coletivo para garantir só a sua produção, o seu lucro, a sua riqueza. Isso se o açude também não secar.

A GAZETA: Outro fenômeno: como explicar que em 2005 ocorreu aquela seca braba, severina e, logo em seguida, este ano, no "inverno amazônico", aconteceu uma grande enchente? Isso é também algum fator de desequilíbrio ambiental?

Mesquita: Ah, sim, é conseqüência de um desequilíbrio. Quando se desmata, não se tem mais o sistema de contenção ou absorção das águas das chuvas. A água cai, não penetra no solo, porque não há mais floresta, e escorre toda para os rios provocando as inundações.

A GAZETA: Mesmo assim, dá a impressão enganosa que está tudo bem. Ou seja, veio a seca, mas em seguida a enchente e a Amazônia continuaria sendo a mesma, com a maior bacia hidrográfica do mundo.

Mesquita: Com efeito, é enganosa, porque na cheia deste ano não choveu essas coisas todas. Ao que consta, este ano choveu em torno de 380 mm, enquanto em outras enchentes de anos passados era preciso chover em torno de 450 a 480mm. Eis o desequilíbrio: antes chovia mais e havia mais retenção; hoje, chove menos, com o desmatamento o solo retém menos, a água escoa mais depressa, elevando o nível dos rios e lagos.

A GAZETA: Além do nível dos rios, o que o senhor observou mais que sumiu nesses últimos anos?

Mesquita: Antes, podia-se ver botos, jarus e outros grandes peixes no Rio Acre. Com a carga poluidora dos esgotos e dos agroquímicos ou agrotóxicos, eles sumiram.

A GAZETA: E tem isso também de agrotóxicos?

Mesquita: De 1970 para cá, 80% da carga de agrotóxicos que chegou ao Acre foi para atender a formação de fazendas no Vale do Acre. Hoje, o Estado possui em torno de 2 milhões de cabeças de gado. Por aí, pode-se calcular o quanto de agrotóxicos foi e ainda está sendo absorvido pelo solo, do solo para as nascentes e igarapés e dos igarapés para o rio. É uma quota altísssima.

A GAZETA: Consta inclusive que se usou muito o herbicida Tordon, um derivado do Agente Laranja que os norte-americanos usaram na Guerra do Vietnã.

Mesquita: Sim, o Tordon. Há registros, em Brasiléia e Xapuri de várias mortes por asfixia na aplicação do Tordon.

A GAZETA: Mas parece que agora a fórmula foi modificada.

Mesquita: Foi modificada para pior, para ser mais letal. Para economizar tempo e dinheiro, aplicam uma quantidade maior e aí exterminam tudo, de uma vez. Por isso que os grandes peixes foram embora ou já morreram. Estou fazendo uma cartilha mostrando as belezas e as riquezas que o Rio Acre possuía e o que restou dele agora.

A GAZETA: A propósito da formação de fazendas, pode-se dizer que o surgimento de inúmeros bairros de Rio Branco, a partir da década de setenta, às margens do Rio Acre, também contribuiu para a sua deterioração?

Mesquita: Rio Branco não poderia ter sido ocupada como foi. As margens do Rio Acre eram a última área verde a ser preservada. No entanto, com o êxodo rural e o surgimento desses bairros, foram destruídos no seu entorno nada menos do que 58 quilômetros de igarapés. Esses 58 quilômetros foram manilhados, entubados, poluídos, porque é mais fácil para a administração pública fazer assim: pegar um igarapé dentro da cidade, jogar o esgoto dentro, envolvê-lo com manilhas e colocar o asfalto em cima, achando que está tudo resolvido. Nunca se pensa em tratar esse esgoto, preservando o igarapé ou revitalizá-lo, para que se possa aproveitar a água, o peixe, a fauna e que essa fauna possa...

A GAZETA: Aí, o senhor já está apontando as soluções.

Mesquita: Sim. É preciso considerar que no Acre e por extensão na Amazônia os únicos corredores ecológicos ainda são os rios e igarapés. Mesmo com o desmatamento em suas margens, é ainda onde os animais se escondem e se locomovem. Saindo dali, estarão mortos.

A GAZETA: O problema é que custa dinheiro revitalizar um igarapé.

Mesquita: Nada disso. É simples e barato. Basta orientar e dar alguns sacos de cimento para os moradores canalizarem seus esgotos, enquanto o poder público constrói as estações de tratamento. Felizmente, hoje em Rio Branco, estão sendo construídas as ETEs do São Francisco, da Conquista. Se não fizemos isso no passado, vamos começar agora, já. Hoje, o Acre está vivendo um momento muito favorável com o legado de Chico Mendes, com o governador Jorge Viana, com a ministra Marina Silva, com o prefeito Raimundo Angelim e tantos outros. Digo isso por onde ando e com muito orgulho. Temos que aproveitar esse momento propício para resolver nossos problemas ambientais, para sonhar com uma qualidade de vida melhor. Se perdermos a capacidade de sonhar, a alegria de viver, de preservar nossas florestas, nossos rios, será o fim.

A GAZETA: Resumindo tudo, pode-se, então, concordar com o que alguns historiadores da Amazônia registraram que os "rios comandavam a vida". Se matarmos esses rios...

Mesquita: Morrendo esses rios, nós morreremos juntos. O que ainda poderia garantir uma sobrevida se-riam as águas do subsolo. Acontece que ainda não foi detectada nenhuma água de qualidade no subsolo no Acre. Já foram perfurados vários poços em Senador Guiomard, em Acrelândia e a água encontrada foi de péssima qualidade. Matando os rios, teríamos que importar água.

A GAZETA: O que seria um absurdo. Vivendo na maior bacia hidrográfica do mundo ter que importar água.

Mesquita: Não dá nem para pensar, mas é sério. Mesmo preservando os rios, os gestores públicos precisariam pensar na construção de uma grande bacia, um grande reservatório de água potável em Rio Branco.

A GAZETA: Um piscinão? (risos)

Mesquita: A construção de uma grande represa na AC 90, na Transeacreana, depois do bairro da Floresta. Este reservatório serviria como reserva para um período mais longo de estiagem, mas também como cartão-ambiental, área de pesquisas e de lazer. Não só isso, mas também como uma reserva estratégica.

A GAZETA: Por que estratégica?

Mesquita: Porque é preciso levar em conta que o Rio Acre é um rio internacional ou tri-nacional. Nasce no Peru, passa pela Bolívia e entra no Brasil. Ora, vamos supor que tenhamos qualquer conflito com um desses dois países. Com os bolivianos, por exemplo, que fizeram uma revolução outro dia. Um dia eles resolvem envenenar a água do Rio Acre. Morreremos sem saber do quê. O Brasil não teve problemas com o fornecimento do gás boliviano? Então... E não se diz também que, depois do petróleo, a próxima grande guerra será pela disputa das fontes de água potável?

A GAZETA: Para terminar mesmo, como é seu trabalho, sua pregação na universidade, nas escolas, no trabalho?

Mesquita: É difícil , mas gratificante. Às vezes, surpreendente, como aconteceu outro dia, quando estava fazendo uma palestra numa escola, no Seringal Catuaba, sobre a poluição do Rio Acre e um aluno levantou-se e jogou na minha cara: "pois é, professor, é tudo muito certo, tudo muito bonito o que senhor está dizendo, mas a bosta que vocês jogam lá no rio, lá na cidade, nós a bebemos com a água do rio aqui embaixo".

BLOGS DESAFIAM A CENSURA

Vários veículos de comunicação do país estão proibidos por uma decisão judicial de divulgar qualquer informação sobre uma conversa telefônica que envolveu o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PMDB) e o advogado dele, Eri Varela, candidato a deputado federal pelo PMDB.

Varela já atuou na defesa de duas personalidades do Acre, o ex-governador Orleir Cameli e o ex-deputado Hildebrando Pascoal. O advogado divulgou o conteúdo da conversa na presença de 500 convidados, em Brasília, durante o lançamento da candidatura.

O conteúdo está disponível no blog do jornalista Ricardo Noblat. Afaste as crianças e ouça a conversa telefônica de Roriz e Varela. Basta clicar aqui.

Enquanto isso, recebo do Amapá mensagem da jornalista Alcinéa Cavalcante:

"Caro Altino,


Se puderes me ajudar, repassando para os teus contatos, ficarei muito agradecida. Acabei de postar o texto que segue.

Beijos

Alcinéa

A TESOURA, O BANDO E A QUADRILHA

Nunca vi ninguém com mais apego à tesoura da censura do que o senador José Sarney (PMDB-AP), candidato à reeleição.

De quinta-feira até ontem, a coligação de Sarney deu entrada no TRE do Amapá com sete representações contra este blog, chegando ao absurdo de pedir até a retirada de comentários dos leitores.

Nas representações, a coligação reclama da relação de links publicadas aqui, condena a troca de informações entre os blogs e chama os blogueiros de criminosos ao afirmar que "é inaceitável que indivíduos que se dizem jornalistas armem uma longa teia de comunicação na Internet para a prática de crimes."

A coligação de Sarney diz que os jornalistas e internautas que dão opinião desfavorável ao senador fazem parte de "um bando", que vive a convocar "eleitores e mais jornalistas e internautas a comporem esse bando, inclusive de outros países".

Chamar de criminosos para os cidadãos que não apóiam sua reeleição é o retrato do desespero e da insensatez de um homem que aparece na televisão, todo orgulhoso, metido no fardão de imortal da Academia Brasileira de Letras.

Senador, cada vez que o senhor aponta sua tesoura na minha direção eu me sinto feliz por fazer parte desse bando que tem dignidade, que não abaixa a cabeça, que luta pela democracia e pela liberdade de expressão – coisas que lhe causam profunda irritação.

E tenha certeza que jamais trocarei meu bando por qualquer quadrilha a qual o senhor pertença ou venha a pertencer, mesmo que seja uma quadrilha de São João".

segunda-feira, 28 de agosto de 2006

PT LIDERA NO ACRE

Depois de ter publicado dados do fantasma "Instituto Phoenix", o UOL Eleições destaca hoje a pesquisa do Ibope:

"No Acre, PT lidera para governo, Senado e Presidência, diz Ibope"

O candidato do PT ao governo do Acre, Binho Marques, tem 42% das intenções de voto, contra 35% do candidato do PPS, Marcio Bittar, de acordo com pesquisa Ibope. Eles polarizam a disputa no Estado.

Tião Bocalom (PSDB) registra 7%, seguido de Edivaldo Guedes (PAN), com 2% , e Francisco José Benício (PSDC), com 1%. Os candidatos José Wilson Mendes Leão (PSOL) e José Alex (PRONA) não pontuaram.

Votos brancos e nulos somam 3% e não sabiam ou não opinaram 10% dos eleitores . A margem de erro é de 3 pontos percentuais. A pesquisa foi encomendada pela Rede Amazônica e divulgada no "Jornal do Acre", da TV Acre.

Segundo turno
O Ibope também realizou simulações para um eventual segundo turno. A primeira revela um empate técnico entre Binho Marques (46%) e Marcio Bittar (45%). A segunda simulação mostra vitória petista (55%) sobre o candidato tucano (27%).

Para o Senado, a consulta diz que Tião Viana (PT) lidera a disputa com 69% da preferência. O candidato do PPS, Airton Rocha, recebe 8% de menções. E Chagas Freitas, do PFL, tem 4% das indicações.

O levantamento também aferiu a intenção de voto para a Presidência. O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 43%, Geraldo Alckmin (PSDB) registra 35% e Heloísa Helena (PSOL) recebe 10% das indicações.

Cristóvam Buarque (PDT) atinge 1%. Os demais candidatos não pontuaram. Brancos e nulos chegam a 3% e não souberam ou não opinaram 7%.

O Ibope ouviu 810 eleitores em 10 municípios entre os dias 21 e 24 de agosto. A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral com o número 2627/06".

ANTI-CENSURA

Alô Altino,

Se faltava amplificar este movimento anti-censura para a web de língua inglesa, agora não falta mais. Publiquei uma nota lá no Global Voices.

E viva a blogosfera independente!

Saudações.


José Murilo Júnior

EDMUNDO PINTO

O pequeno detalhe de um grande crime

Cercado de suspeitas e mistério, o assassinato do governador do Acre, em 1992, foi resolvido a partir da mancha que ficou na parede onde o assaltante se apoiou, ao fugir

Renato Lombardi

- Você foi identificado pelas digitais.

- Pelas digitais? Mas eu não encostei em nada no quarto! Tomei cuidado para não deixar nenhum rastro.

- Quando você pulou pela janela, encostou a mão onde?

- Só na parede, doutor. Mas eu não sabia que encostando a mão na parede ia deixar rabo."

Esse trecho de interrogatório, em que o suspeito é surpreendido por uma prova que imaginava impossível, foi decisivo para o esclarecimento do assassinato do governador do Acre, Edmundo Pinto, em São Paulo, na madrugada de 17 de maio de 1992. Outro dado surpreendente, no caso, foi como o americano John Franklin Jones conseguiu fazer uma ligação telefônica para sua mulher, nos Estados Unidos, apesar de estar amarrado e amordaçado no mesmo andar onde foi morto o governador.

Leia a íntegra do artigo do jornalista Renato Lombardi na revista Ciência Criminal.

domingo, 27 de agosto de 2006

É PRECISO RESISTIR

A fumaça e alguma pobreza de espírito que pairam sobre o Acre nesse agosto de 2006 me fizeram lembrar que o jornalista Antonio Alves, do blog O Espírito da Coisa, foi demitido do jornal O Rio Branco, em agosto de 1988, porque escreveu que considerava psicopata quem derrubava e tocava fogo em dois mil hectares de floresta para plantar capim.

Além da coluna "A coisa em si", que escrevia no jornal, Toinho Alves apresentava, bem antes do surgimento de Arnaldo Jabor, na Globo, uma crônica deliciosa, na TV Aldeia, a estatal instalada no Acre pelo então governador Flaviano Melo (PMDB). Trabalhava lá, a jornalista Simony D'Avila, que agora dirige a emissora e é casada com o candidato a governador Binho Marques (PT).

No dia que a crônica foi publicada, Toinho Alves saiu direto de casa para gravação na emissora, quando Simony D'Avila o surpreendeu com a notícia de que o mesmo fora demitido do jornal. Toinho saiu e foi até à redação do jornal, onde encontrou o saudoso editor José Chalub Leite esvaziando gavetas da mesa.

- O que aconteceu, Zé Leite? - indagou Toinho, sentado sobre uma mesa.

- Você foi demitido pelo diretor Naildo Mendes por causa da crônica de hoje. Pedi demissão em solidariedade a você, bem como todos os empregados do jornal - explicou o editor, que trabalhava no jornal desde que o mesmo foi fundado, em 1970, pela família Tourinho, que também era proprietária do jornal Alto Madeira, de Porto Velho (RO).

No fumacento 1988, em junho ou julho, o jornal O Rio Branco foi comprado pelo empresário Narciso Mendes, que entregou a direção ao Naildo Mendes, irmão dele. Naildo, que derrubara dois mil hectares de floresta naquele verão, havia tocado fogo em sua propriedade na mesma semana em que a crônica foi publicada. Toinho Alves não sabia disso e havia se referido a outro caso, mas o diretor vestiu a carapuça de psicopata.

Enquanto Zé Leite e Toinho Alves conversavam, o empresário Narciso Mendes irrompeu a sala.

- Vou mostrar para você como sei mandar no que é meu. Tire a sua bunda de cima da mesa e vá embora daqui, agora - ordenou, dedo em riste.

- O senhor deve conhecer a seguinte frase de Víctor Hugo: "O valor de uma pessoa não se mede pelos ambientes que ela frequenta, mas pelos ambientes que ela se recusa a frequentar". Saiba que enquanto o senhor for dono deste jornal, minha bunda não sentará mais sobre suas mesas - rebateu Toinho, enquanto se levantava, batia as mãos nos fundilhos e se retirava da redação.

Narciso Mendes ficou colérico e seguiu os passos de Toinho Alves, a quem ofendeu com centenas de palavrões. Quando chegaram à rua, nela estava o jornalista bissexto Luis Carvalho. Ele, que havia estacionado o seu carro em frente ao jornal, ficou assistindo Narciso aos berros, mas foi surpreendido pela cólera do empresário.

- Por que você, com cara de safado, está olhando para mim? - quis saber Narciso.

- Vai tomar no cu, rapaz - respondeu Carvalho.

Narciso ameaçou avançar contra Toinho Alves, que levantou a guarda para o embate, mas desistiu de esmurrá-lo na cara por causa dos óculos. Ninguém sabe até hoje como o Luis Carvalho arranjou uma ripa com a qual Narciso Mendes foi golpeado até correr e se refugiar no prédio.

Toinho Alves voltou para a TV Aldeia e Narciso Mendes seguiu para o Palácio Rio Branco, onde foi recebido por Flaviano Melo. Logo que chegou à TV, Toinho foi chamado pelo jornalista Elson Martins, diretor da emissora.

- Já estou sabendo o que aconteceu, Toinho. O Flaviano está reunido com o Narciso Mendes. Telefonou e já falei que não vou censurá-lo. Ele sugere apenas para você maneirar na crônica.

- Tudo bem, Elson. Vou apenas bater no canto, bem colocado, no fígado - tentou tranquilizar Toinho, que gravou a crônica falando da ameaça de morte que sofrera do empresário.

O jornal ficou sem circular mais de uma semana e o Zé Leite convenceu o pessoal que não era da redação a desistir do pedido de demissão solidária. Voltou a circular quando Narciso Mendes contratou os jornalistas César Fialho e Romerito Aquino.

O que se seguiu levou o diário ao lixo da história. Seus repórteres anunciaram a semana em que o seringueiro Chico Mendes seria assassinado. No dia do crime, em 22 de dezembro de 1988, estavam de prontidão e tiraram fotos do corpo crivado de bala.

O Acre não foi mais o mesmo desde então, embora a fumaça e alguma pobreza de espírito teimem em pairar no ar.

É preciso resistir.

sábado, 26 de agosto de 2006

XÔ, CENSURA!

Prezados amigos

Hoje fui notificada pelo TRE do Amapá por ação movida pelo candidato José Sarney contra o meu blog "Repiquete no Meio do Mundo".


O senador quer direito de resposta e que o TRE me aplique multa de mais de 100 mil reais porque publiquei a foto do muro da casa de um cidadão de Macapá que pintou o seu patrimônio com uma caricatura do Sarney e a expressão "Xô"!


Junto com a notificação veio uma liminar para ser cumprida imediatamente retirando a foto do ar. Cumpri a determinação do TRE.

Estranhamente meu blog saiu do ar. Não sei o que está acontecendo e a UOL não soube me explicar ainda.

A notícia sobre a censura ao meu blog já saiu no Blog do Noblat com grande repercussão e protestos nessa noite, contra a prática que Sarney vem adotando nessa campanha no Amapá. A Folha de Saõ Paulo também já noticiou o fato.

No site dos jornalista Chico Bruno e blog do Ernani Motta também já foi postado o assunto. Vamos correr o mundo com essa foto. Dilvulguem para todos.

Se quiserem protestar contra esse abuso cometido, pelo desespero de Sarney, que está com medo sim, de perder as eleições para Cristina Almeida, passe no blog da Alcinéa Cavalcante e registre seu protesto enqunto aquele blog ainda está no ar.

Vamos dizer ao Sarney que no Amapá ele não tem fazenda de burros, não.

Segue a foto para todos.

Abraços

Alcilene Cavalcante

Querida Alcilene, você e sua irmã Alcinéa são duas profissionais que realizam trabalho exemplar há anos nesta Amazônia onde os coronéis de barranco nunca são varridos do mapa. Conte com a solidariedade deste modesto blog. Daqui a pouco vou contar uma história marcante na qual um censurado não se trocou com os censores, no Acre.

sexta-feira, 25 de agosto de 2006

Viver no Acre

Sérgio Adeodato

Para um garoto de Copacabana, acostumado ao glamour que tinha o Rio de Janeiro na década de 70, morar na Amazônia foi uma incrível aventura.


Lembro-me, como se fosse ontem, meu pai mostrando onde ficava o Acre no mapa do Brasil.
Ele, que era engenheiro civil, tinha sido convocado pela Odebrecht para construir a nova ponte sobre o Rio Acre. E levou mulher, mãe e os três filhos. A viagem, por si só, já foi uma expedição. Levávamos, lembro muito bem, 24 volumes no avião. Fomos para Manaus, onde ficamos uma semana, e depois seguimos para Rio Branco, a bordo de um bimotor da Varig, com escala em Porto Velho.

Imaginávamos encontrar jacarés e índios nas ruas da cidade, o que se confirmou ser apenas um mito da cidade grande. Mas quando chegamos ao aeroporto de Rio Branco, imaginamos que algum cenário perto disso poderia mesmo acontecer. Em 1973, quando chegamos à cidade, o aeroporto era uma casa de madeira com chão de barro. A pista era de barro.

Poucas semanas depois, foi inaugurado o Aeroporto Internacional Presidente Médici, com aquelas vidros fumês. O lugar passou a ser ponto de encontro da sociedade acreana: todos os sábados, às 11h da manhã, o programa era comer quibe e ver o Boeing descer no aeroporto. No avião sempre chegavam personalidades: políticos, empresários e artistas famosos. E todos queriam ver a novidade e, por que não, colocar as fofocas da sociedade em dia.

Como meu pai tinha um posto importante como engenheiro da ponte, convivíamos com as famílias dos secretários de estado e também do governador, do qual ganhamos um cão pastor alemão. A vida que tinha no Acre era a que pedia a Deus. Morava numa boa casa de alvenaria, ao lado do antigo Incra com quintal colado ao campo do Vasco, um time profissional de Rio Branco (não sei se existe ainda hoje).

As casas vizinhas eram todas de palafitas e nelas moravam meus melhores amigos, como um que tinha o apelido de Macaco – o que terá acontecido com o Macaco? Outro grande amigo era o André Cerqueira, filho do diretor do Hospital, que ficava perto do Círculo Militar – o único amigo desta época com quem mantenho contato.

Aos 13 anos, minha vida era jogar futebol e ir ao Círculo Militar, do qual éramos sócios. Guardo até hoje um elmo de prata, que é um porta-garrafa, e copinhos de licor, que ganhei num bingo lá no clube. Estudava no Colégio Nossa Senhora das Dores e nunca esqueço a maldade das freiras que puxavam as orelhas dos maus alunos. A aventura foi rica em histórias, como a nossa viagem para Cobija, na fronteira com a Bolívia, numa época que não existia ponte para atravessar a divisa – era preciso pegar um barco.

Lembro também que pegamos uma daquelas friagens de junho-julho e meu pai precisou acordar o dono das Casas Pernambucanas para abrir a loja e comprar cobertores. Não havia televisão. O rádio regia a informação e servia também de telefone, com pessoas mandando mensagens e recados para parentes e amigos em outras cidades. Todos os domingos, para ouvir os jogos do Rio e São Paulo, era a mesma rotina.

Para sintonizar bem, era preciso ligar um fio na antena do rádio e fixar esse fio numa haste de alumínio pregada na cerca da casa. Quando tudo parecia mil maravilhas, chegou a notícia de que a obra da ponte estava no fim e que deveríamos ir embora! No dia de ir embora, lembro que era o dia do primeiro jogo do meu time de futebol no campeonato dente de leite. Era contra o todo-poderoso Rio Branco.

Indo para o Aeroporto, alguém ligou dizendo que tínhamos ganhado a partida. Fiquei muito emocionado, porque eu era o dono do time, das camisas, da bola e da melhor posição do meio campo – mas era também o pior jogador! Para completar, no dia de ir embora, o Auricélio Guedes, que era meu professor de violão (e me levou para tocar um dia na Rádio Difusora), deixou uma fita gravada por ele com uma música para a família. Mais emoção... No aeroporto, deu um nó na garganta. Enfim, viver no Acre foi incrível. Só tenho boas lembranças.

O jornalista Sérgio Adeodato trabalha atualmente na Horizonte Geográfico. É um profissional experiente, que passou pelas redações do Estadão, Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Globo Ciência (hoje Galileu), Época. Estabelecemos contato nesta tarde, a apartir da Rede dos Jornalistas Ambientais Brasileiros, da qual fazemos parte. Ele já esteve dezenas de vezes na Amazônia, mas nunca mais voltou ao Acre. Espera que no final do ano aconteça uma pauta para vir. Deixou vários amigos aqui e gostaria de rever um deles - o cantor Auricélio Guedes, que foi seu professor de violão. Quem sabe o destino de Auricélio Guedes? Quem souber onde localizá-lo, favor clicar aqui para indicar as coordenadas.