segunda-feira, 31 de maio de 2010

MANDA CORRIGIR, BINHO

Antes que Jorge e Tião vejam


O correto é grafar Revolução Acreana e não "acreana". É mesmo memorial aos combates e não aos combatentes? E qual a serventia daquela coisa fálica à esquerda se o Pavilhão Acreano, também conhecido como "pau do Jorge", encontra-se ereto, à direita, ao lado da placa?

Atualização em 1 de junho, às 10h42, para esclarecimento de Daniel Zen, presidente da Fundação Cultural do Acre:

- Na verdade o correto seria "Monumento ao Centenário da Revolução Acreana", que é como consta na placa do monumento (e não memorial), no Calçadão da Gameleira. Faz umas semanas que estamos tentando dialogar com os responsáveis pela sinalização de cunho turístico, que está sob a responsabilidade da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (RBTrans). Você está certíssimo: a placa está mesmo errada.

AS MENTIRAS DO PT E DO PSDB

Vejam no que resulta o cinismo recorrente do PSDB e do PT de omitirem os feitos dos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula.

A revista Veja da semana afirma que o BNDES financia a rodovia Villa Tunari-San Ignacio de Moxos, na Bolívia, que facilita o tráfico de cocaína para o Brasil.


Reforça a tese do presidenciável José Serra de conivência do governo da Bolívia com o tráfico de cocaína para o Brasil, mas omite que a rodovia faz parte da Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA).

O mega-projeto prevê 507 grandes obras em 20 anos, com investimento total estimado em US$ 70 bilhões, para viabilizar a conexão rodoviária, fluvial, marítima, energética e de comunicação do continente.


A IIRSA foi criada em agosto de 2000, em Brasília, por 12 países sul-americanos. No encontro, que tinha Fernando Henrique Cardoso como anfitrião, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apresentou o projeto. A Guiana Francesa não aderiu.

O processo de integração da América do Sul foi reelaborado a partir de um estudo encomendado por Fernando Henrique Cardoso, quando Ministro da Fazenda do governo Itamar Franco.

FHC encomendou o estudo a Eliezer Batista, ex-secretário de Assuntos Estratégicos do governo Collor. Eliezer, pai do empresário Eike Batista, foi dirigente da Companhia Vale do Rio Doce.

Para saber mais, leia o documento "Desvendando os interesses", de Maria da Conceição Carrion e Elisangela Soldatelli Paim.

domingo, 30 de maio de 2010

PORTAL DA TRANSPARÊNCIA DO ACRE

O governo estadual criou o Portal da Transparência do Acre, mas não explicou até agora o motivo de ter evitado a divulgação do domínio.

O canal pode facilitar e ampliar o controle social exercido pelo cidadão, permitindo acompanhar na internet a execução financeira dos programas de governo sem utilização de senha.

Clique aqui para acessar o Portal da Transparência do Estado do Acre.

O prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim (PT), apresentou na sexta-feira (28) o Portal Cidade Transparente. Clique aqui.

O Portal da Transparência do Tribunal de Justiça está no ar desde fevereiro. É atualizado mensalmente. Lá tem, inclusive, a relação de todos os cargos comissionados e quanto todos ganham. Veja.

DILMA VENCE NO POINT DO PATO

"Numa mesa de bar, sexta à noite, fez-se uma prévia para presidente da República entre oito ‘eleitores’ e o resultado foi o seguinte:

Dilma Rousseff, 5 votos; José Serra, 2 votos; Marina Silva, 1 voto.

E olha que os ‘eleitores’ são todos politizados, letrados.

Com exceção de um votante, que conhece a ex-ministra, foram colegas de colégio, os demais nem partido têm.

Disseram que votam nela porque o país está dando certo."

Meu comentário: Nota extraída da coluna política Gazetinhas, de Sílvio Martinello, dono do jornal A Gazeta. Exemplo do inventivo jornalismo acreano. Para atingir esse grau de refinamento na apuração, o jornalista precisa ser, como o próprio já escreveu, o preferido do petista Jorge Viana. Devia ter registrado a pesquisa no TRE, o nome do bar, a seqüência de perguntas do questionário e, se possível, o grau etílico de cada eleitor. Mas, se não faz como fez, não chove verba pública no caixa.

LULA, O PÜTCHIPÜ´U DO MUNDO

POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE

Estou convencido: a recente projeção do Brasil no cenário mundial mostrou que Lula é muito mais do que “o cara”. Lula é o próprio pütchipü´u. Ele age como um pütchipü´u. Pensa como um pütchipü´u. Usa as mesmas ferramentas que um pütchipü´u. Então, ele é um pütchipü´u. Na verdade, sempre foi um pütchipü´u, mas sua pütchipü´ulidade adquire agora uma dimensão planetária. Que diabo, afinal, vem a ser o pütchipü´u?

Pera lá! Antes de qualquer explicação, deixa que eu vá logo prevenindo: não entendo chongas de política internacional. E daí? Muitos colunistas de plantão da grande mídia também não, o que não impediu, nessa semana, que pontificassem, com ar doutoral, sobre a recente iniciativa diplomática do Brasil e da Turquia no Irã. É impressionante! Os caras falam com tanta intimidade, parece até que o Obama, com quem tomam o breakfast, lhes passa informações em primeira mão. Não manifestam dúvidas, só certezas. São contundentes.

Concordaram com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que criticou a ação de Lula no cenário internacional. Ela acha que o acordo arrancado pelo Brasil e pela Turquia, com base - quanta ironia! - em exigências prévias da própria Casa Branca, “torna o mundo mais perigoso” porque “ajuda o Irã a ganhar tempo na execução de seu programa nuclear”. Manifestou “discordâncias sérias com o Brasil”. Cobrou do Conselho de Segurança da ONU sanções ao Irã e reafirmou a doutrina Bush de segurança, que confere aos Estados Unidos a função de meganha do planeta.

Essa é a opinião dela, lá pras negas dela. Tudo bem, ela está no seu papel. Serve ao militarismo e à indústria bélica. Quem não está no seu papel são alguns comentaristas brasileiros, que de forma subserviente embarcaram na canoa norte-americana, adotando o ponto de vista da secretária como se fosse “a verdade”. Criticaram “o erro de cálculo do Itamaraty”, sua “desastrosa política externa” e as “ambições megalomaníacas” de Lula. Debocharam do que chamam de “diplomacia da periferia”. Incorporaram o complexo de vira-lata: “Imagina, o Brasil querendo interferir nos destinos do planeta como se fosse uma grande potência nuclear!”

Se me permitem, quero discordar. Ora, se Lula e o Brasil, por essa razão, não podem influenciar a diplomacia mundial, então jornalista que nasce e reside no país do Lula está incapacitado para tecer comentários sobre política internacional, distanciado que está das fontes e do círculo de poder. Só quem pode falar é colunista do New York Times ou do Washington Post. Acontece que o poder do Lula não se apóia no canhão e na bomba atômica. Lula, em vez de rosnar como um Pitt Bull, fala como um pütchipü´u.

O dono do verbo

O pütchipü´u é um personagem fundamental na cultura dos índios Wayuu, que são conhecidos também como Guajiro, vivem na Venezuela e na Colômbia e somam atualmente cerca de 500 mil habitantes nos dois países.

O direito consuetudinário dos Wayuu parte do princípio de que os conflitos são inevitáveis em todas as sociedades e que cada uma desenvolve mecanismos para manter a ordem, a paz, a harmonia e a coesão social. Para isso, algumas sociedades criaram instituições como polícia, cadeia, tribunal, lei. Os Wayuu criaram um sistema jurídico singular onde quem se destaca é o pütchipü´u.

O grande legislador que dita as primeiras normas de vida em sociedade é um pássaro, segundo as narrativas míticas. Esse pássaro dá origem ao pütchipü´u, cuja retórica, similar ao canto das aves, busca a harmonia. O pütchipü´u é o “mestre da palavra’, o “dono do verbo”, enfim um índio sábio, especialista no manejo da linguagem. Tem a fala envolvente, convincente, sedutora e o dom da clarividência, do bom humor. Sua função é usar tais qualidades para solucionar disputas familiares e conflitos intra-étnicos.

Quando alguém se sente prejudicado, chama logo o pütchipü´u. Ele vem, analisa, conversa com as partes em lítigio, persuade, insinua, negocia, cria cenários às vezes ameaçadores sobre os possíveis desdobramentos do caso, mostrando que todo mundo pode perder. Ele não é bem um juiz que condena ou absolve. É mais um intermediário, um mediador na solução das brigas, e isso porque o sistema jurídico Wayuu não é um sistema de “justiça punitiva”, mas de “justiça de compensação”, “justiça de restituição”.

Esse sistema, do qual o pütchipü´u é - digamos assim - um “funcionário”, não está tão preocupado com as normas, que são limitadas a alguns princípios gerais. O seu foco não incide sobre a transgressão ao código, mas sobre a “origem do dano”. A intencionalidade de quem cometeu um prejuízo não é relevante, mas sim sua “responsabilidade objetiva”. A justiça se faz não para vingar e punir os culpados, mas para restabelecer a paz e o equilíbrio das relações sociais.

Por isso, a intervenção do pütchipü´u não se conclui com um “ganhador” e um “perdedor”, mas com a restauração da harmonia entre as partes em litígio. O principal é o reconhecimento do dano por parte de quem o fez e uma compensação ao prejudicado, em geral, com o pagamento de uma indenização, o que é decidido não por uma sentença imposta às partes, mas por consenso, pelo acordo através da conversa, do papo, da negociação, da conciliação, e esse é justamente o trabalho do pütchipü´u.

Dessa forma, os Wayuu consideram os conflitos sociais não como formas indesejadas de patologia social, mas como eventos cíclicos inerentes à vida comunitária, que abrem a possibilidade de recompor as relações sociais, solucionando as desavenças através do diálogo, que é - segundo Jorge Luis Borges - a mais criativa invenção do ser humano, mais importante do que a bomba atômica.

El palabrero

Nem todo pütchipü´u tem sucesso. Quando tem, o pagamento que recebe pelos serviços prestados é uma vaca ou algumas ovelhas e cabras, mas atualmente alguns deles recebem dinheiro. No entanto, o benefício maior é o aumento de seu prestígio. Há casos, porém, de fracasso, quando em vez de resolver o problema, causam mais confusão, originando novas agressões e o agravamento das hostilidades entre as partes. Aí, seu prestígio diminui.

Embora não sejam perfeitos, os procedimentos do sistema normativo Wayuu não devem ser considerados como algo rudimentar e primitivo, mas ao contrário constituem uma forma de exercer justiça que pode contribuir significativamente para o aperfeiçoamento dos sistemas legais de sociedades mais complexas. Um juiz da Venezuela, Ricardo Colmenares, autor de dois livros sobre o tema, está convencido de que o estudo do sistema normativo Wayuu pode favorecer a incorporação de formas jurídicas indígenas dentro do sistema jurídico formal.

Durante os últimos cinco séculos os Wayuu vêm aplicando o direito próprio dentro de seu território, mas de forma extralegal. Só recentemente esse direito foi reconhecido pelos dois países. Os colombianos, cuja Constituição de 1991 garantiu a autonomia dos territórios indígenas, começaram a estudar o sistema jurídico Wayuu, entendendo que o seu uso pode ser útil para a administração dos territórios.

Na Venezuela, um pluralismo jurídico tácito funciona também em território Wayuu, na medida em que num mesmo espaço social coexistem dois ou mais sistemas normativos - o direito escrito e o direito consuetudinário. Tanto lá como na Colômbia o pütchipü´u é designado pelo termo espanhol de “palabrero”, uma expressão meio ambígua que numa tradução aproximativa significa também falastrão, ou aquele que tem lábia, manha, esperteza, o que pode revelar um preconceito grafocêntrico de sociedades com escrita em relação às culturas da oralidade.

Lula, que veio do mundo da oralidade, que construiu seu saber na luta sindical e política, no trabalho, nas assembléias, nas negociações com a FIESP, no convencimento dos metalúrgicos, atuou como um sábio pütchipü´u no caso do acordo com a Turquia e o Irã, acordo conquistado - como escreveu Leonardo Boff “mediante o diálogo, a mútua confiança que nasce do olho no olho e a negociação na lógica do ganha-ganha. Nada de intimidações, de imposições, de ameaças, de pressões de toda ordem e de satanização do outro”.

Nesse caso - confirmou o próprio Lula - não tem essa história de ou dá ou desce. “Aqui ninguém dá e todo mundo desce”. Desde as lutas dos metalúrgicos do ABC, quando negociava com a poderosa Fiesp, cercado por baionetas, Lula já era um legítimo pütchipü´u. A ONU devia mesmo nomeá-lo o pütchipü´u do mundo.

P.S. 1 - Espero que os eleitores do Maranhão não se deixem convencer quando Lula pedir votos para a Roseana Sarney (vixe, vixe!).

P.S. 2 - Agradeço ao antropólogo wayuu, Weidler Guerra Curvelo, autor do livro - “La disputa y La palabra. La Ley em La sociedad wayuu”, publicado em 2001. Foi de lá que retirei as informações aqui apresentadas.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

CINISMO E MEDIOCRIDADE

A mediocridade que impera na imprensa do Acre não tem limite. Passou a criticar a senadora Marina Silva (PV-AC) porque a presidenciável é contra a construção da BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO).

Proprietários de veículos de comunicação, repórteres e colunistas oportunistas, que não se cansam de bajular o senador Tião Viana (PT-AC) e o ex-governador Jorge Viana, já concluíram que "a cabeça da senadora é mesmo de anti-desenvolvimento".


Em novembro do ano passado, cientistas, pesquisadores, políticos e representantes de movimentos sociais reuniram-se na Universidade de Chicago para uma conferência em honra à memória de Chico Mendes.

Jorge Viana participou do evento como expoente. Ao término, por unanimidade, os participantes decidiram encaminhar uma carta ao presidente Lula pedindo que não seja construída a BR-319.

A mediocridade da imprensa local vira cinismo quando omite que Jorge Viana também é contra a construção da rodovia, limitando-se a tratá-lo como presidente do virtual Fórum de Desenvolvimento Sustentável do Acre.

Clique aqui e leia a carta assinada por Jorge Viana contra a construção da BR-319.

Em tempo: Rio Branco ficará bem animada hoje por causa de uma operação da Polícia Federal que está sendo iniciada nesta manhã.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O IMPASSE DE TIÃO VIANA

Mariana Sanches

Cotado como favorito à disputa pelo governo do Acre, o senador Tião Viana está diante de um impasse. Filiado ao PT, ele, em tese, tem que dar palanque à candidata petista Dilma Rousseff. Mas o apoio à Dilma pode fazê-lo perder votos. Marina Silva, uma das fundadoras do PT acriano, levaria grande vantagem sobre Dilma no estado, de acordo com pesquisas extra-oficiais. Na sondagem Datafolha, os eleitores do Norte (contabilizados junto aos do Centro-Oeste) são os que mais declaram conhecer e ter a intenção de votar em Marina.

Viana tem tentado vincular-se à candidata do PV, de quem é amigo pessoal, sem melindrar os interesses de seu partido. Em entrevista ao jornalista Altino Machado, publicada no site Terra, ele diz que o nome Marina Silva é “sagrado” e o “mais forte” no Acre, mas que Dilma tem “as melhores condições para ser a presidente do Brasil”.

A mim, Marina disse dar apoio unilateral a Viana:

Época – Seus ex-colegas do PT do Acre apóiam a Dilma formalmente mas não querem se desvincular da senhora. Como vai ficar a situação lá?
Marina Silva – Claro que as pessoas do PT do Acre são meus companheiros, meus amigos, meus irmãos de trajetória de 30 anos. E eu não farei nada para constrangê-los a absolutamente nada. Meu apoio ao Jorge, ao Tião, nosso projeto lá é unilateral. Não tem uma exigência de que eles me apóiem. A única coisa que eu quero é que nós que enfrentamos tantas dificuldades para conquistar a democracia no Brasil e no Acre, numa realidade completamente adversa, que os acrianos possam se sentir livres para fazer suas escolhas. No primeiro turno a gente vota em quem a gente acha que é o melhor para o Brasil e no segundo turno a gente se defende de quem a gente acha que é o pior para o Brasil. Então eu quero que os brasileiros votem naquele que eles acham que é o melhor para o Brasil.

Época – A senhora não fica chateada se o Tião Viana subir no palanque da Dilma?
Marina – Não.

Época – Vai acontecer?
Marina – Não sei. É uma decisão dele. Se eu fizer um evento lá no Acre, vou convidá-lo para estar no meu palanque e vou pedir voto para ele. Aliás, já estou pedindo.

Época – E ele iria?
Marina – Eu acho que sim. Ele não precisa ir lá para pedir voto para mim. E o público que está lá já foi mobilizado por mim.

No Acre diz-se que Dilma não seria vaiada, mas também não seria ovacionada. E que romper com Marina poderia trazer maus resultados para os propósitos eleitorais do PT do Acre. Procurado pelo blog, Viana não respondeu ao pedido de entrevista. Segundo seu assessor, ele está no interior do Acre, em atividades de pré-campanha.

Mariana Sanches é repórter de política da revista Época.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

TRABALHO ESCRAVO NO ACRE


O pecuarista F.C.P. e seu capaz F.F.P. foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) à Justiça Federal, em Rio Branco (AC), acusados de manterem um trabalhador e sua família em condições semelhantes à escravidão, na fazenda Granada, no município de Bujari, a 25 quilômetros da capital do Estado.

O trabalhador L.S.N., de 18 anos, foi mantido, de novembro de 2008 a abril de 2009, juntamente com sua companheira de 15 anos de idade e um bebê com dois meses de vida, em condições precárias de saúde, higiene e segurança.

Leia mais no Blog da Amazônia.

NÃO PRECISA MAIS MENTIR


Os juízes do Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC) decidiram que o vice-governador César Messias (PP) poderá substituir o governador Binho Marques (PT), sem risco de inelegibilidade, durante os seis meses que antecedem as eleições. Messias é pré-candidato a vice-governador do pré-candidato ao governo estadual, o senador Tião Viana (PT), pela coligação Frente Popular do Acre. Leia mais no portal Terra.

terça-feira, 25 de maio de 2010

segunda-feira, 24 de maio de 2010

NOVO TERREMOTO NO ACRE

Um terremoto com magnitude de 6,5 graus na escala Richter foi registrado pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos, às 11h18, no Acre.

O epicentro, na fronteira com o Peru, foi a 580,5 quilômetros de profundidade, a 125 quilômetros de Cruzeiro do Sul, a segunda maior cidade do Estado.

O Acre costuma ser afetado por terremotos locais e também dos Andes, mas dessa vez não há relato de que o tremor tenha sido percebido pela população.

- O Acre é uma das áreas do Brasil com a maior atividade sísmica. A maior parte dessa atividade acontece a centenas de quilômetros de profundidade. Mas mesmo assim é importante verificar se as construções são feitas para resistir durante as próximas décadas a eventos de maior magnitude - alerta o pesquisador norte-americano Foster Brown, da Universidade Federal do Acre.

Leia mais no Blog da Amazônia.

AO AMADO DOM MOACYR

Marina Silva

Li na Folha (22/5) sua afirmação de que sou frágil e não tenho perfil para a Presidência da República. No início, fiquei triste. Já tinha ouvido algo parecido do senhor, de forma carinhosa, mas ler assim como está no jornal tem outro peso.


Refletindo mais, reconciliei-me com sua mensagem.

Quando ando por aí, muitos me dizem que minha luta é de Davi contra Golias. Então vamos conversar sobre passagens bíblicas, que conhecemos bem. Elas se completam e iluminam o que quero dizer.

Quando Saul terminava seu reinado, Deus mandou o sacerdote e profeta Samuel ungir novo rei entre os muitos filhos de Jessé. O profeta procurou entre os mais belos, os mais fortes e os mais habilidosos, mas Deus descartou todos. Jessé lembrou então de Davi, o seu filho mais novo, que pastoreava ovelhas. O profeta o achou muito fraquinho, meio esquisito. Mas Deus ordenou que o ungisse rei dos israelitas, porque olhava para o seu coração, e não para a sua aparência.

Foi assim que Davi foi escolhido para ser rei. E logo provou seu valor ao enfrentar Golias, o gigante filisteu, guerreiro acostumado a usar escudo, capacete e armadura e a manejar a espada. O jovem Davi, aparentemente fraco e sem muito preparo para aquele tipo de duelo, ganhou a luta porque não tentou usar a armadura de Saul, que lhe fora ofertada e nem lhe cabia direito. Usou sua própria arma, a funda, e ali colocou a pedra para jogá-la no lugar certo, na testa do gigante.

Assim como o senhor, dom Moacyr, Samuel era homem corajoso, temente a Deus, preparado para o sacerdócio desde um ano de idade. O senhor é muito importante na minha vida, da mesma forma que Samuel foi na vida de Davi. E está me vendo com olhos cuidadosos, preocupados com circunstâncias que talvez me causem sofrimento.

Mas, como sabe por experiência própria, não podemos ficar presos às circunstâncias.

Quando o senhor chegou ao Acre, aos 36, enfrentou os poderosos e ficou do lado de Chico Mendes e de todos os que eram aparentemente fracos e despreparados para enfrentar os gigantes das motosserras.

Como me ensinou, não me intimido com as circunstâncias e procuro me encontrar com o que está no coração de homens e mulheres sinceros, que, como o senhor, buscam fazer o melhor, apesar das dificuldades e riscos.

Aprendi com o senhor boa parte dos valores que me guiam, entre eles não vergar a coluna às pressões dos interesses espúrios.

Por favor, meu amado irmão, não me diga agora que esses valores não servem para governar o Brasil e me fragilizam. Tranquilize-se: eles são e continuarão sendo a minha força e a minha funda diante dos desafios, qualquer que seja o tamanho deles.

Marina Silva escreve às segundas-feiras na Folha de S. Paulo.

domingo, 23 de maio de 2010

O VOTO DA MULHER DO GENERAL

POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE

- Em quem a sua mulher vai votar? – perguntou a Folha.

- Em quem eu mandar – respondeu rápido o general Maynard.

Macho! O general Maynard Marques Santa Rosa é macho! Macho pacas! No diálogo acima, ele mostra quem é que manda. Concedeu longa entrevista a dois jornalistas da Folha de S. Paulo, publicada nessa segunda-feira, dia 17 de maio, numa página inteira, sob o título: “Governo Lula quer implantar ditadura totalitária no país”, com um box: “Democracia com limite até em casa”.

É engraçado. Por um lado, o general vê “anseio totalitário” no governo Lula, do qual discorda, por considerá-lo “intolerante e autoritário”; por outro, sem qualquer pudor ou desconfiômetro, anuncia que ele é quem manda no voto de sua esposa, dona Luiza Philomena Gonçalves de Santa Rosa. O diabo, no entanto, é que nessa eleição ele está perdidinho, não tem em quem votar, não sabe quais ordens dar à sua mulher.

- Na Dilma não voto de jeito nenhum, mas não é fácil engolir o Serra – ele diz. Justifica alegando que até agora não se sabe “quantas pessoas Dilma Rousseff assaltou, torturou, matou’… e quando a Folha argumentou que “até onde se sabe, ela não matou ninguém”, o general declarou levianamente: - “É o que ela alega. Sabe-se que tem vítima”. Quanto ao Serra, o general aceita a pergunta formulada pelos jornalistas: ele é difícil de engolir, porque “foi presidente da UNE, exilado no Chile…”

- E a Marina Silva? – pergunta a Folha, depois do descarte dos dois principais candidatos. Ah, o general também não vai mandar sua mulher votar em Marina, porque a candidata do PV “tem uma visão de Amazônia igual à da Fundação Ford, igual à dos americanos. É uma visão internacionalista”. Quem diz isso, curiosamente, é o general cuja cabeça foi feita pelos americanos no Curso de Política e Estratégia do Army War College, nos Estados Unidos, onde ele estudou em 1988-89.

Carta do coronel

É inacreditável! Um general, que até fevereiro deste ano ocupava o cargo estratégico de chefe do Departamento de Pessoal do Exército, pensa como um troglodita, sem querer com isso ofender o troglodita. E muito menos o general, que se comporta como a Carolina do Chico Buarque: o tempo passou na janela e ele não viu. O mundo mudou, o Brasil se transformou, mas o general, agora de pijama, continua vivendo em plena ‘guerra fria’. Não está entendendo bulhufas do que está acontecendo.

Na entrevista, o general Santa Rosa, 66 anos, na reserva desde o dia 31 de março passado, desembainhou a espada para atacar os fatos. Jurou que durante a ditadura “a imprensa foi amplamente livre”, que “nenhum militar torturou ninguém”, que “os chamados subversivos foram justiçados e torturados por eles próprios, porque queriam mudar de opinião”. Quanto escárnio de quem, como segundo tenente da Infantaria, integrou a Equipe de Buscas do famigerado DOI-CODI do Rio de Janeiro, como indica seu currículo!

Não é a primeira vez que o general Santa Rosa infringe o Regulamento Disciplinar do Exército (RDE), que proíbe “manifestar-se, publicamente, sem que seja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária” e “censurar ato de superior hierárquico ou procurar desconsiderá-lo, seja entre militares, seja entre civis”. Quando ele era chefe da Secretaria de Política e Estratégia e Assuntos Internacionais (SPEAI) do Ministério da Defesa se insubordinou em relação à demarcação da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol.

Agora, o general ataca o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH), que – segundo ele - “estimula a homoafetividade” e contribui para a “degradação dos costumes à revelia da tradição cristã que temos”. Perguntado se conheceu muitos gays nas Forças Armadas, respondeu que não, que “existe uma rejeição inata da estrutura militar contra isso”. Alertou que “isso tudo é uma composição organizada, uma conspiração internacional”.

A declaração do general Santa Rosa, que foi chefe da Divisão de Contra-Inteligência do CIE do Exército, faz jus ao cargo que ele ocupou. Dessa forma, ele reforça o discurso dos generais Leônidas Pires e Newton Cruz a Globo News no mês passado. Toda noite, antes de dormir, esses generais devem verificar, com uma lanterna, se tem algum jacaré comunista debaixo de suas respectivas camas.

Quem entrevistar

Na cabeça do general Santa Rosa, que fez o Curso de Guerra na Selva (1969), é tudo culpa da bicharada e dos comunistas, que estão solapando a tradição cristã. Suas “revelações proféticas” foram bem acolhidas no blog do Pastor Daniel Batista, da Igreja Cenáculo da Fé, para quem elas vieram confirmar aquilo que já sabia: “Recebi do Senhor Jesus a revelação de um eventual golpe de Estado no Brasil (Governo Lula), cujo processo ditatorial-político iniciaria até abril de 2009 – diz o pastor.

Mas a cumplicidade do pastor não resolve o problema do general: não ter um nome – umzinho só - em quem votar. O coronel colombiano, personagem do romance de Gabriel Garcia Márquez, não tinha quem lhe escrevesse, enquanto o general brasileiro Maynard Marques Santa Rosa não tem em quem votar para presidente da República e, portanto, não sabe como ordenar o voto de sua esposa.

O jornalismo brasileiro dará uma grande contribuição à democracia e à vida política do país no dia em que entrevistar não um general machão e fanfarrão, com suas bravatas, suas bazófias e sua visão maniqueísta do mundo, mas as mulheres dos generais. Seria muito bom ouvir dona Luisa Santa Rosa, ela podia nos revelar coisas que o Brasil desconhece. Confio muito mais na sua intuição e na sensibilidade feminina do que na arrogância do general.

Nós estamos carecas de ler entrevistas de generais. O grande furo jornalístico seria uma entrevista com dona Luísa e com tantas luísas, silenciadas, caladas, com o discurso seqüestrado e a fala presa na garganta. São elas que constroem com seu trabalho cotidiano esse país, educando os filhos, organizando a economia doméstica, dando apoio logístico e às vezes até, fingindo, quem sabe, que vota em quem o marido ordena. Afinal, o voto é secreto.

Se o general, que não deve saber fritar um ovo nem pregar um botão numa camisa, também não sabe em quem votar, devia perguntar à sua mulher. Por que não ouvi-la? Em quem ela gostaria de votar? Talvez ela saiba com mais lucidez que o general o que é melhor para o Brasil.

Da minha parte, aqui na minha casa, a conspiração internacional já ganhou. Não tenho vergonha de confessar: aqui funciona o matriarcado, pois quem decide o meu voto é a patroa e as minhas nove irmãs mulheres, com quem já iniciei o processo de consulta.

Ainda bem que o general não tem em quem votar para presidente da República na próxima eleição. Essa é a melhor notícia que o Brasil pode ter. O terrível seria se ele tivesse várias opções, como ocorreu durante o período da ditadura militar quando eles decidiam sem consultar a população. Agora, por ironia, no próximo governo, existe a possibilidade de que eles sejam obrigados, talvez, a obedecer as ordens de uma mulher.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti .

sábado, 22 de maio de 2010

ROMANCE ANÔNIMO

TEMOS O DUNGA

José Augusto Fontes

A Copa do Mundo de Futebol de 2010 está chegando. Após quatro versões com ele (em 1994, no banco), neste ano não teremos Ronaldo Nazário, o maior artilheiro de todas elas. Também não teremos Ronaldinho Gaúcho, duas vezes eleito o melhor jogador de futebol do planeta. Eles estiveram no nosso time, na última vez em que ganhamos. Neste ano, vamos ter que torcer por um tal ‘esquema de jogo’, pelo ‘sistema defensivo’ e pela sorte. Nosso treinador pensa mais em defender do que em atacar. Mas ele tem uma sorte danada, apesar de turrão. E o Brasil é o Brasil! Pelo menos, nossa defesa é muito boa e nosso goleiro é seguro. Como não temos muitos craques, vamos esperar que dê certo o jogo essencialmente coletivo, como já aconteceu muitas vezes em Copas do Mundo, até mais do que conquistas atribuídas a jogadas destacadas de craques, pois em times pouco competitivos, só o craque não vence. E mesmo em times bons, tivemos craques que não ganharam. Zico, Platini, Falcão, Cruyff ou Eusébio (moçambicano que, jogando por Portugal a Copa de 1966, foi artilheiro com 9 gols, dois deles marcados contra o Brasil, na vitória por 3 x 1), não ganharam Copa. O time fabuloso brasileiro de 1982 voltou sem a taça; o time da Holanda em 1974 encantou, mas também não ganhou (além de outra excelente composição da Holanda posterior, que também não ganhou, com Frank Riijkaard, Rudd Gullit e Marco Van Basten – este um dos maiores centroavantes do mundo que vi jogar).

Já o Brasil de 1994, ganhou daquele jeito, com placares espremidos, sem jogadas espetaculares, escapando alguns lances do Bebeto e do Romário, além da falta cobrada pelo Branco, e ganhamos a final nos pênaltis. Levamos sem dar show e sem grandes craques de criatividade no meio-campo, que estava povoado de volantes e marcadores, dentre eles, o Dunga. Tudo me leva a crer que ele gostou da fórmula e a adotou na função de técnico, como sempre, com ensaiada irritação e sem mínimo jogo de cintura. O Dunga é o cara! Esse negócio de Ganso, Pato, Neymar, Hernanes (excelente jogador), Ronaldos e craques, ele não ta nem aí. Nem é com ele!

Em outra configuração, há seleções com jogadores hábeis e com jogo de equipe vistoso. Vou mencionar duas seleções com craques e com jogo coletivo de alto nível. O exemplo mais notório, dentre campeões do mundo, é o Brasil de 1970. Aquele time reuniu vários talentos da melhor qualidade, em todos os setores do campo, e dentre os talentosos, escalou craques incomparáveis, como: Tostão, Gérson, Jairzinho, Carlos Alberto, Rivelino, Clodoaldo e Pelé, para citar os que marcaram gol. E muitos marcaram, exatamente por causa do bom jogo coletivo, que privilegiou a equipe e fez sobressair os craques. Outro extraordinário exemplo é a Argentina, de 1978. Apesar de alguns atalhos para o título, aquela era uma seleção espetacular, desde o goleiro. Além do Pato Fillol, a Argentina tinha Passarela, Tarantini, Ardiles, Luke e Kempes. Este último é um capítulo à parte. Foi o maior craque e artilheiro daquela Copa. Mário Kempes foi dos melhores jogadores que vi atuar em Copa do Mundo e seu nível de habilidade só é comparável a destaques como Maradona, Tostão, Rivelino, Zico, Zidane, Cruyff, Bob Charlton, Eusébio, Ronaldo e Platini. Melhor que ele, só do naipe de Pelé. E Pelé é Pelé, não tem naipe!

Agora em maio, fiquei sabendo que os ingleses elegeram os dez maiores gols em Copas do Mundo. Dentre eles, há três gols brasileiros. Um do Pelé, um do Josimar e o mais bonito de todos, eleito pelos ingleses, foi aquele do Carlos Alberto, em 1970, fazendo 4 x 1 na Itália. O do Maradona, em 1986, ficou em segundo lugar. Essa escolha premiou o jogo coletivo de alto nível. Naquele, da conquista do Tri, foram sete passes, até o Pelé tocar de lado para o nosso capitão, no oitavo toque, e o Carlos Alberto fuzilar o goleiro italiano Dino Zoff, enquanto eu, ainda menino, ouvia pelo rádio, sintonizando a rádio Globo ou a Mundial, alternadamente, me contendo por causa das freiras italianas que estavam na varanda da casa do meu avô. Mas na hora do quarto gol do Brasil, as freiras que me perdoem, acho que gritei: Pega, puto!

Agora é 2010. Vamos torcer pelo Brasil, imaginando o Dunga como pensador e craque, e a nossa seleção como a melhor possível. Eu preferia o Hernanes, no meio-campo; o Marcelo, na lateral-esquerda; um Ronaldinho etc... E você? Tudo bem. Em próximas competições, o Brasil logo terá o André (atualmente no Santos), em quem eu aposto para o nosso futuro ataque. Se o Brasil deste ano fracassar, quando o Dunga cair, estou imaginando que o Ricardo Teixeira (que não cai tão cedo), vá colocar como técnico o Ricardo Gomes (atualmente no São Paulo). Aí vai começar tudo de novo. Entra Ganso, sai Pato, e a paixão do brasileiro continua firme. Como a Copa do Mundo de Futebol de 2014 vai ser no Brasil, é no nosso time que eu aposto para a próxima Copa, sem pestanejar. Nesta, de 2010, vou torcer sem apostar, ou vou acreditar desconfiando e vou até pestanejar. E você, vai aplaudir o Dunga?

Sobre craques, eu aposto em três: Wayne Rooney, Lionel Messi e Xavi. Na frente destes três, o Cristiano Ronaldo não se cria. Outro craque para apostar é o Kaká, mas não sabemos se ele estará em condições totais de jogo. E sobre promessas boas, aposto na Espanha (que vive prometendo, mas não cumpre), na Inglaterra e na Argentina. Outro time capacitado é a Holanda de Sneijder, Robben e Van Bommel. Contudo, em respeito à nossa paixão pelo futebol; considerando o pequeno medo que os adversários ainda têm de nós; e reconhecendo que o nosso time, se não encanta, é competitivo, posso até não apostar, mas torço pelo Brasil. O hexa será bem-vindo e tudo será festa! Tudo bem, eu sei que há muito quem duvide...

No mais, sempre cabe alguma surpresa. É só lembrar da Grécia, que conquistou o título europeu em 2004, tendo sua maior arma no banco, o técnico alemão Otto Rehhagel (ele continua por lá). E falando em surpresa, na África do Sul tudo vai ser novidade. É a primeira Copa em gramados africanos. Também para os anfitriões, a melhor parte da seleção parece estar no banco (o nosso Parreira). O país está longe de ter a estrutura vista em mundiais recentes, como Alemanha (2006), Coréia do Sul e Japão (2002), França (1.998) ou Estados Unidos (1994). Os níveis sociais do país-sede são baixos e o sistema de transportes, por exemplo, é muito deficiente. Sobre os estádios, vamos esperar pra ver. E vendo, vamos torcer. É praxe no futebol dizer que o que vale é dentro das quatro linhas. Ou o que vale, é bola na rede. Sendo assim, bola pra frente. As outras coisas são pequenos detalhes.

E assim sendo, torço também por gols bonitos e por jogadas espetaculares. Temos grandes atletas habilitados. Exemplos: Diego Forlán (Uruguai), que foi artilheiro do Campeonato Espanhol em 2009; Roque Santa Cruz e Valdez (Paraguai) que vão procurar suprir a impossibilidade de contar com Cabañas, com jogo autêntico, e vão deixar de lado as réplicas paraguaias; Drogba e Salomon Kalou, ambos do Chelsea, junto com Yaya Touré e Eboué (todos da Seleção da Costa do Marfim), não vão facilitar, principalmente para o Brasil, que está em seu grupo; do mesmo jeito, Portugal, com os hábeis Cristiano Ronaldo, Simão, Nani, Liédson e Deco (os dois últimos, brasileiros naturalizados); Thierry Henry e Ribéry (França) são hábeis notórios e vão aparecer bem; Higuaín, Di Maria e Messi (Argentina), junto com Tevez e Aguero, devem encantar e convencer. Precisando, vão ter o Mascherano pra bater; Rooney, Gerrard e Lampard (Inglaterra) vão sacudir e abalar, pois são craques; Ballack, Podolsky e Ozil (21 anos, campeão europeu sub 21, em 2009) querem o tetra para a Alemanha; tem também Essien e Muntari (Gana) e Samuel Eto’o (Camarões), que querem dar ritmo ao mundial; há um fantástico trio na Holanda, composto por Sneijder (Inter de Milão), Robben (Bayern) e Van Bommel (Bayern), sendo lamentável que o Seedorf (Milan) não tenha sido chamado para formar um quarteto; a Espanha tem craques à vontade, como Xavi, Iniesta, David Villa e o goleador Fernando Torres. Eles esperam prometer e cumprir; nós temos Kaká (será que vai estar pronto?), Luís Fabiano, Robinho, Ramires e Nilmar. Temos também uma boa defesa e o tal esquema defensivo. Vamos torcer e empurrar pra frente! E há a Itália, que quer, porque quer, conseguir o penta. Os italianos querem igualar-se ao Brasil. Contam, para isso, com a competência de jogadores como Pirlo, Gilardino, Camoranesi, Iaquinta e o bom goleiro Buffon. Os italianos têm o mesmo técnico campeão de 2006, Marcelo Lippi. E nós, temos o Dunga!

José Augusto Fontes é poeta, cronista e juiz de direito no Acre

sexta-feira, 21 de maio de 2010

FUSO HORÁRIO DO ACRE

Referendo será realizado no dia 31 de outubro; resolução do TRE favorece pré-candidato Tião Viana (PT)

O referendo destinado a consultar o eleitorado do Acre sobre a mudança do fuso horário local, cuja diferença foi reduzida de duas para uma hora em relação à Brasília, será realizado no dia 31 de outubro, data da votação do segundo turno eleitoral.

O Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC) divulgou na tarde desta sexta-feira (21) a resolução que fixa a data e estabelece instruções para a realização do referendo, que foi aprovado pelo Senado em novembro do ano passado.

O Decreto Legislativo, de autoria do deputado Flaviano Melo (PMDB-AC), estabelecia que o referendo fosse realizado no próximo dia 3 de outubro, mas os juízes do TRE-AC optaram pela mudança porque temiam que a votação no primeiro turno eleitoral pudesse se estender até a madrugada.

- Nós não queríamos correr o risco de comprometer o fechamento das eleições e fomos orientados pelo TSE a mudar a data do referendo, que vai custar R$ 1 milhão à União - afirmou o presidente do TRE, desembargador Arquilau de Castro Melo.

A decisão do TRE favorece o senador Tião Viana (PT-AC), pré-candidato ao governo do Acre, autor da mudança do fuso horário, porque é quase nula a possibilidade de um segundo turno eleitoral no Estado. Na semana passada, a imprensa local destacou a visita de cortesia que Viana fez ao presidente do TRE.

Caso o referendo fosse realizado no primeiro turno eleitoral, a disputa estaria associada com a idéia do candidato petista. Como é pouco provável que haja segundo turno para o governo estadual, a tendência é de esvaziamento do debate e na votação sobre o referendo.

No primeiro turno, a tendência seria os candidatos a cargos eletivos assumirem um certa neutralidade em relação à polêmica estadual por causa da divisão existente no eleitorado. A tendência agora é de que a campanha do referendo seja partidarizada, pois no segundo turno os políticos se sentirão mais a vontade para assumirem posições publicamente.

A consulta popular sobre o fuso horário utilizará a mesma estrutura operacional destinada às eleições gerais, com os mesmos mesários, juntas eleitorais e documentos. Haverá em cada seção eleitoral uma urna eletrônica exclusiva para a coleta dos votos do referendo.

A Justiça Eleitoral realizará campanha institucional, veiculada nos meios de comunicação, para esclarecer a população. Poderão ser formadas pela sociedade civil comissões organizadas para representar as duas correntes de opinião – a contrária e a favorável à alteração.

As comissões deverão cadastrar previamente, no TRE-AC, até o dia 30 de agosto, os nomes das pessoas habilitadas para representá-las perante o TRE, bem como o nome da respectiva comissão. É vedada a representação por meio de candidatos ou integrantes de órgãos de direção de partidos políticos.

Os eleitores acreanos terão de votar em duas urnas: uma destinada às eleições e outra, ao referendo, quando responderá à seguinte pergunta, que irá figurar na tela da urna eletrônica: "Você é a favor da recente alteração do horário legal promovida no seu Estado?" Terá a opção de votar no número 55 (Sim) ou 77 (não).

Haverá inserções diárias de propaganda gratuita das comissões no rádio e na televisão, com início no dia 4 de outubro e término no dia 29 de outubro. As emissoras de rádio e televisão terão que reservar 10 minutos diários, inclusive aos domingos, para a propaganda eleitoral gratuita do referendo, os quais serão usados em inserções de 30 segundos.

Os custos relativos à produção do material destinado à propaganda serão de responsabilidade das comissões organizadas.

Mudança
O senador Tião Viana (PT-AC), pré-candidato ao governo do Acre, é o autor da Lei 11.662, sancionada em 2008 pelo presidente Lula, que fez a mudança no fuso horário do Acre em relação à Brasília.

Realizada sem consulta à população, a mudança gerou insatisfação em decorrência dos transtornos causados no cotidiano das pessoas.

Em novembro do ano passado, o Senado aprovou um Decreto Legislativo, de autoria do deputado Flaviano Melo (PMDB-AC), que dispõe sobre a realização do referendo.

O movimento político para alterar o fuso horário na região Norte começou após e entrada em vigor dos dispositivos da Portaria 1.220/07, do Ministério da Justiça, que determinam que as emissoras de TV adaptem suas transmissões aos diferentes fusos horários vigentes no país em função da classificação indicativa dos programas.

As emissoras de TV radicalizaram a ofensiva contra a medida, prevista no Estatuto da Criança e Adolescente e na Constituição Federal. Elas tiveram que alterar a grade da programação nos estados das regiões Norte e Centro-Oeste, que possuem fuso horário diverso do adotado em Brasília, "atrasando" as atrações em uma hora. As TVs alegam que a gravação dos programas tem um custo insuportável.

TRE ORGANIZA REFERENDO POPULAR

O Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC) designou o dia 31 de outubro, data do segundo turno eleitoral, para realização do referendo destinado a consultar o eleitoral estadual sobre a conveniência e oportunidade de alteração do fuso horário local, cuja diferença foi reduzida de duas para uma hora em relação à Brasília.

PETRÓLEO E GÁS NA FRONTEIRA

Petrobras está proibida de explorar reserva de índios isolados no Peru


Empresas de exploração de petróleo e gás foram proibidas de operarem numa reserva de índios isolados localizada na remota Amazônia peruana. De acordo com a ONG britânica Survival International, a decisão foi anunciada esta manhã em Londres pela Perupetro, a empresa estatal responsável pela promoção da exploração de petróleo e gás no Peru.

A maioria da reserva havia sido aberta para exploração pela empresa brasileira Petrobras, em uma área conhecida como Lote 110. Estima-se a existência de 15 povos indígenas isolados na floresta amazônica peruana.

Leia mais:

Etnia ashaninka denuncia ação da Petrobras em terras de índios isolados

Há dois anos, lideranças ashaninka da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, no Brasil, denunciaram que a Petrobras estava preparada para iniciar atividades de prospecção e exploração de petróleo e gás, no alto rio Juruá, no Peru, em lote sobreposto a territórios de comunidades nativas e de índios isolados.

Aproveitando possibilidade aberta pela legislação peruana, a empresa brasileira Petrobras Energia Peru S.A. tornou-se, em dezembro de 2005, concessionária, por um período de 40 anos, do Lote 110, localizado no alto rio Juruá peruano, em águas binacionais, com extensão de 1,4 milhão de hectares.

Leia mais no Blog da Amazônia.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

CASA DE CACHORRO


Famílias pobres do Acre em breve serão beneficiadas pela distribuição de casas de madeira do programa de habitação popular. Puma, meu pastor branco, mora numa casa de madeira que foi projetada por mim, digamos, no mesmo padrão daquelas. Falta, claro, uma pintura multicolorida pra casinha dele ficar tão digna quanto a que será entregue aos miseráveis acreanos

terça-feira, 18 de maio de 2010

NÃO FOI TERREMOTO

Geólogos concluem laudo sobre falha na ponte do Caeté

O Departamento de Estradas e Rodagem do Acre (Deracre) recebeu nesta terça-feira (18) um laudo, elaborado por dois geólogos, relativo à fissura no pilar central da ponte sobre o rio Caeté, na BR-364, em Sena Madureira.

Executada pela Construtora Cidade, a ponte foi inaugurada (leia) há dois anos e custou R$ 12 milhões. Apresentou falha há um mês e encontra-se interdidata por medida de segurança.

O Deracre contratou a consultoria dos geólogos, embora tenha se antecipado em afirmar (leia) que a obra fora afetada por terremoto.


Entrevista com um dos geólogos:

Quando concluem o laudo sobre a ponte do rio Caeté?
Já concluímos e enviamos hoje ao Deracre.

A fissura na ponte foi causada por terremoto?
Cremos que não, mas recomendamos que seja feito um levantamento dos terremotos dos últimos dez anos num raio de 500 quilômetros. O Acre é afetado por terremotos locais e também dos Andes. Como não se leva em consideração essa variável, recomendamos o estudo.

O estudo pode ser determinante para sabermos se a falha decorre de falha de engenharia ou se foi causada por terremoto?
Acreditamos que não foi causada por terremoto, mas recomendamos o estudo.

Teremos que pagar pela construção de outra ponte ou a falha pode ser reparada?
Nós fomos contratados para fazer um laudo geológico. Entregamos esse laudo ao Deracre, a quem cabe divulgar ou não. Quanto à sua pergunta especificamente, não somos habilitados para respondê-la.

Foto: Márcio Farias

HOJE ELE NÃO TEM O CORAÇÃO

Leila Jalul

Posso confessar? Tenho vergonha do governador Binho Marques, a quem exaltei (veja) quando de sua vitória. Decepcionante, posso dizer.

Será esse o mundo melhor que ele vislumbrou para os acreanos pobres? Será essa a melhor arquitetura e a melhor paisagem?

É fácil versejar sobre a pobreza. É fácil pichar muros para demonstrar insatisfações juvenis.

Difícil é ultrapassar modelos ultrapassados e criar outros sentidos para o viver melhor.

Essas casinhas são o protótipo da continuidade da pobreza dos políticos de antigamente.

Aqueles mesmos que doavam óculos, folhas de alumínio, caixas de amianto e dentaduras.


Entre Nabores, Flavianus e Binhos, confesso, não vejo diferenças. São figuras de mesmices deploráveis.

Deus me perdoe se estiver errada.

Lamentável! Lamentável...

Binho tirou zero (veja) na redação do vestibular de História. Merece outro zero hoje, nesta infeliz idéia de moradia.

Hoje, diferentemente de ontem, ele não está com a caneta numa mão e o coração na outra. Hoje, ele não tem o coração.

Bravo, Binho! 10 a zero para qualquer um que discorde de suas idéias pobres.

Dou-lhe 4, com louvor, pelo seu passado.

Leila Jalul é cronista acreana.

LARES DO CALDEIRÃO DO BINHO



segunda-feira, 17 de maio de 2010

TCU CONDENA NAKAMURA

O Tribunal de Contas da União (TCU) condenou Sérgio Yoshio Nakamura, ex-diretor do Departamento de Estradas e Rodagem do Acre (Deracre), e as empresas Editec Edificações Ltda. e Construtora Cidade Ltda., a pagarem, solidariamente, R$ 2.693.214,02, valor atualizado. A condenação decorreu de irregularidades na construção de ponte sobre o Rio Acre, localizada entre os municípios de Brasiléia (Acre/Brasil) e Cobija (Pando/Bolívia).

A obra foi objeto de convênio assinado entre a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e o Governo do Estado do Acre para a execução do Projeto “Integração Turística, Econômica e Cultural na Fronteira do Brasil com a Bolívia”.


Houve indícios de superfaturamento na obra devido a alterações no projeto. Ocorreu acréscimo no quantitativo de aço, o que causou um sobrepreço de 18%. Constatou-se, ainda, que a licitação foi aprovada com base em projeto deficiente, com preços acima do mercado e sem licença ambiental.

O relatório ainda aponta pagamento por quantidades de serviço diferentes das previstas no projeto ou das efetivamente executadas.


O Tribunal multou Sérgio Nakamura e as empresas em R$ 50 mil, cada um. Nakamura também foi multado a pagar R$ 12 mil. O TCU multou, ainda, Joselito José da Nobrega, ex-diretor do Departamento de Obras do Estado do Acre, em R$ 15 mil.


Também foram multados os ex-membros da Comissão Permanente de Licitação Emanoel Messias França, Lourival da Silva Nolasco, Alexsander Menezes Mendes, Mariselva Alves Bandeira e Maria de Nazaré Aguiar, individualmente, em RS 3 mil.


O prazo para recolherem os valores é de 15 dias. Cópia da decisão foi enviada à Procuradoria da República no Estado do Acre. Cabe recurso da decisão. O ministro-substituto Marcos Bemquerer Costa foi o relator do processo.

Fonte: TCU

RATINHO NO ACRE


A Radan Administração e Participação Ltda., que tem como sócio majoritário o apresentador Carlos Massa, o Ratinho, obteve licenciamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para exploração madeireira em 150 mil hectares de floresta nativa, na margem esquerda da BR-364, sentido Tarauacá-Cruzeiro do Sul, no Estado do Acre.

Os planos de negócio e manejo florestal da Radan, que incluem a instalação de uma indústria de beneficiamento de madeira, foram apresentados pela empresa à Secretaria Executiva de Florestas e Extrativismo, analisados e aprovados pelo Conselho de Desenvolvimento Industrial do Acre.

Apresentador de um programa de TV local, o jornalista Antonio Klemer disse que Ratinho passou o fim de semana no Acre e partiu esta manhã para São Paulo.

- Ele ficou hospedado no Terraverde. Minha filha almoçou com ele no sábado e não o entrevistei ontem (domingo) por falta de câmera - afirmou Klemer.

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domingo, 16 de maio de 2010

AS BRUXAS TAMBÉM MORREM

JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE


Era uma vez uma bruxa malvada…

As bruxas, que eram personagens exclusivas dos contos de fadas e das histórias da Carochinha, invadiram nessa semana o noticiário dos jornais, desafiando a ciência e a modernidade. Confirmaram o provérbio espanhol que diz: “Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay”. Uma delas, Adrosila, morreu em Manaus no dia em que a outra, de nome Vera, era presa no Rio de Janeiro.

Quando Wilson, de apelido Choro, aos sete anos, usando a língua do “p”, chamou o velho Buretama de fipílhopó daputapá, dona Adrosila, sua mãe, mostrou as suas garras de bruxa. Esfregou pimenta murupi na boca do menino, cujos lábios incharam. “Não permito que filho meu suje a boca com nome feio” – ela gritava. Na sua cruzada contra o palavrão, chegou a queimar muitas vezes a boca do filho com ovo cozido tirado da água fervendo.

Abro parênteses para contar que o velho Buretama fez por merecer. Cego, ele andava pelos becos do bairro de Aparecida, nos anos 50, com uma bengala, auxiliado aqui e ali pelos moradores. Um dia, pediu a Wilson para ajudá-lo a atravessar a Rua Xavier de Mendonça. Já do outro lado, antes de largar a mão do menino, puxou-a na direção do seu fiofó e deu um peido sonoro e demorado sobre ela. Isso lá era forma de agradecer uma boa ação? Wilson reagiu, usando a língua do pê para despistar a mãe. Mas a megera era bilíngüe.

A Fipilhapá

Ela sim, dona Adrosila, era uma fipilhapá daputapá. Por qualquer motivo sentava a porrada na criança indefesa, usando o que estivesse à mão: palmatória, cinturão, pau, vassoura, galho de goiabeira, chicote, fio elétrico, ferro de engomar, panela. Eram várias surras por dia, todos os dias. A primeira, de manhã cedinho, punia a incontinência urinária noturna do Wilson, que até aos quinze anos ainda mijava na rede de dormir.

O bairro não esqueceu o dia em que ele chutou uma bola enlameada, que quicou sobre a anágua engomada da mãe e depois sobre uma combinação de jersey que estavam no quaradouro. Foi covardemente açoitado, torturado e martirizado. Berrava como um cabrito degolado. Seu corpo exibia marcas da violência: cicatrizes, hematomas, queimaduras. O beco todo se comovia, ouvindo seus lamentos:

-Ai, mãeginha, eu não faxo mais, mãeginha”. Aí é que a bruxa Adrozila batia ainda mais forte, exigindo:

-Engole o choro! Engole o choro!

Daí, ele ganhou o apelido de ‘Engole o choro’ que ficou, depois, reduzido apenas a ‘Choro’. Moído de porrada, acabou sendo engolido pela crueldade sádica da mãe. Tornou-se um menino amedrontado. Sua cara era a imagem da dor, do sofrimento, da melancolia, como ‘O Grito’ de Munch, com aquela boca aberta em forma oval, as duas mãos tapando os ouvidos, a cabeça de quem fez quimioterapia e a expressão dilacerada de horror nos olhos. Não dá pra perdoar dona Adrozila.

Nos contos infantis de Charles Perrault e dos Irmãos Grimm, a bruxa é sempre uma velha hedionda e repugnante, torta e encurvada, com uma boca enorme, nariz de papagaio, vestida sempre de preto, com uma vassoura na mão. Como na história do João e Maria, vocês lembram? Um lenhador pobre abandona os dois filhos na floresta porque não tinha como alimentá-los. As crianças encontram, então, uma casa, cujas paredes eram feitas de fatias de pão, janelas e portas de bolo, e o teto de chocolate.

A casa acolhedora pertencia a uma bruxa, que dessa forma atraiu os dois meninos, oferecendo-lhes abrigo, casa, comida e roupa lavada, mas sua intenção era engordá-los para depois devorá-los. No final, elas empurram a bruxa no forno e fogem. Dizem os entendidos que esse tipo de história oferece às crianças um palco onde podem representar seus conflitos interiores e seus medos e encaminhar sua solução.

Bruxa da mídia

Uma nova edição dessa mesma história aconteceu agora no Rio de Janeiro, com uma bruxa real do terceiro milênio. Sem vassoura, mas com turbante, ela tem nome, sobrenome, profissão e endereço: Vera Lúcia Sant´Anna Gomes, procuradora aposentada, mora num edifício de luxo em Ipanema, tem uma casa de veraneio em Búzios, ganha R$ 25 mil por mês e, como a bruxa da história de João e Maria, quis adotar uma criança de dois anos, abandonada em um abrigo pela mãe, que vive em situação de extrema pobreza.

No processo de adoção, a bruxa Vera visitou a menina no abrigo, várias vezes. Até que, em março, levou-a para casa, comprou-lhe roupas e brinquedos, e um mês depois a transformou num saco de pancadas. Puxava a menina pelo cabelo, esbofeteava e chutava o rosto e o corpo da criança, segundo depoimento à polícia feito pela empregada doméstica, que não agüentou ver tanto sofrimento e pediu demissão. “Se a menina não desse bom dia, já era um motivo para ela bater” contou a empregada.

O Jornal Nacional mostrou as fotos com marcas da agressão sofrida pela criança que tinha os olhos inchados. Quando o Conselho Tutelar retirou a menina do apartamento, ela estava no chão, onde fica o cachorro. O JN reproduziu também uma gravação com a bruxa gritando para a criança:

- Maluca! Engole! Você vai comer tudo, entendeu, sua vaquinha! Pode chorar!

Denunciada através de um telefonema anônimo, Vera fugiu e, finalmente, depois de oito dias foragida, nessa quinta-feira, foi presa numa cela com nove mulheres, no Presídio Feminino Nelson Hungria, conhecido como Bangu 7, com direito à televisão e banheiro, porque tem diploma de ensino superior. Ela vai ser processada por torturar a menina de dois anos que pretendia adotar. Nessa terça-feira, dia 18, será julgado seu pedido de habeas-corpus para responder em liberdade.

A gente sabe muito pouco sobre a vida da procuradora. Nem sequer sua idade. Alguns jornais dizem que ela tem 57 anos, outros 63 e por ai vai. A empregada doméstica, o porteiro do edifício, a manicure, o seu professor de tarô deram informações muito picotadas sobre a bruxa, que é arrogante e racista, vive só, sem marido, sem namorado, sem amante, sem parentes, em dez anos foi visitada por um sobrinho quando a mãe dela, com quem vivia, morreu.

Pedofobia

Os jornais, parece, comeram mosca, não foi não? Não li um único depoimento dos ex-colegas de trabalho da procuradora. Não é possível que ela tenha exercido suas funções sem dar pistas sobre o seu estado doentio. Esse caso choca, justamente, por se tratar de uma profissional bem situada, com grana, que busca voluntariamente uma criança para adotar, num gesto aparente de generosidade, mas que acaba exercendo seu poder, torturando-a.

O pior é que não se trata de um caso isolado de violências contra crianças. Há anos, tive a oportunidade de conversar na Uerj com o pediatra Lauro Monteiro, que criou a ABRAPIA – Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência. Ele testemunhou centenas de casos de violência contra crianças nas enfermarias de pediatria do Hospital Souza Aguiar, espancados pelos próprios pais.

O SOS Criança da ABRAPIA criou e operacionalizou o Disque Denúncia para todo o país e o Telefone Amigo da Criança (TECA) para o município do Rio de Janeiro. Num espaço de tempo relativamente curto, já atendeu 1.169 casos de crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica somente no Rio. Um desses casos foi o de um pai, bêbado, que incomodado pelo choro do filho à noite, agarrou-o pelos pés e bateu a criança na parede quebrando-lhe os ossos. Existem muitas fotos no arquivo pessoal do doutor Lauro Monteiro, que podem ser acessadas via internet.

Felizmente, bruxas são presas, punidas e também morrem. Sugiro que o juiz condene a procuradora a viver no bairro de Aparecida, em Manaus, porque lá os moradores não perdoam. Ela pagará por seus pecados, como dona Adrosila, que foi atormentada enquanto lá viveu. Quando a bruxa passava, a molecada, escondida detrás de uma árvore, de uma janela, na banca de tacacá, gritava com voz em falsete para não ser identificada:

- Bru-xa assassiiiiina”! Fipilhapá daputapá!

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

PARAÍSO TROPICAL


Manhã ensolarada, céu azul sem nebulosidade, 83% de umidade e temperatura de 20°C. Fosse sempre assim, o Acre seria o paraíso tropical.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

PF APREENDE MAIS COCA NA FRONTEIRA


A Polícia Federal (PF) apreendeu nesta quinta-feira (13), em Epitaciolândia (AC), na fronteira com a Bolívia, mais de cinco quilos de cocaína. A droga estava oculta na lateral de um carro que tinha como destino Rio Branco.

A partir de uma denúncia anônima, a PF conseguiu rastrear e interceptar o carro conduzido por W.M.A, vendedor de 25 anos. O traficante estava acompanhado da mulher dele, E.L.T.S., de 21 anos, e de um filho.

Inicialmente, a PF encontrou dentro do carro produtos contrabandeados da Zona de Livre Comércio de Cobija, capital do departamento boliviano de Pando. Posteriormente, a droga foi descoberta acondicionada no interior da carenagem lateral do carro, acima dos pneus dianteiros.

W.M.A. recebeu voz de prisão, assumiu a posse da droga e já foi encaminhado ao presídio. Vai aguardar julgamento do crime pelo qual pode pegar até 30 anos de prisão.

RADICAIS LIVRES


Assessoria de imprensa do Sindicato dos Professores Licenciados do Acre (Sinplac) distribuiu duas fotos aos veículos de comunicação do Estado. Acima, a que mostra mais gente. Veio junto com a seguinte mensagem:

"Srs Editores,

Envio-lhes texto e fotos sobre a radicalização da greve dos professores em educação no Acre, diante da nova tática do governo de condicionar o processo de negociação ao retorno às aulas. Os professores dizem "não" e agora só aceitam negociar diante da retirada desta tática absurda."

RODRIGO PINTO

Filho de governador assassinado em São Paulo disputa o governo do Acre

O vereador de Rio Branco, Rodrigo Pinto (PMDB), 31, é pré-candidato ao governo do Acre. Filho do ex-governador Edmundo Pinto, ele tinha 12 anos de idade quando o pai foi assassinado por três homens, na madrugada de domingo do dia 17 de maio de 1992, dentro do apartamento 707 do Della Volpe Garden Hotel, em São Paulo.

Pinto morreu menos de 48 horas antes de depor na CPI do Congresso que investigava corrupção envolvendo verbas para a construção do Canal da Maternidade, com recursos do FGTS (Fundo de Garantia de Tempo de Serviço), durante o governo de Fernando Collor.

A polícia de São Paulo concluiu que o governador foi vítima de latrocínio, mas a família e o Acre jamais se convenceram dessa versão.

"Se os governadores que sucederam meu pai tivessem agido com responsabilidade e comprometimento com os acreanos, teriam conseguido a entrada da Polícia Federal para proceder uma nova investigação. O que não faltaram foram evidências de que o crime foi político e não latrocínio", afirmou.

O maior incentivador da carreira política de Rodrigo Pinto tem sido o empresário Luiz Carlos Pietschmann, que era o chefe da Casa Civil do governo do Acre. No ano passado, tão logo explodiu o escândalo do mensalão do DEM, em Brasília, Pietschmann se afastou da presidência da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap).

Suspeito de ter aberto a porta do apartamento para a entrada dos assassinos do governador Edmundo Pinto, o ex-chefe da Casa Civil foi hostilizado e teve que ir embora do Acre.

"Quando disseram que teria aberto a porta do quarto do governador, o Luiz e sua família foram execrados no Acre. Sua esposa teve que fechar um comércio, o filho foi humilhado na escola. Eles foram expulsos do Acre porque não eram acreanos. Ele não teria razões para assassinar ou facilitar que assassinassem o seu melhor amigo, o homem que iria trazer prosperidade para o Acre".

Veja os melhores trechos da entrevista no portal Terra.

TOMARA QUE GLÓRIA NÃO LEIA


Quem é melhor: a agência estatal de notícias ou os jornais do Acre?

Todos dizem nesta quinta-feira (13) que a novelista Glória Perez está no Acre em "viajem" de férias.

Ninguém informa que Rio Branco está há mais de 24 horas sem água tratada na maioria dos bairros.

- Minha imaginação vem da minha terra - disse Glória Perez durante uma palestra.

E o "viajem" da imprensa do Acre vem de onde?

Em tempo: O avião da TAM, no qual a novelista retornaria para o Rio, na companhia da mãe e do irmão, decolou de Rio Branco na tarde de quarta-feira (12), mas teve que retornar após 40 minutos de vôo por causa de pane no computador de bordo. Os passageiros prosseguem a viagem hoje.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

DEU UM BEIJO E PARTIU



CAPITAL SEM ÁGUA HÁ 24 HORAS


A população de Rio Branco, a capital do Acre, já sofre há mais de 24 horas com a falta de água tratada na maioria dos bairros da cidade.

O diretor-presidente do Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb), Semy Ferraz, nega que a falha na distribuição tenha relação com a greve parcial dos servidores desde a segunda-feira.

- O problema está no bombeamento de uma estação para o reservatório central, o mais importante da cidade - disse Ferraz.

Segundo ele, o Saerb comprou, em São Paulo, uma peça nova para a estação, que só deverá chegar ao Acre nesta quinta-feira (13).

- Usamos um torno para refazer a peça, mas a mesma suportou apenas 10 horas de funcionamento. Ela foi refeita, vai entrar em operação ainda hoje, mas se romperá após 10 ou 12 horas de funcionamento, que é o tempo para chegar a peça original de São Paulo - acrescentou Ferraz.

A MORADA DELES

A estiagem amazônica chegou e o governo do Acre dá continuidade à construção de casas do programa Minha Morada, financiado pelo governo federal.

Nesta rua principal, com maior visibilidade, as casas de alvenaria; na mesma quadra, ao fundo, as casas de madeira de segunda "catigoria".

Lote de casas de madeira com esteios de alvenaria.

Clique nas imagens para ampliá-las.

terça-feira, 11 de maio de 2010

FELIPE MILANEZ

Abril demite editor que criticou matéria da revista Veja no Twitter

A National Geographic Brasil, da Editora Abril, demitiu no final desta terça-feira (11), o editor-assistente Felipe Milanez pelas críticas que fez no Twitter dele à revista Veja, da Abril, por causa da reportagem “A farra da antropologia oportunista”, que trata de delimitação de reservas indígenas e quilombos no país.

- A decisão me foi comunicada pelo redator-chefe Matthew Shirts. Ela veio lá de cima e ainda estou zonzo porque não imaginava que minha opinião fosse resultar nisso - disse Milanez.

Leia mais no Blog da Amazônia.

ESTADO POBRE PAGA MAMATA

Notas que postei no Twitter

Curitiba (PR) será o destino de Binho Marques (PT) ao deixar o governo do Acre aos 48 anos, mas com a invejável super pensão de R$ 23 mil.

Binho Marques é o maior amigo da senadora Marina Silva (PV-AC), mas ela continua contra a pensão aos ex-governadores do Acre.

Nota oficial do governo estadual sobre greve de professores afirma: "Não podemos esquecer que o Acre é um estado pobre."

Pensão de ex-governadores foi extinta no governo Orleir Cameli. Foi restabelecida pelo PT, que era contra o benefício quando era oposição.

URUBU ELETROCUTADO

segunda-feira, 10 de maio de 2010

VERÁGUA PELO BEM DA VERDADE


"Meu Caro Altino Machado


Com relação a matéria veiculada em seu conceituado blog sob o título "Verágua polui nascente de Igarapé”, na qualidade de proprietário da empresa, venho trazer os esclarecimentos necessários para que não fique a impressão de que a Verágua esteja, de fato, jogando lixo no Igarapé Judia, o que obviamente não é verdade.

A Verágua tem todo o cuidado em colocar o seu lixo, que é basicamente rótulos usados, em sacos plásticos e colocado em local previamente combinado com a Prefeitura de Senador Guiomard para a devida coleta, próximo ao galpão da empresa, localizado na Estrada do Triunfo.

Ocorre que a Prefeitura não tem um sistema de coleta eficiente e às vezes esses sacos se acumulam ensejando a que moradores de uma invasão próxima, conhecida como Tampa Azul, se apossem desses sacos e levem para outro local e os rasguem à procura de algo que possam aproveitar.

No caso das fotos apresentadas, nota-se que os mesmos foram levados para local distante do galpão da empresa e largado às margens do Igarapé Judia onde fizeram o derramamento do lixo.

É oportuno esclarecer que ninguém mais que a Verágua tem interesse na preservação do Igarapé Judia, que passa nos fundos da empresa. Para que você e seus leitores tenham conhecimento, há pouco mais de três anos a Verágua comprou uma área de terra com mais de 700 metros à margem direita do Igarapé, exatamente para evitar a ocupação desordenada daquela área que seria altamente prejudicial a sobrevivência do Igarapé.

A Verágua faz parte, representada pelo seu diretor comercial e filho do dono da empresa, o Sr. Waldemar Neto, da Comissão de Preservação da Nascente do Igarapé Judia, da qual faz parte as Secretarias de Meio Ambiente do Estado e do Município, Instituto de Meio Ambiente do Acre e entidades civis, além de pessoas ligadas ao meio ambiente, como o professor Claudemir Mesquita, o maior defensor do Igarapé Judia, e, também, uma de suas filhas, Cristine Kelly.

Logo, não teria sentido que a Verágua fosse colocar lixo para poluir o referido Igarapé. Fico muitíssimo agradecido pelo direito de resposta concedido para os devidos esclarecimentos.

Pelo bem da verdade.

Sebastião Melo de Alencar"

CÉU AZUL

domingo, 9 de maio de 2010

MINHAS MÃES


Tenho duas mães neste mundo: Peregrina Gomes Serra e Maria da Cruz Machado. Agradeço infinitamente a Deus por merecer o amor e as bênçãos delas todo santo dia. Dona Maria aniversaria nesta data. É tão bela e jovem que os desavisados a confundem como sendo minha irmã. Que Deus prolongue ao máximo neste mundo as lições de fé e amor dessas duas mulheres.

Viva o Dia das Mães!

REVISTA VEJA É LIXO

POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE

Supunhetamos, leitor (a), que você é jornalista e recebe pelo Correio um dossiê com comprovantes indicando que o ex-governador Paulo Maluf (ou o prefeito de uma capital do norte do país) roubou US$ 50 milhões e depositou tudo num paraíso fiscal. Os documentos -você percebe logo- foram grosseiramente falsificados. O que você faz? Joga tudo no lixo ou, ignorando a fraude, publica seu conteúdo como se fosse informação correta?

Essa pergunta feita no primeiro dia de aula sempre gerava polêmica no Curso de Jornalismo entre alunos da disciplina Ética e Legislação na Mídia que ministrei durante anos seguidos na Universidade Federal do Amazonas e, depois, na UERJ.

De um lado, estudantes mais afoitos justificavam: “O dossiê é falso, mas nos faz chegar a uma conclusão verdadeira: a de que Maluf é ladrão. Portanto, devemos publicá-lo, porque assim estaremos escrevendo certo por linhas tortas. No frigir dos ovos, o uso dessa mentira acaba deixando o leitor com a informação certa”.

Embora igualmente antimalufistas, outros alunos mais escrupulosos discordavam. Diziam: “se existe desconfiança de que Maluf é um ladrão de casaca -e as evidências são muitas- o repórter deve procurar provas do delito. Esse é o trabalho do jornalismo investigativo, que deve apresentar fato por fato e não vender fato por lebre. Inventar ou aceitar provas forjadas mesmo contra o pior crápula não é jornalismo. Quem renuncia à apuração dos fatos, engana os leitores, é um profissional incompetente e imoral.”

Esse parece ser o caso dos jornalistas da revista Veja Leonardo Coutinho, Igor Paulin e Júlia de Medeiros, que na semana passada assinaram uma reportagem encomendada intitulada “A Farra da antropologia oportunista”. Com uma diferença: como o dossiê falso não lhes foi remetido pelo Correio, eles saíram à caça não dos fatos, mas da lebre. O que nos faz pensar que aí tem dente de coelho.

Eles juram -mas não querem ver suas respectivas mães mortinhas no inferno se estiverem mentindo- que durante um mês visitaram onze municípios em sete estados, percorreram mais de 3 mil quilômetros de carro e barco e entrevistaram 70 pessoas em busca de fatos. Encontraram lebres. Não viram nem conversaram, por exemplo, com o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, mas registraram declarações que ele nunca deu e que são exatamente o contrário de tudo aquilo que escreveu.

Mentiram pra cacete. Nem sequer uma vírgula ou um ponto de exclamação da matéria são verdadeiros. É tudo lorota! Entrevistas inventadas, números manipulados, informações fantasiosas, dados falsos, provas forjadas, fabricação de fatos. Tudo isso a troco de quê? Só a questão da luta pela terra pode ajudar a explicar tamanha agressão aos fatos e tanta falta de pudor.

Terra à vista

Desde o grito dado por Cabral, tudo se resume à briga pela terra. Durante quase cinco séculos, armados até os dentes, os colonizadores, os bandeirantes, as frentes expansionistas invadiram, saquearam, pilharam, usurparam, deceparam e ocuparam os territórios indígenas, sempre protegidos pela lei do mais forte. No entanto, em 1988, com o processo de redemocratização, a Constituição -lei maior do país- deu um basta a essa violência que passou a ser ilegal, quando cometida.

O novo pacto funciona mais ou menos assim. É como se o Estado dissesse aos índios: vocês perderam 87% de seus territórios e não é mais possível recuperá-los. O que perderam, perdido está. Nós nos comprometemos, porém, de que a partir de agora ninguém mais tirará aquilo que sobrou. Daqui pra frente, tudo vai ser diferente, o brasileiro vai aprender a ser gente, respeitando as terras dos índios que resistiram ao extermínio.

A Constituição, nesse caso, afetou os interesses econômicos que a revista Veja representa. Quem quer se apropriar do resto das terras indígenas ficou inconformado com esse novo pacto, que garante aos índios não a propriedade -que continua a ser da União- mas o usufruto permanente das terras mantidas até aqui. Por isso, a revista desencadeou uma campanha organizada para questionar o lugar que as populações indígenas ocupam hoje na sociedade brasileira.

A estratégia discursiva é bem primária. Veja jura que as terras ocupadas por “falsos índios” ou por “ex-indios’ “diminuem ainda mais o território destinado aos brasileiros que querem produzir”. Reforça, assim, o preconceito de que os índios são improdutivos e preguiçosos. Insiste na falácia de que as terras indígenas -que são propriedade da União- arrancam um pedaço do Brasil, mutilam a pátria. O Brasil da Veja fica pequenininho, sem 77,6% que constituem áreas de preservação ecológica, reservas indígenas e antigos quilombos que, para a revista, foram subtraídos do país.

Como nenhum cientista social assina embaixo de tal babaquice, Veja ataca então os antropólogos, acusando-os de serem os inventores desses “índios falsos”, juntamente com alguns padres, indigenistas e ONGs. Os três repórteres advogam uma pureza racial, quando decidem, por conta própria, que os Tupinambá e os Pataxó da Bahia não são índios por existir entre eles casamentos com “negros, mulatos e até brancos de cabelos louros”, como se índio fosse um modo de parecer e não um modo de ser.

Se os Pataxó e os Tupinambá são “falsos índios”, então podemos dizer que Victor Civita e Roberto Civita são falsos brasileiros, em função dos seus laços com a Itália e os Estados Unidos? A comunidade científica nacional fica tão estarrecida com isso quanto ficou com um fator sanguíneo -o “Fator Diego”-, que os coronéis da Funai, na época da ditadura militar, queriam instituir como referência para determinar a pureza racial dos índios.

Racismo na mídia

Numa interessante análise sobre o racismo na mídia, publicado em 1997, o pesquisador Van Dijck critica o tratamento que a imprensa européia dispensa às minorias étnicas. Ele questiona o principio da neutralidade e da objetividade dos meios de comunicação e propõe que a imprensa seja estudada como uma instituição social submetida a um conjunto de demandas políticas, sociais, econômicas e técnicas. Dessa forma, a imprensa deve ser pensada menos como um lugar neutro de observação e mais como uma voz ativa, como um agente produtor de imagens e representações.

Van Dijck, em sua análise, privilegia as manchetes e títulos de reportagem, considerando-os elementos indicados dos tópicos relevantes da informação, orientando a leitura na construção de significados. Os subtítulos da reportagem da Veja, nesse sentido, são muito sugestivos: “os novos canibais”, “lei da selva”, “um país loteado”, “macumbeiros de cocar”, “made in Paraguai”, “índio bom é índio pobre”.

Como sinalizou com indignação a nota oficial da Associação Brasileira de Antropólogos (ABA), assinada por João Pacheco, o repórter da Veja não faz “qualquer esforço em ser analítico, em ouvir os argumentos dos que ali foram violentamente criticados e ridicularizados. A maneira insultuosa com que são referidas diversas lideranças indígenas e quilombolas, bem como truncadas as suas declarações, também surpreende e causa revolta e explicitam o desprezo e o preconceito com que foram tratadas tais pessoas”.

O objetivo da revista é mobilizar opiniões contra os direitos indígenas, que são apresentados como se fossem “privilégios”. Para isso, acionam os estereótipos historicamente operantes sobre o índio, para dar cor e sensacionalismo à narrativa. Chegam a inventar que os índios guarani da Aldeia Morro dos Cavalos, em Santa Catarina, são falsos índios, vieram do Paraguai. Veja acha que índio é como uísque: se veio do Paraguai, é falso.

“Nós não precisamos provar quem somos. A própria história, construída pelos não indígenas, identifica o povo guarani como etnia tradicional desta terra. O povo guarani nunca desrespeitou a propriedade alheia; ao contrário, sempre foram usurpados de suas terras, impedidos de desenvolver seu modo de vida e cultura” - declarou, indignado, em nota oficial, o cacique de M’Biguaçu, Hyral Moreira. A nota critica “reportagem tendenciosa e preconceituosa” e lamenta que “os autores desta reportagem, em passagem por nossa região”, não ouviram os representantes da cultura guarani.

Nesse momento, estou no interior do Rio Grande do Sul, ministrando curso para professores indígenas. No intervalo, escrevo a coluna. Morri de vergonha ao ler junto com os índios a reportagem da Veja. Seu conteúdo, carregado de preconceitos, é mentiroso, ofensivo e elimina aquilo que eu estou vendo diante de mim. Um índio guarani do Morro dos Cavalos, cuja existência é negada pela revista, me tranquilizou:

-Nda’orerexai ramo ndoroexai avi - ele me disse em sua língua. Pedi que traduzisse:

-Se a Veja não nos vê, nós também não vemos a Veja.

É isso ai. Há muito tempo eu também não vejo a Veja. Desculpem a linguagem: Veja é um lixo, um produto do sub-jornalismo marrom, que contribui para desinformar seus incautos leitores.

P.S.: Agradeço as indicações dadas pela antropóloga Maria José Alfaro Freire, cuja dissertação de mestrado (PPGAS-UFRJ) - “A construção de um réu: Payakã e os índios na imprensa brasileira” - analisa o papel da VEJA e dos jornais de circulação nacional na acusação de estupro dirigida ao índio kayapó Paulinho Payaká em junho de 1992.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti.