domingo, 28 de agosto de 2016

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Imac investiga usina Álcool Verde por queima de canavial em Capixaba

Queimadas no Acre são as principais fontes de fumaça em Rio Branco nos últimos três dias, diz pesquisador Foster Brown


O Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) abriu investigação contra a Álcool Verde, usina que opera no município de Capixaba, a 70 quilômetros de Rio Branco, suspeita de ter contribuído pesadamente na produção da densa nuvem de fumaça que domina a paisagem da capital do Acre nos últimos três dias.

As imagens de satélite registram centenas de focos de calor na área da Álcool Verde e no seu entorno, em propriedades que foram arrendadas pela usina para plantio de cana. O presidente do Imac, Paulo Viana, confirmou a investigação e o envio de uma equipe de agentes de fiscalização para a região.

O Imac quer saber se a Álcool Verde foi realmente responsável pelo fogo no canavial. O órgão obteve, de moradores do entorno da usina, informações de que a empresa realizou queima para limpeza da cana.

— Esta prática é proibida, pois o licenciamento ambiental do empreendimento estabelece que a colheita da cana tem que ser obrigatoriamente mecanizada - afirmou o presidente do Imac.

Paulo Viana disse que a usina possui mais de mil hectares de cana plantada e que os técnicos do Imac vão quantificar o tamanho da área queimada.

— Temos que apurar a responsabilidade de quem fez a queima. A fumaça da cana queimada em Capixaba tem contribuído pesadamente para a concentração de fumaça em Rio Branco - acrescentou Viana.

A reportagem não conseguiu localizar o gerente da usina Álcool Verde, que pertence ao Grupo Farias e conta com investimento financeiro do governo do Acre.

Fontes de fumaça


O pesquisador norte-americano Foster Brown, do Experimento de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazonia (LBA) e da Universidade Federal do Acre, considera importante que seja quantificado o total da área queimada pela usina.

— Há registros nas imagens dos satélites da ocorrência de dezenas de focos de calor naquela região. A partir disso, será necessário estimar quanto foi relacionado com a queima de cana e quanto por outros motivos. Precisamos saber como foi afetado e por quê foi afetado.

Na avaliação do pesquisador, Mato Grosso, Rondônia e Bolívia contribuem com fumaça deslocada para o Acre. Porém, assinala Brown, nos últimos três dias as queimadas locais foram as principais fontes de fumaça.

— Os satélites mostram claramente uma área, a 40 quilômetros de Rio Branco, entre os municípios de Senador Guiomard e Capixaba, com dezenas de focos de calor. Além disso, as imagens mostram o vento deslocando nuvens de fumaça daquela área em direção a Rio Branco.

Brown acrescentou que uma evidência de que a maioria da fumaça que se concentra em Rio Branco é produzida por queimadas dentro do Estado são suas altas concentrações durante as manhãs.

— Mas esse tipo de avaliação ou inferência muda como as nuvens e precisa ser feita diariamente. Nesta sexta-feira, por exemplo, o cenário poderá ser outro completamente diferente, a depender de onde está queimando e da direção e velocidade do vento.

Brown disse que a fumaça em Rio Branco nos últimos três dias tem três fontes. A primeira delas são as queimadas dentro e na periferia da cidade, que gera fuligem, sendo que a fumaça varia em densidade em algumas centenas de metros.

- Isso ocorre frequentemente de noite e a inversão térmica piora a situação. A fumaça de queimadas noturnas tipicamente acumula na camada mais baixa da atmosfera - explicou.

A segunda fonte de fumaça são as queimadas fora de Rio Branco, mas dentro do território do Acre, segundo o pesquisador, com densidade mais uniforme, com pouca ou nenhuma fuligem.

— A terceira fonte de fumaça são as queimadas fora do território do Estado. É possível, mas sofre do processo de diluição durante o transporte por centenas de quilômetros.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Visto do Alto Santo, sem ou com fumaça, pôr do sol é sempre espetacular


Imagens de satélite revelam origem da fumaça que sufoca o Acre nos últimos dias


A menos que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e seu Sistema de Informações Geográficas e Banco de Focos de Dados de todos os focos na área conhecida como Arco do Desmatamento estejam errados, o Acre não é mesmo gerador de toda fumaça que se acumula em seu ambiente.

Temos muitas queimadas? Temos demais, em Rio Branco, Capixaba, Bujari, Porto Acre, Sena Madureira, Feijó e Tarauacá. Toda a região leste do Acre também vem sendo afetada por fumaça devido aos ventos sul desde a terça-feira, que, embora em baixa velocidade, deslocam fumaça.

Mas o mapa do Inpe, de monitoramento de queimadas e incêndios por satélite em tempo quase real, mostra que na Bolívia também estão queimando muito, nos departamentos de Beni, Santa Cruz e no vizinho Pando.

Parte da fumaça boliviana também está se desloca em direção ao Acre, além da fumaça oriunda dos estados de Rondônia e Mato Grosso.

É o que mostram as imagens de satélite, embora o acreano não costume aceitar facilmente que a fumaça também vem de fora.

Links para duas imagens da Nasa, em alta resolução, usadas na colagem acima: 1 e 2

Funcionário da Álcool Verde em estado grave após sofrer queimadura


Três funcionários da usina Álcool Verde, em Capixaba (AC), ficaram queimados na manhã de segunda-feira (22), após um incêndio na margem da BR-317 afetar a fazenda Bom Lugar e o canavial da empresa do Grupo Farias.

Francinildo da Silva Formiga, 20 anos, funcionário há três anos da usina, está em estado grave com 80% do corpo queimado.

O acidente ocorreu quando Francinildo, juntamente com outras pessoas, tentavam apagar o fogo na fazenda, próximo do canavial da usina.

O fogo se alastrou rapidamente e o funcionário da usina pulou de um caminhão pipa e sofreu queimaduras.

Francinildo deu entrada no Pronto-Socorro de Rio Branco às 12h8 de segunda, tendo sido transportado em  ambulância do Samu de Capixaba. Na terça (23), às 17h15, foi transferido para a UTI.

Além dele, um tratorista da fazenda e um supervisor da Álcool Verde sofreram queimaduras leves e não foram hospitalizados.— Nós, do Corpo de Bombeiros Militar do Acre, não recebemos ocorrência para extinção de incêndio em Capixaba. O Instituto de Meio Ambiente do Acre está no município para averiguar a situação que você relata - disse o comandante, coronel Gundim.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

No Acre, indígenas denunciam invasão de território peruano por brasileiros

Facção dissidente do Sendero Luminoso produz cocaína na fronteira com o Brasil 


Laboratório peruano de produção de pasta básica de cocaína

Lideranças da Associação Ashaninka do Rio Amônea, na fronteira com o Peru, denunciaram à Coordenação Regional da Fundação Nacional do Índio, a presença de barcos com moradores do município de Mal. Thaumaturgo adentrando o território peruano em busca de madeira, carne de caça, peixes e ovos de tracajá, nas comunidades Sawawo e Shawaya. Os produtos são comercializados na cidade.

Representantes da Funai, Polícia Federal, Ministério Público Federal e Exercito aceitaram convite para ouvir a comunidade ashaninka no final do mês sobre a situação. Recentemente, Jaime Antezana, peruano especialista em drogas, revelou que uma facção dissidente do Sendero Luminoso agora se dedica ao narcotráfico e controla uma zona da província de Masisea, na região Ucayali, na fronteira com o Brasil.

Em 2012, a PF inaugurou um posto de vigilância e controle em Thaumaturgo, mas o desativou dois anos depois, o que facilita a ação dos narcotraficantes na região.

De acordo com os ashaninka, a movimentação intensa tem acarretado a falta de condição para realizar o plano de manejo de tracajás, caça e peixe. A comunidade ashaninka já se reuniu várias vezes com as lideranças peruanas de Sawawo e Shawaya para tratar da situação.

Entrevista do especialista peruano Jaime Antezana sobre a descoberta de uma nova área de produção de cocaína na fronteira com o Brasil



Neste momento, segundo relato dos ashaninka, cerca de 20 invasores brasileiros estão em território peruano, com capacidade de trazer três toneladas de produtos retirados ilegalmente.

Os indígenas solicitaram providências da Funai, segundo dizem, para evitar que decidam pelo impedimento da passagem dos caçadores dentro de sua terra, sempre os mesmos, já denunciados outras vezes às autoridades.

Em troca dos produtos, segundo os ashaninka, os invasores levam munição e bebida alcoólica para embebedar as famílias peruanas.

— Todas essas ações estão destruindo as comunidades, os danos estão sendo muitos, chegando a gerar diversos conflitos internos, sendo um deles a formação de grupos a favor e contra a retirada, devido as ações destrutivas que vem ocorrendo dentro dessas comunidades. Além disso, quando os ashaninka do lado peruano se posicionam de forma negativa quanto a entrada nestes territórios, são ameaçados, inclusive de morte, quando estes membros chegam no município de Marechal Thaumaturgo - afirma o documento da Associação Ashaninka do Rio Amônea.

Os ashaninka dizem que estão realizando a vigilância de seu território, mas assinalam a “ausência das autoridades competentes para fazer o controle de fronteira”.

Funai

Consultado pela reportagem, o coordenador regional da Funai em Cruzeiro do Sul, Luiz Valdenir, disse que "o caminho é a intensificação da presença institucional na fronteira”.

— A Funai está em processo de implantação de sua nova Coordenação Técnica Local, uma espécie de posto local, e vem realizando monitoramento constante da região. Temos feito conversas constantes com o MPF, PF e Exército, no intuito de melhorar esta presença na região. Acreditamos que o envolvimento de comunidades como a dos ashaninka, que desenvolvem ações de monitoramento de suas regiões, qualificando, assim, as informações que recebemos, bem como a troca de informações com outros parceiros, no lado peruano, são essenciais para esse trabalho.

Capital do Acre desaparece por causa de queimadas no Brasil, Bolívia e Peru

Tião Viana defende redução desmate legal na região  



A capital do Acre está invisível na linha do horizonte por causa dos focos de queimadas de pastagens, capoeiras e florestas na região, incluindo Peru e Bolívia. Muita fumaça e fuligem transtornam a vida da população. Atravessando período de vazão histórica, o Rio Acre, única fonte de abastecimento da cidade, amanheceu nesta terça-feira com apenas 1,44m de profundidade.

Consultado pelo blog, o governador do Acre, Tião Viana, revelou que está empenhado em “ousar reduzir o desmate legal de um hectare para meio hectare”:

- A situação é lamentável. Um pneumologista poderia mensurar os danos de curto e longo prazo devido às toxinas da fumaça nos pulmões. Isso tem um custo à saúde pública. Muitas vezes, os que queimam a natureza vão protestar pela demanda nos serviços de saúde. Estou bem empenhado na decisão pessoal de ousar reduzir o desmate de um hectare para meio hectare, salvo que seja até um hectare para roçados sustentáveis e sem queimadas. É que a norma legal permite um hectare sem licença ambiental. Claro, mediante aprovação legislativa. Será uma medida de grande impacto.

Apesar da declaração de Tião Viana, nos últimos anos, o governo do Acre tem recorrido contra uma ação do Ministério Público que pede fogo zero no Estado.

- Aquela é uma medida ilegal e irresponsável. Temos a coragem de avançar até 2018, pelo fim do desmatamento ilegal. Existe gente que não sabe onde é a Amazônia, anda de carrão, come churrascão, viaja de avião, joga lixo no chão e é contra a subsistência negada pelas elites aos humildes pequenos produtores. Enquanto nós, temos feito tanto para diminuir as queimadas e elevar a dignidade dessas pessoas simples. Eu e a equipe trabalhamos e já plantamos mais de 2 milhões de árvores - reagiu o governador.






quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Relatório denuncia loteamento e invasão de terras indígenas com apoio do Terra Legal

Áreas são loteadas e ocupadas na Amazônia por meio de programa do Brasil que conta com apoio do governo da Alemanha

 Moradores da aldeia Kaiapuká, uma das ameaçadas por invasões impulsionadas por programas oficiais. Foto: Rosenilda Nunes Padilha

Um relatório intitulado “As contradições da cooperação alemã na Amazônia”, da organização Rosa Luxemburgo, afirma que as terras indígenas são loteadas e ocupadas por meio de programa que conta com apoio da Alemanha.

Os indíos Jaminawá que vivem no município de Boca do Acre, no Amazonas, encontram-se ameaçados por invasões irregulares impulsionadas por um processo desastrado de regularização fundiária organizado pelo Programa Terra Legal, do governo federal.

A terra indígena Kaiapuká, apesar de ainda não ter sido formalmente demarcada e regularizada, consta como “tradicionalmente ocupada” no site da Funai, onde aparece como Caiapucá.

O reconhecimento da existência de indígenas na região, que é acessível pelo Rio Purus a partir de Sena Madureira, no Acre, torna ainda mais grave o loteamento promovido de maneira irregular por agentes do Estado.

O caso foi denunciado em relatório produzido por Winnie Overbeek, do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais, com apoio da Fundação Rosa Luxemburgo, no qual, além do atropelo no processo de regularização e seus impactos, também constam críticas à implementação de mecanismos de cooperação internacional do governo alemão e de economia verde na Amazônia.

O trabalho envolveu visitas a campo e análise detalhada de documentos, e contou com apoio do Conselho Indigenista Missionário, que há décadas tem procurado chamar a atenção para o descaso com a demarcação e regularização das terras indígenas na região.

Programa de regularização fundiária do governo federal, o Terra Legal conta com apoio do governo alemão por meio da agência oficial de cooperação, a GIZ, da sigla em alemão para Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit.

— Não é o único projeto financiado com recursos públicos europeus na região. A Alemanha é considerada a principal  financiadora da implementação de mecanismos de economia verde no Acre e tem apoiado programas de REDD+ com aportes feitos pelo Banco de Desenvolvimento KfW (Kreditanstalt für Wiederaufbau), propagandeando como parte dos resultados justamente a demarcação de terras indígenas - pontua o relatório.

O relatório é resultado de um projeto de acompanhamento de impactos de projetos REDD+ e foi apresentado nesta quarta-feira (17).

Segundo o relatório, além do apoio da agência estatal GIZ ao Programa Terra Legal, a Alemanha também tem, por meio de programas de cooperação, contribuído com outras iniciativas que alteram e impactam de maneira significativa a vida dos povos da floresta na região.

- As principais são as relacionadas a projetos de  financeirização da natureza, incluindo aí a implementação de mecanismos de economia verde. Até o final de 2015, o governo alemão já havia repassado 20,2 milhões de euros para o programa REDD Early Movers (REM) em apoio à implementação da lei estadual n. 2.308/2010, que institui o Sistema de Incentivos aos Serviços Ambientais (SISA) no Acre. Os pagamentos foram feitos por meio de repasses do Banco de Desenvolvimento KfW diretamente para o governo do Acre e têm como base, conforme estabelecido em contrato, resultados da redução de emissões comprovadas no estado.

Clique aqui para baixar o relatório.

No Acre, banditismo faz ataques a órgãos de segurança e destrói Patrimônio Histórico


A madrugada desta quarta-feira (17) foi marcada por um incêndio criminoso que destruiu o Departamento de Patrimônio Histórico de Rio Branco, no Parque Capitão Ciríaco, mas a polícia registrou outros ataques, incluindo o interior do Acre.

Houve duas tentativas de incêndios em Sena Madureira, no mercado municipal e contra a moto de um morador da cidade.

Também foram registrados ataques a órgãos de segurança pública - princípio de incêndio no pátio da 5ª Regional de Polícia, ao box da PM do bairro Tancredo Neves, e ao prédio da Polícia Técnica, além da tentativa de incêndio na casa de um PM, na casa um agente penitenciário e no Clube de Bombeiros.

O presidente da Fundação Garibaldi Brasil, Sid Farney, que gerencia o Departamento Histórico Cultural de Rio Branco, disse que o incêndio começou 1h30 da madrugada.



Quatro homens, todos encapuzados, invadiram o Parque Capitão Ciríaco, arrombaram a porta da casa de madeira, renderam o vigia, espalharam documentos no chão, jogaram gasolina e atearam fogo. Posteriormente, arrombaram um segundo prédio no parque, tentaram atear fogo, mas não houve furto.

O acervo do Departamento de Patrimônio Histórico de Rio Branco era mantido em local pouco seguro e sua cópia digitalizada foi destruída pelo fogo, embora o governo do Acre disponha de uma forte estrutura de segurança para proteção de seu banco de dados.

— Nunca tivemos problema com segurança e agora vamos trabalhar para formar um novo acervo. Estamos ainda na fase de perícia. Nós tínhamos cópia digitalizada, mas ela estava dentro dos computadores que foram destruídos pelo incêndio criminoso. O Departamento de Patrimônio Histórico do Estado possui um acervo significativo e a Fundação Garibaldi Brasil vai fazer um levantamento para ver o que Estado possui e que pode ser recuperado em conjunto para o acervo do município de Rio Branco.

As ações parecem coordenadas ou assumiram uma força maior que precisa ser entendida pelo governo do Acre no contexto de crise


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Spaghetti com pirarucu desfiado

Sozinho, pensei que teria que improvisar uma farofa qualquer para almoçar, mas a filha Jael Bimi Jaccoud Machado apareceu e eu disse que gostaria de comer algo nunca visto em qualquer lugar. E então ela improvisou em menos de uma hora este spaghettini com pirarucu desfiado.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

No Acre, enfrentamento de enchentes e estiagens deveria ser contínuo

POR FELIPE STORCH


Rio Acre em foto de Pedro Devani

Rio Branco, capital do Estado do Acre, sofreu no ano passado a maior enchente de sua história, quando o nível do Rio Acre chegou a 18,18 metros de profundidade. A cidade enfrenta agora uma das suas maiores estiagens, com o nível do Rio Acre chegando a 1,42 metros nesta quarta-feira (3).

O que desregulou nosso sistema?

Eventos climáticos extremos se tornaram tema do noticiário local. Dois anos antes, em abril de 2014, o governo do Acre havia decretado estado de calamidade por conta da maior cheia do Rio Madeira. Em março de 2015, foi a vez da prefeitura de Rio Branco decretar situação de calamidade por causa da maior cheia do Rio Acre. Em junho de 2016, o decreto de situação de emergência derivou de uma das maiores secas da história do mesmo Rio Acre.

Qual será o noticiário do ano que vem?

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) popularizou a ideia de que com o aquecimento global, "áreas úmidas ficarão mais úmidas e áreas secas ficarão mais secas." Para a Amazônia, isso se traduz em muita chuva em poucos dias. O temor é grande, pois a variação pluvial durante o ano tende a se exacerbar na região (IPCC 2013, aos interessados). Ainda que alguns cientistas questionem a escala de mudança do IPCC, a linha de base é chuvas mais concentradas em poucos dias da época de cheia.

Pesquisas locais trazem um outro lado da história de inundações e estiagens. Um estudo da WWF e Secretaria de Meio Ambiente do Acre sobre as vulnerabilidades ambientais no Igarapé Judia, que nasce no município de Senador Guiomard, revela que “as áreas de florestas estimadas em 1996 em 2,4 mil hectares chegaram a 942 hectares em 2010, reduzindo de 20% para 7% a cobertura vegetal da bacia”.

É conhecido que cada árvore funciona como um "amortecedor" contra eventos climáticos ao absorver água, reter calor e, por fim, regular o clima. Mesmo com esses dados, as margens da Bacia Hidrográfica do Rio Acre continuaram a ser desmatadas, reduzindo a zona de amortecimento do rio.

Entre uma seca e outra, qual medida foi tomada?

A enchente ou a seca do rio causam impactos sociais alarmantes. Na cheia do ano passado, 53 bairros foram alagados e 87 mil pessoas afetadas – isso sem falar no trauma das 5 mil famílias desabrigadas. Na seca, foi proposto o racionamento da água encanada, já escassa nos bairros pobres de Rio Branco. Até mesmo quem não usa água do Departamento Estadual de Pavimentação e Saneamento (Depasa) encontra as consequências da escassez, pois a procura e o preço por água potável aumentam.

Medidas imediatas são parte da solução. Para garantir o abastecimento de Rio Branco, o Depasa construiu– e ampliou – uma barragem com sacos de areia ao redor das torres, para garantir o volume de água captada de 1,3 mil litros por segundo. O sistema de captação, normalmente situado na margem do rio, ganhou bombas flutuantes em trechos mais mais profundos do leito do rio. O Depasa também anunciou que fará “blitz” nos bairros no horário de abastecimento para evitar desperdícios. Ações louváveis e necessárias para evitar o desabastecimento.

Contudo, só uma mudança de comportamento resolverá o problema definitivamente. Três medidas são fundamentais. A primeira é cortar o desperdício – e aqui é responsabilidade da população. Segundo índice do Instituto Trata Brasil, as perdas foram de 60% do valor distribuído em 2013, o que faz Rio Branco ficar entre as 100 cidades brasileiras que mais desperdiçam água. Não adianta só o governo tomar medidas (quando toma) se a população não corta o desperdício. Parte dessa proposta requer a persistência da fiscalização e monitoramento além das épocas extremas de cheias e secas.

A segunda solução é aumentar o número de árvores na região. Pode parecer contraditório – Rio Branco, uma capital no meio da maior floresta tropical do mundo, precisaria de árvores? Um relatório do governo do Estado aponta que nenhuma das cidades do Acre atende aos requisitos mínimos da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana ou da Organização Mundial da Saúde. Outro levantamento, dessa vez apresentado no Fórum de Engenharia e Desenvolvimento Sustentável, mostra que o desmatamento ao redor de muitas nascentes longo do Rio Acre é alarmante. Essa é outra política pública que requer tempo e persistência para ser efetivada.

Por último, mais trabalho colaborativo de educação ambiental é fundamental, o demanda trabalho constante desde cedo. Uma forma de fazê-lo é criar um comitê permanente do qual participem membros da academia, do poder público e da sociedade em geral. Pensar a questão das mudanças climáticas e dos ciclos de cheias e secas de uma forma colaborativa instiga a inovação, pois é só assim que poderemos mitigar os efeitos devastadores dos eventos extremos.

As notícias de eventos climáticos extremos são frequentes, alarmantes e causam muito dano ambiental, social e econômico. Medidas imediatistas ajudam, mas somente um trabalho rígido de médio e longo prazo resolverá o problema. Ação individual, planejamento urbano, colaboração e educação ambiental são etapas necessárias e que precisam de acompanhamento constante.

Não precisamos viver de crise em crise; precisamos reconhecer que as mudanças climáticas – mesmo sendo um desafio – são a nova realidade. Construir resiliência, através de fortalecer as estruturas físicas e o tecido social, trará uma resposta duradoura. Assim, teremos um posicionamento proativo e contínuo.

Esses passos podem parecer difíceis, mas vamos encarar os fatos: o Rio Acre passa por onde cerca de 70% da população do Estado reside e os eventos extremos voltam ao noticiário todo ano. Cessar tais eventos requer trabalho árduo, principalmente na época entre enchentes e secas.

Felipe Storch é acreano, formado em Economia e Gestão Ambiental pela Franklin & Marshall College, EUA. Seu twitter é @Felipe_Storch.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Nível do Rio Acre baixa 2 centímetros em 24 horas na pior vazante da história

Rio Acre amanheceu nesta terça-feira (2) com apenas 1,43 metro de profundidade em Rio Branco. Ao atingir o seu novo menor nível em série histórica de medições iniciada pela Defesa Civil Estadual há 45 anos, constata-se que o rio baixou 2 centímetros nas últimas 24 horas. Como não há previsão de chuva para agosto, o governo do Acre trabalha com o prognóstico de que o período mais crítico da seca ocorrerá nos próximos 45 dias. Foto de Arison Jardim mostra o leito do rio na curva da Gameleira, na altura do centro histórico de Rio Branco.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

No Acre, seca pode resultar em drama humano, econômico e ambiental


Autoridades do governo do Acre avaliam que a população dos municípios de Rio Branco, Xapuri, Epitaciolândia, Brasileia, Assis Brasil, Porto Acre, Bujari, Plácido de Castro (Vila Campinas) e Acrelândia estão prestes a viver um drama humano, econômico e ambiental por causa da intensidade da estiagem, incêndios e vazante histórica do Rio Acre.

O governador Tião Viana decretou, no começo de mês passado, situação emergência nas cidades do Vale do Acre, porém a medida não reconhecida até agora pela Defesa Civil Nacional.

Viana anunciou nesta segunda-feira que estuda medidas extremas. Ele poderá declarar situação de calamidade na região ante os incêndios e implicações da seca sobre a produção rural do Estado e decidir pela construção de uma barragem no Rio Acre para garantir a captação e distribuição de água em Rio Branco.

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Obra de contenção no Rio Acre tenta evitar desabastecimento de água em Rio Branco

O Rio Acre atingiu o nível histórico de 1,45m, o menor de uma série iniciada com medições da Defesa Civil Estadual em 1970. Para que não haja racionamento na capital, é necessário a captação de 1,4 mil litros de água por segundo, mas o rio continua baixando diariamente, o que agrava as dificuldades.

Existem duas estações de captação e tratamento de água em Rio Branco. O Departamento Estadual de Pavimentação e Saneamento (Depasa) já instalou cinco bombas de captação na Estação de Tratamento de Água (ETA II), a maior, e usou sacos de areia para represar parcialmente o leito do rio na ETA I.

— Caso nossa capacidade de captação caia para menos de 1,3 mil litros por segundo, o racionamento será inevitável - disse o diretor presidente do Depasa, Edvaldo Magalhães.

Nível do Rio Acre, em Rio Branco, em 1º de agosto nos últimos 13 anos

2016: 1,45m
2015: 2,83m
2014: 2,56m
2013: 2,13m
2012: 2,25m
2011: 1,88m
2010: 2,30m
2009: 3,34m
2008: 2,36m
2007: 2,34m
2006: 2,23m
2005: 1,99m