sábado, 31 de dezembro de 2011

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

CUSCO

Passando para avisá-los que ando muito ocupado desde o domingo (25). Enfrentei chuva e neve até alcançar a Cidade Imperial de Cusco, no Peru. Samuel tem sido bom companheiro de viagem e estamos fazendo todos os passeios possíveis.









segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

ANO NOVO

José Augusto Fontes

Ainda manhãs de velhas guerras
Ambições, motivos, interesses, desculpas
Tudo fácil de esquecer
Zerar o tanto querer ganhar e ganhar
Tanto incontrolável comandar e lucrar
Deletar, reiniciar o ciclo, florescer
Sem tomar ares e águas, seres e sonhos
O ano começa
E os meninos ainda seguem velhos

Velhas guerras e ambições
O ano é novo, os meninos crescem
Velhos olhos só enxergam lucros, domínios
Tudo possível de mudar
Salvar, ajudar, acordar, executar alegrias
Aposentar os velhos, os alvos, e amar
Os meninos crescem, o ano é novo
E ainda renascem velhos enganos

Velhos interesses, lideranças ilegítimas
Fácil desmascarar o querer dominar
Há melhores guerras para lutar
Fome, solidão, exploração, desilusão
Libertar acessos, sorrisos, alguma bravura
O mundo é de todo mundo
Aqui e lá, sem entregar a ternura
Ares e águas, nosso chão, nossa floresta
Não precisam de mísseis que apontam para o lucro
Ambições não despertam vida, há outras políticas
Seres, ares, águas, flora de novos motivos
Meninos, filhos, amigos, sonhos
Prazer e fazer acontecer
Para amanhecer com novos tempos
Com novos meninos.

José Augusto Fontes é cronista, poeta e juiz de direito

sábado, 24 de dezembro de 2011

THIAGO DE MELLO - OS ESTATUTOS DO HOMEM

JINGLE BELLS


A imagem está desfocada, mas a foto vale pelo registro de uma tendência. Da esquerda pra direita: o ex-poderoso diretor da Assembléia do Acre, Zezé Gouveia, o empresário Ely Assem de Carvalho, dono do jornal A Tribuna, o assessor do governador do Acre, Dudé Lima, e o tucano Tião Bocalom, líder das pesquisas para prefeito de Rio Branco. Quem não aparece na foto é Cléber Cara Rachada, dono do restaurante Bambu, que convidou Bocalom para degustar o mesmo cardápio oferecido ao senador Jorge Viana e comitiva na quarta-feira. Todos tomaram café e trocaram afagos e ideias no mercado municipal.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

NÃO FOI BEM ASSIM

Jesus perdoa, mas o Twitter não

Conversei com algumas pessoas que estiveram na igreja de São Sebastião, em Xapuri, na noite de quarta-feira, 22 de dezembro, quando familiares e amigos se reuniram para reverenciar a memória de Chico Mendes ao completar 23 anos do assassinato do líder sindical e ecologista.

Pessoas de Xapuri e do gabinete do senador Jorge Viana (PT-AC) comentaram a repercussão que o caso ganhou após a assessora Charlene Carvalho ter publicado no Twitter que o padre Francisco das Chagas Monteiro dos Santos fugira da cidade para não celebrar uma missa.

Todas as pessoas com quem conversei trataram de explicar que a ausência do padre Chagas na celebração se deu por desencontros ocorridos na organização do evento e não teria nada a ver com a vontade pessoal do pároco ou com a presença do senador.

Disseram também que o padre e o senador nutrem estima um pelo outro e que a cerimônia foi pautada pela saudade, emoção e sonhos de Chico Mendes.

- A igreja realmente não estava cheia, mas isso não afetou em nada o clima de emoção. Não é justo com as celebrantes, com os presentes, com o senador, com o padre Chagas, ou com o próprio Chico Mendes, que fiquemos com uma imagem falsa ou distorcida de um evento que por seu significado esteve à altura de nossa história - assinalou um dos presentes.

Charlene Carvalho, assessora do senador que comentou e publicou fotos do evento na internet, já admitiu no post "Padre foge de missa para Chico Mendes" que Jesus perdoa, mas o Twitter não.

Telefonei para dois celulares do padre várias vezes durante o dia, mas não fui atendido.

Atualização às 23h45

Sobre a afirmação de Charlene Carvalho no Twitter, segundo a qual o "padre que foge de missa não é de Deus", Chagas disse ao blog Xapuri Agora que a assessora do senador Jorge Viana deveria tê-lo contatado.

- Sendo assessora de um político tão importante como é o senador Jorge Viana, ela deveria ter consultado as minhas razões, mas deixo claro que não desejo alimentar nenhum tipo de polêmica com a profissional.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

PADRE FOGE DE MISSA PARA CHICO MENDES


Fracassou a mobilização para celebração de uma missa em Xapuri (AC) na noite desta quinta-feira (22) em memória do líder sindical e ecologista Chico Mendes, assassinado há exatos 23 anos.

O padre da igreja de São Sebastião, Francisco das Chagas Monteiro dos Santos, teria fugido para não celebrar missa com a presença do senador Jorge Viana (PT-AC).

- Padre que foge para não rezar missa não é de Deus - protestou no Twitter a evangélica Charlene Carvalho, da assessoria de imprensa do senador.

Charlene acrescentou:

- Hoje, aqui em Xapuri, um pequeno, bem pequeno, grupo de amigos e familiares lembram a memória de Chico Mendes.

A missa virou uma modesta celebração conduzida por freiras da cidade para menos de 50 pessoas. Nem Ilzamar, a viúva de Chico Mendes, compareceu. Elenira, Sandino e Ângela Mendes, filhos de Chico, estiveram na igreja.

Meu comentário
O padre Chagas é conhecido em Xapuri como homem simples e sério. Ex-seringueiro, foi alfabetizado adulto e ordenado padre aos 40 anos. O blog continua tentando ouvir a versão do padre Chagas sobre o episódio divulgado pela assessoria do senador. O padre se ausentou de Xapuri dias antes da pretensa missa. Causa espanto o julgamento da assessoria do senador ao afirmar que "padre que foge para não rezar missa não é de Deus". Seria deus Jorge Viana? (veja) Talvez o padre tenha apenas tentado escapar de uma cena de espetáculo midiático, ou faltado capacidade de organização aos companheiros de Chico Mendes. Ou seria um protesto contra o relatório do senador no projeto do novo Código Florestal? Ninguém sabe.

Comentário da assessora do senador:
"Bom dia, Altino.

Sobre a nota do seu blog só tenho um esclarecimento a fazer. O comentário a respeito do padre não tem conotação religiosa – do ponto de vista da denominação de cada um – como você faz acreditar. O mesmo comentário faria, sem nenhum problema, se ausência fosse de um pastor. Não sou dona da verdade. Pelo contrário. Sou humana e cheia de falhas como todos, inclusive você.

Mas sou das pessoas que abomina intolerância religiosa. Não tenho a pretensão de achar que sou melhor ou pior que ninguém em função do meu credo. Sou crente, sim. E não vejo problemas em ir a uma missa, como alguns questionam. Deus é Pai de todos. No seu reino há lugar para todos. Deus está na igreja católica, evangélica, no daime, em todo lugar, está agindo no mundo. E sempre para o bem comum.

Só não posso admitir que usem minha opção religiosa para, de uma forma velada e mal intencionada, distorcer e interpretar de forma descontextualizada meus comentários. Lamento muito que as pessoas se aproveitem dessa má interpretação de minhas palavras para derramar suas agressões e injurias.

Não gosto de jogar pedra nos outros. Já levei – e continuo levando – muita pedrada. Tenho a consciência tranqüila de que não fiz qualquer comentário de cunho religioso para ofender ninguém por causa da minha fé, pois como já disse, acredito que Deus é um e Pai de todos. No mais, vale o que diz o Victor Matos do blog do Colonheiro: Jesus perdoa. O twitter, não.

Abs,

Charlene Carvalho

Feliz Natal"

Leia

blog Xapuri Agora

N˜ão foi bem assim


Foto: Charlene Carvalho

"CHEGOU A HORA DA ONÇA BEBER ÁGUA"

Marina Silva

Há exatos 23 anos Chico Mendes foi assassinado. A tristeza cobriu a floresta e o povo dali chorou. Um choro inaudível para muitos no Brasil, mas alto e claro a milhares de quilômetros dali. A notícia de sua morte foi estampada nas páginas de importantes jornais do mundo. E só assim que os encarregados de informar se informaram e os de proteger, denunciados.

Mas o sangue vertido escrevia, definitivamente, os contornos da Amazônia no coração e na mente de milhões de brasileiros e de cidadãos do mundo. A batalha invisível contra o abandono e o extermínio era agora conhecido nas cidades e além das fronteiras. A solidão do povo da floresta começava a se romper, suscitando indignação e sonhos que foram capazes de alistar jovens de todas as idades.

Era a solidariedade, uma das mais nobres virtudes humanas, se manifestando no momento da dor. Desse encontro entre necessidade e solidariedade surgiu a esperança. Uma esperança visível, que se expressa na forma de uma ciência comprometida, de políticas públicas, de projetos de educação, saúde, organização e de desenvolvimento comunitário. Novas leis foram surgindo e a luta de Chico Mendes, no Acre e no Brasil, se ampliou e se fortaleceu, saindo da marginalidade para o centro do Estado de Direito.

O nome do Chico está em muitos lugares. Prêmios, praças, escolas, em instituições federais e até inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, ao lado de Tiradentes, Zumbi dos Palmares e Santos Dumont. O feito que o tornou um símbolo, e que confere sentido e valores ao que carrega seu nome, foi tão somente sua luta em defesa da Amazônia, suas matas, seus bichos e sua gente.

Desde então, o dia 22 de dezembro tem sido dedicado à sua memória e à sua causa. Gestos são feitos para demonstrar gratidão com a luta que ele empreendeu. Discursos, inaugurações, anúncios e prêmios são entregues àqueles que cooperaram para o mesmo propósito.

Infelizmente este ano é diferente. É o primeiro desde 1988 em que a memória de Chico Mendes e seus ideais correm o risco de não serem honrados. É o ano em que o Código Florestal, a lei que ampara e protege as florestas do país, agoniza sobre as mesas do Congresso Nacional e na antessala do Palácio do Planalto. É triste ver que o Parlamento que o elevou à categoria de herói nacional, agora desmonte a lei com a qual ele pode tão bravamente e pacificamente lutar.

Neste 22 de dezembro, todos os discursos em memória de Chico Mendes deveriam ser convertidos em defesa da causa a que ele se entregou. Todos os homenageados deveriam cobrar posições coerentes das instituições que, como é o caso do Ministério do Meio Ambiente, usam seu nome para fazer honrarias.

Mas existe uma mulher que, juntamente com o apoio da sociedade brasileira, ainda pode fazer a maior homenagem que a memória de Chico Mendes merece e suscita neste ano de 2011: Dilma Rousseff. Está nas mãos dela transformar o ruído em voz, o boato em fato, a gesticulação em ato. E com o veto, honrar o compromisso assumido com o povo brasileiro de que não permitiria anistia àqueles que desmataram ilegalmente, assim como não aceitaria o aumento do desmatamento.

Quando do assassinato de Wilson Pinheiro, Chico disse ao hoje ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, circunstâncias que definitivamente selaram sua trajetória de vida com a de seu companheiro de solidariedade, em momentos dramáticos como aquele: "Chegou a hora da onça beber água".

Se vivo ainda fosse, Chico bradaria, para todos nós, de forma suave como era de seu feitio e firme como era de sua têmpera, seu histórico e atualíssimo bordão, nos convocando a mais um de seus empates: "chegou a hora da onça beber água". E certamente completaria: "quem não lambe folha que se apresente onde o grande igarapé faz a volta."

E a volta se chama veto, é só ninguém ficar de braços cruzados diante do redemoinho.

Marina Silva é professora de ensino médio. Foi senadora pelo Acre (1995-2011) e Ministra do Meio Ambiente (2003-2008).

GERENTE DA PREVIDÊNCIA PRESO POR PECULATO

O gerente da Agência da Previdência Social no município de Brasiléia (AC), Etienne Hugo, 38 anos, foi preso em flagrante por agentes da Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira (22) pelo crime de peculato, após ter recebido R$ 17 mil em espécie proveniente de um excesso de valor cadastrado irregularmente no sistema.

O servidor, que a PF identificou apenas como E.H.P.V, teria habilitado um benefício de auxílio-reclusão sem informar a data final, fazendo parecer para o sistema que o contribuinte ainda estaria preso. Na verdade o contribuinte já havia sido colocado em liberdade há mais de dois anos, gerando então um excesso de benefício três vezes maior do que o de direito.

O gerente da Agência da Previdência Social de Brasiléia, localizada na fronteira do Acre com a Bolívia, orientava o ex-presidiário a sacar todo o dinheiro e retornar para devolver o valor excedente, quando seria feito um cálculo manualmente do valor que o contribuinte teria direito, ficando o restante do dinheiro em suas mãos.

Ao ser preso, o servidor alegou que a quantia recebida irregularmente iria ser devolvida no dia seguinte para a Previdência através de uma guia de recolhimento, sem explicar com clareza o que aconteceria caso o ex-presidiário desaparecesse com o dinheiro sem retornar a agência.

O servidor responderá pelo crime tipificado no art. 312 do Código Penal, o qual prevê pena de dois a 12 anos de reclusão, e já se encontra judicialmente afastado de suas funções junto ao INSS.

TUDO CONFORME ANTECIPADO PELO BLOG

A edição do Diário Oficial da União (DOU) desta quinta-feira (22) confirma o que o blog havia antecipado. Errata do DOU comprova que o veto ao Projeto de Lei que restabeleceria a hora antiga do Acre foi assinado pela presidente Dilma Rousseff. Do mesmo modo, o DOU mostra o recuo do Palácio do Planalto, que envia ao Congresso um Projeto de Lei para retorno da hora antiga do Acre e do Sul do Amazonas.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

PLANALTO RECUA EM RELAÇÃO AO VETO

Dilma quer mudança no horário do Acre e Sul do Amazonas

O Palácio do Planalto decidiu recuar em relação ao veto integral da mudança do fuso horário do Acre e partes do Amazonas e Pará. A presidente Dilma Rousseff vai enviar ao Congresso nesta quinta-feira (22) um Projeto de Lei com urgência para que a hora antiga do Acre e do Amazonas seja restabelecida de acordo com o fuso horário Greenwich “menos cinco”, ou seja, menos duas horas em relação ao horário de Brasília.

- Beto Vasconcelos, assessor da presidente Dilma na Casa Civil, já comunicou a decisão ao meu líder no PMDB, o deputado Henrique Alves, e ao vice-presidente Michel Temer. O Projeto de Lei não vai incluir mudança no Pará - disse ao Blog da Amazônia o deputado Flaviano Melo (PMDB-AC).

Segundo o parlamentar, o governador do Amazonas, Omar Aziz (PSD), foi consultado pela presidente Dilma e concordou com o envio do Projeto de Lei alterando o horário no Sul do Estado.

Nesta quarta-feira (21), o Diário Oficial da União (DOU) trouxe a mensagem de veto integral “por contrariedade ao interesse público”, do Projeto de Lei no 1.669, que pretendia alterar o art. 2o do Decreto no 2.784, de 18 de junho de 1913, para restabelecer os fusos horários do do Acre e partes do Pará e Amazonas do fuso Greenwich “menos quatro” para o fuso “menos cinco”, como era até 2008.

Atualmente, por causa do horário de verão, a diferença é de duas horas, decorrente de alteração realizada em 2008, sem consulta popular, a partir de uma lei de autoria do então senador Tião Viana (PT), atual governador do Acre, sancionada por Lula, presidente na época. A lei de Viana foi repudiada nas urnas pela maioria da população acreana.

O deputado Flaviano Melo, autor do projeto que resultou na realização de um referendo no Acre para que a população decidisse no ano passado sobre a mudança do fuso horário, esteve reunido com o vice-presidente Michel Temer.

- Quem assinou o veto foi a presidente Dilma. O Temer me disse assim: “Só se eu fosse imbecil ao quadrado para vetar um projeto democrático que eu ajudei a aprovar” - relatou Melo após reunião no Palácio do Jaburu.

O DOU não revelou se foi Dilma Rousseff ou Michel Temer quem assinou a mensagem de veto enviada ao Congresso, mas uma fonte do Palácio do Planalto consultada pela reportagem afirmou que foi o vice-presidente.

"ACRE, AME-O OU DEIXE-O"

A democracia está de luto no Estado

A quem interessar possa: exponho livremente e me responsabilizo por minhas eventuais opiniões aqui ou em qualquer outro veículo.

Não opino apenas para bajular circunstancialmente, por exemplo, Jorge Viana, Tião Viana, o PT, ou qualquer outro passageiro do poder.

Conheço uma cambada que bajula e ainda pergunta aos poderosos de plantão do Acre: "Viu o que escrevi em sua defesa em tal lugar?" Não me presto a isso.

O PT do Acre exerce a democracia nos moldes da extinta Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de triste memória durante a ditadura militar.

Estamos sob os ditames do velado e descarado slogan ufanista "Acre, ame-o ou deixe-o".

Para mudar a hora do Acre, o então senador Tião Viana (PT-AC) obteve sanção presidencial, em 2008, para lei de autoria dele que alterou o Decreto no 2.784, de 18 de junho de 1913.

O Projeto de Lei vetado pela presidente Dilma Roussef pretendia restabelecer os termos do decreto, como vigorou de 1913 a 2008, tendo o Acre e partes do Pará e Amazonas com fuso horário Greenwich “menos cinco”.

Balela a Presidência da República alegar que vetou
"por contrariedade ao interesse público” ou que o projeto de lei não permite a "apreciação individualizada das alterações".

Quando o então presidente Lula sancionou a lei de Tião Viana, a assessoria jurídica da Presidência da República não alegou a tal "apreciação individualizada" para alterações dos fusos horários nos Estados do Acre, do Amazonas e do Pará.

A "presidenta" deveria ter feito como Lula fez: sancionado o Projeto de Lei aprovado pelo Congresso, sem questionar, como Lula não questionou, se houve ou não consulta popular.


Para atender apelos dos petistas do Acre, a "presidenta" tomou uma decisão que se revela autoritária, pois atropela a escolha feita em referendo pela maioria da população do Acre.

Em tempo: o ano eleitoral de 2012, no Acre, promete ser divertido, histórico e inesquecível. A conferir.

NOTA À SOCIEDADE ACREANA

"O veto apequena o Acre"

"Na data de hoje os acreanos foram surpreendidos com a mensagem de veto nº 593, pela qual a Presidência da República vetou o projeto de lei nº 1669/2011, que restabeleceria o antigo fuso horário do Acre, projeto este já  aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal.

A atitude da Presidência da República causa repulsa e indignação aos acreanos, especialmente aos 56,9% dos eleitores que manifestaram de forma livre e consciente a sua soberana vontade, pois subverte o princípio democrático pelo qual a minoria deve respeitar a vontade da maioria.

O desrespeito à vontade da população acreana iniciou-se com as manobras e subterfúgios dos antidemocratas que, contrários aos interesses da maioria, articularam no Congresso Nacional o não cumprimento do resultado do Referendo, já homologado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Não bastasse, articularam, juntamente com emissoras de televisão e a ABERT - Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, a não aprovação do projeto de lei, revelando, desta forma, que os interesses que defendem no Congresso Nacional certamente não são aqueles da população acreana.

A oposição jamais tentou alterar qualquer resultado advindo das urnas, mesmo aqueles que lhe fossem desfavoráveis, pois acredita que a vontade do eleitor constitui alicerce fundamental do estado democrático de direito.

Ao desprezar a vontade das urnas e do Congresso Nacional, a Presidência da República, subjugou a Constituição Federal e criou gravíssimo precedente para a Nação, segundo o qual a vontade popular pode ser relativizada pelo governante de plantão.

Com isso, atendeu à  visão deturpada daqueles que não conseguiram assimilar que tornar concreta a vontade manifestada pelo voto não mais se tratava de quem foi contra ou a favor, mas sim de fazer valer o sufrágio popular.

Finalmente, ao contrário do afirmado incessantemente pelos antidemocratas, voltar os relógios em uma hora não atrasa o Acre, o que nos atrasa é o desrespeito à vontade livre e soberana do nosso Povo.

Em síntese, o veto e as atitudes protagonizadas pela situação apequenam o Acre.

Rio Branco – AC, 21 de dezembro de 2011"

Assinam a presente nota

Senador Sergio Petecão

Deputado Federal Flaviano Melo

Deputado Federal Gladson Cameli

Deputada Antonia Lucia

FOI DILMA QUEM VETOU

Deputado Flaviano Melo (PMDB-AC) é o autor do projeto que possibilitou no ano passado o referendo para que o povo do Acre pudesse decidir pela volta da hora antiga.

Melo conversou com o vice-presidente Michael Temer, que negou ter assinado o veto ao Projeto de Lei que restabeleceria os fusos horários do Acre e em partes do Amazonas e Pará.

Segundo Melo, Temer já pediu a publicação de uma errata na próxima edição do Diário Oficial da União.

- Foi a presidente Dilma quem vetou a mudança do fuso horário escolhida em referendo pela população acreana - disse o parlamentar.

O ACRE NO MUNDO

DEMOCRACIA DO PT

Presidência da República veta mudança de fuso horário escolhida em referendo pela população do Acre

A presidência da República vetou integralmente, “por  contrariedade ao interesse público”, o Projeto de Lei no 1.669, que pretendia alterar o art. 2o do Decreto no 2.784, de 18 de junho de 1913, para restabelecer os fusos horários do do Acre e partes do Pará e Amazonas do fuso Greenwich “menos quatro” para o fuso “menos cinco”, como era até 2008.

A decisão da Presidência da República veta o projeto que chegou a ser aprovado na Câmara e no Senado para retomar o antigo fuso horário do Acre de duas horas de diferença em relação ao horário de Brasília, conforme a maioria da população havia escolhido em referendo popular realizado em outubro do ano passado.

Leia mais:


Atualmente, a diferença é de apenas uma hora, decorrente de alteração realizada em 2008, sem consulta popular, a partir de uma lei de autoria do então senador Tião Viana (PT), atual governador do Acre, sancionada por Lula, presidente na época. O veto mantém o lei de Viana que foi repudiada nas urnas pela maioria da população acreana.

A população acreana não se adaptou ao novo horário e foi realizado um referendo em outubro do ano passado, quando a maioria dos eleitores do Acre (56,7%) votou a favor da retomada do fuso anterior.

A decisão da presidência da República foi publicada na edição do Diário Oficial da União desta quarta-feira (21), na seção de despachos assinados pelo vice-presidente da República Michel Temer no exercício do cargo.

De acordo com a mensagem envia ao presidente do Senado, a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República foi ouvida e manifestou-se pelo veto ao projeto de lei pela seguinte razão:

“Da forma como redigido, o projeto de lei não permite a apreciação individualizada das alterações propostas aos fusos horários nos Estados do Acre, do Amazonas e do Pará, impedindo a apreciação
da matéria face às realidades locais de cada um dos entes afetados.”

Clique aqui e lei a mensagem.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

DIREITOS HUMANOS

Ativistas pedem investigação de violações contra haitianos


Os ativistas de direitos humanos da Região MAP -de Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil) e Pando (Bolívia)- divulgaram nesta terça-feira (20) um documento contendo recomendações aos governos sobre a situação dos haitianos que se encontram refugiados na tríplice fronteira.

O documento pede que os órgãos oficiais do governo federal brasileiro e do governo do Acre registrem os depoimentos das violações de direitos humanos sofridas pelos haitianos no seu percurso do Haiti até o Acre e compartilhem as informações com organizações de defesa de direitos humanos em Pando e Madre de Dios.

Os ativistas esperam que o Brasil exija do Peru e da Bolívia comprometimento com a investigação, penalização aos autores de delitos e com a prevenção de futuras violações.

Como existem grupos de haitianos que não pretendem permanecer no Brasil, o movimento de defesa dos direitos humanos sugere que o governo brasileiro selecione essas pessoas e lhes ofereça atendimento prioritário para o fornecimento de vistos de entrada para que possam continuar seus trajetos até o destino final, geralmente as Guianas.

Alertam os governos do Peru, Bolívia e Brasil para que evitem novas crises humanitárias com o fechamento das fronteiras.

Os ativistas de direitos humanos da Região MAP pedem que os três países cobrem da Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (MINUSTAH)‎ que a ajuda humanitária que vem sendo enviada para o Haiti seja de fato empregada na sua reconstrução.

- A ajuda humanitária que tem sido enviada para a reconstrução do Haiti necessita ser empregada de maneira transparente e efetivamente destinada a seu fim, que é a reconstrução do país e melhoria das condições de vida de sua população, buscando evitar futuras crises humanitárias - assinala.

O documento também recomenda que as autoridades dos três países identifiquem as demandas de mão de obra de empresas e indústrias de seus países e forneçam vistos temporários de trabalho para os haitianos que desejam permanecer e trabalhar nos países, enquanto as empresas garantirem seus empregos.

Os ativistas de direitos humanos da Região MAP, que estiveram reunidos em Iñapari, no Peru, anunciaram que o tema de direitos fundamentais dos indígenas em isolamento voluntário seja tratado na próxima reunião.

Senadores debatem imigração

Em Brasília, o diretor do Departamento de Imigração e Assuntos Jurídicos do Ministério das Relações Exteriores, ministro Rodrigo do Amaral Souza, disse nesta terça-feira (20), durante audiência pública da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, que o governo brasileiro tem mantido contatos com os governos do Equador e do Peru, países usados pelos haitianos como rota de passagem até o Brasil.

- O governo peruano chegou a cogitar a possibilidade de exigência de visto para os imigrantes provenientes daquele país. Mas o Equador, aonde chegam os voos provenientes do Panamá, mantém uma política de “portas abertas e cidadania universal” e não aceita a imposição de vistos.

Mais de dois mil haitianos já entraram com pedido de ingresso no Brasil como refugiados. Os pedidos foram todos negados sob o argumento de que os haitianos não são perseguidos políticos. Quase mil haitianos estão atualmente refugiados em condições precárias nos municípios de Epitaciolândia, Brasiléia e Assis Brasil, na fronteira do Acre com o Peru e a Bolívia.

- Precisamos estabelecer uma política especial de imigração para o Haiti, para que possamos acolher 10 mil a 20 mil haitianos como convidados, e não como pessoas exploradas entrando pelos fundos, de maneira ilegal - propôs o senador Jorge Viana (PT-AC).

O senador Aníbal Diniz (PT-AC) voltou a alertar para o fato de que mais 200 haitianos estão na República Dominicana, prontos para tentar a sorte no Brasil. Diniz lamentou que a maior responsabilidade pelo acolhimento dos haitianos tenha recaído nos últimos meses sobre o governo do Acre.

O secretário executivo do Ministério da Justiça e presidente do Comitê Nacional para os Refugiados, Luiz Paulo Teles Barreto, informou aos senadores que muitos haitianos são atraídos pela possibilidade de obter um emprego na construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Mas os haitianos também chegam atraídos pelas obras das hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia.

O governo brasileiro tem concedido visto humanitário, com o qual os haitianos podem trabalhar e ter acesso a serviços de saúde e educação.

- Com o visto humanitário, vamos promover a regularização dos que já estão no Brasil e capacitá-los profissionalmente, para que no futuro retornem a seu país - afirmou Barreto.

o governo federal promete ajudar o Acre com recursos humanos e financeiros a enfrentar o problema, além de reforçar a atuação da Polícia Federal no combate aos chamados “coiotes”, que cobram dinheiro dos haitianos para trazê-los ilegalmente ao Brasil.

O BRASIL NÃO CONHECE O BRASIL

POR LUCIANO MARTINS COSTA

Na semana passada, o portal G1, do grupo Globo, enviou a Rio Branco, no Acre, uma repórter para documentar o que seus editores consideravam uma curiosidade digna de suas telas: a inauguração do primeiro grande shopping center da cidade (ver).

A jovem cumpriu a encomenda com disciplina: o texto, intitulado “Primeiro shoping muda hábitos da população do Acre” é um primor de jornalismo provinciano: aquele que, embora produzido a partir de um ambiente cosmopolita, enxerga apenas uma fração do objeto analisado, reforçando idéias preconcebidas.

A jornalista tomou um taxi no Hotel Terra Verde, se deslocou até o centro de compras, onde realizou as entrevistas, depois conversou com lojistas da cidade, escreveu sua reportagem e passou horas no saguão do hotel lendo os comentários dos leitores.

A reportagem deu curso a uma sucessão de manifestações preconceituosas contra as populações do norte e do nordeste do país, revelando que o brasileiro não conhece o Brasil.

O texto da jornalista, correto do ponto de vista da pauta que lhe foi encomendada, revela, porém, certos vícios do jornalismo brasileiro contemporâneo: a ênfase no aspecto comercial, a obsessão por infográficos e estatísticas e nenhuma sensibilidade para contextos sociais  e culturais envolvidos com o tema.

Se tivesse saido um pouquinho da rota traçada por seus editores, a repórter teria descoberto uma cidade interessante, provavelmente a capital do país que mais mudou nos últimos vinte anos, transformando-se de uma aldeia lamacenta em uma cidade vibrante, alegre, cheia de novidades e que no entanto preserva muito de suas características tradicionais.

Se tivesse parado para olhar os acrianos (com “i”, segundo o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, conforme lembra o texto), a repórter teria conhecido o estado mais republicano do Brasil, onde as crianças aprendem o hino nacional e o hino do estado, conhecem a bandeira nacional e a do estado – sem, no entanto, o aspecto separatista e xenófobo que caracteriza outras regiões do país.

Teria observado que em Rio Branco, a capital, pode-se acessar a internet gratuitamente em vários locais públicos, como praças, que há mais bibliotecas públicas, proporcionalmente à população, do que em qualquer outra capital, que há mais semáforos com temporizador do que em São Paulo e que o sistema de trânsito foi planejado recentemente levando em conta o fenômeno do crescimento das cidades médias e as mudanças de hábitos de uma população tipicamente rural.

E que a mudança de hábitos é causada pelas transformações ocorridas nessas cidades, não pela inauguração de um shoping center.

A reportagem sobre o shoping acabou sendo apenas isso: uma curiosidade.

Mas poderia ter sido uma oportunidade para mostrar aos brasileiros a gente que habita esse pedaço de terra que foi grudado ao território nacional pela vontade dos acrianos.

Luciano Martins Costa escreve diariamente no Observatório da Imprensa.

CRISE HUMANITÁRIA NA FRONTEIRA

Redes sociais mobilizam apoio para refugiados haitianos


Os quase mil haitianos refugiados nos municípios de Epitaciolândia, Brasiléia e Assis Brasil, na fronteira do Acre com o Peru e a Bolívia, passaram a contar a partir desta terça-feira (20) com uma mobilização de apoio articulada em rede sociais pelo núcleo do Instituto África Viva no Estado.

A crise humanitária na fronteira será debatida nesta terça, em Brasília, durante uma audiência pública de emergência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado.

Requerida pelos senadores Jorge Viana (PT-AC) e Aníbal Diniz (PT-AC), a audiência contará com a participação do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, além de representantes dos ministérios das Relações Exteriores e da Justiça e do Gabinete da Segurança Institucional da Presidência da República.

Leia mais no Blog da Amazônia.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

DIPLOMATA ACREANA EM ESTADO GRAVE

Família critica Itamaraty


A diplomata brasileira Milena Oliveira de Medeiros, 35, está internada em estado grave em um hospital de Brasília após ter contraído malária durante viagem de trabalho a Malabo, na Guiné Equatorial.

Acreana, Milena Medeiros viajou para a África, a serviço do Ministério das Relações Exteriores, no dia 19 de novembro, tendo regressado para Brasília no dia 27. Voltou a trabalhar no dia seguinte, mas começou a passar mal, com febre.

Ela foi internada em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no dia 10 dezembro, mas o diagnóstico de que estava com malária só aconteceu dois dias depois. Familiares disseram que a demora no diagnóstico contribuiu pesadamente para agravar o estado de saúde dela.

A diplomata respira com ajuda de aparelhos e os médicos analisam se houve ou não morte cerebral. Milena é filha única da professora Raimunda Carneiro. Ela estudou música na Universidade de Brasília e direito na Universidade Federal do Acre.

Familiares e amigos estão revoltados porque a diplomata regressou de uma região endêmica, mas não recebeu acompanhamento das autoridades brasileiras.

No sábado (17), o Ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, visitou a professora Raimunda Carneiro, mãe de Milena.

- Ela é minha única filha, ministro, mas a dor seria a mesma se eu fosse mãe de outras 10 filhas. A solidariedade é bem-vinda, mas nada me conforma. Minha filha viajou para uma região endêmica e contraiu a malária mais severa. Ela deveria ter sido examinada ao desembarcar no Brasil e recebido atendimento médico - disse a professora.

Raimunda Carneiro apelou para que o ministro estabeleça algum protocolo para quem viaja para fora do país em missão diplomática.

- Milena não recebeu qualquer orientação sobre saúde antes, durante e após a viagem dela para Malabo. Quando estive com ela na última vez no hospital, já não me reconhecia. Dizia coisas sem sentido. Ela só foi medicada contra malária quando a doença já estava avançada. A vida dela está nas mãos de Deus. Espero que o caso sirva ao menos de alerta às autoridades brasileiras, para que outros jovens não percam a vida por falta de prevenção - disse a mãe.

Milena era spalla (primeiro violino) da Orquestra Filarmônica do Acre, participou da Escola Musicalizar, em Rio Branco, a capital, e chegou a trabalhar como taquígrafa na Assembleia Legislativa do Acre. A acreana ingressou na carreira diplomática há três anos.

- Com meu dinheirinho de professora, consegui custear todos os cursos que ela queria fazer. Eram 13 mil candidatos num concurso para 100 vagas e ela conseguiu ser aprovada. O Joaquim, pai dela, tem 90 anos, é hipertenso, está desesperado. O que Deus determinar teremos que aceitar - concluiu a mãe da diplomata.

sábado, 17 de dezembro de 2011

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

CRISE SE AGRAVA NA FRONTEIRA

A situação de 800 refugiados haitianos nos municípios acreanos de Assis Brasil, Epitaciolândia e Brasiléia, na tríplice fronteira do Brasil com a Bolívia e o Peru, será debatida na terça-feira (20) durante uma audiência pública de emergência na Comissão de Relações Exteriores do Senado.

A audiência pública de emergência, aprovada na quinta-feira (15) a partir de requerimento dos senadores Jorge Viana (PT-AC) e Aníbal Diniz (PT-AC), contará com a participação de autoridades do governo e delegados de organismos internacionais.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF) no Acre, os haitianos retidos na fronteira não recebem o acolhimento humanitário adequado e oneram o Estado. O governo estadual ameaça suspender, a partir do próximo dia 30, a assistência que presta aos refugiados.

Leia mais:

O procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes enviou recomendação para que o governo federal assuma imediatamente a assistência humanitária, disponibilizando verbas, recursos humanos e infraestrutura.

Na avaliação do MPF, a morosidade das autoridades em acolher os haitianos que buscam refúgio humanitário no Brasil está fazendo com que tenham que permanecer principalmente Brasiléia, sob responsabilidade exclusiva de órgão estaduais, o que caracteriza omissão do poder público federal, que em tese seria o responsável por cumprir os tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.

O MPF, em recente inspeção em Brasiléia, constatou a presença de mais de 600 haitianos alojados em um hotel com capacidade para 70 pessoas.

- Foi verificada precariedade na condição alimentar das pessoas, que até então recebiam apenas duas refeições diárias, além de falta de condições de higiene, saúde, falta de tratamento médico adequado e violação de outros direitos humanos, como a dignidade e o trabalho - assinala o MPF.

O procurador da República recomenda à União, por meio dos Ministérios da Defesa, Saúde, Justiça, Relações Exteriores e Secretaria Especial de Direitos Humanos, que sejam providenciados imediatamente abrigo e alimentação adequados, água potável, vestuário e materiais de higiene pessoal, assistência médica, com especial atenção às crianças e às gestantes.

O Ministério da Justiça, por meio da Polícia Federal, deverá também fazer o monitoramento de crianças, mulheres e gestantes imigrantes haitianas, que derem entrada no território brasileiro, com vistas ao efetivo respeito aos seus direitos, resguardando suas integridades física e psicológica, fiscalizando e reprimindo a ação de agentes autores de eventuais abusos sexuais, tráfico de órgãos e tráfico de pessoas.

Também foi recomendado ao Ministério das Relações Exteriores que implemente, por meio dos acessos diplomáticos e instrumentos de cooperação jurídica internacional, medidas efetivas a fim de que os governos estrangeiros fiscalizem seus agentes públicos com o objetivo de evitar o cometimento de delitos em detrimento dos imigrantes haitianos que se encaminham para o Brasil.

A União tem 20 dias para se manifestar acerca do acolhimento da recomendação, sob pena de que sejam tomadas medidas judiciais cabíveis ao caso. Cópia da recomendação também foi encaminhada para ciência e acompanhamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

EUCLIDES DA CUNHA

O primeiro brasileiro a ler a Amazônia


O olhar que o escritor Euclides da Cunha dispensou ao Nordeste em sua obra mais marcante - Os Sertões - ele também dedicou à Amazônia. A expedição do autor à região que hoje é o Acre é uma parte ainda pouco explorada de sua biografia e se transformou em tema do livro Euclides da Cunha - Expedição ao Acre, lançado pelo desembargador Arquilau de Castro Melo.

Arquilau Melo reconstrói a expedição liderada pelo escritor em 1904. São cinco capítulos nos quais ele aborda aspectos históricos e traça um perfil de Euclides da Cunha. Um dos episódios importantes é a Guerra do Purus, o embate entre brasileiros e peruanos na região.

Estão reunidos, ainda, extratos do diário de viagem produzido por Euclides da Cunha, assim como do relatório oficial da Comissão Mista Brasileira-Peruana de Reconhecimento do Alto Purus.

Uma noite de autógrafos pelo lançamento da obra de Arquilau Melo acontece nesta sexta-feira (16). O evento, aberto ao público, acontecerá no Palácio da Justiça - Centro Cultural do Tribunal de Justiça do Acre, em Rio Branco, com início às 19 horas.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

DECIDA


Fotomontagem enviada pelo leitor Raimundo Nonato

CRIANÇAS DA ESCOLA IRINEU SERRA

BUSCA

Lysias Enio de Oliveira

Por favor desliguem seus celulares
Tudo faz sentido se você souber encontrá-lo:

o arco e a flecha
o fogo, a fumaça
a porta que fecha
a festa na praça
o preço da conta
o gás que acaba
o beijo na face
o tapa na cara

o fogo e a água
a regra do jogo
a tristeza do sábio
alegria do bobo
os deuses, os dados
os dóceis, os brutos
em poucas palavras
o sumo dos frutos

a fome e o pão
a uva e o vinho
o forte e o fraco
a lama e o linho
o doce e o sal
o mar e o rio
o bem e o mal
o amor e o cio

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

MENINA DA LADEIRA

O CÓDIGO DA DISCÓRDIA

Zuenir Ventura

Para quem, como eu, não sabe exatamente o que é mata ciliar e o que são módulos fiscais ou Áreas de Preservação Permanente, é difícil tomar posição nesse debate sobre o novo Código Florestal, aprovado no Senado por 59 votos a favor e 7 contra. Se Chico Mendes fosse vivo, ele serviria de referência, com seu bom-senso e realismo. Sem ele, restaria recorrer aos discípulos. Mas acontece que dois deles, talvez os mais importantes, estão em campos opostos na questão. Falo do senador Jorge Viana, relator do projeto, e da ex-senadora Marina Silva, rigorosa crítica do texto que em breve volta à Câmara para depois ir à sanção presidencial.

Conheci os dois em 1989, quando fui ao Acre para cobrir o assassinato do líder seringueiro, que inscreveu a Amazônia na agenda planetária. Pude constatar a integridade de ambos. Por isso, dividido, meu coração balança entre um e outra. Concordo quando ouço o ex-governador explicando seu esforço para evitar extremos, uma tendência herdada do próprio mestre, "que era um negociador que tentava conciliar a atividade rural com a atividade humana". Ele quer "dar tranquilidade aos que vivem na área rural produzindo para que nós, na cidade, possamos consumir". Mas tendo a apoiar a ex-Ministra do Meio Ambiente, quando adverte que a lei aprovada "reduz a proteção das Florestas, anistia desmatadores e, assim, ampliará a devastação". A sua esperança é o possível veto da presidente Dilma, que em campanha prometeu coibir o Desmatamento ilegal, um compromisso que, segundo Marina, foi assumido com todos os brasileiros.

Como sintoma, há a reação dos grupos interessados. Os ruralistas exultaram, como mostrou a imagem da senadora Kátia Abreu comemorando com seus correligionários o resultado. Ao contrário, sabe-se do protesto das organizações ambientalistas em Durban, onde 194 países reunidos debateram soluções para as Mudanças Climáticas. Elas pediram o veto presidencial e exibiram um painel luminoso na fachada do hotel do encontro com um basta: "Pare a motossera!" De que lado ficará Dilma? Dizem que ela está satisfeita com o novo Código. A ver.

A crônica "Meu tempo é curto" produziu efeitos conflitantes. Alguns viram nela uma boa desculpa para não cumprirem com suas obrigações diárias. Um leitor, porém, acusou a teoria da Ressonância de não ter sido comprovada. Ele acha que eu devia ter consultado especialistas. O curioso é que se irritou mais comigo do que com o físico alemão, o tal do Schumman, que afinal é o culpado de tudo. Em cinco linhas, me deu quatro puxões de orelha. Bem feito. Quem manda desperdiçar tempo falando da falta de tempo.

Um foi "estrangulado" e saiu desacordado, com um corte profundo na testa causado por uma cotovelada. O outro teve o braço quebrado. Duas brigas feias em boate? Não, esporte.

Zuenir Ventura é colunista do jornal O Globo

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

THE GUARDIAN

Tom Phillips in Rio de Janeiro

Human rights activists and politicians in the Brazilian Amazon have warned of an imminent humanitarian crisis, as hundreds of Haitian migrants continue to pour into the region in the wake of the 2010 earthquake.

Nearly two years after their homeland was devastated by a 7.0 magnitude earthquake, several thousand Haitians are already thought to have made the pilgrimage through Bolivia, Peru or Colombia into Brazil in search of work. New groups are reportedly arriving each weekend.

But while some are able to secure legal documents and find employment, many end up stranded in tiny border towns such as Brasiléia, now home to at least 724 Haitians out of a total population of around 20,000.

"We are calling this a crisis," Leonel Joseph, one of the first Haitian migrants to arrive in the Amazon state of Acre, said after visiting the Haitian community in Brasiléia, near Brazil's border with Bolivia and Peru.

"There are people on the streets, sleeping on the streets and many more people are arriving," added Joseph, a teacher who has become a community leader for the Haitian arrivals. "Acre state is heading for a humanitarian crisis. Something needs to be done. [The migrants] need to be given human conditions to live in."

"The situation is critical," said Altino Machado, a respected local blogger covering the Haitians' plight in this isolated corner of the Amazon. "The number [of new arrivals] has risen hugely."

Machado said Brasiléia's Haitians, among them babies and pregnant women, were living in filthy conditions. "The guys spend the whole day in the square, wandering around town. The government have been helping them but they now are saying they are going to suspend help because they can't do it any more." In his latest dispatch from the border town, Machado issued a stark warning: "The constant arrival of refugees threatens the town with collapse."

Addressing Brazil's senate on Monday, Aníbal Diniz, a senator from President Dilma Rousseff's Workers' party (PT), said: "We are facing an extremely serious problem. The number of Haitians leaving Haiti for Brazil rises every day because they have no chances in their country."

"Brazil has welcomed them … but we must discuss a strategy to deal with this problem." Officially Brazil's government does not recognise the Haitian migrants as refugees. But in a recent interview with the Guardian, Paulo Sérgio de Almeida, president of Brazil's national immigration council, said authorities were trying to help.

"While they are not refugees they are people who need some humanitarian support," he said. "The government has been giving residence to those who can prove the link to the earthquake." But politicians in the Amazon claim not enough is being done. At the end of last month Acre's governor, Tião Viana, flew to Brazil's capital, Brasilia, to plead with federal authorities for assistance.

"The state of Acre has had to pay out 1m reals (£347,000) to help these people who are arriving without any food, transport or the slightest means of survival inside Brazilian territory and this is not simply a state matter – it is a humanitarian crisis that needs to be addressed," he said.

Acre's human rights secretary, Nilson Mourão, said: "The state government no longer has the means, the people, the experience or the money to keep giving humanitarian aid to Haitians who are coming into Brazil over our border."

When the Guardian visited Brazil's border with Bolivia and Peru in May, there were several hundred Haitians living here in cramped hotels and a local gym. That number has now risen significantly while other Amazon cities such as Manaus, Tabatinga and Porto Velho have also seen a growing influx.

Most arrive after a perilous, month-long journey through the Dominican Republic, Panama, Ecuador, Bolivia, Peru or Colombia. 

Starved of work opportunities back home, many hope to secure jobs in infrastructure projects in the Amazon, such as the Belo Monte and Jirau hydroelectric dams. "I've come here because of the economic problem … All we could do was come here in search of a better future," Silvaine Doris, a 46-year-old mother who lost her brother and sister in the earthquake, said.

Authorities had hoped to dissuade Haitians from coming to the region, highlighting poor living conditions and temporarily closing the border with Peru. But Joseph said more Haitians would arrive, despite warnings, including rumours that one Haitian woman had been raped while tranvelling through Bolivia. "They are seeking better lives, better living conditions. When they see the conditions here they are shocked," he said. "[But] when you tell them that it is very difficult here they don't want to believe you."

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

ANIBAL DINIZ CRITICA GOVERNO FEDERAL

Senador alerta para crise humanitária com haitianos na fronteira

O senador Anibal Diniz (PT-AC) criticou o governo federal nesta segunda-feira (12) e pediu ações urgentes das autoridades brasileiras em relação a mais de 700 refugiados haitianos que se encontram no município de Brasiléia (AC), na fronteira do Brasil com a Bolívia.

Diniz chegou a ler, na íntegra, a reportagem “Crise humanitária se instala na fronteira do Acre com a Bolívia“, de Terra Magazine, que tem publicado as notícias mais detalhadas sobre o problema, e pediu que a mesma fosse incluída nos anais do Senado junto com o seu discurso.

Leia mais:

Crise humanitária se instala na fronteira do Acre com a Bolívia

Em busca de trabalho no Brasil, haitianos passam fome no Peru

Com país arrasado, Acre se torna rota para entrada de haitianos

 
Segundo o senador, a situação se configura como uma “crise humanitária internacional” que necessita de atenção urgente dos ministérios da Justiça, das Relações Exteriores, da Defesa, das Relações Institucionais, da Secretaria de Direitos Humanos e dos órgãos de imigração.

O número de haitianos que deixam o Haiti rumo ao Brasil aumenta todo dia porque não existe perspectiva de trabalho naquele país devastado por um terremoto em janeiro de 2010. Além disso, a população enfrenta um desgoverno e até agora as obras de reconstrução não aconteceram.

Diniz assinalou que o Brasil tem recebido os haitianos por ser um País de espírito solidário, mas defendeu que haja estratégia para tratar do problema.

- Infelizmente, até o momento, o governo federal não se manifestou a respeito. Só o governo do Acre tem feito esforços no sentido de garantir alimentação e hospedagem para esses haitianos todos os dias, mas os recursos são finitos. O governo do Estado é muito pequeno e a prefeitura de Brasiléia, menor ainda para atender esse problema.

O senador cobrou posicionamento do Ministério das Relações Exteriores, do Ministério da Defesa, do Ministério da Justiça, da Secretaria de Relações Institucionais do Governo e do Ministério dos Direitos Humanos.

- Esperamos que haja, urgentemente, uma reunião interministerial para tratar desse problema, porque, verdadeiramente, até agora, o governo federal não se manifestou a respeito. É como se o problema não estivesse acontecendo. Não é possível permanecer dessa forma, com um problema de tamanha gravidade diante de nossos olhos - acrescentou.

Brasiléia, distante 235 quilômetros de Rio Branco, a capital, possui 13 mil habitantes. Num pequeno hotel com capacidade para abrigar 80 pessoas, estão hospedados mais de 300 haitianos.

Diniz disse que a prefeita Leila Galvão (PT) já não sabe o que fazer, pois as unidades de saúde e outros equipamentos de assistência à população local são insuficientes para atender um contingente tão grande de haitianos.

- Até aqui, tem prevalecido o espírito de solidariedade humana e a hospitalidade das famílias daquele município. Mas as autoridades locais e do Estado temem que a qualquer momento comecem a acontecer incidentes e isso possa desembocar numa crise humanitária de consequências imprevisíveis - alertou Diniz.

Após ler a reportagem de Terra Magazine, o senador conversou por telefone com as ministras Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, e Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, a quem expôs a gravidade da situação e propôs a instalação de uma sala de emergência interministerial para tratar do problema.

CRISE HUMANITÁRIA NO ACRE

LUCIANO MARTINS COSTA E ALTINO MACHADO
Direto de Brasiléia (AC)


Unflor completou dois anos de idade na semana passada, ganhou uma festa com bolo e presentes, mas ninguém sabe onde e em que condições ela vai viver seus próximos dias.

Unflor é uma das quinze crianças que vivem ao redor da praça central de Brasiléia (AC), na fronteira do Brasil com a Bolívia, entre os mais de 700 refugiados haitianos.

Unflor é uma das protagonistas de um drama que tem tudo para se transformar rapidamente em uma crise humanitária internacional.

Unflor na verdade pode ser chamada de Enfleur ou Emflor, de acordo com o sotaque do interlocutor.

Conforme observa Damião Borges, funcionário da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do governo do Acre e principal responsável pela rede de apoio que se criou por iniciativa de moradores de Brasiléia, os haitianos são pessoas adaptáveis, extremamente resistentes, curiosas e dedicadas ao trabalho, mas têm alguma dificuldade com a disciplina.

Leia mais no Blog da Amazônia.

domingo, 11 de dezembro de 2011

O NOVO LIVRO DE LEILA JALUL

Isaac Melo

O contista, valendo-se aqui de Alfredo Bosi, é um pescador de momentos singulares cheios de significação. É o que faz Leila Jalul em "Minhas vidas alheias", obra a marcar sua estreia no conto. Conhece-se o rasgo da autora como cronista (Suindara (2007) e Das cobras, meu veneno (2010)) e poeta (Coisas de Mulher, coisas comuns, coisas de mim (1990) e Absinto maior (2007)), agora, no conto, embora permaneçam suas características próprias, o seu fazer literário assume uma nova dimensão, menos intimista memorialista para uma mais visionária, sem, no entanto, fugir de um realismo crítico.

"Minhas vidas alheias", a começar pelo título, é singular, trágico-humano, paradoxal. Nele, Leila Jalul se apodera de tal forma de suas personagens (linguagem e ambiente) que acaba por fazer das vidas alheias uma “extensão” da própria vida. O livro reúne 26 contos, em que ficção e realidade dão-se as mãos, pois como ressalta a contista: “Não adianta querer negar as evidências. Ficção e realidade são confluentes...”. Além disso, uma espécie de determinismo genético, aliado a certas patologias, e os elementos sócio-culturais exercem uma influência significativa na trama dos contos: “Inegável, também, é a carga negativa que algumas famílias arrastam vida afora. A genética faz parte disso. O restante fica por conta da assertiva de que o ambiente faz o homem e, por fim, some-se a educação, ou a falta desta”.

A música e a poesia, como nas demais obras de Leila Jalul, são características que persistem em "Minhas vidas alheias". A obra congrega uma miscelânea de fatos e ambientes, indo dos seringais amazônicos às encantadoras paisagens do norte da Itália. A temática também é variegada e não deixa de tocar em pontos críticos e polêmicos, a saber: situação de trabalho infantil (O Oleiro Galenteador), alcoolismo (Pacto é Pacto), pedofilia (Magias e Promiscuidades), drogas (Anelise e seus Bofes), homossexualismo (Rojão Fatal), etc. A presença da mulher também se sobressai e perpassa praticamente todo o livro, e assume um lugar central, como nos contos: Rosa dos Ventos, Estranho Reencontro, No Úbere de uma Vaca Também Bate um Coração, Fugir é Preciso, etc. São mulheres, em sua maioria, de atitudes nobres, que não perdem sua dignidade mesmo quando feridas e subjugadas pela cultura patriarcal. Na literatura leiliniana, a mulher tem vez e voz, não por uma simples oposição ao machismo, mas como uma afirmação da essência do ser mulher, para além das circunstâncias histórico-sociais.

No conto “Árvore Gene(i)lógica”, Leila Jalul realiza aquilo que afirmou Alfredo Bosi, a saber, que o conto tende a cumprir-se na visada intensa de uma situação, real ou imaginária, para a qual convergem signos de pessoas e de ações e um discurso que os amarra. É o conto mais longo de todos. Dividido em nove subtítulos, conta a história de uma família, formada por sete filhos, dos quais a vida de seis é marcada por tragédias. A contista quer acentuar a questão da genética, da “carga negativa”, do ambiente, da educação, como fatores que podem ser determinantes no destino das pessoas. Mas, ao mesmo tempo, é possível fugir desse “determinismo”, como demonstra a personagem Sayto, pois “sempre há uma brecha para a bondade”.

Os contos leilinianos às vezes sobem ao anormal, ao grotesco, ao macabro, tal como a vida muitas vezes também se apresenta. É o absurdo do agir humano elevada à sua potência maior. É a mãe que mantém a própria filha em cárcere privado, e que usa como sopeira, para servir a seus convidados, um penico inglês de próprio uso (A Louca de Caxangá); é o professor de literatura que faz luto por um palito de fósforo (Elvis Morreu); é o desfecho fatal do irmão que mata o outro a machadadas, depois de sofrer humilhações por ser homossexual (Rojão Fatal); é a história da jaqueira que, ao seu redor, minava uma água escura e fétida, pois aí o pai enterrava as próprias filhas, depois de matá-las (A Jaqueira Sombria), etc. Nisso tudo, a autora não quer enfatizar em si a violência, mas, como o fator psicológico pode ser preponderante para incitar ou coibir determinadas ações humanas.

A invenção do contista, diz Bosi, se faz pelo achamento de uma situação que atraia, mediante um ou mais ponto de vista, espaço e tempo, personagens e tramas. É o que ocorre no conto “Estranho Reencontro”. É a história de uma juíza, Suzette, que na hora de pronunciar a sentença reconhece o gentil rapaz, que dois anos antes lhe cedera o quarto para dormir, pois no único hotel do lugar já não havia mais vaga disponível, quando ali estivera a prestar concurso. O voltar-se e o olhar do réu para a juíza no instante da leitura da sentença marca o coração do momento inventivo do conto, pois aí a contista explora a hora intensa e aguda da percepção.

Mas Leila é Jalul, como alguém já ponderou. Sabe dialogar e retirar a emoção que deseja de seu leitor. Não é isso que faz em “No Úbere de uma Vaca Também Bate um Coração”? O modo como a contista realiza a descrição é formidável. A história de Chiara, que tem uma vaca como amiga e um cachorro por fiel companheiro, revela uma mulher de jeito simples, daquelas que têm apenas duas mãos e o sentimento do mundo, como ensina Drummond. Ou então, o conto “Não me Maltrate, Robinson!”, a história de uma criança recolhida da rua por um polonês e adotado como filho. O jovem se torna tão apegado à família que chega a demonstrar mais amor pela avó adotiva, quando esta falece, do que os próprios netos. Tal atitude demonstra que os sentimentos não dependem apenas dos laços consanguíneos, mas é algo também que pode ser cultivado e construído.

Com "Minhas vidas alheias" Leila Jalul se afirma ainda mais como uma das escritoras mais preeminentes das letras acreanas na contemporaneidade, quiçá, uma das mais lidas também, como demonstra seu público fiel no conceituado site Lima Coelho. E tudo ocorre naturalmente, sem alardes, sem holofotes. O vírus Jalul é benéfico e contagioso, só mata fazendo viver. Vida é o que brota de suas páginas, com o poder de fazer com que as vidas alheias se tornem minhas também, nossas, na comunhão do sofrimento e das esperanças, sob o mesmo altar da vida. Por fim, quero fazer ecoar minhas palavras com as de Thomas Mann, em Doutor Fausto, a saber, que a análise necessariamente toma a aparência de frieza, mesmo que se realize num estado de profundíssima emoção.