sexta-feira, 30 de novembro de 2007

BINHO QUER MAIS LIBERDADE NO ACRE


O governador Binho Marques (PT) reafirmou hoje compromisso com a liberdade de imprensa no Acre ao participar da inauguração da sede do Sindicatos dos Jornalistas, durante a qual assinou convênio de R$ 25 mil para ajudar a entidade na realização do prêmio de jornalismo José Chalub Leite.

Quando era candidato, Binho Marques havia prometido, em debate com jornalistas, que iria romper a tradição dos governadores do Acre, que costumam interferir diretamente nas redações dos veículos de comunicação para assegurar um noticiário bajulador. Na ocasião, disse que não gostava de bajulação e que jamais telefonaria para jornais para influenciar no noticiário.

- Prometi que não ia infernizar a vida de ninguém e espero estar cumprindo com isso. Cada um é dono do seu juízo. Cada um sabe o que faz e o que fala. Essa democratização para mim é fundamental para que todos tenham condições de passar pelo crivo do julgamento da população. Quem quiser expor suas idéias tem e deve ter total liberdade para isso porque nós temos o nosso povo pra julgar se é certo ou errado. Faz parte da nossa formação social fortalecer essa possibilidade de nós termos uma democracia verdadeira - afirmou.

O governador fez referência às novas mídias e assinalou que hoje existe a possibilidade de democratizar ainda mais a comunicação.

- Cada um pode fazer seu blog. Dificilmente vão ter a qualidade do blog do Altino. Mas cada um pode fazer o seu. O Altino se especializou nisso. Mas qualquer garoto pode fazer um instrumento poderoso de comunicação, de denúncia, de construção de uma idéia nova ou do fortalecimento de um paradigma de sociedade. Isso é muito bom e eu espero contar com vocês para esse esforço.

Assista, sem censura e edição, a manifestação de Binho Marques.

NAYARA LESSA


"Querido Altino,

Mais uma vez os teus relatos, a tua experiência e conduta como profissional serviram de exemplo para nós, os futuros jornalistas acreanos.

Te usei em um dos relatos na defesa da minha monografia, que teve como título "Ética e legislação no jornalismo impresso acreano", a partir de uma entrevista concedida ao Repórter Agência Social, na qual falas da epóca em que o coronelismo reinava no Acre. Me dei bem e tirei 9,7 como nota.

Obrigada pela experiência de vida.

Nayara Lessa
Agora, jornalista"

DIRETO DO ORKUT


A advogada Ana Paula e o deputado federal Gladson Cameli (PP)

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

PEQUENA HISTÓRIA DE UMA CONQUISTA

Carlos Valério Gomes



Caro Altino,


Uma das estudantes que você divulgou no seu blog, naquele post Frutos da Escola da Floresta, foi bem sucedida na aplicação de uma bolsa de estudo na Costa Rica. Marciane Vileme de Araújo será financiada por quatro anos para cursar engenharia agronômica, com todos os custos pagos.

Estou enviando duas fotos dela, sendo que na primeira ela aparece desenvolvendo pesquisa na Reserva Chico Mendes, como assistente de campo de Amy Duchelle, uma estudante de doutorado da Escola de Recursos Florestais da Universidade da Flórida.

Leia o relato de Jerry Corrêa, correspondente em Assis Brasil do jornal O Alto Acre, de Brasiléia:

"A jovem Marciane Vileme de Araújo, 24, foi selecionada para estudar na Universidade Earth na Costa Rica. Ela ganhou uma bolsa de estudos integral no valor de U$ 14.150 anuais, para cursar engenharia agronômica, após realizar prova seletiva em Rio Branco. Marciane Vileme deve se apresentar até 15 de janeiro no campus da Universidade Erth onde passará os próximos quatro anos estudando engenharia agronômica. A Universidade é uma das mais conceituadas da área e recebe todos os anos centenas de estudantes de vários países.

“Acho que essa é uma oportunidade única em minha vida. Estou muito feliz e agradeço a todos que me apoiaram e acreditaram em minha capacidade”, comentou Marciane.

Até o momento a jovem Marciane é a única do Brasil que conquistou a bolsa. Em 2005, a estudante Josineide Oliveira, da cidade de Brasiléia, ganhou uma bolsa para mesma Universidade e já está estudando na cidade de San José capital da Costa Rica.

Uma história de conquistas
Marciane Vileme Araújo nasceu no seringal Icuriã, comunidade tradicional que fica a mais de 70 km da cidade de Assis Brasil. Ali mesmo ela estudou todo ensino fundamental e fez parte da primeira turma a concluir o ensino médio na zona rural de Assis Brasil.

Após concluir seus estudos no Icuriã, a jovem veio para a cidade em busca de mais conhecimentos. Foi selecionada para estudar na Escola da Floresta em Rio Branco onde se formou em técnica florestal. Veio então exercer o ofício em Assis Brasil onde trabalha na área técnica da Secretária de Assistência Agroflorestal do Acre.

A jovem agora vai estudar em uma das Universidades mais conceituadas da Costa Rica. Além da família, toda comunidade de Assis Brasil, principalmente os moradores do Icuriã, estão entusiasmados com o feito de uma filha da terra e otimistas com seu sucesso".

Abraços.

Carlos Valério Gomes é pesquisador acreano. Marciane está à direita na foto acima; abaixo, de camisa amarela. Clique nas imagens para conferir a expressão de contentamento da estudante. Sei que alguns leitores deste blog não têm noção onde fica Assis Brasil ou a comunidade Icuriã. E nem podem imaginar a proeza da jovem.

UMA NOITE DE TERROR


A família do líder indígena Joaquim Tashka Yawanawá viveu momentos de terror ontem, às 20 horas, quando a casa dele foi invadida por três homens armados, caracterizados como policiais. A mulher de Joaquim, os pais dele, de 80 anos, além de duas crianças, de três e sete anos, foram ameaçadas de morte e trancadas num dos quartos da casa durante um assalto.

A jovem Débora Yawanawá, sobrinha dele, conseguiu esconder-se quando os homens chegaram e anunciaram o assalto, e usou o telefone celular para avisar Tashka. Ele estava no centro da cidade, acionou o 190 e imediatamente começou a voltar para casa no seu automóvel.

No Parque da Maternidade, encontrou quatro policiais militares, parou para lhes pedir ajuda, mas os policiais se recusaram sob a alegação de não poderiam se ausentar do local.

Ao chegar em casa, Tashka encontrou um "policial" no portão, que foi logo perguntando se o mesmo estava armado. Ao negar, teve uma arma apontada para a cabeça e a chave do carro arrancada da mão.

Os três bandidos usavam camisetas pretas, coturnos e coletes a prova de bala. Dois estavam encapuzados. O que estava na frente da casa chamou os demais bandidos. Com a arma encostada na cabeça do líder indígena, recomendou que não ousasse chamar a polícia.

Levaram o carro, dois notebooks Apple, um Ipod, uma câmera fotográfica Panasonic, um modem, um roteador e uma câmera de filmagem Sony, mas disseram que queriam mesmo era dinheiro.

- Existe uma falha enorme. Que polícia é essa que não socorre um cidadão numa situação como a que vivi? A polícia chegou 20 minutos após a saída dos bandidos. Se os quatro policiais a quem pedi socorro tivessem me atendido, teriam encontrado os bandidos na minha casa. Além disso, demorei a fazer o boletim de ocorrência. Tive que percorrer três delegacias e todas estavam com a rede de computadores fora do ar. Papai, que veio da aldeia para tratamento de sáude, no começo pensava que aquilo era uma brincadeira. Está desde ontem sem conseguir dormir - relata Tashka.

O carro dele foi encontrado ainda ontem a noite, pois os bandidos tiveram que abandoná-lo numa estrada próxima quando a gasolina acabou.

Indulto e fuga
A insegurança deverá se agravar neste final de ano no Acre, quando a Justiça costuma conceder indulto de Natal aos bandidos supostamente bem comportados. Trata-se de uma gente que não nutre qualquer sentimento cristão, mas que todos os anos se aproveita para barbarizar famílias em festa.

No site AC 24 Horas, o juiz da Vara de Execuções Penais de Cruzeiro do Sul, Fábio Costa Gonzaga, já anuncia que aproximadamente 90 presos que cumprem pena em regime semi-aberto terão o direito de comemorar o Natal e o ano novo com a família. A Justiça deveria escalonar o presente à bandidagem no decorrer de cada ano.

Nem convém lembrar os casos de presos que têm conseguido fugir nos últimos dias do presídio de "segurança máxima" do Acre. Quero ver se Hildebrando Pascoal vai conseguir escapar também e cumprir a promessa de acertar as contas com algumas personalidades.

DIRETO DO ORKUT


O advogado Walter Limão Montilha, ex-procurador geral do Ministério Público do Acre. Clique na imagem para vê-la ampliada.

O VENDEDOR DA FLORESTA


O Acre está entre os estados da região Norte que mais contribuíram para o aumento do PIB (Produto Interno Bruto) nacional de 2004 para 2005. O Estado que mais cresceu no período foi o Amazonas, cuja economia saltou 10,2% no período. Acre, Maranhão e Tocantins vêm em seguida, com expansão de 7,3% cada.

O secretário de Floresta, Carlos Ovídio Duarte, mais conhecido como Resende, por causa do nome da cidade onde nasceu no Estado do Rio de Janeiro, contribuiu para que o segmento de floresta saltasse de 6% para 19% na cota de participação do Acre no PIB nacional.

Resende, que é engenheiro florestal, está no Acre há 15 anos, quando veio trabalhar na Fundação de Tecnologia do Estado. No PNUD, em Brasília, foi consultor no desenvolvimento de projetos na área de produtos florestais junto ao Ibama. Foi ele quem elaborou o projeto do empréstimo de U$ 106 milhões que o governo do Acre contraiu junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento.

A secretaria que dirige possuía apenas um carro e um telefone quando assumiu e ele gosta de dizer que uma colocação de seringueiro valia em média R$ 8 mil e que hoje, em decorrência da prática do manejo florestal, chega a valer 10 vezes mais. Segundo Resende, isso inibe a reconcentração fundiária.

A Secretaria de Floresta trabalha com práticas de fomento nas áreas públicas, privadas e comunitárias. Neste ano assumiu também a política de produtos não madeireiros. Assista ao vídeo da entrevista abaixo.


quarta-feira, 28 de novembro de 2007

UM MENINO KATUKINA

Edvaldo Magalhães



Quem vai carregar o menino?

Um cachorro guia a família.

O rumo é o de casa.

A casa que antes era no meio do mato.

Agora, está na beira do asfalto.

Uma moça carregada de banana.

De cabeça baixa, pra não voltar.

O peso da banana é do tamanho da vida.

Um menino vigilante, olhar atento.

A mãe, que é só um carrego.

Um carrego de banana grande.

E atrás, bem perto e longe, vai o menino.

Um menino quase do tamanho de um terçado.

Ele carrega o terçado, que cortou a banana,

Que a menina da frente carrega,

Que o irmão vigia,

Que a mãe carrega e não cansa.

Que ele, nu e só, no fim da fila,

Do lado quente do asfalto,

Reclama calado,

Porque não sobrou quem o pudesse carregar.

E lá vai ele, nu e no fim da fila.

Seguindo o cachorro,

A irmã,

O irmão,

A mãe.

É um menino Katukina.

Edvaldo Magalhães é presidente da Assembléia Legislativa do Acre e blogueiro. É bom o blog dele. Veja aqui. Foto de Sérgio Vale.

EMOÇÃO NA ASSEMBLÉIA


O presidente da Assembléia Legislativa, Edvaldo Magalhães (PC do B), cumprimenta a presidente do Instituto de Meio Ambiente do Acre, Cleísa Cartaxo, viúva do deputado Francisco Cartaxo (PT), falecido em maio.


Deputada Naluh Gouveia, ex-petista, teve que ser consolada pelo colega Hélder Paiva ao se despedir para assumir o cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Estado. Enquanto vida tiver, receberá mais de R$ 22 mil mensalmente. Até eu choraria de emoção o resto da vida. Choraria até a hora da morte. E quando ela chegasse, berraria para não morrer.

Mais fotos aqui.

A FLORESTA DOS RURALISTAS

Site O Eco trata como "economia da degradação" o pedido do governo do Acre que levou o Conama a recomendar a diminuição do nível de proteção ambiental no Estado. Ruralistas querem anistia para quem desmata no país. Veja as notas de meio ambiente da coluna Salada Verde:

"Já está disponível para quem quiser conhecer uma pérola ruralista: o relatório do deputado Homero Pereira (PR-MT) sobre o projeto de lei 6424 (2005), que altera o Código Florestal. O texto foi elaborado para votação da lei na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados. Em seu substitutivo, o parlamentar aceita todas as sugestões feitas pela bancada ruralista de liberar a recomposição de reserva legal na Amazônia com espécies exóticas, como dendê, teca, eucalipto e cacau. Além disso, propõe que produtores não tenham mais a obrigação de fazer o plantio de árvores no mesma bacia em que houve a degradação.

Agora, pérola mesmo está no artigo 44 do texto do parlamentar Homero Pereira. “Art. 44-E Os detentores de imóveis rurais, nos Estados que compõem a Amazônia Legal, a qualquer título, que se cadastrarem nos termo desta lei, usufruirão dos seguintes benefícios: I – cancelamento de multas relativas a eventuais autuações relacionadas a inobservância de cumprimento do código florestal, até a publicação desta Lei;” Anistia pouca é bobagem.

Não por mero acaso, o relatório de Pereira exclui todas as sugestões que vieram do Ministério do Meio Ambiente. Não custa lembrar, que os ambientalistas da Esplanada viram na alteração do Código Florestal a chance de introduzir algumas medidas de controle e por isso sentaram na mesa dos ruralistas. Mas o relatório não acatou a sugestão de criar uma moratória de um ano ao desmatamento em regiões já degradadas. O texto também sustenta que não serão precisos estudos de paisagem (considerados importantes para a conectividade de áreas preservadas) para a definição de áreas de reserva legal.

Agora o substitutivo do PL 6424/2005 passará por mais algumas sessões na Comissão de Agricultura para votação. Se for aprovado segue à Comissão de Meio Ambiente e depois para a de Constituição e Justiça. Quem sabe até lá o jogo vira a favor da floresta.

Economia da degradação
Não bastasse o apoio velado do Ministério do Meio Ambiente e de algumas Ongs às negligentes alterações ao Código Florestal propostas pelo PL 6424/2005, do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) sinalizou nessa terça que pode baixar o nível de proteção ambiental no Acre. Para o estado da ministra Marina Silva, o conselho recomenda uma redução de 80% para 50% da reserva legal nas regiões submetidas ao Zoneamento Ecológico-Econômico Estadual, aprovado em dezembro do ano passado pela Assembléia Legislativa.


As alterações têm como alvo a chamada Zona 1 do ZEE acreano, que ocupando um quarto do estado. É lá onde estão propriedades rurais de todos os portes, projetos de assentamentos e pólos agroflorestais. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a proposta do Conama “pretende levar ao melhor aproveitamento econômico de áreas já degradadas”, e ficariam excluídas Áreas de Preservação Permanente, corredores ecológicos e outras áreas com valor ecológico. Quer dizer, um ótimo desestimulo a recomposição florestal de áreas degradadas".

ONDE PASSA UM BOI, PASSA UMA BOIADA

Prestem atenção na notícia abaixo, copiada do site do Ministério do Meio Ambiente. Significa que o Acre vai inaugurar uma alteração no Código Florestal Brasileiro, uma medida que vem sendo pleiteada há anos pela bancada ruralista.

Aprovada pelo Conama, a proposta foi defendida pelo secretário de Meio Ambiente do Acre, Eufran Amaral, e pela gerente de Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado, Magali Medeiros, dirigente estadual do Partido Verde.

Como no Acre tudo agora é sustentável e perdeu-se a noção do "empate" de Chico Mendes e da participação da sociedade, para a resolução entrar em vigor basta a ministra Marina Silva assiná-la. Segue a notícia:


"O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) vai recomendar ao Poder Executivo que seja autorizada a redução - de 80% para até 50% - da reserva legal dos imóveis que estão na Zona 1 do Zoneamento Econômico-Ecológico (ZEE) do Acre. Ficam excluídas as Áreas de Preservação Permanente (APPs), os sítios e ecossistemas especialmente protegidos, os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecológicos.

A proposta de recomendação foi aprovada nesta terça-feira (27) pelo Conama, em sua 88ª reunião ordinária, em Brasília. A Zona 1 foi definida na Lei estadual nº 1.904, de 5 de junho de 2007, do Estado do Acre, como área de consolidação de sistemas de produção sustentável. A proposta pretende levar ao melhor aproveitamento econômico de áreas já degradadas".

Em tempo: deu na coluna de Paulo Castro, do jornal Diário do Amazonas:

"O ex-secretário-geral do Partido dos Trabalhadores, Sílvio Pereira, deixou São Paulo e fixou residência em Manaus. Sílvio ficou conhecido nacionalmente por ter recebido uma Land Rover Defender, avaliada em R$ 80 mil, da empreiteira GDK Engenharia, com forte atuação na Petrobras. O ‘mimo’ custou a renúncia de Sílvio Pereira da Executiva Nacional do PT. Agora, ele ressurge na capital amazonense atuando como empresário. Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, réu no caso do ‘mensalão’, também está de mudança para Manaus, segundo apurou a Claro&Escuro".

"CHICO DOIDO" DO 4º BIS


Militares do Exército no Acre criaram em junho, no Orkut, a comunidade "O 4bis tem um CHICO DOIDO". É a maneira que encontram para criticar o coronel Francisco Cândido Amata Schroeder, comandante do 4º BIS (Batalhão de Infantaria de Selva) em Rio Branco.

Quem criou a comunidade recomenda a participação de anônimos. E diz que confiem, pois "Orkut é a prova de S2 e até Polícia Federal". Os membros da comunidade estão revoltados com o comandante. Dizem que ele se refere ao Acre e aos acreanos de forma pejorativa até mesmo durante as formaturas.

- O povo deste estado é PIG (porco, em inglês) - diz a comunidade.

Segundo seus participantes, quando Schroeder critica algo, costuma dizer assim:

- Tá um lixo. Padrão Rio Branco.

Num tópico da comunidade, pedem que os participantes citem alguma irregularidade.

- Na 2ª Cia teve uma nota fiscal fria para comprar pão, para a escolinha em que o Juiz da cidade deu o dinheiro e ele nem sabe -afirma um dos participantes.

Falei com o setor de relações públicas para obter manifestação do comandante do
4º BIS. Anotaram meu telefone e prometeram resposta. A tendência é que a comunidade seja eliminada pelo Orkut caso haja denúncias de abuso contra o comandante.

VIA VERDE PARK SHOPPING

O Via Verde Park, que começa a ser construído, será o primeiro shopping de Rio Branco. Trata-se de um investimento de empreendedores, âncoras e lojistas da ordem de R$ 65 milhões. Eles estimam faturamento anual de R$ 100 milhões, a geraração de 1.990 empregos diretos durante a obra e 1.395 diretos e 3.188 indiretos quando o shopping estiver funcionando.

Localizado na Via Verde, o projeto paisagístico e arquitetônico terá 29 mil m2. Ao todo serão 128 lojas, sendo três âncoras, um supermercado, cinco salas de cinema, seis grandes lojas, 115 lojas-satélites, dois restaurantes e 12 lojas na praça de alimentação com capacidade para 440 pessoas. Haverá 1.505 vagas no estacionamento.

Há quatro anos, o grande negócio do Acre era o ensino universitário privado, que vai de vento em popa com as facilidades de empréstimos do Basa. Agora, é a vez do shopping, um empreendimento comercial.

O que não conseguimos consolidar é o projeto de tornar o Acre numa referência mundial na área de serviços de conhecimento baseado na floresta.

A AMAZÔNIA DO MEIRELLES

Mary Allegretti


O indigenista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior ganhou o Prêmio de Meio Ambiente do MMA na categoria liderança individual.

Quando idealizamos o prêmio, Ana Lange e eu, pensamos em pessoas como Meirelles, Raimundo de Barrros, Padre Paulino. Não somente porque são pessoas especiais, com histórias de vida inimitáveis, mas também porque o prêmio poderia fazer diferença na vida delas ou nos projetos que desenvolvem. Pessoas que constróem uma história pelo simples fato de que não poderiam deixar de fazê-lo.


Sou uma pessoa de sorte. Aprendi a conhecer a Amazônia pelas mãos e sabedoria do Meirelles. As fotos são de quando o conheci, em 1978. Na mesinha da janela, na casa do bairro Cadeia Velha, em Rio Branco, onde morávamos todos - Toninho Pereira Neto, Ronaldo Oliveira, Tony Gross e no alto Iaco, acima da TI dos Machineri e Jaminawa, onde Meirelles era chefe de posto.

Na Cadeia Velha ele me ensinou a preparar a pesquisa de campo que fiz no seringal Alagoas, o que observar, o modo do seringueiro pensar, falar, agir. Foi ali que comecei a minha socialização na Amazônia. Eu vinha prá casa, todos dias, feliz com as descobertas que havia feito com as minhas entrevistas para a tese. Encontrava Meirelles, Ronaldo e Toninho às voltas com as emergências nas aldeias - índia com problema de parto que precisava de avião, criança doente, outro que havia tido acidente. Quase sempre me sentia ridícula e inútil. Prá mim tudo se resumia ao prazer intelectual do conhecimento, da pesquisa, da descoberta. Eu não tinha o menor senso de urgência em relação à sobrevivência, não sabia o significado de sobreviver na mata, de enfrentar conflitos de demarcação de territórios, de confronto com grilheiros.

Eles eram iguais a mim, urbanos, vindos de outras partes do país, eu pensava. O que nos fazia tão diferentes? Aprendi ali, na Cadeia Velha, uma lição importante. A sobrevivência das pessoas, em situação de conflito, depende de respostas imediatas, urgentes, das pessoas que estão ali naquele momento e não de políticas, articulações ou contatos. Essas estratégias são importantes, mas não adianta nada se aquelas pessoas não conseguirem sobreviver.

Fui visitá-lo na aldeia, pegamos o barco e subimos o Iaco, uns dois dias, quase perto da fronteira com o Peru. Era a primeira vez que eu ia a uma aldeia indígena, a primeira vez que andava por rios distantes, silenciosos e misteriosos. A primeira vez que saía de casa sem saber onde, quando, como, iria me alimentar ou dormir.

Eu pensava que íamos apreciar a natureza, conversar, trocar experiências, filosofar. Mas Meirelles passava o dia todo pescando ou caçando e de noite salgando o peixe ou a caça. E eu ali, observando, ajudando um pouco - inútil, novamente, na medida em que não sabia caçar, pescar ou cozinhar. Entendi tudo quando chegamos de volta na aldeia. Quando Meirelles distribuiu o que caçou e pescou e ficou com uma parte, entendi tudo. Passaria pela cabeça de alguém, naquela sociedade, sair para o alto rio, por três ou quatro dias, e voltar sem comida para trocar?

Mary Allegretti é antropóloga. Clique aqui para conhecer o blog dela.

UTOPIA PECULIAR

Mary Allegretti


Meirelles é chefe da Frente de Proteção Etno-Ambiental do Rio Envira, na fronteira do Acre com o Peru. Está lá desde 1988. Se alguém pensa que essa é uma opção profissional para quem é indigenista, ou é o lugar certo prá quem não gosta de civilização, não entende as motivações do Meirelles. É claro que eu penso que entendo, o que não quer dizer nada, na verdade. Mas arrisco acertar com base em registros que fiz de algumas de suas conversas.

Visitei Meirelles no Envira em 2000. Depois de uma longa viagem até o Acre, um vôo de avião fretado até a antiga fazenda Califórnia, no rio Envira, um dia quase inteiro de batelão e um outro dia de voadeira, chegamos num paraíso. Meirelles mora numa linda casa de seringueiro que ele modernizou, com água encanada, energia solar, um banho maravilhoso e um freezer com cerveja gelada que não existe. Juliano, meu filho, chegou de Nova York direto em Rio Branco e, de lá, no Envira. Vicente Rios que, junto com Adrian Cowell também ganhou o prêmio Chico Mendes, filmou.

O que quer Meirelles. Acho que ele é o último indigenista. O cara que realmente acredita no que faz e é sincero. Já foi atacado, pelo menos, três vezes. E volta lá não só porque mora lá ou porque lá é o seu trabalho. Ele volta porque ele acredita em um modelo novo de contato.

Meirelles tem a missão de impedir que os brancos cheguem perto da área dos isolados e afastar os isolados do contato com os brancos. E faz isso, no alto Envira, há 20 anos. Meirelles acredita que é possível manter esse grupo sem contato - que ele acha que é da língua Pano - pelo menos, mais dez anos. Com a interdição da área, a retirada de seringueiros onde possam ocorrer conflitos e a instalação de um outro Posto de proteção, dá prá ficar tranquilo. A área onde estão esses índios faz parte de uma reserva já demarcada, cercada de várias outras reservas. Assim, os riscos de contato são muitos pequenos. Se ele conseguir espalhar o boato de que não existe mais ninguém ali, morreram todos, dá prá aguentar mais dez anos.

E daí, o que poderá ocorrer durante esse tempo, ou depois? Meirelles pensa nisso quando deita na rede todas as noites. Durante um tempo, ele viveu muito precariamente ali. Agora, tem um motor, um freezer, dá prá tomar uma cerveja gelada e escutar Vivaldi, no final da tarde, quando termina o trabalho da sobrevivência. A Funai não tem dinheiro, assim, ele tem que garantir sua própria roça, tem que pescar, caçar e cuidar de sua vida sem esperar dinheiro de fora.

É nessas horas que ele fica pensando sobre suas utopias. E se os índios fizerem contato? E se ele pudesse fazer um contato planejado e sem riscos. Primeiro, ele precisaria saber falar a língua, porque fazer contato tendo um outro índio como intérprete, é sempre muito arriscado. Nunca se sabe se o que está sendo traduzido é exatamente o que está sendo falado. Além disso, precisaria de dez anos para ensinar, devagar, que, ao mesmo tempo que os brancos têm o terçado, também deixam o nariz do índio correndo, porque trazem doenças que matam. Ensinar com as categorias da cabeça deles.

Fica imaginando como é a cabeça de um índio sem contato. Sabe que é observado permanentemente e que eles devem se experts a respeito da rotina do Posto e conhecer detalhes da sua vida pessoal. Sente-se observado. Mas não quer contato. Não acredita que seja possível sobreviver a um contato.

E sabe de experiência própria. Meirelles participou da atração dos Guajá, no Maranhão, numa época em que a Funai não tinha procedimentos tão elaborados em relação aos índios "arredios". O contato acontecia quando as ameaças já estavam tão perto, os índios tão acuados que era a última alternativa para tentar evitar o completo desaparecimento do grupo. Ele participou da frente de atração dos Guajá, e essa foi a primeira experiência dele como indigenista, em 1973. Hoje, os Guajá estão completamente aculturados. Existem ainda alguns pequenos grupos sem contato, mas já é um caso de resgate, porque não é mais uma sociedade, mas apenas alguns indivíduos, soltos, para os quais não há outra alternativa.

As roças dos índios sem nome estão muito perto do local onde os seringueiros moram e estes vão caçar muito perto das aldeias. Os conflitos são inevitáveis e é melhor tirar essas pessoas de lá para poder deixar os índios em paz.

E isso é possível, e tem sido ainda mais fácil nos últimos anos. A queda da borracha esvaziou o rio Envira. Desde 1992 a crise da borracha se espalhou e os seringueiros foram para Feijó. Moram na periferia, em completa miséria. Na mata só ficaram alguns velhos que vivem, hoje, como os índios, caçando e pescando prá sobreviver. Em Feijó, nos últimos meses, já mataram três velhos aposentados do Funrural prá roubar a minguada pensão que eles recebem. Do Seringal Canadá prá cima, só ficaram os índios. Da Fazenda Califórnia, já no alto Envira, não sobrou nada. Os Kulina tiraram toda a madeira que havia nos barracões da fazenda e construíram várias casas, cobertas de zinco, na beira do rio. Parece um conjunto habitacional. A crise da borracha ajuda a manter o que ainda existe da sociedade indígena, ao menos por mais algum tempo.

E o que vai acontecer depois? Meirelles acha que se for possível assegurar mais dez anos do jeito como está, terá valido a pena. Mas o destino, depois, será igual ao dos demais: uma integração de alto custo, com mortes por doenças, até que o que sobrar acaba se aculturando.

A não ser que um idiota resolva se arriscar a fazer contato por conta própria, convencido de que o povo que vive no Posto da Funai não representa perigo, um fato comprovado nos últimos vinte anos, desde que Meirelles chegou ali. E se isso acontecer, o que ele gostaria era de poder falar a língua. Perguntei se está aprendendo. Disse que não, mas que essa era uma boa idéia. Poderia começar a se preparar para esse contato e, quem sabe, realizar sua utopia e fazer um contato sem traumas, pela primeira vez na história da humanidade.

Como ele diz, tudo isso parece história de ficção. Um povo que vive desde sempre longe de nós, que nunca se comunicou conosco, que tem uma tecnologia da idade da pedra, em plena passagem do milênio. E apesar de toda a tecnologia que existe hoje no planeta, ainda não descobrimos aquela que poderia ensinar ao outro como dominar o que temos de melhor e evitar as desgraças que vêm junto no pacote. Nem eles têm experiência de lidar com coisas tão maravilhosas como uma espingarda, um motor, luz elétrica, lanterna, fósforo e entender que o fascínio pode significar a morte.

Brasília, 10 de abril de 1998. Atualizado em Curitiba em 27 de novembro de 2007.

Não está na hora de escrever essas histórias com o jeito particular que você tem de contá-las, Meirelles?

Mary Allegretti é antropóloga. Clique aqui para conhecer o blog dela.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

PRÊMIO CHICO MENDES PARA MEIRELLES

Falta o governo do PT livrar as florestas, os isolados e o sertanista da mira dos madeireiros

O sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, chefe da Frente de Proteção Etno-Ambiental do Rio Envira, na fronteira do Brasil com o Peru, é o vencedor da sexta edição do Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente na categoria liderança individual.
O anúncio foi feito hoje, em Brasília, durante a abertura da 88ª Reunião do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).

O Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente foi criado em 2002 pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) com o objetivo de valorizar e incentivar iniciativas de preservação do meio ambiente da Amazônia. Meirelles foi um dos inspiradores da premiação, criada pela antropóloga Mary Allegretti, então secretária de Coordenação da Amazônia do MMA.

Neste ano, concorreram ao Prêmio mais de 60 trabalhos inscritos nas categorias liderança individual, associação comunitária, organização não-governamental, negócios sustentáveis, ciência e tecnologia e arte cultura.

Praticamente todos os estados da Amazônia Legal concorreram ao Prêmio, além de estados de outras regiões do País, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Piauí, dentre outros. O estado do Acre participou com 11 trabalhos, sendo, portanto, o que enviou o maior número de inscrições.

Em relação às categorias, liderança individual foi a mais procurada, com 17 trabalhos inscritos, seguida de organização não-governamental, com 14 inscritos, e arte e cultura, com 13. As demais categorias oscilaram entre três e oito inscrições.

O primeiro colocado de cada uma das categorias receberá diploma honorífico e R$ 20 mil. Os prêmios serão entregues aos vencedores no dia 5 de dezembro, em evento que contará com show do cantor Almir Sater.

- Agora, com o dinheiro do prêmio, terei como pagar minhas dívidas - disse José Carlos dos Reis Meirelles, que é colaborador permanente deste blog.

O sertanista
José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, que se autodefine paulista de nascimento e acreano por opção, ingressou na Fundação Nacional do Índio (Funai) em 1971. Em 1976 foi convidado por Porfírio Carvalho para trabalhar no estado do Acre, onde estava em implantação uma unidade da Funai. Por discordar da política indigenista adotada pelo regime militar, foi demitido da Funai em 1982, sendo recontratado em 1984.

Em 1988 participou da criação da nova política da Funai para os povos indígenas isolados, baseada não na busca do contato e sim na proteção com a garantia de seu direito de permanecerem isolados e com suas terras demarcadas.

Ainda em 1988 mudou-se para as cabeceiras do Rio Envira onde foi responsável pela adoção da nova política de demarcação de terras indígenas para povos isolados. Até 2008 três terras estarão regularizadas: Kampa e Isolados do Rio Envira, Alto Tarauacá e Riozinho do Alto Envira.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

LASA ENGENHARIA E PROSPECÇÕES LTDA

Empresa vence disputa pela prospecção áerea
de petróleo e gás no Acre e suas adjacências




O site Comprasnet disponibilizou o "Termo de Julgamento de Recursos do Pregão Eletrônico" referente ao pregão Nº 00012/2007, para a contratação de 105 mil quilômetros lineares de dados aerogravimétricos e aeromagnetométricos nas bacias do Acre, Madre Dios e Solimões, ou seja, para a etapa da prospecção áerea de petróleo e gás no Estado do Acre e suas adjacências.

A diretoria colegiada da ANP, acompanhando parecer do pregoeiro, decidiu hoje como improcedente o recurso interposto pela Aerosat Arquitetura Engenharia e Aerolevantamento Ltda, empresa que apresentara a proposta de menor valor, mas que fora inabilitada pela Agência, por não possuir habilitação técnica comprovada para a execução dos serviços de gravimetria.

Como resultado dessas decisões, o diretor geral da ANP, Haroldo Lima, adjudicou a empresa Lasa Engenharia e Prospecções Ltda. como vencedora do pregão, por sua proposta de R$ 21.009.999,00.

A se guiar pelas informações da Comprasnet, o contrato ainda irá para homologação e assinatura. Só então é que os trabalhos de prospecção aérea poderão ter início.

Sugere-se colocar o nome "Lasa Engenharia e Prospecções Ltda" nos sites de buscas, para sabermos que tipos de trabalhos essa empresa já realizou e para quais clientes.

Como já foi dito anteriormente, desses R$ 21 milhões e uns quebrados, pouco ou nada ficarão no Acre. Mas o certo é que tempos estranhos estão começando a chegar nesta parte mais ocidental da Amazônia.

Aqueles que desde o início defenderam a proposta de prospecção e exploração de petróleo e gás que se preparem, desde já, para assumir o ônus político de suas posições. E, caso seja confirmada a existência desses recursos nas florestas acreanas, para respeitar a legislação, promover consultas com as populações locais e cumprir suas promessas de que essas atividades não incidirão em terras indígenas (regularizadas ou não) e em unidades de conservação.

Que Deus nos proteja e guarde.

DIRETO DO ORKUT


A repórter de TV Kelly Souza e o deputado federal Fernando Melo (PT).

UM MONSTRO MUITO GRANDE



Fosse no tempo em que o PT e as organizações sociais eram realmente de luta e a imprensa brasileira menos insensata em relação ao que acontece diariamente na Amazônia, o país inteiro já saberia que o líder comunitário João Batista (foto), um dos principais responsáveis pela criação da Reserva Extrativista do Jutaí, no município de Jutai (AM), está desaparecido desde o dia 11, quando saiu de sua casa para vistoriar uma roça comunitária. Suspeita-se que ele tenha sido mais uma vítima da violência contra aqueles que realmente defendem a floresta.

A foto acima foi enviada pelo cientista social Paulo Jesiel para o blog da antropóloga Mary Allegretti junto com um depoimento de João Batista, de novembro de 2004. Vale a pena a leitura. Eis o depoimento:

"O ser humano é um monstro muito grande. Come tudo. O ser humano destrói tudo. Por isso precisa que haja a lei. Foi por isso que Deus criou as leis naturais. As leis naturais dizem o seguinte: Não entra no fogo, porque se tu entrar, tu morre queimado. Não pula na água se não sabe nadar, por tu afunda e morre afogado. Não trepa numa árvore alta e se segura num galho fino, porque o galho quebra, tu cai no chão e se esborracha tudinho. Não fica no meio da chuva com um ferro na mão porque vem um raio e te mata. Então por aí afora, tem muitos detalhes.

Baseados nessas leis que o homem criou suas próprias leis para disciplinar esse grande monstro que é a humanidade. Disciplinar e administrar a humanidade. O ser humano motivado por necessidade, ele destrói o ambiente e degrada a natureza. Por todos os modos, ou por ganância, ou por necessidade. Mas nós temos que entender que a ganância e a necessidade existem outros meios para se substituir. Agora nós temos que ver que nada justifica nós depredar a natureza por esses motivos. Mas o homem é tão perigoso... Que você vê um pobrezinho e diz: "Coitadinho"... Mas ele destrói a natureza. Isso não justifica a destruição da natureza porque ela é lenta e custa a se recuperar e muitas vezes ela não se recupera. Então, é aí que entra a lei, prá proibir o coitadinho e o ganancioso. Porque a humanidade precisa dessa natureza.

Estão sendo criadas na Amazônia muitas unidades de conservação. É lógico que isso é muito importante para o nosso país e para a nossa futura geração, porque se não fizermos isso hoje, amanhã será muito tarde. Porque haja visto, tanto os coitadinhos e os gananciosos estão comendo a floresta irresponsavelmente. Agora, acontece que as populações que têm nessas unidades de conservação, elas fazem parte dessa população de coitados, pobres, deserdados que fazem isso tudo pela necessidade e motivado pela desinformação social e econômica, que eles são. Mas com certeza, é possí­vel sim reverter esse quadro. É claro que não no imediato, mas havendo um investimento social, econômico e educacional é possível a longo prazo reverter esse quadro, transformando esse simples coitadinho, predador, num grande cidadão, cumpridor do seu dever e capaz de contribuir e reconstruir o seu ambiente e valorizar com certeza a mãe natureza. Como fazer isso?

Primeiro. Juntando os indivíduos, haja visto que eles vivem em colocações longe uns dos outros, isolados de tudo. Juntando em comunidades de 5, 10, 15 famí­lias. A partir daí­ se fazer um trabalho de apoio à vida e à cidadania. Como? Melhorando os seus meios de trabalho, as suas ferramentas, investindo na produção da roça, da agricultura, fazendo com que ele saiba produzir produtos extrativistas com qualidade, tal como a borracha, óleo de andiroba, copaí­ba, mel de abelha, e produtos artesanais paneiro, tipiti, tupé, aturá, jamachim, remo, canoa, melhorando a sua qualidade e produtividade agrí­cola de subsistência. Como no plantio de mandioca, farinha de qualidade, plantando cará, macaxeira, banana, cana, ananás, abacaxi, fruteiras, caju, beriba, mari, ingá, limão, enfim, todo tipo de fruteira na comunidade, plantio de hortaliça, chicória, cebola de praia mesmo. Tudo isso, melhora em primeiro lugar a saúde do homem porque ele passa se alimentar com qualidade, comendo frutas e verduras. Com certeza!

Segundo. Investir na educação escolar, de jovens adultos e crianças, para que ele possa descobrir os valores da arte da matemática e das letras e assim ele possa administrar com resultado a sua produtividade. Com isso, gerar renda sustentável para a sua famí­lia.

E terceiro, investir nos conhecimentos dos valores ambientais que o homem tem ao redor na sua comunidade. Investir na preservação dos lagos, que é um dos maiores valores que o comunitário tem, pois é a base alimentar de suas famílias. O peixe. O produto do lago. Investir nos conhecimentos da preservação dos animais das florestas, dos chupadores, nos barreiros, nos igarapés, pois são criadores dos animais da floresta. Investir nos conhecimentos dos valores que tem a floresta para a biodiversidade e em especial para o homem, pois a árvore é o verde, e sem o verde ninguém veve. Haja visto que é do verde da floresta, do verde, da árvore, é que o homem tem o alimento de toda a sorte, toda a matéria-prima que ele precisa, a madeira, e toda a oleoginosa para o biodiesel, a medicina e o cosmético. E a partir de que o homem da floresta passa a descobrir esses valores da floresta, possa ele mudar de mentalidade e comportamento, passando a contribuir e preservar o meio ambiente nosso de cada dia e transformando-se num grande colaborador da mãe natureza".

A DIFÍCIL ARTE DA TRANSLUCIDEZ

José Carlos dos Reis Meirelles


Nestes últimos dias, por conta de uma hérnia inguinal esquerda –os nomes de doenças e acidentes médicos são sempre pomposos, com ares de nomes de reis ou arcebispos-, ando quieto em casa de amigos, nesta Rio Branco que se moderniza em barulho, trânsito agitado e confuso, parques da Maternidade e do Tucumã e Mercado Velho remodelado, lindos! Só não achei aqueles donos de lojinhas que tinham tudo, o povo do Barriga Cheia, por exemplo. Coisa de quem faz muito tempo que não anda por aqui, meio assustado em ver gente apressada andando como paulistano pelo centro da cidade.

Escutando os barulhos e vendo o movimento, como num ato de reação, me transporto para as beiras do alto Envira ou para uma aldeia de índios qualquer vizinha ao Xinane. Sentado num toco de pau-de-lenha vejo as mulheres assando macaxeira e curimatã gorda, umas fiando algodão e outras tecendo batinas. Alguns homens que estão em casa ajeitam flechas de matar peixe, outros furam contas para o futuro colar, um ou outro tem os olhos perdidos na lentidão das águas do rio. As crianças fervilham ao redor das casas em suas traquinagens de meninos e meninas aprendendo a vida. Mas ninguém tem pressa.

Nós corremos porque somos uma sociedade competitiva, onde o ideal é ser mais, é ter mais, é tirar a melhor nota, ser classificado em primeiro lugar. A maioria dos índios vive em sociedades igualitárias, onde os indivíduos buscam ser iguais, portanto livres. Lição aprendida lendo um livro de meu amigo e brilhante antropólogo Mércio Gomes: "A liberdade absoluta não existe. Ela é limitada por relações sociais, idade, sexo e outro fatores. Por isso ela é uma busca. E estes povos igualitários que buscam permanentemente a liberdade não tem presente, só futuro. O hoje é apenas uma circunstância que deve ser superada para se chegar ao amanhã".

E arremato: estes povos sabem que o hoje vai ter a mesma duração do ontem e no amanhã todos chegarão juntos. Então, para que a pressa? E o que diabos a translucidez tem a ver com isso? Essa propriedade que tem algumas matérias atravessadas pela luz. Quanto menos refletem luz mais se tornam invisíveis. Como o ar ou a água, que só em grandes quantidades e vistos de longe, tomam tons de azul.

Descobri que quando nos metemos no meio dos índios, com a mochila cheia das melhores intenções (que abrem os caminhos do céu e asfaltam a autopista pro inferno), no intuito de ajudá-los, nos esquecemos que são povos igualitários e começamos a brilhar. Na aldeia, por vício civilizado de superioridade, e na cidade por ser o “diferente” que deixou a civilização para se meter no exótico, no desconhecido.

Isso é charmoso e dá até medalhas, títulos e prêmios. Mas o camarada volta pro mato brilhando mais que estrela de primeira grandeza, arrogante que só jacu choco. E atrapalha todo o ritmo da aldeia, ofusca a visão dos índios, que acabam tropeçando em obstáculos que antes reconheciam, mas não vêem mais, por excesso de luz.

Irradiar luz é muito gostoso, dá ibope, grana e convite pra festa. Aqui, na nossa aldeia. Lá na aldeia dos índios é melhor, quem é de fora, começar a treinar a difícil arte da translucidez. Ser transparente, quase invisível, observar sem incomodar. É a única maneira de aprender alguma coisa com eles. Deixar a luz passar por nós e iluminar o caminho do seu amanhã talvez seja a única maneira de sermos convidados a caminhar juntos e, quem sabe, no futuro, nos tornar livres.

O sertanista José Carlos dos Reis Meirelles chefia a Frente de Proteção Etno-Ambiental do Rio Envira, na fronteira do Brasil com o Peru. A foto é uma visão parcial de Rio Branco na noite de ontem, a partir da janela do avião.

HELOÍSA HELENA

Mensagem da ex-senadora Heloísa Helena ao blog e aos acreanos

domingo, 25 de novembro de 2007

GRANDES REPORTAGENS - AMAZÔNIA

O Estado de S. Paulo traz na edição de hoje a revista "Grandes Reportagens - Amazônia" com o resultado, segundo o jornal, de três meses de expedições pela floresta e por cidades da região. Soube que, por enquanto, é uma iniciativa para medir a aceitação de leitores e anunciantes. Para tanto, nada melhor do que se valer do apelo que detém a Amazônia. Se colar...

Dei uma espiada rapidamente e constatei na reportagem "Era uma vez a cana-de-açucar...", de José Maria Tomazela, em relato a partir de Apuí (AM), que a Amazônia já produz 20 milhões de toneladas de cana por ano. A reportagem informa que, no Acre, a Álcool Verde pretendia produzir 45 milhões de litros do combustível a partir de maio do ano que vem.

- O empreendimento, que custou R$ 60 milhões, surgiu após a falência de um projeto governamental que originou, nos anos 80, a Alcobrás. Parte de seus 11,5 mil hectares está ocupada por assentamentos, mas os agricultores viraram parceiros e produzem a cana processada pela usina - afirma o jornal.

Como ninguém da revista Grandes Reportagens visitou o Acre, o Estadão presta uma desinformação aos seus leitores. É sabido que a usina não processou até agora nenhuma cana e enfrenta o Ministério Público do Acre por causa de sérios problemas com a legislação ambiental.

Esse tipo de publicação costuma ser um apanhado requentado de informações disponíveis em bancos de dados e a realidade acaba permanecendo fora de foco. Vide a exploração criminosa de madeira na fronteira do Brasil com o Peru, que, apesar da gravidade, não consegue espaço na pauta da suposta grande imprensa brasileira.


A revista traz um artigo assinado pelo presidente Lula cuja leitura é recomendada aos petistas do governo da floresta que defendem desesperadamente a usina Álcool Verde para a produção de etanol no Acre.

- Com regulação e fiscalização, o etanol e o biodiesel criarão oportunidades inéditas de negócios e empregos, de combate à pobreza e à desigualdade. Um zoneamento agroecológico definirá áreas para o cultivo da matéria-prima dos biocombustíveis, e o bioma Amazônia não estará entre elas. É um exemplo de como não repetiremos na Amazônia o passado, quando o imediatismo e ações desconectadas geravam passivos enormes, muitos do quais ainda insepultos - afirma Lula.

A Álcool Verde continua insepulta.
Leia na íntegra a revista Grandes Reportagens - Amazônia.

GENEBALDO FREIRE

"Não há a menor possibilidade de
desenvolvimento sustentável, nem teoricamente"



Doutor em Ecologia, analista ambiental do Ibama e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB), Genebaldo Freire esteve no Ceará ministrando a palestra ´Desenvolvimento Sustentável - Arrogância e Utopia´. Entrevistado pela repórter Natércia Rocha, do Diário do Nordeste, Freire fala sobre mitos e fatos do futuro do ser humano na Terra.

´Desenvolvimento Sustentável – Arrogância e Utopia´. O que quer dizer?
Significa que, mantidos o cinismo das formas de produção, crescimento populacional, aumento do consumo e políticas totalmente afastadas da relação ser humano-ambiente, não há a menor possibilidade de desenvolvimento sustentável, nem teoricamente. Esse termo é extremamente arrogante. O que precisamos é de ´Desenvolvimento de Sociedades Sustentáveis´. Essa história de ´salvar o planeta´ é bobagem. Primeiro porque o planeta não está em risco, segundo porque não teríamos condições de salvá-lo, nem ele precisa disso. O planeta sempre esquentou, passou por períodos de glaciação e vai continuar sua escalada. Daqui a 7,5 bilhões de anos, o sol apaga, congela. Ele tem seus próprios mecanismos de regulação.

Então a Terra não está em risco como se propaga?
O que está em risco é a sociedade humana, conceitos de bem-estar, democracia, respeito ao próximo, organização social. Isso está ameaçado porque tivemos uma educação que nos remete a sermos consumidores úteis e não a pensarmos a relação com o ambiente. Somente nos últimos tempos, com o aquecimento global, percebemos a necessidade de mudanças radicais em nosso estilo de vida.

E o aquecimento global?
A Universidade de Columbia publicou, em setembro, o índice de vulnerabilidade de 100 países. Lugares que estão mais em cima, como Finlândia, Islândia, Noruega e Dinamarca, estão menos vulneráveis. Mas o Japão, que é uma ilha, está em sexto lugar na lista. Por quê? Porque há mais de 15 anos eles investem em adaptações para se ajustar ao aquecimento global. A Holanda, que tem 57% de suas terras abaixo do nível do mar, está em 14º lugar. Países como Estados Unidos, Alemanha e França estão investindo nisso porque sabem o que pode acontecer nos próximos 10, 20, 50 e 100 anos. O Brasil está em 56º lugar em vulnerabilidade. Isso mostra que não temos alta governança.

Clique aqui para ler a entrevista completa.

sábado, 24 de novembro de 2007

CARTA ASHANINKA

Associação Ashaninka do Rio Amônia (Apiwtxa), no Brasil, e Asociación de Comunidades Nativas de Ashanínkas-Ashenínkas de Masisea y Callería (Aconamac), no Peru, denunciam mais uma vez a exploração madeireira na fronteira dos dois países e pedem a intervenção da Organização Internacional do Trabalho

"Ao Senhores Representantes de Instituições
Governamentais,
Não Governamentais e
Organizações Indígenas do Brasil e do Peru


Nós, Asheninka da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia (Comunidade Apiwtxa) e da Asociación de Comunidades Nativas de Ashanínkas-Ashenínkas de Masisea y Callería (ACONAMAC), vimos, por meio desta, informar e manifestar a nossa mais completa oposição à exploração madeireira que afeta diretamente todos os povos da fronteira Brasil-Peru, sobretudo as nossas comunidades que se localizam na região da linha de fronteira Brasil-Peru.

1- No lado brasileiro da fronteira, nós estamos, desde 1999, junto à Justiça e a vários órgãos do governo brasileiro tentando impedir que nossa fronteira seja invadida brutalmente por empresas madeireiras autorizadas pelo Governo peruano para exploração comercial em área de concessões florestal e em terras indígenas peruanas. Nós temos uma política que é proteger a nossa biodiversidade para garantir a nossa tradição, utilizar os recursos naturais sem causar desequilíbrio ambiental, que deve ficar por conta do processo natural do Planeta. A nossa vida sempre foi assim, mas não sabemos mais até quando vamos suportar.

2 - No lado peruano, ainda hoje temos os mesmos problemas que aconteceram no Brasil há vários anos atrás, os povos indígenas submetido a regras dos madeireiros, sofrendo violências e sendo alvo de enganação. Hoje, muitas comunidades vêem suas lideranças tradicionais trocadas por novos representantes, que são preparados por empresas somente para usar seu povo como mão de obra barata e fácil de enganar, para tirar proveito. Como exemplo, temos duas terras indígenas no lado peruano, Sawawo e Nova Shawaya, próximas ao marco 40, que firmaram convênio com a empresa Forestal Venao [saiba mais aqui] para explorar em suas terras vários tipos de madeiras nobres e ganhar uma porcentagem. Legalmente, as comunidades estão contratando os serviços da empresa e assumindo as conseqüências negativas que acontecem no âmbito local, e nunca aparece a realidade em que eles vivem, ganham uma pequena parcela do lucro, ficando este para os representantes comunitários que gerenciam de acordo com suas políticas. Na realidade, estão vitimando pessoas e povos com a violação de seus direitos. A Forestal Venao não é a única empresa, existem outras, como RuBem, Cabrera e outras, em que o trabalho é muito mais complicado e mantem um povo tradicional em um sistema de escravidão. Queremos uma intervenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

3 - Também temos visto e presenciado vários problemas de alcoolismo. O alcoolismo vem causando a desestruturação sociocultural do nosso povo, e gera pessoas que passam a ser destruidoras de suas próprias tradições e dos recursos naturais. O pouco dinheiro que ganham serve apenas para se prejudicar cada vez mais e ser mais dependente da exploração. Esse é um ciclo vicioso fomentado e imposto pelas empresas.

4 - No lado peruano, vários povos, assim como os Asheninka, há décadas vêm sendo usados para as frentes de exploração dos recursos naturais, muitas das vezes deixando suas terras de origem e acompanhando as empresas, eliminando vários conhecimentos do povo com relação à natureza e a nossa forma própria de utilizar os recursos naturais. Nessa luta, muitos povos também estão sendo eliminados. É o caso dos índios "isolados", as populações de índios em isolamento voluntário, que estão sendo mortas, sem que ninguém peça por eles. Nós presenciamos um fato de conflito entre nosso povo no Alto Juruá, no ano de 2003, onde tivemos depoimentos de Asheninka comentando que o conflito foi causado pelas empresas madeireiras, que expulsou os isolados de suas terras, matando vários deles.

5 - Também temos informações que grupos de exército Asheninka foram criados na época do Sendero para proteger o povo e hoje também são usados pelas empresas madeireiras, através das comunidades conveniadas, para vigiar seus trabalhos.

6 - O trabalho da empresa Forestal Venao, com duas comunidades aqui vizinhas à nossa, ganhou a certificação do padrão FSC. Nos perguntamos hoje se essa certificação foi dada para certificar o extermínio de várias espécies, florestais e animais. Também nos perguntamos se o plano de manejo certificado foi para invadir áreas da linha de fronteira e prejudicar diretamente o país vizinho e seus recursos, se foi para desrespeitar a faixa de 2 km (dois quilômetros) do trato de respeito à fronteira. Precisamos ver isso com mais atenção e mais detalhe, pois nessa região vivem seres humanos que precisam ser respeitados nos seus direitos. Também as Nações Unidas precisam ter conhecimento desse fato, e fazer valer o direito de cada povo ter direito à sobrevivência, não só o direito do homem sobreviver, mas o direito à proteção dos recursos naturais de que depende para viver, os rios, a flora e a fauna, que podem garantir, por fim, a vida do Planeta por mais tempo.

7 - No plano de exploração da Forestal Venao tudo parece perfeito, mas, na prática, a sua forma de exploração só tem gerado o extermínio de milhares de espécies e a poluição das águas, algumas das quais correm para o território brasileiro. Mais recentemente, começaram a chegar as concessões minerais e petrolíferas, que para nós serão uns dos maiores problemas e que precisam ser discutidos. E não aceitamos que as empresas tenham tratamento de vítimas, como é comum nos debates, onde colocam as mesmas como importantes e produtivas para o desenvolvimento da economia e os povos indígenas como improdutivos e atrasados.

8 - Solicitamos a pronta manifestação das instituições endereçadas, e as convocamos para uma reunião na fronteira o mais rápido possível.

Leia mais no blog Apiwtxa, dos ashaninka.

PRECE DE AMAZONENSE EM SÃO PAULO

Poema inspirado em Carlos Drummond de Andrade

Milton Hatoum




Espírito do Amazonas, me ilumina,

e sobre o caos desta metrópole,

conserva em mim ao menos um fio

do que fui na minha infância.

Não quero ser pássaro em céu de cinzas

nem amargar noites de medo

nas marginais de um rio que não renasce.

O outro rio, sereno e violento,

é pátria imaginária,

paraíso atrofiado pelo tempo.

Amazonas:

Tua ânsia de infinito ainda perdura?

Ou perdi precocemente toda esperança?

Os que te queimam, impunes,

têm olhos de cobre,

mãos pesadas de ganância.

Ilha seres rios florestas:

o céu projeta em mapas sombrios

manchas da natureza calcinada.

Tento abraçar a imagem fugidia

de um barco à deriva no mormaço

com os mitos que a linguagem inventa.

Espírito amazonense, tímido talvez,

e desconfiado para sempre,

não me fujas em São Paulo,

nem me deixes à mercê

dos pesadelos que incendeiam o mundo.

Se o Brasil te conhecesse

antes do fim que se aproxima,

salvaria tua beleza? Teus seres desencantados?

Entenderia a ciência tua infinita riqueza?

Abre a janela de um barco

ante meus olhos,

e que ao teu profundo rio conduza

a memória de línguas estranhas

e tantas histórias ocultadas:

Amazonas.

São Paulo, Manaus, setembro de 2007

Poema publicado hoje na revista Grandes Reportagens - Amazônia, do Estadão. Clique na foto acima, que tirei num amanhacer inesquecível no Amazonas.

IF YOU WERE A SAILBOAT

Katie Melua

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

ALGO MAIOR QUE O DINHEIRO

Walmir Lopes

Altino, observei seu desalento em relação à continuidade do Blog, além de um leve ressentimento quanto a ser ignorado pela assessoria do Executivo acreano, quando não é convidado sequer para coletivas.

Considerando seu profissionalismo e a qualidade de seu trabalho, só nos ocorre a existência de alguma pressão exercida, função de temores ocultos, sobre essa assessoria. Talvez pelo temor do imenso poder de fogo de seu Blog, que alcança a massa em tempo real.

Talvez pelo temor de não conseguirem entender que é necessário algo bem maior e mais valioso que o dinheiro para se fazer um jornalismo honesto e linkado a ideais nobres.


Talvez pelo temor de não conseguirem entender como se faz jornalismo sem se contaminar com editoriais infelizes, sem maquiar de matérias jornalísticas as matérias publicitárias, sem induzir o leitor a erros de avaliação, através de estelionatos informativos e sem submeter-se a vis bajulações através de “editoriais” e “reportagens”.

E talvez não seja nada disso, mas apenas o fato de você não estar cozinhando no mesmo caldeirão.

Portanto, caro amigo, como leitor assíduo, sou dos que esperam a continuidade do Blog, e torço para que o governador Binho Marques democratize a informação, não permitindo mais restrições a jornalistas de seu naipe. Esquivando-se de criar uma Imprensa do Poder, inimiga da democracia, filha da tirania e irmã da corrupção.

Enfim, creio que toda a sociedade torce para que o poder econômico e político não transformem o Acre numa fábrica de ícones do jornalismo decadente.

Quanto ao Blog, em que pesem todas as dificuldades, tenho a firme convicção que não haverá solução de continuidade, pois como frisei linhas atrás, ele é regido por algo maior que o dinheiro.

Grande abraço.

O leitor Walmir Lopes é empresário em Olinda (PE).

MENINO DORME NA LIVRARIA


Clique na imagem

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

SÉRGIO ABRANCHES


O cientista político Sérgio Abranches não esconde o pessimismo em relação à COP-13, a 13ª conferência dos países signatários da Convenção do Clima, que acontecerá entre 3 e 14 de dezembro, em Bali, na Indonésia, e deve marcar o início dos debates da segunda etapa do Protocolo de Kyoto, a partir de 2012.

- Dentro das Nações Unidas não existe a possibilidade de você esperar um acordo que seja suficiente do ponto de vista do consenso científico a respeito do que precisa ser feito. Aquilo é um sistema muito grande de votos e todos os países têm poder de veto porque a decisão tem que ser unânime. É impossível que dê alguma coisa - avalia.

Sérgio Abranches participou nesta tarde do workshop "Mudanças Climáticas: o cenário brasileiro, a COP-13 e a cobertura da imprensa" como um dos três palestrantes da mesa sobre "A COP-13, as Negociações Internacionais e a Proposta Brasileira".

Em relação à Amazonia, o diretor do site O Eco disse que "está começando a cair a ficha" da sociedade sobre a importância da região e do governo em perceber que o que fez foi insuficiente.

- O retorno do desmatamento esse ano mostra que não é só com medidas paliativas que a gente vai resolver o problema - acrescenta Abranches, que prega a necessidade de um pacto nacional para zerar o desmatamento na Amazônia e permitir a industrialização da região usando ciência e tecnologia.

Sérgio Abranches disse que é leitor deste blog e que em breve fará uma viagem de observação ao Acre, pois pretende escrever sobre o Estado. Gravei a entrevista (abaixo) durante o intervalo da palestra dele.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

FOGO DO SENHOR


Deu na seção Salada Verde do site O Eco:

"No mundo da política, sempre é bom largar na frente. Adesivos da campanha "Marina Silva presidente" têm sido distribuídos pelo menos desde setembro, quando ocorreu o 2º Encontro Nacional dos Povos das Florestas em Brasília. Inclusive, entregues por um assessor direto da suposta ministra-candidata. O material também foi espraiado no Encontro Nacional de Colegiados Ambientais - Enca, em outubro, também no Distrito Federal. Embalando a iniciativa, estariam membros afoitos do partido da estrela vermelha e militantes com tendências religiosas. É o movimento marinista em ascenção".

VERDADE SOBRE GÁS E PETRÓLEO NO ACRE

Colunista Luis Carlos Moreira Jorge, de A Gazeta, diz em nota que o senador Tião Viana (PT) revelou aos moradores em sua última visita ao município de Assis Brasil que os levantamentos aéreos para futuras sondagens petrolíferas estão em curso naquela região.

Na verdade estão preparando terreno para a futura prospecção de petróleo e gás no Acre. Mas não é verdade, como disse o colunista, que os levantamentos áereos para futuras sondagens já estejam em curso.

O pregão levado a cabo pela ANP em 23 de outubro não foi ainda concluído. A empresa que apresentou a menor proposta (Aerosat Arquitetura Engenharia e Aerolevantamento Ltda), de R$ 20 milhões, teve sua proposta inabilitada e entrou com recurso, aceito pela ANP.

A segunda melhor proposta, apresentada pela Lasa Engenharia e Prospecções Ltda., de R$ 21 milhões, foi habilitada pela ANP. A Lasa entrou com "contra-razão", tentado desqualificar os argumentos da Aerosat em seu recurso.

Apesar da Ata do Pregão ter definido o dia 14 de novembro passado como data limite para o registro da decisão, aparentemente esta ainda não foi emitida ou oficializada.

Sem contrato fechado, portanto, como podem os levantamentos estar em curso no Alto Acre? Por ora, continua em pauta a decisão sobre qual empresa ganhará os R$ 20 milhões, dos quais pouco ou quase nada, nesta etapa inicial, ficarão no Acre.

Detalhes do recurso e da contra-razão impetrados pelas empresas podem ser vistos em ComprasNet. A Ata do Pregão pode ser obtida também no site da Comprasnet. A leitura desses documentos é de crucial importância para os acreanos, tendo em vista que a transparência e a discussão no plano local, não tem sido atitudes privilegiadas pelos defensores da proposta de prospecção de petróleo e gás, nem pela ANP.

Não podem é faltar com a verdade, novamente, visando preparar terreno para as futuras atividades e, de quebra, engrandecer o senador que desde o início procurou colher os louros de uma atividade promovida pela ANP, que, caso seja concretizada, trará graves conseqüências sociais e ambientais para as florestas do Estado e para as populações tradicionais que nelas vivem.

LÍDER SERINGUEIRO DESAPARECIDO

Leio no blog da antropóloga Mary Allegretti que "é preciso alertar as autoridades para que comecem uma busca imediata do paradeiro do João Batista, presidente da Associação dos Produtores Rurais de Jutaí (AM), antes de qualquer outra providência".

Eis o relato distribuído ontem por Manoel Cunha, presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros:


"Companheiros e companheiras,

O Estado do Amazonas passa por uma situação dramática. Hoje faz sete dias que João Batista, presidente da Associação dos Produtores Rurais de Jutaí está desaparecido. O mesmo foi visto pela última vez saindo de sua casa às 13:00h do dia 11 deste mês, para olhar uma roça comunitária. E até o presente momento não se sabe o paradeiro dele. Todas as possibilidades de procura foram esgotadas e não foi encontrado nem vivo e nem morto.

O município de Jutaí passa por uma série de problemas políticos, como: processo de cassação do prefeito, candidatura própria do PT, que está com grande chance de vencer a eleição em 2008, grande tráfico de drogas na cidade, apreensão de grandes invasores da Reserva Extrativista do Jutaí, entre outros.

João, por ser uma das maiores lideranças do município, está sempre à frente das denúncias, dos enfrentamentos daquela região. Sempre foi visto como pivô central na luta dos movimentos locais. Por estas e outras razões não se descarta a possibilidade de ter sido assassinado como forma de sufocar a luta dos movimentos locais.

O CNS e outros parceiros estão mobilizando uma ida em Jutaí para fortalecer a luta dos companheiros e prestar homenagem a João, com um grande ato público, no sentido de tornar pública a luta de João nas questões ambientais, sociais e organizativas para o município e todo o Amazonas.

Convido todos e todas para fazer parte desta família no sentido de fazer justiça à memória de João e alegrar nossos irmãos para que a luta continue mais forte em busca de dias melhores às populações das florestas e segurança das nossas lideranças.

Manoel Cunha
Presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros
Carauari, Amazonas, 20.11.2007"

CANA-DE-AÇÚCAR NO ACRE

É difícil entender o que se passa na cabeça dos petistas do Acre, supostos aliados da ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, quando fazem qualquer coisa para tentar deixar a usina Álcool Verde imune à legislação ambiental num empreendimento para a produção de etanol no Estado.

Embora não se possa levar muito a sério as declarações dele a respeito do assunto, o presidente Lula negou ontem que o governo incentive a produção de biocombustível e cana-de-açúcar na Amazônia.

- Não vamos permitir a introdução de biocombustível na Amazônia. E não tem nenhum sentido produzir cana-de-açúcar lá - afirmou.

Os desenvolvimentistas do PT acreano preferem contrariar Lula e Marina Silva. E é por isso que organizações não-governamentais acusam Estados e o governo federal de desenvolverem ações que promovem desmatamento e introdução de novas culturas na Amazônia.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

MUDANÇAS CLIMÁTICAS


Outra vez em São Paulo, onde permanecerei até domingo como convidado do workshop para jornalistas "Mudanças Climáticas: o cenário brasileiro, a COP-13 e a cobertura da imprensa". Até sábado estarão por aqui mais de cem jornalistas de TVs, rádios, jornais, portais e mídia especializada envolvidos com a cobertura do tema e assuntos correlatos, especialmente os que estão comprometidos com a cobertura da 13a Conferência das Partes (COP-13) da Convenção do Clima.

O evento é organizado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), com o apoio do Programa de Comunicação em Mudanças Climáticas da Embaixada do Reino Unido no Brasil. Ele será aberto com uma vídeoconferência do climatologista Carlos Nobre, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE), sobre mudanças climáticas e o desenvolvimento do Brasil.

Em seguida haverá uma aula introdutória sobre modelagem climática, ministrada por José Marengo, pesquisador do mesmo CPTEC/INPE, responsável pela coordenação do estudo científico que aponta os cenários climáticos futuros para o Brasil, lançado em fevereiro deste ano. O workshop prosseguirá com mesas redondas sobre temas específicos com palestras de diversos atores e instituições, cujo conteúdo será debatido em plenária pelos participantes, no local do evento.

O objetivo é ampliar o conhecimento da imprensa sobre mudanças climáticas no Brasil, apresentar a agenda da COP-13 da Convenção do Clima, que acontecerá de 3 a 14 de dezembro de 2007, em Bali, na Indonésia, e oferecer dicas práticas para aprimorar a cobertura do evento, além de debater os resultados da análise da cobertura da imprensa brasileira sobre o tema entre 2005 e 2007, elaborada pela Agência Nacional pelos Direitos da Infância (ANDI).

O local do evento é um hotel na Alameda Santos, uma das principais ruas do Jardim Paulista, de onde avisto parte das torres da cidade neste dia de calmaria no trânsito por conta do feriado do Dia da Consciência Negra. Um alento para quem, no Acre, não é convidado sequer para entrevista coletiva de governador.

Em tempo: a respeito de mudanças climáticas, vale a pena a leitura do editorial "Hora de baixar a temperatura", na edição de hoje do Jornal do Brasil. O IEB lançará o livro "Quanto mais quente melhor?", na quinta-feira, às 19h30, na Livraria da Vila, na Alameda Lorena, como parte da programação do workshop.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

IMPRENSA DEFENDE CRIME ORGANIZADO

Deputado Edvaldo Magalhães, presidente da Assembléia Legislativa do Acre, questiona o papel da mídia estadual no caso Roberto Filho


Meio mundo e quase toda a imprensa se acovardaram no Acre aos pés do ex-deputado Hildebrando Pascoal quando o mesmo sentenciava o destino de suas vítimas. A banda podre da imprensa sobrevive e tem assumido publicamente a defesa do ex-deputado estadual Roberto Filho, que foi conduzido ao nosso presídio de segurança máxima junto com o filho dele, Bebeto Júnior, após negociarem com um pistoleiro as mortes de um juiz, uma promotora e um oficial de justiça, que é suplente de deputado estadual.

- Quem conhece o ex-deputado Roberto Filho sabe que ele é explosivo e, ao mesmo tempo, violento e truculento. No entanto, nada justifica a ação de alguns promotores de Justiça... A defesa do ex-deputado não pode fazer nada, uma vez que não teve, até agora, acesso ás provas - afirma, por exemplo, o editorial do jornal O Rio Branco, o diário mais antigo do Acre, a respeito da ação do Ministério Público e da Justiça, que se basearam em gravações de áudio e vídeo para mandar pai e filho para a prisão.

Jamais se viu a imprensa acreana partir em defesa das dezenas de vítimas das explosões de violência e truculência do ex-deputado, um ex-sargento da Polícia Militar que se aposentou como sendo cego, embora dirija automóveis e costume apontar a mira de sua arma para quem bem entende. Até o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil do Acre, Florindo Silvestre Poersch, tem sido mostrado pela replicante banda podre da imprensa acreana como defensor do líder de uma célula familiar criminosa supostamente injustiçado.

Há menos de 10 anos, o deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), atual presidente da Assembléia Legislativa do Acre, se destacou como colaborador no grupo de pessoas e instituições que contribuíram pesadamente para desarticular e mandar para a cadeia o crime organizado que tomava conta da vida das pessoas no Estado.

Magalhães voltou a ter papel decisivo na articulação que culminou com a prisão de Roberto Filho, da qual participaram as cúpulas do Judiciário, Legislativo, Executivo e do Ministério Público. Ele está surpreso com o papel assumido pela mídia acreana.

- Agora, quando surge a tentativa numa célula menor de a cobra botar a cabeça do lado de fora, fico impressionado como alguns emprestam a pena e os espaços de comunicação pública para fazer a defesa da institucionalização do crime. As pessoas que têm boas causas, amor ao Acre, deveriam se juntar mais uma vez para impedir qualquer tentativa de insituticionalização do crime, que, neste caso, como Poder Legislativo, a gente não vai permitir - afirma o presidente da ASsembléia do Acre

Assista ao vídeo da entrevista de Edvaldo Magalhães ao blog, sem edição.



Clique aqui para ler mais sobre o caso Roberto Filho.