segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Mil Acres (Beto Brasiliense)



O poeta e compositor Beto Brasiliense explica:

— A canção Mil Acres é de 1983. E foi composta para dar nome ao show produzido por Rubens em que me despedia do Acre paradoxalmente já que a canção diz "ficar por aqui", mas também "não adianta sair". A apresentação foi em dois dias, no palco do Cine Acre, com muita chuva à noite num fim de semana. Era novembro e viajei para Brasília em dezembro. Fechava um ciclo de canções climáticas onde a minha atenção era a terra, pois acre para mim soava como medida do chão. Exemplos: "Verão no Acre/É diferente/Gelado e quente/ Se o vento soprar/Lá do poente/É tanto frio que faz/ Bater os dentes/Se o vento soprar lá do nascente/O sol vai brilhar/E o povo/Ficar contente." Ou "A lua apareceu/Toda avermelhada/É que a mata incendiada/Lança sua cor no ar/Me lembrei de você/Que não dança/Separada do seu par/Você diz que não pode viver/Sem verde espaço pra correr/Sei que não é bem isso." Esta última dediquei a Maués e Síglia. E a anterior uma brincadeira com o frio surpreendente num lugar tão quente como todo o Norte.

Em tantos mil hectares
Milhares de acres
E a terra é de quem
Vamos seguindo pro espaço vazio
Com as matas queimadas
E as patas dos bois
Na beira dos rios

Nas cabeceiras se fala
De tribos, índios arredios
Que só se vê quando sonha
Nas noites de frio
Estradas bem asfaltadas
Arroz cor-de-rosa
E leite azul
Muita comida enlatada
E tudo o que é útil
Primeiro de abril

Vamos voltando pro espaço vazio
Com as matas queimadas
E as patas dos bois
Na beira dos rios

O por-do-sol multiplica
Cores violentas
Laranja e violeta
Muita poeira e fumaça
Anúncios do fim
Não tem segredo
Não adianta ter medo
Não adianta sair
Acreditar em mil acres
Na força dos fracos
Ficar por aqui

Acreditar em milagres
Na força dos fracos
Ficar por aqui

domingo, 24 de setembro de 2017

Açaí branco no quintal

Trouxe as sementes de Cruzeiro do Sul (AC). No quintal de minha mãe o açaizeiro ficou mais viçoso e produz cachos exuberantes. 






quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Resistem à ideia de que os geoglifos do Acre foram construídos por povos indígenas

Por Pirjo Kristiina Virtanen e Sanna Saunaluoma 

Geoglifo Água Fria, em Porto Acre, acesso pela Vila Pia, na BR-317. Foto: Diego Gurgel
No tempo em que construíram as geoglifos no Acre e nos Estados mais próximos, os povos indígenas viviam sem fronteiras criadas por governos e habitavam áreas amplas. Já tinham seus centros e lugares de encontros interétnicos.

Quando foram construídos os geoglifos, a economia e a organização social eram diferentes de hoje. Por isso, as paisagens onde residem os povos indígenas têm mudado radicalmente desde os tempos de antes da chegada de não-índios, brasileiros e estrangeiros.

Na época, quando usavam os geoglifos, que são verdadeiras obras monumentais de engenharia, havia vários povos indígenas que hoje desconhecemos. Registros históricos mencionam nomes de grupos que já não existem.

No Acre, Amazonas e Rondônia, a multiculturalidade tem uma longa continuidade. Mesmo que muito tempo se tenha passado desde as construções dos geoglifos, para os povos indígenas atuais as formas destes e as cerâmicas achadas em seu entorno não são estranhas. Também as formas dos geoglifos. O nosso motivo ao abordar estas questões é valorizar os patrimônios culturais indígenas.

Os desenhos de geoglifos falam sua língua própria. Eles mostram que o uso da terra e do espaço foi detalhadamente planejado.

As composições de geoglifos revelam algo especial em matéria de pensamento e valores dos habitantes indígenas, que foram seus construtores.

As formas de geoglifos circulares, retangulares, e semirretangulares são formas geométricas comuns na arte indígena.

Nós acreditamos que as teorias de arte geométrica amazônica nos ajudam a entender os geoglifos, pois elas são intimamente relacionadas com meio ambiente.

O grafismo está baseado nos princípios do mundo xamânico e na presença de entidades da natureza - as que se manifestam e se tornam visíveis.

Essas entidades são, entre outros, seres da floresta e forças da natureza que, juntos, permitem a vida. Guardam águas, peixes, caça e recursos em geral.

Um motivo essencial para criar os geoglifos, além de sua prestação a atividades práticas, é a filosofia indígena. Para os indígenas, as pessoas são uma parte inseparável de natureza.

Esses povos prestam muita atenção a mudança de tempo, estações e posições de planetas, e é por isso que organizam muitos rituais ao qual estão ligados. Muitos geoglifos possuem partes que formam um complexo dessa configuração.

Para os apurinã, os geoglifos são seus lugares sagrados e associados com os seres que guardam os recursos naturais e são considerados como ancestrais. Vários geoglifos estão situados nas terras atuais deles, na divisa dos Estados do Acre, Amazonas e Rondônia.

Como são considerados pelos apurinã como sítios poderosos, os indígenas se aproximam com  respeito. Nas comunidades indígenas, são os pajés que são especialistas a manter a conta de relações internas e externas com outros seres.

As estruturas de caminhos levam para os geoglifos e, assim, constituem uma parte inseparável do seu design.

Para chegar às paisagens monumentais no rio Purus, e em geral para se movimentar de um lugar para outro, um sistema desenvolvido de transporte era criado.

Muitas vezes se pergunta: quem construiu os geoglifos e para quê?

Há diversas opiniões de pessoas e teorias, que variam desde obras feitas por heroicas e misteriosas civilizações até por criaturas de outros planetas.

Todavia, há uma grande resistência das pessoas em aceitar que os geoglifos foram construídos por indígenas.

Ao contrário, seria mais fácil reconhecer as comunidades indígenas atuais, suas formas de se organizar e seus conhecimentos de viver com meio ambiente.

Pirjo Kristiina Virtanen é professora de Estudos Indígenas na Universidade de Helsinque

Sanna Saunaluoma é doutora e pesquisadora de arqueologia na Universidade de São Paulo

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Bico de brasa

Castigado pelo calor, bico de brasa ou chora-chuva-preto (Monasa nigrifrons) busca abrigo na garagem