quarta-feira, 31 de agosto de 2011

NO MEIO DO RIO ACRE

Pior seca dos últimos 40 anos


O Rio Acre, que enfrenta a pior seca dos últimos 40 anos, amanheceu nesta quarta-feira (31) com apenas 1,57m de profundidade. O menor volume de água registrado antes (1,64m) pela Defesa Civil do Acre foi em setembro de 2005, quando a estiagem amazônica na região leste do Estado resultou em mais de 200 mil hectares de florestas devastados por megaincêndio.

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terça-feira, 30 de agosto de 2011

O DONO DO RIO

Deputado ganha R$ 1,8 milhão por mês com balsas no Madeira


Direto do Distrito de Abunã

O deputado Roberto Dorner (PP-MT), 63 anos, possui quatro outorgas de autorização concedidas pelo governo federal para explorar serviço de transporte de passageiros, veículos e cargas na navegação de travessia em três rodovias federais na Bacia Amazônica.

A outorga mais lucrativa do parlamentar, empresário, agricultor e pecuarista, é no Rio Madeira, no distrito de Abunã (RO), a 280 quilômetros de Rio Branco (AC), passagem obrigatória de quase tudo que entra ou sai via BR-364, a única que liga as demais regiões do País ao extremo-oeste brasileiro.

Há 23 anos, três balsas operam dia e noite na confluência dos rios Madeira e Abunã, onde o faturamento médio de Roberto Dorner é avaliado em R$ 60 mil por dia ou R$ 21,6 milhões ao ano. Até 1988, o transporte de passageiros, veículos e cargas no local era de responsabilidade do Exército.

Catarinense de Bom Retiro, Dorner assumiu como suplente o mandato em decorrência do licenciamento do deputado Pedro Henry. Ele é presidente do Sindicato Marítimo de Rondônia. No Mato Grosso, lidera o Grupo Roberto Dorner de Comunicação, que possui emissoras de TV em Sinop, Cuiabá e Rondonópolis.

As quatro outorgas para transporte de travessia, por tempo indeterminado e em regime de liberdade de preços, foram concedidas pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), ligada ao Ministério dos Transportes.

A Antaq chegou a autorizar Dorner, como empresário individual, a atuar no transporte de travessia no Rio Madeira, em Porto Velho (BR-319), no Rio Abunã (BR-364) e em Humaitá (BR-230), no Amazonas.

Desde o ano passado, o deputado usa também as empresas Amazônia Navegações Ltda., na milionária outorga na divisa do Acre com Rondônia, e a Rodonave Navegações Ltda, em outro trecho da Transamazônica, sobre o Rio Tapajós, nos municípios de Itaituba e Mirituba, ambos no Pará.

A mina do transporte de travessia no País abrange 130 operadores que trabalham em 89 pontos interestaduais, internacionais ou em diretrizes de rodovias federais.
Há vários anos a operação da empresa de Roberto Dorner no Rio Madeira tem gerado críticas e queixas de usuários em relação à falta de segurança, à cobrança de tarifas excessivas e à má qualidade dos serviços prestados.

A tabela do pedágio para travessia no distrito de Abunã isenta apenas pedestres e ciclistas. Os valores variam de R$ 3,80 (animais) a R$ 130,00 (carreta tremião de nove eixos, carregada). A travessia de cada automóvel pequeno custa R$ 19,00 e dos ônibus R$ 46,00.

O governo federal financia há mais de quatro décadas, no Acre, a construção da controversa BR-364, que liga Rio Branco, a capital, a Cruzeiro do Sul, no ponto mais ocidental do País.

Além disso, financiou a pavimentação da BR-317 até Assis Brasil, na fronteira com o Peru e a Bolívia. O trecho da rodovia no Acre foi batizado de Estrada do Pacífico, mas o Estado permanece praticamente isolado.

De Rio Branco a Cruzeiro do Sul, já foram construídas mais de 20 pontes pequenas, médias e grandes, que somam mais de três quilômetros de vão, mas a ponte sobre o Madeira não passa de projeto.

De seis em seis meses, no auge da estiagem amazônica, a travessia em balsas é prejudicada pela falta de água no Madeira. Longas filas de automóveis, ônibus e caminhões se formam com produtos e pessoas.

A Comissão de Viação e Transporte, da Câmara dos Deputados, chegou a aprovar por unanimidade, em 2008, uma emenda inicial de R$ 36 milhões para construção da ponte sobre o Madeira para atender o Acre e Rondônia. A ponte, cujo valor é estimado em R$ 500 milhões, teria mais de um quilômetros de extensão, mas o edital da obra foi cancelado em julho.

- Cancelaram o edital sob a alegação de que o projeto precisa de revisão do Tribunal de Contas da União e da revisão do nível do Madeira em decorrência da barragem das hidrelétricas que estão sendo construídas em Rondônia - comenta Marcos Alexandre, diretor do Departamento de Estradas e Rodagens do Acre.

Políticos, empresários e comerciantes, do Acre e Rondônia, passaram a acusar o deputado Roberto Dorner de operar nos bastidores contra a construção da ponte sobre o Madeira. O descontentamento ganhou força nos últimos dias por causa da intensidade da estiagem na região.

O Acre poderá a voltar a ficar isolado, como no ano passado, por causa da seca do Madeira. As balsas de Dorner, que fazem a travessia, já começaram a encalhar nos bancos de areia. A pressão é para que seja agilizada a abertura de canais de navegação com uso de dragas e acelerado o processo para a construção da ponte.

O diretor da Amazônia Navegações, Gerson Nava, disse que a responsabilidade pela abertura de canais de navegação no Madeira é do Ministério dos Transportes, mas que a empresa mesmo assim contratou máquinas para o serviço.

- O que está existindo é muita fantasia de político incompetente. Os políticos do Acre, por exemplo, preferem o discurso fácil quando dizem que a nossa empresa tenta inviabilizar a construção da ponte. Em Porto Velho, onde também temos outorga, existe uma ponte em construção, na BR-319, que liga a capital rondoniense a Humaitá, no Amazonas. A ponte em Abunã depende apenas de uma decisão do Ministério dos Transportes e nós não temos interferência nenhuma nisso - afirma Nava.

O senador Jorge Viana (PT-AC) ocupou a tribuna nesta terça-feira (29) para anunciar que o diretor técnico do Ministério dos Transportes, Pedro Brito, concorda com o afastamento imediato da empresa do deputado Roberto Dorner para melhorar a prestação do serviço no porto de Abunã.

- Não adianta insistir com a atual empresa. Ela tem, talvez, o melhor negócio do mundo. Algumas contas falam e, são números que o cálculo tem que ser empírico, mas quem conhece a realidade como nós conhecemos, fala em faturamento acima de um R$ 1 milhão por mês. Ela cobra o pedágio mais caro do país em troca de um serviço irregular e lento - afirmou.
Segundo Viana, existem interesses atuando dentro do governo para que se mantenha o serviço de balsas no Rio Madeira sob controle da iniciativa privada.

- Esses interesses adiam, como tem ocorrido nos últimos 10 anos, a construção da ponte. Ou seja, a BR-364 está ficando pronta, mas sequer é feita a licitação da ponte sobre o Madeira.

Coordenador da banda bancada federal do Acre, o senador petista Aníbal Diniz considera o
assunto de “extrema gravidade”, pois interesses econônimos e sociais do Estado estão sendo preteridos em benefício de uma empresa.

- Nós vamos atuar no sentido de convencer o Ministério dos Transportes a realizar, o mais rápido possível, a licitação para início da construção da ponte sobre o Madeira e também pedir uma solução paliativa neste verão amazônico. O nível da água baixou muito e o Acre começa a ter problemas de abastecimento.

A reportagem fez várias tentativas para ouvir o deputado Roberto Dorner. A assessoria dele se limitou a informar que o parlamentar está afastado das empresas e que não gosta de falar sobre o assunto porque costuma ser mal interpretado pela imprensa.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

RESTAURANTE JESUS TE AMA

Vinde a Vila Abunã (RO), na BR-364, os que têm fome. O nome de Jesus se presta a tudo.

domingo, 28 de agosto de 2011

ACIDENTE NA BR-364

Dono da Boate Talismã 21, de Porto Velho (RO), perde BMW na divisa com o Acre


O empresário Gilberto Nunes de Sousa, conhecido como “Pequeno”, dono da Boate Talismã 21, em Porto Velho, envolveu-se em um acidente de trânsito, por volta das 13 horas deste domingo (28), nas proximidades da divisa de Rondônia com o Acre, na BR-364.

“Pequeno” dirigia um BMW X6, de placas ABR-288, possivelmente do Peru, quando perdeu o controle do carro, atravessou a pista e caiu em uma ribanceira.

O impacto foi tão forte que em seguida o veículo foi parar na pastagem de uma fazenda, sem atingir a cerca da propriedade rural.



Há suspeitas de aquaplanagem, pois chovia no momento do acidente, entre as vilas Extrema e Califórnia. O empresário estava acompanhado de um amigo.

Ambos foram socorridos por passageiros de um ônibus e levados na carroceria de um Strada e depois em um Astra, com destino a Rio Branco.

“Pequeno” é um dos homens mais ricos de Porto Velho. Neste ano, anunciou ter investido R$ 8 milhões na Talismã 21.

O empresário não se feriu, mas o empregado que o acompanhava sentia fortes dores no abdome.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

MERECE SER SUSPENSO

Ou suspendido?

Trechinho da reportagem “Eletrobras suspende energia no domingo e na terça para fazer serviços de manutenção", assinada pelo filho do dono do jornal:

“Também é destacado que se chover no horário das manutenções, o serviço será suspendido e a energia será imediatamente reeligada”.

A colega Ana Cristina Silveira comenta:

- A gente diz que "jornalismo tá no sangue”. Mas ser jornalista e escrever bem não é hereditário. Não basta ser filho para dominar vernáculo.

Minha atividade como leitor dos jornais do Acre estará "suspendida" neste fim de semana. Em manutenção, vou ali.

SERTANISTA EXPLICA MORTE DA ONÇA-PINTADA

POR JOSÉ CARLOS DOS REIS MEIRELLES
Direto da Frente de Proteção Etnoambiental, na fronteira Brasil-Peru


Oi,

Altino, é bom que se diga que a morte da onça seja creditada a mim e a nossos mateiros.

Se o cachorro não estivesse dormindo a cinco metros de dois soldados que estavam de guarda, fora de casa, teríamos um soldado da Força de Segurança Nacional morto ou gravemente ferido. 

Leia mais: 

Onça é morta a tiros ao atacar base da Funai na fronteira Brasil-Peru

As pessoas criadas na cidade, que pouco conhecem de mata, podem nos achar uns predadores. Só que por aqui ou você preda ou é predado.

Não dá pra levar um papo com a onça na porta de casa. As onças aqui não falam português. A vida por aqui pode ser dura e seca. Às vezes você tem que decidir se mata ou morre.

Fiz o e-mail e mandei as fotos pra você na tentativa de mostrar o quanto somos vulneráveis, pois nem arma podemos portar, oficialmente.

A natureza por aqui nos coloca ora caçadores, ora caça. Não tem meio termo, dardinho tranquilizante, ou telefonema pro Ibama.

Além dos traficantes que resolveram estar por aqui, nas terras dos isolados. Se puder e quiser, gostaria que você esclarecesse isso.

E que o pessoal da Força Nacional de Segurança não ajudou, em hora nenhuma, a matar a dita onça.

Uma pintada rosnando ao matar um cachorro a cinco metros deles, parece ser uma situação nova. O susto foi bem grande.

Um abraço.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

ESSA GAZETA TÁ DEMAIS

Inventou lista "sêxtupla de seis" até na versão impressa

MAIS UM AGRICULTOR ASSASSINADO NO PARÁ

O agricultor Valdemar Barbosa de Oliveira, 54 anos, mais conhecido por Piauí, foi assassinado a tiros na manhã desta quinta-feira (25), na periferia de Marabá, sudeste do Pará. Em maio, seis pessoas foram assassinadas em decorrência da luta pela posse da terra na Amazônia.

Piauí, a sétima vítima, morreu quando trafegava numa bicicleta. Ele foi atingido por balas disparadas por dois pistoleiros que estavam numa moto e usavam capacetes.

A Polícia Civil do Pará informou que já começou a investigar o assassinato. Piauí era casado e residia no bairro Nova Marabá.

Segundo a polícia, o agricultor foi abordado por dois homens em uma moto quando chegava de bicicleta em um balneário conhecido por Geladinho, localizado no bairro São Félix.

Os criminosos mandaram a vítima descer da bicicleta e atiraram à altura do rosto e pescoço.

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TARIFA REDUZIDA DE REMARCAÇÃO DE PASSAGENS

Começa a valer decisão da Justiça

As empresas Tam, Gol, Cruiser, TAF e Total estão obrigadas, a partir desta quinta-feira (25), a reduzir em 10% o valor das tarifas cobradas para remarcação ou cancelamento de passagens. A decisão judicial foi publicada no diário oficial eletrônico da Justiça Federal na 1ª Região.

Caso os pedidos de cancelamento ou de remarcação das passagens aéreas forem feitos em até 15 dias antes da data da viagem, a taxa máxima permitida é de 5% sobre o valor da passagem.

Se a solicitação for feita nos 15 dias que antecedem a data do voo, a tarifa máxima só pode chegar a 10%, decidiu o juiz federal Daniel Guerra Alves.

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TIVEMOS DIAS MELHORES

Os quatro diários do Acre (sim, temos quatro oficiosos em Rio Branco) se limitaram a reproduzir nesta quinta-feira o noticiário dos portais sobre o terremoto de 7 graus que estremeceu o Estado.

O nível atingido pela imprensa local é agravado pela reprodução integral do conteúdo gerado por diversas assessorias e pela estatal Agência de Notícias do Acre.

O caso merece estudo.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O HAITI É AQUI

No Twitter do secretário de Comunicação do governo do Acre, Leonildo Rosas, destaque para a piada sobre refugiados haitianos e o terremoto desta quarta-feira no Acre:

- Os haitianos devem ter pensado: “O Haiti é aqui”.

Em março, o mundo desabou sobre o presidente da OAB-AC, Florindo Poersch. Ele teve que se desculpar publicamente por causa do que escreveu no Twitter sobre as vítimas do terremoto no Japão:

- No Japão como eh que sabem quem está desaparecido? São todos iguais!!! Rsrsrs

Atualização:

O jornalista Leonildo Rosas reconsiderou o comentário. E escreveu no Twitter novamente:

- De fato a piada foi mal colocada. Admito. E sem graça.

ACRE TREME COM TERREMOTO NO PERU

Um terremoto de 7 graus na escala Richter, com epicentro perto de Pucallpa, no Peru, foi registrado nesta quarta-feira (24) pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (veja), próximo à fronteira com o Brasil.

O terremoto foi sentido de Rio Branco, a capital do Acre, até Cruzeiro do Sul, no extremo-oeste do país, às 13h46 local (14h46 em Brasília).

- Eu estava dentro do carro e tive que parar porque estava com dificuldade para continuar guiando. Foram dois tremores muito fortes. As pessoas ficaram assustadas e abandonaram casas e prédios - relatou Dudé Lima, assessor do governador Tião Viana (PT), que está em Cruzeiro do Sul, dois minutos após o abalo.

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Em Rio Branco, o tremor também casou pânico. Funcionários abandonaram vários prédios públicos e comerciais.

- Eu estava sentada numa cadeira, rezando, quando o lustre começou a balançar. Tive vontade de gritar dizendo que estava acontecendo um terremoto, mas me contive. Fiquei receosa de que em casa pudessem pensar que eu estava doida ou tonta - disse a aposentada Maria Machado, que em seguida confirmou o terremoto com seus vizinhos.

A região da fronteira Brasil-Peru frequentemente é atingida por terremotos. O epicentro do terremoto foi a 85 quilômetros de Pucallpa e a 205 quilômetros de Cruzeiro do Sul.

- A  população está toda fora dos prédios aqui em Cruzeiro. Realmente a cidade precisa de uma ponte anti-terremoto - contou o radialista Pablo Cândido, referindo-se a uma ponte inaugurada recentemente na BR-364, sobre o Rio Juruá, que banha a cidade.

VIDA SELVAGEM

Onça ataca base da Funai, mata cachorro e é morta


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DIÁLOGOS DE FERNANDO FRANÇA


A exposição "Diálogos", do artista plástico acreano Fernando França, radicado em Fortaleza (CE) desde 1983, será inaugurada nesta quarta-feira (24), às 19h30, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, reunindo retratos de artistas plásticos cearenses.

Em cada quadro de 1,5 x 2,5m, um artista é retratado por Fernando França e o próprio figurado interfere na tela, imprimindo um pouco de sua arte à composição, em uma inusitada busca metalinguística por identidade.

Fazem parte do projeto os artistas Estrigas (abaixo), Nice, Heloísa Juaçaba, Hélio Rôla, Zé Tarcísio, Descartes Gadelha, Ascal, Félix, José Mesquita, Aderson Medeiros, Alano, Roberto Galvão, Carlos Costa, Vando Figueiredo, Eduardo Eloy, Francisco Vidal Júnior, José Guedes, Cláudio César, Totonho Laprovitera, Mano Alencar, Francisco de Almeida, Hemeterio e o próprio Fernando.

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terça-feira, 23 de agosto de 2011

AMOR MULTADO

José Augusto Fontes

Meu sonho passou da hora e foi multado no semáforo, por um tal guarda Morfeu, que não deu a mínima para as questões de foro íntimo. Estava escrito e foi dito, o mundo acaba ali na frente, não há necessidade de pressa, nem de ingresso para a estrada do além. Mas o pedágio para eventual morte pode ser pago em parcelas lentas, até em sessenta por hora, alcançando o cruzamento com a solidão estacionada no alto de uma luzinha que piscava alternando mensagens lentas que atrapalhavam uma acelerada paixão.

O nome da pressa tornou-se incompatível e o sonho tinha preço previamente estipulado no mercado globalizado das imprudências. Não era preciso correr, mas só o resultado poderia instituir a certeza, após o cruzamento com um aviso quase sinistro, não fosse um detalhe da velocidade, um pormenor da pressa, um motivo para o desencanto, que sequer teve tempo para desabrochar e estacionar. A vida entrou em contramão e a voz deu-se ao silêncio resignado. O guarda tem sempre razão.

Naquele instante, minha vida era dirigida para acima das ruas e dos semáforos, ainda que os pneus riscassem o chão e corressem pelo momento. O carro me levava para o avião que me levaria daqui, onde não te vejo nem pego, onde não te trafego nem percorro, mas o guarda não quis saber disso. Não estava escrito, não era previsto, uma coisa nada tem a ver com a outra, o trabalho precisava ser feito, não havia habilitação para o sonho. Mas, voltando à emoção, será que não daria para apressar a notificação?

Não era questão de valor, era paixão ou distância, uma tal pressa diferente, amor ausente, cuja prova ficaria gravada no papel da multa como infração grave. O amor pede prudência, certas regras, há até um código. Tudo isso e agradecimentos, o guarda ficou no retrovisor, os pneus levavam o carro e o sonho, o sentimento tinha pressa, mas o avião já estava nas nuvens, pássaro insensível. Foi por isso que no outro voo conheci Vênus, beleza infracional sem tipificação. Embarquei em outro amor e dei razão ao guarda.

José Augusto Fontes é cronista, poeta e juiz de direito acreano

OREMOS AO SENHOR

Ex-governador do Acre, o petista Binho Marques reage no Facebook por causa de foto antiga em novenário


- A Gazeta continua criativa. Viu uma foto, imaginou de onde, não sabe de quando e pronto: inventou uma matéria. Onipresente só Deus. Eu não estava lá, mas rezo para que a imprensa melhore.

Leia mais em "Com velas nas mãos, governistas vão ao Juruá agradecer votos e pedir união".

Do editor Fábio Pontes:

“A Editoria de Política do portal Agazeta.net informa que a foto selecionada para ilustrar a reportagem "Com velas nas mãos, governistas vão ao Juruá agradecer votos e pedir união" foi escolhida por ser a melhor a retratá-la.

A matéria foi publicada dois dias antes da festa religiosa em Cruzeiro do Sul, portanto sendo impossível usar fotos do governador Tião Viana em procissão acompanhado de seus demais aliados.

Apesar de não ser governador, a foto traz o ainda vice-governador César Messias, o principal articulador político da Frente Popular do Acre no Vale do Juruá.

O mesmo questionamento deveria ser feito pelo ex-governador Binho Marques ao jornal “O Estado de São Paulo”, por usar foto sua na edição do último domingo (21) e ainda o ter apresentado como atual chefe do Palácio Rio Branco.

Gostaríamos de informar, ainda, que o portal Agazeta.net não tem nenhuma ligação com o jornal “A Gazeta”. Apesar dos nomes similares, tratam-se de empresas diferentes e composição societária sem o menor vínculo.”

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O CARA QUE FEZ DILMA SORRIR


Alvo constante de críticas e sem espaço na imprensa local controlada pelo PT, o senador Sérgio Petecão (PSD-AC) não descansa.

Na quinta-feira (18), foi recebido e arrancou largo sorriso da sisuda presidente Dilma Roussef no Palácio do Planalto.

No dia seguinte, em Sena Madureira (AC), estava montado no touro Jiquitaia, considerado o mais bravo da região.

Nesta segunda-feira (22), Petecão tomou café com o pastor Francelino e em seguida foi recebido pelo presidente do Tribunal de Justiça do Acre, desembargador Adair Longuini, que desceu de seu gabinete com assessores para recepcioná-lo no saguão.

Peteção explica o sorriso da presidente durante a reunião com os líderes do PSD:

- Pedi permissão pra fazer uma crítica. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, tem o costume de ligar a partir das 7 horas, quando são 5 horas da manhã no Acre. Kassab pergunta: como está o partido, Petecão? Eu sempre respondo: ainda está dormindo, prefeito. Aí eu expliquei pra presidente o estrago que os meninos [Tião e Jorge Vina] causaram com a mudança do nosso horário.

Petecão continua na moda.

CONFUSÃO EQUESTRE NO ACRE


O desembargador Arquilau Melo, corregedor do Tribunal de Justiça do Acre, abriu investigação para apurar a participação dos juízes Luiz Camolez e Zenair Bueno (centro da foto) na diretoria da Associação Acreana de Esportes Equestres (AAEE).

Em tese, magistrados só podem acumular cargo de professor ou de dirigente de entidade de classe. Camolez é o presidente e Zenair, a secretária da associação.

Disputas na AAEE culminaram com o indiciamento e a prisão da empresária Ana Betânia Marques de Lima por formação de quadrilha, incêndio e dano qualificado.

Rival dos dois magistrados na AAEEE, Betânia Lima é acusada pela Polícia Civil de mandar incendiar um rancho onde estariam abrigados cavalos de raça e de furar pneu de trator durante a Expoacre.

A empresária permanece no presídio estadual desde a semana passada, mas o governo do Acre, através da coordenação da Expoacre, divulgou nota afirmando que em nenhum momento houve comunicação de sabotagem ou crimes do gênero durante as competições de laço, rodeio, vaquejada e tambor.

- As regras das competições obedecem ao padrão praticado em todo Brasil, sendo as provas de laço, tambor e vaquejada organizadas pela AAEE, cujo presidente é o juiz de direito Luiz Vitório Camolez, e que este ano teve a comissão de provas dos três tambores formada pela empresária Midiã Brito Lysakowski, Renata Zamora Sabóia (pecuarista) e pela juíza de direito Zenair Ferreira Bueno, membro da AAEE - afirma a nota do governo.

O presidente da OAB-AC, Florindo Poersch, divulgou uma nota criticando duramente a conduta dos delegados Leonardo Santa Bárbara e Thiago Fernandes Duarte, este namorado da juíza Zenair Bueno. Diz a nota:

“A Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional do Acre, cumprindo com seu papel constitucional de defesa do Estado de Direito, vem a público manifestar sua preocupação acerca dos procedimentos adotados por autoridades policiais na condução de procedimentos investigativos postos a seu crivo, o que faz nos seguintes termos:

1. A fim de apurar fatos ocorridos durante a Feira Agropecuária do Estado do Acre – EXPOACRE 2011, envolvendo membros da Associação Acreana de Esportes Equestres, delegados de polícia civil desta capital, no exercício de seus cargos, praticaram condutas suspeitas, totalmente estranhas aos procedimentos rotineiramente adotados pela Polícia Civil do Estado do Acre.

2. O Delegado de Polícia Leonardo Santa Bárbara, lotado na Delegacia da 1ª Regional, agindo em total desrespeito à sua área de atuação, instruiu inquérito policial registrado pela Delegacia da 2ª Regional, numa estranha “avocação de competência” destinada a atribuir responsabilidade criminal aos investigados.

3. Pior. No curso das investigações, permitiu que outro delegado de polícia civil, lotado na Delegacia de Repressão a Entorpecentes, interessado direto no desfecho do inquérito policial, em razão de manter relacionamento com uma das envolvidas, inquirisse um dos investigados, em total descompasso com a legislação e com o senso mínimo de impessoalidade que deve nortear o exercício de sua função publica.

4. Por outro lado, esperamos que tais abusos não tenham se desencadeado em razão das funções judicantes desempenhadas por alguns dos envolvidos, o que faria com que estivéssemos diante do tipo penal descrito no art. 319 do Código Penal.

5. Triste constatar, ainda, que os protagonistas desse episódio são aqueles já conhecidos da sociedade acreana como praticantes contumazes do abuso de autoridade e do desrespeito às prerrogativas da advocacia.

6. A Ordem dos Advogados do Brasil aplaude o trabalho desenvolvido pela Polícia Civil e reitera o seu total apoio à corporação, todavia, conserva e utiliza o direito de manifestar o seu repúdio e reprovação às condutas ora narradas.

Rio Branco – AC, 20 de agosto de 2011.

Florindo Silvestre Poersch

Presidente da OAB/AC”

Defesa nega sabotagem

O advogado de Ana Betânia Marques Lima, Ruy Duarte apresentou laudos que eliminariam a acusação de sabotagem a um trator, um trailler e de um estábulo utilizados durante a Expoacre para o campeonato da prova do tambor.

Segundo o documento encaminhado pela Acrediesel, o trator não apresentou pane elétrica como registrado em Boletim de Ocorrência. O problema foi apenas a falta de bateria que estava descarregada, o que foi resolvido depois da substituição. O equipamento cedido pela empresa para a realização do campeonato serviria para manipular a terra, deixando o solo da arena de provas mais ‘macio’ para evitar lesões graves aos peões e nas amazonas em caso de queda.

O laudo do Instituto de Criminalística também demonstra que o incêndio ao estábulo teria sido provocada por ação humana, mas a perícia mostra que existiriam vários produtos inflamáveis distantes do ponto em que o fogo foi iniciado, sendo que apenas uma telha de amianto teria sido danificada.

“É possível notar pelas fotos do laudo que existia feno na parte da frente do estábulo, o que poderia causar um incêndio difícil de ser controlado por bombeiros, mas apenas uma telha foi quebrada, então o laudo é inconclusivo”, falou o advogado.

Ruy Duarte ainda informou que solicitou uma investigação complementar do Corpo de Bombeiros para que possa garantir mais exatidão das investigações.

O advogado ainda informou não existir um laudo sobre um único pneu furado de um trailer utilizado para transportar cavalos, o que não garantiria a acusação de sabotagem.

Mesmo sem provas materiais, e, com embase em depoimentos, Betânia e outras três pessoas tiveram a prisão preventiva decretada. A acusada se encontra no presídio Francisco de Oliveira Conde.(Freud Antunes, A Tribuna)

CASA DOS POVOS INDÍGENAS


Nesta terça-feira (23), a partir das 20h30, na Casa dos Povos Indígenas (antigo Kaxinawá), a exposição “O Espírito da Floresta: Desenhando os Cantos do Nixi Pae”. Além disso, artistas huni kui do Rio Jordão apresentam show musical, tendo como convidados Seu Antonio Pedro e Banda Irapuru, e Shaneihu Yawanawá e Banda.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O RACHA É PRA VALER

Ou ensaiado?


O secretário de Educação Daniel Zen e o professor Leo Brito (desenho) dividem a preferência do governador Tião Viana e do senador Jorge Viana entre os pré-candidatos à sucessão do petista Raimundo Angelim na prefeitura de Rio Branco.

O nome do deputado federal Sibá Machado já foi descartado e o do deputado estadual Ney Amorim flutua com mínima chance.

Com o argumento de que é quem governa, o PT já comunicou a mais de dez partidos que integram a Frente Popular do Acre (FPA) que vai disputar mais uma vez a prefeitura com um nome na cabeça da chapa.

Zen nunca concorreu a cargo eleitoral e Brito ganhou fama de pé frio ao ser derrotado como candidato a deputado estadual e federal, embora contasse com apoio da cúpula partidária e da máquina pública.

A decisão do PT deixa descontente o PCdoB, a segunda força política da FPA, que vai anunciar durante convenção nesta sábado (20), a deputada federal Perpétua Almeida como pré-candidata a prefeita da cidade.

- Ao contrário do que dizem por aí, minha candidatura é pra valer, e não apenas pra marcar terreno. Não aceito ser candidata a vice de ninguém - afirma a deputada.

Ao argumentar que deve continuar na cabeça da chapa porque já governa, o PT sinaliza que prefere entregar o poder a qualquer adversário e não a qualquer aliado.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

GOOGLE STREET VIEW NA AMAZÔNIA


O Google Street View, funcionalidade do Google Maps que oferece aos usuários da web a oportunidade de explorar digitalmente diversas cidades e lugares por meio de fotos em 360°, tem agora um novo desafio: levar imagens do Rio Negro e de suas comunidades, na Floresta Amazônica, para todo o mundo.

Conhecido como “Street View na Amazônia”, o projeto será realizado em parceria com a Fundação Amazonas Sustentável (FAS), uma ONG que promove educação, apoio social, econômico e ambiental para as comunidades locais. Será uma oportunidade única de compartilhar a beleza do ambiente e da cultura local com o mundo.

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JÚLIO CÉSAR FRÓES FIALHO

Notas do Página 20 e deste blog resumem a passagem do lobista da Agricultura pelo Acre


"Velho conhecido
O mundo dá muitas voltas, principalmente em se tratando de coisas ruins. Não é que o lobista Júlio Fróes, apontado pela revista Veja como pivô do escândalo de corrupção no Ministério da Agricultura, é um velho conhecido do Acre!

Furo
Aqui, o lobista, que foi pego em flagrante fotográfico entrando com uma mala de propina para ser distribuída no ministério, foi o mesmo que, como editor de um jornal local, conseguiu em apenas uma hora e meia ultrapassar os 188 km de lamaçais da BR-317, entre Rio Branco e Xapuri, para dar “furo jornalístico” do assassinato de Chico Mendes.

Surpresa
Conhecido no Acre como Júlio César Fialho (o sobrenome Fróes não era usado no estado), o lobista surpreendeu o Brasil e o mundo em conseguir ir e voltar pelos lamaçais da BR-317 na noite do dia 22 de dezembro de 1988, data em que Chico Mendes foi assassinado.

Conta outra
Ninguém acreditou no relato do lobista, que logo depois, em 1992, foi preso em Fortaleza traficando cocaína.

Cúmplice
Na época do assassinato de Chico Mendes, seu espantoso relato jornalístico lhe rendeu a suspeita de ser cúmplice do assassinato do sindicalista tal a relação próxima que ele, como editor do jornal, mantinha com figuras da UDR, entidade acusada de tramar o assassinato do líder sindical acreano.

Feito
A epopéia fantasiosa descrita por Júlio César Fialho mereceu comentários na série de reportagens que o jornalista Zuenir Ventura, do Jornal do Brasil, escreveu em abril de 1989 com o título “O Acre de Chico Mendes”, onde considerou o relato de Júlio não um furo jornalístico, mas um feito automobilístico inédito no mundo.

Adversidades
“Pilotado pelo editor Júlio César Fialho e tendo ainda a bordo o repórter Adonias Matos e o fotógrafo Luís dos Santos, o carro enfrentou adversidades inimagináveis, mas nenhuma delas suficiente para diminuir o ímpeto daqueles ícaros”, escreveu Zuenir Ventura.

Gol voador
Para Zuenir, “numa estrada em que poucas, pouquíssimas marcas de carro se aventuram — é pista para D-20, F-1000, jipe Engesa, de preferência a óleo Diesel —, o Gol dos jornalistas voara”."

Meu comentário - O LADO VELADO DA HISTÓRIA



O mundo dá mesmo muitas voltas em se tratando de coisas ruins. As notas do Página 20 se referem ao jornal O Rio Branco, do ex-deputado e empresário Narciso Mendes, que era acusado pelos petistas do Acre de bandido, corrupto e de envolvimento com o complô de fazendeiros que assassinou Chico Mendes.

Foram redigidas pelo jornalista Romerito Aquino, que era editor do jornal O Rio Branco à época e indicou a contratação de Júlio César Filho, tendo sido sucedido pelo mesmo na editoria.

As notas causaram mal-estar porque Narciso Mendes e suas empresas (construtora, TV e jornal) se tornaram aliados políticos dos governos do PT. Romerito Aquino confirmou ao blog a autoria das notas. E Narciso Mendes fez pequenas revelações:

- Já estive com o Elson Dantas, dono do Página 20, para esclarecimento. Para minha surpresa, o Elson disse que as notas foram redigidas, em Brasília, por Romerito Aquino, que foi quem indicou o César Fialho para dividir com ele a editoria do meu jornal. Sempre cometem a imbecilidade de envolver meu nome e o meu jornal na morte de Chico Mendes. Eu era deputado federal e vivia mais em Brasília. O jornal foi avisado do assassinato pelo então vereador Júlio Barbosa e pelo bispo Moacyr Grechi. Foram eles que telefonaram avisando. Quem atendeu o telefonema do bispo foi a funcionária Aldina e isso foi presenciado pela repórter Charlene Carvalho, que atualmente é uma das assessoras do senador Jorge Viana. A partir disso, disseram que eu estava envolvido. Talvez passaram a dizer isso mais para atingir o João Branco, que era meu sócio no jornal e dirigente da UDR no Acre. Meu nome entrou nessa história e quase não sai. No dia do assassinato eu estava em Belém. Nem na instrução do inquérito meu nome foi citado e sendo assim jamais fui ouvido - afirmou Narciso Mendes.

CURUBA NÃO SE TRATA COÇANDO

POR JOSÉ CARLOS DOS REIS MEIRELLES
Direto da Frente de Proteção Etnoambiental Xinane, na fronteira Brasil-Peru

Companheiros,

ontem eu estava meio "mordido de caititu" e espoletei. Com razão, creio.

Hoje, sendo mais frio e menos emotivo (se é que é possível pra mim não sê-lo em falar dos parentes brabos), a situação aqui ainda não está resolvida, existem muitas dúvidas a serem esclarecidas.

Afinal o que esse povo e o português preso faziam por aqui?

Creio que existem ainda pessoas desse grupo escondidos aqui por perto, esperando a poeira baixar.

Sendo otimista e achando que o Exército com seu Batalhão de Selva resolva sair do quartel e, em vez de passar o dia aparando a grama dos jardins do quartel, resolva repuxar cipó aqui nas matas pra ver se encontra, ou espanta de vez esses traficantes. Mas isso é como tratar curuba coçando-a, ou carregar água em paneiro.

O problema aqui é bem maior, extrapola os limites internacionais do Brasil e a própria competência da Funai. Não estou dizendo que isso é exclusivo do Peru. Temos, dentro de nosso território, todo tipo de agressão a índios isolados ou não. Mas nas faixas de fronteira (e este é um caso emblemático) as desgraças podem vir daqui ou de lá. Agora é do Peru.

Como proteger os isolados, que usam tanto o território brasileiro como o peruano, transitam em suas terras pra lá e pra cá desta linha imaginária que traçamos, para dividir os dois países - o paralelo 10º Sul? Ou os dois países tratam desse assunto conjuntamente, colocando nas agendas binacionais os índios, isolados ou não, protegendo suas vidas e territórios, ou teremos uma fronteira de brancos e índios, todos atolados até o pescoço na exploração ilegal de madeira, no tráfego de cocaína, ou sei lá mais em que atividade ilegal.

Estes vastos territórios, que à vista grossa parecem terra de ninguém têm dono: os índios.

Desde 2006 venho alertando para a movimentação de madeireiros nas cabeceiras do Rio Envira, no Peru, e o perigo para os isolados. E a exploração lá se dá em uma reserva para isolados, Murunahua.

Tive a oportunidade de, junto com o presidente da Funai, Márcio Meira, visitarmos a embaixada do Peru em Brasília, alertando o embaixador das consequências da exploração ilegal de madeira na reserva Murunaua.

Também estivemos juntos em Pucalpa, tratando do mesmo assunto com ONGs e representantes do governo peruano. Pregamos no deserto, tipo São João Batista. E pelo andar da carruagem,
começaremos e comer gafanhotos.

Não sou mais funcionário da Funai. Trabalho no governo do Acre, a convite do governador Tião Viana, que, diga-se de passagem, tem dado todo apoio possível para sairmos da crise em que nos encontramos. Estou aqui na Base do Xinane dando minha modesta colaboração a todos que aqui estão, pela longa vivência de 22 anos que residi aqui nas cabeceiras do Envira, nesta mesma base.

Quero deixar claro também que não fizemos as operações como o esperado, não por culpa das pessoas que aqui estiveram, da PF e do BOPE. Todos eles têm vontade de ganhar a mata com nossos mateiros e resolver a questão. Assim também o pessoal da Força Nacional que aqui se encontra.

O que precisam é de ordem expressa de seus comandos. Fica o registro para sanar os maus entendidos.

Finalizando faço um apelo às autoridades maiores de meu país: ganhem um pouco de tempo e pensem na responsabilidade que é ter em suas mãos o destino de povos que vivem autônomos nestas matas. Assustados, talvez assassinados (como se isso fosse novidade para eles) e sem o menor conhecimento que nem futuro poderão ter, se o Estado Brasileiro decidir que o que acontece aqui é uma crise momentânea.

Lembrem-se da sabedoria das matas: curuba não se trata coçando. Ela vai aumentar, piorar e apostemar.

Seres humanos não merecem esse tipo de tratamento.

Um grande abraço a todos.

José Carlos dos Reis Meirelles é sertanista

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A NOITE PASSADA

Sérgio Godinho, compositor português

"NÃO DÁ MAIS PRA ESPERAR CALADO"

Sertanista critica operações da PF e Força Nacional de Segurança na fronteira Brasil-Peru


POR JOSÉ CARLOS DOS REIS MEIRELLES
Direto da Frente de Proteção Etnoambiental Xinane, na fronteira Brasil-Peru

Senhores,

Em toda a minha vida profissional de 40 anos de trabalho com os índios, isolados ou não, sempre soube a hora de calar, de respeitar hierarquia.

Soube também protestar a meu modo, quando necessário, a meu modo, jeito e responsabilidade. Pois agora é a hora de gritar, e alto! Embora isso signifique, como já aconteceu quando fui demitido da Funai, na criação da SBI que protestava contra o regime militar da época, a favor dos índios.

Lá vou eu, depois de velho, de novo.

A Frente Etnoambiental do Rio Envira, no Acre, como todos sabem, foi tomada por uma força paramilitar estrangeira, composta de traficantes e provavelmente acompanhados de índios recém contatados do Peru.

A Polícia Federal veio à nossa base, pensava eu, de acordo com plano que junto com ela fizemos em Rio Branco, de duas equipes, uma acima da base e outra abaixo, pousadas de helicóptero a distancia não audível dos invasores da base, que viriam por terra, na esperança de prendê-los.

O plano não foi executado. Sobrevoaram a base antes disso, de helicóptero, espantaram os caras. Uma equipe pousou na Aldeia Simpatia e subiu o rio. Foi resgatada antes de chegar na base. Outra pousou na base.

Nossos mateiros seguiram um rastro e entregaram o Sr. Joaquim Fadista, português que anteriormente foi preso aqui mesmo e deportado para o Peru, apesar se ser procurado por tráfico internacional de drogas, inclusive no Brasil. Voltou e foi preso de novo.

Satisfeita, a Polícia Federal abandonou a base, como se a missão estivesse toda realizada. Uma pequena equipe, Sr. Carlos Travassos, coordenador da CGIIRC/FUNAI, Artur Meirelles coordenador da Frente, Francisco de Assis (Chicão, mateiro), Francisco Alves de Castro ( Marreta, mateiro) e  José Carlos Meirelles ( Governo do Estado do Acre), por decisão unânime, resolveram vir para a base, que era de novo abandonada.

A Polícia Federal lacrou a base. No outro dia que chegamos estava tudo arrombado de novo. Os peruanos continuavam aqui. Vimos vestígios de menos de 15 minutos.

Veio de Rio Branco o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Acre. Foram feitas pequenas incursões. Encontramos acampamentos, mochila dos peruanos com pedaço de flecha dos isolados dentro. O Bope vai e vem a Força Nacional, sem ordem de se afastar a 500 metros da base.

Nestes dias de Força Nacional, sempre se escuta tiros em locais próximos à base, à noite, com características de arma de bala e não de cartucho.

Esta noite mesmo, foram ouvidos três disparos, de um lado e de outro do rio. A Força Nacional está esperando o Exército, que deveria aqui chegar no dia seguinte à invasão da Base, ocorrida há quase um mês.

E ninguém ainda se dispô a bater realmente estas matas e desvendar o que realmente estas pessoas, que continuam aqui, fazem e querem. Não temos acesso ao depoimento do português. Parece que é propriedade da Polícia Federal.

Há tempos, desde 2007, temos alertado sobre a exploração ilegal de madeira, do outro lado da fronteira, em reserva de isolados no Peru, a reserva Murunahua.

Agora, tudo leva crer que além de madeireiros, temos traficantes de drogas. E pelo andar da carruagem, como se diz aqui pelas matas, parece que estão botando roçados. Ou seja, não tem a mínima intenção de ir embora. Afinal, ninguém os perturba. Nós da Funai, do governo do Acre e os mateiros, que ganharam um presente da Funai: foram dispensados, mas estão aqui por opção. O risco é por nossa conta, somos pagos ou não pra isso.

Os índios isolados da região, verdadeiros donos desse pedaço de Amazônia, não tem nada com isso. E serão eles, com certeza, mais uma vez que pagarão o maior preço pela invasão de suas terras por um grupo  de traficantes e sabe-se lá mais que personagens.

Não dá mais pra esperar calado. Não vou mandar abraço pra ninguém. Meu coração está apertado. Quando sinto essa sensação, dificilmente erro.

José Carlos dos Reis Meirelles é sertanista

terça-feira, 16 de agosto de 2011

ANA VIDOVIC

Michelle e Yesterday

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

E NÃO ESTÃO, SENADOR?

Trecho do discurso de Jorge Viana (PT-AC) no Senado


- A Polícia Federal e o Ministério Público Federal são instrumentos poderosos, mas têm que estar subordinados a um aparato jurídico que a Câmara e o Senado têm condições de implementar.

Leia mais na Agência Senado.

VEJO DA JANELA DO MEU QUARTO

Periquitos (anuns e pipiras também ) se alimentam debaixo de um pé de dendê


FORÇA NACIONAL NA ÁREA DOS ÍNDIOS ISOLADOS

Homens da Força Nacional de Segurança (FNS) já estão na base da Frente de Proteção Etnoambiental, mantida pela Funai (Fundação Nacional do Índio), no igarapé Xinane, na fronteira Brasil-Peru, habitada por quatro etnias que vivem em isolamento.

A FNS substitui os seis homens do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Acre, que foram enviados para a área após a base da Funai ter sido atacada por grupos paramilitares peruanos. Sem data definida, a FNS será substituída pelo Exército.

- Agora, no auge do verão amazônico, quando os isolados estão espalhados pelas beiras dos igarapés, comendo peixes, vamos começar a dar uma olhada nas cabeceiras dos igarapés pra ver se os peruanos estão escondidos por lá, esperando a poeira baixar - relatou o sertanista José Carlos dos Reis Mereilles.

O sertanista disse que “é hora de a Funai ter uma relação estreita e forte com as embaixadas dos países vizinhos, se quisermos um futuro mais longo aos nosso parentes brabos.”

- Ou repensamos tudo isso ou os dias dos parentes estarão contados. Tudo gira em torno das fronteiras de países vizinhos, que pensam só em desenvolvimento, estradas, petróleo e tudo mais. É preciso deixar espaço e tempo para os povos indígenas dessas fronteiras, isolados ou não. Ou todos estarão a serviço das madereiras, petroleiras e traficantes num futuro bem próximo - alerta Meirelles.

“Angústia extrema”

Baseada em Londres, a organização Survival International elogiou nesta segunda-feira (15) a decisão do governo brasileiro de enviar agentes da FNS para ajudar a proteger  os índios isolados que teriam desaparecido após o ataque dos peruanos à base da Funai no Xinane.

- A Funai fez um sobrevoo na área para procurar sinais dos índios isolados e viu que a aldeia e as plantações estavam em boa condição. Mas os temores permanecem elevados, já que ainda não há visualização confirmada dos índios - alerta a Survival International.

A organização tem enviado apelos ao presidente do Peru para evitar novas invasões ao território dos índios isolados e para que sejam adotadas medidas para proteger as tribos. O diretor da Survival, Stephen Corry, classificou o desaparecimento deles como uma “angústia extrema”.

- Parece que medidas estão sendo tomadas pelo Brasil para melhorar a segurança na área, e esperamos que essa parte da Amazônia seja protegida e não se torne um abrigo para os traficantes de drogas. Mas o Peru deve fazer a sua parte também - afirmou Corry.

OXI NÃO É NOVA DROGA, DIZ POLÍCIA FEDERAL


Perícia do Instituto Nacional de Criminalística (INC) da Polícia Federal (PF) analisou o perfil químico de amostras do entorpecente denominado oxi, oriundas do Acre, e concluiu que na verdade se constituem de cocaína nas formas de pasta base e cocaína base, que é a pasta base refinada.

Logo, de acordo com o laudo assinado pelo farmacêutico e perito criminal da PF, Ronaldo Carneiro da Silva Junior, não há o que se dizer de “nova droga”, uma vez que a substância entorpecente (cocaína) já é conhecida.

- Nem mesmo há o que se falar de “nova forma de apresentação” tendo em vista que os componentes majoritários, minoritários e até mesmo os eventuais adulterantes encontrados nas amostras do suposto “oxi” são os mesmos encontrados na pasta base de cocaína e na cocaína base apreendidas pela Polícia Federal no Estado do Acre - afirma.

O estudo revela que, além do crack e da cocaína sal, comercializados nas ruas, os usuários do Acre estão consumindo diretamente pasta base (sem refino) e cocaína base (refinada) com elevados teores da droga (acima de 60% de cocaína).

- Isso pode contribuir para gerar pronunciados efeitos estimulantes e psicotrópicos e aumentar a possibilidade de efeitos deletérios como overdose, por exemplo - alerta o perito.

Os primeiros relatos da existência de uma forma de apresentação da cocaína denominada como oxi foram feitos no Acre, em 2005, através de trabalho publicado pela Polícia Federal. A partir disso, a mídia passou a sugerir que o oxi era uma nova substância entorpecente, que estaria se espalhando pelos estados brasileiros.

O oxi é consumido na forma fumada, geralmente em cachimbos ou cigarros artesanais. É muito semelhante ao crack, ou seja, pedras pequenas de cores normalmente pardas, brancas ou amareladas.

Conforme se divulga nos meios de comunicação, o oxi se diferenciaria do crack pelo fato do crack conter sais de carbonato e/ou bicarbonato na sua formulação, ao passo que o oxi seria adicionado de óxido de cálcio (cal virgem) e querosene (ou gasolina).

- O que se observa são diferentes formas de apresentação típicas da cocaína (sal, crack, pasta base, cocaína base) sendo arbitrariamente classificadas como “oxi”, sem que sejam utilizados para este processo critérios objetivos e técnicos - assinala o laudo.

O INC analisou 20 amostras de oxi, além de 23 amostras de cocaína base livre que foram apreendidas por agentes da Polícia Federal. O estudo comparativo buscou semelhanças e diferenças entre amostras apreendidas pela Polícia Civil do Acre, que representariam amostras de oxi, e amostras da PF, apreendidas em situações mais características de tráfico de drogas internacional ou interestadual.

Ao excluir as amostras de cocaína na forma de crack e sal (cloridrato), os demais entorpecentes apreendidos pela Polícia Civil como sendo oxi constituem-se pasta base e cocaína base (pasta base refinada), com características químicas idênticas àquelas encontradas nas substâncias apreendidas pela PF.

domingo, 14 de agosto de 2011

ANA CAÑAS

PARABÉNS, ENFERMEIRA

Iara Jaccoud Machado

AS DUAS MORTES DO VOVÔ

POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE

O velho Cabral estava lendo o jornal “O Trabalhista”, sentado numa cadeira de balanço, daquelas de macarrão, na varanda de sua casa, na Rua Cláudio Mesquita, em Manaus. De repente, começou a rir, inicialmente de forma discreta, contida, mas o acesso de riso foi crescendo, se avolumou, se apoderou de seu corpo que balançava, em convulsão. A gargalhada sonora, capaz de matar de inveja a Fafá de Belém em seus dias mais hilariantes, ecoou por todo o seringal Mirim. Ele riu, riu, riu, mas riu tanto que morreu de rir. Literalmente. Teve um ataque fulminante do coração. Tombou já sem vida.

- O vovô morreu – gritou Huguinho Reis, muito assustado.

Minto, estamos na década de 50, Huguinho não era nem nascido. Quem gritou, já de olho em uma das netas com quem depois acabou casando, foi o Ferreti, que viu o velho esticar as canelas. O vovô era capaz de rir desbragadamente como a Fafá, mas não possuía, que nem ela, um cofre enorme para guardar tanto riso, por isso o peito dele não aguentou. Explodiu. O corpo desabou, junto com os óculos, sobre o jornal, cuja manchete panfletária berrava em letras garrafais: “ABAIXO O CABELEIRA, O MAIOR LALAU DA CERA”.

Cabeleira era o apelido do ex-governador Álvaro Maia. CERA, a Comissão de Estradas de Rodagem do Amazonas, que depois se transformou em Departamento, mudando a sigla para DERA, o precursor do DNIT. E “O Trabalhista” era o jornal do PTB, liderado na época por Plínio Coelho, que baixava o sarrafo denunciando a corrupção, embora Álvaro Maia fosse um poço de virtudes se comparado ao filho do ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, cujo enriquecimento foi galopante.

No velório do velho Cabral, lá na Funerária Almir Neves, que acabou sendo divertido, com todo o respeito, vinha a clássica pergunta:

- Ele morreu de quê?

Os parentes, no meio da dor e do sofrimento, explicavam, e aí ninguém aguentava, as pessoas começavam a rir e queriam saber mais:

- Morreu rindo, mas rindo de quê?

Mistério

Pois é, rindo de quê? Um mistério. Ninguém entendia. Até hoje ninguém sabe, nem mesmo uma das netas do velho Cabral, a Rosilene Odina, que me contou, ontem, por telefone, com riqueza de detalhes essa história absolutamente verdadeira, testemunhada por várias pessoas que estão vivas e são dignas de fé.

Ela diz que o velho Cabral fazia parte da ala que os opositores da UDN e do PSD chamavam de “canalha da quinta coluna petebo-comunista” e que provavelmente o ataque de riso fora provocado pela notícia sobre a corrupção nos transportes.

Mas qual é a graça que pode ter a corrupção? Num exercício especulativo, podemos ressuscitar o velho Cabral, colocando-o diante do noticiário dessa semana no “Diário do Amazonas”. Vamos lá. Ele abre o jornal e lê a manchete: “Policia Federal prende 36 pessoas por desvios de recursos do Turismo”.

No corpo da notícia, o velho Cabral é informado que no ano de 2010 desembarcaram 459 turistas estrangeiros no Amapá. Considerando que o Airbus A-330 pode transportar até 475 passageiros em cada voo, o total de turistas que entraram no Amapá durante um ano inteiro não lotaria um avião numa única viagem. O Amapá participa com 0,001% - eu falei zero vírgula zero, zero um por cento - dos que embarcam em voos internacionais no Brasil e 0,005% dos que desembarcam. O fluxo de passageiros nos voos nacionais é igualmente irrisório.

Dos 8.956 guias de turismo existentes no Brasil, apenas 18 atuam no Amapá, cujos hotéis, pousadas e flats somam 19 unidades. No entanto, o Ministério do Turismo não hesitou em aprovar um megaprojeto de cursos de capacitação para os guias do Amapá. Assinou três convênios suspeitos no valor de R$ 17,7 milhões – eu falei dezessete milhões e setecentos mil - com uma ONG, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), que sequer ministrou os cursos, mas embolsou o dinheiro. Aqui o velho Cabral começa a rir.

Continua lendo que as verbas foram desviadas, com orientação do próprio secretário-executivo do Ministério do Turismo, que ensinou a um empresário como montar um negócio de fachada para enganar a instituição. O riso do velho Cabral aumenta ao saber, ainda, que quem defende os membros da ONG fraudulenta é o escritório do filho do ministro do TCU, que teve acesso prévio à acusação.

Vovô Cabral começa a gargalhar quando toma conhecimento de que a autora da emenda que deu origem aos recursos desviados é a deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP), acusada de embolsar parte da grana. A deputada jura que não conhece o Ibrasi, que escolheu essa ONG para desovar a bufunfa, porque soube de sua existência através de panfleto distribuído em evento do Ministério do Turismo. Aí as gargalhadas tomam conta do corpo do velho Cabral.

Os membros da quadrilha do Turismo foram presos. O avô de Rosi Odina vê na televisão o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), criticar como “um exagero” a prisão do ex-deputado pelo PMDB, Colbert Soares e dizer que “o uso das algemas pegou muito mal”. Aí, o vovô lê as declarações da ministra de Relações Institucionais Ideli Salvatti e do ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, primo do Collor de Mello, ambos condenando como abuso a utilização de algemas nos presos e que isso “leva as pessoas a pensarem que o caso é mais grave do que é”.

Crime hediondo

O velho Cabral começa a ter convulsões de tanto rir. Ele constata que todos os envolvidos com corrupção nos ministérios do Turismo, da Agricultura e dos Transportes são indicações dos partidos aliados do governo, que milhões de reais foram sugados do erário público, num escândalo envolvendo altos funcionários e que o vice-presidente da República, a ministra e o ministro que se apressaram em condenar as algemas esqueceram-se de externar qualquer indignação contra o roubo.

Seu riso fica igual ao da Fafá quando lê as outras notícias: “CPI no Paraná descobre rombo de R$ 491 milhões no Porto de Paranaguá, um dos gestores era o irmão do ex-governador Requião”. “Prefeito de Belo Horizonte gasta R$ 900 mil com jatinhos”. “Ministro do Turismo, Pedro Novais, indicado por Sarney, paga motel com dinheiro público”. “Cunhado do governador de SP, Alkmin, denunciado por fraude em escola de Pindamonhagaba”. Não escapam nem os militares: “Fraude no Instituto Militar de Engenharia tem cinco generais sob suspeita”.

É aqui que o velho Cabral morre pela segunda vez, de tanto rir, quando lê que o líder do DEM na Câmara, Antonio Carlos Magalhães Neto – logo quem? - é que quer investigar os corruptos. Consciente de que o desvio dessas verbas é responsável pelos médicos mal pagos, pelas ambulâncias abandonadas, pelos hospitais sem equipamentos e pelos remédios com validade vencida, o velho Cabral morre outra vez antes de saber do lançamento da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção coordenada pelos deputados Francisco Praciano (PT-AM), Paulo Rubem (PDT-PE), Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) e Alessandro Molan (PT/RJ).

A Frente quer que a Câmara aprove projeto tornando crime hediondo os casos de desvios de verbas destinadas à saúde, educação, compra de medicamentos, merenda escolar e saneamento básico. Já morto, vovô Cabral não leu o relatório “Corrupção: custos econômicos e propostas de combate” da Federação das Indústrias de São Paulo, mostrando que se a corrupção fosse reduzida, a quantidade de leitos nos hospitais públicos poderia subir de 367 mil para 694 mil, se poderia construir moradias para 3 milhões de famílias ou levar saneamento básico para 23 milhões de domicílios.

É assim que vovô Cabral morre outra vez, rindo. Rindo de quê? Da nossa própria desgraça coletiva, do fato de boa parte dos homens que ocupam cargos públicos serem verdadeiros bandidos que provocam protestos de indignação quando são algemados. O vovô Cabral morre com saudades do jornal “O Trabalhista”.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO). Escreve no Taqui pra ti.

sábado, 13 de agosto de 2011

METEOROS

Eles não apareceram na madrugada, mas fiz chover no meu quintal

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

OVO DE SERPENTE

Fátima Almeida

O senador Jorge Viana (PT), que foi alavancado ao poder por dom Moacyr Grechi, disse recentemente, em Xapuri, que o senador Sérgio Petecão (PMN) quer colocar o Acre no atraso, pois o mesmo quer atrasar o relógio para deixar o Acre para trás.

Um homem como Jorge Viana, que vive cercado por filósofos e historiadores de carteirinha, confunde uma questão de cunho filosófico com a animosidade típica da disputa partidária. E ainda procura confundir as pessoas de forma um tanto quanto leviana.

A noção de progresso é produto da ideologia burguesa que criou a Matrix e acelerou a destruição do Planeta com o projeto global de industrialização. Ela consome vorazmente os recursos naturais não renováveis para obtenção de lucros estratosféricos às custas da favelização reinante por toda parte.

É preciso desacelerar isso, inclusive a superexploração da classe trabalhadora, que está nos estertores. Qualquer medida que vise isso é bem vinda pela vida em todas as suas formas e especificidades.

É provável que o senador Sérgio Petecão não seja movido por reflexões desse tipo. É provável, ainda, que seja movido por interesses políticos ou até mesmo por pura acreanidade.

Mas o senador Jorge Viana deveria separar as coisas e ser coerente em seus discursos de defensor da sustentabilidade.

Não suporto esse tipo de saudosismo. Melhor faria em fazer uma auto-avaliação de forma crítica, assumir os erros cometidos, os equívocos.

Até porque as alterações climáticas precisam de medidas urgentes, emergentes e posicionamento político firme e não de heróis porque ergueram uma bandeira numa determinada época e chocaram um ovo de serpente.

Fátima Almeida é historiadora acreana

REZAR É PRECISO

POR ELSON MARTINS


Nos anos 70 e 80, na época sem chuvas que vai de abril a outubro, o Acre ardia com as queimadas e fedia a pólvora com os conflitos entre seringueiros e fazendeiros, pela posse da terra.

Com incentivos do governo federal, grupos empresariais chegados do sul e sudeste compraram 1/3 da floresta acreana e trataram de desmatar as áreas para criar bois, tendo que expulsar os tradicionais ocupantes, os seringueiros.

Os sindicatos organizados por João Maia e a igreja progressista de D. Moacyr apoiaram a resistência dos trabalhadores que perderam seus principais líderes - Wilson Pinheiro (em 1980) e Chico Mendes (em 1988), assassinados de emboscada a mando de fazendeiros.

Essa luta ganhou repercussão nacional e internacional, e o Acre virou referência ambientalista com seu povo da floresta. Hoje, decorrido 30 anos de embates, embora algumas conquistas possam ser apontadas em favor dos trabalhadores, o risco das queimadas e de exclusão social permanece.

Com um agravante: os dois ícones da resistência acreana, João Maia e D. Moacyr, estão fora de combate. Maia sofreu um AVC e perdeu a fala e parte do movimento das mãos. E o bispo, vítima de dois acidentes de carro em Rondônia, também se desloca com dificuldades, tendo que se apoiar numa bengala.

Na terça-feira (9), os dois tiveram um encontro emocionante no sítio de João Maia, no Quinari, a 30 quilômetros de Rio Branco, no qual só D. Moacyr falava, lembrando momentos históricos das lutas do passado, enquanto Maia confirmava com gestos e olhos avermelhados.

Antes de despedir-se o bispo, em pé, rezou um Padre Nosso e uma Ave Maria. Na estrada, de volta a Rio Branco, comentou:

- Ele precisa falar. Tem tanta coisa a nos dizer sobre aqueles tempos difíceis.

Elson Martins é jornalista acreano