sábado, 31 de janeiro de 2009

TARSO GENRO

"Defensores de anistia a torturadores são os
mesmos que defendem extradição de Battisti"



Debaixo da lona de um circo montado no Fórum Social Mundial, em Belém, onde participou de debate sobre direitos indígenas e a Constituição Federal, o ministro Tarso Genro, da Justiça, comentou com exclusividade sobre o caso do italiano Cesare Battisti, a quem concedeu refúgio político.

Leia a entrevista no Blog da Amazônia.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

APELO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

Eles pedem a presidentes "bolivarianos"
direito de discutir saída para a crise



O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o economista João Pedro Stédile, apelou aos presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Rafael Corrêa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai) apoio para que os movimentos sociais sejam convidados a debater saídas para a crise financeira nas próximas reuniões de cúpula dos países da América Latina.

Stédile disse aos quatro presidentes que os governos da região necessitam se unir para promover “mudanças estruturais e não medicina para o capital”. Ele chegou a fazer referência à Cúpula da América Latina e do Caribe, realizada em Salvador (BA) em dezembro.

- Todos os presidentes da América Latina estiveram lá e nada decidiram. Comeram bem, andaram na praia e nós na expectativa de mudanças.

- Eu não fui à praia - interrompeu Hugo Chávez.

- Alguns gordos não foram à praia - corrigiu Stédille.

O discurso radical do líder do MST contrastava com o João Pedro Stédille que horas antes, em frente ao ginásio da Universidade Estadual do Pará, distribuía gentilezas às personalidades enquanto aguardava a chegada dos presidentes.

- Stédille, beija-me aqui - pediu o engenheiro Joel Suárez Rodés, coordenador geral, em Havana, do Centro Memorial Dr. Martin Luther King Jr. O cubano foi prontamente atendido. Stédille parecia tão pouco radical que até aceitou repetir o beijo para foto no Blog da Amazônia.

Leia mais no Blog da Amazônia.

XÔ SARNEY!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

PSDB DECIDE APOIAR TIÃO VIANA

Deu no Blog do Josias:

"O PSDB optou por apoiar a candidatura do petista Tião Viana (AC) à presidência do Senado.

O líder tucano Arthur Virgílio (AM) já comunicou a decisão ao candidato petista.

Deu-se num telefonema disparado pouco antes das 22h desta quinta.

Antes, Virgílio discara para Roseana Sarney (MA), filha e coordenadora da campanha de José Sarney (PMDB-AP), o rival de Tião.

A deliberação do PSDB foi tomada em reunião realizada no Recife (PE), na casa de Sérgio Guerra (PE), presidente do partido.

Além de Virgílio e Guerra, participou do encontro o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Os outros senadores tucanos foram consultados pelo telefone. Exceto Mário Couto (PA). Em viagem ao exterior, Couto não foi localizado.

Há pouco, o senador Arthur Virgílio confirmou ao blog: "Nossa decisão está tomada. Apoiaremos o senador Tião Viana"

"Fizemos a opção que consideramos melhor e mais adequada para o Legislativo".

Ouvido pelo repórter, Tião disse que “o elo” do entendimento de sua candidatura com o tucanato “foi a carta-compromisso do PSDB”, que assinara e respondera na véspera.

“O PSDB me informou que não reivindica nada além disso”. E quanto aos cargos na mesa diretora e nas comissões do Senado?

Tião responde: “Esse assunto, o PSDB me informou que vai tratar dentro do que está previsto nas regras da proporcionalidade das bancadas.”

Sob a aparência de despredimento, o tucanato almeja pelo menos três cargos: a primeira vice-presidência do Senado e o comando das comissões de Economia e de Relações Exteriores.

São posições que, na véspera, Tião dissera aos tucanos que conseguiria prover.

A decisão do PSDB representa um inédito racha no bloco partidário que faz oposição a Lula no Senado.

Horas antes, o DEM formalizara o apoio a Sarney. Esperava-se que o tucanato fosse no mesmo rumo.

Mas as relações da cúpula tucana com Sarney haviam saído dos trilhos já na quarta, conforme noticiado aqui.

Embora lamente a opção do parceiro, José Agripino Maia (RN), o líder do DEM disse que a parceria com o PSDB não sofrerá abalos.

"Nossas convergências são permanentes e nossas divergêncis são pontuais", afirmou Agripino.

O PSDB dispõe de 13 votos no Senado. Noves fora o risco de traição, ao migrar para Tião, o tucanato injetou ânimo numa candidatura que, embora petista, Lula abandonara.

Os aliados de Sarney sustentam que, mesmo sem o PSDB, o morubixaba peemedebista já disporia de votos suficientes para prevalecer em plenário. A ver.

De perceptível, por ora, apenas a sensação de que, vitaminado pelo PSDB, Tião Viana voltou ao jogo".

PRAGMATISMO EM CRISE

Antonio Alves

Já vi a cena várias vezes, já não me surpreende: alvoroço, aplausos, assovios, as pessoas em pé nas cadeiras e os fotógrafos se esforçando para colher, no meio da multidão, uma imagem da franzina senadora Marina Silva (PT-AC), ex-ministra do Meio Ambiente e uma das estrelas mais visíveis no céu do “outro mundo possível” do Fórum Social Mundial (FSM). Desta vez eram duas estrelas, Marina e Leonardo Boff, o mais conhecido dos criadores da Teologia da Libertação, hoje um escritor totalmente convertido ao pensamento e a militância ecológica.

Na platéia, a maioria era de jovens, muitos pertencentes aos chamados Coletivos que surgiram com a realização das conferências nacionais de Meio Ambiente, quando Marina era Ministra. A eles, que organizavam o Encontro, juntaram-se centenas de pessoas de variadas idades e procedências, num dos mais numerosos eventos do FSM, até agora. Havia, certamente, mais de duas mil pessoas -muitas em pé, do lado de fora da tenda instalada no campus da Universidade Federal Rural da Amazônia.

No alvoroço de ontem, não faltou o côro “Marina Presidente”, que se repete nessas ocasiões e que causava em Marina indisfarçável embaraço quando estava no Ministério de Lula, ao lado da favorita Dilma Roussef. Hoje ela apenas baixa a cabeça e ninguém sabe o que diz aos seus botões. Depois o coro se transformou em apelos para que todos se sentassem e ficassem quietos. Finalmente, começaram as falas.

Três jovens desafiaram a impaciência do público e até conseguiram arrancar aplausos com discursos semelhantes aos do movimento estudantil das décadas passadas, embora moderados pelo ideário ambientalista e seu inevitável tom de pacifismo e respeito á diversidade. Depois falaram os convidados.

Leonardo Boff é enfático mas tem a calma de um pregador franciscano e mantém sempre um certo tom filosófico e analítico. Diz que a crise do capitalismo é “terminal” e não parece preocupado com gozações, embora exponha detalhadamente seus argumentos para esclarecer que não está sendo “voluntarista” com tal declaração. Vai da economia à espiritualidade, passo a passo, organizadamente.

Marina é mais militante, lembra a “neguinha” das passeatas e dos comícios. Isso me surpreendeu, fazia tempo que não a via assim. Não deixa de citar números e informações, também conta histórias e causos, até faz filosofia: fala de um novo projeto civilizatório. Em tudo demonstra noção das dificuldades práticas, mas argumenta em favor da utopia, dos sonhos e ideais. E aconselha os jovens: “não sejam pragmáticos”.

Não sei se outro mundo é possível -estou certo de que este não tem mais jeito-, mas me alegra ver Marina na luta. Além do mais, acho divertido vê-la sair num carro de bombeiros para escapar da multidão que quer esmagá-la com abraços e imobilizá-la em poses para fotos. E se já não sou tão jovem para manter utopias, posso ao menos me sentir vingado: o pragmatismo também entra em crise.

Antonio Alves é jornalista

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

FESTA NA ABERTURA DO FÓRUM SOCIAL


Veja mais fotos no Blog da Amazônia.

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL COMEÇA HOJE

Evento em Belém (PA) traz risco de nova vaia a Lula


A abertura da nona edição do Fórum Social Mundial (FSM), em Belém (PA), onde a criminalidade aumentou 21% entre 2007 e 2008, será marcada, a partir das 15 horas, por uma marcha pela paz que pretende reunir mais de 100 mil manifestantes nas ruas do centro da cidade, com início na Praça Pedro Teixeira (Escadinha), ao lado da Estação das Docas, até a Praça do Operário, no bairro de São Braz.

Manifestantes querem formar uma faixa humana com as mensagens “SOS Amazônia” e “AMA Amazônia”, para que as imagens das mesmas sejam captadas do alto e transmitidas mundialmente pela mídia. Com isso, acreditam que podem sensibilizar a sociedade mundial sobre a importância da floresta amazônica para o planeta.

Segundo os organizadores, o FSM em Belém já reúne mais de 100 mil pessoas, 5,6 mil organizações de 150 países de todos os continentes e estão programadas 2,4 mil atividades ((plenárias, conferências, palestras, oficinas, eventos esportivos e culturais) durante os cinco dias do evento.

Existem 900 veículos de comunicação e 2,8 mil jornalistas credenciados. Na pauta das principais discussões estão a crise econômica mundial, as mudanças climáticas e as alternativas aos modelos de desenvolvimento.

Mais de 2 mil indígenas de nove países amazônicos estarão à frente da marcha. Eles querem chamar a atenção para a situação da floresta e dos povos que nela vivem, além de confrontarem a crescente crise ecológica e social com a necessidade de medidas que possam lhes garantir a sobrevivência.

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FRONTEIRA DO OUTRO MUNDO POSSÍVEL

Marina Silva

A nona edição do Fórum Social Mundial está acontecendo em Belém desde o dia 24, com as atividades chamadas de pré-Fórum. A abertura oficial será hoje. E quando digo acontecendo nem de longe consigo transmitir o que é essa mobilização da sociedade global para discutir a construção de um outro mundo, regido por valores de ética e solidariedade, com justiça social e crescimento material, dentro de critérios de respeito ao meio ambiente.

O Fórum foi criado em 2001 sob o lema "um outro mundo é possível", contrapondo-se ao Fórum Econômico de Davos na condenação à doutrina do neoliberalismo e à centralidade do Mercado. Já naquela época alertava para o descontrole de uma situação que hoje, transformada em grave crise, bate à porta de todos os países.

E justamente em meio a essa crise - e na Amazônia, símbolo da força destrutiva do modelo de desenvolvimento vigente e também das esperanças de um futuro sustentável - o Fórum se defronta com encruzilhadas cruciais para sua continuidade. Será este o momento de juntar forças e assumir uma plataforma de mobilização global em torno das grandes questões contemporâneas?

Muitas pessoas se perguntam aqui em Belém se não é chegada a hora de o Fórum dar o salto político para se tornar o catalisador de uma reação da sociedade à concentração de poder e de meios no encaminhamento das crises econômica e ambiental que dão o tom e o tamanho do desafio de nossos tempos.

Num dos encontros pré-Fórum foi levantada a necessidade urgente de plataforma global para a área da Saúde. Diante do abalo estrutural imposto pelas mudanças climáticas no planejamento de cada setor, não dá mais para cada país tentar gerenciar seus problemas de forma estanque, sem intensa troca de informações e soluções conjuntas. Urgência na cobertura de saneamento básico deixou de ser um problema local ou nacional para ser global, diante do risco de que os eventos extremos, especialmente as grandes enchentes, possam poluir reservatórios e aquíferos em larga escala e impedir o uso do recurso natural mais dramaticamente em vias de escassez, que é a água.

O tema do Fórum Mundial da Educação, que reuniu cerca de 5 mil pessoas, também remete a uma era de transição. Discutiu-se o papel da educação na construção da cidadania planetária, no sentido de desmontar o porto seguro do pragmatismo que ainda vê na educação apenas a catapulta que lança o jovem para o mercado de trabalho em condições competitivas. O que é, afinal, educar para o século XXI? É, no mínimo, ter uma visão de mundo não fragmentada e ser capaz de repensar os cânones utilitaristas.

Os jovens de hoje têm que ser preparados para uma inflexão civilizatória, para usar as ferramentas que a educação lhes dá, num campo de ação muito mais amplo. E se não forem agentes dessa inflexão estarão inapelavelmente perdidos na falta de sentido de uma fórmula em franca superação.

A motivação para discutir esses temas é muito grande. Aliás, a mobilização para as questões ambientais chega a ser impressionante.

A energia que circula a cada Fórum é muito animadora. Impossível não imaginar do que ela seria capaz se conseguisse multiplicar, em todos os países, o conhecimento, a inovação, a capacidade crítica que circula durante uma semana nesse território da diversidade, do encontro de culturas, saberes, sonhos e ideais. E como tudo isso poderia colaborar para uma nova qualidade das instituições e do processo de desenvolvimento.

Não sei se há pesquisas sobre o impacto do Fórum nos seus oito anos de existência. Mas, vendo a olho nu, interagindo com as pessoas que aqui estão, fica-se sabendo de histórias que demonstram a sua força para abrir portas e desencadear mudanças, das mais diferentes maneiras. Ontem tive um exemplo disso.

Há muitas pessoas da Índia em Belém. Conheci várias delas no debate ecumênico sobre fé religiosa e lutas sociais, organizado pelos jesuítas. Fui então procurada para uma entrevista por um rapaz que queria saber, basicamente, como se dava aqui a luta pela demarcação de terras indígenas e das comunidades tradicionais. Na conversa, ele me contou que a maioria dos indianos presente ao debate era de "intocáveis", ou os sem-casta marginalizados da sociedade hindu. Embora hoje as leis da Índia proíbam a discriminação por castas, na prática elas continuam a valer.

Foi surpreendente saber que a realização da quarta edição do Fórum de 2004 em Mumbai, na Índia, deu um tremendo impulso à organização dos sem-casta em movimentos por inclusão social, garantia de direitos e acesso à terra. O Fórum foi a primeira oportunidade em que puderam se manifestar em público livremente e em pé de igualdade, fora de seus próprios círculos. O interessante é que sua noção de pertencimento social se deu extrapolando seu próprio país, no espaço de cidadãos do mundo. E isso é algo excepcional em termos de quebra de barreiras milenares e de mudanças culturais que darão solidez ao futuro possível, desde que batalhemos por ele.

Marina Silva é professora secundária de História, senadora pelo PT do Acre, ex-ministra do Meio Ambiente e colunista da Terra Magazine.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

MANGA

Do leitor Gerson Januário:

Estou lhe enviando fotos de uma das maiores mangas que já vi na vida. Foi colhida esta semana no quintal de minha casa, no bairro das Placas, em Rio Branco. Pesa 2,190 Kg. Acho que daria pra aparecer no Guinness Book. Curioso com o tamanho da manga, pesquisei na web e encontrei notícia de uma no portal Terra.



O RIO JORDÃO COMO TESTEMUNHA

Moisés Diniz

O lugar é sagrado para o povo kaxinawá do alto rio Jordão. Protegendo uma árvore secular, bancos saem da terra para receber uma dúzia de lideranças indígenas, que vieram dialogar comigo sobre os sonhos que os alimentam a incontáveis gerações. Entre a vegetação das margens do rio Jordão, como uma estrada de ferro que traz e leva sonhos, nosso encontro atinge o entardecer e o canto dos primeiros pássaros noturnos enche a mata com a sua sinfonia.


Eu acabara de chegar ao Jordão, após seis dias de viagem subindo o rio Tarauacá. Nosso primeiro encontro foi na foz do igarapé Sacado, distante sete horas de barco da cidade de Tarauacá. Lá a principal reivindicação foi a necessidade de se implantar o segundo grau, com mais de três dezenas de adolescentes tendo que se aventurar, sem dinheiro, casa e família, na cidade em busca do estudo que emancipa e renova sonhos. Há ainda a crônica ausência de ramais, que impede a instalação da energia elétrica, com dinheiro garantido, mas sem condições de implantar os postes.

No seringal Apudi a comunidade da família do ‘seu’ Calixto está como se uma penumbra pairasse sobre as moradias. O líder local, o Francisco, precisa de uma dose de entusiasmo e de novas idéias que quebrem a mesmice e o desânimo. A máquina peladeira de arroz estava desativada por causa de umas poucas peças. Não ficamos com conversa mole, enviamos o motor para conserto na cidade. Um barco de oito toneladas, motor Yamaha B18, fora entregue alguns dias antes da minha chegada. Ali não estava ausente o estado, desaparecera o sonho de embalar a vida e lso-la cheia de luz. Era preciso a presença dos líderes urbanos e dos políticos que sempre estiveram no meio daquela gente simples e sonhadora, pois ‘não só de pão vive o homem’.

Na terra indígena Praia do Carapanã, do povo kaxinawá, passamos o dia visitando as sete aldeias, sob comando do cacique geral Jorge Leme e de seu filho Bené. Na aldeia Água Viva encontramos o jovem Edmílton produzindo um artesanato em madeira de encher os olhos. Nenhuma estrutura de apoio para que aquele artista da floresta produza belas peças em madeira, utilizando apenas um rústico e pequeno machado. Ficou ali registrada a necessidade de uma ação imediata da área de cultura do governo para incentivar a aldeia e seu artista. Se eu não tivesse ido lá nunca saberia que na aldeia Água Viva a arte imita a vida.

No seringal Sumaré, após três dias de viagem, um morro coberto de árvores adolescentes anuncia que uma morada foi abandonada e que seu dono realiza a sua última jornada. O velho líder rural e extrativista Chico Crente foi ao encontro de Deus e deixou os seus filhos cuidando do seu legado de luta e de resistência. O jovem Adelsom, seu filho, como delegado sindical, mobiliza e organiza as famílias do lugar em busca da sobrevivência e da felicidade. Naquele pedaço de tarde ensolarada, com o rio Tarauacá devolvendo suas últimas águas da grande enchente, senti um aperto no coração quando lembrei do velho amigo Chico Crente, na sua eterna alegria e jeito irreverente de viver e sonhar. Um dia para lembrar que a vida é tão fugaz como um beijo proibido, um sangramento.

Nos seringais União e Tamandaré, sob o comando dos líderes Raimundo Cavalcante e Raimundo Pipira, é gritante a ausência de mobilização social e de perspectiva para o povo do lugar. Assumi o compromisso de retornar em breve à região, encontrando um jeito de levar até aquele rio a presença do estado e devolver-lhe a alegria que alguém seqüestrou. Confesso que não foi um dia bom, saí deprimido e sequer pude desviar o desencanto nas fumaças do meu cigarro, pois estou lutando contra ele, como se combate um lobo.

Na reserva extrativista de Alagoas encontramos belas moradias de madeira, pintadas e cobertas de alumínio, mas percebi que faltava algo que embalasse aqueles homens rústicos e aquelas mulheres de olhar silencioso. Era como se eles estivessem num lugar que não disse ainda como eles devem produzir e se alimentar. O seu semblante era o de homens pobres no meio de um jardim de delícias onde, todavia, Deus postou um anjo a proteger a árvore da vida do olhar de cobiça. Aqueles homens estavam como Adão e Eva, proibidos de comer da árvore do meio do paraíso e sujeitos ao eterno Suplício de Tântalo, que contemplava os frutos e sentia seu aroma, mas não podia lso-los. Que pecado havia cometido o povo da reserva extrativista do Alto Tarauacá?

Chegamos ao Jordão ao entardecer e os camaradas, que elegeram três vereadores e o vice-prefeito, me receberam com indisfarçável alegria. Além da protocolar visita ao prefeito em exercício, lson Farias, o contato com os vereadores, a reunião com os camaradas, visitamos o núcleo da União do Vegetal e, com alegria, encontrei jovens que, no último novenário, andavam alcoolizados pelas ruas. Assumimos o compromisso de transferir solidariedade e apoio à União do Vegetal do querido Jordão.

As nove noites foram ocupadas, nessa ordem, por nove missas, nove leilões e nove festas com o cantor da terra Marazona. O povo de Jordão é tão alegre, festivo e irreverente que, além das reivindicações econômicas e sociais, o mais robusto pedido foi o de que ajudássemos para que a cidade realizasse um alegre carnaval. Jordão nos cativou e nós iremos ajudar e passar dois dias de carnaval lá, junto com o povo que sonha e ri nas cabeceiras do rio.

O último compromisso, no nono dia de viagem, foi a bela e mágica reunião indígena que abriu este relato. Sob a luz das estrelas e os riscos de luz dos pirilampos, o povo kaxinawá falou dos seus sonhos e da sua resistência em proteger a terra e seus valiosos recursos naturais. Escola de segundo grau, açudes, energia elétrica, saúde, apoio à sua produção cultural, sonhos de um povo que resiste ao branco capitalista e seu desejo estúpido de transformar a terra em dinheiro e em mercadoria. Os líderes indígenas não pediram financiamento individual e nem título pessoal da terra, eles querem viver e produzir coletivamente e proteger a riqueza que os cerca e protege as futuras gerações.

Minha despedida de Jordão é como um adeus em prosa e verso. A poesia dorme nas noites de festa e de contato com a pele de todas as utopias e a prosa é a necessidade de viver, dormir, comer, estudar e produzir, registrada nas demandas do povo que falou aos meus ouvidos e ao meu sentimento. Lutarei por Jordão com a certeza de que aquele povo tem a mesma gênese e a mesma utopia do povo semita que atravessou o mais antigo rio das civilizações. Jordão é nota mil.

Moisés Diniz é professor e deputado estadual do PC do B.

DIRETO DE BELÉM


Esqueci de avisá-los: desde sábado estou em Belém, onde acontece a nona edição do Fórum Social Mundial.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

SIMÃO PESSOA

Entrevistei o escritor amazonense Simão Pessoa, autor de "Alô, doçura! – os protocolos secretos da AMOAL". Ele participa nesta sexta-feira, em Rio Branco, do lançamento do livro na Net House - Av. Getúlio Vargas 1.666, a partir das 19 horas. É a opção pagã no feriado estadual do "Dia do Evangélico".



- Nós, os homens que gostamos de mulheres, somos animais em extinção, a exemplo dos dinossauros. Este livro é um chamamento para a resitência masculina. Nós temos que nos defender dos homossexuais, dos tribufus, das mocréias. É um protesto contra essa sociedade comum de dois gêneros que a midia quer nos fazer acreditar. Queremos defender a minoria em que se transformou o heterossexual convicto. Nesse campo, eles (os homossesuxais), as lésbicas, as feministas... Todas essas coisas que tentam atrapalhar a relação homem-mulher, para nós são inimigos - afirma o escritor.

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AMOAL SEM SEGREDOS

Zémaria Pinto



Começa que Alô, doçura! – os protocolos secretos da AMOAL (Antiga e Mística Ordem dos Abatedores de Lebre) não é propriamente um livro, mas uma suma simoniana. E aqui utilizo suma no sentido escatológico, e não teológico, entendo-se escatologia no seu sentido teológico-axial. Quer dizer: sacanagem pouca é bobagem.


Reunindo os textos do Manual do Canalha e do Manual do Espada, remixando uns, reconstruindo outros, mais uns tantos inéditos, temos um apanhado da melhor literatura erótica do ocidente, desde o Cântico dos cânticos, atribuído a Salomão (ou vocês acham que um cara que tem 400 mulheres vai ter equilíbrio hormonal para escrever aqueles versos idiotas?), até o próprio Simão Pessoa, que, em pleno século XXI, mantém a tradição da literatura que tem entre seus expoentes os gregos Safo e Anacreonte, os romanos Ovídio e Petrônio – e mais Boccaccio, Rabelais, Aretino, Sade, Sach-Masoch, Bocage, Anaïs Nin, D. H. Lawrence, Jean Genet, William Burroughs e Henry Miller. Só por essa lista essencial, você já sacou que a AMOAL é coisa séria.

Com uma origem que remonta a um tempo mítico, muito além do tempo cronológico primordial, a AMOAL nasceu da Machonaria, entidade secreta que em nada pode ser confundida com aquela outra de nome ligeiramente parecido e muito menos história. O símbolo da organização, pelo menos no Brasil, é ninguém menos que Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, que às vezes tem a cara do Grande Otelo, às vezes, a do Paulo José, não sendo nenhum dos dois, nunca. Macunaíma, que os macuxis muito apropriadamente chamam de Macunaima, com a tônica no segundo a, foi escolhido certamente por ser “o protótipo do macho amazônico, fodedor exemplar, que não se prende, jamais, a nenhuma fêmea, fazendo da vida uma aventura errante”, como observou a professora Theófila Belisário, citando o grão-sacerdote da AMOAL Vinicius de Moraes, na edição crítica para o livro de Mário de Andrade, de 1978, quando Macunaíma completava 50 anos. Agora, aos 80, ele está mais contemporâneo e, por que não dizer?, mais atemporal que nunca. A propósito, ninguém mais antimacunaíma que o velho Mário de Andrade. Benzadeus...

Para quem já passou pelos manuais anteriores, estes Protocolos servirão, até o capítulo 23, como uma reciclagem, ou, melhor dizendo, uma revisão de princípios, pois o material inédito, a partir do capítulo 24 (que coisa!), só deve ser lido por mentes que já atingiram um grau superior no entendimento de qual realmente é o papel do macho na face da terra – além de cuidar das tarefas básicas essenciais, como fazer o café, levar as crianças para escola, pegar as crianças na escola, servir o almoço, manter a casa arrumada etc. Em todo caso, há sempre a saída das “poções mágicas e rituais de purificação”, que você deve usar/fazer sempre de óculos escuros, tipo formiga atômica, e sombrero mexicano, para evitar que alguém te reconheça, sabe como é?

Para os neófitos (que língua, a nossa!), informações importantíssimas sobre o que há de mais antigo – as feministas – e o que há de mais novo nessa barafunda – os metrossexuais. Na relação homem/mulher, que deveria se pautar pela simplicidade de um botaetiraepõe, essas duas espécimes vieram embaralhar o jogo. Para entendê-los, há um capítulo específico – o dos bichos escrotos. Mas não é só isso: tudo o que você queria saber sobre a bunda, mas tinha medo de perguntar; os rituais de fertilidade; a síndrome do casamento (um dia você vai ter um...); e a arte mágica da sedução – da cunhada à empregada, tudo é peixe na sua rede.

Sempre associei literatura com prazer. Aliás, sempre associei o que gosto com prazer. Ao ter nas mãos mais um livro do Simão Pessoa, não posso deixar de pensar que este (o livro, pô!) é um instrumento de prazer. Espero que seja bom pra você também.

O poeta amazonense Zemaria Pinto é autor da apresentação de "Alô, Doçura! - os protocolos secretos da AMOAL". Ele escreve no blog Palavra do Fingidor. Simão Pessoa, autor de "Alô, Doçura!", participa nesta sexta-feira, em Rio Branco, do lançamento do livro na Net House - Av. Getúlio Vargas 1.666, a partir das 19 horas.

MONUMENTO À DESOBEDIÊNCIA

Da jornalista Dora Kramer, colunista do Estadão:

"De volta à planície depois do discurso de posse de Barack Obama celebrando a tolerância, a coragem, a honestidade, a lealdade e o patriotismo entre outros valores caros à humanidade, Brasília nos oferta a volta de Renan Calheiros à cena, por intermédio do ex-presidente (da República, do Senado, da Arena, do PDS) José Sarney.

É de se perguntar: é tudo o que o Parlamento tem a oferecer ao cidadão brasileiro? Duas décadas e tanto de democracia plena e consolidada, inserção do Brasil na economia global, quebra de monopólios, ampliação do acesso a bens e serviços, formação de uma sociedade mais crítica, provas institucionais vencidas com louvor, nada parece afetar a firmeza do anacronismo na política.

Aquela velha esperteza do vai não vai, do dito pelo não dito, do jogo de simulações, ainda é saudada como demonstração de grande habilidade, digna de louvor e reconhecimento, quando se trata, na realidade, de um legítimo monumento à obsolescência.

O problema não é a pessoa do senador José Sarney, mas o uso que ele aceita que se faça da figura de um ex-presidente da República de reconhecido valor pelo papel exercido na transição democrática, com dotes de moderação e equilíbrio que já prestaram bons serviços ao País.

Não é admissível que agora se ponha a serviço de um senador envolvido em denúncias graves, obrigado por causa delas a renunciar ao mandato de presidente do Senado e salvo da cassação por conta da indulgência de seus pares e pelo que há de mais arcaico na política brasileira: a conjugação do fisiologismo com o corporativismo.

O senador Sarney desponta - faltando mais de 10 dias para a eleição - como o favorito. É bem possível que venha a se eleger porque conta com a maioria dos votos de seu partido, o PMDB, e até agora com a reverência de boa parte da oposição, DEM e PSDB.

Nem tucanos nem democratas ignoram os fatos subjacentes à alegação formal de que, sendo a maior bancada, o PMDB tem todo o direito de reivindicar a presidência da Casa.

Sabem muito bem que o jogo se dá em torno de uma disputa de hegemonia dentro do PMDB entre o grupo que durante o primeiro mandato de Lula prevaleceu na condução dos negócios governamentais do partido sob o comando de Renan e Sarney e a ala que aderiu na reeleição, sob a liderança de Michel Temer e Geddel Vieira Lima.

Ambos os lados lutam pelo lugar de interlocutor privilegiado deste e do próximo governo. PSDB e DEM confrontaram Renan Calheiros e o exortaram a deixar a presidência do Senado, imagina-se que convencidos da veracidade das denúncias que o atingiam.

Como ficam diante da sociedade emprestando os respectivos apoios à volta do canto da antiga musa? Darão o dito pelo não dito? Dirão que não sabiam dos detalhes? Alegarão que a História absolveu Renan Calheiros? Neste caso, ficam devendo desculpas ao senador por tudo o que disseram dele naqueles terríveis meses de 2007, da denúncia até a renúncia.

Oficialmente, justificam que não é politicamente interessante para a oposição dar ao PT a presidência do Senado em período pré-sucessão. Paralelamente apostam no rompimento da aliança PT-PMDB, se incentivarem o apoio a Sarney contra o petista Tião Viana, pondo em risco a eleição do presidente do PMDB, Michel Temer, para a presidência da Câmara.

Estrategistas de fancaria. Ou dissimulados, porque ainda que o mundo se acabe, o PMDB não romperá com o governo faltando dois anos, cinco ministérios, presidências e diretorias de estatais para terminar o mandato de Lula."

MAIS PIOLHO DE PREGUIÇA


Leitora Neuza Boufleuer nos envia a foto de um piolho de preguiça que encontrou no quintal da casa dela, pendurado no pé de jabuticaba. A lagarta trocou de roupa e ficou branquinha, branquinha. Aquela que fotografei já foi devidamente cremada, Neuza.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

JUSTIÇA DECIDE CONTRA HILDEBRANDO

O desembargador Arquilau de Castro Melo, da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Acre, indeferiu a liminar do habeas corpus impetrado pelo advogado Sanderson Moura para que o ex-deputado Hildebrando Pascoal seja julgado por causa do “crime da motosserra” em separado dos demais reús.

Há duas semanas, o juiz Élcio Sabo Mendes Júnior, da Vara do Tribunal do Júri de Rio Branco (AC), já havia indeferido o mesmo pedido da defesa. Sanderson Moura apresentou como principal argumento a suposta ilegalidade da decisão que indeferiu pedido de separação do julgamento de Pascoal pelo Tribunal do Júri.

Segundo o advogado, a decisão "fere os princípios da fundamentação das decisões judiciais, da dignidade da pessoa humana, da plenitude da defesa e afronta as garantias asseguradas aos acusados pela Convenção Americana de Direitos Humanos, no que se refere ao tempo e aos meios necessários para o exercício efetivo da defesa, exigência inerente ao Estado Democrático e de Direito.”

Ex-repórter no Acre, o desembargador Arquilau Melo considerou "ausente requisito de cautela" para indeferir a liminar.

- A concessão de liminar pressupõe a presença, concomitante, de dois requisitos, quais sejam: a fumaça do bom direito e o perigo da demora, consistindo, este último, na ameaça de dano irreparável, acaso não seja deferida a medida pleiteada - argumenta o desembargador na decisão.

Segundo Arquilau Melo, ao examinar os autos, em juízo de cognição sumária, não se visualiza a presença do "periculum in mora". Ele lembrou, ainda, que "não foi marcada a data para o julgamento que se objetiva cindir".

A defesa de Hildebrando Pascoal promete recorrer da decisão junto ao Superior Tribunal de Justiça.

"AMBULANCHA"

Primeiramente inventaram a moto-ambulância (abaixo) para o miserável município de Jordão. Lembram-se dela? Como observa o cartunista Braga, imagine uma grávida ou alguém que quebrou as costelas sendo transportado nesse trem.



Agora inventaram uma tal de "ambulancha" para o hospital de Tarauacá. É o que informa a manchete (leia) da Agência de Notícias do Acre.



Imaginei que "ambulancha" fosse lugar onde a gente se lambuza de tanto lanchar. Não, nao. Grosso modo, diz alguém do governo, a "ambulancha" é uma canoa de alumínio com um toldo. O blog compra foto do equipamento.

Como a irrealidade cotidiana é fantástica, vou brincar de casinha.

Não deixe de participar da campanha "Eu acredito na Copa no Acre".

A LIÇÃO AMERICANA

Fátima Almeida

Os Estados Unidos agora assumem que também são uma nação de negros. Durante décadas os filmes produzidos em Hollywood projetavam a imagem do galã branco, alto, bem proporcionado, tipo Rock Hudson, Henri Fonda, Charlton Heston. Na última década cresceu o número de filmes com atores e atrizes negros, inclusive galãs como Denzel Washington. Sem contar que filmes como Mississipi em Chamas passaram a revelar o martírio das populações negras do Sul.

Sabe-se que a idéia de liberdade é muito presente entre os norte-americanos. Lembremos que a inteligência e a criatividade humana se expandem em clima de liberdade de expressão e de pensamento, ao contrário dos ambientes dogmáticos que produzem indivíduos padronizados e reprimidos.

No Brasil, no período abolicionista, aconteceu um esforço, em especial de um deputado da Bahia, para que se fizesse reforma agrária em benefício dos ex-escravos, os quais poderiam adquirir lotes às margens dos rios e ferrovias. Mas a bancada conservadora não só impediu isso como favoreceu a doação de terras no Sul para imigrantes europeus. O desejo das elites brasileiras era, justamente, evitar que o Brasil se tornasse uma nação de negros como o Haiti cuja revolução os deixou em pavorosa.

No Amazonas o governador Eduardo Ribeiro engenheiro, foi altamente inovador , mas o fato de ser um mestiço maranhense aguçou a intolerância e o racismo de políticos amazonenses. Seu suicídio nunca foi explicado sendo que os comentários da época apontavam na direção de um assassinato de fato.

Na Bahia os africanos muçulmanos foram duramente castigados até mais que os outros. Mesmo estes sofreram perseguições religiosas registradas por Jorge Amado em sua obra Tenda dos Milagres. Os baianos, Caetano e Gil e suas intérpretes Gal e Bethânia com seu espetáculo divisor de águas, Doces Bárbaros derrubaram as barreiras e os preconceitos contra a cultura afro-brasileira, em especial os ritmos e o próprio Candomblé. Na Jamaica, Bob Marley ascendeu aos céus da música com o reagge.

O mundo mudou, dizem por toda parte. Enquanto assistia a posse de Obama, pela Globo News, lembrava de quando li A Cabana do Pai Tomás, aos doze ou treze anos de idade. É possível agora relaxar - este foi o primeiro pensamento que me ocorreu. Mesmo porque em períodos de crise do sistema o que se viu até então foi emergência de regimes totalitários. Sendo que tal coisa não pode mais ser possível porque o nacionalismo não pode mais ser instrumento de poder. A eleição de Obama é uma prova inconteste disso. As nações americanas começam a se reconhecer como pluriétnicas, caso da Bolívia, o país tido como o mais pobre do continente que elegeu um presidente indígena e o dos Estados Unidos, o mais rico, que elegeu agora um presidente negro.

Quanto ao Brasil, bem, o Brasil é pródigo em travestir o conceito de mudança no continuísmo das velhas práticas oligárquicas. O Brasil como disse Octávio Ianni não é um continente, é um arquipélago. Assim, o Sul é uma ilha que torce o nariz para o nordeste que é outra ilha que torce o nariz para o Norte e assim por diante. É também Macunaíma ou uma indústria cultural de malandragem.

O Brasil só poderá mudar quando a maioria compreender quatro coisas bem simples: só consumir o que puder pagar; pagar as contas em dia; se rebelar contra impostos abusivos e mandar corrupto para a cadeia como o ladrão que ele é.

Fátima Almeida é historiadora

CRIME DA MOTOSSERRA

O desembargador Arquilau de Castro Melo, da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Acre, deverá julgar ainda hoje a liminar do habeas corpus impetrado pelo advogado Sanderson Moura para que o ex-deputado Hildebrando Pascoal seja julgado por causa do “crime da motosserra” em separado de Pedro Pascoal Duarte Pinheiro, Alex Barros Fernandes e Adão Libório de Albuquerque.

A defesa fundamenta o pedido “na necessidade de se garantir ao paciente a plena defesa, a paridade de armas entre acusação e defesa, o devido processo legal e o tempo suficiente para se defender, o que não seria possível em meio a tantos acusados com advogados diferentes e com teses conflitantes”.

Hildebrando Pascoal e outros seis acusados foram denunciados pelo Minstério Público pelo assassinato de Agilson Firmino dos Santos, o “Baiano”. Pascoal é acusado de ter liderado sessão de tortura e de assassinar o mecânico. O crime foi cometido com requintes de crueldade, mediante intenso sofrimento físico.

Ainda vivo, “Baiano” teve os olhos perfurados, braços, pernas e pênis amputados com a utilização de uma motosserra, além de um prego cravado na testa, culminando os atos de tortura com vários tiros desferidos supostamente pelo ex-deputado contra a cabeça da vítima.

- Caso o tribunal negue a ordem do habeas corpus, iremos recorrer aos Tribunais Superiores para que seja assegurado ao acusado um direito constitucional - disse o advogado Sanderson Moura, 32, que atua no processo por indicação da seccional da OAB no Acre, a pedido do ex-deputado.

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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

PIOLHO DE PREGUIÇA


Também conhecida como lagarta ovelha ou lagarta carneirinho. Um pelinho dela é capaz de causar uma dolorosa urticária seguida de pelo menos dois dias de febre. Desde criança tenho prazer em cremar essa beleza da nutereza. Bem que algumas peçonhas humanas merecem ser esfregadas neste piolho de preguiça que encontrei na folha do cajueiro. Quem você esfregaria na lagartinha? Para arrepiar-se clique na imagem.

ELETROACRE DIVULGA NOTA

Empresa tenta isentar-se de crime ambiental

Está na hora do Ministério Público entrar em ação. Cinco dias após derramar 25 mil litros de óleo diesel no Rio Purus (leia), a Companhia de Eletricidade do Estado do Acre (Eletroacre) divulgou uma nota lacônica e patética sobre o crime ambiental. Não menciona o derramamento de óleo nem lamenta o sinistro. Ei-la:


"A Eletroacre comunica a ocorrência do naufrágio de um barco que transportava dois tanques de óleo diesel, com 25.000 litros no total, para geração de energia na cidade de Santa Rosa do Purus.

O acidente ocorreu no Rio Purus, próximo à localidade de Santa Rosa do Purus. O transporte fluvial de óleo combustível para as usinas do interior do Estado é feito por uma empresa especializada no ramo, contratada pela Eletroacre.

Todas as providências necessárias para minimizar os possíveis impactos ambientais já estão sendo tomadas, em conjunto com as autoridades do Estado.

Informamos ainda que foi criada uma comissão interna para instauração de processo de sindicância para apurar as causas do fato ocorrido e as responsabilidades.

Atenciosamente,

A Diretoria"

LULA RIFA TIÃO VIANA

Do Blog do Noblat:

"Quem disse que Lula preferia Tião Viana (PT-AC) como presidente do Senado a José Sarney (PMDB-AP)?

Está bem, foi o próprio Lula quem o disse indiretamente.

Em reunião com líderes do PMDB, em dezembro último, depois de ouvir Sarney negar que fosse candidato a presidente do Senado, Lula comentou que o ideal seria que partidos diferentes comandassem a Câmara e o Senado. E foi só.

Discretamente, ele fez algumas sondagens para testar as chances de Viana ser eleito. Mas em momento algum jogou pesado para beneficiá-lo. Nem pesado nem mesmo leve.

Lula não é bobo. E também não é de se queimar por ninguém.

Com 12 senadores, o PT é dono da quarta maior bancada. Perde para o PMDB com 20, o PSDB e o DEM com 13 cada um.

Como imaginar que o PSDB e o DEM, opositores do governo, fossem capazes de apoiar um candidato do PT? Delírio!

Nada contra Viana, companheiro de partido de Lula e amigo dele.

Ocorre que Sarney na presidência deixa satisfeito o maior aliado de Lula - o PMDB. De resto, Sarney tem mais estatura política do que Viana e é tão confiável quanto ele.

A melhor maneira encontrada por Lula para sugerir que prefere Sarney a Viana foi avisar aos interessados que não se meterá na eleição para presidente do Senado.

Já se meteu".

Meu comentário a respeito dessa página anunciada da crônica política estava no título "PT puxa tapete de Tião Viana", de um post do dia 30 de outubro do ano passado, quando foi reproduzida aqui uma notícia do Estadão. Até acrescentei o comentário a seguir: "Como se vê, só um milagre seria capaz de conduzir nosso bravo Tião Viana à presidência do Senado". Em tempo: Rio Branco e mais sete municípios estão neste exato momento a quase uma hora sem energia elétrica. Enquanto isso, Tião Viana quer ser presidente do Senado, Jorge Viana quer o Acre como uma das sedes da Copa do Mundo e o governador Binho Marques promete que até o final do mandato dele seremos o melhor lugar da Amazônia para se viver. Acorda, gente.

P.S.: Vou desligar o laptop para economizar bateria, pois não existe previsão de quando será restabelecido o fornecimento de energia elétrica.

ACIDENTE AMBIENTAL NO RIO PURUS

Manchas de óleo diesel ocupam 100 Km em linha reta


Relatório da Secretaria de Meio Ambiente do Acre (Sema) revela que manchas dispersas de óleo diesel no Rio Purus distribuem-se por cerca de 100 quilômetros em linha reta na região da fronteira Brasil-Peru. O acidente, que aconteceu às 11h30 de sexta-feira, 16, resultou no derramamento de 25 mil litros de óleo diesel, nas proximidades do município de Santa Rosa do Purus.

O acidente envolveu uma embarcação tipo batelão, que naufragou entre a aldeia Nazaré e a colônia Santa Helena Nova. Três tripulantes e seis passageiros nada sofreram. O batelão transportava óleo diesel em dois cilindros, que tinham como destino a usina termelétrica de Santa Rosa do Purus, pertencente a Guascor do Brasil.

O secretário de Meio Ambiente do Acre, Eufran Amaral, disse que estão sendo tomadas uma série de ações necessárias tanto do ponto de vista de segurança quanto de controle do vazamentos e aos aspectos ambientais envolvidos.

- Os trabalhos de atendimento a emergências químicas foram divididos em quatro etapas complementares e integradas: acionamento e comunicação; avaliação da situação; medidas de controle e ações de rescaldo - assinalou Amaral.

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OBAMA CHEGOU

Marina Silva


A partir de hoje Barack Hussein Obama deixa de ser hipóteses e especulações e passa a ser realidade. E terá que se confrontar com milhões de expectativas internas e ao redor do mundo.

As divagações se misturam às análises baseadas em números e correlações políticas. Na crise econômica, no Iraque, na guerra incessante no Oriente Médio, nas carências da África, no impulso às medidas para enfrentar o aquecimento global, no fim de Guantanamo e do embargo a Cuba, na mudança da postura belicista e intervencionista, em tudo espera-se que Obama coloque a mão de maneira nova, diferente, histórica.

O período de transição entre a eleição e a posse reduziu a ansiedade e mostrou uma postura cautelosa, cheia de mediações. A conjuntura justifica todo o cuidado. A crise econômica só fez piorar desde novembro. O noticiário da véspera da posse fala no maior índice de desemprego nos últimos 16 anos. Numa única semana foi anunciado o corte de 50 mil vagas. E os demais indicadores também não vão nada bem.

As previsões são de que o presidente tenderá a ser conservador para enfrentar essa maré, o que significa, por exemplo, manter ou até radicalizar na política protecionista prejudicial aos países em desenvolvimento. Mas nada justifica acreditar que Obama se manterá nos limites da cartilha. Ao contrário, ao que tudo indica está procurando saídas inovadoras, que não reduzam a crise a respostas previsíveis de curto prazo. Isso aparece no relevo dado ao trato de questões de fundo, ao mesmo tempo em que se equaciona o impacto imediato da crise.

Propostas para meio ambiente, ciência e tecnologia e educação mostram a presença da perspectiva de médio e longo prazos nas soluções para as urgências. A manifesta intenção de reduzir significativamente a emissão de gases estufa e a criação de empregos "verdes", ou seja, decorrentes de investimentos em energias limpas, são pontos fortes da inovação comprometida com o longo prazo e acompanham a tendência mundial para reagir à crise ambiental.

A Folha de S. Paulo desta segunda-feira fala de estudos que alimentaram a equipe de transição de Obama e projetam um excelente retorno do investimento em energia limpa. Ele cria cerca de duas vezes mais empregos do que o gasto em combustíveis fósseis. Além disso, um investimento de 100 bilhões de dólares em eficiência energética e tecnologia renovável poderia criar dois milhões de vagas em dois anos.

Ao lado das equipes que apostam na modernização estarão, porém, no mesmo governo, os membros da área econômica que fazem a ponte com os setores mais conservadores da sociedade americana, tradicionalmente avessos a concessões à preservação do meio ambiente e descrentes em soluções ambientalmente corretas.

A grande demonstração de sabedoria de Obama será manter esses lados em equilíbrio para que as tendências inovadoras tenham pelo menos a chance de se firmar e se capilarizar nos processos de governo e junto à sociedade. O que se espera de Obama, mais do que implantar novidades imediatas, será criar as condições para o florescimento e consolidação de mudanças que já estão em curso nos Estados Unidos e se revelaram durante o período eleitoral.

A própria eleição de um presidente negro, de nome Barack Hussein, é uma quebra de paradigma simbólica de um novo arranjo de forças alicerçado mais na sociedade do que no jogo político-partidário.

Há muito não se via tanta energia política numa eleição americana e essa energia, vinda sobretudo da participação da juventude, não dá mostras de que se recolherá após a posse de Obama. Tomara que não. Tomara que continue lembrando cotidianamente que votou na mudança e quer a mudança. É um antídoto necessário e fundamental contra as armadilhas do poder e as pressões sub-reptícias.

Ao contrário da frase infeliz e subserviente de algumas décadas atrás - o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil - talvez hoje se possa dizer que a renovação política americana será boa para o mundo.

O presidente Barack Obama, com seu carisma, credibilidade e habilidade já demonstrados, tem tudo para ser a figura chave dessa renovação. Que não esqueça a sua bela história de vida, da qual a diversidade e o respeito às diferenças são parte essencial. Que não esqueça nunca a figura ousada, generosa e intuitiva da mãe, Stanley Ann, de quem disse: "o espírito mais generoso que já conheci; o que existe de melhor em mim eu devo a ela".

Ela se casou com um africano, depois com um asiático, morou na Indonésia, dedicou-se a defender os direitos das mulheres trabalhadoras e a criar o microcrédito para os pobres. E acima de tudo, criou os filhos de maneira não-convencional, mas respeitando sua autonomia e exigindo que explorassem suas capacidades e talentos. Na Indonésia, acordava Obama às quatro da manhã para que estudasse inglês e ouvisse discursos de Martin Luther King.

Que Obama tenha tirado dessa convivência o essencial para ser um grande presidente: a sensibilidade, o despojamento, a generosidade e a determinação. É de onde pode vir a força que inspirará a política e a economia para fazer a nação mais poderosa do planeta se mover.

Marina Silva é professora secundária de História, senadora pelo PT do Acre, ex-ministra do Meio Ambiente e colunista da Terra Magazine.

ELETROACRE DERRAMA DIESEL NO PURUS


Uma balsa da Companhia de Eletricidade do Estado Acre (Eletroacre) derramou 28 mil litros de óleo diesel no leito do Rio Purus, próximo da fronteira Brasil-Peru, após colidir com um banco de areia numa das regiões mais remotas do país.

O acidente aconteceu no município de Santa Rosa do Purus na quinta-feira, quando faltavam poucas horas para a balsa aportar com o carregamento de combustível que seria usado pela empresa Guascor do Brasil na geração de energia elétrica da cidade.

Devido ao isolamento da região, o secretário de Meio Ambiente do Acre, Eufran Amaral, só tomou conhecimento quatro dias depois a partir de um comunicado da Polícia Federal. A Comissão de Gestão de Risco da Secretria de Meio Ambiente já foi deslocada para a fronteira, a mesma onde os índios isolados foram fotografados por uma expedição da Funai em maio do ano passado.

Além de agentes da Polícia Federal, estão na região homens da Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros, fiscais da Sema e do Instituto de Meio Ambiente do Acre. Eles sobrevoaram a região e vão avaliar os danos ambientais decorrentes do acidente.

- Nós sabemos que o óleo estava sendo transportado pela Eletroacre para a Guascor do Brasil. Abrimos procedimento administrativo e vamos conferir os termos do contrato entre as duas empresas para saber quem será responsabilizada pelo acidente. A Petrobrás nos cedeu equipamento de contenção para o óleo que vazou. Como o diesel é muito volátil, nossa estimativa é de que metade permanece nas águas do Purus - afirmou o secretário Eufran Amaral.

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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

NO REINO DA FLORESTA



Do Cartunista Braga.

Deixe comentário. Participe da campanha "Eu acredito na Copa no Acre".

VALE UMA CERVEJA

Do leitor Heleno Araújo:

"Lendo o post "Apagão castiga Rio Branco", no final você comenta a generosidade do governo do Acre ao defender o projeto da cidade como candidata à "Sede Verde da Copa do Mundo".

Não custa tentar, mas se nem para a Copa do Brasil que começa agora em fevereiro nosso estádio Arena da Floresta está preparado, conforme notícia de hoje no GloboEsporte (leia), que lista estádios com problemas de laudos tanto da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Vigilância Sanitária, disponível no site da CBF (veja).

Como querer ser uma das sedes de uma Copa do Mundo? É uma piada não é?

Com tão somente 500 apartamentos em hotéis na cidade e um estádio que ainda não conta com o "OK" para a Copa do Brasil, será que os responsáveis pelo esporte no governo acham que somos desinformados e totalmente desprovidos de bom senso?

Quero ver até onde se sustenta esta enganação de Copa do Mundo no Acre. Mas garanto que quando você publicar a situação da Arena da Floresta, em menos de 48 horas teremos os três laudos prontinhos. Vale uma cerveja?

Abraços"

APAGÃO CASTIGA RIO BRANCO


Dois dias após o governo do Acre ter apresentado à Fifa o projeto de Rio Branco candidata à sede da Copa do Mundo de 2014, a população da capital do Estado passou a enfrentar o transtorno decorrente de uma grave precariedade da cidade. A maioria de seus bairros está sem energia elétrica há mais de 12 horas.

O apagão começou às 19 horas de domingo, quando uma tempestade tropical derrubou postes e árvores em vários pontos da cidade. As equipes de plantão da Companhia de Eletricidade do Acre (Eletroacre) não conseguiram atender as centenas de chamadas abertas pelos clientes.

Durante a noite de domingo a empresa chegou a desativar temporariamente o atendimento no 0800. A população do Acre consome a energia mais cara do país. O Blog da Amazônia não localizou o presidente da Eletroacre e a ouvidoria da empresa para que comentassem a situação.

- Nós não temos ainda previsão da hora que será restabelecida a energia elétrica em todos os bairros da cidade - informou uma atendente do plantão.

Embora a rede hoteleira de Rio Branco disponha de menos de 500 apartamentos, o governo estadual tem sido generoso nos gastos para defender o projeto da cidade como candidata à "Sede Verde da Copa do Mundo".

sábado, 17 de janeiro de 2009

NO CENTRO DA CIDADE


O blog tanto reivindicou sinalização para pedestre, no cruzamento das avenidas Brasil e Getúlio Vargas, que o Detran decidiu providenciar.

- O problema é que o bicho não dá sinal verde para o pedestre - observa o jornaleiro da esquina.


No Palácio das Secretarias, uma prova do desperdício público de energia e dinheiro do contribuinte. Luzes do jardim acesas ao meio-dia.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

SAI ANÍBAL, ENTRA ANÍBAL

A agência estatal de notícias do Acre vende hoje gato por lebre ao anunciar (leia) que o governador Binho Marques (PT) "decidiu promover importantes mudanças" na estrutura de comunicação social, com o objetivo de fazer da agência a "principal e mais completa fonte de informação sobre o Estado".

O jornalista Aníbal Diniz, que controlou formalmente a mídia durante oito anos da gestão Jorge Viana, reassume a Secretaria de Comunicação no lugar de Jorge Henrique, que vai dirigir o futuro Instituto Social de Comunicação. E o jornalista Itaan Arruda deixa o cargo de assessor de imprensa de Binho Marques para assumir a direção de jornalismo da estatal TV Aldeia.

Pura potoca anunciar como sendo "importantes mudanças" o que na verdade se configura como manejo sustentado de cargos e salários envolvendo uma confraria. Aníbal Diniz jamais deixou de dar as cartas no setor, sempre de acordo com as orientações que recebe de Jorge Viana e de Tião Viana, de quem é primeiro suplente no Senado.

Especialmente nos últimos dois anos, nada foi feito na comunicação social do Estado sem a anuência dele e da primeira-dama Simmony D'Avila, mantida formalmente afastada do setor para evitar crítica de nepotismo, embora isso não deixe-a menos poderosa que o marido governador na hora de decidir. Feliz de quem se afina com com eles. Jorge Henrique, Itaan Arruda e outros que o digam. Quem não se afina, está finado.

Bem, o sistema público de comunicação no Acre sempre esteve e continuará a serviço da política e cada vez mais distante da cidadania. Basta conferir o noticiário bajulador que impera na agência estatal de notícias e que é reverberado integralmente nos veículos privados de comunicação custeados pelo erário.


Digamos que o sistema é tão eficiente que censura até aqueles que imploram e cobram para ser censurados. Coitado de quem sonha em ser jornalista no Acre. O que se vê é o tal sistema amestrando-os para servirem ao governo Jorge Viana, ao governo Binho Marques e mais adiante a qualquer governo.

Dois fatos (poderia relatar dezenas) expressam em parte como o governo petista da floresta lida com a mídia.

Dia 19 de junho de 2003. O telefone toca e sou convocado para entrevistar (leia) para o Página 20 o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luiz Dulci, no gabinete do então governador Jorge Viana, onde ambos almoçaram naquela tarde.

Ao término da entrevista, meu agradecimento de praxe. O governador e o ministro me acompanham até a porta. Na despedida, Jorge Viana reforça minha apresentação a Dulci:

- Ministro, o Altino Machado é um puta jornalista. O único defeito dele é gostar de dar más notícias de vez em quando.

- Ministro, aprendi com ele. No começo, quando Jorge Viana era um ilustre desconhecido, eu trabalhava no Estadão. Ele pedia-me para dar más notícias sobre as mazelas da política no Acre.

E sorrimos os três sem a menor graça.


Dezembro de 2007. Dois ou três dias antes de se despedir do cargo, o então governador Jorge Viana convidou a imprensa para almoçar num hotel da cidade. Após a extravagância, os jornalistas foram todos embora.

E lá ficamos Oli Duarte, Aníbal Diniz, Jorge Viana, Binho Marques e eu. Animado, Diniz pegou o laptop dele e acessou a web. Disse que iria conferir o que havia de novo neste blog.

Encontrou um post a respeito da promessa do governador eleito de que jamais ira telefonar para pedir favores ou censurar veículos de comunicação. Como de costume, Aníbal aplicou uma ou duas caçuletas na própria orelha e deixou escapar uma pérola:


- O Binho diz que não fará isso porque sabe que existe gente pra fazer por ele.

Não foi reconduzido ao cargo, mas continuou mandando. Como daqui a dois anos teremos eleição...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

SEGURANÇA PÚBLICA

MPE investiga denúncias de agentes penitenciários



Agentes penitenciários do Acre convenceram o Ministério Público Estadual, através da Promotoria de Justiça Especializada na Defesa do Patrimônio Público, a abrir investigação para apurar as denúncias de que o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen) não lhes oferece as devidas condições de trabalho.

A insatisfação da categoria se tornou pública desde a segunda-feira, quando os agentes que estavam de folga realizaram um protesto em frente ao presídio Francisco de Oliveira Conde, o maior do Estado. Eles exigem mudança na escala de trabalho, direito a alimentação e adicional de titulação.

Os agentes penitenciários trabalham atualmente 12 horas e folgam durante 36 horas. Exigem turno de 24 horas de trabalho com 72 horas de folga. A maior queixa relacionada ao turno de trabalho decorre do fato de que não conseguem passar um final de semana completo em casa.

- As 36 horas que permanecemos fora do ambiente prisional são insuficientes para nossa recuperação das influências negativas das atividades que desenvolvemos. Todos precisam de vida afetiva, social e familiar - argumenta o agente Adriano Almeida.

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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

ANDES VIZINHO


Relato do deputado Edvaldo Magalhães (PC do B) em aventura aos Andes:

"Há dois dias de viagem, sem pressa nem aperreio, temos a possibilidade extraordinária de dar um mergulho na história.

A civilização Inca e sua beleza arquitetônica, os conceitos de engenharia e o ainda não revelado domínio da astronomia, nos permitem descobrir uma floresta de oportunidades de turismo cultural.

Bem aqui, do nosso lado, há muito que se ver e aprender".

Clique aqui para ver dezenas de fotos da viagem.

BRENDINHA


A atriz acreana Brendha Haddad cada vez mais integrada e destacada no elenco da novela "Caminho das Índias", de Glória Perez, outra acreana do pé rachado. Veja aqui.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

COISAS DO ACRE

Agentes penitenciários querem dormir no trabalho


A direção do sistema penitenciário do Acre começa a enfrentar uma reivindicação inusitada dos agentes carcerários. Eles afixaram na entrada do presídio Francisco de Oliveira Conde, o maior do Estado, uma convocatória para reivindicar o direito de dormir durante os plantões noturnos.

Nos últimos dias, a direção do sistema penitenciário acreano acabou, entre outras regalias, com os confortáveis colchões que os agentes usavam para dormir durante os plantões.


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NEM BANDIDOS NEM MOCINHOS

Dina Lida Kinoshita e Moisés Storch

O Oriente Médio é uma área estratégica no plano econômico, geopolítico e militar. Tem sido palco de disputas por hegemonia entre países da região, bem como entre potências mundiais.

É fonte de preocupação permanente em todo o planeta, pelo arsenal bélico - inclusive nuclear - que ali se encontra, sempre propício a conflagrações que podem fugir a qualquer momento ao controle político ou diplomático.

É neste contexto que o conflito palestino-israelense se enquadra e já perdura por mais de seis décadas. Um conflito extremamente complexo, melhor compreendido por uma seqüência de imagens do que por um instantâneo.

De todo modo, é bom frisar que nesse filme não há "bandidos" nem "mocinhos", embora setores da mídia e da esquerda mundial o mostrem e defendam de forma unilateral. Como na lógica definida por Bertrand Russell como "a crença na virtude dos oprimidos", acabam sendo exibidos com destaque apenas os fenômenos trágicos que ocorrem no lado palestino. Mas, as vítimas e os algozes estão nos dois lados.

Leia o artigo completo na Terra Magazine.

O FUTURO DA ENERGIA

Marina Silva

O Ministério de Minas e Energia colocou sob Consulta Pública o Plano Decenal de Expansão de Energia 2008-2017. Trata-se de um importante instrumento de planejamento para o País porque procura estimar a demanda de energia para os próximos 10 anos e avaliar os novos empreendimentos necessários para gerá-la.

Embora esse plano pareça ser algo da esfera de especialistas em energia, é do maior interesse da sociedade porque nele estão embutidas decisões que afetam pesadamente o dia-a-dia de cada cidadão e o meio ambiente.

É vital o planejamento das obras de infra-estrutura e muito positiva a disposição demonstrada em acolher as contribuições da sociedade através de Consulta Pública. Mas é preciso que o diálogo seja real.

A abertura da consulta foi publicada no dia 24 de dezembro e serão aceitas apenas as contribuições encaminhadas até 30 de janeiro. Pouquíssimo tempo, portanto, para que pesquisadores e técnicos de diversas entidades tenham condições de analisar um documento de 766 páginas e enviar críticas e sugestões. Se o governo quer realmente ouvir a sociedade, é preciso dar mais tempo para que os diversos setores possam participar de forma qualificada. E há muito o que discutir nesse plano.

Petróleo e seus derivados, apesar de serem os principais vilões das emissões de gases estufa que aceleram o aquecimento global, ainda são as principais fontes de energia no mundo, sobretudo para o transporte. O biocombustível (etanol e biodiesel) é hoje uma das alternativas viáveis de redução de emissões e o plano quer triplicar o uso de etanol até 2017 e aumentar bastante as exportações. Mas ainda não está claro se é possível produzi-lo em quantidade suficiente para substituir o petróleo de forma significativa, sem conseqüências negativas para o meio ambiente e para a produção de alimentos.

O mundo todo está pensando alternativas para manter e expandir as atividades humanas utilizando menos combustíveis fósseis e emitindo menos carbono. Consequentemente, qualquer plano de energia nos tempos atuais deve ter entre seus objetivos centrais a descarbonização da matriz energética e a melhoria da eficiência no uso dos combustíveis, sejam de origem fóssil ou renovável, desde a produção até o consumo.

A energia elétrica também precisa ser vista em função desses objetivos. Para o meio ambiente, são mais adequadas as fontes renováveis e seguras, tais como a energia hidrelétrica, a solar, a eólica e a de biomassa - principalmente o bagaço da cana -, além do biodiesel e do etanol. A maior parte das fontes não renováveis, como as termelétricas a carvão, a gás natural, a óleo diesel e a óleo combustível, emite grande quantidade de carbono.

O Brasil é, nesse aspecto, um país privilegiado. Sua matriz energética é renovável em cerca de 45% e a matriz elétrica em mais de 87%, especialmente devido às hidrelétricas. São valores bem acima da média mundial, em especial quando os comparamos à situação dos países desenvolvidos. Neles, a presença de fontes não renováveis, principalmente o petróleo, é muito mais significativa e sua redução depende de investimentos altíssimos.

O Brasil, que está na dianteira desse processo, não pode retroceder, como acontecerá caso o Plano Decenal apresentado não sofra profundas correções. Na sua forma atual ele aumentará, até 2.017, em mais de 5 vezes a energia hoje produzida em usinas térmicas à óleo diesel e óleo combustível.

As primeiras reações à sua divulgação foram de enorme preocupação, o que mostra uma sociedade atenta e preocupada com as ações do governo nas diversas políticas públicas que afetam o meio ambiente. Como forma de justificar essa má opção, usa-se o falso argumento de que o país se obriga a lançar mão de térmicas poluentes porque o setor ambiental resiste a licenciar as usinas hidrelétricas, já que seus maiores potenciais estão na região amazônica. Isso poderia ser verdade se a única opção às hidrelétricas fossem as térmicas e se o Brasil estivesse reduzindo seus investimentos em hidrelétricas por impedimentos de cunho exclusivamente ambiental, o que também não corresponde à realidade.

A tecnologia de geração de energia elétrica que mais avança no mundo é a eólica, em cerca de 30% ao ano. Na Espanha, país em que mais cresceu nos últimos anos, foi realizado estudo demonstrando o impacto do setor eólico inclusive na geração de emprego. Em outros países o crescimento deve se acelerar nos próximos anos. A China pretende implantar projetos para gerar 100 mil MW até 2030, a Índia 50 mil MW nesse mesmo período e a Europa anunciou a meta de produzir 10% de toda a energia a ser consumida na região a partir dessa fonte. Provavelmente o presidente eleito dos Estados Unidos, Barak Obama, deverá anunciar elevados investimentos em energia eólica como parte de seu plano de redução de emissões.

E o Brasil? O Plano Decenal prevê apenas a incorporação de pouco mais de 1.400 MW, cerca de 1% do potencial apontado pelo Atlas do Potencial Eólico Brasileiro, de 2001. O maior potencial está no Nordeste, exatamente a região onde o Plano Decenal prevê a construção da maior parte - 51 das 61 previstas - das térmicas à óleo.

Adicionalmente, os estudos indicam que existe grande complementaridade entre eólica e hidrelétrica nessa região, ou seja, o período do ano que mais venta coincide com a seca, quando reduz a capacidade de geração das usinas hidrelétricas. Este fenômeno permite a preservação dos reservatórios, reduz a necessidade de geração termelétrica e a emissão de gases de efeito estufa, trazendo benefícios econômicos e ambientais.

O plano ainda estima o aumento de geração de energia a partir do bagaço da cana em cerca de 3.600 MW até 2017. Trata-se de um esforço importante de desenvolvimento de uma nova fonte de energia renovável, mas ainda num patamar muito tímido. Também nesse caso, o Plano Decenal considera o desenvolvimento de apenas uma pequena fração do potencial da biomassa.

Por fim, o capítulo chamado "Análise Socioambiental do Sistema Elétrico" faz um esforço para avaliar previamente a complexidade de cada empreendimento, sob o ponto de vista dos impactos ambientais, e propor ações diferenciadas. Os projetos enquadrados em categorias relacionadas a grandes impactos ambientais serão objeto de "nível de ação alto" por parte do governo e do empreendedor. O plano aponta a necessidade, nesses casos, de estudos e ações socioambientais para a inserção regional do empreendimento, segundo os princípios do desenvolvimento sustentável.

Se o MME pretende dar consequência a essa proposta, que responde a uma reivindicação constante das entidades ambientalistas, é preciso avançar com celeridade. O Estudo de Impacto Ambiental da Hidrelétrica de Belo Monte, por exemplo, está em fase adiantada de elaboração, mas o governo ainda não se dispôs a discutir com mais profundidade um projeto de desenvolvimento sustentável para a região de influência do empreendimento, cuja complexidade ambiental todos conhecem, a exemplo do que foi feito no setor de transportes para o caso da BR-163. Portanto, seria o empreendimento ideal para concretizar a proposta contida no Plano Decenal de Expansão de Energia. Já seria um bom começo.

Melhor ainda se o prazo para as manifestações a respeito do plano for dilatado. Certamemente seus autores se surpreenderão com a capacidade da sociedade brasileira de apontar caminhos e corrigir distorções.

Marina Silva é professora secundária de História, senadora pelo PT do Acre, ex-ministra do Meio Ambiente e colunista da Terra Magazine.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL EM BELÉM

A quinze dias da abertura do Fórum Social Mundial (FSM), Belém (PA) se mantém desorganizada para receber os 120 mil participantes esperados pela organização do evento. No mês passado, a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), anunciou que até o dia 27 de janeiro, data da abertura do FSM, seriam consolidados investimentos de R$ 128 milhões na construção de terminal hidroviário, terminal de integração de ônibus urbano, duplicação da avenida Perimetral e de construção de um centro de seleção de resíduos recicláveis.

Agora, a governadora se esforça para conseguir melhorar ao menos as condições de tráfego na avenida Perimetral, a principal via de acesso de transporte do local do encontro. O governo estadual já admite que não conseguirá entregar a maioria das obras que foram anunciadas para a área do território do FSM. Elas ficarão mesmo para os próximos anos, sobretudo as que eram previstas para os bairros Terra Firme e Guamá, considerado dois dos mais carentes e populosos da capital paraense.

O poder público paraense tenta minimizar outros graves problemas, como trânsito caótico, falta de segurança, sistema de transporte público deficiente e a insuficiência de leitos na rede hoteleira convencional de Belém, que dispõe de pouco mais de 7 mil vagas e desde junho praticamente não aceita nenhuma reserva por causa do FSM.

A governadora solicitou ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, a presença da Força de Segurança Nacional (FSN) para ajudá-la a enfrentar a violência em Belém durante o FSM. O pedido foi atendido e desde ontem homens da FSN começaram a se posicionar em alguns bairros da cidade. Até o final da semana serão mais de 300 militares deslocados de Brasília, que ficarão abrigados no Instituto de Ensino de Segurança Pública, em Marituba, a 168 Km de Belém.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

EM BUSCA DA ALMA PERDIDA

Moisés Diniz

Há 23 anos eu me filei ao Partido Comunista. Junto comigo faziam a mesma opção os deputados Edvaldo Magalhães (PCdoB), Perpétua Almeida (PCdoB) e Henrique Afonso (PT), além do atual vice-prefeito de Mâncio Lima, Eriton Maia (PCdoB). Uma característica nos unia: a origem religiosa. Éramos egressos de congregações da Igreja Católica, Maristas, Dominicanas, Diocesanos.

Nossa origem produziu algo novo na relação política tradicional e extraordinário nas fileiras do Partido Comunista. Começou a nascer, lá pelas bandas do Tarauacá e do Juruá, um jeito diferente de organizar comunistas. A linguagem ácida da revolução cedia espaço para o jeito carinhoso da Igreja. O perdão que aprendêramos a praticar na Igreja tornava-se a tolerância política na relação cotidiana com os aliados, os adversários e com as idéias adversas.

Esse largo tempo não me tornou xiita na relação política e nem me fez intolerante no debate de idéias. Agora ando meio desiludido, confesso, com essa visão ampla e achando que fui tolo por mais de duas décadas. Os ataques criminosos de Israel à Faixa de Gaza estão meio que matando meu humanismo e me tornando assim como se a intolerância me seguisse sem que eu a visse.

As fotos, que circulam na internet, de crianças palestinas cobertas de sangue, despedaçadas e mortas estão me chocando profundamente. Nunca me senti assim, tão impotente. Eu, que não consigo estancar a dor nos hospitais acreanos, garantir escola para todas as crianças nos altos rios e dizimar todas as mazelas sociais, o que poderia fazer para salvar aquelas crianças?

Vindo de uma família pobre da Amazônia e da Congregação dos Irmãos Maristas, eu chegava às fileiras comunistas com uma razoável memória humanista e arraigadas concepções idealistas. Isso me ajudou muito a exercitar algo novo na tradição do Partido Comunista: agir na política a partir de uma visão ampla de mundo e tolerante com as idéias que combatiam as minhas.

Um primeiro resultado disso foi a entrada de dezenas de religiosos nas fileiras do Partido Comunista em Tarauacá, depois se expandindo para as demais regiões do Acre. A nossa memória humanista levou a nos aproximarmos de setores que não constavam nos manuais leninistas: os pobres mais pobres das periferias, chamados de ‘Lúmpen (o homem trapo)’, os extrativistas e os povos indígenas.

Na minha cidade não havia operariado. A revolução estava, assim, sem uma de suas principais ferramentas. Organizar os mais pobres e juntar-se a eles na tentativa de construir consciência coletiva era um ‘ato de fé’ que levávamos a sério. Essa visão meio heterogênea de mundo, misturando concepções idealistas e dialéticas, fez a gente construir um partido mais ou menos de todo o povo.

A idéia de um partido de massas foi sendo construída sem que percebêssemos que entre as massas havia gente de todo tipo. Isso levou a existência real de um partido que se constituía de brasileiros com as suas virtudes e as suas vilezas. O capitalismo havia deformado os homens que entravam no Partido Comunista.

E não havia outros homens e outras mulheres. Aqueles brasileiros imperfeitos eram os nossos militantes. É que a revolução de que falávamos não aconteceria nos céus dourados onde vivem os anjos. Assim fomos construindo um partido verdadeiramente de novo tipo, cercado de todas as virtudes e de todas as misérias humanas.

Outro efeito daquela herança foi a nossa aproximação com os setores dominantes do mundo da economia. Alguns empresários foram se constituindo em aliados e alguns até se tornaram militantes. Isso consolidou de vez a idéia de que a luta de classes podia estabelecer regras entre os combatentes.

Como em uma guerra convencional era possível definir regras que orientassem o combate que se estenderia por décadas. Assim, a violência da luta de classes sofreria um dano irreparável e as partes buscariam novas formas, mais distantes da barbárie, de encontrar o caminho da vitória.

Quanta ilusão! A alma humana se perverte como um porco na lama da crueldade e da vileza. Centenas de crianças palestinas estão sendo barbarizadas e ainda tem seres humanos concordando com a matança. Argumentam que existem terroristas entre elas. Dizem que Israel está apenas reagindo.

Uma pesquisa de opinião aponta que 40% dos brasileiros concordam com as ações de Israel e apenas 50% condenam o seu terrorismo de estado. Em recente artigo que escrevi condenando a agressão israelense, dezenas de acreanos afirmaram que eu devia primeiro cuidar dos problemas do Acre e deixar de proselitismo.

A minha solidariedade foi condenada junto com a minha ‘fraca’ atuação parlamentar. Disseram que um deputado medíocre como eu não tinha o direito de ser solidário com os palestinos assassinados e suas famílias. Eu só podia externar minha solidariedade depois que não existisse mais nenhuma desigualdade social no Acre.

A televisão mostrava aquelas crianças palestinas mortas e cobertas de sangue e do outro lado do muro surgiam rabinos e empresários israelenses dizendo que estavam sofrendo pressão emocional devido os mísseis disparados pelo Hamas. A mídia ocidental equiparava crianças palestinas mortas a adultos israelenses com problemas emocionais.

Na matemática do ocidente havia desaparecido a diferença entre a morte e o estresse. O sangue palestino jorrando se tornara igual ao estresse emocional dos israelenses da fronteira. Assim fui descobrindo que nenhum argumento convenceria essas pessoas. Elas não distinguiam mais os sinais que fizeram da humanidade uma espécie rara e próxima dos anjos.

Qualquer palavra servia para esconder uma alma putrefata que nascera nos subúrbios da dignidade e da decência. Para essas pessoas valia construir todo tipo de argumento, pois o que estava em jogo era a essência de suas vidas partidas e inutilizadas pela vileza da ideologia. Elas sabiam, mas não reconheciam, que os palestinos estão sendo covardemente eliminados. Elas sabiam que Israel comete crime contra a humanidade, reconhecido até por cardeais da combalida ONU.

Todavia, o que está em jogo é uma concepção que acompanha a humanidade desde os seus primórdios. Aqueles que querem uma sociedade como a atual vão continuar defendendo a carnificina cometida por Israel. E não adianta a gente argumentar dados históricos, políticos ou éticos. Isso não significa nada para quem já ultrapassou todos os limites da decência e da dignidade humana.

Essas pessoas esquecem que a humanidade resiste há pelo menos dois milhões de anos, desde aquele instante mágico em que ela ousou controlar os elementos naturais poderosos. Ali nascia o homem e a sua vontade de viver em paz com os entes naturais e com os seus semelhantes.

Mesmo que a cobiça humana tenha arrebentado a terra e a sua ‘gente inteligente’, o homem não desistiu de sonhar. Desde os primórdios, passando pelas eras difíceis e instáveis da barbárie, o homem nunca abandonou a crença na fraternidade humana. Das cavernas rústicas e desconfortáveis às modernas e aprazíveis moradias, a humanidade sempre acreditou na possibilidade do diálogo e da convivência pacífica entre os povos.

Isso faz o Hamas tornar-se um grupo desprezível. Mas leva também à condenação sem tréguas da política criminosa de Israel. Nesses últimos dias o ódio humano é o sentimento mais forte entre os homens da terra. Isso é terrível e lastimável. Israel não tinha o direito de fertilizar com o sangue palestino o pior e o mais desprezível de todos os sentimentos humanos.

Assim eu passo a me questionar se não perdi 23 anos. Será que não errei quando fui amplo e defendi arduamente o direito ao contraditório? Será que não é melhor radicalizar nos meus pontos de vista e atropelar o ponto de vista adverso? Será que não estamos ingenuamente acreditando que é possível domar os lobos?

Por que não percebemos que grupos como o Hamas surgem a partir de pequenas atitudes de desrespeito ao próximo, de preconceitos ‘inocentes’ e da intolerância política, ideológica, religiosa? Israel, por seu lado, nasceu nos mesmos pântanos que fizeram parte da humanidade tornar-se pior do que os demônios que a atormentam.

O que faz um ser humano se tornar insensível frente à morte de crianças? Nunca imaginei que as ideologias fossem capazes de produzir tanta lama na alma humana. Meu medo é que, daqui a pouco, por causa de tanto ódio, alguns de nós passem a ter o mesmo sentimento quando crianças israelenses forem mortas.

É como se a brutalidade da morte não incomodasse mais. Algo está errado na consciência humana e não estamos conseguindo deter as suas manchas imemoriais. Será que ainda conseguiremos salvar nossa dignidade e a nossa ‘utopia’ de um mundo livre dessas perversões?

Nunca imaginei que o ódio fosse o ingrediente mais forte da espécie humana. É nesses instantes que eu tenho uma sadia inveja dos pássaros. Eles não se vestem para matar e nem pousam na lama para alvejar os olhos dos semelhantes.

Eu perdôo todos os ataques escritos e compreendo todas as críticas. Não contribuirei com uma única vírgula para o surgimento de grupos terroristas como o Hamas e nem para a constituição de estados criminosos como o de Israel.

É que descobri, com uma dor incontida na alma, que o Hamas e Israel estão dentro de nós, em pequenas porções. Cada palavra de ódio, cada preconceito, cada intolerância e cada sentimento vil funcionam como um espermatozóide, a fecundar um feto terrorista e criminoso no futuro, agora em guerra desigual na cobiçada terra santa.

É que cada um alimenta o seu animal a partir do tamanho da alma do seu próprio dono. Por isso eu vou seguir os pássaros na sua inocência e resistir na crença de que o homem pode voltar a ser anjo, livre das imundícies que lhe trouxe o capital.

Moisés Diniz é deputado estadual do Acre e neto de índios ashaninkas.