sábado, 30 de setembro de 2006

RÉQUIEM PRA DUAS CIDADES

Mário Lima

Hoje, pela manhã, acompanhei-me do meu filho Felipe para uma passada pela livraria Duas Cidades, ali onde a rua Aurora desemboca na rua Bento Freitas, no centro velho de São Paulo. Distraído, conversando com meu filho, somente depois de adentrar a loja, levantei a cabeça e senti a estranha sensação de me encontrar perdido. Cheguei a pensar ter entrado em porta errada, não fora ter reconhecido a senhora que avançou para nos recepcionar.

As primeiras prateleiras, em vidro, onde normalmente encontravam-se os lançamentos ou alguma obra em destaque, estavam vazias. Sobre o conjunto de mesas circundando uma coluna no centro do hall de entrada da livraria estavam apenas alguns livros. Nas duas paredes formando um corredor para o salão maior nos fundos, as prateleiras estavam praticamente vazias. O salão na parte dos fundos da loja é pura desolação: prateleiras vazias e caixas empilhadas.

A figura sempre simpática e solícita da dona da livraria recebeu-me, como sempre com um sorriso a iluminar-lhe o rosto, mas sua expressão era de um certo constrangimento. Falava quase como a pedir desculpas. Não pude conter a pergunta: “O que está acontecendo? Estão fechando mais uma?” Ela confirmou, “Sim, estamos fechando a loja. Já não dá para arcar com os custos do aluguel e do condomínio”.

Conhecia a Livraria Duas Cidades desde o início da década de setenta. Ali garimpei clássicos das ciências do homem, raridades da Filosofia, da Economia Política, da História, da Literatura. Uma das últimas compras que fiz ali foram dois livros sobre Artes Plásticas para Felipe: um belíssimo livro com trabalhos de Juarez Machado, um dos mais notáveis pintores brasileiros da atualidade e um livro de David Hockney, onde ele desenvolve teses sobre as técnicas usadas pelos clássicos da pintura apoiadas nos resultados dos desenvolvimentos no campo da ótica e da tecnologia ótica.

Como a nos reconfortar, a senhora informa que ainda poderemos recorrer, em algum momento, a um dos mais importantes e amplos dos catálogos editoriais do país. A empresa preservará a atividade editorial, manterá o selo Duas Cidades. Menos mal. Segundo me foi informado, além de manter a base de distribuição, uma das mais amplas e antigas em operação no país, formará uma estrutura de vendas pela Internet. Perdemos, entretanto, mais um espaço onde podíamos folhear livros antes de nos decidirmos pela compra. E a Duas Cidades nos oferecia a oportunidade de uma cadeira para lermos com mais cuidado e decidirmos com cautela.

Tristes momentos esses vividos em nosso país, onde se fecham livrarias e compram-se ambulâncias. E cada vez mais nossos jovens estudam ‘resumos’ publicados em apostilas e cópias de uma ou outra página ou, no máximo, um ou outro capítulo de livros. Pena.

O acreano Mário Lima é professor de economia da PUC de São Paulo

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

JUSTIÇA NA BOLÍVIA

A juíza Irma Villavicencio Suárez (foto), de Santa Cruz de la Sierra, determinou a prisão temporária do médico boliviano Carlos Vaca Justiniano, acusado de abusar sexualmente e de torturar uma brasileira em Montero, cidade onde ela fazia estágio final para formatura em medicina. A juíza considerou inconsistentes os argumentos da defesa, que tentava obter a liberdade do médico. A vitima e o agressor voltaram a se encontrar em audiência pública acompanhada pela imprensa e populares.

Vaca estava detido desde a quarta-feira, após o depoimento que prestou ao fiscal do Ministério Público de Santa Cruz, Carlos Montano Alvarez.

Prevaleceu o argumento do Ministério Público de que o agressor poderia fugir ou coagir a vítima e suas testemunhas. Dessa vez a brasileira contou com apoio judicial do consulado e da advogada contratada por sua família.


O delinqüente boliviano, ainda na presença da juíza, chegou a ameaçar de morte uma assistente da acusação e soltou palavrões quando os policiais o conduziram de volta à prisão. Ele voltou a insistir no argumento torpe de que a justiça boliviana estava defendendo "uma mulher brasileira".

Uma irmã do médico (foto) se ajoelhou aos pés da brasileira e pediu, após a audiência, para que desistisse do processo judicial.

- Imploro clemência a você. Meu irmão é bonito e você pode casar com ele. Atenda meu apelo e desista da ação, pelo amor de Deus - implorou, diante de aproximadamente 40 jornalistas que acompanharam a audiência pública.

A prisão temporária na Bolívia pode durar até seis meses. Para se livrar dela o agressor terá que recorrer à justiça com argumentos bastante consistentes. Mesmo que a justiça venha a atendê-lo, terá que pagar fiança.

Um policial de Montero, a 40 quilômetros de Santa Cruz, procurou a advogada da brasileira para contar ter visto a médica sair cambaleante de um carro, sendo conduzida pelo agressor até à casa dela, na noite se sexta-feira. O policial será apresentado à justiça boliviana como mais uma testemunha em defesa da brasileira.

A médica e seus familiares (a mãe e um irmão) que estão na Bolívia foram levados para a audiência, de Montero até Santa Cruz, em carro do consulado brasileiro. Havia 20 policiais a escoltá-los. Estão sob a proteção do consulado e devem retornar ao Acre até o final da próxima semana.

Mais informações no diário El Deber, de Santa Cruz, cuja reportagem é claramente solidária ao seu patrício.

BENDITO É O FRUTO

Juarez Nogueira

Altino

Bendito é o fruto. Com um abraço especial, porque sei que posso dizer o mesmo de você, aí, cercado pelo carinho da Glória, pela poesia da Márcia, da Saramar e - sei, pela força de tantas mulheres, anônimas ou não, que carregam as dores do mundo - e as abrandam, elas mesmas, sem se dobrar, desdobráveis.


A foto foi tirada no dia em que recebi a notícia da abjeção de que foi vítima a médica brasileira. Nesse dia, aqui na escola onde trabalho, era um momento feliz, quando as crianças fizeram a Coroação de Nossa Senhora, reconstituindo um episódio marcante da infância da Adélia Prado, poetizado em seus livros.

A foto, nessa ocasião, por motivos outros que não vêm ao caso, me serviu e serve para lembrar que no pacote da vida vem tudo junto: alegria e tristeza, perdas e ganhos, terror e êxtase. O que fazer disso é que faz a própria vida e pode dar um sentido às rasuras humanas.

Por isso, eu gostaria que esse momento também servisse para lembrar, a todos, a mãe, a irmã, a esposa, a filha, a namorada, a amiga, a companheira de trabalho, enfim, todas aquelas que estão ao nosso lado no cotidiano ora aviltado, ora engrandecido pelas graças com que vamos ombreados.

Servisse para reiterar a fé na luta de mulheres e de homens de boa vontade para fazer um mundo de paz e bem.

Desconfio que essa moça não foi a primeira a sofrer abuso nas mãos do dito médico. Mas é ela, uma mulher, essa mulher que - tomara, possa freá-lo e até mesmo evitar futuras tragédias, com menores inclusive; lembrá-lo de que um dia coube, inteirinho e indefeso, no ventre de uma mulher.

Na foto, primeiro as damas: Adélia Prado, as professoras Rosinha, Norma, Cecília Guimarães e eu.

Juarez Nogueira é escritor e professor em Divinópolis (MG).

GLÓRIA PEREZ SOLIDÁRIA

"Altino, mandei para o blog, mas não entrou na caixa de comentários, então vai pra você:

Fico indignada com a desproteção, com o abandono a que são submetidas as mulheres vítimas de ataques dessa natureza!

Parabéns a essa moça corajosa, que está enfrentando tudo isto com raça e determinação!

Por mulheres assim, que não se calam, que não se dobram, a gente tem esperança de que um dia as coisas possam vir a ser diferentes.

Toda a minha solidariedade a ela e a sua família!

Glória Perez"

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

VIOLÊNCIA CONTRA MULHER










Familiares da vítima enviaram fotos das marcas do abuso sexual do médico boliviano Carlos Vaca Justiniano contra a médica brasileira em Montero, na Bolívia. Outras fotos mostram regiões do corpo da médica que foram violentadas com menos gravidade pelo agressor.

O delinquente boliviano permanece preso desde a noite de quarta-feira, após ter prestado depoimento ao fiscal do Ministério Público de Santa Cruz, Carlos Montano Alvarez.

A médica confirmou o relato de estupro mediante ingestão forçada de substância entorpecente seguida de espancamento sofrido na madrugada de sexta-feira.

A médica e seus familiares foram recebidos na quinta-feira pelo embaixador Eurico de Freitas, cônsul-geral em Santa Cruz. Ele finalmente providenciou abrigo e apoio judicial.

Familiares da médica boliviana que hospedou a vítima e prestava apoio para denunciar o abuso sexual e exigir justiça, exigiram que ela deixasse de abrigar os brasileiros em sua casa.

Foi necessário que os gabinetes do governador Jorge Viana e do senador Tião Viana insistissem junto ao Ministério das Relações Exteriores, para que fosse prestado apoio judicial permanente, bem como proteção de vida e imagem.

A médica brasileira compareceu na quarta-feira à uma audiência sem o apoio judicial que fora prometido pelo consulado.

- Houve um problema de comunicação e o advogado do consulado não recebeu os recados deixados pela vítima e seus familiares - admitiu Eurico de Freitas ao blog.

O cônsul garantiu que a embaixada brasileira vai pagar as despesas de hotel da vítima. Ele dissse, ainda, que o Ministério das Relações Exteriores se articula com o governo do Acre para assegurar o pagamento de U$ 2 mil de honorários da advogada boliviana que vai acompanhar todo o processo judicial contra o médico.

A vítima e seus familiares deverão permanecer em Santa Cruz por mais uma semana porque na fase de investigação criminal necessitam estar presentes. O embaixador elogiou a coragem da médica brasileira.

- Ela conseguiu um feito insólito na Bolívia: fazer com que um médico influente, de uma pequena cidade, fosse parar na cadeia por causa de abuso sexual. Acreditamos que a justiça boliviana prevalecerá neste caso e que o criminoso seja condenado. A carreira dele, de médico, vai acabar em caso de condenação - avaliou o embaixador.

Na segunda-feira, quando se manifestou pela primeira vez sobre o caso de abuso sexual contra a médica, a diplomacia brasileira na Bolívia disse ao blog tratar-se "muito mais de um tema que envolve a polícia e a justiça bolivianas".

A embaixada julgou na ocasião que era apenas conveniente que o consulado-geral em Santa Cruz acompanhasse o andamento da questão e que fosse notificado para que pudesse "alertar as autoridades brasileiras sobre o ocorrido".

Os apelos do governador Jorge Viana e do senador Tião Viana serviram para mudar o ponto de vista da diplomacia brasileira em relação ao caso que tem como vítima uma cidadã acreana.

Para o editor deste modesto blog fica a certeza de que qualquer veículo de comunicação adquire força quando faz a defesa de boas causas. Lamentável que a maioria das organizações de defesa dos direitos humanos seja tão desarticulada ou dominada pela má vontade e que a imprensa brasileira e os correspondentes estrangeiros estejam anestesiados e só enxerguem política, escândalo, economia. O ser humano desapareceu de suas pautas.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

PRESO MÉDICO ESTUPRADOR

Falha assistência judicial do consulado brasileiro

O médico Carlos Vaca Justiniano, que abusou sexualmente de uma médica brasileira em Montero, foi preso nesta noite após depoimento ao fiscal do Ministério Público de Santa Cruz, Carlos Montano Alvarez. A vitima e o agressor passaram quase seis horas sendo ouvidas em audiência pública acompanhada pela imprensa e populares.


Apesar dos apelos do governador Jorge Viana e do senador Tião Viana ao Ministério das Relações Exteriores, para que seja prestado apoio judicial permanente, bem como proteção de vida e imagem, a médica brasileira compareceu praticamente sozinha à audiência.

Ela confirmou o relato de estupro mediante ingestão forçada de substância entorpecente seguida de espancamento sofrido na madrugada de sexta-feira.


O médico, diretor do Hospital de Montero, onde a brasileira fazia estágio final para formatura em medicina, foi preso para evitar a coerção de testemunhas e também por ter apresentado documentos falsos, como uma declaração de bons antecedentes. Ele tem prazo de 24 horas para se justificar à promotoria.

O advogado do médico chegou a criticar a advogada boliviana Lady Roca por atuar na defesa de uma mulher brasileira em seu país. Após a ordem de prisão do médico, Lady Roca impediu, ainda dentro da sala de audiência, uma tentativa de suborno dos policiais pelo advogado.

Ela acompanhou os policiais e o médico até a cela de um quartel onde o agressor está preso.


- Havia o risco de que os policiais fossem subornados no caminho da prisão e liberrassem o criminoso - afirmou Lady Roca.

No final da audiência, a brasileira teve que ser protegida pela polícia porque o médico havia contratado um grupo de homens para ofendê-la com palavrões.

Os depoimentos foram acompanhados por mais de 20 jornalistas, a quem a médica concedeu uma entrevista. Ela disse que não necessitava mais ocultar o seu rosto na Bolívia.


- Espero que a minha atitude de mostrar o rosto sirva para motivar as mulheres bolivianas vítimas de abuso sexual a denunciar seus agressores. Eu acredito que a justiça da Bolívia vai punir exemplarmente o médico criminoso. Tenho orgulho de ter passado muitos anos de minha vida aqui em Santa Cruz para voltar para o meu país com o diploma de médica que sonhei. Vou superar essa experiência trágica com a certeza de que será positiva para a minha carreira profissional - afirmou a brasileira.

O advogado do Consulado-Geral em Santa Cruz prestou assessoramento jurídico preliminar, mas não tem atuado no caso conjuntamente com a advogada contratada pela família.

Após o registro da ocorrência junto à polícia da cidade de Montero, foram feitos exames no hospital daquela cidade, que, como era de se esperar, resultaram negativos.


O fato induziu as autoridades policiais a levarem o caso para o Juiz da Comarca. Esse determinou a realização de novos exames num Hospital de Santa Cruz, cujos resultados foram positivos.

Comentário da poeta amapaense Márcia Corrêa, do blog Papel de Seda:

"É como matar uma borboleta só porque ela voa, é leve e tem cores nas asas. É como sugar da menina, num lapso de tempo, a parte de sua alma que balanceia o caminhar, liberta o sorriso sem hora marcada, sopra os cabelos daquele jeito descontraído. É como roubar de seu quarto arrumado aquela caixinha de lembranças mais puras, onde ela guarda o que foi, o que é e o que sonha ser. É como cortar as cordas do balanço do quintal, só porque elas rangem quando a menina canta pra cima e pra baixo impulsionando os pés na árvore vizinha. Essa dor dói distante, pois é dor antiga de todas as mulheres. É dor vazia de acalanto, oca de afagos. É dor de abandono e de solidão, é quando a gente entende com maior precisão o sentido da indignação. Por ora, apenas posso emprestar meu coração para chorar junto. Quem sabe assim, como os galos de João Cabral, corações chorando juntos possam tecer um pranto único, que dilua essa dor o mais breve possível, para que o sol faça novamente seu ninho no coração da jovem brasileira."

Comentário da poeta goiana Saramar, do blog Abrindo janelas:

"Altino, bom dia. Nesta triste história, três coisas chamam a atenção: a coragem desta moça, a indiferença das autoridades brasileiras e a baixeza (perdão) desse monstro que a vitimou. Com o disse o seu amigo na carta em que descreve a situação da Bolívia, não creio em punição, infelizmente. Porém, a menina violada, com sua coragem, deu um tapa na cara das autoridades coniventes com criminosos. Por favor, transmita a ela minha solidariedade e admiração".

FATO ESTRANHO

Peritos do MP do Acre encontram boneco no lugar de corpo

Ismael Machado

Um boneco de pano no lugar do corpo. Essa foi a surpresa que tiveram peritos da polícia técnica, e representantes do Ministério Público na sepultura do cemitério São João Batista, no Acre.

Na sepultura deveria estar o corpo de Evânia Ferreira de Lima, que morreu na madrugada de 29 de junho de 2002, na Fundação Hospital do Acre, mas nada foi encontrado além do um boneco.

O corpo seria exumado a pedido da mãe de Evânia, Maria Raimunda Ferreira, desconfiada de que a filha não havia morrido por insuficiência respiratória, mas por espancamento pelo marido Adab Bezerra da Silva.


A mãe de Evânia, diante da surpresa, disse que vai exigir da polícia um trabalho rigoroso de investigação.

- Quero saber onde estão os restos mortais da minha filha - afirmou.

Em 16 de junho de 2002, quando estava no nono mês de gestação, Evânia deu entrada no pronto-socorro em estado grave por causa das marcas da violência. Treze dias depois, morreu, segundo o laudo assinado pela médica Elisabeth Rodrigues de Souza, de insuficiência
respiratória aguda.

Segundo Raimunda, a filha era espancada quase todos os dias. Após quatro anos, a mãe conseguiu a exumação para que a polícia melhor investigasse o caso.

Ela foi feita a partir de solicitação do promotor Leandro Portela, que atendeu a um requerimento da delegada Márdhia El-Shawa Pereira, da Delegacia de Crimes contra a Mulher. Leandro Portela resolveu pedir a exumação para que fossem feitos alguns exames.


A surpresa foi descobrir que no lugar do corpo da mulher havia um boneco de barro vestido com uma calça e uma camisa de mangas compridas. Não havia nem sinais de ossos. A ausência de restos mortais foi comprovada posteriormente pelo IML, para onde o caixão foi levado

Ismael Machado é correspondente em Belém do jornal O Globo, que afirma no começo do texto que o corpo é de pano e de barro ao final. Que coisa esquisita. Vote!

A BOLÍVIA E OS BOLIVIANOS

De um leitor brasileiro que mora na França, mas trabalhou vários anos na Bolívia:

"Caro Altino


Conheço razoavelmente bem a forma como as coisas se passam na Bolívia e também como funciona a Justiça boliviana. Por conta disso, faço algumas observações pessoais que talvez possam servir como subsídio.

Em primeiro lugar, a suposição de que a Justiça na Bolívia possa funcionar de forma imparcial em nome e em respeito dos direitos dos cidadãos é uma enorme ficção. Justiça na Bolívia significa apenas uma batalha de posições e interesses onde vence aquele que tiver em melhor posição frente à lógica própria da máquina judicial boliviana, que é movida apenas por dois elementos: influências pessoais (de redes familiares) e corrupção de agentes do poder judiciário (juízes sobretudo). Vence uma batalha judicial na Bolívia quem dispõe de uma melhor rede de influências familiares ou quem tem mais dinheiro para subornar os juízes. É apenas isso mesmo! Princípios abstratos de justiça e direito não são mais que... uma abstração.

Por isso não é raro que a população faça justiça com as próprias mãos. Tem ocorrido isso com relativa frequência no caso de prefeitos corruptos, e, salvo se a nota de que a família da médica agredida queira efetivamente sugerir que a população local "deva" fazer justiça com as próprias mãos, creio que é bastante razoável que a população local realmente o faça, pois "justiça" não é exatamente algo que o judiciário boliviano pratique.

Em termos institucionais e processuais, se há algo que possa ser feito é tentar mobilizar toda a influência que seja possível em Santa Cruz, para fazer pressão sobre o Judiciário local. Isso não quer dizer necessariamente imprensa, porque na Bolívia não existe escândalo a longo prazo e nada se traduz necessariamente como iniciativa institucional ou perdura num curso institucionalizado de procedimentos objetivos. Quer dizer, muito pior que no Brasil, um escândalo hoje não produz absolutamente nada amanhã. Pelo contrário, esse médico vai acabar capitalizando uma imagem favorável de garanhão, principalmente numa selva distante de quaisquer modos civilizados como é aquilo por lá.

E mesmo mobilizando influência, os resultados são absolutamente imprevisíveis, porque as oligarquias locais sempre ajeitam suas eventuais discrepâncias em acordos fechados por baixo dos panos, "en petit comité". E mais cedo ou mais tarde, é isso que vai acontecer no caso dessa médica, porque é óbvio que o delinquente vai mobilizar todos os amigos e familiares que puder. Simplesmente é essa a lógica das coisas na Bolívia. Portanto, não acredite jamais em boliviano algum, porque se há uma unanimidade com relação aos estrangeiros que conhecem a Bolívia, é a do reconhecimento da prática absolutamente generalizada da mentira, para tudo e para todas as situações (isso foi motivo até de um artigo acadêmico).

E também desconfie de toda forma de "solidariedade" que algum boliviano possa prestar à vítima ou à sua família, porque por trás dela pode haver apenas um movimento diversionista. Sinto dizer, mas é assim que as coisas acontecem naquele país. Se o crime tivesse sido cometido por um campesino, não tenha dúvida de que ele seria exemplarmente punido, mas em se tratando de um profissional com inserção nas castas privilegiadas do país, aí a única logica que vigora é a da preservação do privilégio de casta. Essa simplesmente é a lógia social estrutural daquele país. E isso é uma questão de lógica, não é uma questão de desencanto moral.

Portanto, o máximo de "justiça" que se possa esperar nesse caso é produzir algum mal-estar momentâneo nesse médico agressor. Não mais que isso. Eu realmente não conheço ninguém suficientemente influente em Santa Cruz que possa fazer o caso ter algum desdobramento com um mínimo de "justiça". O provável é que, uma vez dentro dos intestinos do judiciário boliviano, o caso se arraste por alguns anos e depois seja "estrategicamente" esquecido.

Por isso, não deposite nenhuma esperança em qualquer esforço institucional que seja, mesmo que ele incida sobre (e faça uso) o quadro de disputa política mais ampla entre as autoridades de La Paz e seus oponentes da "meia-lua" - os departamentos do oriente boliviano. E saiba mais: o Departamento de Pando, que faz fronteira com o Acre, é o maior quartel-general da corrupção na América Latina, um verdadeiro bang-bang.

Falando sério, eu simplesmente sugeriria que se contratasse um cabra aí pelo Acre para fazer o serviço com relação a esse médico. É essa a linguagem que os bolivianos melhor entendem, e a única via onde não vigora a certeza da impunidade no mundo oligárquico daquele país.


Saudações".

O jornal El Mundo, de Santa Cruz, informa que o médico acusado de violação da médica segue em seu cargo. Leia.

CENA ACREANA

O repórter André Vieira, da revista Rolling Stone, conversou ontem à noite, entre outros, com Aarão Prado, da banda Camundogs, e Diogo Soares, de Los Porongas. Papo cabeça nos fundos da casa onde funciona o selo acreano Catraia Records. A revista vai incluir o Festival Varadouro na reportagem sobre influência da presença da Rede Globo durante filmagens de minisséries, como "Amazônia - de Galvez a Chico Mendes".

A edição brasileira da Rolling Stone circulará a partir de outubro, com 100 mil exemplares e periodicidade mensal. Bizz, que é maior revista brasileira dedicada à música, circula com 30 mil exemplares.

Na edição passada, Bizz apresentou Los Porongas como "o quarteto que faz eco nas guitarras da geração “sem gravadora” que tenta criar o rock brasileiro dos anos 2000".

O Festival Varadouro será realizado nos dias 20 e 21 de outubro, no espaço Mamão Café, em Rio Branco. André Vieira, que já comeu muita poeira e lama na Amazônia, anda entusiasmado com a cidade.

- Rio Branco hoje é a cidade mais simpática e estruturada da região.

O repórter tirou a quinta-feira para acompanhar um dia de atividade do governador Jorge Viana, que está à frente da transformação do Acre nos últimos oito anos.

terça-feira, 26 de setembro de 2006

BATALHAS

Juarez Nogueira

Eu acompanhei o caso da pesquisadora portuguesa e, agora, o da médica brasileira. Eu entendo a sua luta, eu entendo a sua dor, Altino.

Por isso, você não tem do que se arrepender ao denunciar ocorrências desse tipo. O fato é que ainda falta muito para distinguir, de verdade, um homem de um porco.


A história da mulher, infelizmente, é marcada por abusos, atos de covardia como esse, que aviltam a própria condição humana.

As palavras não consolam, sei; nessa hora, parecem apenas reiterar um sentimento de impotência que vira um êmbolo de revolta, ódio e indignação que vai comprimindo o peito, turvando as idéias e faz querer revidar com a mesma violência. A brasileira está viva. Sei que não será fácil para ela.

Hoje, aqui, às 14 horas, as crianças da escola fizeram um coração junto com a Adélia Prado. No sábado ela volta para lançar o livro "Quando eu era pequena". Rezamos e cantamos, ao nosso modo, e, ao meu modo.

Pois bem: desde que você revelou o fato no blog, pode ter certeza, fiquei muito sensibilizado e, de cá, tenho repetido: Ave, Maria, cheia de graça, rogai por nós agora e na hora.

Sei que vão encontrar um caminho. Sei que a brasileira se viu obrigada a "crescer" depressa demais, mas a luz de quando ela era "pequena" não a abandonou e nem abandonará.

Talvez esteja, aí, uma nova causa pela qual lutar, num país que precisa de uma lei "Maria da Penha". Como médica então, e antes e sobretudo, como mulher mesmo, ela irá se recompor como a própria Adélia diz na sua poesia - desdobrável.

Não sei, Altino: não sei porque, mas algumas humanidades parecem ser mais "testadas" que outras, como se isso lhes onerasse com a coerência da própria humanidade.

Quando eu voltar ao Acre - e eu vou voltar -, vamos sentar e contar um tanto de história. Batalhas.


Meu abraço.

Juarez Nogueira é professor e escritor. Mora em Divinópolis (MG).

CRIME REVOLTA SANTA CRUZ

Várias organizações de defesa dos direitos humanos, dentro e fora do país, estão a exigir proteção e justiça no caso da médica brasileira I.C.M, 28, vítima de abuso sexual do médico boliviano Carlos Vaca Justiniano, 32, diretor de um posto de saúde em Montero, uma pequena cidade a 40 quilômetros de Santa Cruz.

O Conselho Estadual dos Direitos da Mulher do Acre(Cedim) aderiu ao movimento em defesa da estudante que se formou em medicina e cumpria o serviço rural obrigatório (província) na Bolívia.

O Cedim é um órgão deliberativo formado por instituições governamentais e não governamentais, cujo objetivo é monitorar as políticas públicas voltadas à eqüidade de gênero do Estado.


O resultado do exame forense criminal realizado em Santa Cruz foi positivo. Foi encontrado sêmen do médico no corpo da vítima. A partir daí, a justiça poderá solicitar exame de DNA para responsabilizar com maior precisão o agressor.

Familiares da médica brasileira relataram ao Cedim o temor de que a população boliviana tente fazer justiça com as próprias mãos.


- A imprensa tem nos acompanhado o tempo todo, tanto em Montero quanto em Santa Cruz. A população tem manifestado revolta com o crime. O que nos preocupa é a possibilidade da população, sobretudo de Montero, fazer justiça com as próprias mãos. O povo boliviano demonstra intolerância para com abusos sexuais, mas estamos aqui para confortar e exigir justiça - disseram os familiares da vítima.

A Rede Acreana de Mulheres e Homens (RAMH) também se solidarizou com a vítima e seus familiares.

- Nós repudiamos o ato selvagem desse médico monstro e queremos que seja punido o mais rápido possível. Estamos à disposição para qualquer ato de solidariedade - afirmou Amine Carvalho Santana, coordenadora da RAMH.

Os jornais A Gazeta, do Acre, Folha de S. Paulo e Diário do Amazonas e a Agência Amazônia noticiaram o caso. Mas, no geral, a imprensa brasileira e os correspondentes estrangeiros no país parecem anestesiados e só enxergam política, escândalo, economia. O ser humano desapareceu de suas pautas.

O jornalista Roberto Smeraldi, diretor da organização Amigos da Terra, também colaborou com a divulgação do caso na Bolívia ao pedir ajuda ao Forum Boliviano de Desenvolvimento e Meio Ambiente para repassar as informações deste blog à mídia local.

- Sentimos muito a agressão sofrida pela médica brasileira e nos revolta a cobardia e o cinismo do médico cruceño. Estamos enviando a mensagem a nossos amigos em Santa Cruz e Montero, para que fechem o círculo do delinquente. Vamos a dar difusão - disse a ativista boliviana Patrícia Molina.

Leia mais no jornal El Mundo, de Santa Cruz.

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS














“As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara quase impossível distinguir quem era homem, quem era porco.” (George Orwell)



Juarez Nogueira

Grande Altino

Lembra-se daquele livrinho, “Onde está Wally?”. Pois é: onde está Juarez?

Estou aí, sobrevivente e feliz, em meio aos meus alunos, na encenação d’A Revolução dos Bichos, de George Orwell (1903-1950). Sem trocadilho, deu trabalho pra burro levar ao palco os 72 alunos das 7as séries A/B, do Colégio Roberto Carneiro-Pitágoras, minha escola. Foi um desafio inovador das produções de teatro estudantil, ao qual meus muito amados alunos responderam com brilho e competência surpreendentes, em clima de superprodução. De ficar para sempre guardada no lado esquerdo do peito.

Trabalho de gente grande, Altino, só vendo! – (muitos não seguraram as lágrimas em momentos como a morte do bravo cavalo Sansão, identificado na figura do trabalhador que, sugado até as últimas forças, tomba com dignidade, mas desvalido e descartado como indigente...)

A história, acho que todo mundo conhece, porque se repete com outros nomes, outros cenários, outros “bichos”... A peça conta a história dos animais de uma granja, que viviam maltratados e explorados pelo dono. Eles resolvem fazer uma revolução, movidos pelo sonho de um velho porco, o ideal de que o governo dos bichos os livraria da tirania humana.

Aos poucos, porém, vão se desvirtuando os propósitos revolucionários. Com a ascensão dos novos dirigentes ao poder, vê-se que são corrompidos e traem os próprios mandamentos de modo que, se a princípio “todos os animais são iguais”, com o tempo, alguns se tornam “mais iguais que os outros.”

Adaptei e contextualizei o texto com a realidade brasileira, na abordagem de fatos políticos e sociais como a concentração de poder, a manipulação de informações, a cobrança abusiva de impostos, a desigualdade, o analfabetismo, a exploração dos mais fracos. É uma crítica ao poder distorcido pelo autoritarismo e pela corrupção.

E se por um lado a obra de Orwell, sátira do comportamento humano, aponta para um fim trágico, a idéia de que o poder corrompe, por outro, apesar do tom desesperançado em relação aos saudáveis impulsos revolucionários, faz um sério alerta: o ônus da democracia e da justiça é a eterna vigilância. Por isso mesmo, suas lições permanecem mais atuais e necessárias do que nunca neste momento da história do país, tomada por mazelas renitentes como a corrupção e os escandalosos privilégios dos que, eleitos, se acham “mais iguais”.

Nada, Altino, em 13 anos como professor, me deu tanto trabalho. Nada me deu tanta alegria. Quando eu contei pro Cesar Garcia, ele me escreveu desejando calma. Calma que eu perdi, tanta vez. Mas não perdi a esperança, esse sentimento que arrasta pedras e não se cansa. Quero, por isso, compartir em primeira mão com você e seus leitores. Faço isso bem a propósito do ideal primeiro de liberdade que detonou A Revolução dos Bichos: a fé numa sociedade mais justa, com liberdade responsável, com democracia de fato e não de papel, com dirigentes éticos, responsáveis, honestos.

A peça foi encenada no dia 21 de setembro, início da primavera. Olhei pro céu. Choveu. Tenho certeza de que foi para fazer brotar a esperança de uma nova era, acudir aos rogos as graças dos seme[lh]antes, assim seja.

Na produção, contei com os jovens talentos de Leandro Silva (direção) e Leandro Capoeira (coreografia). As fotos são de Fernando Laudares. O texto da peça pode ser disponibilizado para o trabalho nas escolas, com fins pedagógicos, ressalvado o direito autoral.

Abraço, Altino.

Juarez Nogueira é escritor e professor de redação em Divinópolis (MG). Comprei “Onde está Wally?”, de Martin Handford, para meus filhos, em 1992, quando estava "exilado" em Goiânia. Eles ainda eram crianças e foi o livro que mais gostaram na vida junto com "Matilda", de Roald Dahl. Procuravam Wally ou se deliciavam com a leitura que o pai fazia da história da menina.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

SOLIDARIEDADE À FAMÍLIA

O governador Jorge Viana, que está em Cruzeiro do Sul, pediu ao chefe de gabinete Roberto Ferreira da Silva para manifestar solidariedade aos familiares da vítima no "período de tristeza e indignação que se abateu sobre todos".

Disse, também, que não medirá esforços para acelerar a tomada de medidas administrativas e penais contra o médico criminoso. Para isso, determinou, além do contato através de correspondências, o contato telefônico com o Embaixador do Brasil na Bolívia.

- Conforme informei-lhe, cumprindo ordem do Governador Jorge Viana, realizei contato telefônico com o ministro Alfredo Camargo, embaixador interino do Brasil na Bolívia, antecipando-lhe sinteticamente o teor da mensagem remetida a ele em seguida. O Ministro Camargo disse-me que vai emprestar máxima atenção ao caso, tomar imediatas providências; e que isso é o mínimo que ele pode fazer, no momento - disse Roberto Ferreira da Silva.

APELO DO GOVERNO DO ACRE

Mensagem do chefe do Gabinete do Governador do Estado do Acre, Roberto Ferreira da Silva, enviada ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim:


"À Sua Excelência o Senhor
CELSO LUIZ NUNES AMORIM
Ministro de Estado das Relações Exteriores,


Ilustre Senhor Ministro,

Cumprimentando-o, cordialmente, em nome do Governador Jorge Viana, do Estado do Acre, tendo em vista a gravidade dos fatos e sua repercussão nas relações bilaterais, submeto a Vossa Excelência o assunto abaixo, que trata de violência sexual praticada por médico da República da Bolívia contra a bolsista do Estado do Acre e estudante brasileira de medicina naquele país - [Nome da vítima suprimido pelo editor do blog].

A notícia foi publicada no blog Blog do Altino. A fonte e a origem são reconhecidamente idôneas no Estado do Acre. [Segue excerto de dois posts do blog, "ipsis litteris"].

Diante disso, expresso em nome do Governo do Estado do Acre, e de seu Governador, na defesa de seus cidadãos, dentro do Brasil ou no exterior, a especial solicitação no sentido de que seja prestado apoio judicial permanente à aludida cidadã, bem como observada a necessidade de proteção de sua vida e imagem naquele país, em face de sua obrigatória permanência na Bolívia até a conclusão do curso de medicina.

Cabe ressaltar que o Consulado Brasileiro de Santa Cruz, com a possivel celeridade, já agendou um primeiro contato com a vítima, previsto para amanhã, dia 26 de setembro.

O Acre e os acreanos ser-lhe-ão, Senhor Ministro, eternamente gratos,


Respeitosamente,


ROBERTO FERREIRA DA SILVA
Chefe do Gabinete do Governador do Estado do Acre"

I.C.M chegou a ser entrevistada ao vivo na emissora Unitel, em Santa Cruz. Várias pessoas no Acre assistiram a entrevista a partir da indicação do blog.

ABUSO SEXUAL

A estudante brasileira I.C.M, 28, vítima de abuso sexual do médico boliviano Carlos Vaca Justiniano, 32, diretor de um posto de saúde em Montero, a 40 quilômetros de Santa Cruz, recebeu apoio de organizações de defesa dos direitos da mulher na Bolívia.

No Brasil, a coordenadora do Cimpe (Congresso Internacional de Mulheres Profissionais, Empreendedoras, Executivas e Empresárias), Carlota Santos, também manifestou apoio à estudante acreana que que se formou em medicina e cumpre o serviço rural obrigatório (província) na Bolívia.

- Estamos divulgando o caso em redes nacionais e internacionais de defesa dos direitos da mulher. A nossa organização está no combate à violência contra a mulher, seja em nosso país ou em qualquer lugar do mundo. Vamos combater mais esse crime. Temos que nos unir contra essa prática. A estudante brasileira é merecedora da solidariedade de todos - afirmou.

Ao ser questionado por uma colega de profissão após o abuso sexual, o médico boliviano se limitou a apresentar uma alegação cínica:

- Ela é maior de idade.

Uma irmã do agressor conversou ontem com a médica boliviana que deu proteção à estudante brasileira durante o final de semana. Ela disse que a sua família está disposta a pagar alguma soma em dinheiro para I.C.M desistir de abrir uma ação judicial.

A proposta foi rechaçada por I.C.M com o argumento de que não tem interesse de pleitear indenizaço financeira do agressor.


- O que quero é que o caso seja apurado e que a justiça o condene pelo que fez - disse a brasileira.

I.C.M recebeu ontem duas advogadas que foram colocadas à disposição dela pelo consulado brasileiro em Santa Cruz. As três choraram durante o relato do tormento imposto pelo médico à vítima.

A mãe e um irmão de I.C.M chegaram durante a madrugada em Santa Cruz. Médicos e estudantes bolivianos e brasileiros estão prestando solidariedade à acreana. Eles até providenciaram uma casa exclusiva para a vítima e seus familiares na cidade.

O dono da faculdade onde a acreana se formou se mostrou chocado com o caso. Ele é dono de um canal de televisão e também se dispôs a prestar assistência jurídica e tornar público o caso em seu país. A estudante está decidida a relatar o abuso sexual à imprensa desde que tenha o nome e a imagem preservados.

No Acre, porém, até agora não houve nenhuma manifestação da parte das várias organizações de defesa dos direitos humanos e da mulher. A família da vítima chegou a procurá-las, mas apenas a Delegacia da Mulher funciona nos finais de semana.

sábado, 23 de setembro de 2006

HISTÓRIA DE UM ESTUPRO

Conversei com a brasileira I.C.M, 28, que foi abusada sexualmente pelo médico boliviano Carlos Vaca Justiniano, 32, diretor de um posto de saúde em Montero, uma pequena cidade a 40 quilômetros de Santa Cruz. Formada em medicina, ela cumpre o serviço rural obrigatório (província) na Bolívia.

O primeiro exame de secreção vaginal foi realizado na cidade por médicos colegas do diretor do posto de saúde. Diante do resultado negativo, um juiz explicou à brasileira que o médico é influente em Montero e sugeriu que ela realizasse novo exame numa clínica independente de Santa Cruz.

O resultado do segundo exame será divulgado na terça-feira junto com o exame de urina, que indicará a presença ou não de eventuais substâncias que possam ter sido ingeridas pela vítima. Médicos e estudantes bolivianos e brasileiros estão prestando solidariedade à médica acreana.

Ela também foi submetida a exame de corpo de delito e está sob a proteção de uma médica e de um empresário, ambos de Santa Cruz. A família da médica é dona do principal canal de televisão da cidade, que levará o caso ao conhecimento da opinião pública.

- A médica brasileira é nossa amiga e faremos o que for necessário para que o médico estuprador seja responsabilizado criminalmente pelas leis de nosso país - disse a médica. Carlos Vaca está sujeito a 15 anos de prisão em caso de condenação.


I.C.M contou que durante a semana teve um sonho no qual embarcava num carro e acabava sendo estuprada pelo taxista. Ela contou o sonho para as amigas. O médico organizou para ontem uma festa de confraternização no posto de saúde. Ele fez questão de exigir com antecedência a presença da estagiária.

- Você vai me acompanhar à festa porque ainda estou preocupada com aquele sonho - disse I.C.M a uma amiga.

Ela contou que bebeu apenas um copo de cerveja oferecido pelo médico durante a festa. Logo começou a reclamar que se sentia muito cansada e sonolenta. Ela e duas amigas decidiram aceitar a carona oferecida por
Carlos Vaca Justiniano.

As duas amigas insistiram para que fossem levadas para casa primeiro sob o argumento de que I.C.M deveria fazer companhia ao médico na volta. As três moravam em casas próximas. I.C.M acordou num motel com o médico violentando-a.

Não tinha força para reagir. Quando pediu para que ele parasse, passou a ser espancada. Sem conseguir se levantar, a brasileira foi arrastada pelo médido do quarto do motel até o carro. Ele a deixou em casa semi-acordada.

Autoridades do consulado brasileiro em Santa Cruz de La Sierra já foram avisadas do caso pelos familiares da médica e ofereceram apoio jurídico. A mãe e um irmão da vítima viajam ainda hoje para Brasília e amanhã à noite seguem para a Bolívia.

- Minha mãe contou recentemente, ao telefone, o caso da pesquisadora portuguesa Vanessa Sequeira, que foi violentada e estrangulada no Acre. É muito difícil a gente enfrentar esse tipo de violência, sobretudo longe do país da gente. Agradeço a Deus por estar viva e também pelo apoio que veio de amigos acreanos e bolivianos - disse I.C.M.

EXPEDIÇÃO DOS POETAS

Batalha de brasileiros e bolivianos no Acre

Soldados do exército da Bolívia enfrentam desde ontem, em Puerto Alonso, a Expedição dos Poetas, formada por intelectuais e boêmios de Manaus (AM), que foram organizados pelo jornalista Orlando Lopes com a missão de expulsar os bolivianos e devolver a cidade ao domínio do Estado Independente do Acre.


Mais de 500 pessoas correram apavoradas e se refugiaram na floresta durante o ataque brasileiro. Um militar boliviano ficou com o rosto chamuscado durante a explosão de uma bomba.

O tráfego no rio Acre está bloqueado. Fortes explosões, colunas de fogo e fumaça surgem no cenário da batalha. A bandeira da Bolívia ainda permanece hasteada na sede do governo.


Antes de atacar o exército boliviano, os poetas bloquearam a passagem de 12 vapores que transportavam víveres das casas aviadoras de Manaus e Belém, que financiam a produção de borracha nos seringais da região em conflito.

Apesar da supremacia em armamento, os bolivanos enfrentam os brasileiros com pouca comida. Analistas de guerra avaliam que a Expedição dos Poetas já poderia se considerar vitoriosa caso tivesse optado por manter o bloqueio dos vapores, o que forçaria a rendição boliviana por causa da fome.

- Sem experiência na arte militar, o levante intelectual certamente será derrotado. Com certeza os bolivianos vão botar pra correr os poetas e se apossar do carregamento de comida existente nos vapores - disse uma analista militar brasileiro ao cronista XYZ, que acompanha a Expedição dos Poetas, denominada oficialmente de Floriano Peixoto. O cronista escreve um diário da viagem, luta e poesia.

A região do Acre vive uma situação de conflito desde 1899. O território boliviano foi povoado por migrantes nordestinos atraídos pela exploração da borracha. Quando a Bolívia decidiu retomar seu território, visando o lucro obtido com o látex extraído das seringueiras, o governo brasileiro não se opôs. A região, de acordo com o Tratado de Ayacucho, pertence de fato ao país vizinho.

O povo acreano se revoltou com a situação. Liderados pelo espanhol Luis Galvez, os seringueiros resistiram à ocupação boliviana. Num referência ao dia da queda da Bastilha, em 14 de julho, foi criado o Estado Independente do Acre. Galvez foi aclamado presidente do novo país e desenhou a bandeira do Estado Independente.

Galvez acabou despertando o descontentamento de muitos seringalistas, que se revoltaram com os impostos cobrados pelo novo governo. Em 28 de dezembro de 1899, Galvez foi deposto pelo seringalista Antônio de Souza Braga, que não conseguiu se manter no poder e, em menos de um mês, devolveu-lhe o comando. Sabendo que a desobediência do Tratado de Ayacuho colocava em risco suas relações internacionais, em março de 1900, Galvez foi destituído e a região do Acre devolvida à Bolívia.

Segundo XYZ, caso os revoltosos sejam derrotados, é muito provável que o militar Plácido de Castro seja convidade e aceitará o desafio de liderar uma nova reação brasileira.

Fontes militares informaram que a Bolívia está decidida a arrendar o Acre para o Bolivian Syndicate. Ela daria ao sindicato o poder de explorar as terras do Acre e ocupá-las militarmente durante 30 anos. Comenta-se até que Lino Romero será enviado a Puerto Alonso para preparar a passagem da administração ao Bolivian Syndicate.

- Com apoio financeiro dos seringalistas e a formação de um exército de seringueiros, acreditamos que o movimento armado contra a Bolívia vai conquistar o Acre para o Brasil - disse uma fonte brasileira ao repórter XYZ.

Rolling Stones
Fotos do conflito
estão sendo tiradas nesta manhã pelo repórter André Vieira, da revista Rolling Stones. Ele já cobriu a guerra no Afeganistão. Vieira obteve autorização milatares bolivianos e patrões brasileiros para realizar uma reportagem sobre a influência da presença da Rede Globo em cidades pequenas durante filmagens de minisséries – como influenciam economicamente, politicamente, socialmente, como muda a vida dos moradores.

A revista americana, uma das mais conhecidas sobre música pop e comportamento, terá uma edição nacional provavelmente partir de outubro, com periodicidade mensal. Nos Estados Unidos, a revista é quinzenal e vende cerca de um milhão e meio de exemplares por mês. No Brasil, a tiragem inicial será de 100 mil exemplares. É um número considerado alto para uma publicação desse tipo.

A Bizz, por exemplo, que também é dedicada a música, tem tiragem de 30 mil exemplares mensais. A exemplo das edições locais publicadas na Inglaterra, França, Austrália, China, Itália e outros países, a "Rolling Stone" brasileira terá metade do conteúdo traduzido da matriz americana e metade produzido pela redação local.

Clique aqui para visitar o site do repórter André Vieira. Fotos de Puerto Alonso ou Porto Acre, tiradas no mês passado, quando a cidade estava sendo construída, podem ser vistas aqui ou aqui.

Vamos torcer para que até o final do dia alguém consiga ultrapassar a região com alguma foto do conflito. Apenas jornalistas de países considerados neutros podem transitar na zona conflagrada. A área permanecerá inacessível aos jornalistas da região até o dia 3 de outubro.

DOIS BRASIS

Conversa com o governador petista Jorge Viana:

De onde vem essa tsulama?

De São Paulo. É preciso quebrar a hegemonia dos paulistas na política. Eles acham que são o início, o meio e o fim de tudo.

O que fazer?

No dia seguinte à eleição, Lula tem que se dirigir publicamente ao PT.

Para dizer o quê?

Despachar essa gente. Não adianta ficar. Está na índole deles. Se tiverem vergonha na cara, o que é difícil, sairão antes.

Quem deve ser expulso?

Se o PT quiser voltar à origem, não pode poupar.

Berzoini, por exemplo?

Se quero que Lula ganhe no primeiro turno, não devo citar nomes.

É cortar na carne?

Que carne? São corpos estranhos. A carne de petista tem marcas, cicatrizes que são medalhas de luta sem trégua pela ética na política.

Nota da coluna Nhenhenhém, de Jorge Bastos Moreno, hoje, no Globo. Bravo! Que se cuidem eventuais corpos estranhos no Acre.

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

RELIGIÃO DA FLORESTA



Do blog da novelista Glória Perez, autora da minissérie "Amazônia - de Galvez a Chico Mendes":


"Na infância e adolescência, que vivi no Acre, conheci o mestre Irineu. Era uma figura que impressionava a gente: guardo, até hoje, a impressão de nunca ter visto ninguém tão alto.

O mestre Irineu levou a Ayahuasca para Rio Branco, ainda no tempo dos meus avós. Tomava-se a mistura em rituais religiosos.

A bebida era considerada sagrada pelos Incas, que a usavam desde antes da época da conquista. As tribos da região do Acre também a usavam (usam) de modo ritualístico. Mais tarde, o próprio mestre Irineu rebatizou-a com o nome de Daime.


Depois de sua morte, a viúva, madrinha Peregrina (foto), continuou a tomar conta do culto, e tem se demonstrado sempre atenta para que a utilização do Daime não venha a ser distorcida nem descaracterizada.

O mestre Irineu foi para o Acre bem no comecinho do século 20, demarcar fronteiras, e trabalhou como seringueiro também. Nós o veremos na minissérie".

Tirei a foto acima no dia 15 de setembro, quando foi comemorado no Centro de Iluminação Cristã Luz Universal - Alto Santo os 50 anos de casamento de Irineu e Peregrina Gomes Serra.

O Ciclu - Alto Santo foi tombado pela prefeitura e governo estadual como patrimônio histórico e cultural de Rio Branco e do Acre. Para saber mais a respeito da doutrina do Daime leia o Manifesto do Alto Santo.

Veja também o Blog da Autora, onde Glória Perez publicou uma foto do mestre Irineu, que foi tirada no dia 23 de junho de 1971, quando ele caminhava para o Ciclu - Alto Santo, para participar dos festejos de S. João. No dia 6 de julho de 1971, mestre Irineu faleceu.

A última foto dele em vida foi reproduzida por mim a partir de um slide que foi guardado durante muitos anos pelo saudoso Sebastião Jaccoud. A foto faz parte do acervo do Memorial Raimundo Irineu Serra.

As fotos mais conhecidas do mestre Irineu foram tiradas por Américo de Mello, que entrevistei em fevereiro de 2003 para o jornal Página 20.

A maioria das fotos do mestre Irineu Serra, fundador da doutrina do Santo Daime, foi o senhor que fez. Como fez tantas fotos dele?

Eu costumava acompanhar governadores como Jorge Kalume e Wanderley Dantas. Eles visitavam o centro do mestre Irineu durante alguns hinários ou em campanha eleitoral. Eu aproveitava essas ocasiões. Mas eu também costumava visitá-lo sozinho.

Como era o mestre Irineu?

Ele era um homem sério, sisudo, fechado. Ele tinha uma presença muito forte. Era um profeta. Qualquer pessoa que se aproximava dele sentia o impacto da personalidade daquele homem. Quem chegava perto dele tremia no chão. Eu cheguei perto, fotografei muitos governadores e presidentes da República, mas nenhum deles me fez sentir o mesmo impacto que sentia ao chegar perto do mestre Irineu. Eu ainda tive o privilégio, embora isso não seja muito ético, de tocar nele e pedir para ficar assim ou assado. Eu buscava sempre fazer boas fotos dele.

O senhor então enquadrava o mestre Irineu.

É verdade. Fiz isso no dia em que tirei a foto mais conhecida, na qual ele segura o cajado. Naquele dia eu toquei nele, posicionando o corpo dele adequadamente em minha lente.

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

DE QUE LADO ESTOU?

Quase todo dia algum petista ligado ao governo do Acre, para o qual trabalho, telefona para perguntar de que lado estou quando o conteúdo deste blog é julgado incômodo.

Embora eu saiba que os leitores têm percepção de que lado estou, costumo responder aos meus amigos petistas que estou do lado da minha liberdade e que por ela me responsabilizo publicamente.

Delonga necessária para revelar que um site acreano, mantido apenas para ofender desafetos, opera sob a responsabilidade de José Severiano de Freitas, ex-secretário de Fazenda durante a gestão do ex-governador Romildo Magalhães.

Como diretor de veículos de comunicação, Severiano é tratado como aliado pelos mesmos petistas que telefonam para perguntar de que lado estou.

Além disso, o conteúdo do tal site é gerenciado pelo webdesigner Fernando de Castro Sobrinho, diagramador do jornal Página 20, que é o veículo de comunicação mais afinado com o governo petista.

Quem duvidar, consulte o Registro BR. Quanto ao titular da empresa responsável pelo domínio do site, o caminho é acessar o serviço de consulta processual do Tribunal de Justiça do Acre.

Diante de tudo isso e de tanto ser perguntado, já começo a me perguntar: de que lado estou?


Está na primeira página do jornal A Tribuna a nota a seguir:

"Eu, José Severiano de Freitas, brasileiro, casado, exercendo o cargo de Diretor Comercial do Jornal A Tribuna e da Rádio Alvorada, venho a público esclarecer que não tenho nenhuma participação societária ou responsabilidade técnica ou jurídica de qualquer SITE (jornal eletrônico).

A necessidade de tal esclarecimento se dá em virtude de que, somente nesta data, através de informações de terceiros [Altino Machado] e confirmação na consulta ao site registro.br, tive conhecimento de que meu nome figura como responsável pelo domínio acreagora.com.br, criado em 12/11/2005, que utiliza como entidade titular do domínio a empresa A. S. A Castro - Free Lance Comunicação, CNPJ n° 084.331.503/0001-30, sobre o qual estou adotando as medidas legais, cabíveis a espécie".

FESTIVAL VARADOURO

Novo caminho para
o rock brasileiro

Não há quem possa recusar convite para participar de uma reunião marcada para as 22 horas. Participei ontem do encontro de organizadores da segunda edição do Festival Varadouro com uma equipe que vai produzir conteúdo multimídia para abrir mais um caminho para o rock brasileiro.


O Festival Varadouro, o maior evento de música do Acre, será realizado nos dias 20 e 21 de outubro no espaço Mamão Café, em Rio Branco. É resultante da iniciativa de artistas, produtores culturais e do selo fonográfico acreano Catraia Records, tendo como o patrocinadores a iniciativa privada e o governo estadual.

Os organizadores do Varadouro querem transformar a cidade na capital do rock alternativo brasileiro. Está prevista a participação de bandas como Moptop, Walverdes, MQN, Macaco Bong, Porcas Borboletas, Los Porongas e mais de 30 convidados, entre jornalistas e produtores da cena independente brasileira, que darão cobertura ao evento e contribuirão para debater alternativas para a emergente produção musical do país.

O festival visa a inserção definitiva do Acre no circuito musical independente brasileiro e o fortalecimento da cadeia produtiva, com ênfase na contribuição amazônica para o processo de mudanças pelo qual atravessa a música contemporânea do país. Segundo os organizadores, o intercâmbio e a expressão na mídia estabelecem referenciais para melhoria da qualidade técnica e estética da produção local.

O Festival Varadouro faz parte do Circuito Fora do Eixo de Música Independente e da Associação Brasileira de Festivais Independentes (ABRAFIn), o que inclui, entre outros, os festivais Porão do Rock (DF), Abril Pró-rock (PE), Calango (MT), Goiânia Noise e Bananada (GO) e MADA (RN).

Na programação, consta a apresentações de 16 bandas nos palcos Cachoeira e Bom Destino. No dia 20 de outubro se apresentam Gogó de Sola (AC), Mamelucos (AC), Ultimato (RO), Nicles (AC), Coletivo Rádio Cipó (PA), Macaco Bong (MT), Camundogs (AC) e Moptop (RJ). No dia 21, Auttreyd (AC), Fire Angel (AC), Mezatrio (AM), Álamo Kário (AC), Porcas Borboletas (MG), MQN (GO), Los Porongas (AC) e Walverdes (RS).

Além dos shows, o Varadouro vai contar com uma série de debates, o que é considerado um fator indispensável para que o crescente movimento de música independente nacional intensifique sua organização.

Da extensa programação destacam-se a apresentação e as reuniões do Circuito Fora do Eixo e da ABRAFIn, bem como o debate “Independência ao Norte”, quando produtores de todas regiões brasileiras vão discutir alternativas para a inserção definitiva do norte no circuito musical nacional.

Diogo Soares, Adaildo Neto, Daniel Zen, Milena Quiroga, Thays França, Thalita França, André Lima e Franklin encerraram a reunião após a meia-noite. E eu estava lá como testemunha de um movimento crescente, mas subestimado pela mídia tradicional, que demonstra criatividade suficiente para promover mudanças na cultura regional.

O site do Festival Varadouro está em construção.

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

DIREITO AUTORAL

O site Vermelho, do PC do B, e a Agência Amazônia se manifestaram a partir da reclamação que fiz hoje contra o desrespeito ao meu direito autoral. O Vermelho publicou integralmente reportagem do blog sobre o tombamento do Alto Santo como patrimônio histórico e cultural, mas atribuiu o crédito à Agência Amazônia.

O site chegou a aplicar, erroneamente, o título "Acre transforma Santo Daime em patrimônio histórico e cultual". O daime não foi tombado. A versão original, correta, está no post Alto Santo.

Quem foi tombado pelo governo do Acre e pela prefeitura de Rio Branco como patrimônio histórico e cultural foram alguns bens materiais do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal - Alto Santo. O texto foi retirado do site Vermelho.


A primeria manifestação partiu da Agência Amazônia:

"Caros amigos do Vermelho,

O objetivo deste e-mail é para pedir a correção do crédito da matéria do dia 7 de setembro. A matéria foi creditada para a Agência Amazônia.

O texto é de Altino Machado. A Agência Amazônia apenas distribuiu em sua Newslletter o texto. Aliás, no primeiro parágrafo está explícito que a matéria é do blog do jornalista Altino Machado.


Desde já agradeço pela devida correção.

Atenciosamente

Chico Araújo
Diretor da Agência Amazônia de Notícias"


O Vermelho enviou, posteriormente, a seguinte explicação:

"Caro Altino,

Não localizamos seu email, tampouco no "fale conosco", mas já podemos confirmar a você que o texto foi extraído da Agência Amazônia no dia 6 de setembro e foi reproduzido identicamente, por isso o crédito a eles.

De nossa parte, pedimos que envie o seu texto original, ou outro texto sobre o assunto, se preferir, para que republiquemos com o devido crédito. Mas perceba que o texto deve ter o formato jornalístico para que possamos reproduzi-lo.

Solicito que envie-o para vermelho@vermelho.org.br aos cuidados de Claudio Gonzalez.

Espero tenhamos solucionado essa contenda e possamos contar sempre com sua colaboração.

Saudações

Eliana Ada Gasparini
Secretária de Redação do Vermelho"

Enviei ao Vermelho o mesmo texto que havia sido copiado de meu blog pelo site. É preciso deixar registrado que a Agência Amazônia o publicou parcialmente, com o devido crédito, remetendo ao blog a leitura completa do texto.

Espero que o velho post usado pelo Vermelho seja considerado um texto com "formato jornalístico" e reproduzido com o crédito.

Reafirmo: A reprodução do conteúdo deste blog é livre, desde que seja preservado o contexto e mencionada a fonte.

GALVEZ E CHICO MENDES



A antropóloga Mary Allegretti acompanhou e fotografou ontem, na cidade cenográfica construída em Porto Acre pela Rede Globo, as gravações da minissérie "Amazônia - de Galvez a Chico Mendes", da acreana Glória Perez.

Ela presenciou a gravação da cena que marca a volta do jornalista espanhol Luiz Galvez à presidência da República Independente do Acre. Galvez havia sido deposto pelos seringalistas por desentendimentos em relação à política de cobrança de impostos sobre a borracha.


- A cena foi linda e emocionante, parecia que o mundo tinha voltado no tempo de um momento para o outro. Tudo é bem feito: os espaços públicos, as casas, os objetos dentro das casas, os detalhes dos seringueiros com suas feições acreanas e suas roupas perfeitas da época - relata Mary Alegretti.

A antropóloga estabelece elos entre o Luiz Galvez e o líder sindical e ecologista Chico Mendes, cuja luta ganhou o reconhecimento internacional após o assassinato dele em Xapuri, em dezembro de 1988.

- Um dos aspectos que mais me atrai na forma como a Glória Perez está construindo a história da mini-série Amazônia é a reinterpretação da identidade de Galvez e a conexão entre o Acre daquele tempo e o de hoje. Não o hoje de 2006, porque a história vai parar no assassinato de Chico Mendes. Mas o tempo de cem anos, que vai da guerra acreana pela borracha, ao mundo sem seringais das últimas décadas do século passado.

Mary Allegreti lembra que Chico foi marginalizado, desprestigiado, pelas autoridades do seu país, mas seu sonho, já antes idealizado por Galvez, acabou se realizando.

- Muitas escolas foram criadas desde então e muito mais vem sendo feito em direção a um futuro que tem elos muito fortes com aquele momento que hoje está sendo reconstruído. E que a minissérie vai mostrar.

Meu comentário: o espanhol Luiz Galvez era infinitamente mais interessante e patriota do que o nosso Lula da Silva. E a República Independente do Acre bem mais séria do que a República Federativa do Brasil.

Imperdíveis a análise e as fotos, que podem ser acessados integralmente no blog da Mary Allegretti.

BOA NOVA

A juíza Luzia do Socorro Silva dos Santos, da 4ª vara cível do fórum de Belém, rejeitou a ação de indenização por danos morais e materiais, cumulada com tutela inibitória e antecipatória, proposta por Ronaldo Maiorana, Ronaldo Maiorana Júnior e Delta Publicidade contra o jornalista Lúcio Flávio Pinto e o jornal Diário do Pará.

Os donos do jornal O Liberal se consideraram ofendidos por materias divulgadas pelo"Diário" sobre a agressão praticada por Ronaldo Maiorana contra Lúcio, em 21 de janeiro do ano passado, no Parque da Residência. Além de cobrar indenização, pretendiam impedir que tanto o jornalista quanto o jornal voltassem a fazer novas publicações sobre o assunto, considerado ofensivo.


A juíza acatou a preliminar suscitada por Lúcio Flávio Pinto, de ilegitimidade passiva para figurar como réu na ação. O jornalista argumentou que não tinha responsabilidade sobre as matérias, publicadas por iniciativa do Diário do Pará, que noticiaram e repercutiram um fato testemunhado por dezenas de pessoas.

Examinando o mérito da demanda quanto ao jornal, a magistrada concluiu que ele se limitou a transmitir ao público fato de efetivo interesse social, sem se configurar em abuso do direito de informação, sem a intenção de lesar a imagem de terceiros, "no exercício regular do direito de expressão e informação".


Quanto ao pedido de direito de resposta dos Maiorana, argumentou que eles não comprovaram que houve resistência do jornal à veiculação de sua versão sobre os fatos, nem recorreram à via judicial específica para exercê-lo. Sobre as tutelas requeridas, mostrou que impedir novas notícias a respeito seria praticar a censura prévia, proibida pela Constituição Federal.

Os Maiorana ajuizaram 13 ações no fórum de Belém contra o jornalista Lúcio Flávio Pinto após a agressão, sendo nove criminais (com base na Lei de Imprensa, por alegada calúnia, injúria e difamação) e quatro cíveis, de indenização.

Ainda estava em curso uma outra ação, de uma irmã de Ronaldo e Romulo, Rosângela, que é diretora da empresa. Ela pretende impedir o Jornal Pessoal, a publicação quinzenal de Lúcio, que acaba de completar 19 anos de circulação, de a ele se referir para sempre.


A ação decidida pela juíza Luzia dos Santos é uma das duas que tramitam na 4ª vara. Há mais uma na 9ª e outra na 11ª vara, ainda sem decisão. O processo instaurado contra Ronaldo pela agressão, a partir de denúncia do Ministério Público do Estado, com base em inquérito policial, foi arquivado. O agressor pagou uma multa de 15 mil reais e ficou livre.

MENSAGENS DO MUNDO

O editor-assistente de uma grande revista de cultura pop americana, que ganhará sua versão brasileira em outubro, revela ao blog que a publicação está fazendo uma reportagem sobre a influência da presença da Globo em cidades pequenas durante filmagens de minisséries – como influenciam economicamente, politicamente, socialmente, como muda a vida dos moradores.

- Como você é um jornalista influente no Acre, acho que seria uma boa fonte para a gente. Estamos mandando um jornalista/fotógrafo ao Acre nos próximos dias. Gostaria de saber se você pode ajudá-lo como fonte - indaga.

A jornalista Cristina Muller, com quem trabalhei no Estadão, dá notícias. No começo dos anos 90, quando esteve no Vale do Juruá, ela contraiu uma inesquecível malária.

- Fala Altino! Bom te saber guardião da mata. Saudades do Juruá. Forte abraço a partir de Addis Abeba, na Etiopia.

O jornalista e escritor Alex Bellos, autor do livro "Futebol - o Brasil em campo", escrito quando ele era correspondente do jornal inglês The Gardian, reaparece.

No ano passado, Bellos escreveu um longo artigo sobre o Daime no diário inglês Daily Telegraph. Contou que viu aqui “uma cidade marcada pelo sexo, as drogas e a expansão industrial desordenada”. Ao solicitar a um motorista de táxi que o levasse à principal atração turística-cultural da cidade, foi parar no “Beréu”, que já foi o puteiro mais famoso da aldeia.

Segue a mensagem de Bellos e quem puder ajudá-lo dessa vez, favor usar a caixa de comentários ou enviar mensagem diretamente para meu e-mail, que está na coluna à direita, em "falar comigo".

"Oi Altino, tudo bem? Sempre leio seu blog. Por acaso, você sabe se no Rio Branco (ou em uma outra cidade do Brasil) tem algum pesquisador ligado a uma universidade ou hospital fazendo pesquisas científicas sobre ayahuasca.

Sei que tem pesquisas sobre o efeito psicológico, e também a história e antropologia dos usos religiosos, mas queria saber se tem alguem pesquisando ayahuasca e saúde em geral?

Teria um contato de alguém aí?

Quando te visitei na última vez, voce me apresentou a uma jornalista amapaense que estava de férias no Acre. Você tem os contatos dela, ou de algum outro jornalista que trabalha no Amapá? Estou querendo pesquisar o Projeto Jari e a situação social no Laranjal do Jari.

Um abraço de Londres

Alex Bellos"

Em tempo: O site Vermelho, do PC do B, copiou integralmente material (leia aqui) do blog sobre o Alto Santo como patrimônio histórico e cultural, mas atribui o crédito à Agência Amazônia.

Ainda aplica, erroneamente, o título "Acre transforma Santo Daime em patrimônio histórico e cultual". O Daime não foi tombado coisa nenhuma. A versão original, correta, está no post Alto Santo. O centro foi tombado como patrimônio histórico e cultural.


Outro, um tal Wesley Alves, copiou as fotos e o texto sobre o núcleo cenográfico da Globo em Porto Acre, e os publicou também sem citar o blog como fonte.

SOLIDARIEDADE DA SBPC

Caro Altino,

meu nome é Wanderson Lobato, sou jornalista e estou trabalhando como assessor de imprensa da SBPC-Pará. Nessas viagens pela net acabei encontrando seu blog, que gostei bastante.

Abaixo, encaminho a você nota à imprensa da SBPC nacional sobre o caso envolvendo o Lúcio Flávio Pinto. Espero que você possa divulgar.

Agora estou me desdobrando em dois pra assessorar a SBPC e também trabalhar na produção do programa de TV da Ana Júlia, candidata do PT ao nosso governo. Passando essa fase trash, tô me organizando pra visitar alguns estados amazônicos, pra turismo e também trabalho.

Quero aproveitar pra fazer alguns contatos por conta da Anual da SBPC que, ano que vem, será sediada na Universidade Federal do Pará. Já estamos na formação das comissões de comunicação e em reuniões preparatórias. Em breve, deveremos entrar em contato com assessorias das universidades, centros de pesquisa e alguns jornalistas pra formarmos uma rede de divulgação e discussão dos temas do evento.

Eu acredito que os blogs podem ser uma importante ferramenta nesse processo. Por isso espero poder encontrá-lo quando pintar por aí.

Obrigado pela divulgação,

Abraços

Wanderson Lobato


NOTA À IMPRENSA

A 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Pará manteve a condenação imposta no ano passado pelo juiz Amílcar Guimarães ao Conselheiro da SBPC jornalista Lucio Flavio Pinto, por uso da expressão ‘pirata fundiário’ ao se referir, em artigo de sua autoria, ao senhor Cecílio Rego de Almeida.

Examinando os autos do processo não encontramos razões que justifiquem os juízos e legitimem a sentença e tanto menos a manutenção da condenação.

Lucio Flavio Pinto é jornalista respeitado e suas sólidas denúncias sobre a apropriação ilícita de patrimônio público e devastação da natureza em terras da Amazônia encontram amplo respaldo na literatura especializada e documentação corrente.

Ao relevar os fatos e procurar na cor dos adjetivos razões para justificar sua sentença o juiz Guimarães e aqueles que agora a confirmaram, desembargadores Luiza Nadja Nascimento e Geraldo Corrêa Lima, revelam a distância que, como juízes, os separam de um sereno exame do mérito da matéria em questão.

Como cidadãos denotam alheamento às tragédias humanas e às agressões à natureza que Lucio Flavio Pinto, com rigor e perseverança, tem denunciado no caso em questão no Jornal Pessoal e em tantos outros artigos em revistas especializadas e de ampla circulação.

Manifestamos nosso indignado protesto pela condenação ora referendada pela 3ª Câmara Cível de Belém.

A SBPC expressa sua solidariedade ao ilustre Conselheiro de nossa Sociedade a quem acompanhará na busca de reparo à injustiça ora sofrida nas instancias superiores dos tribunais da Nação.

São Paulo, 19 de setembro de 2006


ENNIO CANDOTTI
Presidente da SBPC

terça-feira, 19 de setembro de 2006

PEDRO NOVAES

Caro Altino!

Como andam as coisas? Acompanhou nossas andanças pelo Xingu através do site Xingu - a terra mágica?

Por aqui, tudo certo. Vou tentando colocar a vida em dia e me readaptar, mas há uma certa sensação de chapação que não passa, que acho que tem essencialmente a ver com o contraste entre a possibilidade de uma vida super simples e totalmente autônoma, como a dos índios, e a nossa, tão complexa e em tanta dependência de tudo - do supermercado, da empresa de energia, de água etc.


Por lá, deu tudo certo. Gravamos quase 100 horas de material, o que vai dar um trabalho danado para ficar só em seis programas de 50 minutos, mas isso é problema do meu pai.

Durante minha ausência, ficaram prontos os DVDs de um documentário meu, que recebeu o título "Quando a Ecologia Chegou", e que discute a relação entre áreas protegidas e populações locais. Foi filmado na Chapada dos Veadeiros e na Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba, no Paraná. Eu queria te mandar uma cópia.

Pode me passar seu endereço? Dê notícias.

Mara Moreira está por aí?


Abração,

Pedro Novaes

Caro Pedro: a Mara ainda permanece na Terra de Galvez colecionando aventuras suficientes para um longa-metragem. Já bebeu até água do Rio Acre. Acho que vai ser difícil aquele trem voltar a ser goiano e se readaptar à vida em Brasília. Em tempo: Mara Moreira é jornalista, diretora do documentário Avá-canoeiro - a teia do povo invisível e Pedro Novaes, que aparece pintado à moda caiapó e mora em Goiânia, o diretor de produção do projeto Xingu - A Terra Mágica. Para obter mais informações sobre o projeto, clique aqui para assistir a entrevista com o jornalista Washington Novaes, pai de Pedro.

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

ESCÂNDALO

Luciano Martins Costa

Dizem que a revista acabou para vender outra no seu lugar. Os editores da revista 'Página 22', vinculada ao Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGVSP, estão comunicando ao mercado o fim da revista 'Adiante', e apresentando sua publicação como sucessora. Gostaria de esclarecer o que acontece - e escrevo o texto publicado abaixo.

A revista 'Adiante' segue sendo publicada, sem interrupção, com a tiragem de 15 mil exemplares, venda em bancas selecionadas e livrarias, distribuição para um mailing de executivos, ONGs, corretoras de valores e formuladores de políticas públicas. A parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGVSP (GVCes) foi rompida há 3 meses. Foi para nós uma relação honrosa, mas que se revelou inibidora, por restrições impostas pela nova coordenação da instituição ao nosso relacionamento com o mercado.

'Adiante' se torna independente e retoma seu projeto de se apresentar como mídia de convergência entre empresas, os pesquisadores, as ONGs e governo atuando em torno das questões da inovação e da sustentabilidade.

Ao contrário do que tem sido informado ao mercado pelo GVCes, a revista 'Adiante' NÃO foi descontinuada. Da mesma forma, não é verdade que a publicaçao 'Página 22' seja sucessora de 'Adiante', como está sendo divulgado pelo GVCes. Os responsáveis pelo novo título do GVCes se apropriaram do mailing de 'Adiante' e estão prospectando anúncios com esse argumento absolutamente insustentável.

Como não se pode desvincular atitudes éticas do conceito de sustentabilidade, vejo-me na desagradável contingência de esclarecer publicamente esse equívoco, em respeito ao mercado e à instituição acadêmica que abriga o Centro de Estudos em Sustentabilidade.

'Adiante' segue sendo a primeira revista brasileira de negócios e políticas públicas que tem a sustentabilidade como tema central. 'Adiante' está gestando sua edição número 9. É a mesma publicação cujo projeto mereceu o Prêmio Ethos de Jornalismo e Responsabilidade Social, em junho passado.


O texto do jornalista e escritor Luciano Martins Costa foi publicado semana passada no site Blue Bus. O que houve foi que as editoras Amália Safatle e Flávia Pardini, com o coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGVSP (GVCes), tentaram afastá-lo da revista 'Adiante'. Acontece que Luciano Martins Costa é o autor do projeto da revista. Eles criaram esse conflito em maio. Em junho, a diretoria da FGV determinou que a revista fosse devolvida para Luciano Martins Costa e que o GVCes convidasse os leitores a escolher o título de uma nova publicação do Ces. Eles não fizeram isso. Demoraram ainda três meses e simplesmente lançaram a revista 'Pagina 22', abandonando a 'Adiante'. Luciano Martins Costa foi avisado por acaso dessa atitude e retomou a edição de 'Adiante', cuja edição número 9 deve sair até o final deste mês. "Com ajuda de amigos e articulistas convidados, 'Adiante' retoma seu projeto original de se apresentar como a mídia da convergência nos debates sobre sustentabilidade e ambientalismo, fora das idiossincrasias tribais", disse o jornalista ao blog.

domingo, 17 de setembro de 2006

CURRAL ELEITORAL

MITO DA ORIGEM DOS POVOS

A coluna Papo de Índio, editada semanalmente no jornal Página 20 pelos antropólogos Txai Terri Aquino e Marcelo Piedrafita, está muito interessante.

O índio Biraci Brasil Nixiwaka, “governador” da aldeia Nova Esperança, assina uma "versão resumida" do mito de origem dos povos pano, ou nawa, segundo a tradição da etnia yawanawá.

- O nosso Criador nós chamamos de Nuke Sheni, que significa aquele que não tem nome, porque ninguém nasceu antes dele. Sheni é o mais velho, o que nasceu primeiro. A gente também chama o Criador de Nuke Shuvima, que significa o mais antigo, aquele que nos fez nascer na Terra - relata Biraci Brasil.

Clique aqui para ler o "Papo de Índio".