sábado, 31 de março de 2007

ALMAS PENADAS


Estou saindo agora do flat que a TAM providenciou para alguns passageiros. Encontrei na noite de ontem, em meio ao caos de Congonhas, o ex-paulista Admir Machado, o Bigode, que já vive no Acre há 27 ano, com quem pernoitei no mesmo apartamento.

A TAM remarcou nossas passagens para o vôo 3223, partindo de Congonhas às 15h43, com escala em Belo Horizonte. Não temos a menor garantia de que iremos nos afastar do caos paulistano.

A nossa partida de Confins, em Belô, para Brasília, no vôo 3844, está marcada para às 17h30. Se tudo der certo, poderemos embarcar, às 20h45, de Brasília para Rio Branco, no vôo 3878.

Bigode e eu somos duas das milhares de almas penadas que vagueiam pelos aeroportos do país. Apesar dos transtornos, somos solidários às reivindicações dos controladores de vôo.

Falta apenas um avião cair para a crise patrocinada pelo governo se revelar completa. E como hoje é dia 31 de março, viva a "revolução" prometida por Lula e o PT.

sexta-feira, 30 de março de 2007

NO MEIO DO CAOS


Passei quatro horas e meia dentro de um avião da TAM, do vôo 3712, em Guarulhos, esperando que o comandante recebesse autorização para a decolagem que não aconteceu até agora.

O aeroporto está um caos com tanta gente. Na minha frente, um homem chuta uma porta estressado com a situação.

Passei quase duas horas conectado à internet dentro do avião e escrevi vários comentários no blog do Noblat. Apenas agora as companhias aéreas aunciaram que as decolagens estão suspensas e então pude sair do avião e me apossei dessa cadeira de rodas.

Esse governinho do Lula é uma vergonha, hein? Aquele velhinho, ministro da Defesa, pior ainda. Vai "melhorar" com o PMDB e companhia.

Eu apóio os controladores de vôo.

RESPEITEM GLÓRIA PEREZ

Coluna Bom Dia, da edição de hoje do jornal A Tribuna, afirma que Abrahim Farhat, da assessoria parlamentar do senador Tião Viana (PT), estaria insatisfeito com a minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes", de autoria da acreana Glória Perez.

O jornal atribui ao assessor a afirmação segundo a qual "a autora tem fixação em sexo, porque seu avô teria sido dono de um bordel na rua 6 de Agosto".

Resposta da Glória Perez:

- Quanta besteira, Altino. Paciência, pois os cretinos estão em toda a parte - no Acre também, infelizmente. Quanto ao meu avô, José Ferrante, casado com minha avó, Maria Ferrante, era operário mecânico, tinha uma oficina em sociedade com o sr. Eduardo Pinho, pai do Lourival Pinho, e morou a vida toda ao lado da Igreja N. S. da Conceição. O bordel onde a mãe do colunista trabalhava com certeza não era dele.

quinta-feira, 29 de março de 2007

JOHAN DALGAS FRISH


Encontrei o amigo Johan Dalgas Frish aqui em São Paulo. Os cantos de aves da Amazônia, usados pela sonoplastia da minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes", foram gravados por ele e cedidos gratuitamente à TV Globo.

Em 1962, no seringal Bagaço, em Rio Branco, Dalgas Frish fez o primeiro registro sonoro do canto lendário do Uirapuru verdadeiro, que só existe nas matas do Acre.

O Uirapuru verdadeiro também é encontrado nas florestas da fronteira com a Bolívia e o Peru - a região sobre a qual paira a ameaça da prospecção de petróleo e gás, defendida contraditoriamente por expoentes do "Governo da Floresta".

A proeza da gravação do canto do Uirapuru mudou a vida desse engenheiro que já empreendeu tantas aventuras em defesa das aves brasileiras.
Vale a pena assistir parte de nossa conversa no vídeo abaixo.




Conheça o site Aves Brasileiras, de Dalgas Frish.

"EU DESISTO"


Antonio Alves

A queima de combustíveis derivados do petróleo é a principal causa do aquecimento global. Quanto mais queimarmos petróleo, mais catástrofes ambientais acontecerão no planeta.

Devíamos buscar outro modelo de geração de energia e experimentar outros modos de vida, diferentes da sociedade industrial de consumo.

Petróleo não é riqueza, é sujeira. Infelizmente, acho que vamos perder.


Os amantes do progresso vão nos trazer os "benefícios" da poluição em nome do emprego, da renda, do valor agregado, da cidadania e de todas as palavras bonitas com as quais o capitalismo conquista e destrói.

Tem problema não, a gasolina da moto vai ser mais barata (bem pouquinho, mas vai), e com os royalties o Estado vai montar uma faculdade de engenharia química para que dois ou três jovens acreanos não fiquem com inveja dos "de fora".

Eu desisto.

O jornalista Antonio Alves é assessor especial do governador Binho Marques (PT) e foi quem desenvolveu o conceito de florestania. O comentário dele foi deixado no post Na crosta da terra. Toinho costuma escrever no blog O Espírito da Coisa. Crédito da foto: Val Mendes.

PETRÓLEO NA AMAZÔNIA

Ambientalistas apelam aos bancos para que impeçam a Petrobrás de causar danos em reserva da Unesco, no Equador; indígenas afetados podem protestar com violência e paralisar a extração de petróleo

Cientistas e ambientalistas de treze países enviaram para dez grandes bancos internacionais, incluindo o BNDES, um dossiê sobre os riscos do projeto da Petrobrás para extração de petróleo no chamado Bloco 31, que compreende áreas chave do Parque Nacional de Yasuní, componente importante do sistema de parques nacionais do Equador. O parque, que é uma área de importância biológica e científica única, está inserido no conjunto de Reservas da Biosfera da Unesco e é adjacente a territórios, decretados intocáveis, onde populações indígenas vivem em isolamento voluntário.

Em programa de rádio nacional em 3 de fevereiro, o presidente equatoriano Rafael Correa afirmou que o governo suspenderia os contratos com as companhias petrolíferas que causassem danos desnecessários ao meio ambiente. Entretanto, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do atual projeto da Petrobrás, viola requisitos básicos de boa conduta aceitos internacionalmente, bem como os Princípios do Equador - um compromisso dos principais bancos privados internacionais e companhias de investimentos de não financiar grandes projetos em países em desenvolvimento, quando eles não alcançarem padrões ambientais e sociais básicos da Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em inglês) do Banco Mundial.

Dois bancos brasileiros, ambos estatais, estão com certeza envolvidos na polêmica operação. Trata-se do BNDES e da Caixa Econômica Federal, ambos detentores de importantes blocos, tanto de ações ordinárias quanto preferenciais, da Petrobras. Quatro bancos signatários dos Princípios do Equador (Bradesco, Citigroup, BBVA e HSBC) também estão envolvidos, mesmo que indiretamente, e correm um forte risco apesar de não necessariamente terem tomado conhecimento do projeto. É este o caso também de outros bancos que integram a Petrobras Participações, ou que realizaram cartas de crédito para Petrobras Energia (subsidiária argentina da Petrobras e principal financiadora do projeto do Bloco 31) ou que ainda emitiram obrigações da Petrobras International Finance Company (PIFCo).

Uma aliança internacional de 43 cientistas do Equador, América do Norte e Europa propôs, ano passado, várias alternativas plausíveis que mitigariam muitos desses riscos e impactos. De especial preocupação é o reconhecimento explícito no EIA de que existe um provável e substancial risco de que as comunidades indígenas Kawymeno e Kichwa, afetadas pelo projeto, promoverão protestos que podem levar à violência e a paralisações do trabalho. Há também o risco de que as plantas de processamento que serão construídas próximo ao Rio Tiputini, na fronteira do nordeste do parque, possam ser atingidas por um vazamento de petróleo catastrófico.

A continuidade do projeto, sem a incorporação das alternativas propostas, terá expressivos impactos ambientais e sociais, diretos e secundários, levando provavelmente a profundas mudanças culturais entre as populações indígenas da região. Especificamente, os impactos ambientais incluem desmatamento, caça predatória e poluição. Qualquer contaminação ou poluição será particularmente devastadora para o Rio Tiputini, abrigo para mamíferos raros, como a globalmente ameaçada Lontra Gigante (Pteronura brasiliensis), os globalmente vulneráveis (e, no Equador, criticamente ameaçados) Peixe-Boi Amazônico (Trichechus inunguis) e Boto Rosa (Inia geoffrensis), e o Boto Cinza (Sotalia fluviatilis), que também está ameaçado no Equador.

O projeto também aumentará as pressões nas comunidades indígenas que vivem em isolamento voluntário em áreas adjacentes ao Bloco 31. O contato forçado e a dependência da sociedade podem levar a novos ciclos agudos de guerras tribais, internas e externas, com danos irreparáveis para esses povos.

Do Eco-Finanças.

PAPO DE ESQUINA

Leila Jalul

Felicidade era com ele mesmo. Ninguém o barrava no sorriso com estardalhaço. Bem arrumado, exibindo um frescor de quem sempre acabou de sair do banho, ele descia a ladeira da Rui Barbosa para ter com vovô e com o velho Montenegro.


Na esquina da loja Paraybana, em duas cadeiras Gerdau, dessas que fecham, sentavam os dois amigos. Mas não agüentavam o peso do Garibaldi. Sempre tinham que conseguir outra para bem acomodá-lo. Uma pé duro, fabricada na marcenaria do soldado Domingos.

Quem por aqui viveu sabe que os meses de janeiro a março eram humilhantes para ricos e pobres. Além das chuvas, três meses sem repasse do patrão federal. Nem alma entrava na loja, exceto os fiéis pagadores que tinham crédito. Era o período de mofar mercadoria nas prateleiras e sobrar tempo para as conversas.

Atentos aos velhos, a cadela Tirolesa e o seu irmão Barão Pierre. Sobre uma mesinha repousavam uma caixa de charutos Suerdick, da Bahia, cortadores e um isqueiro movido a óleo diesel. E cortavam uma conversa que nunca entendi. Possivelmente falavam sobre os rumos da política local, aumento do preço dos fretes nos navios, algum desgosto com os filhos, não sei.

Seu Montenegro era cego e vovô falava baixinho. Ficava difícil advinhar, fosse pelos ouvidos ou olhos. Raramente riam, pois eram tempos bicudos. A exceção era o Garibaldi. Para ele, creio, saudade, tristeza e desamor não pagavam dívidas. Complicação maior era entender a razão da risada.

Essa era a constante nos meses inférteis. Baforadas e mais baforadas nos charutos faziam Barão Pierre e Tirol partirem em retirada. Vez ou outra a conversa era interrompida ou por uma rês braba destrambelhada, ou por um passante vendendo uma galinha, uma saca de farelo de arroz, ovos caipiras, e outras “especiarias”. Fora o Garibaldi, ninguém mais comprava.

Comprava, modo de dizer. Comprar ele comprava, agora, pagar que é bom... Dona Corina, a beata, que o diga. O Muru secava as pernas cobrando o dinheiro das penosas. Sofreu muito. Sofreu de besta. Dona Corina sempre avisava:

- Muru, menino, venda a galinha, mas só entregue depois de paga, principalmente para aquele doutor - Mas Muru não resistia aos tons simpáticos e sempre entrava em fria.

Chegava abril e as coisas mudavam. Restavam vovô, seu Montenegro, Barão Pierre e Tirol. Na mesinha, os charutos rendiam mais. O doutor, de bolso recheado pelo pagamento dos três meses de vacas magras, ia fazer festa noutra calçada, na companhia de outras companhias.

Até o próximo inverno.

HOSPITAL DO JURUÁ


Fachada do Hospital Regional do Juruá, em Cruzeiro do Sul, no ponto mais ocidental do Brasil. A corrupção fez com que a obra ficasse paralisada durante vários anos.

Na etapa final custou R$ 4 milhões. Demorou ao todo mais de 10 anos para ser concluída. No ano passado, chegou a ser inaugurada duas vezes.

O governo estadual volta a anunciar que o atendimento à população será iniciado a partir de segunda-feira. A malária continua castigando quem vive no Juruá.

Meu amigo e conterrâneo Rodrigo Medeiros é o autor da foto.

quarta-feira, 28 de março de 2007

NA CROSTA DA TERRA

Confirmada para o dia 12 de abril, no Teatro Plácido de Castro, em Rio Branco, o debate público sobre o polêmico projeto de prospeção de petróleo e gás no Acre.

O "mediador" será o senador Tião Viana (PT), principal defensor do projeto, autor de uma emenda ao Orçamento Geral da União no valor de R$ 75 milhões para os estudos de prospecção.

O senador Eduardo Suplicy (PT) abordará a experiência da exploração de petróleo no Alasca. Um técnico da Agência Nacional de Petróleo (ANP) foi convidado para mostrar que o Brasil está preparado para oferecer segurança ambiental.

O outro debatedor será o professor Oswaldo Sevá, da Unicamp, ou o geógrafo Miguel Scarcello, secretário da SOS Amazônia.

Após a manifestação de cada convidado, que durará 20 minutos, o debate será aberto aos questionamentos do público presente.

Existe muita gente preocupada no país com a existência de um projeto de lei que tramita no Congresso visando regulamentar a pesquisa e exploração mineral em terras indígenas.

Isso tem alguma coisa a ver com os planos do senador Tião Viana em relação ao Acre, tendo em vista que essa legislação, de cunho genérico, na avaliação de certos advogados, pode vir a ser usada futuramente como instrumento para viabilizar a prospecção de petróleo em terras indígenas?

Por que tanta pressa em viabilizar consensos?

Além disso, todo mundo pensa que será a Petrobrás a vencedora da licitação da ANP. Ledo engano. Existe a Odebrecht Perfurações, a Queiroz Galvão Perfurações e a Andrade Gutierrez Perfuração. Todas trabalham com prospecção de petróleo e gás.

A Odebrecht, a Queiroz Galvão e a Andrade Gutierrez são empresas que estão pavimentando a rodovia Transoceânica, certo?

A Camargo Corrêa, que também está na Transoceânica, trabalha com perfurações, por exemplo, do metrô de São Paulo. Não trabalha com prospecção de petróleo e gás, contudo, em 2004, entrou no segmento de estaleiros para a produção de navios e plataformas de petróleo.

Enfim, estão em jogo altos interesses. Podem haver coisas bem maiores no subsolo acreano do que nós, reles mortais, somos capazes de enxergar na crosta da terra.

CONVITE PRA FESTA


terça-feira, 27 de março de 2007

NO DIA DO CRIME

Roberto Vaz

Começo da noite de 22 de dezembro de 1988. Lembro como se fosse hoje. Estávamos eu, o governador Flaviano Melo e o jornalista Sílvio Martinello tomando alguns drinques e comendo um saboroso pato no tucupi na mansão do jornalista. Comemorávamos o aniversário do Sílvio, quando o ajudante de ordens do governador interrompeu a nossa festa com o argumento de que tinha algo importante para falar.

Flaviano Melo não gostou de ser interrompido, mas o capitão insistiu e o governador mandou que falasse ali mesmo. Ele se abaixou e falou ao ouvido do governador.

Flaviano franziu a testa e reproduziu o que ouviu do seu ajudante de ordens: o sindicalista Chico Mendes havia sido assassinado em Xapuri.

- Porra! Esse cara acha de morrer logo hoje - protestou o governador, que não tinha noção do estrago que o assassinato causaria na história de sua gestão.

- Flaviano, isso vai dar um problema. Se eu fosse você iria cuidar deste caso pessoalmente - sugeriu Martinello.

O governador preferiu continuar tomando uísque e comendo as guloseimas servidas pelo anfitrião. Mandou que o seu ordenança procurasse o secretário de Segurança Pública para tomar as providências.

Martinello, que até então mantinha alguma ligação com os movimentos sociais, perdeu a alegria. Por baixo da mesa, cutucou-me com o pé, o que entendi como um pedido para me ausentar do local. E eu saí, deixando os dois a na sala.

Quando retornei, depois de quase meia hora, o governador se levantou e saiu. No mesmo momento Sílvio Martinello me convidou para voltarmos ao jornal A Gazeta, do qual éramos sócios do governador. Naquela noite mudamos a edição do dia seguinte.

E foi no dia 23 de dezembro de 1988 que A Gazeta bateu seu recorde de venda. Foram mais de oito mil exemplares vendidos. Fazia fila na frente do jornal e tivemos que manter uma equipe em hora-extra para atender aos leitores.

Certamente estes fatos não serão mostrados na minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes", mas que fique registrado aqui para a história.

O jornalista Roberto Vaz ainda é sócio do jornalista Silvio Martinello e do deputado Flaviano Melo na Rádio Gazeta FM93, além de diretor do portal AC 24 Horas.

PROTESTO ASHANINKA



Líderes da etnia ashaninka vão comer bolo amanhã, em frente ao Tribunal Regional Federal da 1° Região, na Praça dos Tribunais Superiores, em Brasília, em protesto pelos sete anos em que um processo que defende seus direitos se encontra parado, em mãos do desembargador João Batista Gomes Moreira, da Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 1° Região.

O povo ashaninka, da comunidade Apiwtxa, na região do Alto Juruá, no Acre, vem se destacando nacional e internacionalmente pelas suas ações de preservação dos recursos naturais de seu território, tornando-se exemplo de sustentabilidade para outras comunidades indígenas e não indígenas.

Na década de 1980, os Ashaninka enfrentaram invasões mecanizadas de madeireiras em seu território, que afetaram profundamente a organização social e cultural da comunidade, além de causar sérios danos ambientais. Cerca de um 1/3 da área foi desmatada pelo ex-governador do Acre, Orleir Cameli.

O Ministério Público entrou com apelação cível em 1996 e os ashaninka obtiveram ganho de causa em todas as instâncias até o processo chegar no Tribunal Regional Federal da 1° Região. O problema é que desde o ano 2000, ou seja, há sete anos, o processo está parado nas mãos do juiz relator, o desembargador João Batista Gomes Moreira.

De acordo com a Constituição Federal Brasileira, é direito dos índios o usofruto exclusivo das riquezas do solo das terras de sua ocupação tradicional. Também é direito dos índios a preservação de seus recursos naturais e ambientais e a preservação sem interferência externa indevida, de sua organização social e costumes.

A Constituição Federal de 1988 reconheceu aos índios o direito às terras como um direito originário. E ao direito à demarcação e proteção, como garantias materiais do estabelecimento da certeza jurídica sobre todos os demais direitos, corresponde o dever da União de alocar meios e recursos de garantir tal direito.

Na foto, o ashaninka Francisco Pinhanta, assessor especial para assuntos indígenas do Governo do Acre.

PRIVATIZAÇÃO DA AMAZÔNIA

O laboratório Arkhos Biotech, dos EUA, defende em vídeo o controle privado para “salvar a Amazônia”. E acusa o Brasil de não cuidar da região

Ana Maria Mejia
Chico Araújo
Montezuma Cruz



A Amazônia está mesmo à venda. Em um vídeo de 1’25”, postado em seu site, a empresa norte-americana Arkhos Biotech está convocando as pessoas do mundo inteiro a investir “para transformar a floresta (Amazônia) num santuário de preservação sob controle privado. O apelo, em tom dramático, é feito pelo diretor sênior de marketing da empresa Allen Perrell, para justificar que a Amazônia precisa ser cuidada por grupos internacionais. “A Amazônia não pertence a nenhum país. Pertence ao mundo”, afirma Perrel.

Segundo ele, a proteção privada da Amazônia deve ocorrer porque “os países (no caso o Brasil) que deveriam tomar conta dessas riquezas não estão à altura da tarefa”. Perrel vai mais longe: “ajudar-nos a comprar a Amazônia não é apenas uma ótima oportunidade de investimento. Pode ser a única maneira de salvar a floresta da extinção total”.

Em sua página a Arkhos Biotech divulga, em texto, áudio e vídeo sua missão: A Amazônia deve ser internacionalizada. A empresa tem laboratório em Itacoatiara (AM), no coração da Amazônia, explora essências e óleos vegetais amazônicos, tradicionalmente conhecidos das comunidades ribeirinha, a exemplo do óleo de andiroba (Carapa Guianensis), usado como repelente natural de insetos e com ação anti-inflamatória; óleo de castanha-do-Pará (Bertholletia Excelsa), hidratante, óleo de Buriti (Maurita Flexuosa L.f.), rico em carotenóides e pró-vitamina A ; óleo de copaíba (Copaifera Officinalis) que tem ação anti-inflamatória e óleo de açaí (Euterpe Oleracea Mart) que tem ação calmante e de hidratação.

Ela se apresenta como uma das maiores fabricantes do mundo de ativos vegetais para a indústria cosmética e farmacêutica, atuando no mercado desde 1965 exportando para mais de 20 países. Também, segundo ela, é líder mundial na distribuição de sistemas concentrados 100% naturais, contendo ativos retirados de óleos de frutos tropicais. Em troca, a Arkhos Biotech promete “fabricar produtos que reduzem custos de processos produtivos, barateando-os e gerando renda para as comunidades ribeirinhas”.

Amazônia é fardo para o Brasil
Na avaliação da Arkhos Biotech, a Amazônia é um fardo difícil para o Brasil carregar. Para referendar suas afirmações destaca a pouca atenção do Governo brasileiro para com a região. Lista entre as ausências as taxas de desmatamento; o baixo investimento em pesquisa; (dos 0,65% do PIB brasileiro investido em pesquisa, apenas 2% são canalizados para a região Norte); o surgimento de organizações não-governamentais (ONGs) na Amazônia brasileira mantidos com dinheiro dos países desenvolvidos. Além disso, ironiza: “78% das pesquisas sobre a Amazônia são produzidos por pesquisadores estrangeiros”.

Sobre a riqueza existente na Amazônia – a empresa lista desde água em abundância, produtos não-madeireiros, minérios e recursos cujos valores ainda não mensuramos - o maior estoque de biodiversidade do mundo. Com cerca de 6 milhões de quilômetros quadrados de extensão a floresta amazônica ela abriga entre 10% e 20% de todas as espécies que vivem em nosso planeta. Destaca que das 10 mil espécies de plantas possíveis de ser utilizadas como insumos em produtos para a saúde e a aplicação cosmética, a indústria de cosméticos usa apenas 135 espécies. E conclui: a vida do homem sobre a Terra depende da Amazônia. Por isso, o objetivo da Arkhos Biotech é ajudar a humanidade a usar e a tomar conta da Amazônia.

O QUE DIZ O VÍDEO
“Controle privado é a melhor maneira de salvar a Amazônia.

Controle privado é a única maneira de salvar a Amazônia.

A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo

Não apenas isso: em termos de biodiversidade, nenhuma outra floresta no mundo é páreo para a selva sul-americana.

O fato:

O comércio de madeira tropical movimenta US$ 10 bilhões por ano.

Trata-se de cerca de 5 milhões de quilômetros quadrados de floresta, uma área responsável por grande parte do oxigênio produzido no planeta.

A dura verdade é que os países que deveriam tomar conta dessas riquezas não estão a altura da tarefa.

O custo:

15 bilhões de hectares anuais de floresta nativa destruídos todo ano.

Se nada for feito, a floresta será condenada à morte e desaparecerá diante de nossos olhos.

Nós podemos impedir isso. E você pode nos ajudar. (Aparece um homem de gravata. Allen Perrel, diretor sênior de Marketing ).

Através de nossas atividades na Amazônia, nós podemos trabalhar junto a investidores para gradualmente transformar a floresta num santuário de preservação sob controle privado.

Ajudar-nos a comprar a Amazônia não é apenas uma ótima oportunidade de investimento: pode ser a única maneira de salvar a floresta.


Lembre-se:

A Amazônia não pertence a nenhum país.

Pertence ao mundo.”

Ana Maria Mejia, Chico Araújo e Montezuma Cruz são jornalistas da Agência Amazônia.

MINISSÉRIE


O governo do Acre patrocina a minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes" e Binho Marques assumiu o governo após oito anos como secretário de educação, mas a equipe de comunicação não aprende mesmo a escrever.

No site do Governo do Acre, há mais de 15 dias aparece uma foto com a legenda "Gravação da Mini Série AMAZÔNIA". Deve ter sido por essa e outras que o governador decidiu extinguir a Secretaria de Comunicação.

TIÃO APÓIA PAOLINO


Senador Tião Viana (PT) ocupou a tribuna para manifestar apoio ao padre Paolino Baldassari, que há 50 anos evangeliza as populações tradicionais do Acre. Baldassari foi criticado "de forma duríssima", segundo o senador, pelo jornal A Tribuna.

- A imprensa precisa ser livre, não precisa ser justa, como disse aquele magistrado da Suprema Corte americana. Mas nem por isso devemos deixar de opinar quando julgamos que há equívocos - disse.

Tião Viana afirmou que o padre Paolino Baldassari é uma figura ímpar no cenário amazônico e deveria "ser reconhecido com o prêmio Nobel da Paz, pelo trabalho junto às populações tradicionais".

Baldassari foi criticado porque negou o conteúdo de uma reportagem na qual o jornal afirmava que ele é contra a prospecção de petróleo e gás no Acre.

Por causa da inexperiência debater e do paradoxo de querer agradar e pressionar ao senador, o jornal comete uma trapalhada a cada edição.

Hoje, por exemplo, anuncia como "exclusivo" um artigo do engenheiro florestal Écio Rodrigues, que considera o petróleo uma opção ao álcool na Amazônia.

Nada de "exclusivo", pois o artigo está disponível na web há mais de uma semana. Clique aqui.

segunda-feira, 26 de março de 2007

ENTERRO DE CHICO MENDES


Glória Perez, correspondente especial deste blog, envia fotos da gravação do enterro do líder sindical e ecologista Chico Mendes para a minissérie "Amazônia". Chico Mendes foi assassinado no dia 22 de dezembro de 1988.


Os jornalistas Zuenir Ventura, Cora Rónai e Elson Martins participaram da gravação. Saiba mais no blog da Glória Perez.

CONTRA A PROSPECÇÃO

Manifesto da diocese de Cruzeiro do Sul critica duramente o projeto de prospecção de petróleo e gás

A Campanha da Fraternidade deste ano de 2007 nos convida a refletir sobre Fraternidade e Amazônia. Refletir e assumirmos uma nova mentalidade e atitude. Num contexto de profundas transformações climáticas, resultantes do aquecimento global, a Amazônia e os que aqui vivem se fazem fraternidade, pedem solidariedade e reciprocidade nas relações.

Ao falar em Amazônia, vem imediatamente à memória a grave questão ambiental: devastação das florestas, ameaça à riquíssima biodiversidade, terra ocupada de forma desordenada e predatória. O egoísmo e a ganância na exploração das riquezas ameaçam seriamente esse patrimônio natural.

No entanto a Amazônia também faz pensar em situações humanas e questões sociais preocupantes: indígenas expulsos de suas terras e agredidos em sua cultura, crescimento caótico dos grandes centros urbanos, conflitos pela posse da terra, iniciativas econômicas inadequadas ao ambiente. O impacto da globalização econômico e cultural sobre as populações originárias e tradicionais gera migrações e desenraizamento social, cultural e religioso. Na Amazônia está acontecendo a perda irreparável de inestimáveis riquezas humanas e culturais.

Nos últimos dias a imprensa tem vinculado informações sobre um projeto, apresentado pelo Senador Tião Viana (PT- AC), para prospecção de petróleo e gás em solo acreano, notadamente no Parque Nacional da Serra do Divisor e em áreas indígenas.

Neste contexto, a Diocese de Cruzeiro do Sul, no seu exercício de pastoreio, vem externar sua profunda insatisfação frente ao projeto de prospecção de petróleo e gás. Sentimo-nos ainda mais impulsionados a esse posicionamento contrário sabendo que a prospecção incide diretamente em áreas de grande concentração biológica e cultural.

Experiências em outras regiões nos dão a dimensão dos danos que esse tipo de exploração e geração de energia provocam ao meio ambiente e as alterações no modo de vida da população local sem, no entanto, melhorar a vida e sem solucionar os problemas derivados da má distribuição de lucros.

Somos convidados à conversão, a mudarmos de mentalidade e atitude. Superar o consumismo desenfreado, zelar pelo ambiente em que vivemos respeitar as diferenças culturais, humanizar nossas relações econômicas e sociais são formas de construirmos a fraternidade. A idéia de desenvolvimento e progresso começa com uma esperança e termina com grande ansiedade.

Propomos a adoção de uma economia solidária que se baseie em relações mais fraternas e na reciprocidade, onde o desenvolvimento se dê de forma sustentada e em profundo respeito ao meio ambiente e às pessoas. Defender a vida em todas as suas formas é missão central do cristão e é o que nos convida a praticar a Campanha da Fraternidade: Vida e Missão neste chão.

Cruzeiro do Sul, 26 de março de 2007

SOCIALMENTE CORRETA

Letícia Spiller, a Anália da minissérie ‘Amazônia’, fala de sua experiência com os índios e de sua preocupação com os rumos do país

A atriz, que já esteve quatro vezes na Amazônia desde 2005, prepara um documentário sobre o esforço de preservação que viu por lá



Lilian Fernandes

As mulheres dos seringueiros achavam graça, mas Letícia Spiller falava sério quando pedia que elas lhe ensinassem a desempenhar suas tarefas diárias, durante a temporada que passou numa colocação próxima a Xapuri, no Acre, fazendo laboratório e gravando suas primeiras cenas como a fogosa Anália de "Amazônia".

- Eu dizia: "E aí, gente, bora lavar roupa?". E elas riam. Mas eu precisava aprender a lavar roupa no igarapé, preparar galinha cabidela, decorar as músicas que elas cantarolam quando estão cozinhando ou botando as crianças para dormir. O trabalho que não tem esta vivência é sempre mais difícil — diz Letícia, que também fez bronzeamento artificial e usou um aplique feito com cabelos importados da Índia para compor Anália. — Minha maior inspiração foi a dona Cecília, tia de Chico Mendes.

Nesta viagem, em outubro do ano passado, Letícia pernoitou no meio da mata, viu seringueiros abrirem as chamadas estradas de seringa e visitou museus em Xapuri e Rio Branco. Mas sua intimidade com a cultura acreana foi estabelecida antes: desde o final de 2005, ela já estivera três vezes no estado. Na primeira, acompanhou um amigo numa visita aos índios ashaninka, buscando inspiração para viver Anita Garibaldi no cinema. Mas que relação pode haver entre os índios acreanos e a revolucionária gaúcha?

- Assim como a Anita, os ashaninka são guerreiros e lutam por um bem maior, pela comunidade. Eles têm um trabalho exemplar de manejo sustentável, e estão resgatando suas tradições.

O convívio com a tribo resultou na produção do documentário "Escola da floresta", em que ela pretende mostrar o esforço conjunto, de cidadãos comuns e governantes, para criar a instituição homônima, onde acreanos e turistas aprenderão a preservar e recuperar o meio ambiente.

- Desci o rio Juruá de canoa com o Benki, para conscientizar as comunidades ribeirinhas da necessidade de se preservar os recursos da floresta. Em alguns lugares, as pessoas estavam passando fome, porque as plantações haviam sido substituídas por pastos. Eu nem tinha levado câmera, porque não queria que nada fizesse as pessoas estranharem a minha presença, e acabamos registrando imagens com a máquina do meu amigo. Mas, quando fui reconhecida até em Marechal Thaumaturgo, último município da fronteira (com o Peru), pensei: "Caramba, eu posso ajudar a divulgar este trabalho".

Por coincidência, os ashaninka também orientaram a equipe de "Amazônia" — e a atriz diz que sua Anália, mulher fogosa que se envolve com o coronel Augusto (Humberto Martins) com o consentimento tácito do marido, é uma mistura dos irmãos Benki e Shantsy, que se tornaram seus amigos e presentearam-na com o belo colar aí ao lado.

- A Anália é uma mulher forte, mas quase ingênua, sensual e livre de preconceitos, preocupada em garantir o sustento dos seus filhos. Ao mesmo tempo, ela gosta do coronel, que foi seu primeiro homem — diz a atriz.

A proteção do coronel não vai durar muito: ao final da segunda fase da minissérie, nesta sexta-feira, a família de Anália será expulsa do seringal. "Amazônia", porém, não é o assunto preferido de Letícia neste momento. Durante a maior parte do tempo em que conversou com o GLOBO, ela preferiu falar de política.

- Eu fico pensando no que me interessa falar numa entrevista. E o que eu quero é alertar as pessoas. A pergunta que eu faço é: onde vai parar o meu imposto? Se eu te disser quanto pago por ano, você vai ficar chocada. Daria para sustentar umas cinco famílias com dificuldades, para este país ter escolas e hospitais de Primeiro Mundo. Mas o desvio de verbas é enorme. Não posso, porque sou uma pessoa pública, mas a vontade que tenho é de sonegar — diz, em tom indignado. — É preciso ter boa educação, mudar a lei para que garotos de 16 anos não matem inocentes e saiam impunes. Estou cansada dessas atrizes que vivem na mídia dizendo que apóiam a batalha contra o câncer de mama. Eu também apóio, mas dá para fazer mais.

Lilian Fernandes é repórter da Revista da TV, do jornal O Globo. O texto dá um bom quadro do envolvimento da Letícia Spiller com os Ashaninka e com a região. No sábado, Letícia e seu amigo Benki Ashaninka foram agredidos pelo preconceito e a intolerância do jornal A Tribuna.

FERNANDO FRANÇA


Nanquim e aquarela sobre papel 45 x 61 cm (2007), do artista plástico Fernando França.

AMIGOS DA TERRA


Estou em São Paulo desde ontem. Ela está irreconhecível para mim: muito sol, calor e céu azul, capazes de causar inveja ao Acre nos meses de maio, o que me faz sentir em casa.

Vou colaborar com os sites da organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira por um período de seis meses, principalmente na formação da equipe e aprimoramento da qualidade de geração da informação do site Amazônia.

O diretor Roberto Smeraldi fez o convite ao considerar, segundo as palavras dele, minhas duas décadas de experiência na Amazônia, forte compromisso social e ambiental, estar baseado em Rio Branco, no Acre, além de conhecer a entidade, com a qual tenho interagido desde o começo dos anos 90.

Amigos da Terra é reconhecida internacionalmente pela defesa dos povos e das florestas da Amazônia. Vale destacar, entre outros, o programa de combate ao fogo, o balcão de serviços para negócios sustentáveis, a articulação de compradores de produtos florestais certificados e a geração de informação.

Permanecerei por aqui até a sexta-feira e espero contar com a colaboração de vocês.

- Amanha (hoje) você receberá belas fotos da sua correspondente especial. Aguarde - é a pauta enviada ontem à noite pela novelista Glória Perez.

"Alguma coisa acontece no meu coração".

domingo, 25 de março de 2007

OSWALDO SEVÁ

Do antropólogo Terri Vale de Aquino a respeito da prospecção de petróleo e gás no Acre:

- Poucos conhecem as conseqüências desses projetos, repito. No entanto, todo mundo acha isso e aquilo. Neste sentido, diversos jornalistas têm vindo me perguntar o que eu acho do petróleo e gás em território acreano. E sempre digo, brincando, que ainda não achei nada não, mas se achasse em alguma terra indígena ia pedir aos índios que tapassem bem o buraco e ficassem calados, porque não entendemos nada desse assunto e desconfio sobre as conseqüências nada animadoras que a exploração petrolífera poderá provocar em suas comunidades e terras.

O comentário está na coluna Papo de Índio, assinada por Terri Aquino em parceria com o antropólogo Marcelo Piedrafita Iglesias, no texto de apresentação da primeira parte do artigo "O petróleo e o gás debaixo da terra Pan–Amazônica", de autoria do professor Oswaldo Sevá.

Leitura imperdível. Clique aqui.

GOVERNO REPUDIA TRIBUNA

O jornalista Itaan Arruda, assessor de imprensa do governador Binho Marques (PT), envia nota de repúdio contra o jornal A Tribuna com a seguinte observação:

- Altino, seria importante acrescentar a informação de que a mesma foi enviada ao jornal A Tribuna antes do fechamento da edição de domingo, em tempo hábil para a publicação. Um grande abraço.

Senhor Editor-Chefe,


O Governo do Estado do Acre, através do Secretário de Desenvolvimento Humano e Inclusão Social, que esta subscreve, vem apresentar seu repúdio e indignação pela forma grotesca, discriminatória e injuriosa como foi tratado o líder indígena da nação Ashaninka Benki, em notas publicadas na edição de ontem desse matutino, coluna “Bom-Dia”, notas: Petróleo e Índios, Global e Lobby.

O tom discriminatório e injurioso adotado pelo articulista do Jornal “A Tribuna”, demonstra total desrespeito pela nação Ashaninka e seus representantes. As opiniões e manifestações do líder indígena Benki são legítimas, sejam elas emitidas contra ou favor de projetos do governo do Estado, ou de qualquer outra organização, sem que para isso ele seja tratado de forma jocosa.

É da nossa responsabilidade adotar uma política de promoção dos direitos humanos que objetive a transmissão e o compartilhamento de conhecimentos, valores e princípios consagrados na esfera internacional, propiciando o reconhecimento de cada pessoa como sujeito de direitos e deveres.

Com base nesses princípios, o Governo do Acre tem adotado um conjunto de políticas, projetos e atividades para construir uma cultura de paz e de direitos humanos em nosso Estado, razão pela qual lhe apresento formalmente esta manifestação de repúdio.

Atenciosamente,

José Henrique Corinto de Moura
Secretário de Estado de Desenvolvimento Humano e Inclusão Social

Pelo menos na versão que mantém na web o jornal A Tribuna não publicou a nota de repúdio do Governo do Acre. Preferiu voltar a fazer comentários tentando ridicularizar Benki. Partiu, ainda, para ofensas contra a honradez do padre Paolino Baldassari. Não foi à toa que o governador Binho Marques já citou publicamente A Tribuna como mau exemplo de jornalismo.

sábado, 24 de março de 2007

AMIGOS DO REINO


Este blog tem amigos espalhados pelo mundo. Os que aparecem na foto são súditos da Rainha, leitores em Londres.

Amanda Sheakspeare, Niki Mardas, Hylton Murray-Phililipson, Silvana de Faria Ditcham, Martin von Hildebrand, Alex Shanklan e Peter Bennett.


Conhecem mais a nossa Amazônia do que a maioria dos brasileiros. Fizeram pose para a foto na noite de ontem, após palestra de Hildebrand, da Gaia Fundation, que trabalha há 30 anos com comunidades indígenas na Amazônia colombiana.

Um abraço fraternal a todos.

RACISMO É CRIME

Governo do Acre condena o teor das notas da Tribuna

Marcelo Piedrafita Iglesias


É grave o teor das notas publicadas na coluna Bom Dia, do jornal A Tribuna, de hoje, 24 de março, eivadas pela desinformação deliberada e por um postura xenófoba, racista e discriminatória, em mais uma tentativa de marcar posição no debate sobre as perspectivas de prospecção e exploração de petróleo e gás no Estado do Acre.

Vamos primeiro às desinformações. A notícia sobre a posição do Padre Paolino Baldassari, contrária à exploração do petróleo e favorável à produção de biodesel, foi publicada em matéria da própria A Tribuna em 21 de março, e comentada na coluna Bom Dia. A matéria também informava sobre a "desobriga" que o padre fizera no rio Caeté, onde ouvira de uma liderança Jaminawa posições contrárias ao manejo florestal. É compreensível essa posição dos Jaminawa, que, desde 2001, têm boa parte da Terra Indígena Jaminawa do Rio Caeté, demandada desde 1999 e ainda não delimitada pela Funai, sobreposta pela Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema. Fica uma questão: essas ações de manejo florestal são feitas dentro da reserva extrativista, seguindo normas e planos de manejo? Ou são resultado de ações de madeireiros ilegais, como tem acontecido em Sena Madureira, ações essas que têm sido denunciadas em várias ocasiões, nos últimos anos, pelo Padre Paolino?

Mas, por que a menção à situação crítica que os Ashaninka estariam passando em Sena Madureira, como diz a nota da Coluna Bom Dia de 24/3? Como se sabe, as terras dos Ashaninka ficam nos Municípios de Feijó, Tarauacá e Marechal Thaumaturgo. Qual é a relação entre os Ashaninka e posições contrárias dos Jaminawa e do Padre Paolino a iniciativas de manejo florestal que, segundo o jornal, o Governo do Acre defende como "forma de preservar o meio ambiente e ao mesmo tempo melhorar os indicadores sociais dos municípios acreanos"? Uma tentativa de colocar em campo opostos índios e governo, com os mesmos argumentos freqüentemente usados para defender o petróleo?

Mais uma série de desinformações. A Coluna Bom Dia faz menção à foto publicada no Jornal O Globo, de 23/3/2007, na coluna do Ancelmo Góis, na qual Benki e Letícia Spiller, atriz da Rede Globo, aparecem numa conversa animada. A foto, portanto, não foi publicada na coluna do Ricardo Noblat, como diz a Bom Dia. Cabe lembrar que, fora do Acre, o reconhecimento público de Benki como importante liderança certamente não deriva da minissérie. Letícia esteve na aldeia Apiwtxa em mais de uma oportunidade nos últimos três anos, a convite da Associação Apiwtxa, e deu importante contribuição, no Rio de Janeiro, para a divulgação da luta travada pelos Ashaninka contra as ações de madeireiros e traficantes peruanos. Essa iniciativa dos Ashaninka, por sinal, rendeu ao Benki o Prêmio Direitos Humanos 2004, em reconhecimento por sua luta e a de seu povo na defesa de seu território e das fronteiras do Brasil, e exigiu dos governos brasileiro e acreano ações diplomáticas junto às suas contrapartes peruanas para evitar a continuação das ações lesivas dos madeireiros em terras indígenas e no Parque Nacional da Serra do Divisor.

Sigamos agora para outras desinformações que permeiam as notas de A Tribuna. A coluna Bom dia afirma que os Ashaninka se colocaram contrários ao petróleo, enquanto "seu cacique", Benki, passeia pelo Rio de Janeiro, participando de jantares, na condição de "xodó dos atores globais". Nenhum posicionamento público foi assumido pelos Ashaninka neste sentido até o momento. Após informar a Benki e aos seus irmãos, dentre eles Francisco Pinhanta, Assessor Especial de Assuntos Indígenas do Governo do Acre, sobre o teor das notas da coluna, recebi de Benki a seguinte resposta, por email: "A política da comunidade sempre foi muito clara com relação ao meio ambiente, mas ainda não conversamos sobre prospecção de petróleo na região, que se olharmos pra gente, para o nosso futuro, entendemos que será um problema".

A tentativa de A Tribuna de colocar na boca dos Ashaninka uma posição contrária à exploração ao petróleo e, portanto, ao progresso do Acre, novamente mescla desinformação deliberada com uma postura jornalística de má-fé. Neste caso lembra a iniciativa da assessoria do senador Tião Viana, que, por meio do jornalista Flaviano Schneider, produziu nota de imprensa atribuindo à liderança Joaquim Tashka Yawanawá posições favoráveis à exploração de petróleo, desmentidas, depois, tanto em Rio Branco como na imprensa nacional.

Ao viajar ao Rio de Janeiro, Benki está no seu direito de ir e vir, conforme garantindo pela Constituição Federal a qualquer cidadão brasileiro. Neste caso para participar do Evento "Águas de Março", a convite dos organizadores, a Associação de Cultura e Meio Ambiente Antônio Carlos Jobim, a Fundação France-Libertes e, inclusive, a Petrobrás. E para fazer gestões que possibilitarão o início do funcionamento da Escola "Yorenka Ãtame", construída pelos Ashaninka na sede de Marechal Thaumaturgo, com intenção de disseminar junto a índios, seringueiros e a população urbana do município as inovadoras iniciativas de manejo florestal implementadas na aldeia Apiwtxa na última década.

Voltando às notas de A Tribuna: qual é a relação da viagem do Benki com a epidemia de malária que está acontecendo no Jordão? Os Ashaninka pedindo ao governo por saúde e atenção? Nenhuma demanda pública neste sentido foi feita pelos Ashaninka. Estaria A Tribuna se referindo à mobilização recente dos Yawanawá, da Terra Indígena Rio Gregório, na qual funcionários da Funasa foram retidos por alguns dias para exigir do órgão federal o devido cumprimento de suas atribuições no atendimento à saúde nas aldeias do rio Gregório e em todo o Acre?

Revendo o publicado pela A Tribuna sobre esse episódio, vê-se recorrências graves, que tornam a apontar para posturas discriminatórias, racistas, dos jornalistas responsáveis pela Coluna Bom dia. À época, Biraci Brasil, uma das lideranças, política e espiritual, dos Yawanawá, foi caracterizado como "indígena aculturado, com estudo, já exerceu cargos públicos. Para isso, ele tem cidadania. Mas, quando seqüestra e mantém em cárcere privado funcionários do governo, passa a ser inimputável, porque é índio. São dois pesos e duas medidas" (Coluna Bom dia, 1/3/07). Nesse caso, A Tribuna fala de crimes e da necessidade de punição. Houve crimes? Que sejam julgados. E novamente tenta associar essa mobilização dos Yawanawá para desqualificar posições no debate relativo à prospecção e exploração de petróleo. "Para debater o petróleo, são especialistas", diz a Coluna de 27/2/07, se referindo aos Yawanawá.

Voltando às notas de hoje, para falar de crimes, conforme o desejo de A Tribuna. A nota "Lobby" fala de Benki, no Rio de Janeiro, como um "elegante animal exótico para ser mostrado por moderninhos de plantão". Caracteriza ainda a alegada posição contrária dos Ashaninka à exploração de petróleo como "radicalismo infantil", fruto de "lobby ambiental contra qualquer coisa que cheire a progresso no Acre".
As posições de A Tribuna, favoráveis à prospecção do petróleo e gás, vêm sendo tornadas públicas desde que o debate se configurou no Acre. Na Coluna, do dia 23/3, o jornal afirmou, por exemplo: "A Tribuna é plenamente a favor da prospecção de petróleo no Acre. Esse posicionamento não se dá em troca de qualquer benesse, de patrocínio ou de vantagem, até porque é de conhecimento de toda a população que está acontecendo um incompreensível e mesmo inaceitável arrocho nas verbas oficiais de publicidade, prejudicando a própria existência de uma imprensa livre e democrática".

Posição pública e legítima, portanto, dentro do debate democrático. O que não pode ocorrer, contudo, é que essa posição seja defendida ao desqualificar posições diferentes à da linha editorial do jornal. E, pior, por meio da desinformação deliberada, com opiniões marcadas pela discriminação, a xenofobia, o etnocentrismo e o racismo, crimes previstos na Constituição Federal (art. 5º) e atos condenados na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (art. 4º e 5º) e em outras convenções internacionais das quais o Brasil é signatário.
A postura de A Tribuna, ao homogenizar as posições dos povos indígenas no Acre como contrários ao progresso do estado e, principalmente, ao caracterizar os índios como "animais exóticos" e "crianças", é passível de ação civil pública no Ministério Público Federal, exigindo as respectivas reparações.

Não seria a primeira vez que no Acre ações desse tipo foram a julgamento contra políticos e jornalistas. Em março de 2000, ação civil pública foi impetrada pela União das Nações Indígenas (UNI) contra o então deputado federal José Alex (PL), por declarações feitas pelo parlamentar em seu programa "X da Questão", na SBT do Acre, comparando índios a bichos. Em 2001, motivado por outra representação da UNI, o Ministério Público Federal ajuizou ação de reparação de danos morais contra a colunista social Elisabeth Ferreira Passos, que, em sua coluna “Beth News”, no jornal “O Rio Branco”, referiu-se aos índios como "fedorentos". A ação foi julgada pelo Justiça Federal no Acre em outubro de 2002, a qual condenou a jornalista a pagar uma quantia por "danos morais causados à comunidade indígena", por ter "praticado crime de preconceito racial contra o povo indígena em geral".

Uma representação no Ministério Público Federal parece novamente cabível no caso das afirmações que constam das notas da coluna Bom Dia de hoje. Posições diferentes nesse debate suscitado pela perspectiva de prospecção e exploração de petróleo devem ser respeitadas. Mas não pode se tolerar, sob risco de se incitar a discriminação e toldar o próprio debate, que argumentos daquele calão sejam usados. Posturas como essa de A Tribuna não podem ficar impunes. Não pelo petróleo ou pelo gás. Sim pelos direitos legalmente reconhecidos aos índios e pelo respeito que merecem da sociedade, dos órgãos de governo, dos políticos e da própria imprensa. Se a impunidade imperar, esses argumentos, do preconceito e da ignorância, ficarão cada vez mais fortalecidos, e o debate, o respeito e a convivência necessários irão por água abaixo.
Fica do episódio, ainda, uma lição que deve ser absorvida pela imprensa do Acre e, principalmente, pelos jornalistas que a qualquer custo (apesar de sem interesses monetários, insistem em dizer) tentam fazer avançar certas posições do debate, muitas vezes desrespeitando os valores éticos que devem necessariamente nortear sua atuação profissional.

Em tempo: Acabo de receber do gabinete do Secretário de Estado de Desenvolvimento Humano e Inclusão Social, José Henrique Corinto de Moura, nota enviada ao editor chefe do jornal A Tribuna, na qual, em nome do Governo do Acre, repudia o teor das notas hoje publicadas na Coluna Bom Dia. Parabéns ao Secretário e ao Governo do Acre pela postura assumida. À Tribuna caberá agora publicar a nota.

Marcelo Piedrafita Iglesias é antropólogo

A VELHA DIREITA DO ACRE


Na edição de ontem, o jornal A Tribuna anunciou que defendia a qualquer custo a prospecção de petróleo e gás no Acre, mas que daria espaço para o debate envolvendo quem se preocupa com os impactos socioambientais.

O jornal nunca foi de promover debate, mas sabe fazer ataques pessoais contra quem ousa questionar o projeto para o qual o senador Tião Viana (PT) conseguiu aprovar emenda ao Orçamento Geral da União no valor de R$ 75 milhões.

É condenável que os ataques estejam sendo feitos para agradar ao senador e estimulá-lo a pleitear junto ao governador Binho Marques (PT) um tratamento diferenciado para o jornal no rateio da verba destinada à mídia.

Na edição de ontem, o jornal O Globo (não foi a coluna do Noblat) destacou a foto acima. A reação do editorial da Tribuna, por por causa do destaque dado ao Benki no jornal carioca, é desmedida.

Chega a afirmar que o líder indígena, que é irmão de Francisco Piantha, assessor especial do governador, "não passa de um elegante animal exótico para ser mostrado por moderninhos de plantão".


Está se cristalizando no Acre, em torno da defesa da prospecção de gás e petróleo, um movimento de direita bem ao estilo tacanho daquele que alardeava na imprensa local que Chico Mendes e seus aliados formavam um bando de vagabundos contra o desenvolvimento regional.

Foi assim quando o líder sindical e ecologista Chico Mendes andava no Acre com a atriz Lucélia Santos ou recebia diariamente personalidades do Brasil e do exterior dispostas a reforçar a luta dos seringueiros em defesa das florestas.

Foi assim quando Chico Mendes viajou sozinho até Miami, para encontrar o antropólogo americano Steve Schwartzman e o cineasta inglês Adrian Cowell, e de lá seguiram até Washington.

Chico Mendes foi exigir do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que cumprisse o acordo assinado com o Brasil, que previa a implantação do Plano de Proteção do Meio Ambiente e das Comunidades Indígenas (PMACI).

O seringueiro voltou ao Brasil cobrando do governo que executasse o acordo assinado com o BID, cuja cópia ele pegou em Washington.

Foi assim, ainda, quando Chico Mendes ganhou o prêmio Global 500, da ONU, e Mary Allegretti indicou Marco Antonio Salgado Mendes para acompanhá-lo na solenidade em Nova Iorque.

É verdadeira a máxima de que a história se repete como farsa.

Reproduzo metade das notas de opinião do jornal:

Petróleo e índios
Os Ashaninkas se manifestaram contra a exploração de petróleo no Acre, mas seu cacique, Benki, está com outras preocupações maiores: circula no eixo Rio-São Paulo-Brasília acompanhado da atriz global Letícia Spiller, debatendo em ciclos sobre a água. O avião em que viaja deve ser movido a essências amazônicas, já que ele é tão contra o petróleo.

Global
O cacique virou o xodó dos atores globais com a gravação da minissérie, o que, até agora, não rendeu um tostão para sua aldeia, que reclama de atendimento médico e atenção. Padre Paulino revelou que é crítica a situação dos ashaninkas em sena Madureira (sic). Para o cacique, que está todo lampeiro e sorridente na coluna do jornalista Ricardo Noblat, no Globo de ontem, tudo corre muito bem, obrigado.

Lobby
São por coisas como essas que cansa um pouco esse lobby ambiental contra qualquer coisa que cheire e progresso no Acre. O cacique protesta contra a derrubada da mata Atlântica? Não, fatura coma exposição na Rede Globo e impede qualquer coisa para o progresso acreano. Não quer ouvir falar em manejo florestal, só em manejo de talheres em almoços com celebridades no Rio de Janeiro, onde não passa de um elegante animal exótico para ser mostrado por moderninhos de plantão. Lá pode tudo, aqui, só o radicalismo infantil.

sexta-feira, 23 de março de 2007

CERVEJA PRO CORAÇÃO

Na sexta-feira, uma respeitável professora acreana sentiu-se mal e procurou o atendimento de urgência da Unimed em Rio Branco. Sem realizar qualquer exame, a médica de plantão diagnosticou depressão e recomendou que a paciente fosse para casa e tratasse de se divertir e de tomar algumas cervejas para relaxar.

A mulher comprou uma caixa de cervejas e, no sábado, quando bebia o conteúdo da terceira latinha, voltou a passar mal. Novamente procurou a emergência e foi atendida pela mesma médica, que tirava plantão de um colega.

A mulher disse que sentia dores no peito, na nuca, e que seu coração parecia agitado. Novamente a médica insistiu no diagnóstico da tal depressão. Trouxe um copo com água e serviu um comprimido de diazepan e mandou que a paciente fosse relaxar em casa.

No domingo, a professora voltou novamente a passar mal e então a família dela telefonou para um médico. Ele recomendou que a professora fosse levada imediatamente ao Pronto Socorro, pois havia sintomas de problema cardíaco.

No Pronto Socorro, a professora voltou a encontrar a mesma médica. Felizmente foi atendida por um cardiologista. Ela, que já havia sofrido três enfartes, foi imediatamente internada e voltou a sofrer o quarto dois dias depois.

Será levada para o Incor na segunda-feira, mas a família agora não consegue encontrar um médico disposto a acompanhá-la na viagem. O que eles ganham nos consultórios é bem mais do que a família pode pagá-los como acompanhante.

- Sou muito supersticioso, mas não ao ponto de acreditar em médico - arrematou o jornalista Antonio Alves, que compartilhou o relato de uma irmã da paciente, vítima da nossa medicina de fim de mundo.

No Acre, o avião ainda é o melhor remédio.

DOCES LEMBRANÇAS

Leila Jalul

De tanto ver, a gente acaba não enxergando. Tem que espanar a névoa da memória e procurar por velhos amigos que a gente viu na infância e na juventude.

Fui buscar no baú o velho Chico Padeiro, pai do Paulo Tóia, da Ieda, do Chiquito, do Carlito, da Tereza, do Benjamim e outros mais. Alguns hão de dizer que agora estão lembrando. Não fosse minha lembrança, jamais se lembrariam de não esquecer.

Chico Padeiro, marido da Dona Nenê.

Um tabuleiro forrado de papel pardo, um cavalete e, o que é melhor, os doces que me faziam arregalar os olhos e excitavam minhas lombrigas. As tripas faziam uma verdadeira revolução, até que aquele tabuleiro, de forma vagarosa, quase num ritual, fosse montado e descoberto.

Ah! Enfim nós...

- Seu Chico, quero uma queijadinha, uma bolinha de mel, uma mariola. Espere, deixa eu ver se tenho como pagar.

Remexia o fundo da sacola de brim escuro, com babados de qualquer outro pano de cor clara - um troço velho que minha mãe descaradamente chamava de lancheira. Dali, misturado com pedaços de giz, tocos de lápis, borrachas mordiscadas, um pedaço de pão ensebado, puxava os merréis. Às vezes dava. Outras não.

Difícil era escolher o que não dava para comprar. Rebuçados, suspiros, babas-de-moça. Ai! Quem não já viu nos caixas de supermercados o constrangimento das pessoas catarem o menos importante para devolver? Dá uma raiva! Uma impotência. Maldito dinheiro.

- Seu Chico, quero só a mariola e a queijadinha. Não, espere, quero a bolinha de rebuçado e a mariola de banana. Tá bom, me dê só a mariola mesmo.

No final dava tudo certo. Porém, na vida do Seu Chico Padeiro, nem tudo foi adocicado. Tinha na casa dele, além de muitas formigas e filhos, um monte de sobrinhos possuídos pelo pé-de-boi. De madrugada, quando o velho ia dormir, os capetas roubavam os doces e, melando os dedos nas caldas, simulavam uma trilha no chão e nas paredes. Assim, os culpados eram os ratos.

Suas paradas eram, invariavelmente, no Colégio Acreano, no estádio José de Melo, em dias de jogos e, aos domingos, na hora da retreta, na esquina da praça, bem ali, defronte a estátua do Chico Mendes e seu menino Sandino, na Praça dos Povos da Floresta.

Sabe, se fosse nos dias de hoje, com certeza, o Sandininho largaria a mão do Chico, compraria umas queijadinhas e uns rebuçados e voltaria para seu lugar.

Alguém lembrou? Lembrou do quê? Do Seu Chico? Dos doces? Doces lembranças que ninguém pode esquecer de lembrar.

Nem os diabéticos.

ETNOZONEAMENTO


Está na edição de hoje do Diário Oficial o decreto do governador Binho Marques que nomeia o antropólogo Terri Vale de Aquino (foto) para exercer o cargo em comissão de gerente do etnozoneamento da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais. O decreto tem efeitos retroativos a janeiro.

Terri Aquino foi uma das primeiras personalidades a se manifestar contra a prospecção de petróleo e gás defendida pelo senador Tião Viana em áreas de preservação e terras indígenas, ao longo da fronteira do Acre com o Peru e a Bolívia. Registre-se que o antropólogo é funcionário da Funai e a cessão dele ao governo do Acre foi defendida junto ao órgão pelo próprio senador.

Aliás, a assessoria do senador encontra dificuldades para demonstrar que a prospecção teria baixo impacto socioambiental na região. O padre Paolino Baldassari, o líder indígena Tashka Yawanawá e Terri Aquino foram convidados a conhecer o distrito petrolífero da Petrobras em Urucu (AM).

Baldassari avisou que prefere continuar com suas desobrigas na floresta, Aquino que será submetido a uma cirurgia e Tashka terá que viajar para participar de um evento em Madri a convite do Rei da Espanha.

Fé em Deus e coragem, Txai Terri.

quinta-feira, 22 de março de 2007

HOMENAGEM À GLÓRIA PEREZ


O deputado federal Nilson Mourão (PT) protocolou hoje um pedido para que a Câmara dos Deputados realize sessão solene em homenagem à novelista Glória Perez e à Rede Globo de Televisão. Glória Perez é a autora da minissérie “Amazônia - De Galvez a Chico Mendes”, que está sendo exibida pela TV Globo.

- Glória Perez e a Rede Globo estão divulgando o Acre, sua história e sua gente para todo o país e também para o mundo. A homenagem se estenderá à emissora Rede Globo, haja vista a abrangência que a emissora da família Marinho tem. A minissérie tem resgatado a auto-estima do nosso povo, despertando o sentimento de acreanidade e contribuído para a valorização da nossa cultura - argumenta Mourão.

Glória Perez é acreana, nascida em Rio Branco. Sua carreira começou no ano de 1979, quando foi convidada por Janete Clair para escrever um capítulo da série "Malu Mulher", da Rede Globo. O episódio nunca chegou a ser gravado, mas Glória Perez teve seu trabalho reconhecido por Janete Clair, que a chamou para ser sua colaboradora.

Glória Perez já escreveu diversos trabalhos para a Rede Globo, a maioria novelas. Entre elas destacam-se “Barriga de Aluguel”, “O Clone” e “América”. Em seus trabalhos, a autora destaca preocupação com as questões sociais.

A novelista já recebeu várias homenagens do governo do Acre, entre as quais o nome de uma escola da rede pública.

- Creio que ainda poderemos render muitas homenagens a Glória Perez, mas essa deve ser especial, pois o Congresso Brasileiro, estará reconhecendo a importância que essa mulher tem nas causas acreanas - afirma o deputado.

Ele aguarda que a Mesa Diretora da Câmara defina a data de realização da sessão.

DEPUTADOS AO TIRO

Deputados estaduais que tanto gostam de pescar, especialmente Naluh Gouveia (PT) e o presidente da Assembléia Legislativa, Edvaldo Magalhães (PC do B), deveriam por à prova a imunidade parlamentar indo fazer a próxima pescaria na fazenda Piracema, de propriedade de Edilberto Moraes, o Betão.

O assessor do governo, Dudé Lima, genro do fazendeiro, com certeza se encarregaria de levar como convidados especiais o ex-governador Jorge Viana e o ex-prefeito Mauri Sérgio, outros dois inveterados pescadores de peixes e votos.

Os açudes da fazenda formam um espelho dágua com mais de 200 hectares, povoados por jacarés, pacus, piaus, tambaquis e traíras.

ME PAGA CIRO GOMES!



Altino,

Sou Ricardo Soares, jornalista e documentarista já rodado. Hoje sou também conselheiro editorial e colaborador da revista Rolling Stone aqui citada em seu blog. Gostei dele e faço convite pra conhecer o meu, que cobra com contundência e bom humor, um calote de um político demagogo e perigoso - Ciro Gomes. Dê uma olhada no blog e, se for o caso, espalhe a novidade por aí

Abraços

Caro Ricardo, como seria a blogosfera se cada brasileiro resolvesse criar um blog contra cada político caloteiro? Visite o Me paga Ciro Gomes!.

quarta-feira, 21 de março de 2007

ABRAHIM FARHAT


O timoneiro Abrahim Farhat e a Lulu Caetano na companhia de ribeirinhos, no tempo em que os militantes do PT do Acre viajavam de canoa e até percorriam a floresta para ir aonde o povo estava. O vitiligo nem havia transformado o Lhé em albino.

REVISTA ADIANTE


Editada pelo jornalista e escritor Luciano Martins Costa, chega às bancas a 13ª edição da revista Adiante. Com o slogan "para entender o estado do mundo", é a primeira revista brasileira de negócios e políticas públicas dedicada ao tema da sustentabilidade.

Nasceu em janeiro de 2006 a partir de um projeto editorial baseado nas constatações descritas no ensaio "O Mal-Estar na Globalização" (Ed. A Girafa), de autoria de Luciano Martins Costa. A revista não mantém vínculos de exclusividade com nenhuma instituição política ou acadêmica e seus apoiadores não interferem em suas escolhas editoriais.

Adiante, vencedora do Prêmio Ethos de Jornalismo no ano passado, traz reportagem especial a respeito da anunciada intenção do presidente George W. Bush de criar com o Brasil uma "Opep do Etanol", que movimentou agentes governamentais dos dois países, agitou a Fiesp e produziu um movimento inédito entre investidores e consultores.

- Mas os ambientalistas alertam para os riscos da adoção de uma matriz de energia baseada na agricultura. Entre os que condenam liminarmente o projeto e aqueles que vêem no etanol a grande chance brasileira de se posicionar melhor no cenário mundial, começa de fato a nascer uma alternativa para o petróleo - assinala o editor.

Vale a pena conhecer o site (clique aqui) e prestigiar com uma assinatura o pioneirismo e a qualidade do conteúdo.

IRINEU SERRA NA MINISSÉRIE


Leio no blog da Glória Perez que o mestre Irineu Serra (foto), o fundador da religião da floresta, chega hoje à minissérie, interpretado pelo Milton Gonçalves.

CAFÉ BROTINHO

Leila Jalul

Contam que o nome do Café Brotinho deveu-se a uma marchinha de carnaval que dizia: "Ai, ai, brotinho, não cresça meu brotinho, nem murche como a flor. Ai, ai, brotinho, eu sou um galho velho, mas quero o teu amor. Meu brotinho, por favor não cresça, por favor não cresça, já é grande o cipoal. Tá sobrando galharia seca, tá pegando fogo no meu carnaval".

Se é mentira, é de quem me contou.

O Café, em mil novecentos e coisa, era o point. Lugar onde se fechavam altos negócios, onde se liam os poucos periódicos e revistas em árabe, onde se jogava gamão, xícaras de café moka eram servidas aos velhos, sorvetes sortidos para as crianças, e para as damas. Para as damas, em taças de vidro grosso; as crianças tinham que se contentar em chupá-los no cascalho.

Depois de subir as escadarias do porto, ao sol das duas da tarde de domingo, nada melhor do que se refestelar nos “helados” de cajá, buriti, groselha, açaí, graviola, bacaba,tamarindo, leite, nescau e etc e tal.

As famílias imperiais iam se achegando, uma a uma, ocupando as mesas de toalhas listradas. No alto, uma tabuleta com a trovinha de alerta educativa:

Povo educado
não cospe no chão
não compra fiado
nem diz palavrão!

A comitiva lá de casa era composta de vovô, vovó e as princesinhas. Eu atacava de plebe rude.

Voraz, insaciável, vestido vermelho de bolinhas brancas, herdado da “primeira” primogênita, passado pelo corpo da segunda, já todo cheio de rabo, com a metade das bolinhas arrancadas ou saídas pelo interminável número de lavagens. O defunto era sempre maior. Nada demais.

O que iria contar eram os sabores dos sorvetes, ou, quando pior, os tocos dos cascalhos já lambidos que eu pedia quase implorando, antes que educadamente fossem jogados no lixo. O cascalho era melhor que o sorvete. Tudo era bom, mesmo quando era ruim.O domingo era perfeito, mesmo quando não tão perfeito.

No meu tempo, o Lhé chamava Brachula, a Dona Sílvia, mãe dele, chamava Elza, aí vinham as meninas da Dona Elza e as da Dona Antissá e do seu Bacchi Daoui, que se chamavam Sumaia, Surreme, Muséia e Belkiss. Tento lembrar de outras crianças, mas não dá.

Eram aquelas mesas exclusivas de gente grande e outras para a gente pequena vigiada. Uma voz mais alta e o olho do dono fulminava os mais ousados. De minha parte, só me lembro caída no chão chamuscada e, depois, ainda tinha que enfrentar, além dos beliscões, a promessa nefasta: no outro domingo você não vem.

Era foda. Um domingo sim, dois não.

Agora, a bem da verdade, os sorvetes e os cascalhos eram muito bons. Dava para agüentar o castigo. Tanto que ainda lembro com alegria, água na boca e sem qualquer marca de rancor. São lembranças e sabores indeléveis, inclusive dos cascalhos lambidos e já não tão crocantes.

Uma pena que, como tudo na vida, o brotinho não só cresceu. Também murchou como a flor, sobrou cipoal e a galharia seca queimou.

"AQUI É MUITO QUENTE"


Matthew Meyer é o antropólogo cujo blog An American in Acre indiquei aqui por tratar de globalização, modernidade, movimentos religiosos e política de drogas.

Ele ainda estava nos EUA quando criou o blog com o objetivo de registrar seu trabalho de campo no Centro de Iluminação Cristã Luz Universal - Alto Santo, para doutorado na Universidade da Virgínia.


Há seis meses, Mathew mora em Rio Branco com a esposa e duas filhas. Seus estudos envolvem o papel da religião e política da identidade, mas o antropólogo acredita que ainda existe um campo de pesquisa inexplorado sobre a doutrina fundada pelo mestre Raimundo Irineu Serra no Ciclu - Alto Santo.

- A doutrina dele não tem tido um tratamento equilibrado até o momento. Existe uma tendência a enfatizar certos aspectos, mas não as raízes da doutrina. O que estou tentando é buscar as raízes na atualidade.

Matthew Meyer convidou-me para ser entrevistado para a pesquisa dele e aproveitei para uma breve prosa para o blog.

- Aqui é muito quente e não pára - respondeu, quando perguntei o que tinha a contar após seis meses no Acre.

Assista a entrevista sem edição.

1.013

Embora haja quem diga que o 13 seja número da sorte ou conta de mentiroso, o blog registrou ontem 1.013 visitas únicas. Foram vistas 1.742 páginas de conteúdo. Grato. Agora procurem saber com quantos exemplares circulam os quatro jornais diários da cidade. O acesso às estatísticas do contador deste blog permanece livre.

terça-feira, 20 de março de 2007

HISTÓRIAS DA HISTÓRIA


Vai ao ar amanhã, às 22 horas, no Canal Futura (canal 32 - NET e 37 – SKY) o documentário “Amazônia, Histórias da nossa História”.

Produzido pela ABBAS Filmes, com a direção de Sérgio Bloch, o documentário narra a história do Estado do Acre, desde o início da ocupação da região, passando pelos conflitos entre Brasil e Bolívia pela posse do território, e chegando aos dias atuais, quando questões sobre o destino da maior floresta do planeta estão sendo mundialmente discutidas.

Partindo de uma extensa pesquisa e das muitas versões sobre a história do Acre, o documentário também utiliza seqüências da minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes", de Gloria Perez, onde a luta do povo acreano é transformada em ficção.

RADIOBRÁS NO DEBATE

Cimi teme danos ambientais e sociais com exploração de petróleo e gás na Amazônia

Thayara Martins

O coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) na Amazônia Ocidental, Charles Falcão, disse hoje ser contrário aos estudos que a Petrobras pretende realizar para identificar petróleo e gás natural no Acre. A empresa, explicou, deverá pesquisar a área que vai de Juruá a Alto Purus, onde estão concentradas terras indígenas, na fronteira com o Peru.

Falcão explicou que podem ocorrer, com essa exploração, impactos ambientais e sociais na vida das comunidades ribeirinhas e dos povos indígenas. E citou a degradação das nascentes dos rios e as migrações "que poderiam causar grandes danos sociais".

Segundo o coordenador, a Câmara dos Deputados aprovou verba para novos estudos a partir da iniciativa do senador Tião Viana (PT-AC), que considera o momento econômico favorável para a exploração do petróleo. O recurso aguarda liberação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

O presidente da Federação das Indústrias do Acre, Francisco Salomão, disse ser favorável à exploração de petróleo e gás natural, porque "os beneficios para o estado são inumeros, principalmente a geração de emprego". Ele acrescentou que "só a perspectiva de ter petróleo no estado gera um movimento grande, um investimento da ordem de R$ 27 milhões".

Para Salomão, os danos ambientais serão pequenos porque a exploração do petróleo é concentrada. Em relação aos povos indígenas, o presidente da Federação disse acreditar que, como proprietários, eles receberão uma parte do que for retirado de suas terras.

A Constituição Federal não permite a sondagem para verificar a existência de petróleo em área indígena, mas existem no Congresso Nacional propostas para regulamentar as atividades nessas terras.

Thayara Martins é repórter da Rádio Nacional da Amazônia. O residente da Fieac fala algumas abobrinhas. Imensos lucros, pequenos prejuízos, pois "concentrados". Mas concentrados onde? Na floresta e na terra de gente que mora ali. É bom fazer o bolo crescer para depois distribuir, como diz o velho Delfim Neto. O problema é que os ingredientes desse bolo são recursos naturais e formas de vida de povos que habitam na floresta, em terras a eles asseguradas pelo governo federal. Índios como "proprietários" de suas terras? As terras dos índios são patrimônio da União. Não há hoje legislação que contemple essas atividades em terras indígenas e a realização dessas atividades em unidades de conservação integral é expressasmente proibida pelo SNUC. O senador Tião Viana considera o momento econômico favorável para a exploração do petróleo? Por que? Será por que está em gestação no governo federal o projeto de lei que pretende abrir as terras indígenas à exploração mineral? É com base nessa legislação que pretende-se construir consensos no Acre, para viabilizar a abertura das terras indígenas à prospecção e exploração de petróleo? Ou pretende-se construir os consensos, às pressas mesmo, para que as condições para essas atividades nas terras indígenas do Acre estejam dadas assim que legislação for aprovada? Leia mais na Agência Brasil.

segunda-feira, 19 de março de 2007

O DEBATE CONTINUA

Do reitor da Universidade Federal do Acre, Jonas Pereira Filho, ao repórter Dílson Ornelas, do AC 24 Horas:

- Vejo com certa preocupação a exploração de gás e petróleo no Vale do Juruá, porque estamos na floresta de maior biodiversidade do planeta. Como é que vamos conciliar a conservação com a exploração? Essa exploração é muito destrutiva para a natureza, então precisamos estabelecer um mecanismo que não agrida toda essa riqueza natural. Embaixo do solo está o petróleo e sobre ele está a floresta mais rica do planeta. Como é que vamos extrair o que está embaixo sem prejudicar o que está em cima?

Fiquei na dúvida agora. No dia 6, a assessoria do senador Tião Viana (PT) fez publicar na imprensa que a reitoria e os pesquisadores da Ufac apoiam a exploração de petróleo em terras indígenas e áreas protegidas. Agora o reitor da "Universidade da Floresta" é contra. É a mesma pessoa ou não? Quem é o verdadeiro Jonas? Qual é a verdadeira imprensa? Leia as declarações que foram atribuídas ao reitor na reportagem publicada pelo jornal Página 20. Clique aqui.