sexta-feira, 30 de setembro de 2005

INCLUSÃO CIENTÍFICA

O acreano Evandro Ferreira, que é doutor em botânica pela City University of New York e New York Botanical Garden (Estados Unidos), passou a desempenhar um papel que a assessoria de comunicação da Universidade Federal do Acre (Ufac), exercida por um buchudo professor de educação física, jamais terá capacidade de assumí-lo: tornar acessível ao público o conhecimento acumulado pelos pesquisadores da instituição.

Especialmente interessado em botânica econômica e sistemática, ecologia e meio ambiente, Evandro Ferreira é pesquisador do Instituto de Pesquisas da Amazônia e do Herbário do Parque Zoobotânico da Ufac.

Ele aproveitou a onda dos debates decorrentes desse setembro catastrófico para a Amazônia e criou o blog Ambiente Acreano, onde evita aquelas expressões incompreensíveis dos cientitas, para explicar ou opinar, de modo didático e direto, o que está acontecendo na região.

Evandro Ferreira publicou hoje uma nota longa, mas imperdível, explicando porque nossas florestas pegam fogo e como podemos saber quando isso vai acontecer.

Ele se baseia nos estudos da pesquisadora Elsa Hené Humán Mendoza (foto), uma peruana radicada no Acre, que trabalha para o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) o Setor de Estudos da Terra e Mudanças Climáticas Globais do PZ/Ufac.


Seria interessante que outros pesquisadores, cientistas e jornalistas agissem como Evandro Ferreira, contribuindo para que estudos e pesquisas científicas financiados pela sociedade estejam ao alcance de todos.

Clique em Ambiente Acreano para conferir o estudo em questão.

quinta-feira, 29 de setembro de 2005

BALANÇO NA PONTE

O Jornal Nacional, da Rede Globo, mostrou hoje que o Congresso recebeu um balanço das obras públicas fiscalizadas pelo Tribunal de Contas da União. Das 415 obras fiscalizadas, o TCU encontrou indícios de irregularidades em 165, sendo que 72 serão paralisadas.

Os 72 contratos com as irregularidades mais graves deixarão de receber dinheiro do orçamento, até que os problemas sejam resolvidos. O Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) é o campeão de irregularidades. Teve 131 obras fiscalizadas e o TCU quer que 39 não recebam dinheiro do orçamento.

A construção da ponte internacional sobre o Rio Acre, ligando o Brasil ao Peru, é uma dessas obras. Ela foi autorizada com euforia pelo presidente Lula e pelo governador Jorge Viana.

- Sobrepreço, licitações dirigidas. Tudo isso tem sido problema comum na verificação dessas obras - apontou Adylson Motta, presidente do TCU.


Em relação à ponte sobre o Rio Acre, o DNIT informou que o governo do Acre, responsável pela obra, já está tomando as providências no TCU.

O secretário estadual de Planejamento, Gilberto Siqueira, se manifestou sobre a inclusão da ponte binacional Brasil-Peru na lista de obras com irregularidades ou pendências junto ao TCU. A ponte está sendo construída com recursos federais pelo governo estadual sobre o rio Acre, em Assis Brasil.

Siqueira disse que todos os questionamentos apresentados no relatório técnico do TCU foram respondidos pela equipe técnica das secretarias envolvidas na obra. Segundo o secretário, as justificativas apresentadas ainda não foram analisadas pelo ministro do TCU responsável pela análise do processo.


Na terça-feira, o secretário esteve pessoalmente no TCU para pedir pressa ao relator.

- Queremos que nossa justificativa seja analisada o mais depressa possível, para que as dúvidas sejam esclarecidas e não fique essa impressão de que tem alguma irregularidade - afirmou.

O governador Jorge Viana, que está em Brasília, simplifica o problema:

- É o preço de se realizar uma obra na Amazônia. É difícil para um técnico do TCU entender que os custos de uma obra no Acre são maiores que a média nacional - assinalou.

Viana disse que o projeto original da ponte foi alterado, com o acréscimo da construção dos prédios que vão abrigar todos os órgãos federais necessários numa fronteira: Receita Federal, Polícia Federal e Vigilância Sanitária.

Segundo o governo estadual, o projeto da ponte, que inicialmente era convencional, foi transformado num projeto de alta tecnologia, com obra de arte avançada e equipamentos modernos, além de mais dois quilômetros de acesso com pista dupla pavimentada.

Comment do Toinho Alves:
"Não é a primeira vez que o governo do Acre, para rebater acusações de corrupção, confessa incompetência. Não planeja, faz as coisas com pressa, muda na última hora o que havia sido previsto... e fica com raiva quando alguém levanta suspeitas".

BOAS LEMBRANÇAS

Oi Altino!

Li seu artigo "Fora de foco na mídia e no governo" e gostei muito. Você sim, fala a verdade, porque aqui, na mídia da Áustria, não leio nada a respeito desses incêndios na Amazônia. É uma pena! Isso reflete o que os editores julgam importante.

Você tem contatos com a imprensa internacional? Sei por minha própria experência que aqui na Europa a gente não pode imaginar como é a vida aí. A única coisa que se fala aqui é em destruição, mas isso é sempre o mesmo e agora a gente já nem se interesa por isso.

Faltam visões e idéias do que fazer e falta especialmente saber as perspectivas da gente daí. O Greenpeace é a única ONG aqui, conhecida, que fala sobre Amazônia, porém também apenas das catástrofes, sem dar soluçoes sustentáveis, com uma visão bastante reduzida.

Entao, acho que seria bom negociar com grandes revistas européias para que publiquem todo mês um artigo de qualidade sobre a vida no Acre, na Amazonia. Isso serviria para enriquecer nosso conhecimento aqui sobre esses pulmões de nosso Planeta.

Você agora está trabalhando com Jorge Viana, no governo? Lembro que li isso no seu blog. E como vai aí? Como foi a visita dele à Finlândia há dois anos? Estou segura de que ele dispõe de alguns contatos com governos aqui na Europa.

Jorge Viana também poderia sugerir que o jornalismo internacional se envolva e escreva mais sobre o que está se passando no Acre. Não apenas o aspecto negativo, mas, de forma aprofundada, as perspecitvas de seu povo.

Enfim, aqui estou bem. Um pouco estressada por causa dos exames, mas vivendo das boas lembranças dos verões anteriores.

Te mando muitos "saludos" e um abraço.

Katharina Perkonig
Viena - Áustria

Nota do blog: Katharina Perkonig é austríaca, tem 23 anos, vive em Viena, cursou direito, se especializou em direito ambiental e agora está se especializando em relações internacionais. Passou três anos trabalhando para juntar dinheiro para conhecer o Brasil, em 2003, onde passou mais de três meses e chegou a trabalhr como voluntária em comunidades carentes no Nordeste. Depois veio conhecer o "Acre de Chico Mendes", quando a encontrei, em companhia da irmã dela, Theresa, estudante de medicina. Ambas apaixonadas pelo Brasil e dispostas a qualquer coisa em defesa das florestas da Amazônia.

BALCÃO DE TERRAS


O negócio tá ficando bão mesmo. Na seção de imóveis do site Balcão do Acre alguém anuncia que dispõe de três áreas de mata virgem devidamente documentadas, disponíveis para exploração da madeira na Amazônia.

Facim, facim, né? Segundo o anunciante, as áreas têm acesso fluvial por Porto Velho (RO), Manaus (AM) e Belém (PA). Ele tem, ainda, as coordenadas geográficas para sobrevôo e afirma que estão "prontas para manejo florestal".

As áreas medem 526,4 mil hectares. Cada hectare custa R$60,00, o que pode resultar num negócio de R$ 31,5 milhões.

Quem estiver interessado, deve telefonar para 068-9238-4601 ou 3026-4063. Para maiores informações, deve acessar a página Fazendas e Turismo.

Consultei o Registro.Br e constatei que Fazendas e Turismo pertence a R.M. Chaves de Medeiros, morador do Conj. Bela Vista, em Rio Branco. O responsável é Francisco Paulo Fontenele de Medeiros. O site está hospedado na Contilnet, provedor Internet em Rio Branco.


Tentei falar com o anunciante, mas ele não estava em casa. A mulher que atendeu sugeriu que falasse com Paulo Fontenele e que telefonasse pro celular dele. Evitei a despesa.

Não quero terras. Sete palmos me bastam.

PEIXE PODRE



Por Elson Martins (*)


Olha aí, Altino, como os índios sabem das coisas:

Quando o senador João Alberto Capiberibe -ex-militante da ALN de Carlos Marighella, cassado na semana passada em último recurso no Supremo Tribunal de Justiça- governava o Amapá, era costume os caciques índios do Estado serem convidados para almoçar ou jantar na residencial oficial.

Durante os dois mandatos de governador, durante os quais desenvolveu o PDSA (Programa de Desenvolvimento Sustentável do Amapá), Capiberibe contou com as lideranças indígenas como “parceiros preferenciais”.

Um deles, o cacique Geraldo Galiby, dizia que Capi (como o tratava carinhosamente) era “feito de outra massa”. Uma distinção.


Foram muitos almoços e jantares, sempre com a recomendação aos cozinheiros para prepararem caldeiradas de peixe fresco, de várias espécies, o que é tarefa fácil naquele Estado, piscoso por excelência.

Um dia, porém, quando todos saboreavam um delicioso filhote, apanhado na maré do rio Amazonas, no dia anterior, Capiberibe perguntou ao cacique Waiapi Kumai, o que ele estava achando da comida. Veja o que Kumai respondeu:

- Tá boa, governador, menos o peixe, que é podre!

O peixe estava ótimo para os brancos, claro, mas para os Waiapi, que habitam as cabeceiras do rio Matapi, pescam e comem moqueadas várias espécies, o filhote com poucas horas de gelo tinha sabor alterado.

Embora surpreendidos com a resposta, Capi e outros comensais não índios acataram, com algum riso amarelo, o paladar apurado do cacique.

(*) Jornalista acreano, colaborador do blog

MENSAGEM DE ÍNDIO

Caro amigo Altino

Aqui é Fabiano Kaxinawa
Filho do Siã Kaxinawa
Estou no Rio, trabalhando
Eu estou com um contato de compra de castanha
Eu não encontrei ninguém
Quero entrar em contato com você o mais urgente possível
E você pode me ligar
Se não pode, me manda também o seu contato
Pra eu poder te ligar

Bom, espero esteja bem
Estarei esperando

Abraço

Fabiano Kaxinawa

TRENZINHO DO FOGO

Do botânico e pesquisador do Inpa e da Universidade Federal do Acre, Evandro Ferreira, no blog Ambiente Acreano:

"Agora que a parte pior do desastre passou e os movimentos pró-compensação começam a se revelar (aproveitando o momento de comoção social, o interesse da mídia e do público...), gostaria de reiterar que continuo firme em minha posição: me recuso a colaborar com essa "ajuda" aos que direta e indiretamente colaboraram para o fogo que tomou conta do interior do nosso Estado.

Sugiro que o Governo Federal, Estadual, Basa e Banco do Brasil (os alvos prediletos do movimento) se adiantem e mandem a conta para os destruidores e incendiários contumazes que existem no Acre, incluindo o vice-prefeito de Xapuri, preso tocando fogo em sua colônia. O IBAMA e IMAC possuem um cadastro recheado com nomes e endereços daqueles que foram multados por derrubadas e queimadas ilegais. Vai ser fácil mandar as cobranças!"

JOÃO CAPIBERIBE



Caro Altino:


Apresentei um projeto no Senado propondo que 50% dos recursos do Fundo Constitucional do Norte (FNO), operado pelo BASA, fossem destinados a financiar as cadeias produtivas da grande variedade de recursos da biodiversidade amazônica, como, por exemplo, a cadeia da floresta, do manejo à industria moveleira, com comercialização certificada, sistemas agroflorestais.

O Acre dispõe de um exemplo de grande sucesso, que é o projeto RECA, serviços ambientais, ecoturismo etc.


O projeto também destina 10% das aplicações para pesquisa, pois acredito que estamos destruindo a Amazonia empurrados pela pela carência de conhacimentos científicos.

Afirmo que, enquanto não estabelecermos um modelo de desenvolvimento capaz de mudar a relação homem-natureza, a Amazônia vai continuar ardendo com graves prejuizos para todos.


Um forte abraço e obrigado pela solidariedade nesse momento de luta acirrada pra fazer prevalecer a soberania do voto popular.

Saiba que eu continuo acreditando na política como instrumento de construção coletiva para a mudança.


João Capiberibe (PSB)

Ex-governador e senador cassado do Amapá

Nota do blog
: Agradeço a leitura e a mensagem. O crédito da foto acima é de Elena Vettorazzo. F
oi copiada da edição 87 da revista Caros Amigos, que fez uma "entrevista explosiva" com Capiberibe.

quarta-feira, 28 de setembro de 2005

TERRA PROMETIDA II


É muito estranho que a Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec) do Ministério da Integração Nacional tenha apontado apenas os pequenos produtores rurais em lavouras de subsistência e esquecido de mencionar os fazendeiros como responsáveis pelas queimadas no Acre.

Há mais de 45 dias, o fogo avança em fazendas, pequenas propriedades e áreas de preservação florestal no Estado, incluindo a famosa Reserva Extrativista Chico Mendes.

- Geralmente, quando esse tipo de fogo atinge as florestas, a umidade natural da mata consegue controlá-lo. No Acre, os incêndios tomaram essas proporções porque não chove há cem dias e a umidade do ar está baixa - observou o gerente do departamento de Resposta aos Desastres e de Reconstrução da Sedec, Marcos Aurélio Alves de Melo

Não é apenas por isso, doutor Marcos Melo. Os incêndios tomaram essas proporções porque existem muitos estímulos para a cultura do fogo. Os fazendeiros tocam fogo para o pasto brotar viçoso ou para ampliar a pastagem devastando as áreas de preservação permanente. Os colonos para formar roçados ou porque assimilaram o sonho da vida fácil de fazendeiro.

A Sedec planeja ações de capacitação de pequenos agricultores para ensinar técnicas de uso controlado do fogo, que causem menos impacto ao meio ambiente e evitem que o fogo atinja florestas próximas às propriedades rurais. A mesma medida foi adotada com sucesso em Roraima, após incêndio em 1998.

O governo federal enviou hoje para o Acre uma força-tarefa composta por 150 bombeiros do Distrito Federal e 15 especialistas em incêndio florestal. Eles vão enfrentar locais de difícil acesso. Os bombeiros do Acre viajam duas ou três horas de caminhonete e levam mais quatro horas caminhando na mata.

A equipe de combate ao fogo será transportada por dois helicópteros de Xapuri -a 188 quilômetros de Rio Branco- para as clareiras próximas aos focos de incêndios e utilizarão aparelhos localizadores e de comunicação por satélite. Os helicópteros podem diminuir o tempo de deslocamento e permitir que uma equipe combata mais de um foco por dia.

Há duas semanas, 67 bombeiros do Estado tentam controlar o fogo que consome áreas de floresta nos municípios de Acrelândia, Bujari, Capixaba, Plácido de Castro, Porto Acre, Rio Branco, Senador Guiomard, Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia, Xapuri e Sena Madureira.

O envio da força-tarefa foi determinado, na manhã de hoje, pelo ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. Ontem à noite, o governador do Acre, Jorge Viana, havia feito o pedido ao ministro. De acordo com o secretário Nacional de Defesa Civil, Jorge Pimentel, a força-tarefa só retornará a Brasília após o fim das queimadas.

Na última semana, 12 municípios do Acre decretaram estado de emergência por conta da fumaça produzida nas queimadas no Acre, Mato Grosso, Rondônia e Bolívia. Os municípios mais atingidos são Acrelândia, Xapuri e Brasiléia.

No domingo, o Ibama enviou uma tonelada de equipamentos para a equipe de bombeiros. Um helicóptero e uma aeronave Pantera, do Exército, também ajudam no trabalho. Não existe ainda uma estimativa da área destruída.

Tirei essa a foto que ilustra essa nota às 17h34 do dia 12 de julho.
Quando viajava de carro, de Brasiléia para Rio Branco, encontrei em chamas o pasto da camponesa Dulcilene Gurgel, na margem esquerda do ramal de acesso à usina da Alcobrás, na BR-317.

Vale a pena ler a nota "Terra prometida" que escrevi naquele dia. Antes daquele dia já havia muito fogo por aqui. Só não via quem não queria. Esse pessoal de Brasília costuma ouvir o galo cantar, mas não sabe onde.

OUTRA OLHADA


Publiquei uma foto à tarde, com vista parcial de Rio Branco livre da fumaça, mas a leitora Gisela acessou o blog e deixou o seguinte comentário:

- Já deu outra olhada lá fora? Ai, ai, sei não... ("felicidade, felicidade/ minha amizade foi-se embora com você..." - NOEL).

O jeito foi sair, para contemplar o céu e o horizonte. Constatei que realmente houve uma pequena mudança. A fumaça havia se aproximado novamente da cidade.

Tirei então a foto acima, às 17h32. O ocaso do sol nesse época acontece às 17h26. Dá pra ver um pouco da fumaça na linha do horizonte, mas nada comparável aos dias anteriores.

O pesquisador Evandro Ferreira, do blog Ambiente Acreano, acompanha de modo competente essas mudanças. Baseado nas imagens de satélite que captura na Internet e as interpreta, afirma que não existe novidade. Confira o relato dele e as imagens no Ambiente Acreano.

O que não faço pela leitora Gisela, que jamais vi e, às vezes, até parece um fantasma virtual?

AMAZÔNIA EM PAUTA

Olá Altino!
Sou editor do Jornal da Amazônia, da Rádio Nacional da Amazônia/Radiobrás. Edito o jornal há uma ano e meio. Escrevo para você para dizer que gosto muito do seu trabalho, acompanho o seu blog. Você é uma figura importante do jornalismo amazônico. Parabéns. A Amazônia precisa de pessoas como você. Bom trabalho e boa sorte!!!!

Daniel Costa
Brasíla (DF)


Oi, Altino.
Tenho acessado o blog. Está muito bom.

Abraço.

Sérgio Bártholo
jornalista (AM)


Altino

Os stringers trabalham duro, os editores é que deixam a Amazônia por fora. Até sugerir uma pauta, estamos com ela praticamente pronta. Em 99% das vezes é tempo perdido, mesmo que a pauta esteja 100% plausível, como esta, por exemplo. Veja se você concorda. O título seria para o finado Notícias Populares:

Queimadas no Acre torram grana do FNO

Rio Branco – O gerente regional do Banco da Amazônia no Acre, Andrias Sarkis, está reunido neste momento em Brasiléia com um grupo de produtores rurais e técnicos do Ibama, do Imac, (órgão ambiental do Estado) e da Seater (Secretaria de Assistência Técnica e Extensão Rural).

Os produtores, que tiveram todo o trabalho deste ano destruído pelos incêndios florestais, querem saber como vão fazer para pagar os financiamentos obtidos através do FNO (Fundo Constitucional do Norte), um programa de subsídios destinado aos pequenos proprietários.

“Quem provar que perdeu a produção em incêndios acidentais terá direito a uma prorrogação no prazo para quitação dos financiamentos”, explica Sarkis. Para requerer este benefício, o produtor tem que solicitar um laudo junto à Seater e ao Imac. Só em 2005, segundo Sarkis, foram efetuadas 1.800 operações pelo FNO envolvendo R$ 15 milhões. Até o momento, segundo ele, não existe estimativa sobre prejuízos.

Já o presidente da entidade dos grandes produtores, Assuero Veronez, está dizendo no site notíciasdahora que 40% dos produtores estarão inadimplentes.

João Maurício Rosa
jornalista (AC)

PRESO PREFEITO DE XAPURI

O vice-prefeito de Xapuri, João Dias (PFL), está preso na delegacia desde ontem, às 18 horas, quando foi flagrado pelo Corpo de Bombeiros ateando fogo na pequena fazenda que possui na estrada Ribeiracre, a 20 quilômetros da cidade.

Ao receber voz de prisão, o vice-prefeito tentou justificar-se:

- Toquei fogo na minha propriedade para evitar que a mesma fosse queimada pelo fogo dos vizinhos.

Xapuri, que se tornou símbolo internacional do movimento ambiental liderado por Chico Mendes, é administrada pelo prefeito valentão Walderley "Cotôco" Viana (PMDB). Ele derrotou nas urnas Raimundo Barros (PT), primo de Chico Mendes.

A prisão do vice-prefeito surpreendeu muita gente no Acre, pois o prefeito Wanderley Viana é quem tem perfil mais adequado para permanecer atrás das grades.

Aliás, ele foi preso no primeiro dia do mandato. Clique em Traficante, invasor e, agora, prefeito e em "Começou divertido".

COMENTÁRIOS

Transcrevo três comentários relacionados ao artigo "Fora de foco na mídia e no governo", que foram deixados no Observatório da Imprensa:


A Parintins de ônibus
Antônio Bentes, Boa Vista-RR - jornalista
27/9/2005 6:12:22 PM

O Altino foi na ferida. Nossos burocratas de Brasília acham que a Amazônia é uma só, cheia de florestas e bichos, desconhecem que em Roraima, por exemplo, temos três ecossistemas diferentes. Um exemplo do desconhecimento de nossas particularidades aconteceu comigo, quando um servidor do MinC, no governo FHC, sugeriu que fôssemos a Parintins de ônibus para realizar uma fiscalização.

Um lençol de soja
Mário José de Lima, São Paulo-SP - professor
27/9/200510:18:02 PM

Gostaria de destacar dois pontos do excelente texto de Altino Machado:

"A Amazônia recebia atenção da mídia nacional até meados da década de 1980".

Perfeito. Nesse período, quando contávamos com a cobertura de jornalistas como Edilson Martins para o Jornal do Brasil, a questão agrária era tema da moda e a luta pela terra ainda ecoava os momentos das Ligas Camponesas e da Campanha do Araguaia e o braço forte das forças da repressão ainda se fazia presente, procurando controlar a ação de qualquer movimento social na região.

"Está evidente que a suposta grande imprensa já não se interessa sequer pelas catástrofes da região, pois é mais fácil e econômico pautar-se por edições que jorram prontas para suas redações sobre os furacões Katrina, Rita ou Severino Cavalcanti".

Na verdade, acredito que agora se trata de criar uma cortina que não permita a plena visibilidade do que acontece na Amazônia. Ou pelo menos de se encobrirem os verdadeiros responsáveis pela destruição ambiental. Boa parte dos governos na Amazônia foi capturada pelos "empresários da fumaça". Veja, por exemplo, a caravana que desembarcou no Acre nesses dias: um dos seus membros é o líder do desmatamento para formação do lençol de soja que vai cobrindo o país. A visão distorcida é parte dos custos operacionais desses senhores.

Para finalizar, gostaria de lembrar que seu ponto de vista - ciclos diferentes de compreensão da Amazônia - encontra uma elaboração acadêmica no livro da professora Marilena Correia da Silva - O paiz do Amazonas [Manaus, Editora da Universidade do Amazonas, 1996].

"Abandono midiático"
Walter Falceta, São Paulo-SP - jornalista
28/9/2005 4:52:37 AM

Com a clareza e objetividade de sempre, o inspirado Altino Machado nos ensina agora o conceito de "abandono midiático".

ASSIM TÁ ÓTIMO


Vista parcial de Rio Branco livre da fumaça, às 13h37, sob temperatura de 33°C, com 33% de umidade relativa do ar. Muito sol, com céu parcialmente nublado. Índice Ultra-Violeta (IUV) extremo.

VALEU, PESSOAL!

O seu blog é ótimo. Seu artigo no Observatório da Imprensa (28/9)ilustra minha vivência no Pará, de onde via, impotente, os recortes e vieses que pautam a cobertura amazônica.

Já escrevi a respeito no mesmo Observatório. Também trabalhei em outras "periferias" estereotípicas - a Bahia, a Maracajuânia (Mato Grosso do Sul), o Rio Grande do Sul... Brasil grande ! Fica maior com trabalhos como o seu.

Um abraço,
Angelo de Souza
jornalista (RJ)


Ei! Altino.Tudo bem?
Parabéns pelo seu trabalho. Está muito bom o blog.

Abraços.
Wellington Veras (DF)


Altino!

Grande artigo no Observatório! Espero que influencie nas decisões dos diretores, mesmo que me custe o stringer no Estadão.

João Maurício Rosa
jornalista (AC)

ECOINFORME

De José Carlos Pontes, do site Ecoinforme - Agência de Informação do Meio Ambiente:

"Altino

Somos um saite de meio ambiente e gostaríamos de publicar a sua matéria sobre o descaso para com a Amazônia. Você autoriza? Nosso saite é www.ecoinforme.com.br

Zecarlos"

Resposta: Está autorizado, com prazer. Faça apenas a citação do endereço desse modesto blog. Bom trabalho, Zé Carlos.

REPÓRTER SOCIAL

Do jornalista Fábio de Castro, editor-executivo do site Repórter Social:

"Olá, Altino. Meus colegas do Repórter Social me passaram ontem o link do seu blog. Fiquei impressionado com a qualidade do material. Parabéns! Abraço."

Valeu, Fábio.

Agora compartilho com os leitores daqui duas coisas muito interessantes que estão no site Repórter Social: a entrevista na qual o jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto afirma que "sem sucursais na Amazônia, cobertura dos conflitos de terra é baseada no susto", e uma notícia, publicada em março, mas que permanece atual diante do debate motivado pela tragédia enfrentada hoje pelo Acre. Transcrevo-a:


Plantação de florestas trará desenvolvimento
sócio-econômico, diz Jorge Viana


A plantação de florestas é um fator fundamental para o desenvolvimento sócio-econômico do Brasil. O setor florestal brasileiro é o único que pode fazer frente ao agronegócio. O Brasil precisa de um Ministério das Florestas. As frases acima foram ditas nesta quarta-feira, em Brasília, durante o evento de comemoração aos 100 anos de florestas plantadas no Brasil, realizado na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Mas, surpreendentemente, não por um dos diversos representantes da indústria de base florestal brasileira presentes, mas pelo governador do Acre, o petista Jorge Viana.

Engenheiro Florestal, elogiado pela experiência do “Governo da Floresta” implantado em seu Estado, Viana reivindicou uma política mais arrojada do governo para o setor florestal, com base em números como o PIB florestal de US$ 17,5 bilhões e a geração de 2, 5 milhões empregos, entre diretos e indiretos. “O Brasil não precisa de uma política para florestas plantadas e uma política para florestas nativas, precisa é de uma política florestal”, disse.

Citando dados de desmatamento de florestas nativas no País, reivindicou o manejo sustentável como forma de preservação ambiental e da biodiversidade. “O melhor jeito de preservar as matas nativas é dar um bom uso a elas”, destacou. As declarações favoráveis ao setor foram reiteradas pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que esteve no evento para prestigiar o lançamento do programa de financiamento do Banco do Brasil para o setor, o BB Florestal.

O programa tem como meta um desembolso de R$ 225 milhões, no período de 5 anos, a partir de 2005, para ampliação da área reflorestada no país (hoje de 5,3 milhões de hectares) em 150 mil hectares. “Com ênfase na recuperação de áreas degradadas e integração de pequenos produtores ao processo produtivo”, observou a ministra.

JORGE VIANA VÊ FOGO

Movimento quer o Acre indenizado por
queimadas em Rondônia e Mato Grosso

Embora tenha chovido no Acre na segunda-feira, o fogo continua na Reserva Extrativista Chico Mendes e foi constatado ontem pelo governador Jorge Viana durante sobrevôo que realizou na área. A reserva abrange quase 1 milhão de hectares em cinco municípios.

Além de combater os focos de incêndio, o governo estadual vai avaliar os prejuízos econômicos, estabelecer um plano de atendimento às vítimas, monitorar as áreas que não foram queimadas e multar quem já queimou pastos e florestas.

- É o jeito. O que não dá é para ficar de braços cruzados vendo esta tragédia acontecer à nossa volta. O nome não poderia ser outro: o que está acontecendo é uma verdadeira tragédia - afirmou Jorge Viana.

Na sexta-feira, depois de ter decretado situação de emergência no Acre por causa dos danos ambientais decorrentes das queimadas e da fumaça, Viana sobrevoou a área pela primeira vez, mas relatou não ter avistado focos de incêndio.


Naquela ocasião, sobrevoou a área acompanhado da procuradora Patrícia Rego, coordenadora de Meio Ambiente do Ministério Público Estadual, do superintendente do Ibama, Anselmo Forneck, e do coordenador da Defesa Civil, coronel Henrique Jardim.

Viana voltou a defender o manejo florestal como forma preventiva de combate às queimadas na Amazônia.

- Eu sempre defendi o manejo florestal e talvez por isso mesmo tenha sido tão criticado e combatido por aqueles que defendem outras práticas, que implicam no uso permanente de queimadas. Estamos sofrendo a conseqüência de grandes queimadas em Mato Grosso e em Rondônia. Nestes dois estados, foram mais de 100 mil focos de incêndio em menos de 30 dias, enquanto no Acre tivemos menos de cinco mil.

O governador não descartou medidas judiciais para tentar responsabilizar os demais Estados.
Viana promete conduzir ações integradas entre os órgãos estaduais e federais.

- A partir de amanhã, com a chegada de três helicópteros de apoio, vamos intensificar ainda mais a fiscalização. As medidas de punição para aqueles que ainda insistirem em fazer queimadas no Estado serão severas.

Sociedade reage
Organizações do movimento social estão exigindo que o Governo do Acre acione na Justifça Federal os estados de Rondônia e de Mato Grosso por causa da destruição de suas florestas, tendo em vista que a fumaça e a fuligem decorrentes cobrem os céus do Acre na época da estiagem na região. Sugerem, ainda, que a Bolívia seja acionada através do Itamaraty.

De acordo com um documento encaminhado ao governador Jorge Viana, a ação judicial terá que identificar e comprovar que a fumaça e a fuligem das queimadas em Rondônia e Mato Grosso cobrem os céus do Acre no período seco; levantar os prejuízos à saúde humana e perdas financeiras sofridos pelo Estado e concluir com um pedido de indenização.

A proposta, liderada pelo deputado estadual Moisés Diniz (PC do B), sugere que a ação judicial deve arrolar como testemunhas pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), do Ministério da Ciência e Tecnologia, do Ministério do Meio Ambiente e de profissionais do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), do Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac), do Departamento de Aviação Civil (DAC) e da Secretaria de Estado da Saúde.

terça-feira, 27 de setembro de 2005

TRAGÉDIA AMAZÔNICA

Fora de foco na mídia e no governo

Altino Machado (*)

É a região cujo solo abriga riqueza mineral incalculável e alimenta a maior floresta tropical do mundo. É um território extenso e único por causa da variedade fenomenal da flora e fauna. Abrange nove países, sendo o Brasil detentor de 60% da área total. Nela caberiam 14 Alemanhas ou 20 Inglaterras. Não existe outro lugar com tamanha variedade de espécies de pássaros, peixes e insetos: abriga um quinto da água doce do planeta, sua marca natural é tão ou mais famosa do que a da Coca-Cola, e no imaginário de um estrangeiro compete com o futebol e o samba quando o assunto é o Brasil. Suas florestas tropicais desempenham importante papel no ciclo terrestre global do carbono. A floresta que está em terra firme compreende 41% da área total de florestas úmidas do planeta, com aproximadamente 250 milhões de hectares e cerca de 30% do estoque global de carbono vegetal.

Essas são algumas das carcomidas muletas nas quais a imprensa brasileira costuma se apoiar para falsear grandiloqüência quando trata da Amazônia. A região segue ignorada pela mídia e a maioria de seus profissionais alimenta uma carga de preconceito contra o cotidiano e as pessoas que nela habitam. Nos anos 1980, por exemplo, para cada reportagem que publicava sobre a região, a Folha de S. Paulo tascava o chapéu "Quarto mundo".

A Amazônia recebia atenção da mídia nacional até meados da década de 1980. Os principais jornais e revistas mantinham escritórios nas capitais da região, com correspondentes que produziam uma quantidade significativa de reportagens. Alegações de sucessivos cortes orçamentários obrigaram os veículos de comunicação a reduzir suas estruturas. Diversas sucursais foram fechadas. A maior parte das empresas de mídia passou a manter apenas stringers na região. Dessa forma, os temas relacionados à Amazônia passaram a ser abordados apenas de maneira esporádica e quase sempre com enfoque pitoresco ou preconceituoso.

Estiagem e injustiças

A Amazônia costuma ganhar destaque mundialmente por ocasião de catástrofes ambientais, como o incêndio que em 1998 destruiu quase 30% das florestas, savanas e lavouras do estado de Roraima; massacres, como o assassinato de 29 garimpeiros por índios cintas-largas em abril do ano passado, em Rondônia; crimes, como o assassinato do campeão de iatismo Peter Blake, no Amapá, em dezembro de 2001; eventos curiosos, como o Ecosystem, a megafesta rave promovida em 2001 nos arredores de Manaus.

A imagem que fica, em certa medida já consolidada, é a de que a Amazônia, embora tenha potenciais inestimáveis, é uma região sem lei, semi-abandonada, entregue ao Deus-dará e habitada por selvagens – sejam índios ou brancos criminosos.

Está quase impossível um debate sério que envolva governo, sociedade, imprensa e organizações não-governamentais, porque as categorias formadoras de opinião parecem longe de ser impactadas por conteúdos de qualidade sobre a Amazônia.

A Amazônia está sendo castigada pela maior estiagem de que se tem notícia em sua história, mas o fato tem sido ignorado pela imprensa, em que pese a estiagem tenha agravado a intensidade das queimadas e a poluição do ar. Além disso, a imprensa ignora o cotidiano de injustiças, violações aos direitos humanos, crimes ambientais, corrupção e sonhos e fracassos exposto pela política.

Turbilhão ignorado

Está evidente que a suposta grande imprensa já não se interessa sequer pelas catástrofes da região, pois é mais fácil e econômico pautar-se por edições que jorram prontas para suas redações sobre os furacões Katrina, Rita ou Severino Cavalcanti. Os trópicos estão em chamas, mas a sociedade brasileira está mais bem-informada sobre os incêndios na Europa, porque lá há jornalistas para relatarem diariamente o que presenciam.

Nos últimos 10 dias, as imagens dos satélites indicam que o Brasil ardeu em chamas, exceto o norte da Amazônia, acima do Rio Solimões. O famigerado Arco do Desmatamento, que se estende do Acre ao norte do Pará, gerou um braço que está adentrando na direção de Cuiabá e Campo Grande. Dá para ver que a vizinha Bolívia e os estados de Rondônia e Acre tiveram extensas áreas de floresta consumidas pelo fogo, gerando prejuízos, esgarçando conflitos e expondo a crescente insanidade do modelo de ocupação que predomina na região.

O mais grave disso é que a mídia regional, sufocada pelo conformismo e pela censura e a autocensura, também se revela incapaz de se posicionar com firmeza.

A cobertura da Amazônia está cada dia mais segmentada, circunscrita sobretudo ao ambiente da web, que oferece ferramentas fáceis e de longo alcance, como os blogs, que possibilitam compartilhar com mais pessoas uma parte do turbilhão de fatos que se sucedem ignorados pela imprensa nacional.

Ali pertinho

Faz dois anos que apontei, neste Observatório, os "Equívocos de uma apuração apressada" da Veja, que preferiu calar, como costuma fazer quando erra, mas que se reabilitou no fim de agosto com a reveladora reportagem "O fogo destrói a natureza e também os pulmões de quem vive na Amazônia". Aliás, a Veja e o Jornal Nacional, da Rede Globo, foram os únicos que se interessaram pontualmente pela dramática situação da Amazônia nos últimos dias.

Na semana passada, centenas de jornais brasileiros reproduziram material no qual citavam como sendo parlamentares do Acre, e não do Amapá, o senador João Alberto Capiberibe e a deputada Janete Capiberibe, o casal que teve os mandatos cassados. Por desconhecimento ou preconceito, a mídia foi incapaz de fazer uma referência ao histórico deles, que foram perseguidos pela ditadura militar e expuseram ao mundo a primeira tentativa de política pública de um modelo de desenvolvimento sustentado, quando Capiberibe governou o Amapá em dois mandatos, de 1995 a 2003.

Não se tem registro de que a Amazônia tenha sido visitada por algum ministro da Fazenda. O governador acreano Jorge Viana, que cumpre o segundo mandato e costuma assinalar esse fato, fracassou na tentativa de atrair o ex-ministro Pedro Malan. Espera o cumprimento da promessa feita por Antonio Palocci. Aliás, Viana costuma contar, sem revelar o nome, que certo dia convidou um ministro para conhecer o Acre que ele governa e obteve a seguinte resposta:

– Ótimo convite, Jorge. Tenho uma agenda a cumprir em Belém, no Pará, e como o Acre é pertinho, darei um pulo até lá.

A Amazônia está fora de foco na mídia e no governo.

(*) Jornalista, editor do Blog do Altino

Fonte: Observatório da Imprensa

OSMARINO AMÂNCIO


O ex-sindicalista Osmarino Amâncio Rodrigues, que foi um dos braços fortes de Chico Mendes na organização dos "empates" de seringueiros em defesa das florestas do Acre, agora lidera o Movimento dos Pequenos Agricultores.

Osmarino exerce o cargo, em comissão, de Assistente Parlamentar, AP-3, do quadro de pessoal do Senado Federal, com lotação e exercício no gabinete do Senador Geraldo Mesquita, desde outubro do ano passado.

Ganha R$ 2.148,29, com auxílio-alimentação, sem hora-extra. Ele agora tenta organizar "empates" contra a exploração manejada de madeira do Governo da Floresta.

Falta apenas Osmarino não se envergonhar do cargo, como fica evidente ao tentar ocultar da sua base o "emprego sustentado".

Também tenho o meu, sigo a minha linha, mas faço questão, enquanto durar, de mencioná-lo em meu perfil aqui no blog.

Aliás, antes de ir pro gabinete de Geraldinho, Osmarino estava no ostracismo e, por interferência do presidente Lula, o governador Jorge Viana o nomeou para um cargo comissionado. Desconheço o que teria motivado o afastamento dele do cargo.

SEMPRE SERVE!


Do João Maurício Rosa, stringer do Estadão no Acre:

"Olá Altino! Seu blog não só é visitado, como também está abastecendo jornalões. Sua foto sobre Rio Branco, limpa da fumaça, está publicada na edição de hoje do jornal O Estado de S. Paulo, ilustrando a minha reportagem. Não fui eu quem surrupiou a foto. Está assinada Altino Machado/divulgação".

Nota do blog
: Caro João Maurício uma editora do jornal telefonou ontem e pediu autorização para usar a foto. Eu já disse que o blog é como o regional "Sempre serve", formado pelo seringueiro-artista Hélio Melo.

PURUSSAURUS BRASILIENSI


Reportagem da Andréa Zílio, do Página 20, revela que pesquisadores da Universidade Federal do Acre resgataram do rio Acre fósseis -mandíbula com 1,80 metro, além de fragmentos do crânio e vértebras lombares- do jacaré gigante Purussaurus Brasiliensi, no município de Capixaba.

Trata-se do segundo fóssil mais completo do maior predador que já existiu na Amazônia. O primeiro, um crânio com 1,30 metro, foi coletado pela equipe do Laboratório de Pesquisas Paleontológicas (LPP) no alto rio Acre, há 19 anos, no município de Assis Brasil, na fronteira com o Peru.

O purussaurus media 12 metros de comprimento, mas alguns indivíduos alcançavam até 18 metros. Esses jacarés habitaram o Acre entre 8 e 5 milhões de anos, o que corresponde às épocas geológicas Mioceno Superior-Plioceno.

Foram encontrados diversas peças de crânio e pós-crânio do gigantesco jacaré em vários sítios fossilíferos do Acre. Sua existência não está restrita apenas ao Estdo. Também já foram localizados fósseis de Purussaurus na Bolívia, Peru, Colômbia e Venezuela.

Saiba mais a respeito visitando o site do LPP, que é um dos poucos ambientes na Universidade Federal do Acre onde realmente se respira ciência.

O acervo do LPP reúne cerca de 5 mil peças fósseis, muitas das quais únicas no mundo, tendo revelado à ciência uma série de novos gêneros e espécies de animais vertebrados que viveram na Amazônia nos últimos 8 milhões de anos.

GOVERNO DE SORTE

Do doutor Evandro Ferreira, pesquisador do Inpa e da Universidade Federal do Acre, no blog Ambiente Acreano:

"Como havia comentado abaixo, junto com a friagem vai junto também a polêmica "fumaça" acreana, boliviana, mato-grossense... O que fazer agora?

Vamos esperar pelas chuvas que virão "com vontade" logo no incício de outubro. Eu vou tapar as goteiras da sala da minha casa, rezar para o [prefeito de Rio Branco Raimundo] Angelim recuperar o ramal de acesso ao Parque Zoobotânico, na estrada Dias Martins, depois do Ipê.

Aos amigos, aconselho parafusar telhas e amarrar outros objetos em risco de voar com as tempestades típicas do início do inverno acreano...prevenir é melhor do que remediar!


Ah, ia esquecendo: as chuvas que (tanto clamamos nestes dias) irão inutilizar as estradas. Sem estradas uma outra polêmica vai esmaecer: a exploração e o transporte de madeira (legal ou ilegal). Nesta época os caminhões toreiros param de rodar, levantam-se os acampamentos, peões são demitidos, a calma volta à floresta...Os bichos agradecem e saem para avaliar os estragos (depois disso se mudam para outras paradas...).

O Altino Machado vai ficar feliz, não tenho dúvida. A Associação dos Pequenos Agricultores do Acre corre sério risco de ficar sem empate ou coisa para empatar. Sem caminhão toreiro rodando empate não tem graça! Vão "empatar" quem de passar na estrada? Os taxis do Bujari?

Governo de sorte o nosso..."

ALELUIA!


Lembram da foto publicada pelo Notícias da Hora e que foi reproduzida aqui? Pois é, demorou, mas valeu a pena esperar a chuva. Após 56 dias, Deus atendeu ao pastor, ao prefeito, ao vice-prefeito e ao diretor da empresa pública de distribuição de água de Rio Branco.

É CADA FRIA

Parece mentira, mas não é. O Acre pega fogo, porém nenhum dos quatro jornais diários de Rio Branco, a capital, é capaz de enviar repórteres para acompanhar os focos de incêndio e os esforços para apagá-los, como na Reserva Extrativista Chico Mendes.

A apatia da imprensa acreana em esperar press-release com a versão das autoridades é de lascar.


Aliás, nesses dias tenho me divertido mesmo é em acompanhar os prognósticos feitos por metereologistas. A Gazeta tem consultado um cujo nome é bem metereológico, o Davi Friale.

Na edição de domingo, na primeira página, o jornal destacou que a friagem e a fumaça chegariam no dia seguinte, baseado na previsão dele. Chegaram ontem a friagem e um pouco de chuva, mas nada de fumaça.

Davi Friale chegou a afirmar que a fumaça, oriunda de grandes incêndios na Bolívia, poderia gerar uma situação mais grave que a constatada na semana passada, quando a poluição do ar atingiu níveis intoleráveis.

Segundo o metereologista, seu prognóstico evidenciaria que o Acre não era o causador de toda aquela fumaça.

Bem, como o prognóstico dele em relação à fumaça fracassou, deduz-se então que as queimadas eram todas do Acre.

Perdoem-me pelo trocadilho, mas Davi Friale é uma fria.

Isso tudo depois daquela reportagem do Página 20 anunciando que o Acre seria atingido por chuva ácida após a estiagem.

- Ferro, alumínio, agrotóxico, esgoto e fumaça. Estes são alguns dos elementos que serão despejados em todo o Estado com as primeiras chuvas pós-estiagens previstas para ocorrer daqui a dez dias - anunciou o jornal ainda em 18 de agosto na reportagem "Chuva ácida pode destruir vegetação".

Quem quiser, pode conferir também a nota "Valha-nos Deus!".

Divirtam-se.

FOGO EM XAPURI

Chuva diminui número de focos
de incêndio em florestas do Acre


SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM XAPURI

A chuva que atingiu a região de Xapuri (180 km de Rio Branco) ontem apagou a maioria dos focos de incêndio na Reserva Extrativista Chico Mendes e na floresta em seu entorno.

É a primeira chuva forte que ocorre em aproximadamente quatro meses no município.

Segundo o Imac (Instituto de Meio Ambiente do Acre), a chuva não atingiu os municípios de Acrelândia e Assis Brasil, onde também há focos de incêndio.

Ontem à tarde, ainda havia 22 focos de calor no Acre. Na semana passada, houve mais de 600 focos.

A chuva de ontem foi recebida em Xapuri com palmas e gritos pelos bombeiros e soldados do Exército e da Polícia Militar que se preparavam para sair à floresta para combater incêndios.

"Praticamente todos os focos de incêndio foram apagados. O que está queimando ainda são algumas árvores que caíram e que têm a combustão mais lenta", disse o major James Gomes, que coordena a operação de combate ao fogo na região. O risco agora é que essas árvores lancem faíscas que possam reavivar o fogo.

"Não havia previsão de chuvas hoje. Foi uma surpresa", disse o coronel Ivo da Silva, comandante da área operacional do Corpo de Bombeiro do Acre.

A chuva veio acompanhada de uma frente fria que baixou a temperatura no Estado. Em Rio Branco, a temperatura, ontem à tarde, estava em torno dos 16C.
Nos dias anteriores, chegou a ficar acima de 35C.

Floresta
Um morador do assentamento Tupã, a 40 km de Xapuri, informou ao posto de comando que lá não havia chovido e que o fogo na floresta continuava.

Segundo o secretário do Meio Ambiente em exercício, Fernando Ferreira Lima, a vinda de 150 bombeiros de Brasília para ajudar no combate aos incêndios foi suspensa temporariamente.

"A situação ainda é de seca e só há previsão de mais chuva para daqui a cinco ou seis dias", disse.

Com base em relatos de moradores da reserva e de assentamentos agrícolas de seu entorno, o Corpo de Bombeiros estimou que cerca de 30 mil hectares de floresta e pasto foram destruídos pelo fogo. O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e o Imac ainda não fizeram uma avaliação dos danos ambientais.

"O momento é de ajudar no combate ao fogo", disse Anselmo Forneck, gerente do Ibama no Acre. Desde sábado, o Pelotão Florestal da Polícia Militar do Acre está com três equipes em campo para identificar locais desmatados e notificar os agricultores da proibição de queimadas.

Fonte: Folha de S. Paulo

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

PERGUNTAR NÃO OFENDE?

Estive na entrevista coletiva dos governadores Ivo Cassol e Blairo Maggi tentado a fazer duas perguntas seguidas ao Rei da Soja:

1) É verdade que a soja exportada pelo Brasil é consumida basicamente como ração por animais nos Estados Unidos, Europa e Ásia?

2) Qual a quantidade de soja que o senhor consome diariamente?

O bordão "perguntar não ofende" do jornalismo não parece verdadeiro. Preferi fazer perguntas que Maggi está acostumado a respondê-las.

A CARAVANA DA FUMAÇA

Moisés Diniz (*)

Os governadores do Mato Grosso, Blairo Maggi, e de Rondônia, Ivo Cassol somam perto de 100 mil focos de queimadas, só neste ano. A presença deles em ato promovido pelo PPS hoje à tarde, no auditório da Secretaria da Fazenda, só reforça a tese de que o sonho dourado de Márcio Bittar e seus aliados é promover a rondonização do Acre. Ou a mato-grossização, se assim ele prefere.

Se o desejo da oposição é acabar com o projeto de desenvolvimento sustentável que está em curso no Acre desde que Jorge Viana e os partidos da Frente Popular iniciaram o Governo da Floresta, Bittar não poderia ter importado apoio mais perfeito: reuniu aqui o Rei da Soja e Prêmio Motosserra do Ano, Blairo Maggi, com o grileiro de terras e campeão de invasões em áreas indígenas, Ivo Cassol.

Da parte do também presente deputado Roberto Freire, presidente nacional do PPS, ouviu-se elogios a filiação de alguns vereadores do interior, mas não a justificativa da saída do partido do único deputado federal que ele tinha no Acre, Júnior Betão.

O destaque, porém, foi mesmo as presenças de Blairo e Cassol, politicando em Rio Branco como se nada tivessem com a fumaça que há dias sufoca nossas crianças e compromete a nossa qualidade de vida. Alguém precisava lembrar a Márcio Bittar que no dia em que nossos olhos arderam sob a mais densa camada de fumaça, os satélites acusavam 1.068 focos de queimada no Acre; 4.000 em Rondônia e mais de 20 mil queimadas no Mato Grosso.

Aqui, o Governo do Acre decretou situação de emergência e, em defesa da floresta, da saúde e do bem-estar da sociedade, não hesitou em pedir socorro ao Governo Federal, que prontamente se dispôs a ajudar no combate aos focos de incêndio. O trabalho tem sido intenso para manter a situação sob controle.

E o que têm feito os governadores de Rondônia e do Mato Grosso? A única manifestação sobre o assunto foi a de ontem, ou seja, os discursos vorazes contra o projeto de desenvolvimento sustentável, chegando ao absurdo do Rei da Soja afirmar que não se sente motivado a investir no Acre enquanto perdurar na política local “essa idéia de desenvolvimento sustentável”.

Sendo assim, é inevitável concluir que a disposição de acabar com a idéia de desenvolvimento sustentável é o que motiva o senhor Maggi a vir fazer política no Acre e, quem sabe, até financiar campanhas. Afinal, ele é um dos homens mais ricos do país.


Na verdade, o Acre deseja muito que empresas com responsabilidade social e compromisso ambiental venham investir aqui, porque antes da ganância de ganhar dinheiro a qualquer custo, vem a nossa responsabilidade com a geração atual e, principalmente, com as gerações futuras.

O povo do Acre é dono de uma identidade histórica e cultural da qual não abre mão por nada. Vive uma experiência peculiar que se estende há cem anos de relação com a floresta e com o meio ambiente, e nunca abdicou da luta em defesa de melhores condições de vida. Não precisamos de enlatados políticos e muito menos de soluções importadas para os nossos problemas.

A floresta sempre foi e continuará sendo o maior patrimônio do povo acreano, e qualquer experiência com o intuito de fortalecer a economia e melhorar o quadro social do nosso Estado passa pelo respeito à sustentabilidade.


Queremos desenvolvimento, sim. Mas com sustentabilidade econômica, social, política, cultural e ética! Queremos disputar espaço no mundo globalizado, mas não como copiadores de fórmulas ultrapassadas. Vamos concorrer com o que podemos ter de melhor, que são produtos florestais certificados.

O mais é aventura de quem não faz o menor esforço para entender a gente e as particularidades da realidade da Amazônia.

Marcio Bittar chegou ontem com a Caravana da Fumaça, mas os efeitos maléficos das políticas dos seus governadores chegaram bem antes. De toda sorte, seria injusto dizer que o governador Blairo Maggi, do Mato Grosso, o governador Ivo Cassol, de Rondônia, e seus prepostos no Acre não têm nenhuma afinidade com a floresta. Afinal, suas presenças em Rio Branco neste tempo de fumaça prova que são todos é cara-de-pau.

(*) Moisés Diniz é deputado estadual do PC do B

QUÁDRUPLA POLÍTICA


O PPSoja realiza ato político em Rio Branco em defesa da devastação da Amazônia. Da esquerda pra direita, os governadores Ivo Cassol (RO) e Blairo Maggi (MT); o ex-deputado Márcio Bittar e Roberto Freire, presidente do partido.

Do jornalista Tom-in Alves, no blog O espírito da Coisa:

De qualquer forma, é bom permanecer na capital por enquanto, pois os reis da soja e do desmatamento, Blairo Maggi e Ivo Cassol, respectivamente governadores de Mato Grosso e Rondônia, estão por aqui para dar apoio ao partido “popular socialista”, localmente chefiado pelo também fazendeiro Márcio Bittar. Até o ex-comunista Roberto Freire veio também, trazer seu lustroso ego pra passear em terras amazônicas. A política me encheu talvez definitivamente o saco, mas é melhor ficar por perto.

Quero ver se o governo do Acre vai ter coragem de dizer, na cara deles, que pretende cobrar na justiça os danos causados pela fumaça produzida nos estados que governam. Aliás, o vento deu uma volta e a fumaça esteve aí novamente, embora mais fraca. De madrugada, choveu, depois fez frio, depois choveu de novo e o dia ficou com cara de inverno. Há uma guerra no céu. Estou torcendo pela chuva, é claro.

Vou trabalhar e cuidar da vida. Me chamem se tiver briga.

DURA LEX CONTRA AMAZÔNIA

Elson Martins (*)

Após o golpe de 1964, um casal de jovens amapaenses decidiu juntar-se a outros jovens do País para lutar contra a ditadura militar que impunha restrições à liberdade, aos direitos humanos e a democracia. O regime prendia e matava lideranças estudantis, políticas e sindicais.

Os dois provinham de famílias pobres do interior do Amapá e da Ilha do Marajó, no Pará. O pai de Janete era cozinheiro da Icomi – Indústria e Comércio da Mineração S.A.- empresa que explorava as jazidas de manganês da Serra do Navio. O de João, seu Zezinho, trabalhava como vigia da Prefeitura de Macapá.

Ao embalo da tropicália (Caetano Veloso, Gil, Tom Zé) e do Cinema Novo (Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos), Janete e João filiaram-se à clandestina organização ALN (Aliança Libertadora Nacional), de Carlos Marighela, oferecendo-se para atuar numa frente de guerrilha no Estado do Pará.

Em 1970 foram presos acusados de subversão.

João foi levado como preso político para o presídio São José, de Belém, enquanto Janete, que estava grávida da primogênita Artionka, permaneceu em liberdade vigiada. Ela passou a morar num barraco miserável atrás do presídio; e quando podia visitar o marido era desrespeitada e achacada pelos carcereiros.

Em 1971 João foi levado ao Hospital da Santa Casa, de onde com a ajuda de amigos médicos conseguiu fugir levando Janete e a pequena Artionka (de oito meses). A família viajou numa pequena canoa pelos diversos braços do rio Amazonas alcançando a Bolívia. Dali, atravessaram para o Peru e depois para o Chile, onde viveu dois anos da democracia de Salvador Allende.

Mas o golpe do general Pinochet e o assassinato de Allende forçaram nova fuga, agora com ajuda da Cruz Vermelha, para o Canadá.

Com a Anistia, em 1979, a família que já estava trabalhando na África (Moçambique) pôde retornar ao Brasil. Mas não à sua terra, o Amapá, governado por um velho comandante da Marinha nomeado pelos militares. Contrariados, João e Janete foram contratados por Miguel Arraes, então governador de Pernambuco.

No começo dos anos oitenta o Acre, que elegera um governador do PMDB em 1982 (Nabor Júnior), acolheu a família, nomeando João para o cargo de subsecretário do Desenvolvimento Agrário no Vale do Juruá. Mesmo sem recursos e com enorme descrença na ação do governo, o casal fundou 21 sociedades agrícolas em Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima e Rodrigues Alves.

De volta ao Amapá (finalmente) em 1984, João fundou o PSB e em 1988 se elegeu prefeito da capital. Ao mesmo tempo Janete se tornava vereadora. Em 1990 o ex-Território transformado em Estado constituiu sua Assembléia Legislativa e Janete foi a primeira e única mulher eleita.

A trajetória eleitoral foi sempre vitoriosa: em 1994 João foi eleito governador, reeleito em 1998. Janete conquistou seguidos mandatos de deputada estadual. Nas eleições de 2002, João foi eleito para o Senado e Janete eleita para a Câmara Federal.

Foram estes mandatos que o Supremo Tribunal de Justiça cassou na quinta-feira, 22, acolhendo denúncia do ex-senador Gilvan Borges (PMDB) de que os eleitos haviam comprado dois votos por 26 reais.

Na sessão do Supremo transmitida pela TV Justiça, via satélite, os doutos ministros passaram a tarde citando frases latinas em argumentações jurídicas sem se referir à história dos acusados ou da região (Amazônia) que representam. No final confirmaram por sete 5 votos a 2 a decisão anterior do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), contrária ao julgamento pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) que os inocentou.

Os votos que penalizaram o casal e a maior parte da população do Amapá lembram a frieza da moto-serra no momento em que esta sangra colossais e sagradas árvores da Amazônia. Com agravante do ritual do cargo, acrescido de uma indiferença enorme em relação ao que julgam.

(*) Jornalista acreano, colaborador do blog.

UM INCÊNDIO PERFEITO

Por Carolina Elia e Andreia Fanzeres*

De O Eco

Sexta-feira, dia 21 de setembro, foi o primeiro em 15 dias que os habitantes de Rio Branco, capital do Acre, enxergaram o azul do céu. Até então, quando olhavam para o alto, só viam nuvens. Não de chuva, mas de fumaça. O fenômeno acontece todos os anos, produto da estação de queimadas e de uma posição geográfica que faz com que o Acre, além de ter que lidar com seu próprio fumacê, ainda sirva de ponto de convergência para os que têm origem em outros estados amazônicos, como Rondônia e Mato Grosso, e até na Bolívia. Mas em 2005, a coisa toda assumiu proporções assustadoras. A intensidade do fogo no estado foi além das roças e pastos e alcançou áreas de floresta. A fumaça foi tanta que isolou o Acre do país e, dentro dele, cidades da capital.

A falta de visibilidade forçou cancelamento de vôos e impediu o fluxo do tráfego nas estradas. Nas ruas de Rio Branco, onde a qualidade do ar ficou pior que a de São Paulo, máscaras cirúrgicas tornaram-se comuns na indumentária da população. Vários fatores, lembra Foster Brown, professor da Universidade Federal do Acre e pesquisador do Woods Hole Institute dos Estados Unidos, contribuíram para esta situação de calamidade. “Nós tivemos uma ‘tempestade perfeita’ por aqui”, disse ele numa rápida e entrecortada conversa com a reportagem de O Eco na manhã do último sábado. Brown estava apelando ao título de um filme com George Clooney, em que uma série de eventos cria um contexto climático para meteorologista nenhum por defeito, para tentar explicar o que estava acontecendo. Houve de fato um problema climático sem precedentes no estado.

Desde que se começou a medir o índice pluviométrico por lá, há 34 anos, nunca choveu tão pouco. O normal, na média, seria entre 200mm e 250mm por dia. Este ano, ela ficou em 30 mm. Há 120 dias, a água que cai do céu não passa de um chuvisco. A umidade relativa do ar também nunca foi tão baixa, fazendo uma região bem no meio da floresta amazônica atingir nível, apenas 20%, semelhante ao de Brasília, cidade fincada num planalto. A seca deixou o solo e as plantas que crescem sobre ele altamente inflamáveis e aumentou o risco de que uma queimada para limpar uma roça, por exemplo, se espalhasse sem controle para áreas de floresta. Em condições meteorológicas normais, um fogo desses até poderia adentrar numa área de mato que estivesse ao seu lado. Mas não queimaria mais do que o chamado sub-bosque, a vegetação rasteira. A umidade acabaria com o fogo antes que ele chegasse à copa das árvores.

Essa barreira natural, entretanto, foi rompida pela seca e as áreas rurais e de floresta do estado lamberam com uma intensidade jamais vista. Os satélites que servem aos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostraram que nos primeiros 15 dias desse mês, havia 1 mil 490 focos de incêndio no estado. No ano passado, em setembro, registraram quase quatro vezes menos do que esse número. Das chamas não escapou nem uma Reserva Extrativista que por conta de seu nome de batismo, Chico Mendes, virou símbolo do desenvolvimento sustentável em território brasileiro. O que ainda resta de floresta dentro dela, informavam técnicos do Ibama, ardia forte no último fim de semana.

Esse quadro assustador tem muito a ver com as trapaças que a natureza às vezes prega nos homens. Mas a dimensão do problema ambiental foi agravada pela mão do próprio homem. Nisso, ela contou com uma grande ajuda da falta de estrutura e orçamento que assola qualquer governo no Brasil para lidar com catástrofes deste tipo. No caso do Acre, o estado da ministra do Meio Ambiente Marina Silva e dos irmãos Viana – Jorge, o governador, e Tião, o senador – que há tempos vende a imagem para o resto do país de ser o lugar onde desenvolvimento econômico e meio ambiente convivem em plena harmonia, o desastre contou também com a inépcia das pessoas que ocupam o poder. Apesar de os índices de chuva estarem dando sinais de que seriam baixos desde janeiro, ninguém tomou providências para prevenir o desastre.

Viana só decretou estado de emergência na semana passada. E mesmo com o presságio de seca fora do comum, seu governo em nenhum momento tentou criar um sistema mais sólido de prevenção contra queimadas, ainda que desde o início do ano estivesse óbvio que em agosto, quando começa a estação do fogo, agricultores e pecuaristas iriam “limpar” suas roças e pastos com fogo sobre terreno altamente inflamável. Queimadas são uma questão polêmica no Brasil. Todo mundo aceita a idéia que elas, quando se descontrolam, podem incendiar uma floresta inteira. Por outro lado, não há uma tecnologia tão barata para preparar o solo para a semeadura e isso, num país pobre, conta muito. “No curto prazo, é impossível acabar com as queimadas no país”, diz Adalberto Verissimo, pesquisador do Instituto do Meio Ambiente e do Homem (Imazon).

“A questão, portanto, é buscar meios de se conviver com elas para evitar que se transformem em desastre”, continua. O sistema de prevenção e alerta é um deles e várias localidades na Amazônia têm um. Nele, prefeituras se coordenam para informar umas as outras a quantas andam as queimadas em seus municípios. Se uma foge de controle, as outras são imediatamente avisadas e suspendem a queima que está sendo realizada nos territórios sob sua jurisdição. No caso do Acre, apesar de haver um sistema de prevenção envolvendo 120 associações de produtores rurais, seus mecanismos de coordenação oficiais sempre foram considerados falhos. As condições adversas deste ano tornaram o problema claro. O que piorou muito a situação, além da seca, é que nunca tantos agricultores recorreram a queimadas como aconteceu este ano. E o problema, segundo Sergio Lopes, gerente de produção familiar da secretaria responsável por essa questão no governo do Acre, pode em parte ser creditado ao Ibama.

No ano passado, o órgão distribuiu para as comunidades rurais uma cartilha chamada “Fogo bom é fogo controlado”. Na capa, um sujeito andava por um campo com uma espingarda no ombro e fósforos na outra mão, duas coisas que a lei brasileira não permite que se carregue para dentro do mato. A idéia por detrás do manual era simples. Já que não se pode reprimir as queimadas – por falta de alternativa e de estrutura – vamos ensinar ao agricultor qual a melhor maneira de usar o fogo. Não ocorreu aos burocratas em nenhum momento que labareda é coisa muito séria. Pode até ser controlada, mas para tanto depende de equipamento, um mínimo de ciência e experiência de bombeiro. É tudo que a maioria dos agricultores e pecuaristas na Amazônia não têm. “Muita gente recebeu a cartilha de fogo do Ibama”, diz Sergio Lopes, o que pelo menos ajuda a explicar o aumento na incidência de queimadas no estado este ano.

“Mas é claro que a maioria não conseguiu aplicar o que está escrito nela”, continua. Ou porque não entendeu, ou porque não dispunha dos equipamentos necessários – abafador, bomba de água, máscaras – para aplicar os ensinamentos. Resultado, para controlar suas queimadas, a turma recorreu à improvisação. E o fogo fugiu do controle. Toda esta situação acabou piorando por conta de uma atitude de laissez-faire do governo federal em relação ao problema. Apesar de ter um plano de controle e prevenção de queimadas, a gerência do Ibama no Acre não recebeu o aporte de recursos necessário à sua implementação. Brasília fez uma dotação emergencial de 8, 5 milhões de reais e deslocou equipes para o estado. Mas só no início de setembro, quando já era tarde demais.

O que aconteceu este ano no Acre foi mais do que queimadas irresponsáveis. No Vale do Acre, tudo lambeu, inclusive florestas. E para esta última situação, nem o governo do estado e nem o federal jamais se prepararam. “Como a floresta nunca tinha queimado, nunca foi feito um plano de prevenção para incêndio florestal”, diz Anselmo Forneck, gerente do Ibama no estado. E não foi por falta de insistência do pessoal técnico. Há muito eles sabem que o Acre tem problemas estruturais que numa conjuntura climática adversa como a deste ano tinha tudo para criar um ‘incêndio perfeito’, para empregarmos mais uma vez a metáfora baseada no título do filme de Clooney. A ocupação do estado começou nos anos 70 com assentamentos feitos pelo Incra baseado no que Forneck qualifica de quadrados burros. “Seus limites não respeitavam nascentes nem localização de rios. Há assentamentos onde não existe água”, diz.

O problema foi agravado a partir dos anos 80, com a criação do Fundo Constitucional do Norte, um programa de repasse de crédito subsidiado à agricultores e pecuaristas que financiou boa parte do desmatamento nos últimos 20 anos na Amazônia, Acre inclusive. O Banco do Brasil faz o repasse aos grandes fazendeiros. O dinheiro do Fundo que chega aos pequenos agricultores é repassado pelo Banco da Amazônia. “Há regras para a utilização do financiamento, inclusive de comportamento ambiental, mas eles não fiscalizam”, diz Forneck. Viana, que está no seu segundo mandato como governador, encontrou a coisa desse jeito. Mas não se mexeu para modificá-la. “Entre continuar com os créditos e conseguir votos ou rearrumar a casa na direção do desenvolvimento sustentável, ele ficou com a primeira opção”, diz Verissimo, do Imazon.

De 2003 para cá, o setor agrícola recebeu 87 milhões. Este ano, 1 mil e 800 famílias foram beneficiadas. Para o ano que vem, planeja-se desembolso de 53 milhões de reais para os pequenos agricultores. Com tanto dinheiro na mão para crescer suas roças, não é de espantar que os pequenos produtores sejam hoje os grandes responsáveis pelo desmatamento no estado. Em 2004, essa turma foi responsável por 62% das derrubadas de floresta no Acre. Lopes, da secretaria de produção familiar, afirma que o crescimento desse repasse tem sido bom para o desenvolvimento econômico. “Mas a forma desse crédito não beneficia nem um pouco as propostas de preservação da Amazônia”, reconhece. Além do mais, como prova a atual situação no estado, a bonança econômica pode ser boa no curto prazo, mas é insustentável.

“Há experiências provando que a qualidade de vida e o lucro é maior quando se mantém a floresta de pé”, diz Forneck. Viana, o governador, também parece estar a par de tudo isso. Tanto que uma das primeiras medidas que tomou diante do incêndio que arrebatou seu estado foi fazer reuniões com o seu Conselho de Desenvolvimento Econômico para rever as condições em que são feitos esses repasses. Chegou inclusive a exigir a sua suspensão por um mês. Mas até agora, não deixou claro exatamente como gostaria que as coisas fossem feitas daqui para frente. Se o passado serve de indicação, assim que a fumaça baixar, provavelmente deixará tudo como está. Esta ordem de coisas, no fim das contas, parece ser fundamental para o sustento da dinastia de sua família na região.

* Colaborou Manoel Francisco Brito

ACRE EXPORTA FUMAÇA

O botânico Evandro Ferreira, pesquisador do Inpa e da Universidade Federal do Acre, se baseia em imagens de satélite para afirmar que no domingo o Acre exportou fumaça para Rondônia, Mato Grosso e a Bolívia.

- Antes da chegada da frente fria, o vento noroeste que predominou nos últimos dias garantiu que toda a nossa fumaça fosse enviada para eles sem piedade - explicou Ferreira.

No domingo, o Acre, com 325 focos, foi o que mais contribuiu para o total de 1329 queimadas no país.

- As imagens MODIS do Acre e da Bolívia deixam claro que no domingo a gente se vingou dos incendiários da Bolívia, Rondônia e Mato Grosso: exportamos fumaça, muita fumaça - afirmou o botânico.

Confira a análise de Evandro Ferreira e as imagens no blog Ambiente Acreano.

PLANTAS DE PODER

Na quinta-feira, em São Paulo, acontecerá o lançamento do livro "O uso ritual das plantas de poder", organizado por Beatriz Caiuby Labate e Sandra Lucia Goulart.

Bia Labate, doutoranda em ciências sociais e mestre em antropologia pela Unicamp, é pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP).

Sandra Goulart, doutora em ciências sociais pela Unicamp e mestre em antropologia social pela USP, também é pesquisadora do NEIP.

Eis o resumo da obra:

A coletânea, reunião de quatorze artigos de colaboradores de cinco países, vem ocupar uma lacuna na reflexão das Ciências Sociais sobre o tema das drogas ou das plantas psicoativas. Através do enfoque da etnologia, da antropologia, da história e da etnobotânica são analisados diversos contextos de consumo de substâncias psicoativas.

Variedades de rapé utilizadas por povos indígenas da Amazônia, raízes como a jurema nordestina ou a iboga do Gabão, a folha de coca nos Andes e na Amazônia, a Cannabis nos ambientes afro e indígena, a ayahuasca da selva peruana aos grandes centros urbanos brasileiros e algumas outras espécies menos conhecidas, são alguns dos temas abordados na obra.

Destaca-se como o consumo de plantas de poder está associado à organização de complexos sistemas cosmológicos, ao surgimento de ricos cultos sincréticos, a promoção da identidade social, a redes multiétnicas de intercâmbio, ao gerenciamento de conflitos religiosos ou tribais, à produção artística, ao autoconhecimento, entre outras coisas.

O uso destas substâncias implica numa articulação entre diferentes esferas da vida, como a política, a terapêutica, a xamânica, a estética e a cultural. A análise dos vários contextos e agentes explicita continuidades e descontinuidades entre os usos religiosos, profanos, modernos e tradicionais, ou entre substâncias naturais e artificiais, rompendo assim com dicotomias pouco úteis à reflexão sobre as “drogas”.

A leitura da obra destaca o uso ritual e religioso de psicoativos, praticado em diferentes culturas e épocas históricas, mas pode ser valiosa também para pensar o consumo de drogas na sociedade contemporânea, apontando para alternativas a uma política meramente proibicionista, dependente de um mercado ilícito que só dissemina, cada vez mais, violência, miséria, exclusão e guerra.

Mas informações podem ser obtidas no blog Alto das Estrelas, de Bia Labate.

"FRIAGEM" NO ACRE


Em decorrência da chegada de uma massa de ar frio, choveu em Rio Branco durante a madrugada e a cidade amanheceu sob "friagem" e com significativa melhora nas condições do ar e de visibilidade.

A temperatura de ontem, que chegou a 38 °C, com 38% de umidade relativa do ar, caiu nesta manhã para 18 °C. A umidade relativa do ar agora é de 100%.

Há mais de um mês era impossível se avistar casas ou prédios do ponto de onde a foto foi tirada às 6h09. Mas alguns sites de metereologia registram "ligth foggy" na city.

No Acre, nos meses de maio a agosto ocorrem as "friagens". É um fenômeno efêmero, resultante do avanço da frente polar, que provoca queda brusca de temperatura, permanecendo por alguns dias com a média em torno de 10º C.

O efeito destas invasões de ar polar na Amazônia tem sido pouco estudado. Apenas dois pesquisadores chegaram a detalhar os seus efeitos. Para os acreanos, "friagem" no final de setembro é coisa de outro mundo.

Chuva pra valer no Acre só depois do dia 10 de outubro, segundo afirmou o diretor do Inmet Expedito Rebello ao jornalista Chico Araújo, colaborador do blog em Brasília. Leia, abaixo, a reportagem "Triste previsão".

domingo, 25 de setembro de 2005

FOLHA ESTÁ NA ÁREA


Legenda com erro publicada agora pelo portal Uol, junto com a foto da Folha Imagem: "Fazendeiro observa fogo em parte da Floresta Amazônica que fica dentro de suas propriedades, no Acre; O Parque Nacional Chico Mendes, em Xapuri, já tem 30 focos de incêndio".

Em vez de parque nacional, leia-se Reserva Extrativista Chico Mendes. A foto é de Caio Garcia Guatelli.

Da Folha de S. Paulo:

AMBIENTE

Sob calor de 40 ºC, bombeiros, soldados e voluntários tentam, sem sucesso, controlar fogo em área extrativista

Incêndio resiste e ameaça reserva no Acre

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM XAPURI

Há oito dias o Corpo de Bombeiros tenta, sem sucesso, controlar um incêndio na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre. O parque abrange quase 1 milhão de hectares em cinco municípios.

Além dos bombeiros, soldados do Exército, policiais militares, moradores da reserva e voluntários participam dos trabalhos na floresta em chamas, onde o calor pode ultrapassar os 40 ºC.

Muitos deles carregam nas costas bombas com água que chegam a pesar mais de dez quilos. Ao se aproximar do fogo, é possível ouvir os estalos, semelhantes a tiros, que a floresta faz ao queimar. O ar está seco e o vento espalha a fumaça, dificultando a visibilidade.

"O incêndio está violento, e o pessoal não dá conta de apagar. Está vencendo a gente. Precisamos de aeronaves para combater os focos em locais mais distantes. Se não tivermos mais helicópteros, o estrago vai ser maior ainda", disse o major James Gomes, do Corpo de Bombeiros, que comanda a operação.

Segundo a gerência do Ibama no Acre, não há ainda uma estimativa do dano ambiental nem material causado pelo fogo.

"Se o fogo durar mais 15 dias, possivelmente vamos perder até 50% da nossa produção de borracha. Se seringueira queimar, não produz mais. Isso é tão triste que é difícil descrever. Essa reserva custou tantas vidas, tantas noites de sono, fome e perseguições para acontecer isso", disse o líder seringueiro Raimundo Mendes de Barros, primo de Chico Mendes, morto em 1988 por fazendeiros.

Sem previsão de chuva para os próximos dias, o objetivo do combate tem sido evitar que o fogo se alastre e chegue próximo ao município de Xapuri. Em razão da dificuldade de acesso e da distância, a prioridade são os focos próximos da cidade, onde o comando da operação está montado. Algumas áreas atingidas são acessíveis apenas após duas horas de carro e mais seis de caminhada.

Um helicóptero do Exército cedido pelo Ibama tem ajudado no transporte de pessoal e equipamentos. Ontem, no entanto, ele não apareceu. Para hoje está prevista a chegada de outros dois helicópteros, um do Exército e outro do Ibama. Devem ser usados para transportar os soldados aos locais mais distantes na reserva.

Inicialmente, os bombeiros descerão de rapel em um ponto da floresta, abrirão um pequeno heliponto e montarão um acampamento para abrigar a equipe.
Ontem pela manhã, dez equipes e um total de 93 pessoas estavam no combate dentro da mata. As prioridades eram 21 focos de queimadas identificados por GPS em sobrevôos.

"Moro em Xapuri há mais de 18 anos e nunca vi um fogo como esse", disse o voluntário Raimundo Ribeiro Freitas, que há seis dias ajuda no combate ao fogo.

A alimentação das equipes é fornecida pela Prefeitura de Xapuri, e o combustível para os carros que transportam o pessoal, pelo Deracre (órgão estadual de conservação das estradas).

Todas as noites, lideranças das comunidades, bombeiros e policiais se reúnem na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, no centro da cidade, para fazer um balanço do trabalho e programar as ações seguintes.

Segundo o major James, a maior parte dos incêndios foi provocada por fazendeiros ou pequenos agricultores, alguns deles moradores da própria reserva, que ateiam fogo para limpar o campo desmatado. Como a vegetação está seca em razão da forte estiagem, o fogo se alastra.

As queimadas estão proibidas pelo Ibama desde 17 de agosto. A polícia florestal faz a fiscalização.


Crianças e idosos sofrem mais com a fumaça

DA AGÊNCIA FOLHA, EM RIO BRANCO

A fumaça das queimadas provocou um aumento nos casos de doenças respiratórias nas cidades do Acre.

Segundo o diretor-geral do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (AC), Marco Aurélio Nunes Pereira, as crianças, os idosos e pessoas que já têm histórico de problemas respiratórios e alérgicos são os mais atingidos.

Mãe de Danilo Henrique, de 1 ano e quatro meses, internado com pneumonia, Taiane Keli Rebouças da Silva disse que o filho tem asma desde que nasceu. "Ele já estava gripadinho, mas, quando veio aquela fumaça toda, piorou. Ficou com tosse e vômito. Eu trouxe para cá e disseram que era pneumonia", afirmou.

No mesmo quarto de hospital de Danilo, estava internado Natanael Miranda Damasceno, 2, também com pneumonia.

"Ele nunca teve problema, mas foi por causa da fumaça dos últimos dias que ele ficou assim", disse Elisângela Moura, avó de Natanael.

Internada no sábado no hospital com problema respiratório agudo, a manicure Adeíla Martins, 46, disse que há três dias não conseguia dormir pela falta de ar, chiado no peito e tosse. Apesar do grande esforço que fazia para falar, sua voz era fraca.
"Desde quarta-feira [quando a fumaça chegou a encobrir Rio Branco], estou assim. Está muito ruim para respirar", disse a manicure.

O aposentado Raimundo Batista da Silva, 66, disse ser alérgico "a quase tudo" e há quatro anos respira com auxílio de um balão de oxigênio. "Estou sufocando, com muita dificuldade de respirar". disse Silva.