domingo, 31 de outubro de 2010

ELES FORAM ALERTADOS ANTES E DEPOIS

De ANTONIO ALVES, em abril de 2008, antes do presidente Lula sancionar uma lei de autoria do senador Tião Viana mudando a hora legal do Acre:

"Foi só escrever que o calor estava demais e pronto, bateu a friagem, democratizando a frescura e o clima de Brasília que agora impera em terras de Galvez. Bom pra mim, que precisava esfriar a cabeça. Ainda estou bastante contrariado com a decisão do Senado, de abolir o fuso horário acreano e anexar nosso estado ao horário pretendido pelos bancos, pela Globo, pelos políticos e seus seguidores que não orientam suas vidas pelo sol ou pela lua, mas pelas leis do mercado.

O prejuízo é inavaliável. Nenhum desses vitoriosos capitães do progresso consegue ter idéia do tamanho da cagada que fizeram porque não pensam em processos culturais e civilizatórios, mas em negócios. São aqueles que, como dizia Caetano Veloso nos idos de 70, “enxergam a década, mas não conseguem ver o minuto e o milênio”.

Pensei em armar-me de paciência e explicar, para estes senhores espertos e seus seguidores bobos, pela milésima oitava vez, os fundamentos de uma economia diferente do capitalismo ao qual eles se adaptam tão bem, uma cultura diferente da alienação urbanóide na qual estão mergulhados, uma utopia que pudesse salvá-los do vazio existencial ao qual o pragmatismo os condena.

Mas não adianta. Agora, são favas contadas. O presidente da República deles sancionará a lei “dentro de alguns dias”, como dizem em seus informes oficiais. Tenho, portanto, todas as horas do futuro para escrever minhas lamentações –pois não serão mais que isso.

Faço, por agora, apenas um aviso amigo. Ao desprezar a modesta opinião e a frágil resistência dos poucos que se manifestam contra essa desastrosa mudança, os vitoriosos defensores do novo confuso horário estão desligando a pouca sintonia que ainda mantinham com parcelas ao mesmo tempo elevadas e profundas da alma amazônica (que são minoritárias justamente por serem elevadas e profundas, pois a muito pouca gente é permitida maior distância no mergulho e no vôo).

Entendam como quiserem, ironizem à vontade. Sei o que estou dizendo.

E agora vou aproveitar um pouco a friagem, antes que acabe."

Leia mais nos blogs Edmilson Alves e Ambiente Acreano.

sábado, 30 de outubro de 2010

MARINA ELOGIA SERRA E DILMA

E critica o "eu sei", "eu faço", "eu posso" de ambos


A senadora Marina Silva (PV-AC), terceira colocada no primeiro turno da disputa presidencial, elogiou os candidatos José Serra (PSDB) e Dilma Roussef (PT) durante entrevista coletiva em Rio Branco (AC), onde nasceu e votará no domingo (31). Segundo Marina, Serra e Dilma são pessoas com qualidades inquestionáveis, contribuiram para o País nos cargos que ocuparam na gestão pública e se doaram na luta em defesa da democracia brasileira durante a juventude.

"Mas ambos são muito parecidos, com um perfil gerencial e com atitudes muito centralizadas em si. 'Eu sei', 'eu faço', 'eu posso', 'eu tenho', 'eu vou', não é? Além disso, têm uma visão de desenvolvimento que eu discordo completamente", ponderou.

Leia mais no portal Terra.

LINGUARUDOS ISOLAM MILITANTE DO 55

Estávamos reunidos nesta manhã, na lanchonete Rio Branco, no mercado da cidade, para comemorar o aniversário do linguarudo Cléber Cara Rachada. Éramos mais de 20 pessoas e nos retiramos quando o assessor do governo do Acre, Dudé Lima, chegou para distribuir material de propaganda do 55 no referendo. Dudé não esconde simpatia pelo 77, mas confessa que anda preocupado com o cargo após a transição de governo.

Agora é sério: clique aqui para ler a reportagem de Cristina Charão, do Observatório do Direito à Comunicação. Ela revelou, em 2007, as negociatas de políticos com emissoras de TV para mudar fuso horário do País.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

MARINA DECLARA VOTO NO 77


Entrevistei a senadora Marina Silva (PV-AC) sobre política para o portal Terra nesta sexta-feira. Como está de volta ao Acre para votar no segundo turno, no final da entrevista indaguei sobre o voto dela no referendo que definirá no domingo (31) a hora legal do Estado. Eis a resposta:

"Compreendo os que querem a mudança do fuso horário por uma série de razões práticas. Não faço demonização disso, pois existem argumentos sérios. Mas sou pela volta do nosso horário antigo, de duas horas de diferença em relação ao horário de Brasília, por uma série de razões.

Na realidade do Acre, tem um momento em que a comunidade é afetada pela mudança da hora. Imaginem as crianças que moram longe, na zona rural ou nos seringais, que necessitam acordar no escuro, se deslocar em canoas para chegar nas escolas. Existem muitas situações em que de fato a vida das pessoas é prejudicada.

Mas existem aspectos de ordem cultural que considero simbolicamente muito importantes para o nosso Estado. A diferença de duas horas em relação ao horário oficial brasileiro tem realmente a ver com a posição que o Acre historicamente ocupa. Essa diferença é constitutiva do nosso diferencial cultural.

Existem razões práticas de ambos os lados, isto é, daqueles que querem manter a mudança e daqueles que querem desfazer a mudança. Mas estou me referindo às razões culturais, históricas e simbólicas. Isso para mim é muito forte. Vou votar no 77.".

Clique aqui para ler a entrevista completa no portal Terra.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

OBRA DA SEDE DO JUDICIÁRIO É EMBARGADA

Construtora desrespeita leis de segurança do trabalho

O Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Trabalho e Emprego embargaram nesta quinta-feira (28), em Rio Branco (AC), as obras de construção da sede do Tribunal de Justiça do Acre em decorrência de desrespeito às leis de segurança do trabalho. A obra foi contratada pelo governo do Acre e vem sendo executada pela construtora Albuquerque Construções Ltda.

As irregularidades foram constatadas pelo procurador do Trabalho Everson Carlos Rossi, acompanhado do perito da Procuradoria Regional do Trabalho da 14ª. Região, Antenor Garcia de Oliveira Junior, e do auditor do Trabalho Leonardo Lani de Abreu.

O grupo encontrou escadas sem rodapé, estruturas, inclusive poço de elevador sem guarda-corpo, máquinas sem sinalizador sonoro de ré, andaimes instalados em base precária e sem piso de apoio aos trabalhadores e falta de capacetes.

Não havia abafadores de som em quantidade suficiente para todos os trabalhadores, sendo que alguns usavam chinelos. A situação colocava em risco a vida dos trabalhadores, o que autorizou o embargo da obra.

Também foi constatado que muitos operários que trabalhavam sem proteção e sob risco de morte haviam sido contratados por empresas terceirizadas.

- Isso não afasta a responsabilidade solidária da empresa construtora responsável pela obra do Judiciário no Acre - assinalou o procurador do Trabalho Everson Rossi.

A inspeção encontrou 60 trabalhadores da construtora responsável pela obra e mais 75 trabalhadores das empresas terceirizadas. A construtora comprometeu-se a regularizar a obra e requerer ao MTE o levantamento do embargo.

O MPT no Acre instaurou procedimento de investigação para aferir a regularidade a ser implementada. O embargo da obra não prejudicará o recebimento dos salários dos trabalhadores.

A pedra fundamental da nova sede do Tribunal de Justiça do Acre foi lançada em junho de 2006, com financiamento integral do Governo do Estado. Em março do ano passado, o governador do Acre Arnóbio Marques (PT) prometeu que até o final de sua gestão, em dezembro de 2010, a obra seria entregue.

Recentemente, por determinação do governador, foi instalada na obra uma placa imensa com a seguinte mensagem: "Uma obra a altura da Justiça Acreana".

Consultado pela reportagem, o secretário de Obras do governo do Acre, Eduardo Vieira, disse que a empresa foi notificada para corrigir as falhas.

- A empresa já providenciou o que foi exigido e a fiscalização ficou de retornar para conferir - acrescentou.

MODERNIDADE E POLÍTICA

POR JANE MARIA VILAS BÔAS

O mundo passou por uma crise financeira recentemente, está adentrando uma crise ambiental que cada vez mais se expressa com sinais fortes. Já há também registros, por parte de alguns pensadores, de que estamos passando por uma crise política. Para essa última ainda não há grandes debates e manifestações. Mas se prestarmos atenção, ela está no horizonte.

Quando a consciência de qualquer indivíduo se estende para a dimensão planetária dos problemas sociais e econômicos de nossa época, percebe que a superação deles está fora do alcance da intervenção individual de quem quer que seja.

Diante dessa descoberta qualquer um de nós pode ter duas atitudes. Uma, continuar com nossa vida nos alienando dessa informação, desistindo de fazer qualquer diferença real no mundo, ainda que só no nosso entorno, mas atormentados eticamente por termos escolhido a alienação. Outra, tentar construir, junto com outras pessoas, forças e instituições, algo que consiga impactar a origem e a dinâmica da crise para superá-la, debelá-la ou dar-lhe um rumo favorável à vida em nosso planeta. Sim, as crises podem resultar em coisas boas também.

Ambas as escolhas são atitudes políticas. É justamente a política que permite a construção de uma sociedade predominantemente justa ou de uma predominantemente injusta. É a política que pode por um país na vanguarda ou encarcerá-lo no arcaísmo civilizacional.

Cada época da história humana tem a política de seu tempo. Alan Touraine, no artigo “As três crises”, publicado no jornal El País em janeiro deste ano, diz que a ação política já não tem mais como objeto uma disputa de interesses entre grupos, mas a defesa de direitos de quem nos sucederá no planeta. Portanto, o sujeito da política, para Touraine, já não é mais uma categoria social, mas a própria humanidade. Edgar Morin, em recente livro chamado, em tradução livre, “Para sair do século XX”, fala da transição difícil entre um período temporal, toda sua construção cultural e um novo período temporal que traz novas perguntas ou até nova forma de perguntar e, portanto, a necessidade de novas respostas.

Esse é o momento em que vivemos. Nosso mundo está com seu sistema ecológico ameaçado pela intervenção humana. Nosso sistema de valores precisa pensar um novo tipo de solidariedade que possa responder a uma situação que ameaça a nossa espécie. Nosso modo de contar o tempo registra o início de novo ciclo de cem anos e certamente é necessário descobrir um novo jeito de responder a perguntas como “de que jeito podemos continuar vivendo juntos neste planeta”?

Por tudo isso me causou estranhamento o artigo do professor Marcos Inácio intitulado “A direita veste verde”, publicado no jornal Página 20.  Nas últimas décadas do século passado, quando um grupo de sindicalistas apoiados por acadêmicos perceberam que o sistema bipartidário não respondia mais às necessidades de expressão política de significativa parte da população, o líder da iniciativa, chamado Lula no meio sindical, foi acusado de ser divisionista, de fazer a política da ditadura militar por estar enfraquecendo a frente de oposições que se abrigava no então MDB. E hoje sabemos, era legítimo. Havia mesmo a necessidade de um novo espaço de atuação política.  Uma paixão social estava procurando canal de expressão, havia uma força movida a sonhos de liberdade que não tinha seu lugar no cenário nacional. Tudo isso com uma dimensão que não cabia mais no arranjo político que se abrigava sob a sigla MDB, que era quem enfrentava a ditadura e seu partido político cuja sigla era ARENA.

Hoje, final da primeira década do século XXI, no momento em que temos pela frente a necessidade de repensar tantas coisas como as bases materiais da produção e do consumo, a noção de desenvolvimento em si, os modelos de urbanismo, a destinação de todos os resíduos não só industriais mas também os domésticos, o uso do solo e da água, é hora de acusações contra quem resolveu falar disso para o país em uma eleição presidencial?

Negar o lócus político para quase 20% de eleitores que se identificaram com uma mensagem que fala de nova forma de fazer política e de novos valores na gestão da coisa pública, que resgata o conceito de atitudes republicanas, que enfatiza o respeito pelo bem público, que alerta para o esgotamento dos recursos que sustentam a existência material da humanidade, é democrático?

Insinuar associações com raízes históricas do nazismo e do fascismo em suas versões tupiniquins na apresentação de um projeto de país que considere todas essas questões apontadas, é ser justo?

Não tolerar a coerência da trajetória política de alguém que apenas continua uma história, uma proposta, um desejo coletivo que começou aqui mesmo no Acre, com a recusa de se deixar ser tratado como mera fronteira agrícola e brigou para ser a terra da florestania, sob liderança de um seringueiro que viveu uma paixão cívica até a morte por assassinato, é ter uma visão da política adequada ao tempo presente?

O Acre, nos últimos 20 anos construiu as bases conceituais e materiais de uma outra percepção da dimensão econômica da vida. O grupo que renovou e transformou a dinâmica social dessa unidade da federação brasileira o fez através da política. Uma política que convidava as pessoas a afastar o olhar de sua perspectiva usual das coisas e a ousar pensar de outra forma. Uma política que alimentou a capacidade da população local de resistir aos projetos de poderosas forças sociais, econômicas e políticas vindas do centro sul do país. Uma política que resgatava a dignidade e a respeitabilidade dos humildes dessa terra: os ribeirinhos, os seringueiros, os índios, os despossuídos das periferias de Rio Branco. Uma política que enfim chegou às prefeituras e ao governo do Estado e colocou o Acre no mapa da nação com outra imagem. E agora está declarado que o processo para por aqui?

Marina esteve na origem de tudo isso atuando e aprendendo com Chico Mendes. Foi para Brasília com a missão de representar um estado que era tratado na imprensa nacional como fonte de más e escandalosas notícias. Tinha a missão também de dar ao país a notícia de que aqui não serviam os modelos burocráticos de reforma agrária utilizados em outras regiões do país. De que no Acre o desenvolvimento considerava também a justiça social e o uso inteligente e avançado dos recursos naturais de nosso pequeno território e, portanto aqui não se faria sem controle a substituição de uma rica e desconhecida biodiversidade por uma monocultura arcaica. Que no Acre a população queria pensar, elaborar e escolher sua forma de construir uma economia adequada ao tempo presente.

Marina cumpriu fielmente seu papel. Essas notícias encantaram não apenas o país, mas transbordaram para o planeta. O sistema ONU a reconheceu como campeã da terra. Monarquias européias a premiaram. Fundações americanas lhe reconheceram a luta incansável pelo planeta. A poderosa imprensa americana dedicou-lhe páginas e páginas elogiosas e o seríssimo “The Guardian” da Inglaterra a apontou como uma das 50 pessoas que podem ajudar a salvar o planeta. E, há menos de um mês atrás, com um partido pequeno, com 1 minuto e 23 segundos de programa eleitoral na TV, com a menor arrecadação dentre os três principais candidatos, com os institutos de pesquisa subtraindo do público a informação de seu real percentual de intenção de votos, com todas essas circunstâncias desfavoráveis, foi escolhida por quase 20 milhões de brasileiros para receber o voto para Presidente do país.

Ao sair do PT Marina o fez de forma democrática, conversando com os dirigentes nacionais e locais. Não ficou convidando ninguém para acompanhá-la no novo partido. Muitas pessoas o fizeram, mas por iniciativa própria. No processo eleitoral do Acre teve a generosidade de compreender a posição dos líderes petistas dentro da Frente Popular, que não a apoiaram, e não só declarou voto como fez campanha por eles. Perguntada por repórteres da grande imprensa brasileira se ficava triste com sua votação em seu estado, teve a elegância de dizer que do povo do Acre ela não cobra nada, apenas agradece.

E tudo que o professor Marcos acha é que essa trajetória se deu até aqui, dentro do mais estrito rigor ético, para cumprir o papel de força auxiliar do PSDB e atrapalhar a festa da candidata Dilma logo no primeiro turno?

Acho que precisamos rapidamente nos preparar para uma quarta e terrível crise, que infelizmente começará  também aqui, em algumas cabeças no Acre: a crise de percepção.

Jane Maria Vilas Bôas é antropóloga e membro da assessoria da senadora Marina Silva (PV-AC)

O FENÔMENO DILMA

Fátima Almeida

Se Dilma Roussef for eleita será a mulher mais poderosa do mundo,  será Midas, e tudo que tocar vai virar ouro, como o pré-sal, uma jazida cujo conteúdo está estimado em 100 bilhões de barris de petróleo. Isso poderá colocar em descanso as prolongadas tensões no Oriente Médio e deixar aquelas populações, finalmente, em paz. Poderá, com sorte, desacelerar os investimentos na Amazônia voltados para a extração madeireira, num efeito parecido com o da Zona Franca. E como a Zona Franca, vai patrocinar milhares de toneladas de lixo. A indústria automobilística subirá ao pico da montanha e as organizações ambientalistas e científicas deverão sair dos esconderijos e vir às ruas, às escolas, mobilizar os jovens e a população em geral. O pré-sal é a causa motriz do acirramento dessa campanha.

Dilma tem formação clássica e nunca concorreu a cargos eletivos, não tem aquela formação típica do Serra cuja vida política se constituiu passo a passo com a evolução política do Brasil, ainda desde o movimento estudantil, passando pela Constituinte, afora os ministérios e cargos executivos. Não, a Dilma não tem esse tipo de experiência, muito menos preocupações com o discurso e as práticas da democracia formal. Por isso mesmo, ela sabe que nossa democracia é simplesmente formal. E, pelo modo como se deu a sua ascensão meteórica no cenário nacional, cujo pontapé inicial foi sua atuação como secretária de Minas e Energia no Rio Grande do Sul, não é o tipo que ficará refém de parlamentares, em especial do próprio PT, como disse Arbex Jr., na Caros Amigos, edição de setembro.

Aliás, ele mesmo sinalizou para a possibilidade oposta quando disse que Lula sempre teve autonomia frente ao PT, ou seja, sempre fez o que bem quis, como emplacar o clã Sarney no Maranhão, deixando os petistas maranhenses de cabeça baixa. O PT é outra coisa totalmente diferente do que foi enquanto durou sua escalada ao poder, sob o patrocínio da Igreja, desde o próprio instante em que colocou José Alencar na vice-presidência, uma referencia substantiva para o universo evangélico. A cama está muito bem feita para Dilma. O PT não é mais o “PT”.

Dilma é economista, pensa, respira, age como economista, não é e nunca será uma política de carreira, mesmo porque esse modo de fazer política já desgastou ao ponto de se perder por completo total credibilidade no uso ou modo de usar desse receituário antigo de boticário.

Os petistas históricos, não têm mais papel nenhum a desempenhar na história, foram para o armário, são peças de museus andantes. Dilma é um fenômeno típico, divisor de águas nesse processo. A iminente derrota de Serra não tem a ver com plebiscito como se pensava nessa campanha e sim com o fim desse modo de jogo político quando cada qual vinha com seu currículo, seja de esquerda, seja de direita. Isso não vale mais nada. A política e a economia hoje são uma mesma coisa. Lula percebeu isso de cara porque é mesmo um pragmático e não quis ser peça de museu numa sociedade desmemoriada.

Ninguém pode prever o que virá daqui para frente. Quanto ao Acre, veremos como Dilma irá tratar um estadozinho que se constituiu para beneficiar as famílias falidas com a derrocada do extrativismo para manter e ampliar seu patrimônio e que nunca, até mesmo por falta de uma formação clássica, teve inteligência para se auto-superar. Veremos como Dilma vai tratar um Estado que apresenta como desenho e aporte econômico no jogo da economia nacional um mero corredor para o Pacífico, um mero consumidor da indústria alimentícia, automobilística e eletrônica, um mero depósito de lixo.

Fátima Almeida é historiadora


Destaque para o comentário de Josafá Batista: "Concordo plenamente. O Acre, talvez mais do que nunca, precisa ser colocado diante da sua imagem real no espelho. Nossa primeira necessidade é substituir pela REALIDADE os devaneios febris de um ufanismo provinciano e inútil injetado nas nossas artérias ao longo dos últimos 10 anos. Reconhecer nossa imagem real, a realidade como ela é, nua e crua, é o primeiro passo para a organização política racional, objetiva, mobilizadora da sociedade porque lhe diz respeito diretamente. Eu tenho grande esperança nesse processo de desintoxicação."

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

NO DIA 31 VOTE 77

Queremos de volta o nosso horário, o velho horário acreano

NOTA DA ANPR DEFENDE MPE NO ACRE

"A Associação Nacional dos Procuradores da República vem a público desagravar os Procuradores da República com atuação eleitoral no Estado do Acre, diante das acusações formuladas pelo senhor Jorge Viana e pela ex-Juíza Eleitoral, Arnete Guimarães. Os mencionados cidadãos, em manifestações públicas, sem qualquer fundamento, alegam ser vítimas de atos ilegais e imorais perpetrados por membros do Ministério Público Eleitoral.

A ANPR considera completamente descabidos os ataques dirigidos ao Ministério Público Eleitoral e esclarece que a atuação de seus membros não está afinada a interesses particulares ou político-partidários, agindo sempre pautados pela observância das normas legais, com total independência funcional no cumprimento de sua missão constitucional.

Candidatos a cargos eletivos e ex-integrantes do Poder Judiciário, envolvidos em fatos investigados, devem prestar informações de seus atos à população e esclarecer a lisura de suas condutas, em lugar de efetuar ataques pessoais aos Procuradores da República.

A ANPR reafirma à sociedade que as tentativas de intimidação à atuação dos Procuradores da República serão veementemente combatidas e não interferirão no desempenho das atribuições constitucionais dos membros do Ministério Público Federal.

Brasília, 27 de outubro de 2010.

ANTONIO CARLOS BIGONHA
Procurador Regional da República
Presidente da ANPR"

MPE PEDE CASSAÇÃO DE ANTONIA LÚCIA

O Ministério Público Eleitoral (MPE) no Acre entrou nesta quarta-feira (27) com representação por compra de votos e Ação de Investigação Judicial Eleitoral em que pede a declaração de inelegibilidade e a cassação do registro ou diploma da candidata eleita deputada federal Antônia Lúcia e do candidato eleito deputado estadual Denilson Segóvia, ambos do PSC, além do pagamento de multa de 50 mil UFIRs para cada um.

De acordo com o MPE, os dois, juntamente com outras 10 pessoas, incluindo outros candidatos do PSC, participaram de distribuição de combustíveis no dia 28 de agosto deste ano. "As denúncias de abuso de poder econômico contra Antônia Lúcia já vinham sendo apuradas antes do flagrante de distribuição de combustíveis e envolvem outros ilícitos, todos com a finalidade de usar o poderio econômico da candidata para garantir-lhe a maior soma possível de votos", informa o MPE.

Dentre as atividades comprovadas pelo inquérito conduzido pela Polícia Federal estão relacionados abuso de meio de comunicação social e arregimentação de estruturas de igrejas evangélicas. Nessas atividades outros crimes foram cometidos e identificados, dentre os quais, falsidade ideológica com finalidade eleitoral, formação de quadrilha, peculato, falso testemunho e fraude processual.

O MPF revelou que a forte estrutura montada para a campanha não se restringia aos limites do estado do Acre. A principal linha telefônica usada na coordenação da campanha é de propriedade da Câmara dos Deputados e está sob a guarda do marido da candidata, o deputado federal Silas Câmara (PSC-AM). Também foi flagrado o transporte de quase R$ 500 mil, oriundos do estado do Amazonas, que faziam parte do esquema de “caixa-dois” da campanha.

Boa parte das provas, inclusive o flagrante em relação ao transporte de dinheiro para “caixa-dois”, foram obtidas pela Polícia Federal mediante interceptação telefônica autorizada judicialmente. Foram flagradas conversas e mensagens da candidata com sua coordenação para orquestra atos ilícitos, entre os quais a tentativa de livrar-se da acusação de distribuição de 1,2 mil litros de combustíveis.

O MPE revelou, ainda, que a candidata chegou a enviar mensagens de celular ordenando a confecção forjada de 70 contratos de locação de veículos para justificar suposta carreata dos candidatos do partido que controlado por ela no Acre. Segundo as mensagens, os contratos seriam “a única defesa para nos livrar do cancelamento do registro de todos os candidatos do PSC”.

Com relação ao fato específico da distribuição de combustível, a investigação demonstrou que Antônia Lúcia foi a responsável pela determinação e pela organização de como seria feita a distribuição, inclusive limitando a quantidade em 1,2 mil litros.

Os candidatos a deputado estadual pelo PSC Romildo Magalhães, Missionário Gilson, Lana Cavalcante, Michela Auto, Reidivan Rocha, Manoel Magalhães, conhecido como Nery, também foram denunciados. Eles podem perder o registro da candidatura e ficar inelegíveis por oito anos, além de pagar a multa prevista em lei.

Os colabores e funcionário do partido Antônio Israel Mesquita, Emmanuel Rodrigues de Souza Antonio José da Silva Santana e Luiz Gustavo da Silva Azevedo também foram denunciados e poderão ter declarada sua inelegibilidade pelo prazo de 8 anos, além do pagamento da multa de 50 Mil UFIRs.

A BAIXARIA


Ovo frito, carne moída, cuscuz, tomate e cebolinha. Está pronta a baixaria, uma iguaria que o povo acreano aprecia para quebrar o jejum. Evite pitadinhas de Dilma Roussef e José Serra ou da Frente 55 (leia), defensora da hora legal alterada pelo senador Tião Viana (PT), sem consulta popular, para agradar a Rede Globo, que o agora governador eleito considera "patética" por causa da cobertura da disputa presidencial.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

AO DEBATE

SINAIS DA POLITICAGEM



Como o governador do Acre Binho Marques (PT) e o prefeito de Cruzeiro do Sul Vagner Sales (PDMB) não dialogam porque são adversários políticos, a população da cidade, na região mais ocidental do País, é obrigada a enfrentar uma inusitada sinalização de trânsito.

JORGE KALUME

(1920-2010)


O ex-governador do Acre, ex-senador e ex-prefeito de Rio Branco morreu aos 89 anos na tarde desta terça-feira (26) na casa dele, em Brasília.

Kalume, que lutava contra um câncer no intestino há um ano, será enterrado no cemitério Campo da Esperança, em Brasília.

Ele nasceu em Belém (PA) em 3 de dezembro de 1920. Era filho do imigrante sírio Abib Moisés Kalume e da libanesa Latife Zaine Kalume.

Deixa três filhos -a jornalista Márcia, o médico Cláudio e o biólogo Dario-, três netos, além de herdeiros na política acreana.

Na semana passada, Kalume recebeu a visita do governador eleito Tião Viana (PT).

Nomeado pela ditadura militar, Kalume governou o Acre no período de setembro de 1966 a março de 1971.

Na foto (abaixo) Kalume e o prefeito de Rio Branco Raimundo Angelim (PT) cumprimentam-se no centro da cidade.

O MARCO FINAL DA FRENTE POPULAR DO ACRE?

POR JÚLIO EDUARDO GOMES PEREIRA

Não sendo professor, cientista político ou aposentado, mas presidindo a comissão de ética do Partido Verde no Acre, tenho o dever da ousadia de tentar auxiliar o professor Marcos Inácio Fernandes a embarcar na atualidade.

O professor Anthony Giddens, na introdução de “O debate global sobre a Terceira Via”, publicado pela Fundação Editora da UNESP, cita entre muitas excelentes avaliações:

“Existe um reconhecimento geral quase que por toda parte de que as duas vias que têm dominado o pensamento político desde a Segunda Guerra Mundial fracassaram ou perderam a pujança.”

“Os partidos esquerdistas estão sendo forçados a criar algo novo, uma vez que as doutrinas centrais do socialismo já não são aplicáveis.”

Imagino como deve ter sido difícil para aqueles que avaliam a política exclusivamente pelo retrovisor ver acontecer a “onda verde”.

Uma parcela significativa do eleitorado brasileiro optou pelo novo, pelo debate, pela oportunidade de pensar melhor, pelo impedimento da forma reduzida de uma eleição geral que o plebiscito representa e demonstrou a extinção de disputa entre o bonzinho e o mauzinho.

Também considero complexo ver uma grande liderança partidária mudar de casa, mas não de rua, por se sentir impossibilitada de fazer seu antigo partido reassumir os compromissos que fez com a sociedade. Está claro que Marina Silva não saiu do PT, mas sim que o partido se afastou daquilo que o fez ser escolhido e contado com suas energias para crescer. E como ela foi fundamental para isso.

Compreendo a tática de tentar rotular de neutralidade o que, na verdade, é independência; talvez uma decisão impossível em siglas partidárias que administram seu capital social como manadas.

Quando acontece a contribuição do Partido Verde para enriquecer e atualizar os programas dos candidatos que disputam o segundo turno, a elegância política e a ética excluem qualquer traço de posição neutra.

E se fôssemos falar de higiene, os brasileiros e as brasileiras sabem para onde destinar os produtos de limpeza, certamente nunca tão bem endereçados na história deste país.

Para falar de decepção, ficamos, os verdes, impressionados com a decisão rápida e cirúrgica do presidente do Brasil ao optar pelo agronegócio e pelo desenvolvimentismo cego como caminho desconectado da realidade e necessidade mundiais de sustentabilidade ao escolher um membro de sua equipe muito pouco afeito à realidade local para conduzir o futuro da Amazônia brasileira.

E para abordar o baixo nível, queremos agradecer à nossa Marina por ter sido decisiva para qualificar a campanha eleitoral e priorizado o debate em vez do embate, como medida eficaz de evoluir a consciência política no país, o que não estamos observando acontecer neste turno do processo eleitoral.

Para não fazer o jogo daqueles que não compreendem ainda que o voto pertence ao eleitor e não a partidos e seus supostos líderes, tenho me posicionado como ativista político e, assim, explicado o meu próximo voto, àqueles que me perguntam ou debato sobre o futuro, para a candidatura que avalio como mais importante para o meu Estado e considerando o compromisso pretérito do PT com o Acre.

Não posso,  entretanto, deixar de reconhecer uma ponta de ressentimento com a falta de agradecimento que o Partido Verde do Acre deveria ter recebido por ter seguido o pedido de Marina de não sair nessa eleição com chapa completa e, assim, contribuir com a unidade da Frente Popular do Acre. Se a decisão tivesse acontecido de acordo com a posição inicial do PV do Acre e com a executiva nacional do partido, a eleição aqui não teria, com certeza, sido concluída ainda.

Estou convicto de que a Frente Popular do Acre foi responsável pela maior obra política e social para o Acre moderno – o resgate da autoestima dos acreanos- mas, companheiros, convenhamos que se o modelo e as posturas atuais permanecerem é possível que as eleições de 2010 sejam o marco final deste importante ciclo de 20 anos.

E me surpreende que alguns ideólogos e cientistas políticos da FPA, ao invés de avaliarem seus erros, queiram ressuscitar antigos fantasmas de teorias conspiratórias e uma velha separação entre direita e esquerda que já foi jogada no lixo com suas alianças recentes.

A direita e a esquerda de hoje vestem verde, sim. E vestem também vermelho e azul, quando lhes convém. Quem não percebe isso, acaba destratando aliados fiéis e abraçando traidores só por causa da cor da camisa.

Júlio Eduardo Gomes Pereira é médico e dirigente do Partido Verde no Acr. E atenção patrulha: o artigo foi recebido com  o título "Para aqueles que ainda acham que existe direita e esquerda na política". Alterei porque estava longo.

MPF QUESTIONA JORGE VIANA

O senador eleito Jorge Viana (PT) terá que prestar informações sobre supostas declarações que podem imputar prática ilícita a membros do Ministério Público Federal (MPF) no Acre.

Na edição de domingo (24), do jornal Página 20, de Rio Branco (AC), Viana disse acreditar (leia) que "pessoas ligadas ao Ministério Público Eleitoral possam estar agindo fora do que estabelecem a Constituição e as leis deste País".

O MPF enviou nesta segunda-feira (25) ofício ao ex-governador, assinado pelo procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, requisitando que o candidato eleito confirme ou não as declarações.

Em caso positivo, o procurador pede que seja informado o nome, ou nomes, das pessoas que estariam agindo conforme as declarações publicadas, devendo, também, ser especificado o ato ilegal cometido.

De acordo com o MPF, após o recebimento das informações, que devem ser prestadas em 10 dias, o órgão decidirá sobre a necessidade de abertura de investigação cível ou criminal.

Viana declarou ao jornal que as reportagens que têm sido publicadas no país envolvendo-o em denúncia de suposta compra de votos são "absolutamente infundadas e claramente plantadas".

QUEM ESCOLHE SOMOS NÓS


Nesta quarta-feira (27), a partir das 19 horas, na Biblioteca da Floresta, debate sobre o referendo que definirá a hora legal do Acre. Em defesa da manutenção da mudança, o professor Beneilton Damascento e o empresário Fagner Calegário. Toinho Alves e eu seguiremos em defesa da volta da hora tradicional, de Deus, como dizem no Juruá. O mediador será Fred Perillo.

O projeto "Quem Escolhe Somos Nós" foi idealizado pelos publicitários Janu Schwab e Rodrigo Pires com o objetivo de estimular visão mais ampla e madura a respeito da democracia no Acre.

- Na decisão do referendo não deve pesar o lado político-partidário. O que está em jogo é uma questão técnica que afeta a vida das pessoas. Portanto, as pessoas devem ser esclarecidas sobre cada uma das opções, sem distorções. Em ambas as opções existem vantagens e desvantagens. E a ideia do debate é expor cada uma delas - comenta Pires.

Discordo dele: o que mais pesou para a mudança da hora legal do Acre, que ocorreu sem consulta popular, foi o "lado político-partidário" - o projeto do senador Tião Viana foi sancionado como lei pelo presidente Lula. Ambos são políticos do PT.

Como dissociar a mudança e o referendo da política ou do PT ou do PMDB?

E onde fica o deputado Flaviano Melo (PMDB), que nos restituiu o direito de escolher a hora legal a partir do decreto legislativo de sua autoria para realização do referendo?

Ao debate.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

CARTA-RENÚNCIA DE ARNETE GUIMARÃES

"Saio de cabeça erguida, com a certeza de que não cometi nenhum ato ilícito do qual venha a me arrepender"


"Senhor Presidente, nobres pares, senhor Procurador, seleta assistência.

Dignidade é algo que não se compra. É um princípio que deve ser encarado como basilar do ser humano.

Nos últimos dias, a minha honra, dignidade e capacidade técnica vêm sendo postas em xeque por acusações levianas, órfãs de verdade e com o fito claro de manter acessa a chama de uma disputa eleitoral superada no último dia 3 de outubro.

Infelizmente, há pessoas que no uso das suas atribuições não têm limites. São capazes das maiores atrocidades para atingir os seus objetivos, mesmo que esses não sejam pautados nos princípios éticos e morais. São os defensores da tese de que os fins justificam os meios.

Tenho mais de 30 anos de vida pública sem que haja uma pequena nódoa que desabone a minha conduta profissional ou pessoal. A maioria dos cargos que exerci foi meio de concurso público.

Sou advogada há quase 25 anos. Ao longo desse período, tenho procurado exercer a minha profissão com ética, transparência e respeito às leis do meu Estado e do meu País.

A seriedade profissional e a minha história de vida me credenciaram para ser indicada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Seccional Acre, para compor a Corte Eleitoral do Estado do Acre.

Dentro dos critérios técnicos, fui nomeada juíza eleitoral, pelo presidente da República.

Desde o primeiro dia na Corte procurei honrar aqueles que me indicaram e que me nomearam. Tenho certeza disso. Mas, no último dia 2 de outubro a história começou a mudar. Um processo que na realidade foi dirigido à Corregedoria, por se tratar de atos de juiz togado, não sei por que motivo foi distribuído a mim.

Membros do próprio Ministério Público Eleitoral (MPE/AC) decidiram pôr a minha atuação em suspeição. Não sou mulher para viver sob suspeita de quem, na verdade, busca chegar aos seus objetivos passando por cima da honra e da dignidade de cidadãos e cidadãs de bem.

São pessoas que querem chegar aos seus fins, não importando se os meios são os mais recomendáveis sob o ponto-de-vista da ética e da decência.

Não quero ser o trampolim para que elas galguem os seus objetivos poucos claros para a sociedade, mas nítidos para quem conhece a forma que costumam agir.

Nesse momento, é importante deixar expresso o respeito e a deferência especial que tenho para as pessoas que me acolheram com o calor próprio dos acreanos neste Tribunal.

Agradeço ao apoio recebido por meus nobres pares, assim como demais servidores desta Corte, no desempenho das atividades próprias da magistratura eleitoral. Mais que isso, agradeço à família do TRE que, infelizmente, nesta data, sou obrigada a deixar.

Sou grata também à direção da Ordem dos Advogados do Brasil, que confiou a minha pessoa essa tarefa de representar a entidade na Justiça Eleitoral.

Mas, mesmo com toda a gratidão, preciso preservar aqueles a quem eu amo, que são os meus familiares, meus amigos e a minha história de vida.

Não posso ficar sendo execrada publicamente tendo a certeza de que não devo nada. Estando certa que todas as minhas ações e decisões foram pautadas na legalidade.

Por estar cônscia de ter agindo com transparência, ética é dentro da lei é que preciso ficar livre para buscar na Justiça a reparação dos danos causados a minha honra e a minha moral.

Por isso, neste instante, renuncio ao cargo de juíza desta Corte Eleitoral. Saio de cabeça erguida, com a certeza de que não cometi nenhum ato ilícito do qual venha a me arrepender.

Estou certa de que história vai mostrar quem realmente está com a razão.

Muito obrigada.

Rio Branco, 25 de outubro de 2010"

Comentário: a reportagem do Terra era a única presente na sessão extraordinária do Tribunal Regional Eleitoral em que a advogada Arnete Guimarães renunciou ao cargo de juíza. No áudio abaixo é perceptível a emoção (voz embargada e choro) da ex-juíza.

ARNETE GUIMARÃES CHORA E RENUNCIA


A advogada Arnete Guimarães renunciou na manhã desta segunda-feira (25) ao cargo de juíza do Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC) após ter sido filmada e fotografada pela Polícia Federal visitando o apartamento da engenheira Dolores Nietto, mulher do senador eleito Jorge Viana (PT).

A decisão de Arnete Guimarães ocorreu durante sessão extraordinária sob a alegação de que está sendo vítima de uma campanha difamatória. A advogada chegou a chorar ao se despedir da corte eleitoral após três meses no cargo.

Ex-integrante do governo do PT no Acre, Arnete Guimarães concorreu à vaga de juíza eleitoral indicada pela seccional da OAB no Acre. Foi nomeada pelo presidente Lula e tomou posse como juíza titular na classe de jurista para o biênio 2010/2012.

Clique aqui para ler mais no Terra Eleições.

GÊNESE DA MUDANÇA DA HORA LEGAL DO ACRE

Roberto Feres

No início de 2001, brincando com alguns instrumentos de geoprocessamento, produzi um breve estudo que mostrava que o modo como nos adequávamos ao fuso horário no Acre fazia com que perdêssemos muito tempo de dia claro pela manhã, trabalhássemos mais tempo sob o Sol a pino e tivéssemos um dia curto, com o Sol se pondo muito cedo.

Passei a fomentar a idéia de que a sociedade acreana deveria por em pauta a discussão da mudança do fuso-horário local no intuito de aproveitar melhor o dia, inclusive proporcionando economias em diversas atividades e serviços.

A partir daí, algumas pessoas trataram o tema com algum interesse, em especial o Dr. Alceu Ranzi, que publicou artigo em meados de 2004 contando um pouco sobre a origem e legislação da Hora Local e colocava em discussão a seguinte questão: Será que isto (mudar o fuso horário do Acre) acertaria o nosso relógio com o sol e viria a facilitar nossa vida?

Ainda em 2004 o deputado estadual Moisés Diniz comprou a idéia e a colocou em discussão pela sociedade, mas enfrentou as barreiras da falta de interesse geral sobre o assunto. Talvez convencido de que a mudança seria boa, arrastou suas tentativas até meados de 2007, quando publicou um quase tratado sobre o tema no seu Blog do Líder.

Quando a questão já parecia morta, numa manhã de terça-feira fria de junho de 2008, o Acre inteiro acordou mais cedo. Sem ninguém combinar o jogo, a mudança imposta por determinação legal causou transtornos, muito aborrecimento e nenhuma economia para o povo em geral. A chiadeira foi geral.

Aos poucos, observando o que acontecia com o Acre no novo horário, percebi que ele fazia com que as pessoas, ao invés de aproveitarem melhor o tempo, passassem a descansar menos e a ter menos tempo para o lazer.

Aquela horinha a mais de sono, pela manhã, foi perdida e o turno da tarde foi prolongado com o novo horário do pôr-do-sol. Antes, a tarde era mais curta e com temperatura mais agradável. Agora começa com o Sol ainda alto e é mais longa.

Pergunte a qualquer pessoa do povo e a resposta é que todos acreditam que estão trabalhando mais e descansando menos depois da mudança do horário no Acre.

O que inicialmente me pareceu que seria uma vantagem, ao aproximar o nosso horário do restante do Brasil, não foi apropriado pela população. Ao contrario, somente promoveu discórdia e problemas de adaptação.

Felizmente, no próximo dia 31, o povo do Acre terá a oportunidade de corrigir a mudança que há dois anos questiona. O referendo por si já é uma grande conquista contra a forma autoritária com que o assunto foi inicialmente resolvido. Serve para nossos políticos refletirem um pouco sobre representatividade e legitimidade.

Há quase 10 anos pensando no assunto, estou convencido de que o acreano era mais feliz no horário antigo e resolvia melhor sua agenda diária de trabalho e descanso. Por isso vou votar no 77, dando meu "não" à manutenção da lei que já gerou tanta discórdia.

Roberto Feres é engenheiro civil, perito da Polícia Federal, doutor em ecologia e ex-professor da Universidade Federal do Acre.

domingo, 24 de outubro de 2010

ABRAHIM FARHAT NA PASSARELA


Treze quilos mais leve, o lendário militante Abrahim Farhat, o Lhé, foi destaque na noite deste domingo em desfile de moda da Feira Pan-Amazônica, no Horto Florestal de Rio Branco. "Alá é o Todo Poderoso e a vitória será grande", exibia Lhé, em árabe, na camiseta amarela.

POLÍTICA NO BRASIL SUBSTITUI A ANTROPOFAGIA

POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE

“A política é a melhor alternativa que a humanidade encontrou para substituir o maior prazer que um ser humano pode ter: bater até à morte para depois comer o fígado do outro, abocanhando-o com a carne ainda quente e o sangue ainda fresco. Quem não está disposto a reconhecer isso, não consegue superar a própria vontade de devorar o outro. Por isso, se num debate político te chamo de criminoso e te xingo, fica contente, isso ainda é melhor do que você ser servido à minha mesa”.

Quem diz isso é meu amigo Henrique Sobreira, professor da UERJ, crítico, irônico, debochado, passional, lúcido, gozador e, sobretudo, fazedor de frases. Para relativizar a oposição entre civilização e barbárie, Henrique lembra que os maiores atos de violência humana sempre foram cometidos por pessoas que se autoproclamaram civilizadas e consideram que “o outro” era alguém que devia ser “educado”. Isso pode ser comprovado nos últimos cinco séculos: de Isabel - a Católica e Dom Manoel - o Venturoso, até os Georges Bushinho e Bushão. Os índios e os mulçumanos que o digam.

No Brasil, pelo menos nas campanhas eleitorais, a política substituiu a antropofagia. Salvo o bispo de sugestivo nome Sardinha, ninguém foi jantado e devorado pelo adversário, ainda que pequenas violências realizadas dentro de certos limites e hipócrita ou sinceramente condenáveis, tenham sido cometidas ao longo da história, como mostram exemplos mais recentes.

Cantando “espada de ouro quem tem é o marechal”, eleitores do marechal Lott cuspiram na cara de Jânio Quadros; o general Figueiredo chamou os estudantes de Florianópolis pra porrada; jogaram ovo e apedrejaram o Mário Covas; atiraram uma galinha preta na Marta Suplicy; esbofetearam o Collor em Niterói; lançaram uma torta na cara do Berzoini, então presidente do PT. Um velhinho deu umas bordoadas no Zé Dirceu. Vaiaram o presidente Lula na abertura do PAN. Esses gestos de violência não deixaram sequelas físicas ou morais.

Dois Serra
Um dia, caminhando pelo calçadão de Icaraí, em Niterói, encontrei um amigo, também professor da UERJ, Ronaldo Coutinho, um doce radical, que se arrastava, todo esparadrapado, exibindo hematomas pelo corpo. Dias antes, ele havia dado um soco no Collor e os seguranças moeram-lhe o corpo de porrada. Apesar de dolorido, estava feliz, feliz da vida: “Estou quebrado, mas acertei o pústula” – dizia, rindo, como um menino travesso. Confesso que fiquei na fronteira da política e do canibalismo, quando invejei a façanha do Coutinho. Ele fez o que eu e a metade do povo brasileiro queríamos fazer. Estou orgulhoso de ser seu amigo.

E isso porque a bofetada no Collor foi mais simbólica do que física, se situou entre a sapatada no Bushinho e a estatueta de metal lançada contra o Berlusconi na Itália. Agora acertaram José Serra com uma bolinha de papel, que assumiu várias formas: “fita adesiva”, “artefato”, “tampa de garrafão de água mineral”, “objeto contundente”, “projétil”, até chegar a uma “bobina de papel crepe que arremessada com força pode provocar danos graves na pessoa atingida” segundo o bobinólogo Merval Pereira, articulista do jornal O Globo. E é aqui que o fiofó da cotia assovia, ou como poderia dizer Orozimbo Nonato: Hic culum cotiae sibilare.

A cotia assovia quando digo que admiro o José Serra. Sinceramente. Sem ironia. Juro. Faço um juramento amazônico: quero ver minha mãe mortinha no inferno, quero que Santa Luzia me cegue se estou mentindo. Mas o Serra que eu admiro é o de carne e osso, que nasceu pobre, filho de um feirante, ex-presidente da UNE, que amargou o exílio, lutou pela redemocratização do país, foi deputado, senador, prefeito, governador, ministro da saúde – bom ministro. Aquele que no início da campanha reconhecia os acertos do governo Lula. Nesse até que dava pra votar. Mas ele não é candidato.

O candidato é o outro Serra, aquele conivente com a mídia conservadora - que o inventou - comprometido com interesses dos setores mais atrasados e obscurantistas do país, arrogante, gigolô do sagrado e da religião, dono da verdade. Aquele cuja mulher declara que a adversária é a favor de matar criancinhas, que quando questionado sobre isso posa de vítima e baixa o nível do debate, que usa o tema do aborto no palanque eleitoral, que se deixa liderar pelo seu vice Indio da Costa – um paspalhão – em política externa e de segurança. E ai Serra perdeu: na emblemática escolha do vice.

A credibilidade
Nesse outro Serra, metamorfoseado em Opus Dei, que espetaculariza sua fé na Virgem de Aparecida, eu não voto, embora o respeite, porque ele é o candidato de mais de 40 milhões de brasileiros, alguns deles amigos muito próximos, com quem mantenho fortes laços afetivos, mesmo se nesse momento um de nós vai pra lá e o outro vem pra cá. No Serra que não voto é no Serra da Rede Globo, que arma, desinforma, sataniza, que zomba da minha inteligência, que acha que o cidadão é um otário, que esqueceu os gritos do povo nos comícios das Diretas Já: “O povo não é bobo, abaixo a TV Globo”.

Nessa semana, os telejornais da Rede Record e do SBT mostraram que Serra foi atingido por uma bolinha de papel atirada por um grupo de mata-mosquito que ele demitiu quando ministro da Saúde. O Jornal Nacional dedicou sete longos e caríssimos minutos para “provar” que a bolinha de papel era só parte da história, tinha havido outra agressão. Apresentou imagens nebulosas, interpretadas por um perito de reputação duvidosa, que diz que está vendo aquilo que não estou vendo, embora olhemos as mesmas imagens. O atentado, então, justificaria que Serra procurasse o médico, ex-secretário de saúde do Cesar Maia, para fazer uma tomografia computadorizada.

Francamente. Por serdes vós quem sois! Não exagereis para não serdes exagerado. Imaginem vocês se depois da cuspida que levou na cara, o histriônico Jânio Quadros exigisse um exame de abreugrafia, desconfiado de que o eleitor de Lott era certamente um tuberculoso que numa guerra química queria contaminá-lo. Serra é o primeiro paciente no planeta que faz tomografia por causa de um arremesso de uma fita crepe. Num país gozador como o Brasil, ele passou a ser objeto de piada, quando merecia contar com nossa solidariedade, se o fato não fosse manipulado e hiperdimensionado.

O episódio de violência, mais que nada simbólica, tem que ser condenado de qualquer forma, com veemência, com a mesma veemência com a qual devemos rejeitar sua exploração política, da forma mais torpe e manipuladora de factoides. Apesar disso, é preciso discordar também da intervenção do Lula que, como presidente da República, representa todos os brasileiros e não podia bater boca com um candidato. Não cabia a ele esse papel.

Numa época em que não havia escrita, no século VI antes de Cristo, na Grécia, um ex-escravo, chamado Esopo, que tinha o dom de narrar, contava entre outras a história de Pedro e o Lobo. Pedro, pastor de ovelhas, todo dia enganava a população gritando: “Olha o lobo!”. No dia em que o lobo apareceu, efetivamente, ninguém acreditou nos seus gritos. Quem acredita num mentiroso contumaz? Lembrei-me dessa história vendo o Jornal Nacional e a primeira página de O Globo, nessa sexta-feira. Assim, quando no domingo, 24 de outubro, o Globo escrever que é domingo, 24 de outubro, duvide, procure outras fontes antes de vestir sua roupa dominical.

P.S.: Às vezes, autoritário. Às vezes, ranzinza e ligeiramente rabugento. Sempre, amigo dos índios Guarani. Armando Barros, professor da UFF, parceiro em tantos projetos, nos deixou nesse sábado, com muita saudade. Seus alunos, seus colegas e os guarani choram a perda.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti .

sábado, 23 de outubro de 2010

CASO ARNETE GUIMARÃES

Advogados sugerem afastamento da juíza eleitoral. Leia a nota:

"A Constituição Federal, em seu artigo 120, parágrafo primeiro, inciso III, determina que os Tribunais Regionais Eleitorais sejam integrados com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Estadual.

A Corte Eleitoral do Estado do Acre é composta por 07 (sete) juízes. Dois juízes escolhidos dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça. Dois juízes de direito escolhidos pelo Tribunal de Justiça. Um juiz do Tribunal Regional Federal e, por nomeação pelo Presidente da República, de dois juízes indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil, de notável saber jurídico e idoneidade moral.

A garantia da verdade eleitoral, exercida pelos juízes e Tribunais Eleitorais, é fundamental para que a República Federativa do Brasil seja efetivamente um Estado Democrático de Direito.

A Ordem dos Advogados do Brasil, ao longo da História recente do país, vem exercendo papel fundamental na defesa do Estado Democrático de Direito, se constituindo em verdadeira guardiã das instituições públicas do país.

Em recente julgamento na Corte Eleitoral do Estado do Acre, registrou-se posicionamento da juíza Arnete Guimarães, favorável a um determinado candidato, que ganhou feições de escândalo nacional. A juíza, segundo denuncia do Ministério Público Eleitoral, foi filmada e fotografa pela Policia Federal,  saindo da residência do candidato  ao senado Jorge Viana, interessado no julgamento do qual a juíza mencionada era relatora.

Em que pese a juíza indicada pela OAB gozar do benefício constitucional da presunção de inocência, mas, dada a gravidade do fato, que macula indelevelmente a verdade do pleito eleitoral, o Estado de Direito Democrático, a Justiça Eleitoral e, principalmente, a Ordem dos Advogados do Brasil, nós, advogados subscritos, pela presente nota, manifestamos o nosso interesse na mais ampla  e rigorosa apuração da denúncia.

Por derradeiro, opinamos pelo afastamento da juíza Arnete Guimarães do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Acre, indicada pela OAB/AC e nomeada pelo presidente da República, até esclarecimento final e definitivo dos fatos.

Assinam a presente os advogados abaixo, conclamando a sociedade civil a nos acompanhar na fiscalização da VERDADE ELEITORAL.

Silvano Santiago

Ex-candidato a Presidência da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção do Acre.

Sanderson Moura

Presidente da Associação dos Advogados Criminalistas do Estado do Acre

Valdir Perazzo Leite

Defensor Público e Ex-Presidente da Associação dos Defensores Públicos do Estado do Acre.

José Wilson Mendes Leão

Advogado e Presidente da Comissão Executiva Municipal do PSDB/AC.

José Carlos Rodrigues dos Santos

Defensor Público dos Tribunais.

Afrânio de Lima Pereira

Advogado e Ativista Político.

Wherles Fernandes da Rocha

Major da Pollícia Militar do Acre e Deputado Estadual Eleito pelo PSDB

Alonso Gomes de Andrade
Vereador PSDB

Francisco José  Benício Dias
Acadêmico de Direito

Francisco Nazareno da Silva
Secretário Municipal do PSDB

Valtin José  da Silva
Conselho de ética do PSDB

Hamilton de Almeida Moreira
Advogado"

LUZES DA RIBALTA - CHARLIE CHAPLIN

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

"TRE PODE ESTAR AGINDO FORA DA LEI"

Senador eleito Jorge Viana reage em nota 

Conforme o Terra havia antecipado, o senador eleito pelo PT e ex-governador do Acre, Jorge Viana, distribuiu nesta sexta-feira (22), em Rio Branco, uma nota à imprensa na qual nega que tenha tentado barrar investigação do Ministério Público Eleitoral (MPE) sobre suposta compra de voto.

Viana também nega que tenha telefonado para a juíza do Tribunal Regional Eleitoral do Acre, Arnete Guimarães, para pedir ajuda no sentido de reaver seus computadores apreendidos pela Polícia Federal e impedir a análise dos dados. O senador eleito afirma que jamais manteve contato pessoal ou por telefone com a juíza, embora uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo tenha afirmado que a conversa foi gravada com ordem judicial.

"Acho estranho alguns procedimentos ocorridos em relação a este fato no Tribunal Regional Eleitoral do Acre.  É possível que pessoas que deveriam guardar a Constituição e as leis possam estar agindo ao arrepio de ambas. Mas este é um assunto para a Justiça. Que a verdade prevaleça!", conclui Viana.

Clique aqui para ler a nota na íntegra no Terra Eleições.

JORGE VIANA SE DIZ VÍTIMA DA MÍDIA E DO TRE

O senador eleito pelo PT e ex-governador do Acre, Jorge Viana, negou nesta sexta-feira (22) que tenha tentado barrar uma investigação do Ministério Público Eleitoral (MPE) sobre suposta compra de voto. "Estou sendo vítima de uma campanha difamatória da mídia e estou elaborando uma nota de esclarecimento que será distribuída nas próximas horas", afirmou Viana ao Terra por telefone.

"Se existem disputas na corte eleitoral do Acre, ela que resolva os seus problemas. O que não posso admitir é ser alvo das insanidades que estão sendo publicadas", acrescentou Viana.

O Terra noticiou em primeira mão, no começo do mês, uma operação em que a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão nas assessorias de comunicação da prefeitura de Rio Branco, da Assembleia Legislativa, do governo do Acre, no gabinete de campanha do então candidato a governador Tião Viana (PT) e na sede da estatal TV Aldeia.

Posteriormente, no dia 3 de outubro, o Tribunal Regional Eleitoral do Acre realizou uma sessão para votar agravo regimental do MPE contra uma liminar que deferia mandado de segurança impetrado pelo PT na tentativa de anular um mandado de busca e apreensão do computador do ex-governador.

A apreensão do equipamento pela Polícia Federal, na véspera do primeiro turno, decorreu de uma ordem da Justiça Eleitoral em busca de indícios de suposta corrupção eleitoral de Jorge Viana, irmão do governador eleito Tião Viana.

Clique aqui para ler mais no Terra Eleições.

JORGE VIANA TENTOU BARRAR INVESTIGAÇÃO

Felipe Recondo

Senador eleito pelo Acre e cotado para ser ministro em um eventual governo Dilma Rousseff, Jorge Viana (PT) tentou barrar uma investigação de suspeita de compra de voto pelo Ministério Público. Para isso, valeu-se da amizade com a juíza eleitoral Arnete Guimarães, do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Acre.

Uma denúncia anônima levou a Polícia Federal a apreender documentos e computadores no comitê de campanha e na casa de Jorge Viana, irmão do governador eleito, Tião Viana (PT), em Rio Branco.

De acordo com investigadores, havia nos computadores listas com nomes de eleitores, números de títulos eleitorais e respectivas seções em que essas pessoas votariam. A suspeita é de que essas informações serviriam para compra de votos.

Ao saber da operação, na véspera do primeiro turno, conforme investigadores, Jorge Viana telefonou para a juíza pedindo ajuda para reaver os computadores e impedir que a Polícia Federal analisasse os dados. A conversa foi gravada com autorização judicial.

Os dois combinaram de se encontrar no apartamento de Dolores Nieto, mulher de Jorge Viana, para conversarem sobre o caso.

Clique aqui para ler mais no jornal O Estado de S. Paulo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

CORTE DE ENERGIA NO COMÍCIO DO PSDB



O governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), teve que interromper o discurso na noite desta quinta-feira (21), em Rio Branco (AC), após corte no fornecimento de energia elétrica no Ginásio do Sesc.

Alckmin, que participava de comício em apoio ao presidenciável tucano José Serra, chegou a discursar cerca de um minuto quando começou o corte no fornecimento de energia.

Aproximadamente mil pessoas compareceram ao comício. Alckmin discursou no escuro, sem uso de equipamento de som.

O diretor operacional da Eletrobras no Acre, Celso Mateus, negou que a interrupção tenha motivação política.

"Nós estávamos com problema de sobrecarga no alimentador 5, do bairro São Francisco. Fomos transferir carga para o alimentador 4 e com isso interrompemos o fornecimento de energia para o local onde estava sendo realizado o comício. Estávamos realizando uma manobra puramente técnica. A verdade é essa, mas sei que ninguém vai acreditar na minha cara. Não foi nada partidário, acredite", afirmou Mateus.

Piada

Na quarta-feira (20), a direção da TV-5, afiliada da Band no Acre, negou ter censurado uma piada de Marco Luque no programa "CQC". "No Acre, não existe bombeiro. Eles usam elefantes para apagar incêndio", disse Luque na transmissão.

O áudio da piada de Luque foi cortado durante a transmissão do programa, que é gravado por causa da diferença de duas horas entre São Paulo e o Acre.

O dono e superintendente da TV-5, Pedro Neves, alegou que Rio Branco sofre com frequentes oscilações de energia e que isso altera a qualidade do sinal.

Neves disse ao Portal Imprensa que o áudio da transmissão do "CQC" teria sido afetado pela instabilidade da rede elétrica.

MAGO BINHO



Do governador do Acre, Binho Marques (PT), ao instalar a Secretária de Saúde no prédio onde funcionava a sede do falido Banacre:

- Vamos chegar ao final do ano com o melhor sistema de saúde da Amazônia. A saúde vai ser um grande sucesso - disse.

Quando assumiu o governo, prometeu transformar o Acre, até o final de 2010, no melhor lugar para se viver na Amazônia.

Após o mandato, vai morar em Brasília, onde tentará doutorado na UnB e poderá até montar empresa de consultoria.

Do signo de escorpião, aos 48 anos de idade (aniversaria dia 29 de outubro), Binho Marques descansará com uma pensão vitalícia de R$ 22 mil custeada pelo contribuinte acreano.

Como os deputados da atual legislatura definem o salário do próximo governador, vem aumento do valor da pensão por aí.
 
Viver longe do Acre é maravilhoso.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ENERGIA ELÉTRICA AFETA CQC NO ACRE

TV-5 nega ter censurado piada de Marco Luque

Desde a última segunda-feira (18), internautas do Acre têm protestado contra uma suposta censura durante a transmissão do programa "CQC" por parte da afiliada da Band no estado, a TV-5.

De acordo com alguns telespectadores, a TV-5 teria retirado o áudio do programa quando o humorista Marco Luque fez uma piada se referindo ao estado. "No Acre, não existe bombeiro. Eles usam elefantes para apagar incêndio", disse Luque na transmissão.

Pela diferença de fuso-horário entre São Paulo 9onde o sinal do programa é gerado0 e o Acre, a afiliada teria retransmitido a última edição do "CQC" alterada.

"Como a programação é gravada, a TV-5, afiliada à Rede Bandeirantes no Acre, censurou @marcoluque durante exibição do CQC", disse o jornalista acreano Altino Machado em seu perfil no Twitter (@AltinoMachado).

"Só para constar mesmo: o corte súbito na piada sobre o Acre no CQC ontem foi ridículo. Só perdeu pro ET Bilu", comentou a internauta @maymontenegro.

Procurado pela reportagem do Portal IMPRENSA, o dono e superintendente da TV-5, Pedro Neves, desmentiu a censura e lamentou a repercussão negativa. Segundo Neves, a capital acreana Rio Branco sofre com frequentes oscilações de energia, o que altera a qualidade do sinal. Na última segunda, o áudio da transmissão do "CQC" teria sido afetado pela instabilidade da rede elétrica, que danificou temporariamente os equipamentos de transmissão.

"Isso acontece com outras afiliadas", disse Neves. "Falei com o técnico que solta o programa sobre esse episódio e ele disse que estava tudo normal", contou. "No próximo sábado (23)", ressaltou, "o programa vai passar de novo" e a acusação de censura será esclarecida.

A hipótese de falha técnica também foi apontada pelo Diretor da TV-5, Paulo Henrique. "Como a gente iria censurar um programa nosso?", indagou, "deve ter acontecido algum problema na emissão do sinal".

Reportagem de Eduardo Neco, do portal Imprensa.

EQUIPE DO TERRA ELEIÇÕES 2010


Parte da equipe do Terra Eleições, que faz a mais ampla cobertura da campanha em todo o País. Já publicou mais de 7 mil notícias e 486 galerias de fotos sobre as disputas em 27 estados e pela presidência da República.


Em pé: Fernanda Kalena, Tiago Dias, Armando Mendes, Diego Pereira, Gilberto Nascimento, Carlos Ferreira, Altino Machado e Leonardo Pessoa. Sentados: Bruna Carvalho, Ana Gissoni, Vagner Magalhães, Filippo Cecilio e Claudio Ferreira. A equipe é chefiada por Bob Fernandes, Armando Mendes e Gilberto Nascimento. Fotos: Rafael Nardini.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

VOTE 77 NO REFERENDO DA HORA

Silvio Simione da Silva

Estamos às vésperas do referendo que decidirá sobre o “fuso horário” do Acre. Um país ou uma unidade política qualquer, pode ter horários determinados não condizentes com sua localização no Planeta. Isso ocorre quando o lugar tem um território pequeno; quando sua extensão leste/oeste é estreita, sendo maior no sentido norte sul, ou quando o governo é autoritário e muda os horários conforme suas conveniências econômicas ou políticas. Em qualquer das situações quem paga mais caro pelas mudanças é a população, que tem de estudar, trabalhar, descansar etc. em horários, às vezes, não tão apropriados.

O Acre faz parte de um país imenso tanto no sentido leste-oeste quanto norte-sul. Por isso, nossas variações temporais são tão comuns, se considerarmos o sentido leste-oeste, nos horários diversificados que temos, assim como são comuns as variações climáticas com as temperaturas mais frias e mais quentes quando tomamos com referência o sentido norte-sul.

Tenho visto muita gente na rua, nos bairros, nas igrejas, em todos os lugares, discutindo como ficará o fuso horário do Acre após o dia 31 de outubro.

Primeiro temos de desfazer uma confusão de termos: “fuso horário” e “horário local”. Vamos primeiro entender que  o “fuso horário acreano” sempre foi o mesmo, pois ele é dado pela localização do Acre no Planeta, e isto não pode ser mudado por força de uma lei. Portanto, o “fuso horário” nosso é e sempre será o mesmo, isto é, o quarto fuso horário brasileiro ou o quinto fuso em relação à linha de Greenwich.

O que foi mudado no  Acre foi nossa “hora legal”. A mudança se baseou em parâmetros que desconsideram o fator natural de nossa localização e a forma da população pensar sobre o assunto. Podemos dizer que foi uma medida errada cientificamente e socialmente arbitrária. Por este motivo defendo o retorno ao antigo e legítimo horário acreano. E justifico cada um dos argumentos:

- O fuso horário de um lugar é um fenômeno de sua localização geográfica no Planeta. Existem profissionais, como geógrafos e cartógrafos, que são especialistas nessas áreas, que vivem no Acre, e foram totalmente ignorados pelo “atropelo do poder e da vaidade” que o autor da lei que mudou a hora do Acre, acreditou ter. Portanto, o primeiro ponto que saliento: o desrespeito para com as ciências da área geográfica e cartográfica e com toda a comunidade acadêmica em geral.

- Nosso organismo reage de forma diferente conforme as variações temporais diárias. Sendo assim, temos mais disposições para dormir à noite e fazer atividades diversas durante o dia. Portanto, o “relógio biológico” de cada humano está vinculado à sua condição de localização no Planeta. Porém, quando mudou o horário do Acre, o então senador Tião Viana (PT-AC), autor da lei, não considerou como a mudança afetaria as condições biológicas das pessoas, com repercussões diretas, inclusive, na saúde de cada acreano. 

- A sociedade acreana ao longo de sua formação acostumou com a hora de fuso horário dado por sua localização. Uma mudança de horário, ou qualquer outra que um dia venha a ser feita, caso envolva a sociedade como um todo, tem que ser aceita por todos. Como vivemos num estado democrático, é bom que as autoridades aprendam que a consulta popular apenas reforça os seus propósitos conforme os anseios de seus representados. Isso deveria ser uma prática comum numa sociedade democrática.

- A localização do Acre fez desse território o Estado mais ao oeste do Brasil. Estamos distantes da faixa litorânea Atlântica, onde situam-se as áreas economicamente mais dinâmicas do país. Na época da mudança do horário, argumentavam que este novo horário iria ajudar o “Acre a aproximar mais do Brasil”. Nisso há pontos críticos. Apesar de distante espacialmente do centro, o Acre é Brasil desde 1903. A distância não é um fenômeno que justifica a importância de um lugar. Nos Estados Unidos da América, os centros políticos principais também estão no litoral Atlântico (New York e Washington, por exemplo), mas o estado mais rico daquele país é a Califórnia, que está no litoral Pacífico, em fuso horário diferente.   Por isso, a localização do Acre é distante do oceano Atlântico, mas é a porção do território nacional que mais se aproxima do Pacífico. Daí, esta localização que aparentava ser um limitador pode ser um potencial importante para nosso desenvolvimento.

- Diziam as mudanças seriam necessárias para viabilizar o funcionamento bancário, para o horário de programas televisivos e para o comércio. Resultado: os bancos mantiveram o horário, os programas de televisão continuam sendo assistidos por todos, inclusive, nossas crianças (que agora dormem mais tarde). Ao comércio até que serviu para as negociações telefônicas, porém hoje, diante da tecnologia existente, as transações comerciais e financeiras podem ocorrer praticamente em qualquer horário. Também o comércio, em Rio Branco, passou a abrir em horários variáveis -algumas lojas às 7 horas, outras apenas às 9 horas. Até as escolas passaram a iniciar as aulas às 7h30. Sabem por que houve essas adequações de horário interno ao Acre? Porque se seguíssemos o novo horário, as pessoas não chegariam no tempo determinado, mas sim no tempo de seu relógio biológico, que está regulado pelo velho horário ignorado pelo senador. Isso demonstra que o costume das pessoas, de todos nós vivendo em sociedade, onde somos os agentes que preenchem a realidade, inclusive, o mercado consumidor, é que dinamiza a realidade. Então esta mudança não nos serviu.

Dizem as propagandas em defesa do sim que: “já se acostumou, por que mudar?” Será que já acostumamos ou estamos sendo obrigados a nos adequar? Não se desfaz algo construído em 100 anos e se reconstrói em apenas um ano. É bom que pensemos nisto.

Com a economia globalizada, o tempo econômico é ágil. A distância temporal torna-se cada vez mais virtual. As principais bolsas de valores do mundo funcionam em fusos horários diferentes é nem por isto as cidades onde se situam tiveram que adequar seus horários ao de New York, de Londres ou de Tóquio. Então a quem interessou a mudança do horário acreano? Este é um ponto para refletirmos e não cair perante vaidades individuais.

Defendo “o não” à mudança e o retorno ao horário real, por uma questão de defesa ao estado democrático, pelo respeito à opinião do povo acreano, pelo acerto científico de nossa hora. No dia 31, escolha 77.

Silvio Simione da Silva é professor do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre

domingo, 17 de outubro de 2010

CARTA ABERTA DE MARINA A DILMA E SERRA



Prezada Dilma Roussef,
Prezado José Serra,


Agradeço, inicialmente, a deferência com que ambos me honraram ao manifestar interesse em minha colaboração e a atenção que dispensaram às propostas e ideias contidas na “Agenda para um Brasil Justo e Sustentável” que nós, do Partido Verde, lhes enviamos neste segundo turno das eleições presidenciais de 2010. 

Embora seus comentários à  Agenda mostrem afinidades importantes com nosso programa, gostaríamos que avançassem em clareza e aprofundamento no que diz respeito aos compromissos. Na verdade, entendemos que somos o veículo para um diálogo de ambos com os eleitores a respeito desses temas. Nesse sentido, mantemo-nos na posição de mediadores, dispostos a continuar colaborando para que esse processo alcance os melhores resultados. 

Aos contatos que tivemos e aos documentos que compartilhamos, acrescento esta reflexão, que traz a mesma intenção inicial de minha candidatura: debater o futuro do Brasil. 

Quero afirmar que o fato de não ter optado por um alinhamento neste momento não significa neutralidade em relação aos rumos da campanha. Creio mesmo que uma posição de independência, reafirmando ideias e propostas, é a melhor forma de contribuir com o povo brasileiro. 

Já disse algumas vezes que me sinto muito feliz por, aos 52 anos, estar na posição de mantenedora de utopias, como os brasileiros que inspiraram minha juventude com valores políticos, humanos, sociais e espirituais. Hoje vejo que utopias não são o horizonte do impossível, mas o impulso que nos dá rumo, a visão que temos, no presente, do que será real e terreno conquistado no futuro. 

É com esse compromisso da maturidade pessoal e política e com a tranquilidade dada pelo apreço e respeito que tenho por ambos que ouso lhes dirigir estas palavras.

Quando olhamos retrospectivamente a história republicana do Brasil, vemos que ela é marcada pelo signo da dualidade, expressa sempre pela redução da disputa política ao confronto de duas forças determinadas a tornar hegemônico e excludente o poder de Estado. Republicanos X monarquistas, UDN X PSD, MDB X Arena e, agora, PT X PSDB. 

Há que se perguntar por que PT e PSDB estão nessa lista. É uma ironia da História: dois partidos nascidos para afirmar a diversidade da  sociedade brasileira, para quebrar a dualidade existente à época de suas formações, se deixaram capturar pela lógica do embate entre si até as últimas consequências. 

Ambos, ao rejeitarem o mosaico indistinto representado pelo guarda-chuva do MDB, enriqueceram o universo político brasileiro criando alternativas democráticas fortes e referendadas por belas histórias pessoais e coletivas de lutas políticas e de ética pública. 

Agora, o mergulho desses partidos no pragmatismo da antiga lógica empobrece o horizonte da inadiável mudança política que o país reclama. A agressividade de seu confronto pelo poder sufoca a construção de uma cultura política de paz e o debate de projetos capazes de reconhecer e absorver com naturalidade as diferentes visões, conquistas e contribuições dos diferentes segmentos da sociedade, em nome do bem-comum. 

A permanência dessa dualidade destrutiva é característica de um sistema politico que não percebe a gravidade de seu descolamento da sociedade. E que, imerso no seu atraso, não consegue dialogar com novos temas, novas preocupações, novas soluções, novos desafios, novas demandas, especialmente por participação política. 

Paradoxalmente, PT e PSDB, duas forças que nasceram inovadoras e ainda guardam a marca de origem na qualidade de seus quadros, são hoje os fiadores desse conservadorismo renitente que coloniza a política e sacrifica qualquer utopia em nome do pragmatismo sem limites.

Esse pragmatismo, que cada um usa como arma, é também a armadilha em que ambos caem e para a qual levam o país. Arma-se o eterno embate das realizações factuais, da guerra de números e estatísticas, da reivindicação exclusivista de autoria quase sempre sustentada em interpretações reducionistas da história.

Na armadilha, prende-se a sociedade brasileira, constrangida a ser apenas torcida quando deveria ser protagonista, a optar por pacotes políticos prontos que pregam a mútua aniquilação.

Entendo, porém, que o primeiro turno de 2010 trouxe uma reação clara a esse estado de coisas, um sinal de seu esgotamento. A votação expressiva no projeto representado por minha candidatura e de Guilherme Leal sinaliza, sem dúvida, o desejo de um fazer político diferente.

Se soubermos aproveitá-la com humildade e sabedoria, a realização do segundo turno, tendo havido um terceiro concorrente com quase 20 milhões de votos, pode contribuir decisivamente para quebrar a dualidade histórica que tanto tem limitado os avanços políticos em nosso país. 

Esta etapa eleitoral cria uma oportunidade de inflexão para todos, inclusive ou principalmente para vocês que estão diante da chance de, na Presidência da República, liderar o verdadeiro nascimento republicano do Brasil.  

Durante o primeiro turno, quando me perguntavam sobre como iria compor o governo e ter sustentação no Congresso Nacional, sempre dizia que, em bases programáticas, iria governar com os melhores de cada partido. Peço que vejam na votação concedida à candidatura do PV algo que ultrapassa meu nome e que não se deixem levar por análises ligeiras. 

Esses votos não são uma soma indistinta de pendores setoriais. Eles configuram, no seu conjunto, um recado político relevante. Entendo-os como expressão de um desejo enraizado no povo brasileiro de sair do enquadramento fatalista que lhe reservaram e escolher outros valores e outros conteúdos para o desenvolvimento nacional. 

E quem tentou desqualificar principalmente o voto evangélico que me foi dado, não entendeu que aqueles com quem compartilho os valores da fé cristã evangélica, vão além da identidade espiritual. Sabem que votaram numa proposta fundada na diversidade, com valores capazes de respeitar os diferentes credos, quem crê e quem não crê. E perceberam que procurei respeitar a fé que professo, sem fazer dela uma arma eleitoral.

Os exemplos de cristãos como Martin Luther King e Nelson Mandela e do hindu Mahatma Ghandi mostram que é  possível fazer política universal com base em valores religiosos. São inspiração para o mundo. Não há porque discriminar ou estigmatizar convicções religiosas ou a ausência delas quando, mesmo diferentes, nos encontramos na vontade comum de enfrentar as distorções que pervertem o espaço da política. Entre elas, a apropriação material e imaterial indevida daquilo que é público, seja por meio de corrupção ou do apego ao poder e a privilégios; a má utilização de recursos e de instrumentos do Estado; e o boicote ao novo. 

Assim, ao contrário de leituras reducionistas, o apoio que recebi dos mais diversos setores da sociedade revela uma diferença fundamental entre optar e escolher. Na opção entre duas coisas pré-colocadas e excludentes, o cidadão vota “contra” um lado, antes mesmo de ser a favor de outro. Na escolha, dá-se o contrário: o voto se constrói na história, na ampliação da cidadania, na geração de novas alternativas em uma sociedade cada vez mais complexa. 

A escolha, agora, estende-se a vocês. É a atitude de vocês, mais que o resultado das urnas, que pode demarcar uma evolução na prática política no Brasil. Podemos permanecer no espaço sombrio da disputa do poder pelo poder ou abrir caminho para a política sustentável que será imprescindível para encarar o grande desafio deste século, que é global e nacional. 

Não há mais como se esconder, fechar os olhos ou dar respostas tímidas, insuficientes ou isoladas às crises que convergem para a necessidade de adaptar o mundo à realidade inexorável ditada pelas mudanças climáticas. Não estamos apenas diante de fenômenos da natureza. 

O mega fenômeno com o qual temos que lidar é o do encontro da humanidade com os limites de seus modelos de vida e com o grande desafio de mudar. De recriar sua presença no planeta não só por meio de novas tecnologias e medidas operacionais de sobrevivência, mas por um salto civilizatório, de valores. 

Não se trata apenas de ter políticas ambientais corretas ou a incentivar os cidadãos a reverem seus hábitos de consumo. É necessária nova mentalidade, novo conceito de desenvolvimento, parâmetros de qualidade de vida com critérios mais complexos do que apenas o acesso crescente a bens materiais. 

O novo milênio que se inicia exige mais solidariedade, justiça dentro de cada sociedade e entre os países, menos desperdício e menos egoísmo. Exige novas formas de explorar os recursos naturais, sem esgotá-los ou poluí-los. Exige revisão de padrões de produção e um fortíssimo investimento em tecnologia, ciência e educação.

É esse, em síntese, o sentido do que chamamos de Desenvolvimento Sustentável e que muitos, por desconhecimento ou má-fé, insistem em classificar como mera tentativa de agregar mais alguns cuidados ambientais ao mesmo paradigma vigente, predador de gente e natureza. 

É esse mesmo Desenvolvimento Sustentável que não existirá se não estiver na cabeça e no coração dos dirigentes políticos, para que possa se expressar no eixo constitutivo da força vital de governo. Que para ganhar corpo e escala precisa estar entranhado em coragem e determinação de estadista. Que será apenas discurso contraditório se reduzido a ações fragmentadas logo anuladas por outras insustentáveis, emanadas do mesmo governo. 

E, finalmente, é esse o Desenvolvimento Sustentável cujos objetivos não se sustentarão se não estiver alicerçado na superação da inaceitável, desumana e antiética desigualdade social. Esta é ainda a marca mais resistente da história brasileira em todos os tempos, em que pesem os inegáveis avanços econômicos dos últimos 16 anos, que nos levaram à estabilidade econômica, e das recentes conquistas sociais que tiraram da linha da pobreza mais de 24 milhões de pessoas e elevaram à classe média cerca de 30 milhões de pessoas.

A sociedade, em sua sábia intuição, está entendendo cada vez mais a dimensão da mudança e o compromisso generoso que ela implica, com o país, com a humanidade e com a vida no Planeta.  Os votos que me foram dados podem não refletir essa consciência como formulação conceitual, mas estou certa de que refletem o sentimento de superação de um modelo. E revelam também a convicção de que o grande nó está na política porque é nela que se decide a vida coletiva, se traçam os horizontes, se consolidam valores ou a falta deles. 

Essa perspectiva não foi inventada por uma campanha presidencial. Os votos que a consagram estão sendo gestados ao longo dos últimos 30 anos no Brasil, desde que a luta pela reconquista da democracia juntou-se à defesa do meio ambiente e da qualidade de vida nas cidades, no campo e na floresta. 

Parte importante da nossa população atualizou seus desafios, desejos e perspectivas no século 21. Mas ainda tem que empreender um esforço enorme e muitas vezes desanimador para ser ouvida por um sistema político arcaico, eleitoreiro, baseado em acordos de cúpula, castrador da energia social que é tão vital para o país quanto todas as energias de que precisamos para o nosso desenvolvimento material. 

Estou certa de que estamos no momento ao qual se aplica a frase atribuída a Victor Hugo: “Nada é mais forte do que uma idéia cujo tempo chegou”.

O segundo turno é uma nova chance para todos. Para candidatos e coligações comprometerem-se com propostas e programas que possam sair das urnas legitimados por um vigoroso pacto social entre eleitos e eleitores. Para os cidadãos, que podem pensar mais uma vez e tornar seu voto a expressão de uma exigência maior, de que a manutenção de conquistas alie-se à correção de erros e ao preparo para os novos desafios. 

Mesmo sem concorrer, estamos no segundo turno com nosso programa, que reflete as questões aqui colocadas. Esta é a nossa contribuição para que o processo eleitoral transcenda os velhos costumes e acene para a sustentabilidade política que almejamos. 

Como disse, ousei trazer a vocês essas reflexões, mas não como formalidade ou encenação política nesta hora tão especial na vida do pais. Foi porque acredito que há terreno fértil para levarmos adiante este diálogo. Sei disso pela relação que mantive com ambos ao longo de nossa trajetória política. 

De José Serra guardo a experiência de ter contado com sua solidariedade quando, no Senado, precisei de apoio para aprovar uma inédita linha de crédito para os extrativistas da Amazônia e para criar subsídio para a borracha nativa. Serra dispôs-se a ele mesmo defender em plenário a proposta porque havia o risco de ser rejeitada, caso eu a defendesse. 

Com Dilma Roussef, tenho mais de cinco anos de convivência no governo do presidente Lula. E, para além das diferenças que marcaram nossa convivência no governo, essas diferenças não impediram de sua parte uma atitude respeitosa e disposição para a parceria, como aconteceu na elaboração do novo modelo do setor elétrico, na questão do licenciamento ambiental para petróleo e gás e em outras ações conjuntas. 

Estou me dirigindo a duas pessoas dignas, com origem no que há de melhor na história política do país, desde a generosidade e desprendimento da luta contra a ditadura na juventude, até a efetividade dos governos de que participaram e participam para levar o país a avanços importantes nas duas últimas décadas. 

Por isso me atrevo, seja quem for a assumir a Presidência da República, a chamá-los a liderar o país para além de suas razões pessoais e projetos partidários, trocando o embate por um debate fraterno em nome do Brasil. Sem esconder as divergências, vocês podem transformá-las no conteúdo do diálogo, ao compartilhar idéias e propostas, instaurando na prática uma nova cultura política.

Peço-lhes que reconheçam o dano que a política atrasada impõe ao país e o risco que traz de retrocessos ainda maiores. Principalmente para os avanços econômicos e sociais, que a sociedade brasileira, com justa razão, aprendeu a valorizar e preservar.

Espero que retenham de minha participação na campanha a importância do engajamento dos jovens, adolescentes e crianças, que lhes ofereçam espaço de crescimento e participação. Que acreditem na capacidade dos cidadãos e cidadãs em desejar o novo e mostrar essa vontade por meio do seu voto. Que reconheçam na sociedade brasileira uma sociedade adulta, o que pressupõe que cada eleitor escolha o melhor para si e para o país e o expresse, de forma madura, livre e responsável, sem que seu voto seja considerado propriedade de partidos ou de políticos. Pois, como repeti inúmeras vezes no primeiro turno, o voto não era meu, nem da Dilma, nem do Serra. O voto é e sempre será do eleitor e de sua inalienável liberdade democrática. 

Esta é minha contribuição, ao lado das diretrizes de programa de governo que são um retrato do amadurecimento de quase 30 anos de construção do socioambientalistmo no Brasil. Espero que a acolham como ela é dada, com sinceridade. A utopia, mais que sinal de ingenuidade, é mostra de maturidade de um povo cujo olhar eleva-se acima do chão imediato e anseia por líderes capazes de fazer o mesmo.

Que Deus continue guiando nossos caminhos e abençoando nossa rica e generosa nação. 

Marina Silva