sábado, 23 de junho de 2007

A PRISÃO DE LUIZ CALIXTO

Isac de Souza Guimarães Júnior

A prisão do deputado Luiz Calixto pela Polícia Militar, quando ele voltava de uma "sessão itinerante" da Assembléia Legislativa realizada em Brasiléia, em 15 de junho, me fez lembrar da bem conhecida e tantas vezes pronunciada frase “sabe com quem está falando?”. O velho dito expõe as bases autoritárias e hierarquizadas da estrutura social de que fazemos parte. Por isso mesmo, tal enunciado foi eleito pelo antropólogo Roberto DaMatta como um gancho para analisar, em seu livro "Carnavais, Malandros e Heróis", as formas de sociabilidade estabelecidas entre as várias classes sociais no Brasil.

De acordo com o antropólogo, nossa sociedade quer sempre ser percebida como cultivadora dos valores universais de solidariedade, cordialidade e pacificidade, especialmente nos segmentos socialmente privilegiados. Os inferiores que são os “brigões”. De modo geral, somos avessos à crise, ao conflito e ao confronto, mas desde que todos e cada um assuma, reconheça e aceite o seu lugar na ordem social. Existiria uma hierarquia social em que cada indivíduo encontraria o seu lugar, ali devendo permanecer. Daí porque o recurso à tão famigerada frase “sabe com quem está falando” é considerado tão pernóstico e pedante, expondo a pessoa que a usa a um certo constrangimento que, no entanto, só vem a ocorrer porque alguém (desinformado, distraído ou com falta de percepção social) desrespeitou a hierarquia, deixando de reconhecer o seu lugar e o do outro nessa cadeia. Ou seja, a diferença que era para ser aceita como natural e estável, acaba se transformando em crise e expondo o conflito.

Pois bem, voltando ao caso da prisão do deputado e sua condução à delegacia de Xapuri, ao que tudo indica muita coisa parece ainda estar bastante obscura em ambas as versões, tanto na do parlamentar quanto na da polícia. Necessário se faz que se dê o devido desconto nas acusações dos dois lados (reconhecendo-se, evidentemente, o fato irrecusável de que um deputado foi preso por meio de procedimentos policiais um tanto estranhos) e que façamos, ainda, um exercício de imaginação para visualizar possíveis excessos também de ambos os lados, pensando inclusive na velha lei da ação e reação, sem que, neste caso (dada a obscuridade mencionada acima), saibamos de que lado partiu a ação geradora da ofensa. Feitas estas necessárias observações, chama a atenção um dado muito interessante em todo esse imbróglio, qual seja: o deputado não deu a famosa “carteirada”, ou seja, não proferiu o fatídico “você sabe com quem está falando?”. Esse teria sido seu grande e mortal pecado, se levarmos em consideração as declarações dos policiais, que reclamam que o parlamentar não se identificou.

Por outro lado, se dermos crédito ao estudo de DaMatta, os desatentos policiais também parecem ter incorrido em falta gravíssima (de acordo com o pacto dos lugares sociais) ao se demonstrarem desinformados, distraídos ou, minimamente, com ausência de percepção social, quando não reconheceram naquele aparente cidadão comum (portanto inferior a eles, revestidos de autoridade) um membro da casta superior dos políticos acreanos. Deu-se o conflito, instalou-se a crise.

Podemos considerar louvável a atitude do deputado de não perguntar se os policiais sabiam com quem estavam falando, afinal, se fazem o que fizeram com um deputado, é de se imaginar o que ocorreria com o dito cidadão comum ou com professores e estudantes, como maquele 7 de setembro de 2005, quando um professor da Universidade Federal do Acre foi jogado numa cela algemado. Mas é possível pensar, ainda, que por trás dessa aparente e modesta indignação com os maus-tratos pode se esconder uma severa repreensão à falta dos militares por não terem, naturalmente, reconhecido o seu lugar e o lugar de superioridade do outro. Isto no caso do deputado.

No lado dos policiais, se não lhes faltou percepção social e não sobrou desinformação, fica evidente que houve a decisão de romper com o rigor da hierarquia social de que fala DaMatta. Neste caso, se explicaria perfeitamente a solidariedade, apoio ou, no mínimo, atenção dos demais parlamentares e até mesmo do governador Binho Marques para com o deputado, pois a violação que põe em risco a superioridade de um ameaça a autoridade da casta inteira. Já pensou se vira moda? Neste caso, segundo as velhas, enraizadas e conservadoras convenções sociais, cabe resgatar aquela ordem, estabilidade e cordialidade que põem “cada macaco no seu galho”. Esta é a prática quando alguém deixa de reconhecer o seu lugar nessa escala, do contrário o conflito vira revolta e, como tal, deve ser rigorosamente reprimida, afinal não é essa a função exercido pela polícia? Mas e quando é a própria polícia quem viola o pacto?

Isac de Souza Guimarães Júnior é professor da Universidade Federal do Acre e mestrando em comunicação e estudos discursivos na Universidade Federal Fluminense.

2 comentários:

Anônimo disse...

Altino

Hoje vejo a repetição enfadonha do caso da Dra. Eva Evangelista, no caso do carro apreendido, sem placas.
A Dra. Eva, presidente do Tribunal, não fez maiores alardes. Ela é discreta, educada, de boa índole e, principalmente, humilde. A humildade, senão a primeira, é uma das maiores virtudes. Isto está escrito, não nas estrelas, mas nos olhos da Eva. A Eva é simples, não obstante inteligente. Aliás, simplicidade e humildade são sinônimas.
Olhe, coloque a Eva e esse senhor deputado Luiz Calixto , lado a lado. Aí, num simples relance, você poderá concluir a grande diferença entre humildade e vaidade. Entre poder e desejo de servir. Entre luz e obscuridade. É diferente, ainda que com críticas a ambos os dois conjuntamente juntos. Eva escorregou por motivos políticos, mas recuperou o tino. Assim como outros e outras.
Esse deputado, que Deus o proteja, traz o ódio nas retinas. Nem os guardinha escapam dos seus enfrentamentos. Qualquer fato vira factóide de "oposição". E não convence, o que é pior (ou melhor?). Um pingo de água que cair na sua moleira afundará ceu cérebro molenga e ambicioso.
Há outros piores que ele, evidentemente. São contrapontos do melhor para o Acre. Estão na divisa da volta ao passado ruim e da perspectiva do futuro diferente. Sempre puxando para trás. Num jogo do vale tudo, vale a pena arranhar os braços, as pernas e as mentes burras.
Por Deus, a minha nunca.
Os olhos de ódio nunca farão da minha cegueira um caminho para pedalarem as suas burrices. Se depender de mim, nunca!
Repito: nunca!

Olhos de lince.

Anônimo disse...

Comentário bem humorado de hoje, 15:08h, do jornalista e blogueiro Reinaldo Azevedo, sobre os comissários petistas amigos do Jorge, Tião, Binho e Marina, trazendo ainda referência ao Acre:

E quem preserva de Marta Suplicy e Mantega as nossas crianças?

Pensando bem, acho que é o caso de submeter as entrevistas das ministras Marta Suplicy (Turismo) e Guido Mantega (Fazenda) ao Dejus. Acompanhem meu racio-símio, que aprendi com o valente José Eduardo Romão.

Quando a ministra fala, às 19h, aqui no Sudeste, que a gente deve relaxar e gozar, são cinco da tarde no Acre, né? Muitos acreanos, antes de tudo uns fortes, estão ainda tirando leite da seringueira, catando castanha na floresta ou fazendo figuração para alguma minissérie da Glória Perez. Em outros recantos do Brasil, mulheres estão lavando roupa à beira do rio e entoando cantigas telúricas para ilustrar documentários financiados por estatais. Quem está cuidando das crianças, que ficam expostas à ministra?

O problema é grave. Romãozinho quer gastar dinheiro público para saber a influência de cenas violentas ou eróticas no temperamento das crianças. Mas aí eu pergunto: quem preserva de Marta Suplicy as nossas crianças? Eu vi a entrevista. Quando ela falou “relaxa e goza”, contraiu, catita, os olhinhos — cada vez menos “olhos”; cada vez mais “inhos” —, o que me levou, a mim ao menos, para outras paragens. Romãozinho tem razão: é preciso fazer alguma coisa...

Já no caso de Mantega, o que temo é a sua influência nefasta sobre os economistas. O homem inventou uma nova teoria econômica: a carência da abundância. Isso pode ser devastador para a inteligência brasileira.

Uma alternativa a considerar é deixar a televisão em paz e botar na rua Romão, Mantega e Marta Suplicy.