sexta-feira, 29 de abril de 2005

MAURO ALMEIDA

Universidade da Floresta vai reunir cientistas e pajés

Em entrevista ao ISA, o antropólogo Mauro Almeida explica os objetivos do novo centro de ensino e pesquisa que começa a funcionar ainda este ano no Acre. Entre os principais: criar uma ponte entre os professores das cidades com os mestres da floresta para valorizar os saberes tradicionais e as alternativas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, sem deixar de atentar para os mecanismos de proteção à biodiversidade da região e aos conhecimentos dos povos nativos. Para ler a entrevista clique em Bruno Weis.

PRA NÃO ESQUECER


Acertada a decisão do governador Jorge Viana de enviar ao município de Sena Madureira a força-tarefa para tentar resolver a situação de mais de 200 índios que se ausentaram das aldeias e vivem em barracos de lona e papelão, às margens do Rio Iaco.

Na cidade, índios das etnias jamináwa, kulina e kaxinawá estão sendo vítimas do álcool e, suspeita-se, até da prostituição infantil. Acompanhei o esforço das autoridades e as imagens abaixo expressam um pouco do drama.

Os versos de uma canção do Beto Humberto, do começo dos anos 80, reverberavam em mim enquanto tirava as fotos:

"Essa floresta vai até aonde a vista alcança/ Tem onças, cobras, homens e muitas crianças/ Ainda temos em nossa força uma esperança/ Quem não esquece, um dia cresce e alcança".

BÊBADO

PEDINTE

CRIANÇAS

MÃES

quinta-feira, 28 de abril de 2005

VIDA

O NINHO


O pé de laranja tem pouco mais de um metro de altura. No galho mais seguro foi tecido pacientemente o ninho. Depois, dois minúsculos ovinhos ficaram em incubação. O primeiro filhote nasceu durante a madrugada fria. Dentro de três semanas deve voar com seu par para beijar as flores de quem cultiva um jardim.

Família:
os colibris ou beija-flores são pássaros da família Trochilidae .

Ocorrência: são encontrados exclusivamente nas Américas

Número de espécies: mais de 350 com cerca de 770 sub-espécies

Maior número de ocorrências: Colômbia, Brasil, Peru, Venezuela, Guianas

Maior número de ocorrência por área: Estado do Espírito Santo, Brasil, com 42 espécies e sub-espécies, numa área de 45.000 km2

Velocidade de vôo: a espécie do cerrado e campos gerais brasileiros, Heliactin cornuta chega a 60 km/h

Velocidade de batimento das asas: a espécie brasileira Caliphlox amethystina chega a 90 batidas/segundo. As espécies maiores são mais lentas.

Fonte: Beija-Flores

O FILHOTE


Maior colibri: Patagona gigas da Colômbia, com mais de 15 cm. É o mais lento também, com 2 vibrações de asa/segundo.

Menor colibri: Lophornis magnificus da floresta atlântica brasileira de montanha, com 1,2 grs. Há uma espécie nos EUA mais pesada mas alguns milímetros mais curta.

Alimento: néctar de flores com açúcar de 18 a 29% , micro insetos e micro aracnídeos. Têm necessidade de suprimento energético constante, o que o obriga a alimentar-se 4 a 5 vezes por hora para poder voar com sua energia e rapidez característica. Chegam a alimentar-se 30 vezes seu peso em alimentos/dia. Em bebedouros com alimentação artificial pode-se utilizar o açúcar cristal, sem qualquer problema para a saúde destes pássaros, desde que seja feito uma higienização diária das garrafinhas e a solução açucarada, de 20 a 25% de concentração, seja trocada diariamente logo no início do dia. qualquer dúvida, consulte-nos.

Máximo de altitude: Oreotrochilus chimborazo chega a 4.500 metros no monte Chimborazo, Equador

Movimentação: somente vôo, com asas modificadas na mão, ao contrário dos outros pássaros que voam com o antebraço; usam os pés apenas para se arrastar no galho, isto é, não caminham no chão nunca.

Tempo de vida: na natureza 6 a 8 anos e em cativeiro, sem pressões de predadores podem chegar até 16 anos

Tempo de incubação dos ovos: 3 semanas

Fonte: Beija-Flores

BEIJA-FLOR


Tempo de maturação dos filhotes: 3 semanas

Quantidade de crias por ano: 2

Descanso: a noite, para economizar energia entram em torpor, reduzindo sua temperatura de 42 C para 32 C, e as batidas do coração de mais de 2000 por minuto para 40 por minuto

Corte nupcial: é sempre propiciada pelo macho com deslumbrantes exibições de plumagens , malabarismos de vôo e canto

Área mínima: Dependendo da espécie e do tipo de ecossistema, pode variar de 1 km2 a mais de 100 km2 por indivíduo

São os únicos pássaros que param no ar, voam para trás, para cima, em movimento circular, em movimento helicoidal, em parafuso, em cambalhota.

Plantas preferidas: bromélias e plantas de flor avermelhada com néctar

Fonte: Beija-Flores

quarta-feira, 27 de abril de 2005

O QUE É ISSO, COMPANHEIROS?

Política é mesmo terreno muito esquisito sobre o qual entendo menos a cada dia que passa.

Causa-me farnesim que os vereadores, os deputados estaduais e federais, os senadores Tião Viana e Sibá Machado, o governador Jorge Viana e a Frente Popular do Acre não tenham dado um pio até agora contra a agressão leviana da qual a ministra Marina Silva foi vítima domingo na coluna do jornalista Cláudio Humberto.

Será que estão fazendo coro com o radialista Roberto Vaz, que afirmou em sua coluna que o PT mudou o traçado político porque Marina Silva teria supostamente perdido espaço entre os pecuaristas e os fiéis da igreja católica por ser evangélica? Que baixaria essa, hein? A conspiração comete a heresia de envolver até o papa Bento XVI.

A coluna Bom Dia, do jornal A Tribuna, hoje está muito boa e esclarecedora ao exigir respeito à Marina Silva. Escrevi aqui sobre a ofensa, muita gente leu, mas poucos ousaram se manifestar. Aliás, transcrevo a seguir a opinião do Toinho Alves no blog O Espírito da Coisa. Leia:

“Está boa a conversa sobre o PL das florestas, sobre o capitalismo, o mundo... Mas devo interromper por um instante para protestar contra aquilo que o Altino bem chamou de “grosseria”, a leviandade dita pelo dirigente local do PFL contra a Ministra Marina Silva.

“Desde que chegou ao Senado, Marina incentiva o debate e promove audiências públicas sobre os principais projetos para a Amazônia. E participa sempre que pode, muitas vezes forçando os limites de sua saúde. O irresponsável caluniador pefelista, ao dizer que a Ministra dá desculpas para fugir ao debate, desdenhando o fato de que Marina está internada num hospital desde o dia da audiência pública no Acre, ofende-a e ofende a todos nós que estamos tentando fazer uma discussão honesta sobre o projeto.

“Lamento ter que interromper a conversa para comentar essa estupidez, que só serve para nos lembrar do atraso em que nos encontramos, num ambiente político em que predominam os trogloditas”.

MEU PÉ DE PAXIÚBA


Além de cinco pés de mogno, cultivo na frente da casa um pé de paxiúba adquirido por R$ 1,50 no viveiro de mudas do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre.

A minha paxiúba é uma criança ainda, mas esse tipo de palmeira chega a medir até 30 metros. É nativa do Equador, Guianas, Colômbia, Suriname, Venezuela, Bolívia e Brasil (AC, AM, PA, MA, TO, GO, MT).

Paxiúbas gostam de áreas alagadas, têm características raízes-escoras, estipe fino e anelado, folhas pinadas e frutos ovóides, amarelo-avermelhados, consumidos pela avifauna.

A madeira é usada pela população branca para a confecção de bengalas e tabuados e, pelos indígenas, para a confecção de arcos, flechas e lanças. É conhecida também como acunã, castiçal, coqueiro-acunã, palma-de-cacho, pona, sachapona.

No viveiro disseram que a minha é uma paxiúba-barriguda, aquela de belo porte, que apresenta, perto do meio, uma dilatação muito grande. Antônio, um morador aqui do bairro, outro dia examinou-a meticulosamente e diagnosticou que se trata de uma paxiubinha.

O certo é que ela já tem na base um pedestal de raízes-escoras, sobre as quais se sustenta o tronco. Observei ontem que seu caule estava parcialmente envolto em algo que a deixou parecida com a túnica de um faraó.

Fiquei pensando que as paxiúbas, apesar de nome menos sonoro e imponente, poderiam competir com a palmeira-imperial que o paisagista e jardineiro Jorge Viana importa para ornamentar praças e avenidas.

A palmeira-imperial atinge cerca de 40 m, mas tem crescimento lento. É nativa das Antilhas e Norte da Venezuela. Foi introduzida no Brasil por D. João VI (1767-1826), no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Sou mais a paxiúba, embora tenha no quintal, ainda, dois pés de palmeira-imperial. Acho a paxiúba menos pretensiosa. É mais florestania.

terça-feira, 26 de abril de 2005

CRUZEIRO


Olá Altino!

Tudo bem? Legal teu blog. Eu já o tinha visitado antes. Quanto à lua... Linda essa lua no Acre. No alto, parece uma marionete dos deuses! Adoro a lua. Ela sempre me emociona!

Vou participar de uma expedição de pesquisa do IBAMA/CEPSUL, que sairá nesta semana, no navio Soloncy Moura, para investigar o estoque pesqueiro da lula conhecida como calamar-argentino, na costa de Santa Catarina, entre 200 e 500 m de profundidade, utilizando como petrecho de pesca a rede de arrasto-de-fundo.

Esta espécie de lula se distribui desde o sul da Argentina, onde é intensamente pescada por vários países (Japão, Espanha, Inglaterra entre outros) até o Rio de Janeiro.

Identificado como um recurso pesqueiro potencial na década de 70, pela extinta SUDEPE, somente a partir de 2000 vem sendo objeto de uma pescaria dirigida por parte de arrasteiros duplos nacionais e arrasteiros simples estrangeiros, arrendados, que desembarcaram mais de duas mil toneladas entre 2001 e 2003.

Esta espécie é utilizada como isca para as pescarias com espinhel-de-superfície, dirigidas à atuns, espadartes e cações, assim como é exportada para o mercado asiático e europeu.

O estoque explorado comercialmente no Brasil, encontra-se principalmente entre Florianópolis e o Cabo de Santa Marta Grande (SC), correspondendo ao grupo reprodutivo de inverno, que migra de águas do Uruguai e norte de Argentina, onde possui sua área de alimentação.

É uma espécie de ciclo de vida anual, e os diferentes grupos de desovantes apresentam grandes flutuações interanuais em sua biomassa, associadas principalmente a processos oceanográficos, que influenciam no sucesso reprodutivo e no próprio recrutamento.

Sendo assim, em alguns anos as capturas poderiam atingir milhares de toneladas e ser insignificante em outros. A gestão deste recurso deve considerar que a associação de uma exploração intensa e condições ambientais adversas possam levar a colapsos do recrutamento.

A pescaria do calamar-argentino no sul do Brasil pode causar determinados impactos sobre o recrutamento de estoques explorados tanto no Brasil, como no Uruguai e Argentina e, portanto, deve ser tratado como um estoque compartilhado, onde os estudos devem ser dirigidos ao melhor conhecimento de seus ciclos migratórios e a previsibilidade de seus rendimentos anuais.

Beijos!

Roberta A. Santos

segunda-feira, 25 de abril de 2005

GROSSERIA


O moço sorridente e cheio de saúde, que aparece na foto com a namorada, é Paulo Ximenes. Foi autor de grosseria no domingo contra a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na coluna do jornalista Claúdio Humberto.

Leia a nota:

Tratamento
As desculpas da ministra Marina Silva (Meio Ambiente) viraram piada no Acre. “Ela adoece sempre que é chamada para discutir os problemas da Amazônia”, estranha o vice-presidente do PFL no Acre, Paulo Ximenes.

Foram infelizes o colunista e sua fonte, pois é do conhecimento de todos a fragilidade da saúde de Marina Silva, que está internada no hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, há mais de 10 dias.

Na política do Acre não existe alguém cuja honra se possa comparar à de Marina Silva, a quem espero ver com saúde e vida longa.

sábado, 23 de abril de 2005

REFORMA AGRÁRIA


Expansão dos pólos agroflorestais no Acre

Eles já transformaram a vida de 2,5 mil pessoas; a meta é assentar mais 700 famílias no Estado nos próximos dois anos

Existem no Acre 500 famílias que mudaram radicalmente de vida após a criação de 12 pólos agroflorestais. É neles que ocorre a ação de reforma agrária do governo estadual sob a forma de assentamento, destinada às populações tradicionais e trabalhadores sem terra, visando desenvolver o manejo florestal de uso múltiplo, em base familiar comunitária.

O governo estadual tem oito tipos de projetos de assentamento, sendo que todos procuram estabelecer o processo de ocupação territorial pela reforma agrária como fator de desenvolvimento sustentável, de criação das condições para aproveitamento racional, da conservação dos recursos, do aumento da produção econômica, do emprego e da qualidade de vida.

Florestania - Já são mais de 2,5 mil pessoas que estão realizando o sonho de suplantar diferentes ambientes de miséria e exclusão social na região. Com isso, o Acre tem conseguido desconcentrar a propriedade fundiária, desprivatizar a floresta e os seus recursos ambientais.

Todas as famílias dos pólos agroflorestais estão assentadas em áreas com eletrificação, transporte, escola e posto de saúde. O governo estabeleceu como meta transformar a produção familiar num dos pilares da economia florestal do Acre e tem como meta assentar mais 700 famílias nos próximos dois anos.

“Nós já dispomos de pesquisas que indicam que a produção familiar hoje já é responsável por 80% da produção de cereais e de hortaliças que consumimos. As famílias dos pólos agroflorestais contribuem pesadamente para esse desempenho positivo”, afirma a socióloga Denise Regina Garrafiel, secretária de Extrativismo e Produção Familiar.

Os projetos agroflorestais têm criado oportunidade de estruturação da territorialidade própria e do fortalecimento da identidade das famílias assentadas. Elas repovoam e recompõem a cobertura florestal em áreas desmatadas, extensas e contínuas.

Todos os projetos combinam componentes de viabilidade econômica com sustentabilidade ambiental, estão voltados para a produção madeireira e não-madereira, ao manejo florestal de uso múltiplo e integração dos recursos florestais.

Adensamento - São dotados de boa infra-estrutura, principalmente nas margens das estradas. No município de Bujari existe o Pólo Agroflorestal D. Moacyr Grechi, com 320 hectares, onde estão assentadas 54 famílias na margem direita da BR-364.

As famílias que possuem áreas com 6 hectares trabalham no desenvolvimento de sistemas agroflorestais, que consistem basicamente no adensamento das áreas de capoeira com frutíferas e espécies madeireiras. As demais, em áreas com 3 hectares, se dedicam à produção de hortaliças.

A família de Evandro Boaventura está assentada no pólo há quatro anos. Ela ocupou uma área de 3,5 hectares depois de nove meses sendo enganada com falsas promessas de terra pelo Incra.

“Não tínhamos canto certo para morar. O último lugar que ficamos foi como agregado na Baixa Verde”, lembra Boaventura. “Agora, o que não falta é gente aqui querendo comprar as minhas benfeitorias. Não penso em sair daqui de jeito nenhum”.

Nascente - E nem pode, porque ele dispõe apenas do direito de uso sobre a terra. Pode produzir durante toda a vida e repassá-la para seus descendentes. Mas está impedido de comercializá-la.

A família dele produz hortaliças, mas se dedica mais ao sistema agroflorestal, adensando a área com cupuaçu, açaí, bacaba, laranja, graviola etc. O pólo agroflorestal do Bujari é cortado por um igarapé cuja nascente está situada do outro lado da BR-364, dentro da propriedade de um fazendeiro.

Recentemente, os assentados conseguiram convencer o fazendeiro a lhes permitir recuperar a mata ciliar ao longo do igarapé na propriedade. Na nascente, numa área com mais ou menos 10 hectares, as famílias realizam mutirão para restaurar a vegetação com madeiras e frutíferas.

“Nós temos que continuar enfrentando o desafio de superar a exclusão social e a pobreza que incidem nas comunidades florestais rurais e nos grupos de seringueiros, ribeirinhos e agricultores imigrados no espaço urbano”, afirma Denise Garrafiel. “Os pólos já produzem alimentos para suas famílias e ajudam a suprir o abastecimento urbano”.

ROGEVÂNIO NASCIMENTO


“É preciso força de vontade”

Rogevânio Nascimento, 28, trabalhava como diarista numa horta no município do Bujari. Porém, há quatro anos, depois de submetido à criteriosa seleção, foi assentado no pólo agroflorestal D. Moacyr Grechi.

A vida dele mudou radicalmente, embora tenha sido assentado numa área que era dominada por pasto degradado de uma antiga fazenda. Ganhou uma casa modesta de madeira, mas muito confortável para os padrões da região.

Nascimento é dono de uma área de 3,5 hectares, onde possui estufas para cultivo de hortaliças, cria peixes e galinhas. Com a renda até já comprou um carro utilitário que é usado para transportar a produção.

A renda mensal dele varia de R$ 1 mil a R$ 2 mil. Ele agora sonha em expandir sua produção e o bem-estar, embora já possua energia elétrica em casa e aparelhos eletrodomésticos, como geladeira e televisão.

A transformação na qualidade de vida entre os assentados pode ser constatada em todos os pólos.

Como era a sua vida antes e depois de ser assentado no pólo?
Rapaz, a minha vida mudou muito. Antes eu trabalhava como diarista na área particular de um conhecido meu, mas hoje estou dentro do que é meu. Trabalho no que é meu e tudo o que eu vendo se transforma em benefício para minha família.

Ainda pode produzir mais dentro de uma área considerada tão pequena?
Sim, ainda posso produzir mais. Isso vai acontecer quando eu conquistar mercado fixo, porque, por enquanto, vendo na pedra e para os marreteiros. Meu sonho é conseguir uma entrega para um mercado, o que vai possibilitar melhorar e aumentar a minha produção. Também quero dispor de mais estufas. Atualmente, tenho duas de 10m X 50m, uma de 10m X 25m e quatro de 10m X 25m.

Quando você chegou aqui, como era esse local onde hoje existe sua casa e sua horta?
Isso aqui era um deserto. Era um capinzal medonho que havia sido desapropriado de um fazendeiro. Mas tivemos uma ajuda inicial muito importante da equipe do governo, que nos deu a casa.

O que motiva um homem e sua família a transformar uma área deserta e degradada num espaço tão produtivo?
Primeiramente, é preciso ter muita força de vontade e gostar realmente do que faz. Cheguei onde estou e tenho conseguido adquirir tudo que é necessário para mim por causa da minha força de vontade e porque gosto do meu trabalho, sinto satisfação. Tenho dois filhos menores. Não dá para dizer que trabalham, mas eles já aparecem lá na horta para jogar fora o mato que vou tirando.

O que acha do governo, que tem comprado antecipadamente a produção?
Esse foi uma decisão muito importante para todos nós. Está com cinco meses que fazemos a entrega e espero que continue. A gente trabalha com a certeza de que no final do mês o dinheiro está garantido. Só tenho a agradecer a Deus por me dar saúde para trabalhar e ao governador, que planejou o pólo agroflorestal e me selecionou depois que sua equipe avaliou muito a minha vida.

Já pensou em sair daqui?
Já pensei isso no começo, em meio às dificuldades naturais, mas agora estou tranqüilo. Tem gente que pensa em vender área pequena para ir mexer com boi, mas comigo é diferente. Estou decidido a permanecer aqui, mexendo nas minhas hortas, que é o que sei fazer muito bem. A vida é aqui é muito boa. Temos atendimento de saúde, o ônibus leva ao colégio e traz para casa filhos. Eles poderão estudar até o segundo grau com esse conforto. Quem não quer continuar tendo uma vida boa dessa?

EDVALDO ANDRADE



“Assentamos quem tem perfil adequado”

O técnico agrícola Edvaldo Andrade tem sido o braço do governador Jorge Viana na organização dos pólos agroflorestais desde que o primeiro foi criado há 10 anos, quando ambos passaram pela prefeitura de Rio Branco.

Edvaldo Andrade atualmente gerencia os 12 Pólos Agroflorestais, a partir da Secretaria de Extrativismo e Produção Familiar.

Nos últimos 10 anos você se dedica aos pólos agroflorestais. Qual sua avaliação sobre essa iniciativa pioneira?
Quem vive hoje nos pólos agroflorestais vivia antes sem condições de estrada ou energia ou em condições miseráveis nas periferias das cidades. Receberam lotes demarcados, casa, os filhos começam a estudar, passam a lidar com o crédito. Além disso, existe o aspecto da produção, que significa emprego e renda. O sistema florestal é o que norteia tudo isso, possibilitando a recuperação dos recursos naturais, como as bacias hidrográficas, as matas ciliares.

Existe algum risco de parar a expansão dos pólos agroflorestais?
Não acredito nessa possibilidade. A tendência é melhorar, corrigindo alguns erros que possam ter ocorrido ao longo do processo, desde quando o então prefeito Jorge Viana criou o primeiro.

O que está sendo feito nesse sentido?
Estamos buscando parceiros que possam colaborar. Hoje, a tendência é conceber os novos projetos de pólos agroflorestais com perfis específicos, por exemplo, de galinha caipira, de hortaliças, de frutíferas. Cada novo projeto é sempre um desafio.

Por que?
Quando estávamos na prefeitura parecia mais fácil porque os comando eram mais ágeis. No Estado, estamos trabalhando aqui em Rio Branco, mas também estamos operando em Cruzeiro do Sul. Os comandos então são diferentes e mais desafiadores. Quem tem dado a resposta de que os pólos agroflorestais são realmente viáveis são as famílias. É emocionante quando a gente visita essas famílias e somos convidados a compartilhar da fartura alimentar em suas casas.

Pode citar outro momento de emoção decorrente da realização desse trabalho?
Foi quando fomos reconhecidos e premiados pelas fundações Getúlio Vargas e Ford. Outro momento, ocorrido na semana passada, foi ter recebido a visita de uma missão do BNDES. Um dos consultores do banco relatou que conhecia vários projetos no Brasil, mas jamais havia constatado quem tivesse conduzido com tanto realismo como nós temos conduzido, possibilitando que a agricultura familiar tenha acesso a crédito, assistência técnica, escoamento da produção, saúde e educação.

Quais são as metas para os próximos dois anos de governo?
Pretendemos assentar mais 700 famílias. Está muito mais fácil alcançar essa meta em decorrência da captação de recursos pelo governo estadual para investimento na infra-estrutura dos projetos. Portanto, não existe motivo para que haja invasão de terra ou coisa parecida, porque o Estado, além do Incra, que faz a política de reforma agrária, vem trabalhando com os pólos e quintais florestais.

O que deve fazer quem queira ser assentado num pólo agroflorestal?
A partir de junho, vamos iniciar o processo de seleção das famílias. Nós temos parcerias com federações e sindicatos de trabalhadores rurais, que nos auxiliam no processo de seleção. Temos milhares de famílias inscritas em todos os municípios, mas depois elas são submetidas ao nosso processo de seleção, que é muito rígido. Assentamos quem tem realmente perfil adequado às atividades que vai desenvolver.

LUA, LUA, LUA


Noite bela em Rio Branco: lua vista aqui do alto, às 20h56.

sexta-feira, 22 de abril de 2005

TEREZINHA "CHUPA" BEM


A “jornalista” Terezinha Moreira copiou do jornal Amazonas em Tempo, de Manaus, a reportagem “Amazonas quer áreas perdidas para o Acre” e a publicou no site "Notícias da Hora". O trabalho que teve foi pespegar o nome dela com destaque, no topo do texto, omitindo a fonte e dando-a como procedente da redação do site "Erros da Hora". Meus amigos Hermengarda Junqueira (diretora) e Mário Adolfo (editor) não vão gostar da brincadeira da Terezinha, podem anotar. Uma vergonha!
P.S.:
A "recortagem" foi removida do site.

PRESERVAÇÃO AMBIENTAL


A primeira Área de Proteção Ambiental (APA) do Acre poderá ser criada pelo prefeito Raimundo Angelim, com apoio da Câmara Municipal, na Vila Irineu Serra, em Rio Branco, em atendimento à reivindicação da comunidade e dos dirigentes de quatro centros da doutrina do Santo Daime.

APA é uma categoria de unidade de conservação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), assim como os parques nacionais, reservas biológicas, reservas extrativistas e outras, porém, detém algumas características.

Os principais objetivos de uma APA são: proteger paisagens e belezas cênicas, rios, nascentes e riachos; incentivar o uso equilibrado dos recursos naturais; estimular o desenvolvimento regional e preservar as espécies animais e vegetais.

Lugar histórico - A Vila Irineu Serra existe há mais de 50 anos. A imensa área original foi doada pelo ex-governador e ex-senador José Guiomard dos Santos ao mestre Raimundo Irineu Serra, que lá fundou o Centro de Iluminação Cristã Luz Universal. Foi fracionada ao longo dos anos, mas ainda forma, no ponto mais alto da cidade, uma das mais belas paisagens naturais, a 8 quilômetros do centro.

A Área de Preservação Ambiental Raimundo Irineu Serra (Aparis), com pelo menos 1,2 mil hectares, formaria a maior área verde da bacia do igarapé São Francisco, segundo Arthur Leite, secretário municipal de Meio Ambiente.

A proposta é resultante de longa discussão pela comunidade. Ela quer ajudar o poder público a restaurar o ecossistema natural da área degradada à sua condição original, mediante processos de reflorestamento, incentivando a manutenção das populações tradicionais e o uso sustentável dos recursos naturais da área.

Os moradores querem, ainda, proteger e garantir as manifestações culturais originais das populações tradicionais, integradas ao ecossistema nativo, notadamente o plantio e o cultivo das espécies Bannisteriopsis Caapi (cipó jagube) e Psychotria Viridis (folha rainha), bem como proteger o uso religioso da bebida denominada ayahuasca.

Nenhum projeto de urbanização pode ser implantado numa APA sem prévia autorização de sua unidade administradora. As áreas de florestas existentes podem vir a ser consideradas Zonas de Conservação da Vida Silvestre, nelas não se podendo realizar desmatamentos e nenhum tipo de exploração ou atividade que implique alteração na fauna ou na flora.

Torço pela criação da APA porque nela está a minha casinha e o verde que quero ampliar e preservar com esperança. No entorno da caótica Rio Branco, a Vila Irineu Serra é o paraíso.

quarta-feira, 20 de abril de 2005

ALTO ACRE


Os investimentos no semanário "O Alto Acre", do município de Brasiléia, não parecem bem aplicados. O jornal, que tem o Alexandre Lima como editor, repórter, revisor, fotógrafo, diagramador e arte-finalista, saiu com aquele discreto erro de concordância na manchete da primeira edição. Afinal, foram investidos 160 mil o quê?

terça-feira, 19 de abril de 2005

MÁRIO LIMA ESCREVE

Caro Altino

Em alguns momentos, as coisas chegam a uma situação de histeria ou, o que é pior, à falsificação de conceitos, com o mero interesse de gerar notícias ou de criar fatos para atingir pessoas.

As posições da senadora Marina, desde sempre, a fazem alvo preferencial desse tipo de situação.

Quando a senadora chegou a Brasília, assumia um mandato no senado a senhora Benedita, do Rio de Janeiro.

As duas foram consultadas sobre uma reforma e troca de móveis que deveriam ser efetuadas nos apartamentos que ocupariam.

A senadora Marina simplesmente abriu mão, alegando que o apartamento que lhe fora indicado tinha comodidades superiores as que contaria em sua casa em Rio Branco.

O mesmo não fez a senadora Benedita. Dias depois, os jornais brasileiros divulgavam que a senadora do Rio chegava a Brasília apelando para mordomias que incluíam a troca das camas do apartamento.

A senadora Marina passou tranquilamente pela armadilha que fora armada pelo secretário do Senado a quem foi atribuído o vazamento das informações para a imprensa.

Na situação atual, pergunto-me: será que o Fabio deve abrir mão de empregos para "parecer" não envolvido em trocas de favores? Imagine se ele assume um cargo numa empresa que trate de questões agrícola ou florestal - ele é profissionalmente preparado para tal. Imediatamente será dito que a senadora efetua troca de favores com o setor privado.

O mais grave disso é que, criada a versão, uma nuvem negra passa a pairar sobre a cabeça de quem teve o dedo para si apontado. Conheço, há muito tempo, desde que aportou no Acre para trabalhar como técnico agrícola da Secretaria da Agricultura o Fábio. Mesmo sem maiores contato, acompanho sua trajetória.

Jamais alguém deve ter visto o Fabio buscar as luzes ostentando sua posição de esposo de uma das mais reconhecidas parlamentares da atualidade. Se tal posição contém riscos e armadilhas espalhadas, pelo que sei, Fabio manteve-se cuidadosamente, como parece ser próprio de sua personalidade, afastado das pressões a que deve ser submetido diariamente.

Agora, surge a "denúncia" de nepotismo. Como caracterizar tal situação? Quem pode, conhecendo a vida da senadora, afirmar que a ela cabe a ação que levou a contratação do esposo para o cargo no gabinete do senador?

Desempregado, agora, talvez se comece a falar que, incapaz de procurar um emprego, "vive à custa da mulher".

Um abraço

Mário José de Lima

segunda-feira, 18 de abril de 2005

ASSASSINO


Alguns acham que exagero ao expor sempre o ridículo do site Notícias da Hora, conhecido também como Erros da Hora. Mas está escrito lá: "Convênio assassinado hoje entre a Secretaria de Educação e a Universidade Federal do Acre...". Para confirmar, clique no nome do radialista Roberto Vaz, dono do site.

MENSAGEM DA CAVERNA

Mensagem simpática a que foi deixada pelo anônimo Astronauta de Mármore, insondável senhor da Caverna da Lua de Saturno, em resposta ao comentário de alguém que insinuou que eu seria censurado e chamado a dar explicações por conta da reprodução aqui de uma nota de jornal desfavorável à ministra Marina Silva.

Eis a opinião do Astro:


"Não sei porque reclamam do Altino. Ele deve ter seu emprego ou tarefa ligadas ao Estado ou políticos da FPA e ser remunerado. Mas é mais independente que muitos que hoje na oposição falam de censura, mas que se estivessem mamando em governos, seriam subservientes até o talo...rssss...

"Continuo admirando o Altino, mesmo que discorde de eventuais opiniões que escreve e concorde com outras. Concordo com muitas, por sinal.

"Mas considero isso secundário, pois o valor que admiro das pessoas está na personalidade, na convicção, na sinceridade que faz que se posicionem sem autocensura. E que lutem pra sobreviver do jeito que podem.


"O Stélio é outro cara que respeito porque também é assim, com alto teor de liberdade. O Toinho Alves...

"Mundando de área, sabe um cara que aprendi a admirar? O Roberto Campos, apelidado pela esquerda de "Bob Fields", pois sendo um ultra-liberal, defendia com convicção e abertamente o que acreditava.

"Quantos "revolucionários", nossos companheiros, não se revelaram no poder verdadeiros enganadores, fracos, empulhadores?

"Assina: Astronauta"

domingo, 17 de abril de 2005

DESMATAMENTO

Amazônia perde 30 mil km2 de florestas

Área desmatada entre agosto de 2003 e de 2004 corresponde ao Estado de Alagoas. Os números ainda serão divulgados oficialmente por técnicos do Inpe.

RONALDO BRASILIENSE

Os números ainda estão sendo guardados a sete chaves pelo governo por causa da inevitável repercussão internacional negativa, mas para técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do próprio Ministério do Meio Ambiente e de organizações não governamentais (ONGs) não há mais dúvidas: os desmatamentos na Amazônia entre agosto de 2003 e agosto de 2004 devem bater todos os recordes.

A previsão pessimista é de que pelo menos 30 mil quilômetros quadrados de floresta tropical tenham sido derrubados no período. É um território equivalente ao do Estado de Alagoas. Os otimistas, entre os quais se incluem o secretário de Florestas e Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, e o diretor de Proteção Ambiental do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Flávio Montiel, acreditam que as taxas de desmatamento se situarão no patamar do período entre agosto de 2002 e agosto de 2003, em torno de 23,7 mil quilômetros quadrados, uma área quatro vezes maior do que o território do Distrito Federal.

“Os dados mais recentes mostram que o desmatamento na Amazônia está estável e que agora é o momento para trabalhar a prevenção e reduzir ainda mais esse número”, afirma Flávio Montiel. “A velocidade do desmatamento diminuiu, mas não quer dizer que parou. Está praticamente zero, mas precisamos nos preocupar”, acrescentou.

A taxa de desmatamento das florestas amazônicas no período compreendido entre agosto de 2002 e agosto de 2003 foi de 23.750 km2. A área desmatada no período é a segunda maior registrada na Amazônia, em todos os tempos, superada somente pela marca histórica de 29.059 km2 devastados em 1995. O índice de desmatamento de 2002 foi revisado pelo governo e passou de 25.476 km2 para 23.266 km2.

Os indicativos de que os desmatamentos na maior floresta tropical do mundo foram maiores do que nos anos anteriores são visíveis. O Ibama, por exemplo, flagrou um único desmatamento, na região da Terra do Meio, em São Félix do Xingu, no Pará, com mais de 6.500 hectares de florestas derrubados. É como se 6.500 campos de futebol semelhantes ao Mangueirão tivessem vindo abaixo.

No Estado do Mato Grosso houve um incontestável avanço das áreas agrícolas sobre a floresta nativa e o próprio crescimento do PIB nacional, como ocorreu em anos anteriores, coincidência ou não, mostra que nos anos de maior crescimento da economia brasileira houve também aumento dos desmatamentos nas áreas de floresta. Os recordes nas exportações de soja e o aumento da área plantada no Mato Grosso são comprovações dessa tese.

Outro componente importante para o aumento dos desmatamentos na floresta amazônica são os assentamentos de trabalhadores rurais feitos pelo próprio Ministério do Desenvolvimento Agrário através do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Nesses assentamentos, a maioria sem receber créditos do governo, milhares de pequenos agricultores são obrigados a derrubar pequenas áreas de floresta – entre dois e quatro hectares – para fazer roças a fim de garantirem a sua subsistência. A somatória desses pequenos desmatamentos, porém, acabam influindo nos índices finais dos desmates da floresta amazônica.

E mais: a exemplo dos últimos anos, mais de 70% de todos os desmatamentos constatados pelas imagens colhidas pelo satélite Landsat na Amazônia brasileira concentram-se em 44 das 229 imagens coletadas, localizadas na área batizada pelo Inpe como “Arco do Desflorestamento da Amazônia”. Engloba terras localizadas no norte do Mato Grosso, sul/sudeste do Pará, norte do Tocantins, sudoeste do Maranhão e terras às margens da rodovia BR-364 (Cuiabá-Porto Velho), onde se concentram projetos agropecuários e agrícolas, com destaque para o avanço do plantio de soja em áreas de floresta tropical, principalmente no norte do Mato Grosso.

O ecólogo norte-americano Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), alerta ainda para o fato de que os desmatamentos na Amazônia contribuem com 6% a 7% para o efeito estufa mundial. O Brasil é, segundo Carlos Nobre, pesquisador do Inpe, responsável pela maior parte das emissões globais de carbono por desmatamento em florestas tropicais.

Quando as taxas de desmatamentos finalmente forem reveladas pelo Ministério do Meio Ambiente é bom lembrar que, apesar de nominalmente referir-se ao período que vai de agosto de 2003 até agosto de 2004, elas mostrarão principalmente as derrubadas feitas em 2003. Isso porque, na Amazônia, os desmatamentos ocorrem principalmente na época do chamado “Verão Amazônico”, que vai de junho a novembro. Já durante o “Inverno Amazônico”, nos meses de chuva, o corte de árvores e as queimadas são impraticáveis.

Metodologia não permite detectar os pequenos focos
O índice oficial do desmatamento na Amazônia aferido pelo Inpe baseia-se em imagens capturadas pelo satélite Landsat para o Prodes, seu programa para acompanhar o desflorestamento na Amazônia. O instituto analisa as imagens em escala 1/250 mil. Nessa proporção, é impossível enxergar, por exemplo, pequenos focos de desmatamento com menos de 6,25 hectares. Existe tecnologia para processar estas mesmas imagens com escala de 1/50 mil, capaz de revelar a floresta com maior resolução e riqueza de detalhes. Dá para vê-la 5 vezes mais de perto, detectando qualquer tipo de devastação a partir de 1,25 hectare. Mas essa tecnologia não é empregada pelo Inpe. A razão tem a ver com a metodologia.

Além do Landsat, dois outros satélites fornecem imagens usadas para identificar desflorestamentos na Amazônia. Um é o Cybers, projeto conjunto entre Brasil e China. O outro chama-se Modes e serve de pilar ao programa Deter, do Ministério do Meio Ambiente e Ibama, dedicado a achar desmatamentos em tempo real na região. Por conta dessa característica, de geração de imagens no menor espaço de tempo possível, a resolução da produção do Modes é baixa, coisa que o impede de detectar qualquer desmatamento com menos de 10 hectares. (R. B.)

Inpe já faz monitoramento por satélite em tempo real
Já estão disponíveis na internet as informações sobre o desflorestamento da Amazônia registradas pelo Sistema Deter – Detecção de Desmatamento em Tempo Real, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), instituição vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. O Deter tem o apoio do Ministério do Meio Ambiente e Ibama.

O programa mostra o local e a área de desmatamentos na região amazônica, classificados por período observado e faixa de área (maior que 25 hectares até mais de 5 mil hectares). Até o momento, é possível obter dados que foram processados, mensalmente, no período de agosto de 2003 a outubro de 2004. Para 2005, a meta é aumentar a freqüência de disponibilização dos dados para duas a três vezes ao mês.

O Deter não tem como objetivo calcular a extensão das áreas desmatadas – função já exercida pelo Projeto Prodes, que divulga anualmente as taxas de desmatamento da Amazônia Legal através do monitoramento por satélite. Ele foi desenvolvido para fornecer rapidamente aos órgãos de controle ambiental informações periódicas sobre eventos de desmatamento, para que o governo possa tomar medidas de contenção. Como o sistema produz informação em tempo “quase real” sobre as regiões onde estão ocorrendo novos desmatamentos, a sociedade brasileira passa a dispor de uma ferramenta inovadora de suporte à gestão de terras na Amazônia. (R. B.)

Pecuária é a maior responsável pelos desmatamentos
Estudo do Banco Mundial (Bird), assinado pelo economista Vinold Thomas, diretor, e Sérgio Margulis, economista ambiental, sugere que a expansão da pecuária ainda é responsável pela maioria dos desmatamentos na Amazônia brasileira. A pecuária ocupa 75% das áreas desmatadas, sendo os médios e grandes pecuaristas os maiores responsáveis pela ocupação. Do ponto de vista econômico, o processo decorre primordialmente da alta lucratividade privada na região quando comparada a outras atividades, não-pecuárias, ou quando comparada à pecuária em outras áreas do País.

Em Alta Floresta (MT), por exemplo, a receita líquida estimada da criação de gado por hectare é de R$ 139 ao ano; em Paragominas, no Pará, chega a R$ 103. Já no município paulista de Tupã, tradicional produtor de gado, o mesmo ganho é de R$ 65. As taxas de retorno na região amazônica chegam a ser quatro vezes maiores do que no centro-sul do País. Essas diferenças impulsionam o crescimento da pecuária e o desmatamento da Amazônia, segundo os economistas do Banco Mundial.

O cálculo dos lucros privados dos pecuaristas, porém, não incorpora os custos ambientais dos desmatamentos. Enquanto um pecuarista lucra, em média, US$ 75 por hectare a cada ano, os custos ambientais são estimados em US$ 100 - e possivelmente muito mais -, sugerindo que o país como um todo sai perdendo. Além disso, boa parte da pecuária se expande sobre terras do Estado, freqüentemente envolvendo grilagem e violência no campo.

“O principal problema é, portanto, que a renda da pecuária é significativa, ainda que concentrada e implicando altos custos sociais e ambientais. Como estes últimos são difusos, envolvendo impactos nas populações locais e na comunidade global, não há mecanismos triviais de compensação. É como a poluição das indústrias e dos veículos, que afeta a todos: sem a presença do Estado, os custos sociais recaem sobre toda a sociedade, ainda que a indústria seja lucrativa e gere renda privada”, concluem os economistas do Bird.

Soja - O crescimento das áreas de plantação de soja está deslocando os terrenos usados para a pecuária para dentro das florestas e indiretamente está produzindo desmatamento. A conclusão é do estudo “Relação entre Cultivo de Soja e Desmatamento”, realizado por iniciativa do Grupo de Trabalho sobre Florestas do Fórum Brasileiro de Organizações Não-Governamentais e Movimentos Sociais para Meio Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS).

O estudo levou em conta questões relacionadas com a expansão da área cultivada, principalmente no Estado do Mato Grosso e na Amazônia brasileira, sem analisar a relação entre desmatamento e processos secundários da produção do grão, como o beneficiamento (em que é usado carvão vegetal), e os impactos gerados pela instalação de infra-estrutura de escoamento, como a construção de estradas.

“Há dois principais resultados do estudo: o primeiro aponta para fato de que a soja empurra a pecuária para áreas de floresta. O segundo é que o prazo entre o desmatamento e a instalação da cultura da soja se reduziu muito ao longo dos últimos anos. Antes, era de cinco, seis anos. Agora, passou a ser de dois, na média”, afirma o coordenador da pesquisa, Roberto Smeraldi.

Segundo o estudo, a soja, apesar de influenciar o aumento do desmatamento de florestas, não é o único fator a agir no processo. “A análise entre a expansão da soja e a taxa de desmatamento nos municípios mostrou que existe uma relação indireta entre os dois processos, ou seja, a soja é um dos fatores do desmatamento, mas não é o único e o influencia indiretamente”. Smeraldi destaca que não há um “vilão” do desmatamento. Para Smeraldi, o desmatamento nas proporções atuais é resultado da existência de uma “sinergia”, de uma “cadeia do desmatamento”. “É um processo, é um ciclo, não existe o vilão. Qual é o efeito da soja nesse ciclo? Ela é um turbinador do processo de desmatamento. Ela torna o processo de desmatamento mais rápido e o direciona para as áreas que são de interesse para a agricultura mecanizada”, conclui. (R. B.)

Fonte: O Liberal

PERDAS E DANOS

Do jornalista Augusto Nunes em sua coluna na edição de hoje do Jornal do Brasil:

Renunciar ao passado dói bem menos
A acreana Marina Silva elegeu-se senadora pelo PT do seu Estado graças aos combates travados contra predadores da Amazônia e delinqüentes ecológicos. Nomeada ministra do Meio Ambiente, tem perdido todas as batalhas: companheiros de governo tratam as idéias de Marina como pura poesia.

A gaúcha Dilma Rousseff, ministra de Minas e Energia, é mais beligerante que Marina. Perde aqui, ganha ali e vai em frente. Nos últimos dias, amargou derrotas que também atingiram Marina. As duas nem sequer examinam a hipótese de deixar o cargo: melhor renunciar a princípios que à vida boa de ministro.

quinta-feira, 14 de abril de 2005

FLORESTAS PÚBLICAS


Estive na audiência pública do Projeto de Lei que regulamenta o uso sustentável das florestas públicas brasileiras e cria o Serviço Florestal Brasileiro. Othília Sampaio, advogada e ex-diretora nacional do Incra, protestou tocando fogo numa cópia do projeto.

A audiência realizada em Rio Branco durou mais de cinco horas
. Othília argumentou que as leis e as instituições brasileiras que já existem são suficientes para viabilizar todas as medidas sugeridas pelo projeto.

-O que está sendo proposto na verdade é a internacionalização da Amazônia e não posso aceitar isso calada - afirmou. Othília entregou ao representante do Ministério do Meio Ambiente e aos deputados federais um documento contendo suas contestações.

Quando o calor das chamas aqueceu-lhe a mão, Othília se viu obrigada a pedir socorro aos seguranças:

-Peguem aqui! Peguem aqui!

Noutro protesto, o professor Élder Andrade rasgou o projeto. No entanto, as manifestações de apoio superaram os protestos durante a audiência. A foto acima é da jornalista Alcinete Damasceno.

"Audiência sobre o Projeto de concessão das florestas públicas. Élder Andrade foi radical, rasgou o projeto ao final de sua performance teatral. Mas foi superado por Othília Melo (sim, a irmã do Flaviano), que queimou o projeto em nome de “nossos antepassados”. Bem, ela sabe o que diz: sua autoridade sobre o assunto vem desde que seu avô, o coronel Flávio, era dono de quase toda a cidade de Rio Branco e tinha poder para decidir quem vivia sobre a terra e quem ia morar embaixo dela", afirma o jornalista Antonio Alves.

Para ler a opinião dele, no blog "O Espírito da Coisa", clique em "Insustentável...". Vale a pena ler também o artigo "Amazônia e Xenofobia", de Maria Teresa Jorge de Pádua, fundadora da Funatura.

Ao contrário do que informa o site Notícias da Hora, também conhecido como Erros da Hora, o governador Jorge Viana e o prefeito Raimundo Angelim não participaram da audiência, que começou pela manhã e se estendeu até a tarde.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também não compareceu por estar enfrentando dores nas pernas.

quarta-feira, 13 de abril de 2005

COMUNICAÇÃO E ARTE


Coro de cor/ Sombra de som de cor/ De mal-me-quer/ De mal-me-quer de bem/ De bem-me-diz/ De me dizendo assim/ Serei feliz/ Serei feliz de flor/ De flor em flor/ De samba em samba em som/ De vai e vem/ De ver de verde ver/ Pé de capim/ Bico de pena/ Pio de bem-te-vi/ Amanhecendo sim/ Perto de mim/ Perto da claridade/ Da manhã/ A grama a lama tudo /É minha irmã/ A rama o sapo o salto/ De uma rã
A RÃ (Caetano Veloso-João Donato)


O músico acreano João Donato disse que já começou a compor a rapsódia em homenagem ao Acre, mas está impaciente para voltar novamente à terra. Quer vir antes da inauguração da Usina de Comunicação e Arte João Donato com a qual o governo estadual vai homenageá-lo.

-Preciso comer bombons de cupuaçu, tomar vacina do sapo, tacacá, voltar ao Alto Santo, aos índios, perambular pelas ruas sem pressa. O George Gershwin compôs a Rhapsody in Blue. A minha vai ficar linda também, mas é a Rhapsody in Green.

João, que está comemorando 70 anos de carreira, nasceu no Acre e começou a tocar acordeom e piano na infância. Mudou-se para o Rio de Janeiro na década de 40 e no início dos 50 já atuava profissionalmente na noite carioca.

Logo fez amizade com Tom Jobim e João Gilberto - com quem excursionou pela Europa. Foi para os Estados Unidos nos anos 60 e morou lá por mais dez anos.

Nos EUA gravou discos solo e com outros artistas. Suas músicas, com forte caráter instrumental, ganharam letras de parceiros diversos. Alguns exemplos são "A Rã" (com Caetano Veloso), "A Paz" e "Lugar Comum" (ambas com Gil).

A conversa com ele foi compartilhada com o Toinho Alves, que sugeriu o nome do maestro acreano Mário Brasil quando nos perguntou como poderia executar a rapsódia com orquestra no Acre.

João leu em voz alta um poema que escrevi. Quando perguntei se era possível musicá-lo, respondeu:

-Claro que é. Tudo é.

Donato pediu a foto que tirei de uma rã que apareceu sobre minha mesa numa noite do ano passado.

-A sua rã é lindinha e eu preciso tomar a vacina do sapo.

Mas o que deixou João realmente feliz foi saber da notícia de que a diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou, no final de março, aporte adicional, no valor de R$ 850 mil, para o Estado do Acre implantar a Usina de Comunicação, uma escola técnica de artes e comunicação, em Rio Branco.

A suplementação financeira corresponde a 22% do investimento para implantação da Usina. O projeto faz parte do investimento total do Governo Estadual, no valor de R$ 50 milhões, para o Programa Integrado de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Acre (PIDS Acre), que contratou com o BNDES financiamento no valor de R$ 39,9 milhões, em abril de 2002. O programa inclui, ainda, investimentos em infra-estrutura urbana e regional, e em desenvolvimento social.

O projeto da Usina de Comunicação tem o objetivo de oferecer formação técnica em comunicação e artes, com instalações de suporte ao sistema educacional e à comunidade, à produção de programas, eventos e serviços artísticos.

As instalações poderão ser utilizadas, inclusive, por profissionais das redes estaduais de rádio e TV educativas, por produtores culturais, artistas e funcionários dos órgãos do estado e também por entidades que trabalhem com a promoção da cultura.

Cursos – O ensino das artes pretende suprir deficiências técnicas básicas de produção artístico cultural do Estado do Acre. Após a conclusão de um curso básico, o aluno poderá optar pelo seguimento artístico desejado, seja teatro (formação de atores, encenadores, oficinas de iluminação, sonorização, figurinos e adereços cênicos); artes plásticas (pintura e escultura); ou música (formação de instrumentistas de sopro, cordas, percussão, música popular, tecnologia e de cantores).

Na área de comunicação, as atividades são destinadas tanto a iniciantes quanto aos que já desenvolvem atividades em instituições de comunicação e buscam qualificação em rádio, TV e jornal. Entre os cursos técnicos estão: teleradiodifusão; design gráfico; operação em câmera; edição de vídeos; redação para rádio; jornal comunitário; iluminação; e sonoplastia.

As aulas serão ministradas por professores do quadro da Secretaria de Estado de Educação, qualificados nas áreas de abrangência dos cursos. A implantação e o gerenciamento ficarão a cargo da Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansour (FEM), órgão do executivo estadual para cultura.

segunda-feira, 11 de abril de 2005

MARGARIDA CAETANO


Ela é uma jornalista portuguesa, editora do jornal Destak, de Lisboa, mas desde o ano passado se tornou leitora assídua deste e do blog O Espírito da Coisa, do Antonio Alves. Margarida Caetano é dona do blog Meridianos & Paralelos

Ano passado, trabalhou como jornalista da equipe selecionada pela ONU e Fundação Nacional de Saúde para o acompanhamento do Projeto Índios Isolados da Amazônia, sendo a responsável pela cobertura de reportagem e organização dos respectivos conteúdos informativos.

Formada em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa e com pós-graduação em jornalismo, com tese na área da Comunicação nos Media, Margarida Caetano é uma das profissionais mais respeitadas em seu país.

Desde que conheceu a Amazônia, tem direcionado o trabalho dela para chamar a atenção da opinião pública portuguesa para a região. Tive a oportunidade de entrevistá-la hoje, via MSN Messenger. Vale a pena ler:

Continua leitora do blog? O que acha dele?
Você é meu jornalista preferido da floresta. Aliás, estou a cada post mais orgulhosa de você.

Você prometeu voltar à Amazônia, ao Acre especialmente, mas até agora não apareceu cá. Por quê?
Nem me fale. A vida está me retendo por aqui. Aceitei um trabalho, achei que fosse estar liberta, mas só me enrola cada dia mais. Isso me afasta de minha gente, do país que trago no coração. Cada amanhecer é uma dor de saudade, sabe?

Leio sempre seus comentários no blog do Toinho Alves e quase chego a sentir ciúme por comentar poucas vezes no meu.
Verdade? Mas saiba que sou imensamente orgulhosa de seu trabalho. Sempre acompanho com muita atenção. Sempre mesmo. Apenas que muitas vezes eu temo estar por fora dos assuntos e me meter feito loira bobinha que não sabe do que fala.

Compreendo.
Verdade. Muito lhe cito aqui, junto de minha equipe, como exemplo de jornalista nato, coisa de faro e atenção, certeiro na história e no ângulo.

Onde você trabalha atualmente?
No jornal Destak. Esse projeto me pegou de jeito, viu? Ele é o primeiro diário de informação gratuito no país. Sou a editora. De repente não soube como resistir a fazer notícias de graça, me amarrei nessa coisa de chegar às pessoas sem que elas paguem um tostão.

Estou conferindo o site do jornal. Ele tem uma versão impressa?
Sim. Alias, a versão on-line é que ainda está no começo. O jornal é distribuído todas as manhãs: na rua, no metrô, nos ônibus, nos pontos de maior afluência de gente.

É um jornal nesse formato, com essa qualidade gráfica, que vivemos a sonhar aqui. Vou jogar na loteria mais vezes. Destak é distribuído gratuitamente?
Eu sonho poder fazer algo igual aí: do seu lado, grande repórter. Sim, é distribuído gratuitamente. Tem quatro anos esse projeto. Entrei na fase em que a aceitação foi tamanha que ele passou de semanário a diário.

Mas é quase impossível realizar um projeto desse aqui. Não dispomos de capital financeiro para viabilizá-lo a menos que obtivéssemos a solidariedade internacional para comunicação sustentável na Amazônia.
Esse é o ponto por que me tenho batido aqui no jornal. Você tocou justo no ponto. É uma luta braba. Titânica, eu diria. Eu sempre alinho matérias caras ao povo que trago no coração. Nunca eu perco uma oportunidade para colocar as questões da florestania no Destak.

Qual tem sido a reação?
Não tem sido fácil. A administração me enche o saco.

Ela não tem noção da relevância do tema para os lisboetas?
Exatamente. Na manhã seguinte sempre falam a mesma imbecilidade: «Esse tema é tão distante! Ele interessa a poucas pessoas!» Na verdade eu teimo: sempre coloco o que quero na edição, mas me entristece profundamente ter que repetir o que já expliquei mil vezes. Aí, na manhã seguinte, eu faço meu melhor ar de "loira tonta e distraída" e falo: «Acha ruim? Pareceu-me muito importante.»

A quem pertence o Destak?
Pertence ao grupo Cofina, que é um dos 3 maiores daqui. É holding que tem várias publicações.

Qual a tiragem?
Você iria rir, tendo em conta a dimensão de continente de nosso Brasil brasileiro. Mas aqui para Portugal é muito: 100 mil exemplares diariamente. Por enquanto a gente só está chegando à zona da Grande Lisboa, o que inclui arredores: Cascais, Sintra, Almada, Sesimbra. Mas o maior diário de tiragem nacional, Correio da Manhã, também da Cofina, ele tira 80 mil exemplares.

Então o Destak tem tiragem superior.
Sim. Esse projeto está surpreendendo à todos. Em janeiro, uns suecos colocaram um concorrente no mercado. Chama Metro. Mas eu, sinceramente, achei muito legal, pois quanto mais jornais gratuitos, melhor. Acredito que esse é o caminho correto: ninguém deveria precisar pagar para ter direito à informação.

E quem financia jornais gratuitos?
A publicidade. No inicio eu aceitei meio desconfiada. Chamaram-me para pegar no projeto e converter em diário. Deram-me 10 dias para formar equipe, definir plano editorial, organizar a redação, fontes, enfim. Receei que logo começassem as pressões sobre a escrita para não ferir esse ou aquele anunciante, porque o jornal necessita deles pra sobreviver. Mas é pacífico: não há intromissões. Quando acontecem tentativas, enfrento e a administração se deixa convencer e não me alucina a cabeça.

Trabalhar sem intromissões comprometedoras é vital para o jornalismo.
Puxa! Mas eu sou orgulhosa de meus amigos do Acre. Você precisava ver. Tem amigos meus que sentem até ciúmes.

Para nós é importante saber que alguém, tão distante, tenha percepção da nossa ousadia em não calar.
Tenho muita vontade de escutar vocês, seguir vosso trabalho. É complicado tentar te explicar, mas tem um negócio, uma coisa de bem-querer, um afeto, uma coisa de me sentir muito próxima. Não consigo te explicar direito, na verdade... Recordo perfeitamente o quanto me deixou impressionada a primeira visita em seu blog e de Toinho Alves.

Por quê?
Não creio que as pessoas tenham noção do quanto esse espaço de liberdade de expressão é uma conquista de pulso e convicção no Brasil. Aqui as pessoas imaginam o Brasil das novelas da Globo, da Ivete Sangalo e da Daniela Mercury, entende? O País do Carnaval é para eles a terra de todas as liberdades adquiridas e consentidas. Eu vivo combatendo. Não que eu tenha a pretensão de conhecer melhor que ninguém essa sua terra só porque a amo do fundo da alma, mas é que na verdade eu palmilhei outros trilhos aí.

Quando lê o blog do Toinho ou o meu, não considera a carga excessivamente provinciana da maioria de nossas notas?
De jeito nenhum! E se te disser que defendo justamente que o jornalismo deve cada vez mais se aproximar da província, do bairro? Esse conceito de proximidade à realidade me interessa por demais. Essa atenção ao entorno, como forma de reflexão/intervenção. Vivo bradando que quero a rua nas páginas do jornal. Se pelo meio eu tiver que conceder uma página de "entretenimento" com uma garota de tombar para o lado, tudo bem. Acho legal que o pessoal que acorda cedo para trabalhar sonhe os 20 minutos da corrida do ônibus com uma garota poderosa, um gato bonito, mas me dá uma página mais para uma entrevista com uma pessoa interessante, por favor! Deixa-me criar uma página sobre a mulher. Quero mais um caderno porque preciso de uma seção para falar das coisas da terra, da água e da floresta.

O que é ou significa a Amazônia?
Faz-me a pergunta cuja resposta se grita no meu peito a cada minuto vivido aqui no Velho Reino. Outro dia tropecei no livro de fim de curso do colégio. Eu deveria ter uns quase 17 anos e tinha uma pergunta igual para todo o mundo, assim: “Onde você se imagina daqui a 10 anos?” Eu nem lembrava mais, mas na hora fui ler e lá estava escrito: «Dentro da floresta amazônica». Nada mais. Só assim. Na verdade a Amazônia sempre foi um chamado que eu escutava sem entender. Depois, crescendo, eu me pegava devorando cada pedacinho de notícia a seu respeito que aqui chegava. Na época de Chico Mendes, eu me lembro que gastava minhas mesadas comprando «O Globo», para poder saber a respeito. Não havia internet, nem jornal on-line. Custava uma fortuna porque era jornal importado. E sempre eu seguia tudo o que era a voz da floresta, muitas vezes sem entender. Um dia (e esse dia é melhor nem abordar, pois não saberia como te falar dele em poucas linhas) eu desemboco na floresta. Uma viagem súbita, inesperada, naquele momento. Quase nem sonhada, de tanto medo de viver desejando os impossíveis.

Qual lembrança da Amazônia ficou da viagem que realizou à região a trabalho?
Recordo que eram mais de 23 horas da noite, em Manaus. E, à semelhança desse cheiro único que me faria reconhecer de olhos fechados estar pisando em terras de Vera Cruz, e que sempre me assalta quando saio do "pássaro de ferro", teve esse odor inconfundível. Tinha alguém me esperando que soube que eu era a "Ana de Portugal", mesmo sem placa. E me recordo de me levar na Ponta Negra pra tomar algo fresco. Em todo o trajeto do carro eu não consegui escutar uma palavra. Só essa sensação me entrando: uma coisa de saber que estava me acercando enfim do meu lugar. É difícil exprimir essa coisa tremenda, confesso, muito difícil. Sabe quando você sente que está voltando à casa? Que te devolveram ao teu lugar? Assim foi esse meu chegar às portas da floresta. E a Amazônia foi galgando dentro de mim, a cada passo dado, a cada trilho vagueado, a cada pessoa que parava comigo numa esquina tomando tacacá, numa beira de porto, entre as sacas do mercado.

Agora seus amigos portugueses vão sentir mais ciúmes por causa de nossos blogs?
Tem horas que eu saio voando e falo: agora preciso ir sentar com meus amigos do Acre.

Qual é a sua opinião sobre o blog como mídia?
Olha, eu acompanho o movimento dos blogs portugueses atentamente, desde o comecinho da coisa. Aqui os jornalistas foram os primeiros a perceber o alcance dessa coisa que ninguém ousava tocar, que todo o mundo subestimava e taxava de diário para confissões de adolescentes. Na época, a situação política havia minado os meios de comunicação: a imprensa começara a se concentrar na mão de dois ou três holdings e a liberdade de expressão saiu muito penalizada, após a conquista que fizera desde a Revolução de Abril de 1974. Então as pessoas que reclamavam autonomia do pensar e da palavra, elas se refugiaram nos blogs, assinando com seu próprio nome. Mas de certa forma deslocaram o eixo do seu trabalho crítico das páginas dos jornais e dos ecrans da TV (ocupados sempre pelos mesmos comentadores de serviço) para a blogosfera. Em minha opinião, os blogs passaram a ser o lugar por excelência das tertúlias pensantes. E a coisa foi se afirmando ao ponto de ganhar a dianteira aos meios de comunicação tradicionais. Eu, em verdade, creio que a palavra deve ser volátil: atravessar paredes, furar os olhos, se lançar ao alto. Os blogs são uma espécie de imensa praça: larga e sem constrangimentos. Gosto de pensá-los assim. Gosto dessa coisa que desinquieta e faz quem visita falar.

Quanto tempo os acompanhou sem fazer comentário?
Demorei quase oito meses para um dia deixar meu primeiro comentário. E nessa madrugada eu disse: Ana, se rende! Mas mesmo nesse meu vaguear intruso e sem rastro, muito eles me interpelavam, me paravam, me incomodavam, me faziam pensar, me sugeriam pistas. Acho que um blog é uma arma poderosíssima. Os posts são caravelas largadas que ninguém supõe qual o limite à navegação. Agrada-me acreditar que sempre guardarão essa chama de incondicional liberdade. Gosto dessa coisa democrática que eles têm na medula: não precisar pagar pra ter um blog, não precisar ter um currículo, não requerer permissão. E gosto dessa malha infinda que eles abrem: desse mundo em rede que possibilitam, desse entrar por um e ir dar no outro para sair por aqueloutro. Viu quanta saudade eu tinha de uma madrugada com você? Não paro de falar.

Mas aqui ainda é cedo: 19h27. Agradeço pela entrevista.
Aqui a gente pulou para o horário de verão. Agora é 1h37 da madrugada. Eu que agradeço. Muito eu agradeço: sua amizade, o partilhar comigo seu trabalho pela floresta.

O PT NÃO É MAIS O PT

Está confirmado que o dermatologista Heitor Gonçalves vai mudar do Ceará para o Acre como novo secretário de Saúde. Que defunto duro na queda o futuro ex-secretário Cassiano Marques, hein?

Sobre a indicação de Gonçalves escrevi abaixo a nota “Esperança na saúde”. O jornalista Leonildo Rosas, da coluna Poronga, do jornal Página 20, revelou no dia seguinte que o nome estava guardado a sete chaves e completou:

- O jornalista Altino Machado também divulgou que Heitor Gonçalves pode retornar ao Acre no seu blog (altino.blogspot.com). Por meio de pesquisa na internet, foi até mais detalhado ao escrever sobre a vida do médico cearense. Esqueceu apenas um detalhe: mencionar a fonte. Machado obteve a informação por meio do colunista, em conversa no MSN. Assegurou que não publicaria antes de ver publicado na coluna. Não cumpriu a palavra. São coisas da vida.

Mandei mensagem dizendo ao Leo que meu bloguinho não compete com a coluna dele e que esperava que o episódio não abalasse nossa amizade. Ele respondeu:

- Claro que não, companheiro. Continuo sendo seu fã e tenho o seu texto como referência, embora esteja longe de atingir teu nível. Não estou fazendo média. Digo isso em todos os lugares. Um abraço com sabor de farinha da nossa terra.

Leo, sendo assim, aqui vão duas dicas: 1) Quando sua fonte for uma autoridade e ela quiser administrar a hora de divulgar a informação, desrespeite-a; 2) jamais confie em outro jornalista.

Aliás, ao passar em minha casa ontem, Toinho Alves e eu lembrávamos que o médico Heitor Gonçalves foi embora do Acre porque o então senador Mário Maia (PMDB) quis transformar o setor de saúde em curral eleitoral.

O senador era o todo-poderoso da saúde e Gonçalves resistiu o quanto pôde, com apoio de petistas como Chico Mendes e Marina Silva. O Toinho perguntou:

- Será que o Heitor ainda é do PT? E, caso seja, como vai se sentir ao constatar que o PT não é mais o PT?

sábado, 9 de abril de 2005

FÁBIO VAZ

Suplente defende vaga para marido de Marina


Rosa Costa

BRASÍLIA - O senador Sibá Machado (PT-AC) disse ontem que não se sente constrangido por empregar em seu gabinete Fábio Vaz Lima, marido da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, de quem é suplente. "Marina nunca pediu emprego nem ao governador nem a mim, estou de consciência tranqüila, vou manter toda a equipe e não estou constrangido", assegurou, acrescentando que, para ele, nepotismo é "empregar alguém da família, que não vai trabalhar".

Da tribuna do Senado, onde falou do caso, Sibá afirmou que se sentiu "desrespeitado" com a divulgação da contratação pelo Estado, porque acredita que não descumpriu nenhuma lei nem agiu para atender a interesses de ninguém. Como assessor técnico, Fábio recebe R$ 8,2 mil, o maior salário dos cargos de confiança. Mais tarde, no seu gabinete, o senador deu outra explicação sobre seu discurso em plenário.

CONTEXTO
Ele disse que sua intenção foi mostrar que não agiu errado e rebater a posição do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), favorável à saída de Fábio. "Acho que ele (Suplicy) pouco explicou e mais se intimidou com o problema. Daí a gente avaliou que o adequado seria explicar melhor a situação."

Para o senador, uma notícia como essa "não pode chegar para a sociedade num contexto que leve à rejeição de procedimentos" políticos. "Daí porque eu quis dizer que a gente não está comprometido com esse rol de problemas."

Sibá voltou a afirmar que a iniciativa de contratar Fábio foi sua. "A ministra exonerou sua equipe no Senado por inteiro, fui eu quem disse que queria algumas pessoas com prática", contou.

Fábio vivia no Acre, segundo ele, e era muito requisitado como especialista em biodiversidade. "Todos queriam o Fábio, o governador, os senadores Tião Viana e Geraldo Mesquita, mas pedi que ele ficasse comigo." Sibá argumentou que haveria suspeitas se o marido de Marina trabalhasse numa empresa pública. "Porque aí iriam pensar que isso interessaria a ela, ministra", explicou.

Fonte: O Estado de S. Paulo

sexta-feira, 8 de abril de 2005

TEMPO REI


O site do senador Geraldo Mesquita Júnior (PSOL) abriga um álbum com 17 fotografias de quando ele era filiado ao PSB e um dos expoentes da Frente Popular do Acre.

Elas me fizeram lembrar da letra da canção Tempo Rei, de Gilberto Gil, que diz: “Mães zelosas, pais corujas/ Vejam como as águas de repente ficam sujas”.

Na foto acima, durante viagem por estradas acreanas, estão o desembargador Arquilau de Castro Melo, o senador Geraldinho e o governador Jorge Viana nas águas frias do rio Acurau.

Clique em álbum para ver como todos permanecem bem nas fotos.

P.S.: Jornalista Tião Maia telefona para avisar que tirou a foto acima. Ele acrescentou:

- Depois de fazer a foto, também tomei banho nas águas do Acuraua. Uma delícia.

Tá bem...

quinta-feira, 7 de abril de 2005

CARA- DE-PAU


Meninos, agora eu vi: o site Notícias da Hora, do radialista Roberto Vaz, também conhecido como Erros da Hora, copia textos e publica-os assinados como trabalhos de sua “redação”.

Fez isso com a nota "Fábio pede demissão", publicada originalmente aqui, cuja informação estava incorreta e mereceu ajuste em seguida, e com a reportagem do Jornal do Brasil sobre a demissão de servidores no gabinete do senador Geraldo Mesquita Jr. (PSOL).

Plagiar é feio, mas plagiar notícia furada é cara-de-pau.