domingo, 31 de dezembro de 2006
BINHO MARQUES
Colaboração do cartunista acreano Gean Cabral. Clique sobre a imagem.
Discurso de Posse do Governador Binho Marques
(Nominata)
Com a compreensão de todos, quero começar agradecendo a Simony, minha mulher, companheira de todas as horas, que além do amor e da segurança que me dá, ainda compensa as inevitáveis faltas que tenho tido com os nossos filhos, Maria Clara e Gabriel.
Mas também devo agradecer a Simony pela sua contribuição pessoal à Frente Popular e ao Governo da Floresta, ela que tanto fez pelo nosso projeto, ao lado de nossos companheiros e amigos Toinho Alves e Aníbal Diniz, como jornalista e como militante de primeira hora.
Quero agradecer a minha família, às minhas irmãs Martha, Mirtes e Márcia, ao meu irmão Tony e aos meus pais, Clélia Fecury e Arnóbio Marques, que deram asas aos meus sonhos na infância e na adolescência.
Quero citar o companheiro Siba Machado e a companheira Júlia Feitosa, como forma de agradecer a todos os companheiros e companheiras da Frente Popular.
Agradeço a todos os nossos parlamentares, homenageando a este amigo e companheiro que tanto tem feito pelo nosso Acre e pela nossa causa, o senador Tião Viana.
Obrigado ao governador Jorge Viana, amigo leal, companheiro determinado, exemplo de amor e dedicação ao Acre que deve ser seguido por todos nós.
Obrigado ao povo acreano.
Senhor presidente, senhoras e senhores,
É com muita honra que eu e o vice-governador César Messias estamos aqui, de acordo com a Constituição do Estado e pela vontade da maioria do nosso povo, para assumir o Governo do Acre e governar com todos os acreanos.
A sociedade acreana nos confiou este mandato em função de uma proposta apresentada de maneira muito clara na campanha eleitoral: renovar a aliança da sociedade com o projeto da Frente Popular, representado pelo Governo da Floresta.
Todos nós reconhecemos a magnitude das mudanças, das realizações e das conquistas que se deram nestes oito anos de liderança do governador Jorge Viana.
Portanto, o meu mandato tem o desafio de renovar o que de melhor já se deu no Governo do Acre. E esta não é uma tarefa para ser cumprida por um só cidadão, ainda que investido na condição de governador. Trata-se de uma evolução a ser alcançada pelo conjunto da sociedade.
Renovar, neste caso, melhor se traduz como continuar inovando. Mudar constantemente para manter a coerência, encontrar novas formas de afirmar o mesmo conteúdo. E o conteúdo, a essência do nosso projeto, é a defesa incansável da vida.
A vida como nós aprendemos a viver com nossos antepassados: com liberdade, alegria, trabalho, o pão abençoado por Deus e o sentimento de fraternidade unindo a todos como uma só família. Uma vida amazônica.
Esta vida, conquistada com o sacrifício de tantos heróis – alguns conhecidos, muitos anônimos – esteve ameaçada num passado não muito distante.
Já vivemos tempos difíceis, em que o poder não emanava do povo e se exercia contra ele. Tempos de violência, em que as leis da democracia eram trocadas pela lei do mais forte. Tempos de corrupção e de impunidade. Tempos de tristeza, em que a cultura e a história de nosso povo eram desprezadas e esquecidas.
O Governo da Floresta marca uma fase de Renascimento. Durante oito anos, liderados pelo governador Jorge Viana, trabalhamos intensamente para recuperar o Estado, a economia, os direitos sociais e a dignidade da vida. Hoje, os resultados são visíveis.
Nossas instituições ganharam força e os Poderes do Estado obtiveram avanços não apenas na melhoria dos serviços que prestam à população, mas, sobretudo, no fortalecimento de estruturas perenes para seu trabalho. Agora, todos dispõem das condições básicas para o exercício de suas funções. É hora, portanto, de fortalecer parcerias por melhores serviços e pela promoção da cidadania.
Nossa sociedade, superando a intolerância que predominava no tempo dos conflitos, abriu espaço para o diálogo, aprendeu a superar preconceitos e a valorizar uma diversidade cultural que vai sendo reconhecida como um patrimônio do nosso povo – ou dos nossos povos. O movimento social tem sua legitimidade reconhecida e respeitada. Sindicatos, associações, igrejas, organizações não governamentais, comunidades e todas as formas organizadas para expressão da sociedade civil têm a garantia de encaminhamento das suas demandas. E isto já nos aconselha a refletir sobre o papel cada vez mais importante que elas podem e devem desempenhar.
Indicadores sociais e econômicos atestam que o Acre encontrou o caminho do Desenvolvimento Sustentável, com o respeito ao Meio Ambiente e a valorização da sua diversidade produtiva e de sua vocação florestal. Para seguir em frente, é fundamental consolidar a mudança de paradigma de governo no nosso Estado, que deixa de ser provedor para articulador das atividades sociais, econômicas e políticas.
Nossa economia só será forte com a independência dos setores produtivos. Ao Estado compete planejar bem, remover entraves burocráticos e criar a ambiência favorável; valorizar vocações econômicas, zelar pela sustentabilidade e apoiar a produção; reconhecer o lucro honesto, defender o salário justo e fomentar a distribuição de riquezas.
O Acre, hoje, oferece à iniciativa privada o estímulo de uma boa infra-estrutura e um horizonte de possibilidades que, além das nossas fronteiras, se estende para o mundo.
Todos, portanto, temos condições de cumprir um papel para fazer o Acre avançar. E por isso digo que renovar o projeto desenvolvido pelo Governo da Floresta é uma tarefa de todos.
Reafirmo que o Poder Executivo não fugirá aos seus deveres, e estes começam pela democratização dos espaços de ação na vida social, institucional e econômica do Estado. Mas também reitero o chamamento aos Poderes, às instituições e à sociedade para renovarmos o esforço coletivo pelo desenvolvimento sustentável do Acre com uma efetiva comunhão de responsabilidades.
É também meu dever alertar para as dificuldades, que ainda são muitas. Alguns setores da vida social e da economia avançaram mais, outros menos, e ainda há muita desigualdade. Ainda há fome, violência, doenças e analfabetismo. Enquanto uma só família acreana padecer desses males, não podemos descansar nem dar o trabalho por terminado.
Existem dificuldades externas, que não podemos esquecer, pois condicionam as nossas alternativas e nos obrigam também a rever nossas escolhas.
Somos gratos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, este grande amigo do Acre. Sabemos quanto o Brasil melhorou no seu governo, com uma economia estável e, principalmente, com a melhoria das condições sociais, das quais as regiões Norte e Nordeste, antes esquecidas, são as mais beneficiadas.
Entretanto, o mundo se debate em guerras, conflitos antigos e recentes, e os avanços tecnológicos ao mesmo tempo em que resolvem alguns problemas criam vários outros.
Um dos maiores desafios da humanidade, hoje, é a mudança climática provocada pelo aquecimento do planeta e o esgotamento dos recursos naturais acelerado pelo padrão de consumo dos países mais ricos.
Todos sofremos os efeitos dessas grandes transformações que chegam a lançar dúvidas sobre o futuro da humanidade. Nossa região é especialmente considerada pela sua importância no equilíbrio global e pelas riquezas que ainda guarda.
Precisamos cuidar melhor dessas riquezas, conservar a floresta e compreender a oportunidade que temos de mostrar ao mundo como se pode satisfazer as necessidades da atual geração sem destruir as chances das gerações futuras. Esta é a lei básica da sustentabilidade.
Temos ainda um conflito social de proporções idênticas às catástrofes ambientais que sacodem o mundo. Quem se mantém informado sobre o que acontece nas grandes cidades, onde a violência faz diariamente um número assustador de vítimas, sabe o quanto o Estado brasileiro tem dificuldades para enfrentar o crime, organizado ou não.
Nós, que vivemos numa região movimentada de fronteira, temos que nos antecipar aos problemas, antes que se tornem incontroláveis. Para isto, é necessário rever nosso modelo de crescimento urbano, nosso padrão de consumo, nossas noções de segurança e de cidadania, para reconquistar e manter a noção de comunidade, para reforçar as linhas de solidariedade no tecido social, para construir uma cultura de esperança e paz.
É em meio a esses grandes desafios, mas animados pelos avanços obtidos nos últimos anos, que vamos dar mais alguns passos em busca do nosso destino.
Temos um plano para essa nova etapa, um Programa de Governo que foi construído com a participação direta de mais de quatro mil homens e mulheres, em plenárias e reuniões de trabalho realizadas em todos os municípios do Estado.
A este plano demos o nome de “Desenvolvimento com Oportunidade para Todos”. Sobre ele, a Frente Popular e a equipe de transição se debruçaram, visando cumprir nossos compromissos de campanha com eficiência e representatividade.
A Frente Popular é uma conquista política do povo acreano viabilizada pela maturidade de seus líderes. Ela expressa a essência democrática das coligações como nenhuma outra neste país, porque não é um arranjo partidário feito para ganhar eleições, mas um compromisso plural assumido para governar com união e para zelar pela governabilidade do nosso Estado.
E aqui se faz oportuno citar a destacada contribuição do deputado Edvaldo Magalhães, articulador da base de apoio ao Governo, homem de palavra, companheiro de uma lealdade sem limites, a quem não apenas a Frente Popular, mas o próprio Acre já deve uma extraordinária folha de serviços prestados.
O meu partido, o Partido dos Trabalhadores, pela representatividade de suas lideranças, a competência de seus quadros e a força da sua militância, tem uma contribuição qualitativa indispensável ao Governo; e saberá fazê-la em consonância com os bravos companheiros do PC do B, do PSB, do PP, do PMN, do PL, PV, PRTB, PT do B, PTN, PRP.
Creio que estamos todos de acordo quanto a um princípio básico: o desafio de renovar nossa boa governança começa pela adequação do nosso modelo de gestão, para ajustá-lo aos novos desafios indicados pelo Plano de Governo aprovado nas urnas.
É da Frente Popular o encargo de conduzir o Governo comigo e com o vice-governador César Messias, mas o exercício do Governo deve ser compartilhado com a sociedade, porque só governa para todos quem governa com todos.
Reconheço o papel que compete à oposição, permanecendo disposto a conversar e a buscar o entendimento em função dos interesses da população e do nosso Acre.
Perante todos reafirmo os compromissos expressos em nosso Plano de Governo. E destaco mais estes: zelar pela honestidade, valorizar a competência e subordinar o poder ao interesse público.
Não posso esquecer, senhor presidente, senhoras deputadas e senhores deputados, que a trajetória que me trouxe até aqui representa a realização de um sonho:
O sonho que Chico Mendes soube animar com o seu jeito de falar em esperança, de ensinar as pessoas a amar a vida e aprender que podem fazer deste mundo um lugar cada vez melhor.
As idéias do amigo Chico correm o mundo. E, aqui no Acre, nós podemos dizer com orgulho que seus alunos estão fazendo o dever de casa. O nosso Acre está melhorando e o nosso povo encontra mais justiça no Governo da Floresta.
São muitos os continuadores da luta de Chico Mendes. São milhares de homens e mulheres simples, são centenas de companheiros e companheiras que mereciam ser citados aqui. Mas tenho certeza que todos se sentirão representados pela lembrança da nossa querida companheira Marina Silva.
Marina e eu nos conhecemos em 1979, mas foi na Universidade, onde chegamos juntos em 1981, que ela me fez entender que a luta social exige muito mais que a simpatia ou colaboração eventual. E que a transformação da sociedade é movida por um sentimento de solidariedade e amor que deve ser transformado em prática de vida, todos os dias.
Com sua própria história, Marina me mostrou o sofrimento dos mais pobres, mas também me ensinou, com seu exemplo, a força dos fracos.
Se devo à Marina a minha consciência social e política, não posso esquecer de dizer da minha gratidão ao amigo que interferiu decisivamente na minha vida, para que eu pudesse trabalhar pela realização destas idéias: o governador Jorge Viana.
Não tenho receio em afirmar que o Jorge sempre acreditou mais em mim do que eu mesmo. Quando ele me provocou a trocar o conforto da minha carreira profissional para ser secretário de educação, eu não queria aceitar, mas ele me convenceu que eu podia fazer algo maior.
Quando sugeriu meu nome para vice-governador, eu fiquei entre os que resistiam, enquanto ele convencia a Frente Popular.
E foi Jorge Viana o primeiro a lançar minha candidatura à sua sucessão, defendendo que os votos viriam em função de qualidades que só ele me atribuía.
Jorge me deu a oportunidade de retomar minha participação neste projeto para o Acre e de resgatar os sonhos que alimentei nos seringais, fundando escolas e aprendendo com Chico Mendes.
Minha gratidão ao Jorge não se esgota neste agradecimento e nunca se esgotará. É meu dever honrá-la com o tempo. Por isso levarei esse sentimento sempre no coração.
No Governo da Floresta, com apoio do governador Jorge Viana, a competência da nossa equipe e o envolvimento de toda a comunidade escolar, muito se fez na Educação e posso me declarar muito feliz por isso. Feliz, mas não acomodado.
Como na Saúde, na Segurança e na inclusão social, ainda temos muito a fazer na Educação. E entre os avanços que sonho, está a expansão da educação infantil em todos os municípios do nosso Estado.
Se o acesso a uma educação de qualidade para todos é um direito imprescindível na cidadania, ela é questão de honra no Estado da Florestania.
Certamente, o meu trabalho na Educação contribuiu para a Frente Popular me indicar candidato, mas a história confirma que fui eleito governador pela conjunção de dois fatores: a evolução da luta popular iniciada lá nos anos 70, que envolveu minha geração a partir dos anos 80; e pela vontade da sociedade de renovar o processo de mudanças políticas, econômicas e sociais iniciadas pelo governador Jorge Viana com o Governo da Floresta.
Precisamos trabalhar, porque a cada passo que avançamos, mais cresce o horizonte dos nossos desafios.
A consciência ambiental que desperta no Brasil, inclui o reconhecimento da dívida do país com a Amazônia e com os seus povos. O desfecho das recentes polêmicas que envolveram a ministra Marina Silva também aponta a prevalência do bom senso no Governo Federal e a preferência dos mercados consumidores pela produção sustentável.
O mundo reclama nossas florestas e nossas reservas de água doce. Mas elas são nossas, e cabe a nós escolher entre tentar escondê-las das vistas do mundo globalizado ou buscar as oportunidades que elas criam.
Um único produto da floresta, a borracha, fez o Acre viver dois ciclos históricos de acentuada geração de riqueza. E a nossa diversidade é um tesouro inesgotável se explorado com inteligência.
Já demos os primeiros passos, estamos aprendendo rapidamente a manejar nossas riquezas naturais e podemos assumir a vanguarda da produção florestal brasileira.
Portanto, é meu dever perseverar na união do Acre pela realização deste sonho que despertou com Chico Mendes e ganhou vida no Governo da Floresta, porque agora o desenvolvimento sustentável é uma possibilidade real.
Para esta obra, eu peço a ajuda de todos os acreanos.
Que Deus nos dê força para tanto.
Muito obrigado.
Rio Branco – Acre, 01 de janeiro de 2007
FELIZ ANO NOVO
Juarez Nogueira
Faz um ano que, dito em bom mineirês, apeei do ônibus na rodoviária de Rio Branco, a.C.RE. Era o Dia Mundial da Paz. Primeiro dia do ano. Já no hotel, telefonei para o Altino e de repente estava eu em casa de D.Heloísa, na Vila Irineu Serra. Comemorava-se o aniversário dela. Esse fato torna a data ainda mais especial e inesquecível porque eu, um forasteiro, daqueles que aparecem em ocasiões de feira, fui admitido sem reservas num lauto (delícia!) almoço em família.
Onde há gente, há gentileza. E, ali, me vi rodeado de gentilezas cuja descrição apenas empanaria a imagem que me importa, grato, guardar. Altino, Kátia, D.Mariquinha, D.Peregrina, Sr. Manoel Queiroz e esposa D.Maria, D.Altina, Antônio Alves, a professora Julieta, a Gilda – essa eu nunca vi com tanto pulmão para puxar, alto e espevitado, um Parabéns Pra Você que era em absoluto para a aniversariante, mas que tomei um tanto para mim, para todos: tudo era um, o presente.
Havia outras pessoas, tantas que tantos nomes não me ocorrem, a quem fui apresentado ou não, e que olhavam desconfiadas ou curiosas para mim, o estranho, mas no olhar concorria o esforço de reconhecimento do caráter da amizade. Outros, que nem conheci pessoalmente, vieram depois, por via deste blog de que o Altino faz rede de estar.
Veio o poeta César Garcia Lima, que me fez a gentileza de enviar o seu livro que não é um objeto – é palavra objetivada, existida de poesia. Veio a Leila Jalul que escreve como quem vive ou vive como quem escreve. Veio uma mensagem linda da Elenira Mendes. Veio a verve do Sérgio Souto, que rima como quem bota a vida pra ferver. Gente gentil a quem fui conhecer virtualmente. E junto veio, vem a saudade de tudo e de todos.
Da saudade, sei que não é ausência, falta de. Saudade é constância, permanência. A distância então faz re-criar a imanente esperança, memória que impõe conservar, flor que cheira de longe. Ainda assim, vezoutra insisto na materialidade das coisas, cioso de que tocar é re-ter. Por isso faço encomendas esdrúxulas ao Altino: sabão de cravo, farinha de Cruzeiro do Sul, óleo de copaíba, bombom de cupuaçu...
Por isso também, trouxe comigo uma muda de jambu, que cobriu viçoso a latada e depois foi definhando por causa do clima, atacado por necroses e cochonilhas pragas. Movimentei uma força-tarefa da Secretaria de Agricultura para salvar meu jambu. Foram dias e dias de cuidado, aparentemente em vão. Quando o último galhinho secou, ô dó, apesar da heróica resistência, eu já me dava por vencido, veio minha mãe anunciar: ‘Olha aí, brotou uma mudinha no vaso das orquídeas.’ Que a esperança é a salvação e a alegria é seu alimento eu sempre soube.
Esse jambu (ou agrião ou craveiro-do-campo), ordinário, compõe típicos pratos acreanos. Quem ajeitou a muda para eu trazer e me ensinou que a planta gosta de umidade e sombra foi D.Rosa, lá de Cruzeiro do Sul. Trouxe a plantinha abraçada comigo no avião, passou impávida nas alfândegas. Devem ter entendido que não era caso de biopirataria, talvez um complicado caso de amor. Aqui, faço o jambu com caldo de frango desfiado, engrossado com fubá, aipo e cheiro verde. Fica bom também no caldo de mandioca com bacon e pimenta.
Mas o meu jambu rende mais que isso, é muito mais que isso. É um pedacinho do a.C.RE que me chama a cativar eternuras. É planta humílima, rastejante, cujas florezinhas amarelas imitam sóis miosóticos, pendor de ouro vegetal. Meu jambu é um pretexto a sempre me lembrar um movimento ascendente, de tudo que fende de escura raiz, do chão para o alto, e num caminhar progressivo, lento, evolui na certeza de que tudo tende, pende para o céu.
Ontem, grata surpresa, descobri que o jambu brotou no cimento da calçada, floriu, vai deitar sementes. Fiquei lá, olhando bobo feito menino com brinquedo novo. Deixa alastrar. A esperança é a primeira que surde. Há, sei, quem não se importe com jambus, árvores, nem com a floresta inteira – primordial morada dos homens. Sei: as coisas só têm sentido com o sentimento de quem sente, sem sentido não há memória, sem memória não há senso, sem senso tudo é vão.
Fundamente desejo que essa alegria íntima, tão trivial e particular, assome pública, ora confessada: que no primeiro dia do ano, no Dia Mundial da Paz, não seja vã a esperança de toda brotação e vicejante permaneça, acolhendo a cada um seu cuidado, seu cultivo.
Feliz Ano Novo, Altino.Para você e todos.
Um abraço.
(Por favor, abrace por mim a D.Heloisa, com votos de felicidades).
◙ O professor e escritor Juarez Nogueira mora em Divinópolis (MG).
AOS AMIGOS BLOGUENTOS
Tentei hoje abrir teu blog
Quase entrei em paranóia
Foi um ataque Bin Laden?
Foi um cavalo de tróia?
Terá sido um treme-terra
Vindo lá das cordilheiras ?
Um curumim kamikase
Da amazônia brasileira?
Fiquei meio em parafuso
Um vulcão "eruptou" !!!
Pensei no morro da Urca
Inté no Cristo Redentor.
Terá sido uma granada
Uma explosão vascaina
Uma chuva de granizo
Prá uma sede nordestina.
Visconde levei um susto !
Deu prá sentir o tremor
Na hora botei a culpa
Em meu pobre computador.
Com memória empobrecida
Com um HD miserável
Fiquei muito pê da vida
Mas meu coração estável.
Tomei logo água com açúcar
Rezei vinte ave Maria
Pedi prá santo Expedito
Que voltasse a calmaria.
Não deu prá ver se o amigo
Gostou do post "Minéia"
Um boeing Ceará-acreana
Colorindo a nossa hiléia.
Com seu sorriso rasgado
Manequim na passarela
Arrancando nas calçadas
Mil suspiros das janelas.
Mas isso não vem ao caso
Quem sabe, sabe e reflete
Pro teu blog, vida longa
E um grande dois mil e sete
Valeu Visconde Altino dos buritizais. Abraços do tamanho da Amazônia, procê e prá todos os amigos "bloguentos" do meu querido "United States of BREZIL".
Sérgio Souto
◙ Caro Sérgio, gostei de Minéia e amoça está aqui, guardadinha. Não se avexe, homem. Apressado come cru. O problema é que este blog está ficando pequeno para atender a colaboração crescente de tantos amigos. Daqui a pouco vou criar um Aquiri virtual e todos estarão bem acomodados. Também desejo a você, Dayse e Jan um venturoso 2007. Abração!
FORA DE CAMPO
Para evitar derrota, Jorge Viana fez uma manobra nada sutil: formou ontem, no estádio Arena da Floresta, duas equipes com o uniforme do Botafogo, o time do qual é torcedor.
Logo deixou o campo esbaforido e feliz por ter dado o passe para o gol do acreano Arthur, ex-atacante do Botafogo de verdade.
Ficou fora de campo alguns minutos, mas logo gritou para que o substituto voltasse ao banco de reservas. Com a respiração menos ofegante, entrou em campo novamente.
Não foi por estar jogando de óculos que os zagueiros do Botafogo do B, comandado por Tião Viana, não tiveram coragem de marcá-lo ou derrubá-lo.
Assim ficou assegurada a vitória do Botafogo do A e se evitou a manchete sensacionalista de que o Governo da Floresta fora derrubado.
EXECUÇÃO DE SADDAM
- Este é meu fim, mas eu comecei minha vida como um combatente e um militante político, então a morte não me assusta - disse Saddam antes de ser enforcado.
A morte virou entretenimento na aldeia global.
sábado, 30 de dezembro de 2006
BINHO É UM CARA LEGAL
Fernando França
Há trinta e dois anos que eu sei que o Binho é um cara legal. Desde à sua chegada ao Colégio dos Padres (Instituto Nossa Senhora das Dores) em 1974 para cursar a 5ª série, onde eu já estudava desde a 1ª. Embora ele se sentasse lá na frente, no meio dos quietinhos e tidos como bons alunos (Amilton, Adauto, Carla Tanaka, Yara e Rosa), e eu, lá atrás, no meio dos avacalhados (Madeira, Francisco “gurilinha”, George Fortes, Marcos “rasga paiera” e o Hudson, que possuía o irreverente ato de bater o seu “instrumento” nas carteiras enquanto trocávamos as roupas para irmos para a Educação Física), o que já seria motivo mais do que suficiente para criar uma grande incompatibilidade não a proporcionou, pois nós tínhamos um amor em comum: (além é claro da Evangelina, irmã do Fernando Mello, que era amada por todo o Colégio) o amor pelo desenho, pela Arte.
Naquela época, o Binho desenhava muitos carros de corrida, pois era fissurado por automobilismo e por autoramas. Binho também se apaixonou por uma “magrela” que eu tinha, a primeira de Rio Branco, e me propôs trocá-la por sua “garelli”. Nunca realizamos o negócio. De vez em quando eu pedia para ver os seus cadernos, que eram cheios de desenhos. Também cheguei a visitar a sua casa com o Fernando Mello, umas duas vezes, para brincar de autorama, pois morávamos no mesmo bairro, o Ipase. Nessas visitas, eu que colecionava histórias em quadrinhos, fiquei encantado com a quantidade de revistas que vi na sua casa, pois o seu Arnóbio era o dono da Aeme Arte, a distribuidora de revistas da época. Assim foi a nossa tímida convivência até a 7ª série, pois em seguida fui “convidado” a me retirar do colégio, que tinha sido assumido pelos Irmãos Maristas.
Reencontrei o Binho na mesma sala e no mesmo colégio em 79, dessa vez, no CESEME. Nem eu era mais tão avacalhado nem ele sentava mais lá na frente. O nosso amor pela Arte tinha crescido junto com a gente e rapidamente eu e Branco, que eu havia conhecido um ano antes, e que desenhava melhor do que todos nós juntos, nos juntamos inseparavelmente a ele, que já tinha se juntado ao Sílvio, ao Cláudio e ao Johnson, que o Binho conhecera nos movimentos estudantis. Pouco tempo depois nascia o jornal Escola, um marco para os nossos questionamentos políticos, artísticos e amorosos. Em seguida, o Binho nos levaria para o Teatro Horta, momento definitivo para a nossa consciência artística e crítica. Todos pensávamos em ser artistas e vivemos esse sonho, que eu alimento até hoje.
O Binho, no entanto, já havia mostrado seu grande interesse e entusiasmo pela área política. Ingressou no curso de História em 1981 e, desde então, não parou mais. Eu, na minha ânsia de continuar artista, saí do Acre nesse mesmo ano. Retornei em 1982 e em 1983 parti para Fortaleza onde moro até hoje, com um retorno ao Acre em 1985, por quase um ano. Confesso que, nesse período, cheguei até a me sentir enciumado tal qual era o grau de entrega do Binho para o Partido dos Trabalhadores. Lembro que a sua casa tinha se transformado em um verdadeiro comitê, com mais de uma dezena de pessoas circulando de um lado para o outro, com panfletos por todos os cantos, e que seu carro tava todo quengado, de tanto rodar entupido de gente fazendo os trabalhos para o PT.
Não me tomem por mesquinho. Minha intenção é chamar a atenção justamente para a capacidade do Binho de se doar por inteiro à luta pelos seus ideais. Ideais que, com certeza, incluem a diminuição das desigualdades sociais, das injustiças, uma educação de qualidade para todos, a preservação de nossa floresta, enfim a melhoria de vida de nosso povo. Para a concretização de seus propósitos o Binho possui um elemento fundamental e que pode fazer a grande diferença: a sua percepção de artista.
Sei que há poucas semanas ele disse que se sentia muito mais artista do que governador. É muito bom ouvir isso do Binho, pois vejo que ele mantém essa chama ainda acesa. E é dessa percepção e dessa visão de artista que ele deve se valer para ver além do foco e do alcance meramente político. Torço para que ele deixe sua sensibilidade artística revestir todos os seus atos, pois o artista, por natureza, é inconformado com as regras e as mesmices estabelecidas e está sempre buscando transpô-las no vislumbre de novos horizontes, de novas possibilidades de expressão, o que faz com ele próprio se questione e tente se refazer, se reintegrar a cada nova experiência.
É, portanto, vivenciando esse processo de humanização ou re-humanização, proporcionado pela Arte, que o Binho poderá realizar um governo sábio, humanizado e com uma melhor compreensão da realidade. Fica claro, então, que o Binho compreende muito bem a importância da arte e da cultura para o desenvolvimento de um povo.
Espero, de todo o coração, que a partir de 1º de janeiro o povo acreano, assim como eu, tenha a certeza que o Binho é um cara legal. Um feliz ano novo para você, meu caro amigo!
◙ Fernando França é artista plástico em Fortaleza. A primeira ilustração é um desenho de autoria do Branco Medeiros, do dia 10 de agosto de 1980. Nele estão retratados Fernando França, Branco, Sílvio Margarido e, em destaque, Binho Marques, fazendo mesura para os amigos em cima de uma nave espacial. A segunda ilustração, o desenho colorido, é de autoria do próprio Binho Marques, assinada no dia 4 de fevereiro de 1982. Dê um clique sobre as imagens para visualizá-las melhor. Ambas pertencem ao acervo do Fernando, que tem a mania de abrir o baú dele para surpreender velhos amigos. Saúde e paz em 2007, velho Socó.
AÇÚCAR OU ADOÇANTE?
Fui convidada pelo Altino a fazer uma carta ou um depoimento ao governador eleito Binho Marques. Um convite assim é para mim como aquele "dilema de Tostines": é irrecusável porque é instigante ou é instigante porque é irrecusável?
Seja lá como for, a primeira idéia que me ocorreu foi relatar um episódio que me aconteceu, daqueles do tipo rir pra não chorar! Mas, vejam bem, vou logo esclarecendo que não domino a arte da caneta à tinta, minha vocação é mesmo a caneta de alta rotação.
Acontece que eu tive uma paciente simpática e muito querida, que logo me revelou ser mais uma acreana perdida aqui em Salvador e, entre uma consulta e outra, fiquei sabendo que ela era irmã do então vice-governador Binho.
Só quem está longe da terra natal há muito tempo, e dela sente imensa saudade, entende a estranha e imediata sensação de intimidade que nos acomete quando encontramos um conterrâneo longe de casa.
E foi assim, ao final de uma consulta, que minha paciente-amiga-irmã-na-saudade me disse:
- Olha, meu irmão está aqui. Posso te apresentar a ele?
E assim conheci o Binho, digo, formalmente, pois eu já o tinha visto muitas vezes, naquela época em que ele tinha um carro, não sei ao certo se era um Gurgel, cor de “burro quando foge”.
Aproveitei a rápida visita para ratificar-lhe tudo o que já tinha dito à sua irmã, da minha agradável surpresa ao visitar Rio Branco nas férias e ver a cidade finalmente sendo urbanizada, tomando o corpo que todos nós ansiávamos e conhecíamos de alma.
Também manifestei meu desejo de que a educação e saúde (esta minha área) fossem elevadas à categoria das prioridades e da minha esperança que tudo isto fosse o começo de uma nova era, livre da corrupção e do ranço tão enraizados na política do nosso país.
Após nossa despedida, comentei satisfeita com minha atendente:
- Você viu este rapaz simples e simpático? É o vice-governador do meu estado!
E ela, do alto de sua simplicidade e clareza, falou a frase que ecoou por dias em minha cabeça:
- Pôxa, doutora, e a gente nem serviu uma água!
Ai, pobre de mim, que vexame! Da próxima vez estarei atenta e preparada, pois assim como manda a etiqueta da boa educação, servirei a bendita água e um café quentinho!
Do breve encontro com Binho Marques, ficaram a lembrança do aperto de mão firme, a rápida e agradável conversa e o sorriso tímido e honesto. A impressão que ficou é muito boa e, para mim, o Binho parece mesmo ser um cara legal.
A propósito, Excelentíssimo Governador eleito do Acre, tenho mais uma perguntinha a fazer: Açúcar ou adoçante?
◙ A acreana Nadja Barros é dentista em Salvador (BA).
MENINO JORGE
Tempos atrás, um Senador pelo Acre ameaçou entrar na Justiça contra o renomado Aurélio Buarque de Holanda. Entendia tratar-se o vocábulo "acre" mal empregado como sinônimo de degredo. Na batata, escrevi um artigo no jornal Página 20, dando as razões históricas que motivaram a “insanidade” do filólogo, que, aqui e agora, não vale repetir.
O Acre vivia um período farto em falcatruas, roubos, caixa dois, caixa três, caixa quatro, caixa cinco, caixa seis, contas fantasmas, inabilidades políticas e toda ordem de improbidade administrativa que, a Deus querer, esperamos, nunca mais se vivencie. Os degredados filhos de Eva a tudo assistiam e, ainda hoje, esperam resultados de pendengas judiciais que se arrastam. Ainda esperam a devolução dos recursos surrupiados.
Nunca se constatou se o político acionou, se perdeu, se o Aurélio foi reencarnado e preso, se a editora fechou as portas. Morreu o assunto. O Acre mudou. Mudaram os rumos políticos. Outros erros foram cometidos. Muitos acertos. Muitas obras aconteceram e alteraram a fisionomia da capital e do interior do Estado.
Neste breve comentário, não me manifestarei sobre a questão nacional. Esta também teve mudanças, muito embora tenha sido o tempo em que mais senti embrulhos no estômago. Tempo de queda de ídolos de pés de barro, destemperos de aloprados, enriquecimentos ilícitos etc.
Não queria fosse assim. Me detenho no Acre, para afirmar que o governador que sai amanhã vai deixar um legado que, talvez, nem ele mesmo, saiba o tamanho e a extensão. Jorge Viana, moço compulsivo e inquieto, homem de muitas obras, deixa aos acreanos a reconquista do amor próprio. Essa reconquista foi, sem nenhuma dúvida, seu maior feito em oito anos de mandato. Tudo o mais foi apenas o cumprimento de deveres do administrador. Fez pela obrigação do mandato que lhe foi conferido. E fez bem feito.
Dos bastidores do poder, sei pouco, quase nada. Nem quero saber. Sinto ojeriza. Daí não saber falar sobre. Vendo de fora, nestes oito anos, com intempéries, com raios de sol, com calmarias, com ventanias, Jorge ousou desafiar bandeiras fincadas, de Sul a Norte, de Leste a Oeste, para desclassificar os que imaginavam o Acre a lixeira do Brasil.
Acho que ele encarnou os velhos nordestinos ao pensar: desta vez, ou vai ou racha, ou eu entro pelo cano. Se saiu bem. Sai firme e de nariz empinado. Jorge sai com méritos, possivelmente para o descanso do guerreiro. Acho que sai feliz.
Deixou o Acre, inteirinho, em peso, com a condição de responder ao Aurélio, ao Senador e aos acreanos: o Acre não é mais um degredo, apesar dos cantões. Degredo, uma ova.
Aqui tem gente que ri. Tem quem queira continuar sorrindo. Aqui tem gente que quer agradecer. Não é mesmo, mamãe?
◙ É necessário explicar: a mãe da cronista Leila Jalul é Azize Jalul. Aos 80 anos, durante a campanha para o segundo mandato, acompanhou todos os comícios do candidato Jorge Viana em Rio Branco. Usava um vestido da cor de beterraba, dizendo que o mesmo traria sorte ao candidato. Foi à carreata com o vestido, abraçou o Palácio Rio Branco com o mesmo vestido e compareceu à solenidade de posse, no "sereno" da Assembléia Legislativa, com o mesmo vestido roxo. Chama o governador de "menino Jorge", pois sempre o tratou assim. No quarto dela, ao lado da imagem do Sagrado Coração de Jesus, existe uma foto do "menino Jorge" com a faixa de governador. "Meu Deus, isso não pode acontecer. Esse menino é um menino de família", dizia revoltada quando os opositores embargaram a candidatura de Jorge Viana. E desfiava a contar os feitos do avô, da avó e do bisavô do "menino".
PT AGRADECE JORGE VIANA
Antes, existia o sonho, a vaga idéia de como as coisas poderiam ser um pouco melhor. O máximo que conseguíamos fazer era um empate, onde as ações ficavam paralisadas por um tempo, mas ninguém saia ganhando. Empate era o resultado que exprimia nossa melhor performance.
Às vezes, quase sempre, nos limitávamos às brigas internas de tendências e nem nos dávamos conta de que, enquanto nos consumíamos internamente, nossos adversários externos nos impunham derrotas cada vez mais humilhantes.
Foi assim durante pelo menos uma década, nossa primeira década de vida, até que você, Jorge Viana, surgiu em nossas vidas e nos convenceu a formar uma frente de partidos em 1990.
Aprendemos em pouco tempo que, na matemática política, “um mais um é sempre mais que dois”, como cantou e encantou o mineiro Beto Guedes. Fomos para o segundo turno, fizemos bonito, e, desde então, nunca mais experimentamos a amargura de uma derrota humilhante.
Com você, Jorge Viana, aprendemos muito mais que conquistar mandatos. Aprendemos a administrar prefeituras e o Governo do Estado, buscando sempre o que é melhor para a maioria da população.
Aprendemos a praticar a ética aplicada através do jogo do ganha-ganha com nossos aliados, com as instituições e, acima de tudo, com a sociedade. Aprendemos que só vale a pena sonhar e lutar por objetivos que produzam benefícios coletivos, comunitários, jamais por interesses individuais, partidários, de tendências ou de grupos.
Foi assim, arrastando por seu exemplo de grandiosidade, que você nos ensinou a reconhecer em nós mesmos as nossas qualidades, a descobrir a nossa identidade e a importância de sermos o que realmente somos.
Você nos ensinou a enxergar além do horizonte e despertou em nós o orgulho próprio e o quanto podemos ser mais felizes se cultivarmos a auto-estima elevada.
O Partido dos Trabalhadores do Acre, que orgulhosamente lhe tem como o mais destacado militante, lhe rende esta singela homenagem. Um reconhecimento que expressa o sentimento de todos os nossos dirigentes, nossos parlamentares, nossos militantes e nossos simpatizantes. Um sentimento que, temos certeza, é extensivo aos partidos aliados e a toda sociedade do Acre, que lhe deseja o mesmo sucesso nos desafios futuros.
Obrigado, Jorge Viana, por ter transformado tantos sonhos em realidade!
Partido dos Trabalhadores – Acre
◙ A nota nos foi enviada pelo jornalista Aníbal Diniz, suplente do senador reeleito Tião Viana, com a seguinte observação:
"Caro Altino: numa confraternização simples, no restaurante do Aeroporto, que contou com todos os secretários do governador Jorge Viana, o presidente do PT, senador Sibá Machado, fez a entrega de um quadro com um texto de agradecimento por tudo o que Jorge Viana fez pelo Acre desde sua entrada para a política em 1990. O texto é assinado pelo Partido dos Trabalhadores do Acre, de forma que todos os dirigentes, parlamentares, militantes, filiados e simpatizantes se sintam contemplados. Acho que vale a pena você publicá-lo no seu blog. Um abraço, Aníbal Diniz"
UNIVERSIDADE DA FLORESTA
Flamínio Araripe
As ligações do Ceará com o Acre vêm desde a origem deste território incorporado ao Brasil em 1903. Os bolivianos do altiplano, inaptos para a exploração extrativista da faixa de amazônia que pertencia à Bolívia, assistiram com interesse apenas aduaneiro à ocupação da floresta por seringueiros cearenses e nordestinos.
A Bolívia reagiu tarde. Houve dupla vitória do Brasil no conflito conhecido como Revolução Acreana e na habilidade da diplomacia que anexou o território. O Acre é tema da mini-série da TV Globo que
inicia em 2 de janeiro.
Hoje, no Acre, as bandeiras do Estado, do Brasil e do Ceará são hasteadas nas datas comemorativas nacionais e acreanas. São dois estados-irmãos que comungam ligações históricas e afetivas, raras em outros entes da Federação. Os laços permanecem vivos na sociedade.
Todavia, precisam ser ampliados para o terreno da colaboração política e institucional. Temos em janeiro de 2007 um alinhamento político com governo do PT no Acre e do PSB no Ceará coligado ao PT. Talvez não haja melhor momento para desengavetar velhos acordos e firmar novos convênios de colaboração com o apoio do governo federal.
Depois de 17 anos, voltei ao Acre no ínício de dezembro para participar de uma Reunião Regional da SBPC em Cruzeiro do Sul para discutir o projeto da Universidade da Floresta do Alto Juruá. O encontro de três dias reuniu lideranças indígenas de quatro etnias, de seringueiros, pequenos agricultores e ribeirinhos, com pesquisadores das universidades federais do Acre, Viçosa, da Unicamp e UnB.
O projeto tem sustentação num tripé de extensão, pesquisa e ensino. O CVT da Floresta, em Cruzeiro do Sul, há oito meses dá cursos de capacitação e busca agregar valor aos produtos naturais. Vem sendo discutida a criação de um instituto de pesquisa por índios, seringueiros e pesquisadores para unir o conhecimento tradicional ao conhecimento cientifico com a idéia de manter a floresta em pé pela exporação sustentável das suas riquezas. O ensino inclui curso de Educação Indígena a ser iniciado em 2007. A graduação em Engenharia Florestal foi iniciada.
O Ceará tem muito a contribuir com este projeto. Temos a exclência em cursos de capacitação e de inclusão digital no Instituto Centec e a arquitetura das Infovias, a rede de videoconferência para ensino a distância, preciosa na dispersão geográfica da Amazônia.
Outro campo de colaboração pode ser explorado com a expertise do Padetec no conhecimento dos óleos essenciais, para agregar valor aos produtos da natureza e transferir tecnologia para a criação de incubadoras de empresas de base tecnológica.
A Uece e Funceme com o avião-laboratório constituem outro parceiro na pesquisa e no monitoramento ambiental, assim como o Nutec e a TecBio têm tecnologia a oferecer na exploração do biodiesel. A Funcap pode auxiliar a fundar entidade congênere no Acre, que ainda não tem Secretaria da Ciência e Tecnologia. O Ministério da Ciência e Tecnologia, CNPq e Finep, podem dar apoio na relação entre os dois estados da Federação.
Fortaleza tem a aprender com Rio Branco, com a iniciativa de construção de calçadas. O prefeito local, Raimundo Angelim, depois de pavimentar muitas ruas, lembrou da população que anda a pé e resolveu fazer 52 Km de calçadas para pedestres.
◙ Flamínio Araripe é jornalista cearense. O artigo foi publicado hoje na seção de opinião do jornal O Povo, de Fortaleza. Agradeço a colaboração e faço votos de feliz Ano Novo ao grande Flamínio.
sexta-feira, 29 de dezembro de 2006
MEMORIAL IRINEU SERRA
O jornalista Antonio Alves, orador do Ciclu - Alto Santo, fez um depoimento da experiência ao chegar pela primeira vez à casa onde viveu Irineu Serra. Ele agradeceu ao governador Jorge Viana em nome da dignitária Peregrina Serra e da irmandade.
- Agradeço e desejo que esses oitos anos, somados aos quatro anos como prefeito, sejam seguidos por todos os governantes do Acre como um exemplo. Que nunca mais o povo do Acre esqueça o quanto deve ao mestre Raimundo Irineu Serra, que é um dos construtores do Acre, que nao se esqueçca o quanto deve ao seu passado, à sua história, que nunca mais o povo esqueça que renasceu das cinzas e se apresenta ao Brasil como um estado digno de ser brasileiro. Que este Governo da Floresta, que ajudou o povo acreano a se erguer e a se firmar perante o mundo, seja um governo simples, forte e perene como esta casa. Esse local existe desde sempre e existirá até sempre. Para nós é o centro do universo. Para quem segue os ensinamentos do mestre Irineu, esse local é uma morada eterna.
Visivelmente emocionado, o governador Jorge Viana contou que frequenta o Alto Santo desde criança e que a primeira imagem que guardou de Irineu Serra é a de um governador se curvando diante da mão do mestre.
- Ali já existia para mim a mensagem da humildade. Se curvar diante de quem? Diante do Acre, diante de nossa floresta, de um homem simples carregado de sabedoria. Nunca compreendi direito por que só gravei esta imagem: a do governador Jorge Kalume se curvando diante do mestre Irineu.
Recomendo aos leitores que ouçam os depoimentos históricos de Antonio Alves e Jorge Viana.
ZERO EM REDAÇÃO
Do meado para os fins da década de 70, um menino, quase imberbe, fazia vestibular para o curso de História na Universidade Federal do Acre. Não conhecia o menino, mas pelo nome, era parente dos parentes dos meus parentes. Isso não conta. Aliás, não conta nem um centavo!
Por acidente de trabalho, fui secretária da comissão que aplicava e analisava as questões sub-reptícias e cheias de más intenções que colocavam à flor da pele os nervos e a paciência dos acalorados estudantes e, por que não dizer, exibia a capacidade do docente alucinado por pegar nas esquinas do conhecimento os incautos e atrevidos pretensos ingressantes no ensino superior.
Ser superior já é uma desgraça, por si só. Provar que é superior, é desgraça multiplicada por dois. Mas é assim. Ainda é assim, tanto que se optou para abrir vagas por cotas para negros inferiores que ocuparão salas dos brancos superiores. Será necessário uma corda divisória no meio da sala? Isso também não interessa. Valerá a intenção.
O que importa é contar que, na qualidade de secretária da comissão, nas madrugadas dedicadas à correção, me interessei por ver as redações que zeraram. Não tinham qualquer identificação. Daí nenhuma culpa, nenhuma proteção. Apenas o candidato sabia o seu número de inscrição. E foi aí que, sendo poucas as que não alcançaram nada, tive a oportunidade de pegar na mão uma, particularmente uma, que me chamou bastante atenção.
O tema da redação era "Vestibular, sim ou não?" Mais ou menos isso.
Um ZERO, por extenso e outro (0) entre parênteses. Comecei a ler e ruborizei. Confesso, me tremi. O texto de 20 malfadadas linhas (tinha ainda o fator repressivo) era, senão perfeito, quase. Tinha melodia, lógica, pontuação, limpeza ortográfica, metafórico, para não polemizar além da conta. Texto bom, daqueles que noves fora, nada! Enxuto, gostoso e politicamente correto.
Lembro do intróito: "Como responder uma questão quando se tem na mão uma caneta e no outro o coração".
Esse imberbe era o Binho Marques. O zero que lhe foi atribuído, até hoje, confesso, deve ter sido por causa do estresse dos professores que varavam madrugada. Só esse fator desgastante explicava a cruel injustiça com o menino. A redações de zero eram revisadas e a mestra Wanir, pensando como eu, passou a redação do Binho de zero para 9. Se estivesse absolutamente perfeita, seria 10.
Binho se classificou num dos primeiros lugares e cursou História, brilhou no movimento acadêmico junto com outros não menos brilhantes, como Marina Silva. Foram contemporâneos. Hoje, a educação é seu tema preferido. Sabe falar disso com experiência e consciência. Sabe que não precisa ser negro, nem branco, nem índio, para ter acesso à escola, sem que se precise ter na mão uma caneta e na outra o coração.
Educação, educação, educação. Educação de qualidade, com escolas de qualidade, com professores de qualidade.
É preciso pedir mais?
AO CARA LEGAL
A idéia surgiu quando li o governador eleito declarando que se considera "um cara legal" e que jamais vai telefonar para editor de jornal para pedir ou censurar. É o mesmo que outro dia, durante uma solenidade no Palácio Rio Branco, interrompeu o discurso do governador Jorge Viana para dizer que se considera mais artista do que governador.
Também estou preparando minha mensagem ao Binho Marques e quem quiser pode fazer o mesmo. Máxima liberdade, mas o texto não necessita ser grandão para não entendiar o leitorado deste blog. Vamos começar com a mensagem do jornalista Elson Martins.
DISCIPLINA E UTOPIA
Ao retornar, em 1975, de um exílio voluntário que me manteve desde 1958 fora do Acre, conheci o Arnóbio Marques de Almeida pai. Eu precisava de uma casa para morar com minha família em Rio Branco, e ele tinha algumas para alugar. Foi o Walter Gomes da Silva, chefe de oficina do jornal O Rio Branco que nos apresentou. E nos demos bem, desde então. No fim dos anos 70, ele tornou-se um dos poucos anunciantes do jornal Varadouro, que eu e mais um grupo de jornalistas e militantes fizemos circular desagradando às elites locais.
Como o Arnóbio Marques de Almeida Júnior completou 44 anos outro dia, àquela época teria 13, o número que agora o colocou no posto de governador. Mais para o fim dos anos 70 ou começo dos 80, eu o vi algumas vezes, passando pelo bar Girau - ponto de encontro de tribos diversas - agarrado à sua namoradinha (hoje primeira dama) Simony D'Avila. Fiquei sabendo, então, que era ele o grafiteiro autor de algumas frases e desenhos poéticos e criativos que apareciam em muros da cidade. Eu passei a observá-lo com a cautela de quem soma na idade quase duas gerações antes dele.
Creio que nossa aproximação, lenta, se deu através da Simony que se tornou repórter de O Rio Branco. Nos anos 88/90, como diretor da TV Aldeia, tive o privilégio de contar com uma equipe formada por Antônio Alves, Altino Machado, Aníbal Diniz e Simony – todos da turma do Binho. As informações sobre ele, portanto, se ampliaram gerando admiração mútua.
Quando, na campanha eleitoral de 1990, Jorge Viana foi lançado candidato a governador, sentamos na mesma mesa de discussão. Mas eu me exilei novamente, de 1991 a 2003, para ajudar um velho parceiro de lutas – o então prefeito e depois governador do Amapá João Alberto Capiberibe - a montar seu programa de Desenvolvimento Sustentável. Minha trincheira foi a Folha do Amapá, que montei e se tornou o melhor jornal do Estado. De Macapá, acompanhei a eleição do Jorge Viana para a Prefeitura de Rio Branco e para o governo da floresta, bem com a escalada de seu determinado e obstinado secretário de Educação.
Mesmo à distância, assumi a direção do jornal O Acre – um modelo de bom jornalismo - que circulou em Rio Branco entre 1997 e 1998, e que, infelizmente, se perdeu ao ser transformado num “release” no aumentativo do governo Jorge Viana.
Em 2003 voltei animado para cá, disposto a fazer o melhor que sei pelo movimento acreano que nasceu em meio da floresta e chegou ao poder com muita força popular. Ao arregaçar as mangas, porém, senti que era menos qualificado do que supunha, e que o novo Acre exigia pessoas “especializadas” para continuar avançando.
Em 1983, após passar duas semanas na União Soviética como convidado da agência oficial Novosti, chegando a visitar Moscou e Leningrado, além dos paises bálticos Estônia e Lituânia, meu guia e tradutor Igor indagou o que mais me impressionara em tudo que conheci no mundo de Lênin: respondi que me agradara muito a disciplina.
Então é isso: por covardia ou sabedoria, eu me tornei um súdito disciplinado sabendo, por experiência própria, que amizade e poder não combinam. Pode parecer contraditório, mas é exatamente isso que me leva a confiar no pragmatismo mesclado de boas utopias do Binho Marques. E, ao meu modo, pretendo ajuda-lo sem arredar o pé.
◙ Elson Martins é jornalista acreano
CEIA MACABRA
Forma estranha
Trágica
Essa maneira nossa
De a vida celebrar.
Para festejar
O nascimento de Jesus
Ou a entrada do Ano Novo
São mortos, sacrificados
Milhões, bilhões de animais
Que seguirão para nossa ceia macabra.
quarta-feira, 27 de dezembro de 2006
MINISSÉRIE AMAZÔNIA
O site da minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes", de Glória Perez, ficou absolutamente de acordo com a beleza da Epopéia Acreana e do padrão Globo de qualidade. "Nós merece". Clique aqui para conferir.
AQUELA ÁRVORE
acho que foi no ano passado, quando o governo estava enfrentando um processo judicial pelo uso de sua logomarca, que o Aníbal [Diniz, secretário de Comunicação] me pediu um texto sobre o assunto. Afinal, como desenhista da árvore, eu poderia esclarecer as coisas e desmentir aquelas alegações malucas da oposição.
Daí escrevi o texto que segue abaixo. Tanta bobagem tem sido dita sobre esse desenho que às vezes chego a me arrepender de tê-lo cometido.
Abraço.
Antonio Alves
No início de 1999, quando assumimos o governo do Estado, começamos a debater a programação visual do governo, slogan, marca etc. Todo governo faz isso, cria uma marca para caracterizar sua proposta, marcar as características básicas de sua gestão. Se não houver abuso, se não forem desrespeitados os símbolos oficiais do Estado, então não vejo problema algum.
No nosso caso, era necessária a sinalização de uma nova orientação para o Acre, uma mudança de rumo na economia, na política e na sociedade. Além do completo desmantelamento da administração pública, do crime organizado, do sucateamento, da corrupção etc., havia um rumo totalmente inadequado na economia que atingia a própria identidade do estado. A floresta era considerada um empecilho e as comunidades que nela vivem eram tratadas com desprezo. O slogan, criado pelo Binho, “governo da floresta”, buscava inverter essa mentalidade e restabelecer uma identidade acreana. O governo apontava um novo rumo, onde o estado reencontrasse sua verdadeira natureza, valorizando sua história e seu patrimônio ambiental. Sendo corretamente usado, esse slogan teria um efeito educativo, didático, com efeito positivo na recuperação da auto-estima do povo acreano.
Precisávamos, entretanto, de uma marca visual. Experimentamos várias propostas, que desenhistas e publicitários nos sugeriam. Chegamos a promover uma espécie de concurso, informal, pedindo que os principais desenhistas e publicitários de Rio Branco fizessem suas propostas de marca visual para o governo. Vários deles fizeram, de graça, só na intenção de colaborar. Mas as propostas eram muito limitadas, pegavam apenas aspectos parciais da ação do governo, como programas sociais ou conceitos gerais de democracia e participação, mas não davam a marca de valorização da história e da identidade acreana que queríamos.
Então lembrei de um desenho que havia feito um ano antes, que poderia ser adequado. Uma árvore, com traços simples, como se fosse desenhada por uma criança. Lembro que um companheiro olhou o desenho e comentou: “mas isso é simplório”. Retruquei: “não é simplório, é simples”. A idéia era exatamente esta: ter um símbolo simples, básico, com o qual todos pudessem se identificar. A árvore é um símbolo da vida, no mundo inteiro. Mas é, ao mesmo tempo, um símbolo bem regional.
Fico revoltado com algumas bobagens que os políticos vivem dizendo sobre esse desenho. Tem gente que viu o formato de um “13”, com o tronco da árvore sendo o 1 e a copa o 3. Tem outros que dizem que a árvore representa o Jorge Viana, que é engenheiro florestal. Compreendo que os políticos, quando estão na oposição, fazem de tudo para “pegar no pé” de quem está no governo. Mas certas associações de idéias, francamente, são ridículas. Considero-me pessoalmente ofendido, como profissional, quando ouço ou leio essas bobagens.
Outra coisa que não entendo é chamarem aquela arvorezinha de “castanheira”. Nunca foi uma castanheira, nem parece. Quando estava experimentando, na criação da marca, cheguei a desenhar algumas castanheiras, que têm, de fato, um simbolismo muito forte. Mas no vale do Juruá não existem castanheiras, e isso deixaria metade do Estado fora do símbolo. Também experimentei colocar uns risquinhos no tronco da árvore, para ser uma seringueira. Mas aí ficava muito restrito e caracterizava uma proposta econômica muito restrita. Então aquela árvore é apenas uma árvore. Símbolo de uma orientação geral, uma proposta de governo bem regional, bem acreana. Ver nela algo além disso é procurar chifre em cabeça de cavalo.
◙ O jornalista acreano Antonio Alves escreve no blog O Espírito da Coisa.
MAGNÓLIA DO PÂNTANO
Dia desses eu me chateei, pensei em sair do mundo das crônicas, cair novamente no marasmo e reassumir meu posto de fiscal da natureza. A chateação passou quando lembrei de uma música e de uma amiga.
A música é Flor de Retama. A flor é uma espécie de bicha danada e daninha. Mata aqui, ela nasce ali. É mais uma que não desiste e vai se reproduzindo pela vida afora, numa espécie de geração espontânea.
Na terra de minha amiga, a Flor de Retama virou símbolo da resistência. Por anos de poderio militar foi proibida e só cantada nos socavões, longe dos ouvidos dos meganhas e dos opressores.
“La sangre del pueblo tiene rico perfume
huele a jazmines, violetas, geranios y margaritas
a pólvora y dinamita!!
A pólvora e dinamita!! Carajo!!”
Essas coisas nós bem conhecemos. E, pelo menos de minha parte, faço questão de lembrar.
Toda essa introdução apenas para dizer que não sou nenhuma Flor de Retama, mas bem que resisto direitinho aos chiados e broncas dos meus domadores.
Tanto resisto que, decidi por minha própria conta, escolher uma flor para ser meu emblema. Doravante serei uma magnólia do pântano. E me dou por satisfeita.
Essa florzinha, vez por outra, põe a cabeça de fora!
ÁRVORE OU CASTANHEIRA?
O criador do desenho da árvore que ilustra o slogan foi o jornalista Antonio Alves, de O Espírito da Coisa, que oito anos depois quase foi escalpado por ter sido o primeiro a defender a candidatura de Binho a governador.
Toinho Alves desenhou a árvore em 1998 como opção de símbolo que poderia ser usado na campanha eleitoral do então candidato Jorge Viana. Mas escolheram aquela mão com polegar em sinal positivo, tendo como tema "a vida vai melhorar" do samba.
Pois bem, Jorge Viana já anunciou que o slogan e a árvore vão permanecer durante a gestão do governador Binho Marques. Aliás, o futuro ex-governador sempre enxergou no desenho uma castanheira-do-brasil (Bertholletia excelsa).
- O Toinho foi genial ao criar um desenho simples, mas quem entende de árvores sou eu, pois sou engenheiro florestal. E é por isso que posso atestar que aquele é o desenho de uma castanheira - afirma Viana.
Toinho contesta com o argumento de que a idéia inicial do desenho era apenas simbolizar uma árvore, a partir de quatro traços infantis.
- Se fosse uma castanheira, seria um símbolo que excluiria metade do Acre, pois no Vale do Juruá não nasce castanheira. Pedrinho, meu amigo seringueiro que vive lá no Rio Tejo, acha que aquele é um desenho do matamatá roxo (Eschweilera coriacea), árvore de até 35 metros de altura, abundante no Juruá, que é a mais parecida com uma castanheira.
O jornalista promete enviar mais tarde um texto para liquidar a polêmica com o engenheiro florestal. Sei que o risco que corre o pau corre o machado, mas o texto não sofrerá censura.
terça-feira, 26 de dezembro de 2006
CENAS DE "AMAZÔNIA"
Uma canhoneira dos Estados Unidos faz uma turnê de boa vizinhança e aporta em Manaus. Júlia (Malu Valle) e Tavinho (Paulo Nigro) combinam de ir ao porto conhecer o navio de guerra americano e, para isso, convidam Beatriz (Débora Bloch), que está triste desde que voltou do Teatro Amazonas. Assim que estão prontos, Beatriz diz que se sente indisposta e que prefere ficar em casa. No entanto, pouco tempo depois que Júlia e Tavinho saem, Beatriz coloca bastante perfume e parte. Zefinha (Neusa Borges) a segue, desconfiada.
Beatriz vai ao cabaré e logo encontra Galvez (José Wilker). Ela lembra todas as promessas feitas pelo espanhol e cobra explicações por tê-la abandonado no Rio de Janeiro. Galvez, porém, não imaginava que ela fosse abandonar tudo para viver ao lado dele. Beatriz, indignada, pergunta quem o acompanhava no teatro. Lola (Vera Fischer), que escuta toda a discussão por trás das coxias, tem medo de ouvir a resposta de Galvez e vai para o camarim. Uhthoff (Cândido Damm), entretanto, chega ao cabaré e interrompe a discussão. Beatriz volta para casa, prometendo retornar e buscar a felicidade ao lado do aventureiro espanhol.
Elenco, direção e produção de "Amazônia – De Galvez a Chico Mendes", estarão reunidos na noite de terça-feira, no restaurante Porcão Rio´s, quando será exibido o primeiro capítulo da minissérie.
"FOLA TUBALÕES E SILIS"
Hoje é Natal. Dia ensolarado, um convite ao lazer e ao ócio. E também, por motivos óbvios, à reflexão. Embora tenha decidido optar por aqueles, findei, de modo inusitado, nos braços desta. Recebi, aqui em Olinda, do meu filho João Guilherme, quatro aninhos, um presente, na forma de sabedoria inspiradora. Estávamos, eu e minha mulher Solange, decidindo aonde iríamos aproveitar o dia de feriado em família, quando nosso pequeno rebento adiantou-se e exigiu, com a característica insolência dos que sabem que mandam no pedaço:
- Quelo í à plaia, mas só pá bincá na aleia!
Traumatizado ainda pelo beliscão de um pequeno siri no dedão de um dos pezinhos algum tempo atrás e utilizando-se da existência de várias placas de advertência contra a presença de tubarões para embasar sua prudente decisão, reforçou enérgico:
- Painho, só na aleia, poque na água tem tubalão!
Ao tentar convencê-lo que não havia perigo em brincar na água, desde que fosse na beira, próximo à areia, lança mão de sua mini retórica e já meio irritado com minha insistência, sacudindo freneticamente os bracinhos abertos com as mãos espalmadas, em definitiva tentativa de convencimento:
- Paííínho, eu já disse que só na aleia, poque lá longe tem tubalão, mas na bêla tem muito silí, aí fica pió qui tubalão!
Convencidos eu a mãe por argumentos tão inquestionáveis, ficou consensualmente decidido que iríamos à praia, mas não entraríamos na água. E assim foi feito...
Já instalados num barzinho à beira-mar, observando o pequeno inimigo de Netuno a brincar na areia e refletindo entre uma e outra dose, sobre o que ouvira dele em casa acerca de tubarões e siris, não pude me furtar a conceber uma analogia entre os ilustres representantes da família dos esqualos e dos não menos respeitáveis familiares dos crustáceos e um grupo do cenário político nacional (que me perdoem aqueles, já que não tenho a menor intenção de ofende-los, até porque é quase nula, ou nula mesmo, a possibilidade de virem a ser confundidos com estes, haja vista que o habitat é bem diferente e o caráter deles, até prova em contrário, superior aos destes).
Isto posto, vamos ao raciocínio analógico: Através dos meios de comunicação vínhamos tomando conhecimento de atos predatório dos recursos públicos jamais expostos com tanta clareza ao público nacional, que em última análise é o maior interessado, embora não raro fique naquela posição de pai enganado que é o último a saber e ao qual não resta outra alternativa senão aceitar passivamente os fatos e os resultado posteriores, bons ou maus. As feridas antigas, agora expostas sem bandagens para escondê-las, vêm sendo sistematicamente tratadas pelos “médicos”, com os “ungüentos” necessários à sua cicatrização.
Observamos também que a mídia nacional focava sua lupa geralmente nos eventos ocorridos no poder central, enquanto as mídias regionais punham em relevo também as ocorrências de seu entorno, seja no plano estadual ou municipal, ficando o cidadão comum alijado do acesso às informações do que se passava nestes planos em outras regiões. Daí, por presunção, conclui-se que tais atos predatórios restritos aos planos mais próximos ao cidadão, ainda que de menor monta quando individualizados, nada ficavam a dever e até ultrapassavam, no somatório geral, o que ocorria nos andares superiores do poder.
Felizmente, devagar e sempre as coisas estão mudando. Acho bom, porque se não mudarem, eu serei o primeiro, de uma leva de muitos, que, de carona na sabedoria do meu pequeno guri, gritará a plenos pulmões:
- Fola com os tubalões, mas não esqueçam os silis!
◙ O acreano Walmir Lopes é comerciante em Olinda (PE).
sábado, 23 de dezembro de 2006
A FERRAMENTA DO AMOR
O Acre vivia o crepúsculo da década de 50. O menino, nascido na maternidade Bárbara Heliodora e na época já com seis anos, só falava e entendia castelhano. Chegou de Iquitos, Peru, para aonde tinha sido levado quatro anos antes, arrebatado do lar original na Cadeia Velha pela tia paterna, que acumulava também os supostos direitos de madrinha, além da cumplicidade com o irmão, garboso tenente da Guarda Territorial. Entre os tais supostos direitos, arrogara-se o de cortar prematuramente os laços físicos e emocionais entre mãe e filho, à revelia deste e ignorando completamente os apelos surdos e as lágrimas represadas daquela que, vítima do autoritarismo do marido, aceitava sem protestos a retirada a sangue frio, mesmo que a título precário, de um dos sete pedaços que restavam de seu coração. Sim, que restavam, pois há pouco tempo, embora anestesiada pela fé, Deus lhe arrancara o oitavo pedaço em caráter definitivo.
Mas a mãe do menino não era madrasta e exigiu, sob a pressão do amor que tudo desafia, que lhe devolvessem seu pedacinho de vida. E o menino foi trazido de volta ao lar. A alegria durou pouco. O tenente se irritava porque não entendia o que o menino dizia e tome pau . Às vezes acontecia o inverso. O tenente se irritava porque não era entendido pelo menino e tome pau novamente; o menino não entendia, assim como não entende até hoje, porque até no inverso, a porrada só sobrava para ele. E a pequena Babel seguiu seu curso tumultuado, com intervenções aqui e ali do anjo da guarda do menino para livra-lo dos eventuais vinagres do tenente.
Estes e mais alguns acidentes de percurso, iriam gerar uma bomba de efeito retardado que explodiria anos mais tarde quando, o já um pouco mais velho tenente, inconformado com a realidade de seu afastamento da ativa e os crescentes questionamentos e independência dos filhos, quis transformar seu lar numa extensão da antiga caserna. Certo dia, passados apenas uns seis meses da chegada do menino e já que não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe, por motivos de saúde da irmã mais velha do menino, a família dele mudou-se para o Rio de Janeiro. Quem ficou pra trás? Adivinhem! Pois não foi mesmo o menino? “Mas certamente desta vez, a separação não seria tão doída quanto a primeira”, ele pensou. Um irmão mais velho ficara com ele.
Se tivesse que sofrer não sofreria só. Além do mais teria um substituto à altura para seu anjo da guarda oficial. Relativamente até mais poderoso que ele!! Que viessem, os tenentes, capitães, majores, coronéis, generais e até marechais da Guarda Territorial!! E levados por alguns amigos e parentes, seguiram pela da manhã num pequeno batelão capitaneado pelo primo Mauro rumo ao seringal Quixadá, do anjo substituto. Além de um banzeiro forte, na altura do seringal Catuaba, causado por uma chatinha a vapor que subia na direção de Rio Branco, chegaram sem mais problemas. Era um dia de domingo. Claro e quente, do jeito que menino gosta.
O anjo substituto desceu o barranco lentamente, apoiado em dois anjos auxiliares estranhamente vestidos de preto, olhou para o menino e seu irmão, depois acolheu os dois sob as asas de uma forma tão doce e marcante que até hoje o menino não esquece o perfume suave de alfazema que ele exalava. Em seguida encaminhou o menino e seu irmão aos dois anjos auxiliares, que sorrindo, os guiaram pela mão e seguiram em frente, a contar estórias pitorescas (pois anjo não mente), os meninos às gargalhadas, até o barracão do seringal, que serviu de paraíso durante dois anos ao menino e ao irmão dele. Durante o dia a dia o menino foi observando também que os dois anjos auxiliares só usavam aquela roupa estranha e preta para algumas atividades mais específicas, como rezar, conversar com anjos de mais alto escalão ou quando viajavam para terras mais distantes onde havia anjos que falavam outros sotaques ou até outras línguas.
No trabalho, na luta mesmo, usavam macacão azul ou marrom e até cáqui. Um dia, o menino observou que esses dois anjos não faziam criancinhas para criar como os outros tipos de anjo faziam. Coincidentemente, às vésperas de um Natal, aproveitando um momento em que os anjos deram uma parada estratégica para descanso (estavam encaixotando brinquedos, remédios, alimentos), não se conteve e curioso perguntou-lhes o porquê daquela anomalia, obtendo quase em uníssono a seguinte resposta:
- Deus nos fez diferentes, exatamente porque gostamos de fazer, não um, dois, três, dez ou vinte filhos. Anjos com o nosso perfil gostam de fazer filhos sem limites de quantidade. Milhões, se o tamanho da ferramenta permitir. Quanto maior a ferramenta, melhor.
O menino arregalou os olhos com espanto e sem entender bem a colocação da resposta, meio confuso, arriscou, puxando pela lógica infantil:
- Então vocês são mais bem dotados de ferramenta de fazer filhos que os outros anjos, é isso?.
- Certamente, o tamanho da ferramenta depende exclusivamente de nossa vontade!
O menino, já antevendo uma chance, arrisca:
- Se eu quiser fazer muitos filhos a minha ferramenta também pode ficar grande como a de vocês?.
- Assim você o queira - veio a resposta já meio apressada, pois ainda faltava embalar alguns presentes e o tempo urgia.
O menino, ansioso, vendo aí a grande chance de se tornar o campeão dos campeões da fertilidade masculina, senão do universo, ao menos daquele pedaço de seringal, exclama frenético, quase que em tom de exigência:
- Quero ver as ferramentas de vocês pra eu deixar a minha do mesmo tamanho.
Os anjos se entreolham discretamente, em seguida olham para o menino com um sorriso maroto, de anjos do bem, que gostam de fazer menino de besta, abrem dois botões dos respectivos macacões, colocam cada um a mão direita espalmada no lado esquerdo do peito do outro e exclamam à uma só voz:
- Aqui estão elas, menino!
A princípio o menino desaba em duas bandas, a metade pela sensação de ter sido feito de besta, a outra metade pela desesperança em relação ao futuro glorioso de sua ferramenta de fazer meninos. Enquanto isso, um batelão lotado de brinquedos, alimentos e remédios virava a curva descendo o rio, quem sabe, com destino a Boca do Acre. Alguns anos se passaram até que o menino entendesse o recado passado pelos dois anjos.
Esse menino hoje sou eu.
Foram anos de encanto envolvente na vida desse menino. Umas histórias alegres, outras tristes, outras fantásticas, todas porém maravilhosas. Após os dois anos nesse paraíso, o anjo oficial mandou buscar seu menino de volta p’ra casa. Saiu dez anos depois brigado com o tenente e passou mais dois anos no mesmo seringal, mais dois anos na vivência de coisas boas e más. Por fim, tomou rumo. Entrou por uma perna e saiu pela outra. Quem quiser que conte outra.
◙ O acreano Walmir Lopes é comerciante de automação comercial em Olinda (PE). É sobrinho dos saudosos padres José e Peregrino. José será interpretado (veja aqui) pelo ator Antonio Calloni na minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes", de Glória Perez.
MEUS PRESENTES
Esse blog parece que está de licença prêmio. São tantas solenidades, inaugurações, autos de Natal, trânsito ofegante, show do "é o amor, que mexe com a minha cabeça e me deixa assim" etc, que acho que o Altino ficou afobado e deu uma pequena parada. Pode ser também por causa do Natal, que também mexe com bolsos e corações. Sei lá!
Aí eu pensei em fazer um texto que deveria se intitular "Eco da mata", mas, deu uma cacofonia meio intrigante, e parei. Vai para depois do Natal.
Para não ficar sem dizer nada, vou aproveitar e falar para os meninos e meninas que estiveram aqui junto comigo e com o Altino. Desejo a todos que se façam acompanhar de muita alegria e saúde neste e nos outros anos que virão.
Especialmente não posso deixar de expressar um amor de paixão e de dizer carinhosamente ao Sérgio e ao Chico Souto, Elson Martins, Letícia Mamed, Pedrina, Lhé Farhat, Hélio Koury, Bruxinha, Fátima Almeida, Silene Farias, Toinho Alves, Keilah Diniz, Glória Perez, Eymard, Lucenildo, Evaldo, Margrit (lindinha!), Silvana, de Londres, Eliane, da Alemanha, Juarez Nogueira, comadre Kátia, e aos mais novos amigos Walmir e Ísis, que os quero bem felizes e que me obrigo a agradecê-los por povoarem a minha solidão.
Quero, ainda, por reconhecimento, transmitir aos que governaram e ressucitaram o ânimo dos nossos irmãos, que tenham pela frente uma caminhada feliz e produtiva. Felicidades para o menino Jorge e equipe.
Meu presente de Natal para Binho, não vai ser preciso comprar. Só boas vibrações. Ele tem tenência para não se iludir com o canto das sereias.
Ao assíduo leitor Angelim, um abraço fraterno. Cada sucesso seu é, pela nossa aritimética, um sucesso meu. Muitos anos e muitas lutas juntos nos fizeram mais que colegas. Sucesso, querido! 2007 vai requerer mais asfalto, iluminação pública, saúde, educação e lazer.
Por fim, para o Altino, apenas uma pergunta: posso continuar na carona? Minha psicóloga me disse que nunca vou aprender a dirigir para poder sentar no banco do lado. Tenho que apreciar a paisagem.
Beijão para todos.
Deus nos ilumine!
Amém!
◙ Vamos adiante, Leila, contrariando a psicóloga, claro. Enquanto contemplo a paisagem, você segue aprendiz de condutora de trenó. Feliz Natal ao nosso leitorado.
quinta-feira, 21 de dezembro de 2006
EM NOME DO PAI
FILHA DA FLORESTA
Alceu Luís Castilho
Elenira tinha 4 anos quando seu pai foi assassinado. Ele levou os tiros de espingarda do fazendeiro Darci Alves dos Santos e exclamou: “Me acertaram”. Caminhou até o quarto das crianças cambaleando, enquanto os dois policiais militares encarregados de protegê-lo fugiam pela janela. A mulher, Ilzamar, e o filho, Sandino, de 2 anos, também testemunharam o último suspiro – nos braços da filha e tentando falar seu nome: “Eleni... Elenira”.
Chico Mendes sabia que ia morrer. Era conhecido internacionalmente pela defesa da floresta amazônica e dos interesses dos seringueiros, e vinha sendo cada vez mais ameaçado. Dias antes do crime, ele reuniu a família e se despediu. No dia 22 de dezembro de 1988, o Brasil vivia sua crônica de uma morte anunciada.
Três fotos atestam o desejo do pai em ver a filha dar continuidade a seus ideais – entre eles o de uma Amazônia protegida e sustentável, palavras que trouxeram a fúria dos fazendeiros da região e a encomenda de sua morte. No verso das fotos ele escreveu dedicatórias que, lidas com emoção por Elenira à reportagem da Revista do Brasil em Rio Branco, no Acre, soam para ela como missão:
− Elenira, esta é a vanguarda da esperança. Darás um dia continuidade à luta que teu pai não conseguirá vencer.
− Aqui o riso da esperança, a bandeira do amanhã. Espero que o destino saiba te decifrar.
− Querida Elenira, teu destino estará selado (a foto mostra a garota montada em um cavalo). Nunca deve ser igual ao do teu pai.
Ela só conheceu as fotos aos 15 anos. Diante de seu interesse crescente pela história do pai, a tia Deusamar levou-a a seu quarto, em Xapuri. Abriu uma caixa e mostrou-lhe os registros que tinha. Ao ler as dedicatórias, Elenira ficou quase sem fôlego. “Fiquei com muito medo de não alcançar as expectativas do meu pai.” Há menos de dois anos, Elenira recebeu outra responsabilidade. Agora, da mãe. Ilzamar se cansara de tocar a Fundação Chico Mendes, em Xapuri, que reúne um museu sobre a vida do seringueiro e a casa da família. Chamou a filha e perguntou se estava disposta a assumir o trabalho, bancado pelo governo do Acre. A resposta foi positiva. “Quero preservar a história do meu pai”, diz a administradora de empresas e estudante de Gestão em Serviços Públicos.
Elenira recebeu a reportagem em sua casa no loteamento Flora, em Rio Branco. Já se preparava para trocar a charmosa capital de 350 mil habitantes por Xapuri, cidade natal, com 10 mil. “Aquela cidade que já foi considerada a princesinha do Acre está parada no tempo”, diz a filha de Chico Mendes, cujo nome integra o Livro dos Heróis da Pátria.
Infância abreviada
O governador eleito do Acre, Binho Marques, associa as qualidades de Elenira à revitalização recente da Fundação Chico Mendes. “Ela é superativa, animada e exigente. Tem trabalhado para uma gestão mais profissional. É muito equilibrada – nem apaixonada demais, nem dura demais.” Binho observa ao menos uma característica herdada da maior liderança que a Amazônia já teve: “Depois da morte do Chico, muita gente ficou dividida. Como o pai, ela tem a habilidade de apaziguar, chamar as pessoas”.
Elenira foi complementando a entrevista em diversos telefonemas nos últimos meses. Parece estar acostumada com o assédio da imprensa – doloroso na primeira infância. “Tínhamos uma vida pacata em Xapuri, da cidade para o seringal, do seringal para a cidade. Ninguém sabia o que era uma câmera, e de repente, além de perder o pai, vem um monte de repórteres...”
Ela e o irmão são muito próximos. Sandino estuda Administração de Empresas. Não gosta de falar do pai. Mas Elenira acredita que ele também abraçará a causa. “A mulher sempre amadurece mais cedo”, afirma. Os dois têm uma irmã, Ângela, 35 anos, filha do primeiro casamento de Chico. Embora Ângela e Ilzamar não se dêem bem, Elenira costura uma política de boas relações.
Da mãe ela ganhou o carinho, a educação, os valores. Elenira ressalta o papel dela na trajetória do pai – o casal conviveu entre 1983 e 1988. “Foram os anos mais difíceis; a luta, as brigas, as ameaças eram mais fortes.” Os capangas e filhos do fazendeiro Darli Alves dos Santos, mandante do crime, mostravam as armas em frente de sua casa e anunciavam sua morte.
Dezoito anos depois do assassinato, é difícil andar pelo Acre sem ver em algum lugar o nome de Chico Mendes. A responsabilidade pesa. “Perdi minha infância”, resume. Aos 22 anos, é solicitada a falar sobre a vida do pai desde criança – mais precisamente sobre a morte, a lembrança da cena final, na casa de madeira azul, diante do surrealismo da fuga dos policiais, o corpo no chão, o sangue. Quem conhece a Fundação e a Casa Chico Mendes revive tudo isso, a história em fotos e pertences do seringueiro. A casa guarda o cenário da noite fatídica. Cartazes informam o local da queda, a mesa onde os policiais jogavam dominó.
“Hoje sei que foi pela ausência do pai que comecei a namorar cedo (com 15 anos) e casei cedo (com 19), com o Davi”, assume Elenira. A ausência de Chico sempre soou meio paradoxal, por ser uma figura onipresente em fotos e relatos em seu estado – e motivo de interesse de ambientalistas em todo o mundo, que ainda vão às centenas a Xapuri e ao Seringal Cachoeira. “Mas senti falta de uma figura masculina que me cuidasse”, diz.
Elenira sobrevive da memória do pai. Ganha cerca de 1.000 reais para coordenar a fundação. Ela e Sandino têm, até os 24 anos, uma bolsa de seis salários mínimos para estudar. A mãe, Ilzamar, ganha como viúva um salário mínimo. Mas a principal herança está no sobrenome. A identidade da jovem parte das projeções do pai e se mistura a escolhas recentes. O próprio nome já traz uma carga ideológica: é homenagem a Elenira Resende de Sousa Nazareth, guerrilheira morta em setembro de 1972, no Araguaia.
Velho Oeste amazônico
Evangélica desde 1999, ela diz que foi Deus quem a confortou do trauma. “Não conseguia entender por que Deus tinha tirado meu pai, e daquela forma tão trágica. Então chorava escondido, achava que os traumas eram conseqüência de não ter um pai para me orientar. Vi meu pai ser assassinado na minha frente, mas o trauma foi curado.”
A primeira vez que ela viu o fazendeiro Darli foi em março, em Xapuri. “Fiquei muito nervosa. Ofegante.” Ele voltou a morar numa fazenda da região, após mais de dez anos na cadeia. Darci, o filho, autor do disparo, na época com 21 anos, mora no Distrito Federal. Ambos foram condenados a 19 anos de prisão, mas cumprem pena em regime aberto, liberdade condicional.
Ilzamar, em acareação com Darli no programa Fantástico, em 2000, mostrou muita raiva. Mas Elenira diz que perdoou. Na segunda vez que viu Darli, também em Xapuri, conseguiu enxergá-lo com a razão. “O que eles fizeram está feito, e eu não posso viver minha vida com o coração magoado, cheio de ódio.”
Elenira conta que o roteiro catártico da visita ao cenário do crime não foi planejado. Ela mesma evita entrar na casa. Mas diz que não chora mais. “Não gosto de pegar muitas fotos do dia em que aconteceu, como tenho no meu computador. São pastas em que eu não mexo.”
A história do Acre também é famosa por seus “monstros”. Na década de 90, era preso o ex-deputado Hildebrando Paschoal, aquele que percorria o corpo dos desafetos com motosserra. A prisão era um símbolo de que o Velho Oeste amazônico ganhava, enfim, contornos de
civilização.
O período de um século de conflitos no estado será tema de seriado de TV no início do ano. Uma das protagonistas é Elenira – em nome do pai: “Meu plano é não deixar que a história do meu pai morra, impedir que a luta dele se apague”. E com a filha, Maria Luísa, de 2 anos – em nome do avô: “Este aqui é o meeeeu avô”, costuma dizer ao ver imagens de Chico. Elenira explica que ele está no céu. “Ela já tem uma expectativa muito grande em relação à sua história. Tenho certeza de que também vai dar continuidade a ela.”
No panteão dos heróis
O Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves é o monumento na Praça dos Três Poderes, em Brasília, que abriga o Livro dos Heróis, criado em 1989 para homenagear personalidades consideradas heróis nacionais. Seus nomes precisam ser aprovados pelo Congresso. O nome de Chico Mendes foi aprovado em setembro de 2004, por iniciativa da ministra Marina Silva (Meio Ambiente) quando senadora.
Ainda em 2004 foi aprovada a inclusão de outro líder ligado à história do Acre: o agrimensor gaúcho José Plácido de Castro, que comandou, ao lado de seringueiros, índios e ribeirinhos, a resistência ao arrendamento do Acre boliviano para exploração por uma companhia anglo-americana, a Bolivian Sindycate. A batalha começou a sacramentar a incorporação do estado ao Brasil. O Livro dos Heróis, feito de bronze e aço, já inclui os nomes de Tiradentes, Zumbi dos Palmares, marechal Deodoro da Fonseca, d. Pedro I, duque de Caxias e do almirante Tamandaré.
◙ Da Agência Repórter Social, em Rio Branco e Xapuri (AC), para a Revista do Brasil, com fotos de Altino Machado. O líder sindical e ecologista Chico Mendes foi assassinado no dia 22 de dezembro de 1988.
- Altino, parabéns pelas fotos. Fiquei feliz com o destaque dado pela Revista do Brasil - matéria de capa, para 300 mil exemplares!! Imagino, paulista em Brasília que sou, que a divulgação de um perfil da Elenira signifique muito mais para vocês do que para nós. Meu mérito foi ter percebido que a notícia e a personagem tinham dimensões nacionais. A Marie Claire não publicou (apesar de ter acenado inicialmente a favor), mas a Revista do Brasil sim. E viva a história do Brasil! Grande abraço, Alceu Castilho.