terça-feira, 31 de outubro de 2006

CENAS DA CIDADE


Castigado pelo sol, com fome e sede, filhote de peito-roxo (cabocolino, caboclinho-do-norte, caboco lindo, caboclo lino, caboclo linho etc) clama pelos pais na calçada.


Estátuas de bronze, no Mercado Velho, em homenagem aos trabalhadores de Rio Branco.

PAPO ANTROPOFÁGICO

DESENCANTO HABITUAL
A
lexandre Goulart de Andrade

"É forçoso, em primeiro lugar, repor a verdade: o grande "comedor de gente" é o Txai Terri Aquino. Prova disso é quando revela sua condição de "adotado por um amor passageiro e intenso, que, no meu caso, sempre deu frutos bem concretos".

Txai, vou anotar sua proposta sobre a coletânea da coluna "Papo de Índio", que achei muito bacana e merecedora de registro à altura deste "front" contra-hegemônico das forças indígenas e seringueiras.

E quero reforçar aquele pedido de realizarmos um projetinho que coloque os txais da floresta, grandes pajés, caciques e cantadores - seu Agostinho "Muru" Manduca Mateus, seu Milton, seu Antônio de Paula, entre tantos outros - como protagonistas do registro histórico de seus enciclopédicos conhecimentos.

Assim, você alia seu "navegar de batelão no rumo dos altos rios de nossas fronteiras" com a importante missão de dar mais voz aos moradores das cabeceiras deste Acre profundo, que você tão bem conhece.


Outro dia vi o Txai Terri atravessando a avenida Ceará com sua tiara huni kuin na cabeça, sua capanga de kenês, calça jeans e jeito rebelde de ser. Parecia levitar sobre as faixas de pedestres, condensando em uma pessoa só os quatro Beatles naquela célebre capa (Abbey Road). E, levitando, levava junto idéias e sentimentos que estão muito arraigados à esta terra firme.

O mundo pareceu fazer sentido enquanto o Txai caminhava por entre "vultos coloridos, pintados de urucum e jenipapo", num trânsito entre yuxin e yuxibu que só grandes txais podem fazer.

Depois o sinal de trânsito abriu, os carros voltaram a andar em polvorosa, e o mundo pareceu retornar novamente ao seu desencanto habitual.
Salve os txais da floresta! Salve Txai Terri".


SOTAQUE ORIENTAL

Txai Terri Vale de Aquino

"Faz tempo que não escrevo projetos, coisa que fiz muito de meados da década de 70 ao início dos anos 90. Era o tempo dos projetos de cooperativas de borracha, que ajudavam os índios a se mobilizar politicamente pelo reconhecimento oficial de suas terras. Mais do que demarcá-las fisicamente, queriam demarcá-las socialmente, ou seja, retirar todos os patrões e seringueiros cariús de suas terras.

Desde 1994, estou mais envolvido nos processos de regularização de novas terras indígenas no Acre, seja elaborando relatórios de identificação e delimitação de várias dessas terras indígenas, seja ajudando em campo outros colegas antropólogos, que coordenam grupos técnicos da Funai com essa mesma finalidade, mas não conheciam os índios dessa terra.

Desde 2004, quando retornei novamente ao Acre, depois de sete anos trabalhando na Funai e no Ministério do Meio Ambiente (escrevendo o relatório de criação da Resex Riozinho da Liberdade), venho participando também de muitas "oficinas de etnomapeamento e etnozoneamento" em terras indígenas no estado, situadas tanto na fronteira internacional com o Peru, quanto daquelas situadas nas proximidades da fronteira com o estado do Amazonas, impactadas pelas pavimentações das BRs 364 e 317.

Apesar de estar à margem desse novo "mercado de projetos" com índios e extrativistas, acho que a maioria deles não recompensa os velhos indígenas e ex-seringueiros envolvidos no processo de resgatar seus "tempo da memória" na floresta. "Esquecem" de recompensá-los financeiramente pelo importante trabalho que realizam enquanto pesquisadores da floresta para os "donos" dos projetos.

Eu não teria coragem, por exemplo, de convidar o meu velho amigo Raimundo Luis Yawanawá, para falar horas e horas sobre a sabedoria dele e de seu povo sobre a biodiversidade de suas florestas e de aspectos importantes de sua cultura e organização social, sem lhe oferecer ao menos uma bolsa de pesquisador.

Os velhos índios não querem ser mais apenas informantes de pesquisadores e antropólogos brancos. Querem ser parceiros intelectuais e querem receber pelas pesquisas que eles também participam juntos aos seus povos e suas terras.

Então, Alexandre Goulart, pergunte mais sobre isso ao líder indígena Joaquim Tashkã, que ele, como um bom poliglota que é, vai lhe ensinar melhor do que eu como é essa história toda.

Você pode conversar com ele em língua yawanawá, ou, se preferir, em português, ou inglês, que ele também fala muito bem, com sotaque oriental de Chinatown da Califórnia".


Alexandre Goulart de Andrade e Terri Vale de Aquino são antropólogos e trabalham na Secretaria de Meio Ambiente e Secretaria dos Povos Indígenas do Governo da Floresta. A palavra txai, de origem kaxinawá, significa amigo, cunhado, parente.

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

TARTARUGAS DA AMAZÔNIA

O desenho ao lado, de 1873, é de autoria do naturalista francês Paul Marcoy e deveria ter sido usado para ilustrar o artigo "Farsa moderna", do Carlos Valério Gomes. Ele ilustra a importância econômica dos recursos aquáticos na Amazônia naquela época. No início do século XVIII, estima-se que 20 milhões de ovos de tartarugas eram coletados anualmente no Alto Rio Amazonas. A carne de tartaruga era usada na alimentação e o óleo na iluminação. As tartarugas também exerciam um importante papel na dieta das populações ribeirinhas e indígenas. Eram o gado da Amazônia. Em toda a história econômica da região, a tartaruga foi o recurso que sofreu maior impacto. A introdução do querosene e do óleo vegetal, no final do século XIX, com o surgimento da economia da borracha, talvez tenha salvado as tartarugas de total extinção no vale amazônico.

GEOGLIFOS NA ÉPOCA

Eram os índios astronautas?

Nenhum cientista acredita nisso. Mas as misteriosas marcas feitas por populações pré-históricas na Amazônia sugerem que os povos antigos tinham uma arquitetura sofisticada

Mariana Sanches

Encravada na Floresta amazônica, no Acre, uma centena de grandes escavações na terra, formadas por valas de até 2 metros de profundidade e com 10 metros de largura chama a atenção de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Os geoglifos, estruturas que parecem saídas de filmes de extraterrestres, podem contar uma nova história sobre os povos que viveram na América antes da chegada dos europeus. São valas que datam do século XIII, mais de 200 anos antes de Pedro Álvares Cabral desembarcar no Brasil. A descoberta traz indícios de que as tribos pré-colombianas dominavam técnicas de arquitetura mais sofisticadas do que se imaginava.

Os geoglifos estão espalhados por uma área de 6.000 quilômetros quadrados de extensão. Têm formas geométricas regulares, como quadrados, círculos e hexagonos. Medem até 70.000 metros quadrados de áreas - o equivalente a 8,5 campos de futebol como o Maracanã. Nas escavações, foram encontrados cacos de cerâmica, urnas funerárias e machadinhas de pedra polida. As valas e os fragmentos foram os maiores monumentos arqueológicos brasileiros. "Tudo indica que não há nada igual a essas estruturas em nenhuma parte do mundo", afirma a arqueóloga finlandesa Sanna Saunaluoma. Ela faz parte de um grupo de pesquisadores que estuda os geoglifos em parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi e a Universidade Federal do Acre.

A descoberta ainda está cercada de hipóteses sobre a função e o tipo de uso dos geoglifos. Mas os pesquisadores têm alguma certezas. Sabem que as escavações já estavam ocupadas no ano de 1275 - a datação foi feita por meio do estudo de um fragmento de carvão vegetal de um dos geoglifos. É possível afirmar, também, que eles foram construídos sem auxílio de pás ou pircaretas. Impressiona, ainda, a quantidade de energia gasta nas escavações. Na época, obter alimentos era difícil, e a morte de alguns integrantes poderia significar a extinção da tribo.

"Para fazer esse trabalho, era preciso muita força e excelente planejamento", afirma Martti Parssinen, diretor do Centro Ibero-Americano da Universidade de Helsinque, Finlândia, um dos coordenadores dos estudos. As decobertas podem derrubar a noção de que aqueles índios viviam apenas de pesca, caça e da coleta de alimentos. "O trabalho não pode ter sido feito por caçadores e coletores. Estamos falando de uma civilização perdida que floresceu na região de Rio Branco há mil anos", diz Parssinen. Ainda não se sabe ao certo, se, para construir as valas, os índios teriam desmatado algumas partes da floresta - ou se, naquele tempo, a região teria uma mata menos densa, como uma savana.

Os estudiosos também não estão certos sobre a utilização dos geoglifos, mas existem pistas. Algumas estruturas têm mais cacos de cerâmica. Outras poderiam ter sido cercadas por paliçadas - tapumes feitos com estacas fincadas na terra. Os arqueólogos descobriram estradas perfeitamente retas interligando os geoglifos. Isso sugere uma comunicação intensa entre as construções. Todos essses vestígios podem significar diferentes usos para os geoglifos. "Eles podem ter servido como local para rituais religiosos, estruturas de defesa, sistema de irrigação para agricultura ou até moradia", diz o paleontólogo Alceu Ranzi. Ele estuda há 30 anos os sítios arqueológicos do Acre. De acordo com alguns pesquisadores, as tribos passavam grandes temporadas no local. Outros afirmam que os índios não ficavam permanenemente nas construções. "As estruturas podem ter sido um artifício usado em ocasiões específicas, como situações de perigo ou cerimônias religiosas", diz Ondemar Dias, presidente do Instituto de Arqueologia Brasileira. "Quando o problema passava, tudo voltava ao normal".

Os pesquisadores também estão conversando com povos indígenas da região -entre les os manchineri-, possíveis descendentes das tribos que construíram os geoglifos. Espera-se que os relatos ajudem a revelar como as estruturas foram escavas e para que elas serviram. "Estamos recuperando mitos sobre a floresta que podem trazer explicações", afirma a antropóloga Pirjo Kristiina Virtanen, da Universidade de Helsinque. "Quando cruzarmos os dados da pesquisa com os índios com os dados arqueológicos, poderemos ter respostas".

Apesar dos esforços, muitos geoglifos correm o risco de desaparecer antes mesmo de ser estudados e entendios. O desconhecimento, a falta de proteção e de fiscalização já levaram à destruição vários sítios arqueológicos e à perda de material histórico. "Não é raro encontrar as estruturas cortadas por estradas. Algumas estão dentro de fazendas particulares e já foram usadas até como açude", afirma Denise Schaan, antropóloga [ela é arqueóloga] da Universidade Federal do Pará e do Museu Paraense Emílio Goeldi. Técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico nacional (Iphan) dizem que o controle da exploração dos geoglifos e a fiscaliação de obras que possam afetá-los vão aumentar. "As estruturas atravessadas por estradas já sofreram danos, mas podemos aproveitar isso para facilitar a visItação", afirma Rossano Lopes bastos, arqueólogo do Iphan. "Aqueles ainda intactos deverão ser preservados". Além dos geoglifos identificados, pode haver outros escondidos sob a mata fechada - talvez no Estado de Rondônia e também na fronteira com a Bolívia.

A preservação e o estudo da região podem trazer mais que informações sobre o passado da América. Os geoglifos têm potencial para se tornar ponto de visitação e entrar para a rota de turismo histórico da América Latina. No Peru, o Deserto de Nazca serve como exemplo. Lá, os geoglifos em forma de animais receberam mais de 35 mil visitas estrangeiras apenas no primeiro semestre de 2006, segundo o Ministério do Comércio Exterior e Turismo do país. "Criar museus ao ar livre é uma boa opção para promover a visitação dos geoglifos brasileiros", afirma Solange Caldarelli, diretora da consultoria científica Scientia, que realizou pesquisas na área. No futuro, além de cientistas e pecuaristas, a região também pode uma dia receber caçadores de óvnis, como Nazca.

A reportagem de Mariana Sanches está na edição da revista Época desta semana, ilustrada com fotos dos geoglifos tiradas pelo fotógrafo acreano Sérgio Vale. Os erros ortográficos são de minha autoria, pois datilografei o texto.

FARSA MODERNA

Carlos Valério Gomes

Interessante o relato sobre William James, que parece surgir como um norte-americano contrubuidor ao conhecimento científico da história natural da Amazônia no seculo XIX – se verdadeiro seria algo relativamente novo. Porém, me parece existir um certo exagero na sua possível contribuição com relação à produção científica sobre a região. Este argumento, de que tal expedição visava rebater as teses de Darwin, me parece um tanto quando exagerado. De fato, a Amazônia deu pouca contribuição para Darwin na elaboração de sua teoria de evolução das espécies. Com relação à Amazônia, o maior nome sobre o tema, que estava trabalhando na mesma linha de pensamento que Darwin, foi Alfred Russel Wallace (1823-1913). Ele desembarcou no Pará, em 1848, e viajou pela Amazônia durante quatro anos. Viajou extensivamente pelo Rio Negro e alcançou distâncias nunca atingidas por outros naturalistas até então. Wallace era um evolucionista com treinamento em botânica e zoologia. Além do seu papel como coletor, uma outra razão que o trouxe para a Amazônia foi para investigar as causas da evolução orgânica. Ele era particularmente interessado em investigar as formas como a geografia limitava ou facilitava a extensão do raio de ação das espécies. Como resultado de sua viajem na Amazônia, escreveu o livro “A Narrative of Travels on the Amazon and Negro (1853)”.

Posteriormente, Wallace viajou por oito anos em Singapura e formulou sua teoria da evolução por seleção natural. Ao contrair malária e achar que iria morrer, Wallace escreveu para Darwin sobre suas idéias. Isto levou Darwin a revelar a sua própria teoria mais desenvolvida e pesquisada que a desenvolvida por Wallace. Wallace é considerado por muitos na comunidade científica internacional como o “pai esquecido” da ciência moderna. Agora, trazer um novo nome para esta discussão, usando a Amazônia, me parece meio “promocional,” mas esperemos o livro. Os maiores responsáveis pelo início da produção cientifica da região foram os naturalistas europeus. Durante o século XVI, a grande maioria dos viajantes era ligada à Coroa Portuguesa, estando entusiasmados para explorar a Amazônia em bsuca do “El Dorado”, tal como ocorreu em outras regiões do Novo Mundo. Esses primeiros exploradores estavam pouco interessados em conhecer a riqueza biológica do ambiente natural a que se estavam inserindo. Estavam mais interessados em encontrar recursos já conhecidos, sobretudo ouro e prata.

A necessidade de avanço da exploração produtiva na Amazônia aprofundava a demanda por maiores conhecimentos de suas características econômicas potenciais. Então, produtos extrativistas, muitos já usados pela população local, ganharam significância econômica e tornaram-se o principal motor do processo de colonização e penetração no vale amazônico. As chamadas "drogas do sertão" e recursos aquáticos passaram a render bons lucros no mercado internacional e foram alguns dos produtos monopolizados pela metrópole portuguesa no final do século XVII. Com o avanço da economia extrativista são incentivados os inventários dos recursos naturais na região e assim passa-se para uma nova fase de conhecimento que vai além das expedições de relatos técnicos. Ou seja, passa-se da fase de expedições de exploradores para expedições científicas.

Dessa forma, os viajantes dos séculos XVIII e XIX diferenciavam-se desses dos séculos anteriores, visto que na sua maioria eram patrocinados por instituições científicas e tinham como principais objetivos a aquisição de conhecimentos sobre o ambiente natural. Charles-Marie de la Condamine, que viajou para o Pará a partir de Quito no final de 1744 foi um dos precussores e deu uma grande contribuição científicas e descobertas na Amazônia. Condamine inspirou Humboldt, que por sua vez inspirou Spruce, Wallace e Bates. Outros naturalistas também suplementaram o estoque de conhecimento criado sobre a região. Em 1835 Lieutenant Smyth desceu o Huallaga e viajou pelo Ucayali e Amazonas. Em 1852, Lieutenant Herndon seguiu o caminho de Smyth, penetrou o Purus e desceu o Mamoré e o Madeira. A partir do Pará, Von Martius, em 1820 examinou parte do curso do Amazonas e Japura. Von Spix subiu pelo Amazonas até Tabatinga no mesmo ano. O Príncipe Adalberto da Prússia subiu pelo Xingu em 1842 e Edwards subiu o Rio Negro. Esses naturalistas, ingleses, franceses e alemães engajados em conhecer os diversos recursos naturais da região atravessaram extensas áreas e com isso abriram capítulos da História, Geografia, Antropologia, Zoologia e Botânica da região. Devido à energia e talento desses naturalistas, a ciência contribuiu imensamente para o estoque de conhecimentos da história natural que temos sobre a Amazônia hoje.

Trazer um pesquisador norte americano como contribuir dos conhecimentos cientificos sobre a região na epoca e algo novo. Além do argumento sobre rebater as teses de Darwin usando a Amazônia, o outro argumento problematico é o de um “projeto de desenvolvimento norte-americano” para a Amazônia na epoca. O comercio internacional da Amazônia na epoca era principalmente com a Europa. Os americanos passaram a exercer uma certa influência com a explosão do mercado internacional de borracha iniciado em 1880. Espero que a autora brasileira não tente promover o nome de William James baseada em argumentos modernos, e sim mergulhe na história verdadeira de produção de conhecimento da história natural da região.

Carlos Valério Gomes é estudante acreano de doutorado em geografia na Universidade da Flórida. Enviou o artigo como comentário ao post William James na Amazônia.

MUSEU DE PALEONTOLOGIA

Alceu Ranzi

A Expedição Thayer, liderada por Louis Agassiz, está ligada em um detalhe importante para as ciências naturais do Acre. Agassiz, na época da Expedição, já era um cientista reconhecido e, em Manaus, teve um encontro com William Chandless, que retornava de sua viagem ao Purus e Aquiry (Acre).

Chandless apresentou a Agassiz alguns fósseis coletados no Acre. Entre peixes e tartarugas foram identificadas vértebras do réptil marinho Mosasaurus. Mosasaurus foi um gigante dos mares do Cretáceo +- 80 milhões de anos.

Em respeito à grande autoridade de Agassiz, por muitos anos a região do Acre, geologicamente, foi considerada de sedimentos marinhos. O equívoco foi desfeito posteriormente, pela identificação/confirmação do Purussaurus, um crocodilídeo gigante de águas continentais.

Vale dizer que os fósseis referidos por Agassiz e Chandless, até o momento não foram localizados nem em Londres ou na Royal Geographical Society (local de trabalho de Chandless), nem no Museum of Comparative Zoology da Harvard University (local de trabalho de Agassiz).

Em breve, fósseis de Purussaurus poderão ser apreciados no Museu de Paleontologia, um projeto em execução pela Prefeitura de Rio Branco em colaboração com a Universidade Federal do Acre.

Alceu Ranzi é paleontólogo e trabalha atualmente na prefeitura de Rio Branco. Enviou o texto acima como comentário ao post William James na Amazônia.

CUBOTOUR

Os roqueiros, que na semana passada ficaram catatônicos com minhas críticas à cena independente, agora começam a entrar nos eixos.

O jornalista Ney Hugo, da "imprensa fora do eixo" e integrante da banda Macaco Bong, de Cuiabá, escreveu sobre a polêmica gerada neste blog sobre o Festival Varadouro.

Os organizadores do festival importaram vários jornalistas especializados, como Lúcio Ribeiro, Fernando Rosa e Humberto Finatti, que, em tese, eram os únicos "autorizados" ou "credenciados" a opinar sobre o evento.

Nenhum deles fez sequer uma crítica, sobretudo porque, além de casa, comida e roupa lavada nos festivais da cena, costumam ser tratados como ídolos pelos roqueiros supostamente independentes.

Sabendo que a menor crítica nesse ambiente se transforma em nitroglicerina, cutuquei as onças com vara curta. E agora já estou sendo considerado "genial". Menos, galera, menos, pois quem quer permanecer fora de eixo sou eu.

Leiam no Cubotour - Circuito Fora do Eixo.

domingo, 29 de outubro de 2006

BINHO MARQUES



O governador eleito Binho Marques (PT) comemorou os 44 anos de idade e a reeleição do presidente Lula com centenas de amigos.

O jornalista Gean Cabral e a filha Gabriela, de 10 anos, fizeram uma caricatura dele sobre a qual cada um deixou mensagem.

Tasquei lá: "Ar de artista/ Menino na cadeira/ Do dentista", refrão de uma música que Binho ajudou a compor e a interpretar durante um festival de música em meado dos 80.

Binho (na foto, com o deputado eleito Fernando Melo) parecia mais feliz com o desempenho do PT no Acre do que com a nova idade. No primeiro turno, Alckmin (51,79%) venceu Lula (42,62%). A Frente Popular do Acre realizou a proeza de reverter o resultado no segundo turno. Até agora, com 99,71% dos votos apurados no Estado, Lula obteve 52,37% e Alckmin 47,63%.

FOTO DO DIA

Júlia Feitosa recebeu voz de prisão e foi conduzida com o bolo de chocolate num carro da Polícia Federal. A ordem de prisão foi assinada pela juíza Olívia Ribeiro, após aprovação unânime dos juízes do TRE do Acre. A prisão ocorreu na presença da ministra Marina Silva e do vice-presidente do Senado, Tião Viana, que já haviam provado do bolo na festinha surpresa preparada pela militante.

Horas depois, um eleitor encontra o governador eleito Binho Marques (PT) e pergunta se está tudo bem com ele.

- Mais ou menos. A Júlia e o bolo do meu aniversário foram presos - respondeu.

Parabéns do blog ao Binhowsky!

A "brilhante" idéia, de surpreender o governador eleito Binho Marques com um bolo e cantar parabéns quando ele comparecesse à seção eleitoral para votar, partiu da jornalista Charlene Carvalho, assessora de imprensa do Tribunal de Justiça do Acre e colunista política do jornal A Tribuna. Os petistas acataram a "sugesta" sem se preocupar com a lei. A justiça eleitoral pode até ter exagerado ao ordenar a prisão, pois poderia ter pedido que a festinha fosse realizada na rua, com o povo. Mas imaginem se vira moda e alguém decidisse casar na seção eleitoral e passar a lua de mel na cabine. A jornalista não acompanhou a festinha surpresa.

SEM JUIZO

A militante petista Júlia Feitosa permaneceu detida por mais de duas horas na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Rio Branco, por ter levado um bolo com vela para comemorar o aniversário do governador eleito Binho Marques (PT), no colégio Newtel Maia, onde ele votou.

A prisão foi determinada pela juíza eleitoral Olívia Ribeiro. O fato forçou o governador Jorge Viana a se dirigir até a sede do Tribunal Regional Eleitoral, onde se reuniu com a presidente Isaura Maura.

Júlia e Binho são amigos desde a adolescência, fizeram teatro no extinto grupo Semente e foram dirigentes do Centro dos Trabalhadores da Amazônia, fundado pelo seringueiro Chico Mendes.

O governador eleito Binho Marques completa hoje 44 anos de idade. Durante a campanha do segundo turno eleitoral, Marques disse esperar do povo a vitória de Lula no Acre como presente. Alckmin derrotou Lula no primeiro turno no Estado.

- A juíza parece não ter juizo, pois não havia necessidade de uma atitude tão arbitrária - afirmou o jornalista Aníbal Diniz, suplente do senador Tião Viana.

Leia mais no Notícias da Hora.

WILLIAM JAMES NA AMAZÔNIA

Em 1865, quando tinha 23 anos, o filósofo William James (o americano que popularizou o termo “pragmatismo”, essa que é considerada a maior contribuição da América para o mundo) estudava na Harvard Medical School. Quando soube que um dos seus professores, o naturalista Louis Agassiz, ia partir com uma expedição para o Brasil, ofereceu seus serviços como voluntário. Clique em "A vida amazônica de William" para ler a reportagem de Jotabê Medeiros, no Estadão.

sábado, 28 de outubro de 2006

MADEIRA FOSSILIZADA

Três peças de madeira fossilizada enfeitam o jardim do convento da prelazia de Sena Madureira.

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

VOU AO MUNDOS DOS YUXIN

No Jordão, o português é língua pra conversar com cachorros

Txai Terri Vale de Aquino

Ao antropólogo Alexandre Goulart, grande comedor de gente: já que você me provocou pra entrar nessa conversa de "gente grande", vou falar que nem um menino buchudo de Tarauacá. Penso que o espaço do Papo de Índio, essa tribuna da plebe independente acreana, tem sempre aberto espaço para os índios, seringueiros, camponeses da floresta se manifestarem, opinarem, contarem suas histórias de vida, mitos e rituais, apresentarem suas denúncias e reivindicações por terras indígenas e reservas extrativistas etc e tal.


Junto com o parceiro Marcelo Iglesias e de antropólogos como a Mariana Pantoja, da UFAC, e o seu Mauro (Almeida), como falam os seringueiros do Alto Juruá, além de outros colegas que andam por aldeias, antigos seringais e matas densas e abertas acreanas, já escrevemos mais de 300 papos sobre esse assunto, desde os tempos do antigo Varadouro, o jornal das selvas. Não confundir agora com o nome do festival do "rock n´errou". Gostaria muito de selecionar "Cem Papos" pra uma publicação doméstica, uma espécie de homenagem ao "Acre é Cem".

Muitos desses papos, pelo menos os poucos de minha autoria, foram escritos para ajudar os meus parentes Kaxinawá do rio Jordão, que lutavam pela demarcação de suas terras, no longíquo município do mesmo nome, aquele sim, o verdadeiro "início do mundo", onde o português é língua pra se conversar com cachorros, literalmente. O Papo de Índio, que é um espaço democrático e plural, é pura florestania. Que tal a SEPI editar esse livrinho dos "Cem Papos"? Quer outra sugestão? Que tal publicar a tese de doutorado do Mauro Almeida, "Seringueiros do Alto Juruá: a Construção de um campesinato florestal", defendida com louvor na Universidade de Cambridge/Inglaterra? Taí um excelente livro de um grande intelectual da Unicamp, um "acreano do pé rachado", como se diz por aqui, e que ama verdadeiramente essa terra, sobretudo os "camponeses da floresta" do Alto Juruá. Agora com o Binho Marques vamos ter mais possibilidade de valorizar a cultura, a educação e os autores locais, sem a necessidade de construir grandes obras de infraestrutura que foram tão necessárias ao estado no governo Jorge Viana. No mais, graças ao nosso pequeno-grande Raimundo Angelim, Rio Branco está deixando de ser apenas um "purgatório" para se chegar ao "paraíso" de suas grandes florestas, banhadas por muitos lindos rios.

Como gosto de navegar de batelão no rumo dos altos rios de nossas fronteiras! Só pra não envelhecer depressa, manter o espírito sempre alerta, sonhar nas noites frias de luas e estrelas enormes e saciar meu espírito que se encarnou sobre as águas. Viajar demoradamente por suas aldeias e reservas, sem pressa de voltar pra casa que nunca tive, a não ser quando adotado por um amor passageiro e intenso, que, no meu caso, sempre deu frutos bem concretos, meus muitos filhos. De tanto andar por aldeias e seringais me sinto um pouco estrangeiro na minha própria terra. Tem gente que diz, com toda razão, que pareço mais um ET quando ando, raras vezes, por bares, festas e festivais de rock de Rio Branco. Olho pra essa terra com um olhar de estranhamento e sempre vejo vultos coloridos, pintados de urucum e jenipapo, me dizendo que sou ainda uma criança, porque ainda não aprendi a falar suas línguas verdadeiras de seres humanos de verdade.

Com essas palavras ao vento, paro por aqui, desejando que o Blog do Altino tenha longa vida! E que os petistas locais não se metam à besta de cobrarem a mesma catilinária: "Então, Altino, você tá do nosso lado, que lhe pagamos um bom salário ("pequeno", digo eu), ou contra a gente?"

Logo depois das eleições estou indo novamente às aldeias Yawanawá do rio Gregório aprender um pouco sobre o xamanismo desse povo das queixadas. Tomara que a Magaly e o Edegard de Deus, meus chefes na Secretaira de Meio Ambiente, me ajudem nessa nova empreitada. Os pajés yawanawá sempre me perguntam: "Por que será, Txai, que os brancos gostam mais de conhecer as coisas visíveis e materiais do nosso povo do que a nossa espiritualidade invisível sem o cipó e outras plantas de poder da floresta? Quem não entra no mundo dos "yuxin"(os espíritos da floresta) nunca vai entender realmente quem são os índios e as nossas culturas". Quem não gostou da história deste menino amarelo, que conte outro papo. No meu caso, canto que nem a dona Maria Damião, uma mulher acreana de valor, que não sabia ler nem escrever, mas que recebia sempre belos hinos ao lado de Juramidã: "Eu sou pequenininho/ Mas trago os meus ensinos/ Eu canto é bem baixinho/ Em roda dos meninos".

O antropólogo Txai Terri Vale de Aquino escreveu em resposta ao comentário do antropólogo Alexandre Goulart, no post Acre na Rolling Stone.

POEMAS INSENSATOS

Leila Jalul

Glória!


Em primeiro lugar quero e devo agradecer a foto da bola e do menino. Quando conheci o menino, ele já era "maiorzim" - e a bola também, claro!

Eu estava já com uma mensagem quase concluída quando o Altino entrou na linha. Me perco nesta máquina e me perdi. Não sei salvar nem a minha própria alma, imagine um e-mail.

Pois bem, dias atrás, chamei o Altino e queria saber da Célia Pedrina. Conversa vai, conversa vem, e lá falamos sobre a Mini e sobre o Tico, também. Afinal, o Tico era a minha melhor e maior memória sobre você.

Afora qualquer pieguismo de minhas recordações, é sério, eu acho muito importante a gente deixar no baú o Burt Lancaster, o Kirk Douglas, O Céu por Testemunha, Quando Setembro Vier, A Noviça Rebelde e outras putarias.

Já temos pelo menos duas gerações perdidas. Sem nenhum rancor, sem ufanismo, é hora de jogar na cara desses meninos, na dose certa, O Quatrilho, Anita Garibaldi e Galvez, inclusive. Isso vai deixar rastro, pode crer.

Não sei se o Altino te falou. Escrevo poemas insensatos. Quando você estiver de férias a gente fala sobre isso. A insensatez pode, e deve ser sempre adiada.

Cuide, janeiro está bem aí.

Se servir para alguma coisa, guarde sempre minha lembrança carinhosa.

Beijos.

Leila Jalul é poetisa acreana

INCLUSÃO DIGITAL


A passarela Joaquim Macedo, que liga sobre o Rio Acre os dois centros de Rio Branco, será inaugurada hoje, às 17 horas. Ela tem 200 metros de comprimento, vão central em curva, de 110 metros, e 5,50 metros de largura.

- A obra é uma referência para a engenharia internacional - afirma o governador Jorge Viana.

Ainda não está visível no Google Earth, mas quem estiver interessado em conferir imagem do início da obra, deve usar a coordenada 9°58'38.59"S 67°48'25.10"W.

A passarela para ciclistas e pedestres é a obra mais polêmica do governo estadual e integra o projeto urbanístico que revitalizou o centro da capital.

Leva o nome do ex-governador Joaquim Macedo, tio de Jorge Viana, que morreu no mês passado após ter sido atropelado por uma bicicleta no centro histórico da cidade.

Mais informações no site Notícias da Hora.

VIDA DE PASSARIM



Fincado o lambri, na porta da cozinha, o sanhaçu aproxima-se, confere se ainda existe ou não banana amarrada na ponta, olha para o alto...



...e, após um breve vôo, está diante de dois filhotes barulhentos, ambos dependentes de alimento e carinho.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

A MÚSICA SEMPRE VENCE

Diogo Soares

Música e conjutura política, social e econômica caminham lado a lado. No Acre a regra se confirma. Não somos bastiões do rock ou da música acreana, mas temos a plena certeza de que fazemos parte de um processo que não começou hoje e que, devido a profusão de informações em nível nacional, a
banda virou uma boa notícia. Antes disso, somos quatro caras que se reúnem na salinha do shopping Rafaela, há quase quatro anos, pra fazer um som, inventando nossas próprias canções, num primeiro momento por mera diversão.

Todo o passado roqueiro acreano, dos Mugs e Bárbaros, passando pelos desbravadores headbangers, incluindo-se aí as bandas da comunidade Zadoque, já fizeram o caminho proposto pelo Varadouro, levando a música do Acre para outras paragens. Como bem observou o Mário Lima, à época em que aconteceram estas empreitadas artísticas a conjuntura era outra. Hoje, além do apoio do poder público (que recentemente bancou passagens de avião para três ou quatro bandas de metal participarem de um festival em Porto Velho), o Brasil passa por um momento histórico muito favorável ao encontro da produção nacional, através do trabalho de selos independentes, da organização política surgida a partir dos festivais e evento esporádicos, da invenção e popularização do MSN, do Orkut e outras portas que a internet oferece, da criação de novos espaços e veículos de mídia, atentos para o que está acontecendo.

O que estamos fazendo no Acre, não é porque somos tocados por Deus, como alguém já disse, ou porque achamos que tudo o que foi feito não tem valor, pelo contrário, durante a construção do Varadouro, a participação de personagens importantes na história da nossa música foi tida como imprescindível. Tanto que numa das tardes de debates, no auditório do João Paulo, onde todos os que debatem aqui poderiam ter estado presentes e se manifestado publicamente, Márcio Batista e Zé Uchoa, caras que fazem movimento rock no Acre há bastante tempo, afirmaram que muito já havia sido feito mas que em nenhum momento o rock acreano esteve tão conectado com o que acontecia no resto do Brasil, reconhecendo o movimento de vanguarda no qual o Acre está inserido.

Não por causa dos Porongas, do Catraia, mas por conta da conjuntura. As estruturas do mercado fonográfico estão falidas e nós sabemos disso, estamos correndo por fora, por Fora do Eixo, por dentro da Associação Brasileira de Festivais Independentes e isso exige trabalho sério e música boa. Basta procurar as primeiras opiniões de quem entende do assunto para saber se o Acre tem ou não tem isso. Outro aspecto relevante... além de criar, temos que pensar na estrutura que vai proliferar a arte que fazemos.

E por que? Porque somos artistas integrados ao mundo em que vivemos e acreditamos que o nosso canto é o canto de uma geração. Se nós não acreditarmos nisso, quem mais vai? E é exatamente isso, unido à vontade de ver um mundo onde as pessoas tenham mais acesso, sejam mais justas, mais críticas, mais emancipadas (efeitos colaterais(?) que arte proporciona) que faz com que tiremos dinheiro do bolso, que tragamos gente de todo canto do país, que percamos noites de sono. E são comentários como os do Lúcio Ribeiro, do Thiago do Alto-Falante, do Dagoberto, do Tramavirtual, do Mini do Walverdes, do Danislau do Porcas Borboletas, do Fernando Rosa do Senhor F e debates como esse que nos fazem ter a certeza de que a música, a música sempre vence.

Sempre disposto ao debate me despeço com as tradicionais saudações poéticas e amazônicas a todos os leitores do Blog.

Diogo Soares é vocalista do Los Porongas e membro da curadoria do Festival Varadouro. Aviso ao Daniel Zen, do Catraia Records, que enviou mensagens de texto para telefones dizendo que eu não poderia criticar o Varadouro porque não havia comparecido ao festival: a foto acima, do Diogo, foi tirada por mim. Bem, não vou esperar para reencarnar noutro lugar que não seja o Acre para que me digam que estarei autorizado a opinar, por exemplo, sobre um festival de música. Para existir, a cena independente não necessita de público tampouco de crítica. Na verdade ela é uma confraria e, no fundo, a maioria sonha mesmo é poder gravar numa Som Livre e aparecer no Domingão do Faustão ou no Raul Gil. Sucesso, rapaziada.

A BOLA ERA MAIOR

Leila Jalul

Estou esperando você para nosso jantarzinho. Sei que vai ser bom. Afinal, um encontro de gente de qualidade, tem, por consequência, que ser ótimo.

Nos três últimos dias, minha vida como enfermeira-chefe da mamãe foi um terror. Mato qualquer paciente antes do tempo!

Hoje, por volta das 1h40 da madrugada, li "O dono da bola" que a Glória Perez enviou.

Sabe, Altino, quem não tem do que lembrar, lembra do passado. A minha infância foi qualquer coisa beirando o sensacional.

Ninguém, ninguém mesmo, que não compartilhou da minha infância, pode saber da saborosa gargalhada da Dona Adélia, do seu Nilo. Era divinal.

Em redor da fonte, Maria Amélia, Madalena Fares, e outras figuras não menos luminosas, se refestalavam de brincar e se "desculhambavam" todas. Os vestidos rasgados, os laçarotes de fitas desmanchados, os cabelos desgrenhados. Um terror!

Lá vinha Dona Adélia, mulher sem filhos, e ajeitava todas.

- Minhas filhas, o cabelo é a moldura do rosto - ensinava.

Essa frase simples é dita até hoje, mas nunca com a mesma reverência de Dona Adélia. Isso era a melhor demonstração de como cuidar dos filhos dos outros como se seus fossem.

E dizer o que da Dona Eudóxia do Seu Clio Leite? E do Mário Ivo? E da Ila, da Iza? E do seu Bachi com a Dona Antissá? E das meninas Muséia, Sumaia, da Belkkiss, da Zarife, filhas do seu Benjamim Rachid, da menina que não lembro o nome, que era filha do governador Valério Caldas Magalhães. Todas meio doidinhas.

Tenho muito a ver com minha infância. As pessoas dizem que o passado é a única coisa palpável. E é! Minhas melhores paixões foram aquelas dos homens que nunca "relaram" um só dedo em mim.

Os outros, os da vida afora, foram desgastantes, insensíveis. Coisas que faço questão de tirar da memória. A bem da verdade, sem ressentimentos, é bom lembrar do que não se passou.

Meu prezado, não posso deixar de agradecer o fato de me remeter ao blog O Espírito da Coisa, do Toinho Alves. Vou ter o direito de cobrar algumas coisas como, por exemplo, a publicação de velhas e novas poesias inacabadas arquivadas nos velhos cadernos.

O Toinho, fruto do cruzamento de Lindaura e Vieira tem, sem querer querendo, despertado em nós (em mim, pelo menos) a vergonha de não saber dizer, claramente e sem delongas, a verdade dos fatos.

Sei a razão de você ter me chamado a atenção para o texto. Vou votar no Lula, sim, mas de nariz tampado. Afinal, cair na real é o melhor negócio e eu também não sou mulher de votar nulo.

Depois eu continuo. O dever me chama. Vou colocar o almoço da minha velhinha. Mãe é mãe, paca é paca, mulher é tudo vaca!

Antes que esqueça: quando eu conheci o Saulo, a bola era bem maior.

Beijão.

Leila Jalul é poeta e procuradora aposentada da Universidade Federal do Acre.

ACRE INTERNACIONAL

Conferência traz à discussão questões relacionadas a fronteiras, territórios e conflitos entre os povos que vivem juntos

A 27ª Bienal de São Paulo realiza nos dias 10 e 11 de novembro o sexto e último seminário internacional, que encerra um ciclo de conferências em torno dos valores que guiam a produção artística contemporânea apresentada no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera, desde 7 de outubro. Organizado pelo co-curador José Roca, o seminário "Acre" traz para a Bienal a discussão sobre fronteiras, territórios e conflitos entre os povos que vivem juntos na mesma região. O presidente da Bienal, Manoel Francisco Pires da Costa, e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, participarão da abertura do seminário, na sexta-feira (10 de novembro), às 19 horas.

O Acre, Estado brasileiro antes pertencente à Bolívia, foi adquirido pelo Brasil em 1904 e ocupado por seringueiros. Numa terra que serviu de empreendimento comercial, ocupação extrativista e fonte de riqueza biológica, a contestação está na origem de seu desenvolvimento, situando a história do território entre questões abarcadas pelos eixos conceituais desta 27ª Bienal.

"Dentro da reflexão de Roland Barthes acerca do viver junto, um dos tópicos mais analisados é o cuidado entre ritmos diferentes de vida, de modo que o singular não perca sua batida própria quando adere ao coletivo. No Acre, mesmo após o colapso do ciclo da borracha, podem ser ouvidas as lendas dos povos da floresta amazônica e a luta dos seringueiros contra a desfiguração da paisagem", explica a curadora-geral da 27ª Bienal, Lisette Lagnado.

Este universo está presente na 27ª Bienal em obras do artista acreano Hélio Melo e estrangeiros que fizeram residência em Rio Branco e áreas circundantes. A obra de Hélio Melo é apresentada como projeção da estética local ao lado do garimpo de três artistas residentes que trouxeram o Acre para dentro de suas obras: Alberto Baraya, Marjetica Potrc e Susan Turcot. O primeiro lembra a tautologia produtiva da região com sua árvore feita do látex extraído do tronco que serviu de modelo para a obra. Marjetica Potrc reflete sobre as soluções encontradas para levar educação e tecnologia aos pontos mais remotos da floresta. Susan Turcot pesa as diferenças entre a concepção indígena do mundo e a realidade da construção da Transamazônica em sua instalação.

"No contexto da 27ª Bienal, cujos principais temas incluem a possibilidade de convivência pacífica, em um mesmo território, de sociedades com 'ritmos internos' diferentes, o Acre pode ser considerado o lócus de preocupações tais como a busca de formas alternativas de comunidade e a construção de um espaço comum; justiça ambiental; estratégias de sobrevivência; inclusão do não-artista e do forasteiro como exemplos vitais do processo criativo; a questão das populações indígenas do Brasil; fronteiras políticas; isolamento e a tradição do pensamento; novas formas de coletividade; viagem e deslocamento como formas de conhecimento; a floresta e seus produtos como insumos do fazer artístico; autodidatismo e outros assuntos relacionados", explica o co-curador José Roca, que organiza o encontro "Acre".

Participam do seminário os conferencistas José Carlos Meirelles, David Harvey, Francisco Foot Hardman, Manuela Carneiro da Cunha, Jimmie Durham e Thierry de Duve. Conheça um pouco mais sobre os conferencistas e os temas do seminário "Acre":

José Carlos Meirelles
Indigenista da Fundação Nacional do Índio (Funai). Desde 1988, fixou-se na cabeceira do rio Envira, no Acre, onde reside. Sua conferência "Índios isolados e o direito à terra" aborda a legislação sobre a propriedade indígena e formas de contato com a população branca. A garantia do território de índios isolados não pode depender do contato desses grupos com a sociedade envolvente. Eles têm direito à terra e a permanecerem isolados, exercendo sua cultura independentemente do contato com outras culturas.

David Harvey
Professor de antropologia no programa de pós-graduação da City University de Nova York, onde vive. Sua conferência "Cosmopolitanismo e as geografias da liberdade" aborda como tratar princípios culturais, morais e éticos universais em tempos caracterizados por diferenças geográficas tão marcantes. Muitas vezes, ideais universais de liberdade e independência são ferramentas para exercer domínio sobre outros povos. O estudo de conceitos geográficos básicos tais como espaço, lugar e meio ambiente indica uma via de emancipação que permite a associação de aspirações e desejos particulares na construção de modos mais humanos de se viver num mundo globalizado.

Francisco Foot Hardman
Professor-titular de Literatura e Outras Produções Culturais do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sua conferência "A fronteira amazônica como voragem da história: impasses de uma representação" literária aborda arquétipos da representação literária da Amazônia a partir de prosas ficcionais e não-ficcionais de autores como os colombianos José Eustasio Rivera e Alvaro Mutis e os brasileiros Inglês de Souza, Euclides da Cunha, Alberto Rangel, Márcio Souza e Milton Hatoum. Serão examinados os respectivos contextos históricos e o argumento recorrente de que as fronteiras amazônicas constituem um território "à margem da história". Fronteira que é tomada, não só no sentido geográfico, mas também simbólico e histórico-literário.

Manuela Carneiro da Cunha
Antropóloga membro da Academia Brasileira de Ciências e professora da Universidade de Chicago, onde reside. Sua conferência "Conhecimento tradicional e conhecimento científico podem viver juntos? O exemplo do Acre" aborda o diálogo entre o conhecimento tradicional da região e a ciência ocidental contemporânea. Dois exemplos serão discutidos: o da recém-criada Universidade da Floresta e o caso do kampô, secreção de pele de uma perereca, cujo uso se difundiu a partir dos katukina e outros grupos indígenas do Acre.

Jimmie Durham
Escultor de origem Cherokee. Entre 1973 e 1980 foi organizador político no American Indian Movement. Reside em Roma. Durham fará, em "Uma situação intolerável", um breve relato sobre a situação da população indígena no Brasil, que é colonizada e tem negado seu direito de representação perante a lei. O artista proporá uma discussão permanente sobre a necessidade de ações internacionais contra essa condição intolerável.

Thierry de Duve
Historiador e teórico da arte contemporânea, professor da Universidade de Lille. Reside em Paris. Sua conferência "Será que a arte pode nos ensinar a viver junto?" aborda a percepção de comunidades políticas como obras de arte. A questão é saber se, na construção de comunidades políticas, as experiências inovadoras são vistas como modelos de criatividade artística, ou vice-versa. Sua fala tentará desfazer o nó filosófico perguntando qual deveria ser o status da comunidade estética perante a política.

Serviço:
ACRE – 6º SEMINÁRIO INTERNACIONAL DA 27ª BIENAL DE SÃO PAULO

Tema: Acre


Organização e mediação: José Roca, co-curador da 27ªBSP


Conferencistas: David Harvey, Francisco Foot Hardman, Jimmie Durham, José Carlos Meirelles, Manuela Carneiro da Cunha e Thierry de Duve


Dias: 10/11 e 11/11


Preço: R$ 52,00 e R$ 27,00 estudantes – para os dois dias


Local: Adutório da Fundação Bienal de São Paulo


Inscrições: Tel.: (11) 5576 7600 ramal 7678 (falar com Gabriela)

MICO SOCIAL

"Linda e Radianate vaia a noiva". Quando li a legenda da foto, fui induzido a imaginar que duas mulheres (Linda e Radianate) teriam comparecido ao casamento e vaiado a noiva.

Reli e pensei: acho que o colunista social How Campos, do site Erros da Hora, na verdade tentou dizer que a noiva chegou linda e radiante.

Mas não foi apenas a noiva que chegou. Ela e o noivo aparecem juntinhos na foto. "Vai a noiva" não soa bem, mas está escrito "vaia"... Será que a noiva foi realmente vaiada? Impossível.

O casamento do empresário Marcelo Dias com Isabelle Nunes, o mais extravagante do ano -foi construída até uma capela no estacionamento do hotel Imperador Galvez-, acabou exposto em mais um mico da hora.

Comentário do escritor Juarez Nogueira: "Wow!, diria o Paulo Francis. Questão aí não é de "erro" não. A lembrar o dito cartesiano, "o erro não é pura negação", isto é, simples carência ou falta de alguma perfeição por parte do indivíduo. Seguindo o raciocínio: é uma privação de algum conhecimento que se deveria possuir. Em resumo, é ignorância mesmo. Desconhecimento em estado latente (gostei disso, wow!) Não é infração de norma gramatical, a coisa aí denota é vício de linguagem mesmo, falta de trato com um linguajar com o qual o sujeito se esforça para usar com "naturalidade" e... falha. E não dá para relativizar o "erro" porque não se vê, sob os "Holofotes", a intenção deliberada de reforçar a mensagem em nome da arte, da originalidade ou da eficácia da mensagem. Boa oportunidade mesmo é para rever o "estilo" de linguagem desse renitente viés paroquiano de colunismo social. Risível, no mínimo. O estilo é o homem, o texto não. Nem o pecado. O homem pode estudar, ler, aprender, aperfeiçoar. Não necessariamente nessa ordem. Ih, Altino, tô professoral. Wow! Será que se eu mudar para o Acre sobrevivo com e na redação? Um abraço!"

O casal deveria exigir alguma indenização do colunista e do site.
Clique aqui para ver a foto ampliada e para ler o relato chicoso de How Campos sobre a festa. Coisa da Terra de Galvez.

Em tempo: leio no blog Verbo e Devaneio, da jornalista Giovana Manfredi, da equipe de pesquisadoras da novelista Glória Perez: "Eu queria publicar o livro ou sair voando pela janela. Essa noite sonhei com o Herbert Vianna e o Altino Machado. Meu Deus!" Meu Deus, digo eu.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

PARENTE AMIGO

Txai Terri Vale de Aquino

Calma Romerito, o Altino não é "vassalo", muito menos "lambaio" de ninguém. Já disse que o seu famoso blog, o Blog do Altino, presta um relevante serviço aos acreanos.

Esse clima de briga entre dois bons jornalistas acreanos parece coisa de menino barrigudo (de tanta verme).

Quando a gente era menino riscava no chão os símbolos que representavam a mãe de um e a mãe do outro e quem fosse "mais macho" pisava na "mãe do outro".

E como a gente levava isso a sério quando era menino, ainda "ficava de mal". Tomem juízo meninos.


Vocês parecem acreanos, mas de uma aldeia gaulesa, porque brigam muito entre si, eventualmente se unem contra os romanos, no nosso caso, os "paulistas", e ainda temos a porção mágica, que é o daime.

Falando nisso, Romerito, o Altino é o nosso Obelix, não pela gordura, pois ele ainda vai chegar lá, mas porque ele caiu numa panela de daime quando era jovem.

Cuidado, vai mais devagar com o Altino, o famoso "surucucu de barranco" da imprensa acreana. Ele não é de se caçoar, não, meu irmão!

Txai Terri Vale de Aquino é antropólogo e irmão do jornalista Romerito Aquino. Depois dessa, sugiro que leiam a coluna semanal Papo de Índio, onde o Txai avisa que "Tá na hora da onça beber água".

O DONO DA BOLA

Altino,

Essa é pra Leila Jalul. É um "Vale a pena ver de novo": a fotografia da primeira paixao dela, o meu irmão Saulo, "o dono da bola". A casa é a que hoje abriga um curso de inglês, em frente à Rádio Difusora Acreana - A Voz das Selvas. As duas criancinhas, no canto esquerdo, são Pilar e Tony, filhas do juiz Paulo Ithamar Teixeira. A de tamanho médio sou eu. As duas maiores são as sobrinhas da doutora Palmeirinda Figueiredo.


Beijo


Gloria Perez

Querida Leila, segure o coração e dê um clique sobre a foto. E quem quiser saber mais sobre esse correio sentimental, leia abaixo o que já foi escrito a respeito do caso. Imperdível: Toinho Alves baixou no Espírito da Coisa: "Política na era da imagem virou a arte de fabricar e manipular emoções. A coisa funciona assim: primeiro, temos que fabricar e manipular nossas próprias emoções, ou seja, enganar a nós mesmos. Aí passamos a acreditar na mentira e passamos a repeti-la com sinceridade. Então ficamos indulgentes com o que nos favorece e radicalmente críticos com o que nos contraria. Os outros são oportunistas; nós temos “senso de oportunidade”. Quem não sabe do que estou falando, está fora da política há muito tempo ou há mais tempo ainda dentro dela".

NÃO PRECISA POSTAR

O jornalista acreano Romerito Aquino, que mora em Brasília, na semana passada enviou mensagem na qual criticava a minha "triste sina como vassalo e lambaio de globais". Hoje encontrei no blog da novelista Glória Perez a seguinte pérola enviada pelo nobre colega:

- Glória, esse é o segundo e-mail que te mando. Queria uma entrevista com você para a Kaxiana - Agência de Notícias da Amazônia, que edito há seis meses na web, que veio com o propósito de ajudar a salvar a floresta. Queria te falar também do Parente Amigo, muito amigo de teu pai Miguel Ferrante (te entrevistei no enterro dele no STF) e figura muito popular no Acre antigo. Como um dos primeiros servidores da Justiça Federal acreana, tirou certidão de nascimento e casou "de graça" milhares de pessoas e casais nos seringais e cidades acreanas, dando a semente do que é hoje o Projeto Cidadão, que vem sendo copiado em alguns estados do país. Uma grande história de vida amazônica. Se te interessar, me manda teu e-mail que te conto essa história e te mando as perguntas para a entrevista. Grande abraço. Romerito Aquino (irmão do Txai Terri Aquino, amigo de infância do teu irmão Saulo). NÃO PRECISA POSTAR ESTE E-MAIL.

Resposta da Glória Perez:

- Romerito, estou aqui! é claro que eu lembro e muito do Parente amigo! muito querido por todos nós e amicissimo dos meus pais! como eu faço pra te encontrar? me escreva: gperez@uol.com.br

Leiam mais no Blog da Autora.

NO CINEMAZÔNIA

O blog recebeu convite para acompanhar o Cinemazônia (Festival de Cinema e Vídeo Ambiental), em Rondônia, cujo objetivo é divulgar, integrar e promover discussões em torno da produção de cinema, vídeos nacionais e internacionais relacionados ao meio ambiente.

- Sabedores da importância do trabalho e das ações culturais apoiadas por seu blog e com o propósito do fortalecimento e aproximação da cultura acreana e rondoniense, gostaríamos de contar com sua valiosa presença no período do nosso festival. Estamos disponibilizando bilhete aéreo, bem como apoio logístico local - assegura o coordenador do festival, Jurandir Costa.

O Cinemazônia será realizado de 15 a 18 de novembro, em Porto Velho, e contará com a presença, entre outros, dos cineastas Maurice Capovila e Ruy Guerra.

O tema da quarta edição do festival é “Terra e Gente”, para debater a luta pela terra, a inserção das pessoas em seus territórios e incentivar produtores audiovisuais a explorarem este universo através de filmes e vídeos.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

JORGE GOSTOU

Do outro lado da linha, o governador Jorge Viana conta que teve um tempinho para ler com calma a reportagem da revista Rolling Stone Brasil, que traça um perfil do Acre e dele na edição deste mês.

Disse ter ficado admirado com o conteúdo e com a criatividade no texto do repórter André Vieira.

- Ele foi realmente muito competente ao abordar o nosso Acre a partir do ponto de vista de várias fontes. É um direito dele alguns comentários criativos, que foram feitos sem comprometer a nova realidade acreana - comentou.

Jorge Viana vai telefonar ao repórter e aos editores Ricardo Cruz e Pablo Miyazawa para se desculpar por não ter podido atender a revista e para agradecer-lhes pelo destaque dispensado ao Acre e à sua gestão no lançamento.

A equipe da Rolling Stone deu uma lição de jornalismo ao bater no canto, bem colocado, e findou fazendo o melhor balanço do Governo da Floresta.

LUIZ FRANCISCO

Falei com o procurador federal Luiz Francisco Fernandes de Souza, aquele que enfrentou e desmobilizou o crime organizado no Acre e agora vive em Brasília, onde nasceu.

Tudo bem contigo, Luiz?
As coisas vão bem. De novo, apenas outro livro no prelo. Muito trabalho no Tribunal Regional Federal. Espero que o chuchu seja cozinhado e deglutido o quanto antes, pois o Estado não comporta tanta privatização e entreguismo. Acho que as aves de rapina referidas no testamento de Getúlio devem ser estes pássaros de bico comprido que predam os ovinhos e filhinhos dos outros pássaros. Bichos canibais. Sugestão: faça uma boa matéria sobre biodiesel e a combinação campesinato e matriz de energia.

E o Hildebrando?
Tenho outras coisas para cuidar e fazer, criatura. Preciso planejar formas de um barbudo de nove dedos fazer coisas boas. Quanto a voce, dê mais atenção ao biodiesel, pois é vital para o Acre e a América Latina.

PRESTAÇÃO DE CONTAS

O jornalista Antonio Alves, ex-presidente da Fundação Cultural do Acre, considera que os organizadores do Festival Varadouro "estão aceitando até bem as críticas" de que o evento consumiu mais de R$ 100 mil, mas atraiu menos de mil pessoas em duas noites.

- Se fosse comigo, no tempo em que eu era "menino", sairia logo na porrada. Foi assim que nossa tropa, que inclui Altino Machado, Sílvio Margarido, Terri Aquino e outros que deixaram saudade, abriu caminho: fazendo eventos para poucos, como os improvisados shows Boca da Noite, no Teatro de Arena do Sesc, e descendo a lenha em quem tivesse a ousadia de nos censurar. Quanto ao "dinheiro público", bem, não acho que R$ 100 mil sejam uma grande coisa, especialmente quando comparados ao que o governo gasta patrocinando a festa do boi que é a Feira Agropecuária, mas deve haver uma avaliação e uma prestação de contas. Se é público, é público - mesmo com pouco público.

Antonio Alves, editor bissexto do blog O Espírito da Coisa, será o próximo secretário de cultura do governador Binho Marques.

LULA E O ACRE



Embora pareça pouco provável, caso Lula seja derrotado novamente por Alckmin no Estado, no segundo turno eleitoral, o problema estaria nele e não na falta de empenho da militância da Frente Popular do Acre. Milhares de pessoas voltaram a ocupar as ruas do centro de Rio Branco na manhã de hoje em defesa da reeleição do presidente. Estavam lá o prefeito Raimundo Angelim, os governadores Binho Marques e Jorge Viana, além do senador Tião Viana e outras lideranças da política local.

O QUE É ISSO?

Necessito da ajuda do leitorado deste blog para saber o significado da escultura do paisagista Haruyoshi Ono, do escritório Burle Max, que está na Praça da Revolução, no centro de Rio Branco.

VAI DAR O QUE FALAR

A novelista Glória Perez emerge com a seguinte mensagem:

- Altino querido, andei tirando férias do computador. Agora voltei e li a reportagem da revista Rolling Stone no seu blog. Muito bacana que os holofotes da imprensa se voltem pro nosso Acre. Nós temos muito a mostrar! Parabéns pela parte que lhe toca. Amei e já anexei entre as preferidas a página Almanacre, do Elson Martins. Adorei suas mensagens no meu blog! Esteja sempre por lá! Vá lá que tem surpresa.

Glória Perez publicou uma foto da atriz acreana Brendha Haddad com a seguinte observação:

- Esta é a Brendha Haddad, atriz acreana que estamos lançando na minissérie, para viver uma das histórias centrais do romance O Seringal. Brendha vai dar o que falar!

Clique aqui para acessar o Blog da Autora de "Amazônia, de Galvez a Chico Mendes".

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

A VOZ DO GUITARRISTA

João Eduardo

Altino!

Li com muito respeito as considerações e análises referentes ao Varadouro. Tenho a plena certeza que muitas delas serão pautas prioritárias em nossas reuniões "pós-festival". Mas existem alguns pontos que, ao meu ver, precisam ser argumentados. O Festival Varadouro é permeado por conceitos que vão além da conquista imediata de público e audiência, isso é visto como consequência. Integração, troca de tecnologias e experiências na área de produção musical são alguns pontos que regem a filosofia do Circuito Fora do Eixo e da Associação Brasileira de Festivais Independentes.

Trouxemos profissionais capacitados nas áreas de sonorização e palco, a custos baixos, para repassarem sua experiência às bandas e aos técnicos locais. As primeiras bandas, que aí pra fora sempre são prejudicadas pela falta de apoio técnico no palco, tiveram acesso àquilo que nós, Porongas e bandas do circuito, quase nunca temos, quando chegamos como mero desconhecidos nos eventos, apesar de sempre voltarmos com alguma matéria interessante na mão, que você mesmo já deve ter lido.


Essas mesmas bandas, como Nicles, Autreydd e Mamelucos já possuem convite para a participação nos Festivais "Grito do Rock" e "Calango", em Cuiabá, e certamente serão mencionadas em diversos canais de divulgação do país, como a revista Bizz, Folha de São Paulo, Jornal do Rock (RJ), Multishow, e o programa Alto-Falante, da Redeminas, que possui uma audiência de cerca de 10 milhões de pessoas no Brasil, e recentemente, em São Paulo, negociou com a TV Cultura um excelente horário no domingo, às 10h, onde atingiram na semana passada 1,2 pontos de audiência na grande São Paulo – mais ou menos meio milhão de pessoas. Santo de casa não faz milagre. É notório que o reconhecimento desses artistas locais pela mídia nacional revertam para cá a sua popularidade e aqueçam ainda mais a cena, como acontece com os Porongas. A foto do show do Porcas Borboletas parece mostrar um bom público entre os palcos, embora não mostre o momento em que umas 300 pessoas aplaudiam e pediam um "bis" em coro. No dia seguinte, já eram quinze comentários na comunidade da banda no Orkut.

Festivais europeus
Aqui em Rio Branco, se qualquer pessoa cair da cadeira nessa lanhouses, aonde escrevo agora esse artigo, possivelmente umas cinco pessoas ficarão sabendo do ocorrido amanhã. O que dizer dessas 300 que vibraram com o show? Como será o boca-a-boca disso? Diante disso, deparo-me com o saudosismo presente no parágrafo que cita os antigos festivais, sempre comentados por meu pai, o Zé Gilberto, e presentes no meu imaginário, como criança ligada em música, que dormia ao lado das caixas de som nos shows do Carlinhos Alvorada e de tantos outros artistas, em comícios do PT.

Agora questiono: onde estão esses artistas? Quais foram as metas e articulações desses festivais? Eles possuiam um apoio do governo também, não? O que foi consolidado na produção musical acreana nessa época? Onde estão os grandes músicos dessa cena passada? O que foi feito para preservar a forte essência e espírito da música acreana? Passaram-se quase vinte anos para isso ser retomado.


Permitimos que o público, grande ou não, tenha conhecido o que rola de alternativo ao que é vigente no quase falido sistema de produção musical nacional, que possui uma opinião um pouco parecida com a emitida no blog, onde o que importa é a audiência e o público. Para isso, pagam jabá e demitem aqueles que não vendem mais de 10 mil discos. Ser independente é isso, ficar longe desse sistema onde, se eu tocar pelos festivais que estão fervilhando pelo Brasil, fazer nome e vender 10 mil cópias a R$ 10,00 e ficar com pelo menos 50% desse lucro (que é o acertado nos acordos de selos independentes) terei uma renda de R$ 50 mil. Com a gravadora, possivelmente ganharei somente R$ 3 mil e por não atender aos seus interesses, irei para a famosa "geladeira" (onde a nossa vizinha Nitro/RO encontra-se hoje) ou serei demitido, como ocorreu com Lobão, Los Hermanos, Ludov, etc. Fugir disso é ser independente. E esse conceito do independente é completamente antagônico às dependências financeiras e estruturais que são fundamentais para a realização de um evento desses.

Se o governo quer apoiar, que apóie. Não considero o festival um investimento desnecessário diante da repercussão que poderá gerar nas cenas local e nacional. E olha que sou quem mais se preocupa com essa relação com o poder público, a qual, você sabe muito bem, que em nosso meio, é a única alternativa para o fomento de uma cena, até conquistarmos interesse do setor privado e da sociedade civil organizada, já que estamos na Amazônia. Não sei se você sabe, mas muitos festivais da Europa possuem grandes parcerias com organizações ambientais, inclusive o famoso Glastonbury Festival, em Londres.

Pois bem, voltando ao Acre, mais especificamente há uns 45 dias atrás, lembro-me de estar numa das reuniões de organização do festival e ser informado de que a Agência Aquiry, da qual você faz parte, seria nossa parceira na divulgação do evento, e que Milena e Adaíldo teriam o acompanhamento da galera do Espaço Cubo de Cuiabá, que são considerados referência no que refere à produção musical alternativa, citados em revistas como BIZZ, Caros Amigos (matéria de 7 páginas), Bravo e Carta Capital. Achei muito interessante e acredito que essa parceria tenha dado certo, em virtude do trabalho desenvolvido na divulgação do festival, mesmo que com algumas dificuldades. Porém, também acredito que essa mesma parceria tenha sido deixada um pouco de lado, mais especificamente com relação a você (o trabalho dos meninos foi fenomenal), onde o post de seu blog, que cita alguns erros e deficiências importantes para o futuro andamento do festival, classifica o evento como "festinha", e algumas bandas como "lixo cultural".

Repercussão
Com relação à última expressão, gostaria de lembrar que todas as bandas participantes do festival possuem seu público, aqui ou fora do estado, e que você poderia ter esperado um pouco mais para analisar os comentários que serão emitidos pelo público local (que já estavam postados no Orkut horas depois do evento) e pelos jornalistas especializados, como Lúcio Ribeiro, programa Alto-Falante e Fernando Rosa (esse último, muito elogiado em uma entrevista também postada no blog), lembrando novamente de nossa parceria.

Acredito também que você poderia aguardar um pouco para a publicação de qualquer opinião sobre o público do Varadouro, ao invés de ter deixado de lado a importância que aquilo teve para aqueles que lá compareceram. Ainda nem sentamos com a equipe da bilheteria para analisar a frequência do festival. A grande maioria comprou meia entrada, e, por R$ 10,00, assistiram a 16 shows, entre as bandas maduras, originais e as bandas lixo cultural. Bilheteria essa que não pagará os custos excedentes do evento.

Bem, no mais é isso, desculpe a enorme quantidade de palavras, sei que a repercussão de seu post será enorme, devido ao grande número de visitantes do blog, e é isso que me instiga a argumentar dessa forma. Entretanto, fico um pouco frustrado com a maneira de pensar de uma pessoa que é parceira do festival, e logo na segunda-feira de manhã, publica algumas opiniões pessoais baseadas em conceitos que diferem da proposta já mencionada aqui, sem antes consultar seus próprios parceiros. Mesmo assim, ainda admiro seu grande potencial jornalístico em outras áreas, seu excelente número de acessos, e seu poder de articulação com os blogs de outros cantos do país.

Espero um dia poder analisarmos pessoalmente os prós e contras do festival, assim como faremos com todos os nossos parceiros.

João Eduardo é guitarrista da banda acreana Los Porongas. Sugiro a leitura do blog Conector, de Gustavo Mini, integrante da banda Walverdes, do Rio Grande do Sul. Ele relata seu encanto pelo Acre. Clique aqui.

DUCARALHO

A organização do Festival Varadouro se preocupou tanto com mais ou menos cem convidados (produtores, jornalistas e bandas) de diversas regiões do país, mas esqueceu de atrair a presença do distinto público acreano ao evento. Menos de mil pessoas, incluindo os convidados, participaram das duas noites do festival. A cena roqueira acreana se julga tão independente, mas tão independente, que não demonstra preocupação com a retumbante ausência de público em sua festinha.

- A música sempre vence - disse Diogo Soares, vocalista da banda Los Porongas, um dos principais articuladores do evento.

Quero me abster de fazer crítica musical. Algumas das 16 bandas do festival podem merecer a lata do lixo cultural, mas a maioria revela originalidade e maturidade.

O que soa absurdo é roqueiro tocar para roqueiro com dinheiro público. A Fundação Cultural do Acre investiu mais de R$ 100 mil como patrocinadora do evento.

Eventos do Circuito Fora do Eixo e da Associação Brasileira de Festivais Independentes chegam a reunir mais de cinco mil pessoas em outras cidades.

Não é possível que em Rio Branco, com suas 350 mil almas, não haja ao menos mil pessoas dispostas a prestigiar um pretenso festival de rock.

Alguma coisa está errada, a começar pela escolha do Mamão Café, sede do Chora Viola, isto é, o túmulo do nosso malgostoso cardápio musical, que faturou mais uma vez com a venda de ingressos e bebidas.

Os ingressos custavam R$ 15. Havia um "passaporte", com venda antecipada, que dava direito, por R$ 20, às duas noites.

De positivo, o intercâmbio entre músicos, produtores e jornalistas, que participaram de debates e oficinas.

As duas noites do Varadouro serviram para constatar que já fomos mais felizes com nossos arremedos de Woodstock - aqueles festivais na República Livre do Amapá, na beira do rio, no começo dos 80, que eram instigantes, produtivos e participativos.

Para ser de fato um festival e contar com o apoio dos cofres públicos, o evento necessita ser repensado e realmente organizado para atrair o povo.

A música é sempre derrotada quando não há audição ou audiência. Os roqueiros da cena independente de público não podem afirmar que o Varadouro neste ano foi "ducaralho".

Clique sobre a foto no alto para constatar o público reduzido no melhor momento do festival: a apresentação da banda mineira Porcas Borboletas, na madrugada de domingo.

GESILEU SALVATORE

O salão da Usina de Arte João Donato abriga a exposição “Ninawá”, do artista plástico Gesileu Salvatore. Ele cria a partir da reciclagem de produtos naturais como raízes, troncos, sementes e folhas. Na língua da etnia kaxinawá, "ninawá" significa Pai da Mata ou Senhor da Floresta. O nome traduz o trabalho de Salvatori, que reuniu peças antigas e inéditas. A Exposição está aberta ao público, de segunda a sexta-feira, das 8 às 12 horas, e das 14 às 17 horas, até o final de novembro. Vale a pena conferir. A Thays França tirou a foto de uma obra fálica.

sábado, 21 de outubro de 2006

ACRE NA ROLLING STONE

PROJACRE

O Estado mais isolado do país prepara-se para entrar no cotidiano de milhões de brasileiros na nova e milionária minissérie global. Nas ruas cenográficas da capital Rio Branco, ficção e realidade se confundem, enquanto populismo, engajamento ecológico e o rock'n'roll embalam as histórias da terra da borracha




André Vieira


Soldados bolivianos na fortificação às margens do rio Acre, aguardam a ordem para atacar. O calor está insuportável e a maioria dos combatentes está esperando por esse momento, sob o sol a pino, desde a madrugada. Ao grito do comandante, todos, armas em punho, se precipitam em disparada barranco abaixo para conter o inimigo. Nada parece capaz de detê-los. Nem mesmo os gritos de "corta" do diretor Marcos Schechtman. A equipe pára, mas o ataque continua ainda por alguns minutos, com os soldados tomando posições defensivas na beira do rio como se o inimigo realmente estivesse já prestes a cruzá-lo. Os bolivianos da batalha são, na realidade, soldados do exército brasileiro, cedidos pelo quartel próximo como figurantes para a produção. A ironia de um trabalho como esse num momento de tensas relações diplomáticas com o país vizinho não os incomoda. "Talvez seja essa a única guerra de que a gente participe", pondera um dos soldados.

Schechtman, muito querido no set por ser avesso a gritos, desiste de tentar contê-los e aproveita o pequeno intervalo para se reunir com sua equipe e entregar a direção para Pedro Vasconcelos, estrela ascendente no plantel de diretores da Rede Globo, a quem faz abertos elogios por seu trabalho no dia anterior. Pedro vai tocar as filmagens pelo resto do dia. Amanhã, domingo, é folga geral e a maior parte da equipe técnica já está com a cabeça nos embalos do Flutuante, uma barcaça transformada em bar permanentemente ancorada a 50 quilômetros dali, nas águas do Rio Acre, que cortam a capital Rio Branco, onde o forró e o calypso (nome enfeitado para o popular brega paraense) rolam até o sol raiar. A atmosfera sobre as águas costuma ser frenética, com casais suados rodopiando em cada centímetro disponível. À boca pequena, este lugar também é conhecido na cidade como "Putanic". Comenta-se pela capital que a movimentação nos corredores do Hotel Pinheiro, onde se hospeda boa parte da equipe da Globo, costuma ser intensa em noites assim. Madrugada dessas, uma loura misteriosa foi vista vagando nua em busca de uma porta que a acolhesse.

Apesar de a cena contar com 450 figurantes e envolver o uso de explosivos e dublês, fico surpreso com a calma que reina no set. A batalha marca o fim da segunda semana de filmagens de "Amazônia, de Galvez a Chico Mendes", próxima minissérie global da dramaturga acreana Glória Perez, com estréia prevista para 2 de janeiro de 2007. A superprodução está custando a fábula de meio milhão de reais por capítulo, um Big Brother a cada dois dias, R$ 100 mil a mais do que a TV Globo gasta com obras semelhantes.

O folhetim pretende condensar, em 35 capítulos, 100 anos de história acreana, contada a partir dos feitos de seus principais heróis: Luis Galvez, um aventureiro espanhol que, no comando de uma companhia de coristas, tomou o estado das mãos bolivianas e declarou-o uma nação independente; Plácido de Castro, militar gaúcho que liderou a revolução que anexou o Acre definitvamente ao Brasil; e Chico Mendes, o líder seringueiro transformado em ícone ambientalista internacional ao ser assassinado no quintal de sua casa na cidade de Xapuri.

É uma história que, junto com o hino do estado, qualquer acreano que se preze sabe de cor e faz questão de repetir. "Somos o único povo que pegou em armas pelo direito de ser brasileiro" é o bordão que mais ouço pelas ruas de Rio Branco.

Talvez não exista no Brasil povo mais orgulhoso que o acreano. Dizer que moram no fim do mundo é ofendê-los profundamente. "Para a gente o mundo começa é aqui", ouço do historiador Marcos Vinícius, que está auxiliando Glória perez com os detalhes históricos da minissérie. A autora deixou o Acre aos 16 anos para estudar no Rio de Janeiro e passou anos sem visitar o estado. A relação com sua terra foi mantida pelos encontros anuais de expatriados acreanos no Rio, dos quais sempre participou. Levar para a televisão a história do Acre é sonho antigo. "Mas sempre me diziam que filmar na Amazônia era impossível", conta com exclusividade a autora.

Graças à evolução tecnológica dos equipamentos, no entanto, hoje em dia essa impossibilidade não existe mais e, para a realização dos sonhos de Glória, um mini-Projac foi construído numa fazenda a 50 quilômetros da capital acreana. Na cidade cenográfica trabalham 270 pessoas, 150 delas técnicos trazidos do Projac original, no Rio de Janeiro. Suas 13 edificações de madeira certificada reproduzem Puerto Alonso, pouco mais adiante na trama transformada por Galvez em Porto Acre, capital de seu império. A verdadeira Porto Acre está a apenas dez minutos dali. Uma outra locação, mais distante, reproduz um seringal, lar das duas famílias, uma de seringalista e outra de seringueiro, cujo saga conduzirá a trama ao longo da história. A inspiração para esse núcleo ficcional foi tirada por Glória da obra O Seringal, escrita pelo advogado Miguel Jeronymo Ferrante, seu pai.

Por ser ano eleitoral, o apoio dado pelo governo local a "Amazônia, de Galvez a Chico Mendes" é tratado por todos os envolvidos com a maior discrição, para evitar marolas políticas. Sentada na sala de sua casa de frente para a praia de Copacabana, no Rio, onde ainda escreve os capítulos da primeira fase da minissérie, a autora me garante que o estado do Acre se limita a dar apoio logístico. "Sem o governo não se faz minissérie em lugar nenhum", explica. Mas rumores de que a realicação da minissérie está custando fortunas aos cofres públicos voam pelas esquinas da capital acreana. Os boatos são alimentados pela personalidade um tanto iconoclasta daquele a quem muitos acusam de achar-se o quarto grande herói da história do Acre, o governador Jorge Viana. Jorge para o acreanos.

Filiado à Arena no início de sua vida política, Viana foi eleito pelo PT em 1998, aos 39 anos, para governar um estado arruinado e controlado pelo crime organizado. Oito anos depois conta com a aprovação de 83% da população por haver transformado o esquecido fim de mundo no que talvez seja a mais bem-sucedida administração petista no país. Em primeiro de janeiro de 2007 ele passará a faixa de governador a seu vice e ex-secretário de educação, Binho Marques, eleito no primeiro turno.

Nunca havia estado no Acre, mas já rodei muito pela Amazônia. Chegar em Rio Branco foi um choque. Ao contrário do caos e da sujeira que dominam as cidades da região, fui surpreendido por uma cidade limpa, com largas avenidas bem iluminadas e sinalizadas, e serviços públicos funcionando como devem. Dois enormes parques cruzam a capital, com quadras de esporte, conchas acústicas, ciclovias e restaurantes, todos incrivelmente bem cuidados. O centro histórico foi restaurado e parece uma cidade cenográfica. Bem diferente da Rio Branco cuja descrição li nas reportagens sobre a morte de Chico Mendes.

"A cidade pareceia o Líbano depois dos ataques israelenses. O Palácio Rio Branco, sede do governo, tinha goteiras, trepadeiras subindo pela parede e cogumelos crescendo dos carpetes. Era um horror", conta Altino Machado, jornalista autodidata e colega de juventude do governador, cujo weblog, altino.blogspot.com, é o veículo de comunicação mais temido e bem informado do estado.

Ex-correspondente de alguns dos mais importantes jornais do país, Altino acompanhou a nada fácil vida de Viana à frente do governo. Quando o governador quer que alguma notícia repercuta além da imprensa oficial, é para Altino que ele liga, apesar de eventualmente levar uma cutucada de seu blog. Deixando a isenção jornalística de lado, Machado me garante: "O Acre saiu das trevas para a luz".

Engenheiro florestal e um mestre do marketing, Viana adotou para o Acre o apelido de "O Estado da Floresta", simbolizado por uma seringueira, e capitalizou em cima da herança da luta de Chico Mendes para transformar o estado em símbolo-mor do desenvolvimento sustentável. Mais do que consertar o Acre, o governador se dedicou a recuperar a auto-estima dos acreanos. O hino estadual voltou a ser cantado nas escolas, acompanhando o hasteamento da bandeira criada por Galvez para seu país independente e depois adotada pelo estado. História do Acre passou a ser matéria de vestibular e seus heróis passaram a batizar as novas obras que surgiram por toda as partes, graças a parcerias com organismos internacionais entusiasmados em ajudar o governo na preservação. Seringueiros e outros trabalhadores extrativistas ganharam novo status como "os povos da floresta" e passaran a ser romantizados como heróis da acreanidade, assim como os camponeses o foram pela Revolução Russa.

Uma lei de incentivo fiscal e a criação de uma rede de rádio e televisão estatal, a TV e Rádio Aldeia, deram uma oxigenada na vida cultural, favorecendo o surgimento de uma vibrante cena rock que já começa a chegar aos radares do resto do país. Dois teatros bem equipados e festivais regulares promovem todas as manifestações artísticas da acreanidade. Até uma ópera é encenada anualmente louvando as glórias da revolução de Plácido de Castro.

É tanto louvor cívico patrocinado pelo governo local que, às vezes, tem se a impressão de que o Acre é um estado socialista vivendo o auge de sua febre revolucionária. Comento com um amigo do governador que, para completar a utopia, só falta uma estátua de 40 metros do Grande Jorge na recém-reinagurada praça principal. "Se a gente deixar ele constrói", me responde rindo, "criamos o político popstar!". Se os habitantes de Rio Branco são orgulhosos demais pra tietar os globais que passeiam impunemente por suas ruas, mais à vontade de que costume pelo fato de não haver um paparazzi sequer na cidade, o mesmo nào acontece com o governador. "Quando saímos juntos é pra ele que pedem autógrafos", diz o ator José de Abreu, pouco antes de subir ao palco do Teatro dos Autonomistas - mais uma obra da era Jorge - para apresentar sua peça "Fala, Zé", em que faz uma retrospectiva crítica de seu envolvimento com a esquerda desde a adolescênncia. Na platéia, o senador reeleito Tião Viana, irmão de Jorge e outro campeão de popularidade, com 88,76% dos votoso do eleitorado acreano, rola de rir com as cutucadas de Zé de Abreu no politiburo petista, sobretudo em Zé Dirceu e Zé Mentor. Esa reportagem tentou durante dias conversar com Jorge Viana, sem sucesso, O governador estava ora em Brasília, ora no interior do estado, sempre ajudando na campanha de Binho Marques, seu candidato a governador. Quando enfim conseguimos marcar a entrevista, ela foi cancelada na véspera. O tio de Viana, o ex-governador Joaquim Macedo, foi atropelado por uma bicicleta, passou a noite em coma e faleceu. Consequentemente, cancelou todos seus compromissos (inclusive nosso encontro) e decretou luto oficial de três dias. Apesar de insistentes tentativas posteriores, jamais recebemos retorno.

A impressão de se estar numa república soviética, de fato, não está muito longe da realidade. Apesar de ter suas contas em dia e índice zero de inadimpl6encia, o governo do Acre, um estado com 660 mil habitantes, emprega 44 mil funcionários e é, de longe, o maior patrão do estado e principal consumidor de sua praticamente inexistente iniciativa privada. A indústria símbolo do governo, a extrativista, vive à base de subsídios estuduais. somandos-se seringueiros, castanheiros e o funcionalismo estadual aos mais de quatro mil funcionários da prefeitura de Rio Branco, também nas mãos do PT, aos cerca de dez mil ex-soldados da borracha e seus descendentes que recebem pensão do governo federal, aos 18 mil aposentados do campo que recebem um salário mínimo do Funrural e às 40 mil famílias recebedoras do Bolsa Família, é difícil encontrar alguém no Acre que não dependa do governador ou seu partido para viver. Mesmo as iniciativas capitalistas são tomadas pelo estado, que constrói indústrias como uma fábrica de camisinhas feitas com látex das reservas extrativistas para depois sair em busca de parceiros para tocá-las no sistema de concessões. O Acre talvez seja o lugar dos sonhos de muitos petistas que ainda não perderam a fé na revolução. Apesar de a proximidade de Jorge Viana com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deixar muitos em seu partido desconfortáveis, pode-se dizer que [não deu pro datilógrafo copiar] próximo do Eldorado que uma pessoa ainda crente na revolução pode chegar. É a Disney do PT, apesar da vitória local de Geraldo Alckmin sobre Lula no primeiro turno das eleições (51,79% a 42,62% dos votos).

Essa onipresença do "Estado de Jorge" incomoda muita gente. "Se você vai ao teatro é "O Governo do Estado apresenta", vai ao show é a mesma coisa, à festa junina, igual. Até a festa gay é o "Governo do Estado apresenta". A sociedade não faz mais nada", reclama o professor Gerson Rodrigues de Albuquerque, do departamento de história da Universidade Federal do Acre. Apesar de marxista convicto, Albuquerque se assusta com as características totalitárias do governo, manifestadas, sobretudo, na leitura que pretende dar à história do estado, a mesma, diga-se de passagem, da minissérie de Glória Perez. "Como você pode falar de uma lutta patriótica se não existe o Estado? O que houve foi uma luta pelo controle da borracha", afirma, contestando a versão oficial de que o acreano pegou em armas para ser brasileiro. "É muito frágil desmontar tal visão", prossegue Albuquerque. Essa história do Acre como Ilha da Fantasia não existe, as disputas dos coronéis daqui não são diferentes das dos coronëis do Nordeste". E dispara: "A minissérie nào traz o passado como ele foi, mas como é mais conveniente para quem está no poder".

O principal alvo do professor Albuquerque e seus colegas Elder Andrade de Paula e Francisco Bento da Silva é o modelo econômico baseado no extrativismo, supostamente inspirado na luta de Chico Mendes, de quem os três se consideram admiradores. "De 1999 a 2005, a taxa de desmatamento foi próxima ao período de maior desmatamento, que ocorreu durante a ditadura. No ano passado foi caótico. O Acre ficou coberto de fumaça de queimadas. Teve muita gente que morreu por causa de problemas respiratórios. Rio Branco ficou isolada, pois o aeroporto não tinha teto", conta o professor enquanto conversamos numa das salas de seu departamento. "E o governo conseguiu até importar a fumaça. Disse que veio da Bolívia, de Rondônia, de todo lugar, menos daqui", ironiza De Paula.

Os números fornecidos pelo próprio governo mostram que o modelo está longe de ser sustentável. Atrair investimentos têm sido uma tarefa difícil para o estado. O chamado "custo Acre" é muito alto, quase proibitivo. Os acreanos odeiam essa idéia, mas o estado realmente está no fim do mundo. A única estrada que liga Rio Branco ao resto do país foi asfaltada há menos de de 15 anos. Pelo ar, somente a Gol, entre as companhias nacionais, opera linhas regulares para outras capitais do país e o único vôo diário parte no inconveniente horário das duas da manhã. Outra opção é confiar na sorte e encarar o vôo pra Manaus com escala em Porto Velho no único avião a jato, um 737 em fim de carreira comprado da falida Vasp, da temida Rico Linhas Aéreas, mais conhecida na região como Risco. é a Rico que opera também o único vôo entre Rio Branco e a segunda maior cidade do estado, Cruzeiro do Sul, de 66 mil habitantes, onde uma Coca-Cola custa R$ 6. A estrada que liga as duas cidades é transitável por apenas três meses do ano. Na capital, o litro de gasolina chega a custar R$ 3. Até agora, pouquíssimas empresas foram seduzidas pelos generosos benefícios fiscais oferecidos pelo estado. Apesar de o governo Jorge ter quase quadruplicado a arrecadação de impostos, 73% do orçamento do estado ainda vem dos repasses da União.

Os três reclamam de estarem isolados na universidade, onde a maioria dos professores que não têm cargo público prestam consultoria ao governo ou sonham em fazê-lo. Suas críticas também não são bem recebidas pelo governo. Ano passado, albuquerque quis distribuir um panfleto contra o governo durante as comemorações de 7 de setembro e acabou saindo de camburão. Quando foi prestar queixa na delegacia, o oficial de plantão se recusou a registrar a ocorrência. Ao final, ainda cabou processado pelo Estado.

A justiça, aliás, parece ser o foro ondeo o governo de Jorge Viana prefere lidar com os que ousam criticá-lo. "Eles encharcam os opositores de ações judiciais. Não tem um opositor que nào tenha processo", garante Ednei Muniz, articulista do jornal O Rio Branco, o único de oposição. O periódico mantém artilharia permanente contra o governo. "Imagine [ilegível] sem dinheiro na Suiça. Aqui acontecem todas as práticas que acontecem no PT nacional. O governo controla 21 dos 24 deputados da Assembléia Legislativa. Em oito anos, apenas uma CPI foi aprovada, sobre os limites territoriais do estado. Há uma série de escândalos de corrupção que não chegam à tona", afirma Narciso Júnior, diretor do jornal e filho de Narciso Mendes, um dos principais deputados de oposição, não reeleito neste ano. Não é surpresa que O Rio Branco dê tratamento mais brando aos opositores do governo. Neutralidade jornalística não é um conceito popular na imprensa local. Ou se está com Jorge Viana, ou contra ele. Se o jornal de narciso Júnior está contra, seus quatro competidores em circulação na capital conseguem, por sua vez, ser mais situacionistas que o Diário Oficial.

Bom ou mal, Jorge Viana é, sem dúvida, um estrategista brilhante, que sabe passar para seu eleitorado uma imagem simpática e otimista, para o desespero da oposição. De governador pol6emio de um estado periférico, ele soube se transformar, junto com seu irmão Tião Viana, em uma das principais lideranças do PT nacional, cotadíssimo para um ministério num eventual segundo governo Lula. Com exceção dos seus opositores mais virulentos, não há quem não reconheça em sua pessoa um administrador obsessivo e incansável, mesmo que [ilegível] sua própria imagem.

No primeiro dia de 2007, sua missão a frente do estado termina. No dia seguinte. estréia a minissérie de Glória Perez, que conta a história do Acre, segundo a historiografia oficial, até a morte de Chico Mendes, período que marcou o início de Viana na vida pública. Vai caber ao eleitorado acreano, que deve parar o estado para assistir ao folhetim televisivo, decidir qual papel dará a Jorge em sua versão da história.


ACRE'N'ROLL


Com o apoio do governo e na base do improviso, a prolífica cena roqueira de Rio Branco rompe as barreiras regionais do isolamento

Pois é, existe, e a cena está conquistando seu espaço, como descobriram recentemente os vizinhos de Armando Pompermeier. Na sala da pequena e abafada casa de dois cômodos que divide com a namorada Bruna no Conjunto Tucumã, bairro pobre da periferia de Rio Branco, Armando e uns amigos começavam a parir a coletânea "Diversidade Coletiva", um quem é quem da cena alternativa acreana. REunir a galera e o equipamento já tinha sido uma conquista. O dinheiro para comprar a bateria coletiva foi conseguido reciclando latinhas. Uma guitarra foi trocada pela televisão da irmà de Armando, sem ela sabe, outra foi emprestada, assim como os baixos. O programa de gravação, um primitivo Audacity, foi baixado da inernet. O microfone, de karaokê, foi emprestado pelo DCE da universidade e, na falta de mesa de som, foi equalizado num pedal de guitarra. Mas a mobilização não sensibilizou o bairro, masi acostumado a forró brega, e a gravação foi obrigada a ser interrompdia pela chegada da polícia.

Poucos meses depois estou sentado na mesma casa abafada, dessa vez no outro cômo, o quarto, ouvindo o resultado com Armando e alguns amigos. O acordo com o vizinhos que o livrou da cadeia impede novas empreitadas semelhantes e limita o volume em que ouvimos o som. A maioria das bandas faz um punk tosco, com letras não muito elaboradas, mas algumas se destacam pela sonoridade mais melódica, como a Acon, de Armando. "o que une a gente é o tédio. Rio Branco fica no meio da selva, mas a gente tem uma vida urbana. Não nos identificamos com aquela música de violão falando de seringueira", conta Armando. "Eu nunca fui num seringal!", completa entre um gole e outro de pinga com Fanta laranja.

Uma das grandes características da nova cena roqueira acreana é seu feroz anti-regionalismo, uma reação ao fato de acharem que no resto do Brasil pensam que são todos índios. Algumas comunidades no Orkut chegam até a questionar a existência do estado. "A gente se acha acreano, a gente ama esse lugar, mas a gente faz música universal", me garante Aarão Prado, vocalista do Camundogs, dentro do estúdio da Rádio Aldeia, mantida pelo governo do estado, onde apresenta um programa de rock.

Por muito tempo a cena acreana viveu, como o próprio estado, isolada do resto do mundo, realmente fazendo o que Aarão chama de "tambaqui music", mas com a internet a situaçào mudou. "A gente tá ouvindo as mesmas coisas que lá fora", me diz. E também começando a ser ouvidos lá fora.

A primeira banda local a romper as barreiras regionais foi o Los Porongas, que depois de uma turnê por Sào Paulo e Rio, já começa a ser tratada pela imprensa como revelação do rock nacional. O Camundogs, de Aarão, tem um som mais pop, inspirado no rock brasileiro dos 80, e já começa a trilhar o mesmo caminho. Junto com os Porongas, são eles os maiores agitadores da cena local.

A vida noturna de Rio Branco se resume a alguns poucos botecos e um número menor ainda de casas noturnas que, quando abrem espaço para música ao vivo, é para grupos de forró e brega. Sem ter onde tocar, as bandas são obrigadas a se virar. Diversos festivais promovidos pelas próprias bandas formam um calendário rock razoável na capital, atraindo públicos de até 500 pessoas.

Parece ser impossível falar do Acre sem falar do onipresente governador Jorge Viana, mas um dos grandes incentivos da cena é uma política de apoio cultural do governo do estado, seja diretamente por meio de sua fundação de cultura, seja de leis de isenção fiscal. É graças a esses incentivos que sorevive o único selo de rock do estado, o Catraia, que mantém um estúdio comunitário e gravou o primeiro álbum dos Porongas. O programa de Aarão na Rádio Aldeia também oferece às bandas locais um privilégio acessível a poucas bandas independentes no Brasil, tocar no rádio.

O envolvimento do estado com a cena é polêmico e provoca racha no meio. "Tem um pessoal que tem sempre uma infraestrutura à disposição e tem outros que nunca têm, que somos nós", reclama Armando, do Aeon, que crê que as bandas de sua cena, a maioria de origem pobre e autoproclamada anarquista, são discriminadas pelas verbas públicas. Apesar disso, as cenas se misturam e não existe rivalidade entre elas. "mas também não somos uma família".

O pessoal a que ele se refere são as bandas que se reúnem no estúdio Catraia, a maioria formada por músicos de classe média, alguns trabalhando para o governo - inevitável num estado em que o governo é praticamente o único empregador.

É no Catraia, improvisado em metade da casa de Karla Martins, uma das sócias do selo e funcionária de fundação de cultura, que a cena mais pop se reúne pra ensaiar. A promiscuidade entre as bandas é grande, todo mundo toca com todo mundo. Apesar das divergências políticas e sociais, bandas oriundas da cena mais alternativa, como Nicles e Mamelucos, são habituês por ali. A Nicles, que faz uma mistura de Nirvana e Pixies com Joy Division, por sinal, é apontada por Diogo, vocalista dos Porongas, como a provável sucessora de sua banda na cena nacional, apesar de fazerem sons completamente diferentes, e já está na fila, junto com o Mamelucos, com um som puxado para o blues, par ter um álbum lançado pelo selo Catraia.

Mas uma das bandas mais interessantes da cena acreana, a Caricatos, talvez nunca seja conhecida fora do círculo de frequentadores do estúdio. A banda tem nos vocais Carol Freitas, uma mistura de Cássia Eller com Vanessa da Mata, a melhor coisa que ouvi no Acre, tanto por sua voz incrível como pelo carisma ao cantar. Só que CArol, assim como Daniel Zen, seu baixista, também sócio do selo Catraia e considerado a consciência crítica da cena, se vê como uma agitadora de bastidores, mais preocupada em fazer o rock acreano brilhar do que em brilhar ela própria. A banda é apenas um hobby, um pretexto para poder tocar com os amigos espalhados por outras bandas.

A grande apoteose do rock acreano, no entanto, não divide cenas. É o Festival Varadouro, que acontece na semana que esta revista chega às bancas, reunindo oito bandas locais e oito convidados de outros estados, e faz parte do Circutio Fora do Eixo de Música Independente, que também também inclui o Abril Pro Rock, de REcife, e o Porão do Rock, na capital federal. Foi em sua primeira edição que o Los Porongas iniciou sua jornada para a cna nacional, descoberto pelos produtores e jornalistas presentes. Nessa segunda edição do festival os produtores se preocuparam em incluir representantes de todas as tribos do rock acreano, inclusive um da também forte cena metaleira, a banda de dull metal (é assim mesmo que escreve?) Auttreyd.

André Vieira é fotojornalista. Cobriu a guerra contra o regime Talibã no Afeganistão para a revista Newsweek, em 2001, e colabora com publicações como New York Times, Los Angeles Times, L'Express e National Geographic. "Datilografei" o texto a partir de fotos das quatro páginas da revista, que foram tiradas e enviadas por Francisco Grangeiro, leitor do blog em Brasília.