quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

NO CORAÇÃO DE 2010

Recebi do escritor e deputado Moisés Diniz (PCdoB), líder do governo do Acre na Assembléia Legislativa, um texto com a observação seguinte:

- Caro Altino, mesmo que você incomode e até provoque sentimentos nada nobres em algumas pessoas, continue assim. Você está ajudando o Acre a ser melhor, mais livre, mais tolerante, mais moderno e mais justo.

Eis a mensagem de fim de ano de Moisés Diniz:

"O ano que vem será maior do que esse que morre, esse terrível ano que me levou o emprego, a mulher que eu amava, a casa financiada, os amigos que não me viam sem carro e cheque especial, a esperança escatológica, que de lógica não tinha nada, de perdoar minhas dores no colo divino de todos os anjos.

O ano que vem não pode ser menor do que esse que se despede, esse bendito ano que me manteve vivo, sem aids, hanseníase, verminose, psoríase, morte de avião, no fogo, no trânsito, na água, encurralado pelos traficantes, balas perdidas, a morte precoce que embruteceu o mundo e derramou lágrimas de um milhão de mães e irmãs.

Um ano bom que eu não soube guardar as manhãs que ele me ofereceu, as madrugadas para amar em silêncio, as tardes mornas para erguer amigos e cada entardecer para convencer os meus inimigos de que o ódio não é maior do que algumas gotas de chuva ácida, demônios perdidos, fezes.

Vou entrar na porta iluminada de 2010 como um mendigo que implora o alimento e a afeição, cheio de salmos nos lábios, como se um profeta me dissesse aonde se encontra a morada sagrada dos deuses que constituíram meus rins e o meu cérebro de antropóide que não ama mais do que uma formiga ou um lobo.

Olharei para os meus calcanhares para tirar a prova do meu egoísmo e da minha profunda letargia em amar aqueles que precisam de amor, atrofiado na minha oração mendicante que implorou aos céus para que o meu corpo tomado de vermes fosse limpo, sob as bênçãos do meu padroeiro, nas águas santas do meu último rio.

Lembrarei da mensagem dos purgatórios de que um pecado nem tão grave e nem tão leve cabe na palma da mão paternal de Deus e o único incômodo que traz é o tempo que os anjos levam entre o inferno e os céus para conhecer a angústia nos olhos de Lúcifer quando perde uma alma do mundo dos filhos do sol.

Lembrarei aos poderosos de todos os tipos de palácios de que o sol desde sempre divide com a chuva a magia eterna de aquecer e fecundar, que a sua energia e o seu acalanto tocando as folhas das pequeninas árvores são eternos porque são simples, porque são naturais, porque são belos.

Assim, eu amarei os pequeninos que sangram sob a chuva imemorial da exploração humana que, na verdade, nasceu com a expropriação do universo e de seus bens naturais, como uma bruxa criada pela imaginação dos homens que se apropriaram do néctar dos deuses e das frutas do jardim de Éden e entregaram aos filhos da sombra a miséria humana e suas indisfarçáveis sevícias.

E que nenhum demônio da condição humana venha me dizer em que igreja eu devo me ajoelhar e para qual anjo padroeiro eu preciso pagar as minhas silenciosas promessas e sob os pés de quantas mulheres santas eu posso entregar meus desejos perdidos e meus dízimos.

Que eles saibam que Judas foi mais honesto do que Pedro, porque não traiu Jesus três vezes e porque devolveu as suas infames trinta moedas de prata, só então eu vou descansar das andanças desse belo e terrível ano de 2009, onde minhas angústias enfrentaram sol e chuva, demônios e deuses.

Contemplarei os homens na sua essência, capazes de amar e de odiar, de abraçar e de matar o semelhante, de perceber um tiroteio na periferia e uma abelha distribuindo mel sem pagamento à vista e nenhuma promessa de que a sua floresta profunda não será dizimada.

Guardarei meu tempo, nem que seja apenas um pedaço de preciosos minutos dourados de lua, para pedir perdão àqueles que pagam o pão e o agasalho dos meus e lhes direi que não desisti de ser justo, mesmo sabendo que a justiça não paga os crimes dos homens infames.

No coração de 2010 eu vou aportar o meu barco primitivo e carregado dos tesouros que trago de 2009, grato pelas dores e pelas angústias que me fizeram mais próximo dos anjos, quando me afastaram dos demônios que me cercavam como se eu fosse um rato, e me ensinaram o caminho sagrado da ressurreição.

Guardarei cada minuto de 2009 porque eles compõem a infinita sinfonia da vida eterna, da cósmica matéria que constituiu meus pulmões, meu fígado e minha digital de homo sapiens, mesmo que alguns deles tenham me aproximado do inferno e tornado refém a minha alma de peregrino.

No coração de 2010 vai dormir meu desejo insatisfeito de 2009 e minhas vontades que se fizeram luz e velas nas catedrais e risos de escárnio e prazer em todos os prostíbulos, como se todas as agonias do homem pudessem receber acolhida.

No coração de 2010."

NELSON "LENDA" JÚNIOR

Nelson Liano Jr., repórter de A Gazeta, erra novamente ao tentar se retratar pelo erro que motivou neste blog a nota "Jornalismo Mãe Dinah".



Ao contrário do que anunciou na semana passada, dessa vez avisa que o avião carregado de verduras do Peru não chegou ao Acre por problemas técnicos.

Até ali tudo bem, todo mundo já sabia. Mas comete nova derrapada idiota em pleno dia de sol: "processos burocráticos atrasaram a chegada da aeronave".

Caro Nelsinho, só atrasa aquilo que chega. O avião não chegou até hoje. Tente entender.

- Durante esse processo recebi a informação de que a aeronave estava com problemas para acionar os motores, em Pucallpa. Confesso que achei a situação completamente absurda. Como não sou expert em aeronáutica avaliei como problemas de um motor de partida que seria facilmente resolvido - acrescenta o especialista de A Gazeta.

Leia mais aqui.

DAMA-DA-NOITE AO AMANHECER


Assim amanhece a dama-da-noite. Mais fotos aqui.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

DAMA-DA-NOITE


Dona Maria, minha mãe, passou o dia namorando o pé de dama-da-noite que cultiva na varanda da casa dela. Duas se abriram por volta das 22 horas.

Trata-se de espécime das angiospermas, subdivisão do reino vegetal que compreende as plantas floríferas, cujas sementes estão no pericarpo.

Essas flores se abrem somente durante a noite, uma vez a cada ano. Amanhecem murchas. É um espetáculo contemplá-las e sentir o seu olor.

Breves como nossas vidas.



ALVARÁ DE SOLTURA POR E-MAIL


O juiz Edinaldo Muniz dos Santos, titular da Vara Criminal de Plácido de Castro, a 90 quilômetros de Rio Branco, a capital do Acre, e que responde pela comarca de Acrelândia, expediu por e-mail alvará de soltura em favor de devedor de pensão alimentícia.

Leia mais no Blog da Amazônia.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

FLORESTANIA HIPPIE

POR MOISÉS DINIZ


A florestania hippie enxerga a cidade como o inferno de Dante e sonha acolher na floresta os seus ex-cidadãos. Uma visão romântica e inviável, pois a florestania real, que vai sendo testada no Acre, olha o homem e a floresta como entes inteiros.


A florestania que se desenvolve no Acre, de forma inédita, está sendo capaz de aumentar o PIB e a renda per capita sem destruir o patrimônio natural, de construir espaços urbanos bonitos sem poluir os rios, de erguer obras vistosas sem acossar os animais da floresta, os pássaros, de levantar grandes pontes e até de cobrir o solo com asfalto sem comprometer o futuro, sem agredir o verde que sempre foi o dono do lugar.

Aqui no Acre, essa menina completou 11 anos e pouco tem se falado sobre ela. É preciso analisar esse tempo pré-adolescente e descobrir o que de sol ela trouxe e o que de noite ela não conseguiu levar ao amanhecer. Mais gente precisa discutir os seus rumos e até o que significa florestania.

Quando defendemos a florestania como um conceito que pode interferir na vida das pessoas, nós acreditamos que seu campo de ação não deve ficar restrito à floresta. Ela deve vencer os cipoais, cruzar os varadouros e emergir dos seus lagos encantados e sombrios.

A florestania é o homem vivendo a plenitude de seus direitos civis e sociais na floresta. Durante um século, o tempo de nossa existência como acreanos, fomos preconceituosos com a floresta, interditamos a sua beleza e cultuamos o concreto e as bugigangas culturais européias.

Aqui fomos tão longe no embrutecimento de nossa memória e no extermínio de nossas raízes que, somente em 1970, o estado do Acre reconheceu oficialmente a existência de povos indígenas em seu território.

Chegamos ao ridículo de construir nossas moradias de costas para o rio, como se ele e suas águas, seus peixes e seus encantos nos envergonhassem. Travamos a nossa língua e escondemos a sintaxe cabocla da floresta profunda. Anulamos as nossas origens.

Ocorre que aqui tudo é floresta. Somos apenas 22 clareiras no meio da imensa floresta de árvores, animais, lagos, insetos, peixes, pássaros e larvas. Em nenhum lugar urbano do Acre andamos mais de 20 km para encontrar a floresta.

Estamos tão próximos da floresta que, muitas vezes, nos comportamos como os animais ou os insetos que estão no seu interior. Quantas vezes nos comportamos como a cotia, a roubar a mandioca dos roçados próximos ou como as formigas que erguem o barro coletivo e a solidariedade.

Somos um imenso oceano de árvores e toda beleza natural que brota no seu entorno, um jardim de Éden, apesar dos piuns e das muriçocas. De Mâncio Lima a Assis Brasil são 153 mil km* de florestas profundas, a proteger 21 pequenas cidades e a capital que, juntas, mal ultrapassam o meio milhão de habitantes.

Assim, devemos olhar a florestania como um conceito integral, que proporcione vida digna ao acreano na moradia, no alimento, no vestuário, na escola, no transporte, na cultura, no lazer e no hospital, quando adoecer.

Aqui reconhecemos que esse conceito, transformado em política de governo, evitou a morte de milhares de hectares de floresta, sustou a matança de milhares de espécies vivas e evitou a descarga de milhares de toneladas de carbono. Aonde foi possível ergueu belos espaços urbanos de lazer e de cultura e suavizou a paisagem com amplas e belas avenidas. Ergueu escolas aprazíveis e modernos hospitais.

Mas, não atingiu ainda o coração privado. O transporte coletivo ainda é de tirar a paciência de qualquer um que o use e as nossas construções não levam em conta uma arquitetura verde e o clima chuvoso da Amazônia.

Não tem explicação nossos prédios não permitirem abrir as janelas durante as chuvas, que são constantes durante 8 meses do ano, o que reduziria o custo da energia elétrica e combateria o aquecimento global.

A nossa arquitetura amazônica deve ser verde, capaz de aproveitar as correntes frias do ar da chuva e permitir formas mais modernas e futuristas de aproveitamento da luz do sol.

Não podemos pensar numa sociedade sustentável se os lugares aonde as pessoas vivem, trabalham e estudam não forem erguidos sob os paradigmas de uma arquitetura verde, sustentável.

Se fomos capazes de criar um conceito inédito e de torná-lo política de governo, devemos usar da mesma engenharia criativa para constituir uma arquitetura verde e um transporte coletivo que seja modelo para o Brasil.

Além dos prédios e dos ônibus, como símbolos da sustentabilidade coletiva e do avanço das condições materiais, precisamos levar a florestania aos corações humanamente partidos, às almas contrariadas e aos lugares mais defeituosos da condição humana.

Aonde houver um acreano doente, seja no corpo, seja na alma, precisamos alcançá-lo, erguer a sua auto-estima e entregar-lhe a esperança de um abraço irmão. Do contrário, será como se estivéssemos a erguer praças e esquecendo das crianças que não conseguem brincar ou sentar nos seus bancos.

A florestania deve atingir toda a condição humana, iluminar todos os espaços, fortalecer todos os laços, anistiar o contraditório e sepultar o preconceito contra a floresta e os homens pobres. Ela precisa unir a floresta aos espaços e entes urbanos.

A florestania que defendemos é completa, é florestal, é urbana, é moderna, é humanista, é fraterna e tem no homem amazônico a sua grande aposta. Por isso, ela precisa estar cada vez mais perto do povo, acolher mais o contraditório e ouvir mais a academia, as aldeias, a intelectualidade e as ruas.

Moisés Diniz é professor e deputado estadual pelo PCdoB do Acre

domingo, 27 de dezembro de 2009

O REVÓLVER DO QUIDOCA

POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE


Quando ele nasceu, em 3 de outubro de 1935, o rio Branco estava transbordando. Boa Vista era, então, uma Macondo, com seus três mil e pouco habitantes e uma fila de casas alegres cercadas de água por todos os lados. A cheia havia atingido seu pico. A mata ciliar estava toda alagada. Os igapós, encharcados de vida. Os bosques, úmidos. Mas foi exatamente nesse dia que as águas pararam de subir e o rio começou, lentamente, a baixar.

Filho da enchente que agonizava e da vazante que iniciava, o menino, meio anfíbio, perambulou na sua infância por rios, igarapés, furos e varadouros, em companhia do avô, com quem aprendeu a pilotar canoa e a ler os segredos da floresta. Com ele, pescava de arco e flecha, fazia armadilhas, coletava açaí, tucumã, buriti e pupunha naquelas terras que faziam parte do Estado do Amazonas.

Sua identidade entrou em crise em 1943. É que Boa Vista, desmembrada do Amazonas, se tornou nesse ano a capital do recém-criado Território Federal do Rio Branco. Aos oito anos, ele quis saber se ainda era amazonense ou se já era rio-branquense.

- Você é filho da floresta, do lavrado e do rio - sentenciou o avô, mascando tabaco de corda.

Muitos anos depois, com o golpe militar de 1964, preso no Quartel do 27º BC, em Manaus, ele haveria de recordar aquela tarde remota, em que seu avô lhe dera de presente de aniversário um revólver de espoleta, com uma estrela desenhada na coronha, dizendo-lhe:

- Nunca esqueça: você é um caboco de luta.

Como num filme, imagens, e sons se sucediam em suas lembranças, acionando ainda a memória olfativa: o avô, o cheiro de pólvora e tabaco, o chiado do rabo quente…

Rabo quente

O revólver - uma novidade em Boa Vista - viera acompanhado de coldre, cartucheira vermelha e farta munição: uns rolinhos de papel cor de rosa com resíduos de pólvora concentrada em mancha marrom escura.

Quando o gatilho disparava, a fita com as espoletas produziam um estampido seco, deixando no ar uma pequena nuvem de fumaça com olor de enxofre. Parecia “peido de velha”.

Cavalgando seu potro tordilho pelo corredor da casa -tololoc, tololoc- ele passou o 3 de outubro de 1943 disparando incansavelmente contra nazistas alemães e fascistas italianos, cujos crimes eram transmitidos por um receptor de rádio americano de seis válvulas, contrabandeado da Venezuela por seu avô, e que era chamado de “rabo quente”, por causa do aquecimento do cabo de alimentação que o ligava a uma bateria.

Foi graças ao “rabo quente” que ele conheceu a 2ª Guerra Mundial -uma estupidez dos países ditos civilizados, que matou 40 milhões de pessoas. A rádio, com chiado parecido à tosse de fumante do velho Santino, anunciava batalhas: o Exército Vermelho resiste em Moscou, os alemães se rendem em Stalingrado, a Luftwaffe bombardeia Londres, seus pára-quedistas ocupam Roma, o 5º exército americano invade Nápoles.

No fim daquela jornada de intensos combates, o guerreiro, obrigado pela tia, foi repousar. Quando acordou, o revólver havia desaparecido. Inconsolável, buscou-o pelos quatros cantos do mundo. Na “estrebaria”, onde deixara seu potro tordilho, encontrou apenas o cabo de uma vassoura. Desconfiou que os alemães, aproveitando o sono, roubaram-lhe o encantamento, o cavalo e a arma, ingredientes sem os quais não era possível lutar pela liberdade. Odiou ainda mais o nazi-fascismo.

Durante três meses, ficou ligado no “rabo quente”, para ver se o roubo do revólver era noticiado. A rádio transmitia tudo: tanques blindados franceses na Córsega, Exército Russo em Kiev na ofensiva de inverno, força aérea britânica lançando 350 bombas de duas toneladas em meia hora, navio de guerra britânico afundando submarino alemão. Sobre o roubo de sua arma, necas de pitibiribas. O silêncio era revelador.

Revelador de quê? Eis que, no dia de natal, o mistério se desfez. Ao som de “Noite Feliz”, Papai Noel lhe trouxe um revólver de espoleta. Não era outro revólver. Era o seu, aquele com as marcas que ele próprio fizera na coronha.

Acontece que sua tia, indubitavelmente aliada ao nazi-fascismo, por economia de guerra escondera o presente de aniversário para transformá-lo em troféu natalino. Desencantado, ele se fez adulto e rejeitou o esbulho. Atirou a arma no fundo do igarapé Jararaca, imitando o gesto teatral do general Rommel às margens do rio Vístula.

Time de tucumã

O avô tentou compensar o prejuízo. Entrou com ele no mato e selecionou diferentes tipos dos melhores tucumãs. Serrou cada caroço, ralou, raspou, retirou o miolo do coco, lixou, pintou, engraxou, encerou, poliu e fez um time de botão, que embarcou pra Manaus, pra onde se mudou de mala e cuia logo depois da guerra. Lá viviam seus primos Rodolfo e Freida Bittencourt, hoje professores universitários.

Foi com o time do Vasco da Gama -o Expresso da Vitória- que ele estreou no campeonato organizado pelo Demasi, no porão de uma casa na esquina da Epaminondas com a Dez de Julho. Jogou com o time completo: Barboza, Augusto e Rafaneli, Eli, Danilo e Jorge, Chico, Maneca, Ademir, Ipojucan e Friaça. No banco de reserva: Tesourinha, Noca e Lelé. Os jogos eram irradiados, com cobertura de “O Jornal”.

Barboza, uma caixa de fósforos cheia de chumbo, fechava o gol. Os dois beques pesadões eram feitos de tucumã-açu. As casquetinhas de tucumã-piririca se deslocavam agilmente no ataque, com a ajuda de um pente de osso comprado no Mercadão. O Vasco só perdeu para o time do Moisés, da Bandeira Branca, empatando com o do Tonico, filho do Domingos Sapateiro. Foi vice-campeão.

Quando se mudou para Curitiba, em 1954, Euclides Coelho de Souza -o Quidoca- deixou seu time de caroço de tucumã aos cuidados de Félix Valois e do Júlio Martins. Grande agitador e membro do Partido Comunista, ele participou da luta estudantil, das greves, das passeatas, do movimento cultural, do CPC da UNE, do teatro político, até que veio o golpe militar de 1964. Escondeu-se em Roraima. Lá foi preso e levado para Manaus. Tudo isso, ele lembrou anos depois quando estava preso no Quartel do 27º BC.

Perseguidos pela ditadura militar, Euclides e sua mulher Adair foram condenados a quatro anos de prisão, se exilaram, estudaram no Teatro Kuklo de Moscou, percorreram vários países da América Latina, a Europa e o Japão, encantando milhares de crianças com as peças montadas pelo Teatro de Bonecos Dadá. Este locutor que vos fala teve o privilégio de conviver e trabalhar com os dois, no exílio, com quem muito aprendeu, inclusive a compartilhar o frango nosso de cada dia.

Hoje, aos 74 anos, Euclides, o maior titiriteiro da América Latina, brinca com bonecos no seu teatro em Curitiba, usando-os como arma de divertimento, de arte e de reflexão. Com entusiasmo e fervor de menino, ele leva idéias, alegria, riso, beleza e magia a um público cativo. Agora, quer reaver seu time de caroço de tucumã, uma relíquia dos anos 1950 e, através da coluna, pede ao advogado e ex-deputado Felix Valois que devolva o time no estado em que estiver.

Devolve, Valois! Quem sabe, dessa forma o Quidoca não recupera também um pedaço da infância perdida?

P.S.: Ao vereador Marcelo Ramos, sugiro que proponha a concessão do título de cidadão honorário de Manaus a Euclides Coelho de Souza, esse filho da floresta, do lavrado e do rio, caboco de luta que não esqueceu as palavras do avô e dedicou sua vida ao combate pela justiça social e pela liberdade. Na cerimônia de entrega, o Teatro Dadá pode muito bem se apresentar no plenário da Câmara. Crianças e adultos vão adorar.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti.

MINHA CASA TEM PALMEIRAS

É por causa desse "barulho" que acordo muito cedo. Os pássaros, especialmente os sabiás, não sabem que o presidente Lula e o senador Tião Viana existem e que mudaram o horário do Acre.

sábado, 26 de dezembro de 2009

JORNALISMO MÃE DINAH

Dizem que quem morre de véspera é peru. Reportagem do matutino A Gazeta também. Na edição de quarta-feira, 23, Nelson Liano Jr. anunciava:

- Avião com 45 toneladas de produtos peruanos chega a Cruzeiro do Sul. Foi uma batalha de quase uma semana para que o DC 8 chegasse, ontem, de Pucallpa para Cruzeiro do Sul carregado de frutas, verduras e legumes. [Leia mais aqui]

Os fatos e o repórter Genival Moura, do site Tribuna do Juruá, desmentiram o jornalismo "mãe Dinah" ao noticiar no Natal que os produtos do Peru só vão chegar em 2010:

- Vôo de avião cargueiro para Cruzeiro do Sul que chegou a ser carregado em Pucalpa com 45 toneladas de frutas e verduras, foi cancelado por falta de um equipamento para funcionar o avião. Nova tentativa será feita em janeiro. [Leia mais aqui]

Haja peru para tamanha barriga.

AÇÕES DE FLORESTANIA

Luciano Martins Costa

Se existe um lugar onde a história do movimento ambientalista brasileiro encontra sua síntese, esse lugar é o Estado do Acre. Estive pela primeira vez ali no começo dos anos 1980. Ainda era a época dos “empates”, quando os seringueiros adotavam a prática de se colocar, de mãos dadas, diante dos peões e suas motosserras, para impedir o corte de árvores. Chico Mendes era seu líder, já então jurado de morte.


O Acre era terra de ninguém. Numa viagem de jipe até o município de Plácido de Castro, podia-se atravessar o rio Acre numa canoa e entrar num emaranhado de palafitas, no lado boliviano, onde funcionava um “free shop” com produtos eletrônicos, roupas, drogas e armas de todos os tipos.

Também conheci alguns dos inimigos de Chico Mendes. Um deles, fazendeiro e deputado, contou-me como os proprietários das fazendas enganavam a fiscalização do Banco do Brasil e multiplicavam por centenas um punhado de cabeças de gado, conduzindo os animais por trilhas e exibindo-os seguidamente para contagem nos pastos.

O mesmo personagem declarou, durante a campanha eleitoral de 1988, que Chico Mendes era um defunto ambulante. Naquela ocasião, uma jovem franzina de 26 anos de idade era eleita a vereadora mais votada em Rio Branco. Chamava-se Marina Silva. Durante a campanha, o deputado que anunciava a morte de Chico Mendes comentou que não valia a pena gastar uma bala com Marina. “De tão magrinha e atacada de malária, um pé de vento dá cabo dela”, zombou.

O líder dos seringueiros foi morto em 22 de dezembro de 1988, no quintal de sua casa em Xapuri. Na mesma noite, seus amigos criaram o Comitê Chico Mendes, para lutar pacificamente por justiça e buscar recursos para impedir novos assassinatos. A partir daí, começa a mudar a história do Acre e do movimento pela preservação da Amazônia.

Seguidores de Chico Mendes chegaram ao poder e alguns deles se projetaram na política nacional. Nesse período, voltei ainda outras vezes e acompanhei a transformação de Rio Branco e do Estado. A capital do Acre evoluiu, em pouco mais de vinte anos, de um acampamento lamacento em cidade moderna, mas que ainda guarda certos ares de província.

A consolidação dos projetos de desenvolvimento sustentável e sua projeção como modelo no cenário internacional evocam os sonhos de Chico Mendes, que foram alinhados num trabalho publicado em 1998 e que se chama “Políticas públicas coerentes para um Acre sustentável”, sob a responsabilidade de um grupo de pesquisadores, ativistas de ONGs e agentes do governo.

O Acre foi o primeiro Estado brasileiro a transformar em política oficial o manejo sustentável de florestas – prática muito distinta do reflorestamento – e a organização de uma economia que não depreda.

Neste ano completa-se uma década de implantação do conceito que os acreanos chamam de “florestania”, ou cidadania da floresta. Nesse período, os seguidores de Chico Mendes foram acusados de desvios, entraram em conflitos, cometeram erros e acertos.

Mas os indicadores revelam um aumento acelerado da qualidade de vida dos acreanos, embora o desenvolvimento econômico e social seja muito desigual no interior mais remoto em relação à capital, Rio Branco. Mostra também que é possível reduzir a miséria sem acabar com o patrimônio ambiental.

Luciano Martins Costa escreve sobre sustentabilidade as quintas-feiras no Brasil Econômico.

OS QUE AMAM A TERRA

Fátima Almeida

Avatar, filme que está em cartaz em todo o país é recomendável, sobretudo para adolescentes, não só pelos efeitos especiais e o fato de ser um filme de ação sobre a velha luta do bem contra o mal, mas precisamente porque, neste filme, roteiro e direção de James Cameron, o mal está representado pelas forças armadas norte-americanas com seu aparato bélico a serviço de empresários interessados em extração de minérios nas áreas indígenas. Se as coisas continuarem assim, as novas gerações não vão aceitar nem tolerar que as reservas indígenas ainda existentes venham a ser violentadas por governos e seus aliados empresários, interessados em atividades lucrativas baseadas em exploração de minérios, petróleo, corredores de exportação e outras.

James Cameron dirigiu Exterminador do Futuro, quando iniciou essa discussão no cinema norte-americano sobre o domínio da máquina sobre os seres humanos. Naquele filme, recai sobre a mulher o destino de salvar a humanidade do império da máquina. Nós mulheres temos nossos corpos conectados com os ciclos da natureza, como se verifica com os períodos menstruais, a gravidez, o ciclo de amamentação. Podemos, por isso, apresentar maior sensibilidade ecológica, coisa mais difícil para a maioria dos homens depois da consolidação do patriarcado.

No filme desenrolam-se dois cenários, dois universos distintos, dois sistemas de valores. De um lado, o modus operandi do sistema capitalista cuja perseguição ao lucro é o princípio que rege o comportamento humano, que determina o modo imperialista e que condiciona a indústria armamentista. De outro o universo indígena de religiosidade anímica, de organização social baseada no coletivismo e não no individualismo, de convivência harmônica com o ambiente. Os efeitos especiais, em três dimensões, criam um mundo mágico e de encantamento. Tem o que se chama de velhos clichês, cenários e personagens já vistos em O Senhor dos Anéis e Guerra nas Estrelas além de que, tratando-se de James Cameron, é uma homenagem ao matriarcado.

No entanto, é recomendável tomar um ônibus leito ou mesmo um avião e ir ver o filme em Porto Velho capital mais próxima, onde, segundo me contaram, já existe um bom cinema no shopping. Em Rio Branco só existe um cinema, que exibe o filme dublado, sem recursos técnicos para se apreciar o visual de acordo com a proposta do filme, em 3D. O espectador paga R$ 16,00 para ter proveito de apenas 50% do filme, com muito esforço auditivo.

Na índia, Avatar é alguém que encarna um ser iluminado que reaparece entre a humanidade de tempos em tempos. No caso, Jesus Cristo foi um Avatar. No filme, eles denominam como avatares seres híbridos, com uma parte ocidental, e outra indígena, quanto ao fenótipo, ao genótipo e valores culturais. O herói do filme, ao final, muda de lado. Ele renuncia ao personagem ocidental e faz opção pelo coletivo, pela devoção à Mãe Terra. Mensagem do filme: o bem está do lado dos que amam a Terra.

GOTAS E DROGAS


O coordenador-geral de repressão a entorpecentes da Polícia Federal, Luiz Cravo Dórea, 42, não vê o combate às drogas como uma guerra fracassada.

- Não se elimina um crime que, por sua natureza, só pode ser controlado ou administrado - afirma em artigo no Blog da Amazônia.

De acordo com Dórea, o Acre, com 1,5 tonelada, não somente mais que dobrou as apreensões registradas em 2008 como percentualmente foi o estado que mais se destacou em 2009.

- Para se ter uma idéia, somente a fronteira com a Bolívia, de onde vem a maior parte da cocaína consumida por aqui, prolonga-se por 3.423 Km, exatos 282 Km mais extensa do que a problemática fronteira dos Estados Unidos com o México.

Leia mais no Blog da Amazônia.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

SAMUEL E O MUNDO BAKUGAN

No embalo da rede, conversei com o neto Samuel, 6, sobre o fantástico mundo do desenho animado japonês Bakugan - Guerreiros da Batalha. É a melhor entrevista que fiz no ano.



BOA PERGUNTA


Parque da Maternidade, centro de Rio Branco (AC), próximo à Casa dos Povos Indígenas.

Em tempo: a quantidade de cocaína apreendida no Acre pela Polícia Federal, em 2009, foi a mais volumosa dos últimos 10 anos.

É para o que serve até agora a Estrada do Pacífico.

Sobre a pergunta, leia mais aqui.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

AMAZÔNIA

Expedição confirma presença de índios isolados perto da hidrelétrica de Jirau, em Rondônia


Uma expedição que percorreu a Estação Ecológica Mujica Nava, em Porto Velho (RO), constatou vestígios da presença de índios isolados numa faixa entre 10 e 30 quilômetros do canteiro de obras da usina hidrelétrica de Jirau.

Realizada entre os dias 26 de novembro e 10 de dezembro, a expedição também encontrou dois garimpeiros que avistaram oito indígenas na margem da estrada de um garimpo. Os depoimentos deles foram gravados em áudio e vídeo.

Leia mais no Blog da Amazônia.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A CIDADE EM SEGURANÇA


Ao percorrer o centro e alguns bairros comerciais de Rio Branco nesta manhã, cheguei a imaginar que o presidente Lula estaria fazendo uma nova visita ao Acre - o governo e os petistas costumam contar com júbilo quantas vezes foram.

O que leva a gente a imaginar que algo importante está acontecendo na cidade, como a volta de Lula, é a quantidade de duplas de policiais que percorrem as ruas.

É um tipo de operação que realmente deve funcionar, mas que a população só vê acontecer quando da visita do presidente.


Será que a Secretaria de Segurança recebeu reforço de homens de outro Estado, da Bolívia ou do Peru?

Ou, de outro modo, aonde as autoridades escondem tantos policiais quando Lula ou Papai Noel não estão de passagem pelo Acre?

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

GLENN SWITKES


Em julho de 2006 fiz uma viagem ao Amazonas e Pará com o ambientalista Glenn Switkes, diretor da International River.

Um dia tomamos banho num igarapé do Rio Negro. Após tirar a foto dele (clique nela), Glenn pegou minha máquina e tirou uma foto minha mergulhando na correnteza.

Como bem definiu Roberto Smeraldi, diretor de Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, Glenn Switkes dedicou sua vida a explicar que um rio é mais do que água.

Rios e povos da Amazônia perderam nesta segunda-feira a defesa de um de seus guerreiros. Leia mais no site Amazônia.


SINAL DOS TEMPOS



No Acre, isso resulta em prêmio de jornalismo.

domingo, 20 de dezembro de 2009

MARMOTA DA GAMELEIRA


Evite o Calçadão da Gameleira, no centro histórico de Rio Branco. Se não bastasse a falta de segurança, o governo do Acre decidiu privatizá-lo a uns 10 lojistas. Vendem confecções debaixo de uma tenda furreca. Desrespeito ao contribuinte e uma agressão à paisagem cuja revitalização custou mais de R$ 100 milhões. Que existe gente obtendo vantagem pessoal com a situação, existe.

BINHO E EDVALDO DIVERGEM

Governador e presidente da Assembléia do Acre não se entendem sobre projeto da estrada Cruzeiro-Pucallpa

O presidente da Assembléia Legislativa do Acre, deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB), e o governador Binho Marques (PT) não estão em sintonia em relação à possibilidade de construção de uma estrada ligando Cruzeiro do Sul, no Acre, a Pucallpa, no Peru.


Em defesa da estrada, Magalhães não tem medido esforços nos últimos meses para mobilizar empresários e políticos em eventos nos dois países. Neste domingo os jornais do Acre circulam com encarte especial tendo como foco a estrada defendida pelo Vale do Juruá.

Mas pouca gente atentou para a declaração do governador, na semana passada, quando ainda estava em Copenhague. Disse Binho Marques:


- A gente nem terminou a BR-364 até Cruzeiro do Sul e já existe esse debate da estrada Cruzeiro-Pucallpa. Acho que a primeira coisa a fazer é ir com a BR até o Juruá. A chuva atrapalhou muito o nosso trabalho esse ano. Mas essa é a nossa prioridade. Precisamos ter um debate sobre desenvolvimento regional com a amplitude de toda a região amazônica internacional. O que se tem no Brasil é diferente do Peru e da Bolívia. Nesses países os cuidados ambientais são praticamente nulos. Então, é preciso uma negociação mais tranqüila. Nós não podemos nos precipitar. Acredito que a integração é algo importante, mas não podemos colocar os carros a frente dos bois. Essa estrada é importante, mas deve acontecer com todos os cuidados necessários porque corta uma área de preservação ambiental num Parque Nacional. Todo cuidado é pouco.Nós precisamos fazer um debate com a sociedade e levar em conta o que é prioritário. Não precisamos ter ansiedade. Cruzeiro do Sul se interligar com Rio Branco já vai ser um impacto econômico enorme para a região. É muito mais importante se preocupar com o que vai acontecer nesse impacto do que sair na frente propondo novas mudanças.

REAÇÃO DOS AMBIENTALISTAS

Em setembro, representantes de expressivas organizações ambientalistas, entre as quais Amigos da Terra-Amazonia Brasileira, Fundación Peruana para la Conservación de la Naturaleza e Conservation International, enviaram ao presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento a seguinte carta:

Honorável Luis Alberto Moreno
Presidente
Banco Interamericano de Desenvolvimento
Washington, DC

Prezado Presidente Moreno,

Escrevemos para expressar nossas preocupações sobre o papel do Banco na implementação da Iniciativa de Integração da Infra-Estrutura Regional da América do Sul (IIRSA). Especificamente, requisitamos ao Banco reconsiderar seu apoio a projetos do IIRSA, Eixo do Amazonas, G04, “Interconexão Viária: Pucallpa-Cruzeiro do Sul” e “Interconexão Energética Pucallpa-Cruzeiro do Sul”.

Atualmente, documentos da IIRSA apontam para a construção de não menos de cinco corredores de transporte através da Amazônia ocidental e subindo os Andes para a costa do Pacífico.

Essa vasta quantidade de construção de rodovias ameaçará seriamente o futuro de muitos grupos indígenas e a integridade biológica da região de cabeceiras da Amazônia ocidental. Emissões do desmatamento e da degradação comprometerão as metas de redução de emissões de carbono que estão sendo consideradas e propostas tanto pelo Brasil e o Peru.

Nossa preocupação imediata é a proposta da IIRSA para uma segunda rodovia interoceânica através do Estado do Acre entrando e atravessando o sul do Peru. Esse projeto, “Interconexão Viária: Pucallpa-Cruzeiro do Sul”, é mostrado no mapa anexo, retirado do website da IIRSA.

No Brasil, essa estrada proposta Pucallpa-Cruzeiro atravessará o centro do Parque Nacional Serra do Divisor, que foi indicado pelo governo brasileiro para inclusão na lista da UNESCO de Sítios de Patrimônio da Humanidade. A região da Serra do Divisor é um centro reconhecido de endemismo e biodiversidade1.

A região da Serra do Divisor é habitada por muitos grupos indígenas, em ambos os lados da fronteira internacional. Contudo, outra estrada através dessa região ameaçará a própria existência desses grupos indígenas, muitos dos quais não têm contato e vivem em isolamento voluntário.

No Peru, a rodovia proposta cortará a Reserva Territorial Isconahua, uma área criada pelo governo regional do Ucayali para proteger povos indígenas não contatados, que vivem em isolamento voluntário. Essa região foi também designada, em reconhecimento à sua relevância nacional, como a Zona Reservada Sierra del Divisor2.

Além de atravessar essas áreas reservadas, a rodovia proposta impactaria outras duas reservas propostas, a Yavari-Tapiche e a Kapanawa, para povos indígenas sem contato, que vivem em isolamento voluntário, assim como a outros grupos indígenas, incluindo os Ashaninka e os Shipibo-Conibo.

Deve ser notado que já há uma estrada IIRSA, a Interoceânica Sur, agora quase concluída, que passa por essa região, ligando o Acre com o sul do Peru. Com a conclusão dessa rodovia, o antigo objetivo de ligar o Acre e o Brasil à costa do Pacífico será alcançado. Não há nenhuma justificativa para construir outra estrada com esse propósito.

À luz dessas inadequações, levando em conta a falta de transparência e de consulta no processo da IIRSA, e considerando as implicações para o futuro da região Amazônia-Andes, respeitosamente demandamos que o Banco tome as seguintes ações:

1. Designe e implemente, em consulta com os governos do Brasil e do Peru, um processo compreensivo de consulta pública com as comunidades afetadas em ambos os lados da fronteira internacional. De início, direcionamos sua atenção para os seguintes grupos que já expressaram preocupação sobre essa proposta de rodovia e seus impactos sociais e ambientais. No Brasil: SOS Amazônia; Comissão Pró-Índio do Acre e o Grupo de Trabalho para a Proteção Transfronteiriça da Serra do Divisor e do Alto Rio Juruá. No Peru: Instituto del Bien Común; Pronaturaleza; Sociedad Peruana de Derecho Ambiental; e a The Nature Conservancy.

2. Consultar ao governo brasileiro e à UNESCO a respeito do futuro do Parque Nacional da Serra do Divisor. A integridade desse parque e sua elegibilidade para a indicação como Patrimônio Mundial serão seriamente comprometidas pela construção de uma rodovia internacional e um corredor de transmissão através do centro do Parque.

3. Consultar defensores, nacionais e internacionais, dos grupos indígenas e grupos em isolamento voluntário para demonstrar que o Banco está cumprindo padrões internacionais para obter o consentimento prévio, livre e informado dos povos indígenas que vivem na área afetada.

4. Avaliar o desmatamento esperado, as mudanças no uso da terra e a perda de biodiversidade que resultarão dessa proposta de estrada.

5. Até que estas ações não sejam realizadas, o Banco, no seu papel de Secretariado da IIRSA, deverá requisitar aos comitês de coordenação da IIRSA que deletem os projetos relacionados os projetos Pucallpa-Cruzeiro do Sul da lista de projetos atualmente aprovados.

Apreciamos sua atenção para estas questões, e permanecemos no aguardo de sua resposta.

Amigos da Terra-Amazonia Brasileira (Roberto Smeraldi)

Fundación Peruana para la Conservación de la Naturaleza (Martín Alcalde Pineda)


Conservation International (Peter Seligman)


Environmental Defense Fund (Fred Krupp)


Cultural Survival (Ellen Lutz)


COMITÊ ANTI-HTV


Participei nesta madrugada da última reunião deliberativa do Comitê Anti-HTV (Horário do Tião Viana). Durou mais de duas horas, na Lanchonete Rio Branco, no Mercado Elias Mansour. Madrugadores habituais, os membros do comitê suprapartidário definiram estratégias para a campanha que visa restabelecer em 2010 o horário antigo do Acre -duas horas a menos em relação à Brasília. Entre outros, compareceram o empresário Ely Assem de Carvalho, o petista Dudé Lima, o aposentado Zezé Gouveia, o deputado Flaviano Melo, o dono de restaurante Kléber Cara Rachada, o arquiteto Roney Neves, o serralheiro Mundoka, além do engenheiro Alysson Rosas. O jornalista Antonio Alves é do comitê, mas não comparece às reuniões naquele horário. Os empresários Elson Dantas e João Badate telefonaram para justificar a ausência.

DOIS ESTADISTAS EM COPENHAGUE

POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE

Égua! Essa eu não entendi! Não entendi mesmo! Alô, alô, Amazonas! Alô, alô, Manaus! Por favor, alguém aí pode me explicar o que o prefeito Amazonino Mendes (PTB, vixe, vixe!), conhecido como Big Black, e o governador Eduardo Braga (PMDB, vixe, vixe!) - o Dudu - foram fazer em Copenhague? Quem pagou a passagem deles? O que a cidade e o Estado ganharam com esse evento?

Olha só! A ONU convocou líderes mundiais de 193 países para participarem da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP-15). Durante onze dias, delegações formadas por ministros, técnicos e ambientalistas discutiram o aquecimento global e seus efeitos devastadores: chuvas torrenciais, inundações, secas, tufões, furacões, derretimento de geleiras, elevação dos oceanos e todo tipo de desastre ambiental.

Aí, Big Black e Dudu Braga, convertidos subitamente em ambientalistas, viajaram para a Dinamarca. Por acaso, eles são líderes mundiais? Contribuíram para a luta em defesa do meio ambiente? O que é que eles entendem de clima? Como é que se intrujaram na Conferência?

Busquei respostas a essas intrigantes perguntas em jornais internacionais - New York Times, Washington Post, Le Monde, The Guardian e até no Folkebladet, diário da Dinamarca. Nenhum deles sequer registra o nome de Amazonino ou do Dudu. Consultei jornais brasileiros de circulação nacional: necas de pitibiribas! Nem no blog do Altino Machado havia qualquer menção aos dois.

Minto. Dudu pelo menos ainda aparece em foto da Agência Estado, com aquele risinho de puxa-saco, numa mesa ao redor de Lula, Dilma, Minc, e da governadora do Pará. É impressionante: as pessoas que tiram foto, ao lado de poderosos, ficam com cara de égua e com um sorriso subserviente, vocês repararam?

A presença do Big Black, no entanto, foi olimpicamente ignorada pela mídia. Será que ele foi mesmo a Copenhague? Vai ver, bacabeiro como é, inventou essa viagem pra poder ir pescar em algum lago de Urucurituba, enquanto seu vice, Carlos Souza, acusado de associação com traficantes, era preso no dia mesmo da abertura da Conferência. Pobre Manaus! O prefeito se pica e seu vice é preso!

Caboclitude negada

Depois de intensa busca, encontrei a única pista da passagem de Amazonino por Copenhague: uma foto publicada no portal da Prefeitura de Manaus. Ele aparece descaboclizado, vestido com terno azul, exibindo aquela elegância e refinamento que lhe é peculiar. Um cachecol xadrez, em torno do pescoço, não deixa dúvidas de que está nevando lá fora, e de que o Big Black tenta disfarçar sua caboclitude - como diria Álvaro Maia - concorrendo com os coletes multicoloridos do ministro Minc.

Comprovada a ida a Copenhague, dois mistérios persistem: quem é que o Big Black está representando e qual o seu cacife ambientalista? As respostas estão no press-release da prefeitura. A legenda da foto não deixa por menos, apresentando-o como um grande estadista: “Prefeito Amazonino Mendes representa a América Latina e o Caribe na COP-15″.

É isso mesmo que você leu. O texto da Prefeitura de Manaus, cheio de prosopopéia, dá detalhes, informando que ele foi escolhido “por indicação da organização Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU)”. Enquanto Lula - coitado! - fala apenas em nome do Brasil, Big Black representa um continente inteiro e, de quebra, o Caribe. Seu olhar “sonhador”, na foto, não deixa qualquer dúvida. É mole?

A rainha Margareth II, no entanto, por não ler o Portal da Prefeitura, cometeu gafe. Não convidou Big Black e Dudu para o jantar oferecido aos líderes mundiais no Palácio Christiansborg. Os dois acabaram ficando de fora também de uma das sessões, porque a organização da COP-15 expediu 45 mil credenciais, quando a capacidade do Bella Center, palco das reuniões, era para 15 mil pessoas.

Enquanto Lula fazia reunião bilateral com Obama, Big Black não conseguiu bilateralizar sequer com o Dudu, ambos realizando reuniões unilaterais, cada um consigo mesmo. Não adiantou o Big Black, que já era uma celebridade municipal, ser escolhido líder mundial pelo CGLU.

Aliás, que diabo é CGLU? Passagens e diárias do Big Black foram pagas pelo CGLU ou por nós, contribuintes? As requisições de combustível encontradas pela Polícia Federal em um posto de gasolina de Manaus interferiram na eleição do líder da América Latina e do Caribe? O que esse líder foi fazer, afinal, na Dinamarca?

Emissão de gases

Essa foi justamente a pergunta feita ao Big Black pelo Portal da Prefeitura de Manaus:

- Qual o seu papel em Copenhague?

Ele deu uma resposta que é uma pérola, um primor de raciocínio cartesiano. Vejam só:

- O meu papel é o da presença de quem está num grupo. De quem faz o esforço de ser ouvido pela primeira vez e está na luta para criar oportunidades e alcançar objetivos.

Grupo? Ele não explicita qual. O da motosserra? A que grupo pertence quem sempre pregou o desmatamento indiscriminado e, na campanha para governador, em 1986, trocou motosserras por votos, distribuindo mais de 2 mil delas para a cabocada do interior esquartejar a natureza? Hoje, quando se fala em motosserra, Amazonino é mais lembrado ainda do que Hidelbrando Pascoal, preso por serrar suas vítimas.

E o Dudu, a que grupo pertence? Na sua declaração de bens, feita por força da legislação na eleição de 2006, ele informa ao Tribunal Eleitoral um investimento agropecuário de cerca de mil cabeças de gado no estado do Acre. Agora, posa de ambientalista, ele que destruiu a floresta com pata de boi e de vaca.

Criar oportunidades e alcançar objetivos - diz Amazonino de forma estrategicamente vaga. Ora, nisso o governador Arruda, de Brasília, é exemplar. Ou seja, Amazonino não disse - com o perdão da palavra - porra nenhuma. Mas se revela de corpo e alma quando declara:

- Nosso objetivo é reivindicar os financiamentos na aplicação do REDD (Redução das Emissões de gases por Desmatamento e Degradação).

Ah, aí sim o Big Black velho de guerra mostra seu olfato para a grana. Com o cálculo de US$ 5 bilhões para combater o desmatamento, Big Black e Dudu se apresentam como dois curupiras vorazes, de olho na bufunfa que pode vir de fora.

Curupira? Big Black e Dudu não têm em suas histórias de vida nada, absolutamente nada, em defesa do meio ambiente. Não entendem bulhufas de ecologia. Acham que se combate o aquecimento global ligando ao mesmo tempo todos os ventiladores de Manaus.

Seus parceiros juram que eles não são capazes de reduzir nem mesmo as emissões de gases responsáveis pelo aquecimento da sala onde jogam dominó, sobretudo depois de ingerir Luftal ou comer baião-de-dois, jaraqui frito e muita cebola.

P.S.:Para a vovó Nakamura, que colhe hoje mais um abacaxi no pomar de sua existência, toda a ternura da coluna.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti.

sábado, 19 de dezembro de 2009

O SALTO DE VÓ IAIÁ


Dona Aida Gemaque Mendes, a Vó Iaiá, de 100 anos, saltou de paraquedas pela primeira vez na vida nesta tarde, em Macapá (AP). Leia mais no Blog da Amazônia.

"SANDER NA TARÇA"

INSENSATEZ

José de Anchieta Batista

Foi-se o lindo casarão...
Ninguém vai vê-lo outra vez!
Demoliram, simplesmente,
Num ato de estupidez!

Deus do Céu, quanto absurdo!
Que coisa irracional!
- Violentar nossa gente
Por causa do vil metal!

Quem destrói essas relíquias
Destrói a nossa memória,
Trata tudo como lixo
No curso de nossa história.

A casa foi demolida...
E o responsável, foi quem?
Devia estar dentro dela
Pra virar lixo também!!!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

MEU PANETONE


O secretário de comunicação Aníbal Diniz e a diretora de imprensa Tainá Pires enviaram ao blog um dos 50 mil panetones natalinos distribuídos pelo governo do Acre.

- Que Deus te abençoe e que você tenha um Natal feliz, rodeado de amor, saúde e paz espiritual. Um abraço e votos de muito sucesso.

Gratíssimo pela gentileza e sucesso para vocês e ao governo da floresta. Como não fica bem falar com a boca cheia...

P.S: Panetone tão bom quanto o último Bauducco que comprei na Casa dos Cereais, cuja autenticidade cheguei a duvidar devido a escassez de frutas cristalizadas.

DEMOLIDA A CASA DA FAMÍLIA LAVOCAT


A histórica Casa da Família Lavocat, na Epaminondas Jácome, no centro de Rio Branco, foi literalmente tombada pela especulação imobiliária na calada da noite de domingo, 14.

A família já havia sido notificada pelo Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural do Acre (DPHCA) que o imóvel integrava o Sítio Histórico do Primeiro Distrito de Rio Branco.

- É lamentável esse nosso desapego pela memória - reagiu a novelista acreana Glória Perez, que chegou a freqüentar aquela que foi uma das primeiras casas em alvenaria do Acre.

A casa praticamente teve origem a partir do casamento de Jorge Felix Lavocat com Clarice Batista, ambos de famílias da elite política e econômica do então Território Federal do Acre.


De acordo com o historiador Daniel da Silva Klein, do DPHCA, em 1958 Jorge Lavocat passou a morar com a família na casa, ornada com móveis e materiais vindos de Belém.

- Imediatamente a residência da família Lavocat transformou-se em um quartel do Movimento Autonomista. Quando Guiomard Santos visitava o Acre hospedava-se nela - assinala Klein.

Jorge Lavocat construiu a casa com o recursos que ganhou ao longo de uma carreira pública de relativo sucesso na prefeitura de Rio Branco, no final do anos 40 e inicio de 50, cargos nos governos de Guiomard Santos, Valério Magalhães e como presidente da Associação Comercial do Acre, dentre outros.

- Sua nova residência era ornada com móveis finos, pintura elaborada por um mestre artista vindo do exterior e um lustre alemão comprado em um leilão em Belém, que foi trazido para ficar especialmente na sala de estar - acrescenta o historiador.

Suely Melo, diretora do DPHCA, considera lamentável o que aconteceu com a Casa da Família Lavocat.

- Temos trabalhado muito a fim de criar mecanismos e estrutura para a efetiva proteção e preservação de nosso patrimônio histórico e cultural. Estamos trabalhando de forma integrada com o Conselho Estadual de Patrimônio. Porém, com tudo isso, não foi possível evitar este dano irreparável ao nosso patrimônio. Neste momento, estamos apurando a responsabilidade pelo dano, vamos fazer uma ação punitiva exemplar, com a finalidade de desestimular este tipo de prática.

Em tempo: Ilmar Galvão, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, e o desembargador aposentado Jersey Pacheco são casados com filhas de Jorge Lavocat. Duvido que a justiça alcance os responsáveis pela demolição.

AIDA GEMAQUE MENDES

Vovó de 100 anos saltará de paraquedas em Macapá

Dona Aida Gemaque Mendes completou 100 anos de vida no dia 20 de novembro, mas vai mesmo comemorar a longevidade nas alturas, pertinho de Deus, em queda livre.

Vó Iaiá, como é mais conhecida, vai saltar de paraquedas pela primeira vez na vida, no sábado, 19, em Macapá (AP).

Ela quer o nome no Guinness Book (O livro dos recordes) como a mulher mais velha do mundo a saltar de paraquedas.

O título pertence a dona Encarnação Olivas que, em 1992, aos 82 anos, fez um salto histórico no aeroporto de Marília (SP).

A proeza de Vó Iaiá vem sendo organizada pelo Clube de Paraquedismo do Amapá. Nesta sexta-feira, ela voltará a ser submetida a novos exames sobre seu estado de saúde física e mental.

De acordo com Claudio Cavalcanti, do Clube de Paraquedismo do Amapá, o salto acontecerá a uma altitude entre 3 e 4 mil pés, na modalidade salto duplo.

Vó Iaiá ficará presa pelo equipamento de segurança junto ao corpo do instrutor paraense Pedro Paulo, que acumula experiência em mais de 6,5 mil saltos.

A aventura começou quando Josivaldo dos Santos, o Vavá, neto de Vó Iaiá, perguntou se ela teria coragem de saltar de paraquedas.

- Como tenho minha vozinha de 100 anos, dei a idéia para meus amigos do Clube de Parquedismo. Eles adoraram e ela aceitou prontamente o desafio. “Eu to dentro, vamos lá”, foi o que ela disse quando perguntei se queria saltar. E nós vamos conquistar esse recorde mundial. Ela não usa óculos, faz natação, caminha, joga futebol, toma uma cervejinha e dança pra caramba. Minha vozinha é uma pessoa admirável mesmo - afirma Vavá.

Leia no Blog da Amazônia a entrevista com Vó Iaiá.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

BEM-TE-VI

SOCIEDADE REFÉM DE BANDIDOS

Justiça e segurança pública em descrédito
Da juíza Denise Castelo Bonfim, da 2ª Vara Criminal da Comarca de Rio Branco, na sentença em que condena por duplo latrocínio Artur Ramoile Alves da Silva e Silva, 19, neto do fazendeiro Darly Alves da Silva, a 50 anos de cadeia:

- Eventos como esses deixam toda sociedade em pânico, horrorizada, refém de bandidos inescrupulosos, que no alto de suas reações psicopáticas não poupam ninguém. A população não mais agüenta tamanha insegurança e audácia dos meliantes, e encontra-se estarrecida com a enorme onda de criminalidade que vem assolando esta Cidade nos últimos meses, colocando em descrédito o próprio Judiciário e as demais instituições responsáveis pela segurança pública neste Estado.

Quem contesta Denise Bonfim?

Leia mais no Blog da Amazônia.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

FÁBRICA DE PEIXES

Lembram da "fábrica de aves", do jornal A Gazeta? Agora a TV Gazeta informa sobre a existência de uma "fábrica de peixes" no Acre.

TIÃO É CANDIDATO A GOVERNADOR

Aníbal Diniz

Caro Altino,


Quem falou de candidaturas ao governo e ao senado nas eleições de 2010 no Acre até agora foi o governador Binho Marques (PT), que em mais de uma ocasião afirmou não ser candidato a nada e que, se depender apenas de sua vontade, a chapa majoritária da Frente Popular do Acre será formada pelo senador Tião Viana (PT) candidato ao governo, Jorge Viana (PT) e Edvaldo Magalhães (PC do B) como candidatos ao Senado, uma vez que a senadora Marina Silva está propensa a não disputar mais o Senado e ser candidata à presidência da República pelo Partido Verde.

Voltando um pouco no tempo, vamos lembrar que, em situação absolutamente adversa, Tião Viana foi candidato ao governo em 1994, ficando fora do segundo turno por uma diferença de 2 pontos percentuais do então senador Flaviano Melo (PMDB), derrotado na etapa final por Orleir Cameli.

De lá para cá, o cenário político do Acre mudou e mudou para muito melhor. Tião Viana já foi eleito e reeleito senador com votações espetaculares, e há 12 anos representa com dignidade e competência o povo do Acre em Brasília, tendo acumulado experiência suficiente para qualquer missão, tanto no Acre quanto no plano nacional.

Jorge Viana reúne todas as qualidades necessárias para as funções mais elevadas, e já provou isso de sobra com todos os avanços e conquistas que o Acre experimentou durante os oito anos em que esteve sob seu governo. Ele, tanto quanto o governador Binho Marques, entende que é chegado o momento do Acre ser governado pelo senador Tião Viana, que goza de imenso respeito, carinho e admiração junto à maioria dos acreanos e que lidera desde as eleições de 2006, quando ele não pode disputar por ser irmão do então governador, todas as pesquisas de intenção de votos realizadas.

Tião Viana é diferente e, caso seja eleito, com certeza fará um excelente governo, embora com estilo diferente do que foram os oito anos de Jorge Viana e do que estão sendo os quatro anos do governo Binho Marques.

Aliás, Jorge e Binho, em que pese o jeito de ser de cada um, entram para a história como excelentes governadores, e a "esperança do coração da gente" (lembra o jingle de 1994?) é que Tião Viana também entre para a história como um homem justo, que dedicou o melhor de si para consolidar e fazer avançar o projeto de desenvolvimento sustentável que fez do Acre um estado próspero, respeitado e motivo e orgulho para todos os seus habitantes.

Quanto à aventureira tentativa do derrotado candidato Chagas Freitas de tomar o mandato do senador Tião Viana no tapetão, o TRE do Acre e o Tribunal Superior Eleitoral já deram a resposta adequada. Sua representação foi considerada inócua, inoportuna e impertinente porque os dois tribunais compreenderam que meus afastamentos da Secretaria de Comunicação e depois da assessoria especial do governo se deram de acordo com os prazos de desincompatibilização estabelecidos na legislação e na resolução que regulamentou aquelas eleições, como provam os documentos que acompanham o pedido de registro e depois a homologação das candidaturas.

Tanto que jamais recebemos qualquer notificação do TRE e depois de confirmados os resultados fomos diplomados normalmente e o senador Tião Viana foi empossado e já exerce há quase quatro anos este mandato que legitimamente o povo lhe deu.

Se Chagas Freitas permanece com seu objetivo de ocupar uma cadeira no Senado, é melhor entrar na disputa contra Jorge Viana e Edvaldo Magalhães em 2010, porque a de 2006 teve um vencedor chamado Tião Viana, de quem tenho a honra e a imensa responsabilidade de ser suplente.

Um abraço

O jornalista Aníbal Diniz é Secretário de Comunicação do governo do Acre e primeiro-suplente do senador Tião Viana (PT)

COMPROMISSO SEM FRONTEIRAS

Marina Silva
De Copenhague (DIN)

Parte significativa da sociedade brasileira faz parte da vanguarda da consciência ambiental no mundo. Ela movimentou as peças no Brasil e, como num dominó planetário, impulsionou mudanças muito além de suas fronteiras.

Explico. Foi a força da opinião pública no Brasil que levou o governo a sair da histórica posição refratária e a se comprometer com metas de redução dos gases-estufa, a menos de um mês do início da COP-15.

Esse movimento colaborou decisivamente para que outros países em desenvolvimento se sentissem constrangidos a também anunciarem suas metas. O Brasil tirou o biombo atrás do qual os países desenvolvidos se escondiam, justificando seu parco compromisso devido à ausência de propostas dos emergentes.

Agora, aqui em Copenhague, outros biombos estão sendo utilizados para postergar o que é inadiável e inevitável - um acordo global e concreto de redução de gases-estufa e ações planetárias de mitigação contra os efeitos da mudança climática.

Este é o momento decisivo. Chegou a hora de todos darem passos concretos, fortes, paradigmáticos, justos, em respeito à vida e, em especial, às populações mais pobres e vulneráveis que têm sido as maiores vítimas da exacerbação dos fenômenos climáticos e pagarão um preço pior ainda caso o mundo não tenha a coragem de agir no tempo adequado e na intensidade necessária. E, mais uma vez, a sociedade brasileira pode dar a régua e o compasso para o governo brasileiro.

Tenho defendido que o Brasil constranja eticamente os países desenvolvidos a darem a sua contribuição ao Fundo Global de Adaptação e Mitigação. Isso funciona, conforme mostra a experiência brasileira e internacional, porque expõe os titubeios e a incoerência entre discurso e ação, na medida em que demonstra que é possível e viável fazer, sair da conversa circular, independentemente do poder de fogo do proponente.

O bilhão de dólares que o Brasil poderia doar seria uma pressão para levar os países mais ricos a aumentar sua ajuda aos mais pobres, que apesar do papel pequeno na emissão mundial, serão os mais afetados pelo aquecimento global. Seria um gesto simbólico, mas com grande força de transformação.

Mais é preciso ter a clara compreensão do significado de um gesto simbólico. De fato, ele não serve para falar mais alto e muito menos para fazer cócegas. Ele serve, isso sim, para fazer a diferença.

Se quando foi tomada a decisão, em 2004, de investir apenas R$ 390 milhões para prevenir e combater o desmatamento da Amazônia, não tivéssemos começado a fazer um plano e a implementá-lo, não estaríamos hoje aqui vendo a chefe da delegação brasileira apresentar, de forma factível, o compromisso de redução de 80% de nossas emissões por desmatamento até 2020.

Naquele momento falávamos em sair de um desmatamento de mais 27 mil Km² para chegarmos hoje a 7 mil km², evitando a emissão de mais de 2 bilhões de toneladas de CO2. Além disso, com o tempo, os recursos públicos aumentaram. E hoje, a meta assumida pelo governo projeta investimentos internos da ordem de bilhões de reais até 2020, que o governo em algum momento terá que anunciar.

Mesmo sendo uma pequena parcela - numa conta entre 200 e 500 bilhões de dólares anuais - o gesto significaria muito. Para se ter uma idéia do quanto poderia ser simbolicamente importante, os países desenvolvidos chegaram aqui em Copenhague dizendo que criariam um fundo de curto prazo de US$ 10 bilhões. Se um único país em desenvolvimento se propõe a contribuir com 10% daquilo que todos os países desenvolvidos se comprometeram, ficaria evidente que eles podem fazer mais.

Há poucos meses, o Brasil emprestou US$ 10 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Por que não investir um décimo disso para ajudar os países que mais precisam e constranger os que podem e devem fazer mais, para que esses recursos sejam multiplicados?

É importante lembrar que esse mesmo governo financiou no ano passado vários megafrigoríficos, com US$ 3 bilhões, para ampliarem a pecuária predatória na região amazônica.

À época da doação ao FMI, o presidente Lula disse que o Brasil tinha saído da fase de cidadão de segunda classe. "Antes, cada vez que o Brasil falava para a Europa ou para os Estados Unidos, falava como se fosse um vira-lata. Isso mudou". E ele tem razão. O Brasil é uma potência ambiental e econômica e deve agir como tal também em Copenhague.

Um estudo apresentado aqui pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e pelo Centro de Meteorologia Britânico, mostra que as temperaturas brasileiras vão subir mais do que a média do planeta. Isso significa que, se no resto do mundo a temperatura tiver 1,8ºC de acréscimo, no Brasil esse aumento chegará a 2ºC.

Com isso, as chuvas vão aumentar no Sul e diminuir 15% no Vale do Rio São Francisco e 12% na Amazônia. O que comprometeria, e muito, para uma drástica diminuição do volume de chuva, e consequentemente, de nossa capacidade energética.

O Brasil, que é uma potência hídrica e dono de uma das maiores produções agrícolas do mundo, não pode comprometer seus recursos naturais tampouco seu potencial produtivo. Deve, antes, lutar estrategicamente para defendê-los.

Talvez seja precisamente isso que falte aos negociadores brasileiros aqui em Copenhague: liderança e compreensão estratégica. É por isso que está na hora de a opinião pública brasileira empurrar, de novo, o governo para a linha de frente e dar o termo de referência para o presidente Lula, que acaba de chegar aqui em Copenhague. Esperamos que ele ouça de novo.

Marina Silva é professora de ensino médio, ex-ministra do Meio Ambiente, senadora do Acre pelo PV e colunista da Terra Magazine.

VOLTA, JORGE


Da coluna Bom dia, do diário A Tribuna:

"Jorge Viana pode assumir a qualquer instante a candidatura ao governo do Estado pela Frente Popular, em substituição ao irmão, o senador Tião Viana. Esse era o cenário desenhado ontem por conta de um processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que envolve o primeiro-suplente de Tião Viana, Anibal Diniz, que não deixou o cargo de secretário de Comunicação no tempo legal.

A matéria está na linha de prioridades do TSE para ir a julgamento a qualquer momento. E há dois entendimentos em torno do assunto. O primeiro é de que Aníbal Diniz não seria penalizado sozinho. Toda a chapa seria cassada. O segundo é de que a punição recai apenas sobre o secretário que não deixou o cargo no tempo previsto em lei.

Confirmada a penalidade apenas a Anibal, surge outro problema dentro da Frente Popular. O segundo-suplente é o funcionário da Assembleia Legislativa e professor Carlos Coelho (PMN), oposição ao governo. Tião abandonaria o Senado para disputar o governo deixando a cadeira para Coelho?

E confirmada a candidatura de Jorge Viana ao governo, como ficará a chapa da Frente Popular para o Senado? Seria Binho Marques e Edvaldo Magalhães? E Binho entregaria o governo a César Messias, do PP? Joguem os búzios."

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

DILMA ROUSSEF

"O meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável"

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PANETONE DA FLORESTA

Governo gasta R$ 483 mil com 50 mil "panetones natalinos"; cada panetone custa R$ 9,66

O governador do Acre, Binho Marques (PT), que está em Copenhague, na Dinarmarca, não quebrou a tradição petista de distribuir 50 mil panetones aos funcionários públicos, iniciada durante o primeiro mandato da gestão do governo Jorge Viana.

A Secretaria de Estado da Gestão Administrativa contratou a empresa V. João Mahle para fabricar cada panetone por R$ 9,66. O governo vai pagar à empresa R$ 483 mil (veja no Diário Oficial do Acre) para que os panetones sejam entregues em Rio Branco, a capital, e no interior do Estado.

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PURUS ONLINE


O blog Purus Online, do distante município de Manoel Urbano (AC), registrou o barco-hospital João Sobrera, de R$ 120 mil, ser tragado pelas águas do rio Purus após três viagens de atendimento aos ribeirinhos. Devem ter deixado isso acontecer porque agora temos helicóptero para salvar vidas. Leia mais aqui.