sábado, 28 de fevereiro de 2009

OS PÉS DO SANTO


O primeiro a acertar o nome do dono das canelas e pés que aparecem na foto será premiado com o "par" de meias bicolor. Clique na imagem para conferir detalhes.

Como o Dinho acertou, explico: é Abrahim Farhat, o Lhé, fundador do PT no Acre, amigo de Lula, defensor dos fracos e oprimidos, que ganha uma boa grana como assessor do senador Tião Viana, mas prefere andar de camiseta, bermuda, moletom e sandálias, quase com os pés no chão. Ele mastiga três dentes de alho diariamente para manter a saúde física e mental

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

PESCA PREDATÓRIA NO RIO ACRE

Encapuzados e armados, pescadores desafiam autoridades na fronteira Brasil-Peru


Encapuzados e armados, pescadores brasileiros, peruanos e bolivianos intensificaram a pesca predatória no rio Acre e seus afluentes, embora a atividade esteja proibida pelo Ibama na região até o dia 15 de março. Debaixo da ponte binacional que liga o Brasil ao Peru, observados por fiscais da Receita Federal e agentes da Polícia Federal, os pescadores não respeitam a proibição anual, feita no período do defeso, quando os peixes se preparam para a desova na cabeceira do rio.

Os pescadores retiram por noite, em média, 400 quilos de peixe, que são transportados em carro-frigorífico para consumo nas cidades do departamento de Madre de Dios, em território peruano. A situação vem sendo denunciada ao Ibama e Ministério Público Federal por pesquisadores do Movimento MAP - Madre de Dios (Peru) , Acre (Brasil) e Pando (Bolívia).

- A pesca predatória ameaça de morte a região do Alto Rio Acre. Durante todo o período da piracema, embora com a proibição da pesca, os pescadores peruanos, brasileiros e bolivianos continuam com a atividade. Na área da Comunidade Nativa de Bélgica, em território peruano, o senhor José Pineda Calvo foi ameaçado de morte pelos pescadores por denunciar a pesca indiscriminadada em época de desova - afirmou Vera Reis, professora da Universidade Federal do Acre e ativista do Movimento MAP.

No Peru não existe legislação específica para proteger a desova dos peixes e os pescadores aproveitam a situação sabendo que encontram compradores do lado peruano. Segundo Vera Reis, desde dezembro, autoridades brasileiras e peruanas foram comunicadas do fato, mas não foi tomada nenhuma medida capaz de detê-los.

- Temos conhecimento da situação e ela é muito delicada porque exige diplomacia. Quando a fiscalização chega, os pescadores se posicionam em território peruano e nós não podemos avançar para prendê-los. O máximo que temos conseguido é fazer a apreensão de barcos e redes de pesca. O problema exige uma articulação para ação conjunta do Ibama e do Instituto Nancional de Recursos Naturais do Peru - disse Anselmo Forneck, superintendente do Ibama no Acre.

A pesca predatória na fronteira Brasil-Peru-Bolívia atinge a Estação Ecológica Rio Acre, de 78 mil hectares, criada há mais de 20 anos para o desenvolvimento de projetos de pesquisa e preservar as nascentes do Rio Acre. A unidade faz divisa com as duas terras indígenas Mamoadate, ocupadas pelos povos indígenas manchineri e jamináwa.

O foco dos pesadores é o peixe piranambu (Pinirampus pirinampu), mais conhecido como barbado, barba-chata ou urubu d’agua. O peixe não tem valor comercial no Brasil porque tem a fama de devorar a carne das vítimas de afogamento. Porém, no Peru, ele é muito apreciado pela população

Leia mais no Blog da Amazônia.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

SANDERSON VAI RECORRER AO STJ


Dois dos três desembargadores da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Acre decidiram contra o habeas corpus impetrado pelo advogado Sanderson Moura para que o ex-deputado Hildebrando Pascoal seja julgado em separado dos demais réus por causa do “crime da motosserra”.

Durante a sustentação oral, o advogado chegou a sugerir que a Câmara Criminal, caso decidisse pelo julgamento dos seis réus em grupo, determinasse ao menos que o juizado da Vara do Tribunal do Júri de Rio Branco (AC) assegurasse o mesmo tempo para defesa e acusação no dia do julgamento. Os desembargadores desconsideraram o apelo.

O advogado Sanderson Moura disse que vai recorrer contra a decisão no Superior Tribunal de Justiça. Caso o julgamento seja marcado para março, conforme pretendia o juiz da Vara do Tribunal do Júri, a defesa pedira o adiamento até que as instâncias superiores decidam sobre o recurso.

A Câmara Criminal também indeferiu recurso do mesmo advogado que pretendia beneficiar o ex-deputado estadual Roberto Filho, a mulher dele, Lenice Barros, e o filho do casal, Bebeto Júnior, que foram condenados por estelionato, no ano passado, a seis anos de prisão, em regime semi-aberto (pai e filho) e a três anos em regime aberto (esposa).

Os desembargadores mantiveram a condenação da família. Os três foram acusados de atear fogo na própria casa com intuito de receber o dinheiro do seguro, estimado em R$ 1 milhão. O Ministério Público Estadual acusou os três de estelionato mediante fraude para recebimento de seguro, causar incêndio expondo a vida, a integridade física e o patrimônio de terceiros, e coação no curso do processo, usando violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio.

O ex-deputado Roberto Filho era sargento da Polícia Militar do Acre. Antes de ser eleito, Barros conseguiu migrar para o oficialato da reserva remunerada da corporação como portador de deficiência visual. Ele está com os direitos políticos cassados. O processo que o levou para a reserva está sendo revisado porque Barros exerce atividades cotidianas sem dificuldade, como dirigir automóvel.

HILDEBRANDO PASCOAL


A Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Acre julga hoje o mérito do habeas corpus impetrado pelo advogado Sanderson Moura para que o ex-deputado Hildebrando Pascoal seja julgado em separado dos demais réus por causa do “crime da motosserra”. No final de janeiro, o desembargador Arquilau de Castro Melo já havia negado a liminar do habeas corpus apresentado pela defesa.

O juiz Élcio Sabo Mendes Júnior, da Vara do Tribunal do Júri de Rio Branco (AC), também já havia indeferido o mesmo pedido. Ao recorrer à Câmara Criminal, o advogado de Hildebrando apresentou como principal argumento a suposta ilegalidade da decisão do juiz ao negar o pedido de separação do julgamento de Pascoal.

Segundo o advogado, a decisão “fere os princípios da fundamentação das decisões judiciais, da dignidade da pessoa humana, da plenitude da defesa e afronta as garantias asseguradas aos acusados pela Convenção Americana de Direitos Humanos, no que se refere ao tempo e aos meios necessários para o exercício efetivo da defesa, exigência inerente ao Estado Democrático e de Direito.”

Sendo mantida a decisão para que os réus sejam julgados juntos, Sanderson Moura considera que ficará desequilibrada a “paridade de armas” entre acusação e defesa. A acusação disporia de três horas para sustentar suas razões e a defesa de Hildebrando, ao dividir o tempo entre os co-réus, de apenas 40 minutos.

- Seria um tempo quatro vezes menor. Isso é coisa de regime de exceção, do processo penal medieval, jacobino, stalinista, fascista. Caso meu pedido seja negado, vou recorrer ao Superior Tribunal de Justiça - disse Moura ao Blog da Amazônia.

O advogado disse que o ex-deputado, ex-comandante e coronel reformado da PM do Acre está com a saúde abalada. Preso há 10 anos, Hildebrando Pascoal não tem conseguido, entre outros problemas, controlar a hipertensão.

- Ele está triste, tem sofrido demais e acho que pode morrer a qualquer hora por causa das crises de hipertensão - comentou o advogado. Pascoal está praticamente condenado à prisão perpétua - na verdade as condenações dele já somam 88 anos de cadeia.

Leia mais no Blog da Amazônia.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

PRECONCEITO E DESINFORMAÇÃO

Luciano Martins Costa

O cidadão alemão Armin Meiwes, foi condenado em 2006 à prisão perpétua por ato de canibalismo.

O episódio grotesco foi notícia na imprensa de todo o mundo, mas não ocorreu a ninguém afirmar que os alemães são antropófagos.

Na semana passada, cinco jovens indígenas da tripo Kulina foram acusados de matar e devorar um jovem branco num ritual de canibalismo.

A notícia correu mundo, através da rede CNN, e foi publicada como verdadeira pela imprensa brasileira.

Representantes da Funai, de ONGs que atuam na região onde vivem os indígenas e antropólogos refutaram a veracidade da notícia, observando que pode ter havido um ato de violência extremada, mas negando que haja entre os índios do grupo étnico dos Kulina a prática do canibalismo.

Depois de inflar o noticiário com a primeira versão, os jornais registraram o contraditório, mas o leitor atento fica com a sensação de que falta alguma coisa.

Afinal, o indígena ainda é visto, neste lado do mundo, como um ser primitivo, bem capaz de cozinhar e comer o fígado do desafeto.

Onde a grande imprensa deixou um vazio que rescende a preconceito, a internet vai mais fundo.

O Blog da Amazônia, produzido pelo jornalista Altino Machado, foi à fonte e entrevistou o pajé Tata Yawanawá, de 94 anos, reconhecido como uma grande reserva de conhecimento sobre as tradições culturais das etnias unidas pelo tronco linguístico Pano.

Recentemente, ele foi o responsável pela iniciação, pela primeira vez, de uma jovem indígena no chamanismo.

Ao submeter a jovem aos duros rituais antes permitidos apenas aos jovens do sexo masculino, ele ampliou as possibilidades de preservação das tradições tribais.

Tata Yawanawá garante que o canibalismo não faz parte dessas práticas.

Leia mais no Observatório da Imprensa no Rádio.

CANIBALISMO NA AMAZÔNIA


Pesquisador do Núcleo de Estudos Arte, Cultura e Sociedade na América Latina e Caribe, da Universidade Federal de Santa Catarina, o antropólogo Domingos Bueno Silva, 47, conhece bastante a etnia kulina, que ficou mundialmente famosa neste mês, quando quatro indígenas da aldeia Cacau, no município de Envira (AM), foram indiciados pela Polícia Civil acusados de suposta prática de canibalismo.

O antropólogo trabalhou durante dois anos com os kulina, tendo como foco a pesquisa “Musica e pessoalidade: Por uma Antropologia da Musica entre os Kulina do Alto Purus”. Nascido em Bragança Paulista (SP), Domingos Bueno Silva está no Acre há 10 anos, dos quais cinco como professor visitante na Universidade Federal do Acre, consultor e perito judicial em varias trabalhos.

- O canibalismo kulina foi uma farsa midiática que se orquestrou em torno desse acontecimento duvidoso - afirma o antropólogo sobre o assassinato de um branco pelos kulina na divisa dos estados do Acre e Amazonas.

Confira a entrevista no Blog da Amazônia.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O GALO E A GALINHA


Dando uma de fotógrafo no Quinari, o pastor Antonio Klemer captou rapidinho a imagem do casal devasso, para mostrar a utilidade do esporão do galo.

Em tempo: na Rússia, no sábado, foi comemorado o Dia do Homem.

FALTA FISCALIZAÇÃO


Vejam no que se transformou aquela obra do PAC, anunciada neste blog (leia) porque a implantação de uma rede de abastecimento de água para as vilas Irineu Serra e Custódio Freire, com menos de 10 quilômetros de extensão, passa na frente de minha casa.

O valor da obra (abrir vala, instalar canos e aterrar a vala) é de R$ 1,8 milhão. O prazo de execução é de 24 meses, mas a empresa responsável já faturou pelo aterramento que não fez das valas. Antes de começar a obra, o empreiteiro chegou a comprar, à vista, por mais de R$ 400 mil reais, duas retroescavadeiras para executá-la.

As vilas Irineu Serra e Custódio Freire existem há mais de 50 anos e estão situadas numa área de preservação ambiental. Com mais de 300 mil habitantes, apenas 30% da área de Rio Branco dispõe de rede de esgoto. As duas vilas vão continuar sem o benefício.

Obras como essa em outros pontos da cidade impulsionaram a reeleição do prefeito Raimundo Angelim (PT), mas a fiscalização oficial não colabora com a gestão do prefeito.

Após sete meses, as fotos abaixo mostram o estrago causado numa estrada que levou mais de 50 anos para ser asfaltada na gestão do governador Jorge Viana.

As duas vilas continuam sem água tratada e a comunidade cansadas de pedir o aterro das valas.








segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

SAMUEL FÃ DO BEN 10




Beto, Samuel e Jael

KATIE MELUA

"9 Milion Bicycles", "Piece By Piece", "Closest Thing To Crazy"



Katie Melua interpretando "If you were a sailboat" e "Blues In The Night".

sábado, 21 de fevereiro de 2009

SERTÃO DAS ÁGUAS





Milton Nascimento e Ronaldo Bastos
(Do álbum Txai, 1990)

Vem e me abraça
Me leva pra beira do igarapé
Mapas escorrem das mãos
Que vão me fazer cafuné
A vida começa agora
Ilhas de mel
São rios de mel
Remansos e correnteza

Sertão das águas o amor quando quer é bater e valer
Inunda os dias de sol, pode chover se quiser
Lá no sertão quando vem a noite chover estrelas
Pingos de luz
São contas de luz teus olhos na corredeira
Sertão veredas do Grão-Pará

Sertão canoa das populações ribeirinhas
Que vivem dos frutos da mata e que não podem
A floresta ver destruída

Não venha o fogo queimar
Nem trator poder arrastar
Pra que a vida queira pulsar
E correr

Rede que embala o amor e lambuza de tambatajá
Lábios com fino licor sede de se lambuzar
O meu pensamento voa, chega primeiro a minha voz

Cai nos meus braços, aperta os laços desfaz os nós
O grito dessas pessoas
No fundo dos seringais
Devia ser escutado em Beléns e Manais

Corre nas veias, remar e seguir a viagem
Viver só carece coragem, esperança que a paz reine na floresta

Não venha o fogo queimar
Nem trator poder arrastar
Pra que a vida queira pulsar
E correr


Sertão das águas o amor quando quer é bater e valer
Inunda os dias de sol e pode chover se quiser
O meu pensamento vai, chega primeiro a minha voz

Cai nos meus braços, aperta os laços desfaz os nós
O grito dessas pessoas
No fundo dos seringais
Precisa ser escutado em Beléns e Manais

TIO AFIF E O PUM REDENTOR

Leila Jalul

Não sou chegada a humor negro, tenho pavor de pegadinhas e odeio aqueles quadros televisivos (vídeocassetadas) que mostram pessoas em situações de vexames e em tombos colossais e perigosos.

Tenho que convir, no entanto, que há situações dramáticas que, se não na hora, passado o susto, merecem três rodadas de gozação.

Tio Afif Zeth e sua esposa Zaida Faduk Zeth, após anos de trabalho no comércio e muito investimento no "over night", decidiram morar no Rio de Janeiro, a mais quase ex-maravilhosa das cidades, mais especificamente na Av. Atlântica, o mais caro metro quadrado do mundo. Tudo mais, tudo mais, tudo mais. Eles e as filhas Belkiss e Sulema mereciam aquele panorama magistral, espectral e divinal.

Como sempre quero pensar, tudo acaba. O que é bom, o que é ruim, tudo tem termo. E assim, o bom-bem-bom do tio Afif foi interrompido com um assalto ao prédio. Quatro bandidos, bem armados e musculosos, renderam toda a família na garagem e subiram para o arrastão. Um fim de festa arrasador para quem estava acabando de chegar de um convescote no Recreio dos Bandeirantes.

Os bandidos não estavam para brincadeiras. Agarraram logo a Sulema, a caçula do casal, e decretaram abrissem a porta, sem delongas e rapidinho, de preferência. Assim foi feito. Na ampla sala estavam em quarentena dois amigos e contraparentes do casal: Dona Letice Maria e seu filho Rachid que se restabelecia de uma delicada cirurgia nos periféricos.

Sem piedade, ao chegarem no interior do apartamento, foram ordenados a que sentassem num sofá de muitos lugares. Na ampla salona, lotada de cristais e moveis finos, um dos bandidos vigiava a galera enquanto Tio Afif acompanhava os demais em busca dos tesouros.

Os diálogos que transcrevo não estão em ordem, mas, quem tiver os ticos e os tecos nos devidos lugares, compreenderá.

- Senta tia! Chora baixinho, tá? Não gosto de mulher chorando no pé do meu ouvido, sacou?

- Ei, dona , essas duas alianças no seu pescoço são de ouro? É viúva?

- Sim.

- Faz tempo?

- Não. Tem menos de seis meses.

- Fica fria. Minha mãe também pendurava essas joças no pescoço. Sabe, não conheci meu pai. Minha mãe diz que ele era bom. Fica fria, não quero esses negócios. Sou um bandido respeitador. Agora, coroa, vamos parar com esse baticum de boca rezando. Isso mexe com meus nervos, compreende?

- Oi, tio, tem um rolex aí? Vamo que vamo! Desembrulha!

- Tem não, senhor.

Nesse particular, confesso, Tio Afif não mentia. Era homem das verdades. No fundo falso da gaveta não tinha um Rolex. Tinha quatro. Ele era fashion e denominava seus relógios de "As quatro estações". Gente fina é outra coisa!

- Vamos, puxa os ouro!

- Tem essas pulseirinhas das meninas e este colar que dei para minha esposa. É de esmeralda e de estimação. Tudo bem? Pode levar.

- Anda, tem dóla?

- Ali na gaveta tem uns mil e quinhentos. São da minha filha. Pode levar.

- Tem reaus? Euro?

- Tá na carteira. É tudo que tenho. É para passar a semana e para emergências. Meu filho mais velho (puta jogada!) viajou e levou meu cartão. Só volta daqui a quatro dias. Pode levar.

Aí começou a encrenca. Tio Afif havia feito uma festança de frutos do mar no Recreio dos Bandeirantes. Nervoso, enquanto durou o assalto e enquanto pôde, segurou as pontas. Porém, a certa altura do limpa-tudo, as ostras, os mexilhões e os camarões assassinos que bem lhe poderiam ter causado uma pancreatite aguda, começaram a eclodir diretamente do baixo ventre, rumo ao rumo da lapa do mundo. Insuportáveis ruídos e cheiros, tanto para o mais reles quanto para o mais sofisticado dos ladrões. Quanto mais o chefe reclamava, mais e mais tio Afif ficava nervoso e insistia em continuar contaminando o meio ambiente, e, por fim, borrou-se todo, manchando o caro tapete persa sob seus melados pés.

A coisa parou aí, ainda que restando serviço por fazer. Não tão satisfeitos com os badulaques , um tanto de grana e algumas bebidas e roupas de marca, os ladrões resolveram bater em retirada, não sem que o chefão advertisse em alto e bom tom:

- Olhe, seu peidão, a gente ainda se vê. Melhoras, tais me ouvindo, cheiroso?


- Calma, amigo, vou melhorar.

- Hoje não dá! Nóis volta! S'imbora, turma, tô sufocado! Esse babaca tá podre! Desunerou-se e se esqueceram-se de enterrar. S'imbora!

Leila Jalul é procuradora aposentada da Universidade Federal do Acre e cronista, autora de Suindara (Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora LTDA, 2007) e Absinto Maior (2007).

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

CONSTRUÇÃO

Antonio Alves

Dez e meia da noite, na parada de ônibus, esperando o Custódio Freire que, como o nome indica, custa a chegar. Aproveitando a nova iluminação da avenida, tiro da mochila "Um Inimigo do Povo", de Ibsen, que o companheiro Itaan Arruda me emprestou -e já me cobra a montagem da peça que ainda nem acabei de ler.

Saem da zona de penumbra entre a avenida e o Parque três adolescentes, aí pelos 14 ou 15 anos, magros, cabeludos e suados, deslizando sobre seus skates. Param no portão da escola tentando avistar o vigia. Não conseguem, e um deles vem pular o muro perto da parada de ônibus, levando nas mãos uma garrafa de plástico para encher com água. Os outros dois ficam sentados na calçada, logo atrás de mim, com aquelas conversas ininteligíveis e banais, tipo assim eu ia na casa dele mas não rolou e tu ficou de me ligar e amanhã só.

Olhei a mochila sobre o banco, calculei o tempo de colocar o braço na alça, mas não identifiquei qualquer traço de agressividade na voz dos garotos. Sou, atualmente, um homem arrombado: um ladrão entrou em meu escritório enquanto eu viajava e levou um laptop, ao mesmo tempo em que outro entrou na minha casa para levar meus bujões de gás. Quando cheguei estava só o estrago. A "questão de segurança" que, como todo militante velho sabe, tem precedência sobre todas as outras, passou a fazer parte do dia e da noite, dos relacionamentos, da estética, da vida. "A vigilância cuida do normal" virou cultura. Mas ainda acontece de serem apenas garotos cansados e suados de zoar no Parque com seus skates, pulando o muro de uma escola para buscar água.

Não sei se algum deles percebeu qualquer traço de tensão em meu silêncio debruçado sobre o livro, mas justamente o que parecia mais jovem lançou no ar um contato, antes de tomar o último lugar na fila que desapareceu novamente na zona de penumbra de onde tinha surgido: "amou daquela vez como se fosse a última", cantou, e afastou-se com uma pedalada.

Com displiscente perfeição, o jovem skatista noturno entoou o primeiro verso de "Construção", música que Chico Buarque compôs no início dos anos 70 do século passado, quando, provavelmente, o pai deste garoto cujo rosto não vi ainda não era nascido e seu avô andava nas errâncias da juventude -como eu, que tenho idade para sê-lo, também andava.

Surpreendentes são as paradas de ônibus, às vezes.

Antonio Alves é cronista acreano. Não direi mais que é bissexto. Tem mais texto novo no blog Tempo Algum.

É CARNAVAL

Quando se juntam um senador e um assessor de imprensa, sem uma rede preguiçosa como a minha... Veja trecho de press-release que recebi:

O senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) reiterou nesta sexta-feira o apelo que fez no dia anterior, também em Plenário, para que os motoristas brasileiros não consumam bebidas alcoólicas antes de dirigir, especialmente durante o Carnaval, a fim de evitar acidentes de trânsito.

- Que o povo brasileiro tenha um excelente Carnaval, mas que também assuma um compromisso com a integridade da vida - desejou ele.

Tem como Geraldinho tirar umas férias para deixar o pai dele ocupando a cadeira no Senado? Outro que quer aparecer como carona do Carnaval é o nosso deputado-sorriso:



Do conforto de minha rede, contemplando a chuva fininha, falei com o bruxo Toinho Alves. Queria saber se ele teria poderes para fazer chover até a quarta-feira.

- Só se for cachaça - respondeu.

QUERO SER SANTA

Leila Jalul

Há mais de 10 anos não tomo uma injeçãozinha de vitamina B-12. Isso quer dizer que estou tombadinha, carente e inexpressiva. Isso quer dizer também que estou desprovida de hormônios. Isso significa, ainda, que estou em processo de beatificação.

Desde que fui abandonada pela sorte madrasta e pelos pederastas dos meus maridos, escolhi escrever para não enlouquecer. Boa escolha, creio. Desde que não esqueça que há homens e homens e que isso não é semântica, sim verdade absoluta, se é que isso existe, pois que tudo é relativo.

No marasmo e no ócio cotidiano, apesar dos pesares, insisti em continuar viva e sem água na pleura. Não deixei de ser mãe para ser mulher da vida. Isso é semântica, não verdade absoluta. Bem que eu dei umas caminhadas pelos atalhos do mal... Isso é de somenos importância. Dei o que era meu. Dei o que tinha que dar. Sem arrependimentos, pois, pois.

Minha sinceridade é metálica, meus desejos, idem, daí estar muita a damada (feminino de a cavalheiro, pode?) para a confissão pecaminosa.

Nestes 10 anos de virgindade forçada, preguiçosa e dolente, não fiz um curso de informática. Desinteressei-me por ver e ler coisas muito sérias. Entre Hebe Camargo e Proust, preferia, sem medo de ser feliz, a última (isso não pode, não deve e deforma!).

Quando a deformação estava em fase aguda, num dia qualquer, por um motivo qualquer, aconteceu o milagre. Um jantar para discutir florestania com meus velhos amigos, uns comunistas da gema e outros petistas. Por ser da hora, conheci mais profundamente um sujeito que atende pelo nome de Altino Machado. Mostrei uns textículos rascunhados e ele me disse: "Desenvolva e me mande por e-mail". Assim fiz.

Em rápidas pinceladas devo dizer que, no meu mundo internético, Altino Machado teve um preponderante papel. Ele me ensinou, linha por linha, clique por clique, passo por passo, a entender como essa máquina maluca funcionava. Custei a aprender, é bom que todos saibam. Não entendi tudo, mesmo sendo chamada de anta, mesmo sendo pisoteada pela sua impaciência para comigo. Cruel tempo. Tempo cruel.

Não posso falar em internet se não falar em Altino Machado. É um sujeito que muitos amam e muitos odeiam. Sou do primeiro time (com reservas, claro! Risos, risos e mais risos, viu, chefe?) e já declarei isso para ele. Nada em mim é novidade e sujeito a segredumes.

Mudei para a Bahia e ele sabe os motivos. Entre tapas e beijos, ele continua no Acre tratando de assuntos sérios e "cositas" paroquianas. Deixei de escrever no seu blog , por enquanto, pelo menos. Santo de casa não faz milagres! Um dos últimos comentários que escrevi causou estragos. Na paróquia, os crimes, por menores que sejam, ultrapassam a pessoa do criminoso. Os ânimos são muito densos e perigosos. Um descuido e pode-se, tolamente, deparar com mais um corpo estendido no chão. Deus que me livre!

O Edmundo Pinto foi o melhor governador do Acre e todos sabem disso e sentem falta dele. E chorarão lágrimas de sangue, sempre que lembrarem a falta que ele faz, tá certo? Não há controvérsias. Todas as opiniões contrárias podem significar que as pessoas queriam trepar com ele e, do alto de sua empáfia, foi por ele rejeitada (o). Ó céus, ó dia!!!!!


Em março fará um ano que freqüento o site do Lima Coelho. Freqüento-o com a mesma garra das beatas que perambulam durante o dia e durante a noite pelas igrejas da vida. Não sou apaixonada pelo padre, sim pela igreja. O site do Lima Coelho faz parte do meu processo de beatificação. Que declaração linda, não acham?

Nos 2 milhões de acessos que se aproximam, 500 + ou -, com certeza, partiram aqui do meu computador infimamente utilizado e seletivo. Isso o Altino Machado também me ensinou, indicando linhas de pensamento e lugares que minha alma pária gostaria de conhecer. Descerrei as cortinas, uma a uma.

Às vezes, por pura maldade, fico sem minha igreja e sem o sabor das hóstias (pelo amor de Jesus Cristinho, isso é figura de linguagem). Falta-me chão, a casa, a cama, os lençóis limpos e os travesseiros alcochoados. A razão de existir falta-me. Falta-me o ar e o desejo de continuar o processo de beatificação.

Obrigada, Altino Machado. Obrigada, Lima Coelho. Em vossas casas tracei o meu destino. Não quero mais tomar injeção de vitamina B-12. Quero ser santa.

Leila Jalul é cronista acreana. Quando digo que é doida, ela responde: "Só quero ser santa. É melhor do que uma pirocada desnorteda". Viva a Santa Leila Jalul.

TREPADO NO PÉ DE INGÁ


Ainda bem que a precariedade da telefonia no Acre atingiu o celular do deputado Moisés Diniz (PC do B). Ele ameaça acionar o Procon e o Ministério Público contra a operadora. Deveria incluir o serviço da precaríssima banda larga de acesso a internet. Charge do Dim, no Blog do Edvaldo.

BOM DIA, IRMÃOS

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

PAJÉ NEGA CANIBALISMO NO AMAZONAS


Ao contrário do que foi alardeado pela mídia, o velho pajé Tata Yawanawá, 94, da Terra Indígena do Rio Gregório, no Acre, afirma que o canibalismo não faz parte da tradição dos índios da etnia kulina.

Quatro índios kulina foram indiciados no começo do mês pela Polícia Civil acusados de matar e esquartejar o branco Océlio Alves de Carvalho, 21, no município de Envira (AM), na divisa com o Acre. Os indígenas foram acusados de comer parte das vísceras da vítima em um ritual de suposto canibalismo.

- Fiquei sabendo que nossos parentes txapunawa, conhecidos como kulina pelos brancos, estão sendo acusados de prática de canibalismo contra um branco no município de Envira, no estado do Amazonas. Fui convidado a falar sobre este assunto pelo Blog da Amazônia e devo esclarecer que jamais meus avós e pais mencionaram a prática desse tipo de ritual entre nossos parentes txapunawa - disse com exclusivdade o pajé.



Tata conhece os txapunawa (kulina) como grandes cantadores, fortes pajés e por gostarem de comer cobra jibóia. Desde jovem, o pajé aprendeu com os mais velhos a tomar uni, uma bebida considerada sagrada, também conhecida como ayahuasca. Ele reza e usa as plantas para tratar pessoas enfermas com a medicina tradicional indígena.

O pajé ouviu do pai dele que existiram alguns povos muito antigos que guerreavam entre si e quando morriam comiam os mortos.

- Não perdiam nada, cremavam o falecido e faziam uma sopa. Faziam isso porque acreditavam que podiam incorporar o espírito do falecido. Mais isso foi há muito tempo atrás. Há muito tempo não escuto que isso esteja acontecendo em nossa realidade - acrescentou.

Tatá considera que os brancos “não são animais para a gente comer”. Segundo ele, tanto os yawanawá quanto os kulina não são urubus para comer humanos mortos.

- Devem estar enganados ou mentindo quando dizem que os kulinas estão comendo os mortos. Não podemos comer uma pessoa igual a gente. Segundo os mais velhos, os povos que comiam seus mortos, só comiam seus próprios parentes. Eles não comiam os brancos. Eles diziam que os brancos era azedos e amargos. Por isso nunca comiam os brancos.

Estudiosos negam canibalismo

A ONG Survival International anunciou hoje que vários especialistas mundiais duvidam seriamente da autenticidade da cobertura dada pela mídia sobre o suposto canibalismo entre os kulina.

Donald Pollock, presidente do Departamento de Antropologia da Universidade Estatal de Nova Iorque em Buffalo, disse que os Kulina não tem história ou tradição de canibalismo, e expressaram aversão à idéia muitas vezes.

- Estou confiante que as acusações atuais serão refutadas como falsas quando forem completamente investigadas - acrescentou Pollock.

Domingos Silva, antropólogo da Universidade Federal de Santa Catarina, disse à Survival que os kulina, em toda a bibliografia que conhece, nos anos todos em que os estudou, na convivência que teve com eles no Alto Purus, ou na troca de informações com sertanistas experimentados da região, nunca deram qualquer sinal de prática canibalística.

Daniel Everett, presidente do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas de Universidade do Estado de Illinois, e autor do best-seller "Não Durma, Aqui tem Cobra", trabalhou com todos os grupos da família Arawan, da qual fazem parte os kulina.

- Não conheço nenhuma prova de que os kulina ou qualquer outro grupo Arawan tenham alguma vez praticado canibalismo.

Segundo a ONG, a fonte das reportagens parece estar limitada ao prefeito de uma cidade próxima, que disse à polícia ter sido informado por um membro do povo de que o "ritual" teria acontecido.

- Fatos foram atribuídos aos índios sem ter sido feito um inquérito. Houve sim um pré-julgamento dos índios, parte de uma grande campanha de difamação que tem por detrás outros interesses - afirmou Ivar Busatto, coordenador da organização não-governamental OPAN, que há anos trabalha com os Kulina.

O depoimento do pajé foi gravado, editado e traduzido pelo líder indígena Joaquim Tashka Yawanawá, que mantém o blog Yuxinawa sobre a vida de seu povo.

Saiba mais no Blog da Amazônia.

GAZETA ANUNCIA "SEMANA CUMPRIDA"



A "semana cumprida" que vem por aí, anunciada por Silvânia Pinheiro, editora e colunista do jornal A Gazeta, quase tira-me da rede.

Como não cabe a desculpa que a semana já foi cumprida em plena quinta-feira, a culpa deve ser da "rephorma" ortográfica.

- Ela está "comprindo" o dever de informar - pondera o cartunista Braga.

Deve ser. Semana ou pimenta-longa durante o carnaval é refresco. Essa Gazeta... O dono diz que é o melhor jornal da Amazônia.

Que venha a semana. Quero mingau de banana grande ou comprida, aqui na rede.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

BLOGUEIRO NA REDE


Por ser filiado a partido, ter cargo comissionado ou mandato, tem gente que acha que os outros não são trabalhadores. É para eles que preparei este post a partir da nova rede, de onde escrevo algumas vezes. Minha filha Iara fez a foto. Em tempo: vejam o blog Tempo Algum, do cronista bissexto Antonio Alves.

De São Paulo, o paulista trabalhador Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa, envia dois poemas de Mário de Andrade sobre o Acre. Cada poema tem um título, mas foram publicados originalmente um como intróito do outro.

- No caso da foto, o caboclo não dorme -produz um blog. Ou dorme, fingindo que produz um blog. Certamente dorme, e o blog é produzido por alguma entidade da floresta, que o Acre tem dessas coisas. De qualquer maneira, a foto prova que um sujeito pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. No caso, em duas redes diferentes ao mesmo tempo - comenta Luciano.

Descobrimento
Mário de Andrade

Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu.


Acalanto do seringueiro
Mário de Andrade

Seringueiro brasileiro,
Na escureza da floresta
Seringueiro, dorme.
Ponteando o amor eu forcejo
Pra cantar uma cantiga
Que faça você dormir.
Que dificuldade enorme!
Quero cantar e não posso,
Quero sentir e não sinto
A palavra brasileira
Que faça você dormir...
Seringueiro, dorme...

Como será a escureza
Desse mato-virgem do Acre?
Como serão os aromas
A macieza ou a aspereza
Desse chão que é também meu?
Que miséria! Eu não escuto
A nota do uirapuru!...
Tenho de ver por tabela,
Sentir pelo que me contam,
Você, seringueiro do Acre,
Brasileiro que nem eu.
Na escureza da floresta
Seringueiro, dorme.

Seringueiro, seringueiro,
Queira enxergar você...
Apalpar você dormindo,
Mansamente, não se assuste,
Afastando esse cabelo
Que escorreu na sua testa.
Alguma coisas eu sei...
Troncudo você não é.
Baixinho, desmerecido,
Pálido, Nossa Senhora!
Parece que nem tem sangue.
Porém cabra resistente
Está ali. Sei que não é
Bonito nem elegante...
Macambúzio, pouca fala,.
Não boxa, não veste roupa
De palm-beach... Enfim não faz
Um desperdício de coisas
Que dão conforto e alegria.

Mas porém é brasileiro,
Brasileiro que nem eu...
Fomos nós dois que botamos
Pra fora Pedro II...
Somos nós dois que devemos
Até os olhos da cara
Pra esses banqueiros de Londres...
Trabalhar nós trabalhamos
Porém pra comprar as pérolas
Do pescocinho da moça
Do deputado Fulano.
Companheiro, dorme!
Porém nunca nos olhamos
Nem ouvimos e nem nunca
Nos ouviremos jamais...
Não sabemos nada um do outro,
Não nos veremos jamais!

Seringueiro, eu não sei nada!
E no entanto estou rodeado
Dum despotismo de livros,
Estes mumbavas que vivem
Chupitando vagarentos
O meu dinheiro o meu sangue
E não dão gosto de amor...
Me sinto bem solitário
No mutirão de sabença
Da minha casa, amolado
Por tantos livros geniais,
"Sagrados" como se diz...
E não sinto os meus patrícios!
E não sinto os meus gaúchos!
Seringueiro dorme ...
E não sinto os seringueiros
Que amo de amor infeliz...

Nem você pode pensar
Que algum outro brasileiro
Que seja poeta no sul
Ande se preocupando
Com o seringueiro dormindo,
Desejando pro que dorme
O bem da felicidade...
Essas coisas pra você
Devem ser indiferentes,
Duma indiferença enorme...
Porém eu sou seu amigo
E quero ver si consigo
Não passar na sua vida
Numa indiferença enorme.
Meu desejo e pensamento
(...numa indiferença enorme...)
Ronda sob as seringueiras
(...numa indiferença enorme...)
Num amor-de-amigo enorme...

Seringueiro, dorme!
Num amor-de-amigo enorme
Brasileiro, dorme!
Brasileiro, dorme.
Num amor-de-amigo enorme
Brasileiro, dorme.

Brasileiro, dorme,
Brasileiro... dorme...

Brasileiro... dorme...

A MÃE DE NARCISO MENDES

O senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) registrou no plenário do Senado o falecimento de Luiza Carlos de Assis, mãe do empresário Narciso Mendes, ocorrido na terça-feira em Natal (RN).

Mesquita Júnior disse que, mesmo nunca tendo militado politicamente ao lado do empresário, Narciso Mendes é uma pessoa que está no Acre desde a década de 70 em intensa atividade política e, portanto, o considera um companheiro político.

- Nesse momento, lamento muito o falecimento da sua genitora, e transmito-lhe, e a toda a sua família, o meu pesar e a minha solidariedade - disse.

Os petistas do "governo da floresta", que realizaram a proeza de transformar o opositor Narciso Mendes em aliado, esqueceram de manifestar condolências ao novo companheiro, dono da TV e jornal O Rio Branco. Deselegância pura.

MENINO CASA COM CADELA

Por causa de uma história parecida, acontecida no Acre, sobre a qual escrevi mais ou menos 15 linhas pro Jornal da Tarde, no começo dos 1990, por sugestão do jovem político Jorge Viana, o deputado Nilson Mourão (PT) levou uma sapatada na cabeça. E eu tive que passar mais de um mês em São Paulo ameaçado de morte, além de ter respondido a um processo que o juiz decidiu pelo arquivamento quando apresentei como prova do caso o "relatório do inquérito" na defesa prévia.

Esta deu no portal Terra:

"Foi realizado no leste da Índia o casamento de um menino com a cadela de seus vizinhos. Segundo disseram testemunhas e autoridades nesta quarta-feira, os moradores do vilarejo acham que isso impedirá que o menino seja morto por animais selvagens.

Cerca de 150 tribais realizaram o ritual recentemente num povoado no distrito de Jajpur, no Estado de Orissa, depois de um dente ter nascido na gengiva superior do menino, que tem menos de 2 anos de idade.

"Realizamos o casamento porque isso vai superar qualquer maldição que possa cair sobre a criança e sobre nós", teria dito o pai do menino, Sanarumala Munda, segundo um jornal local.

O noivo, Sagula, foi carregado por sua família em procissão até o templo do povoado, onde um sacerdote oficiou o casamento entre Sagula e sua "noiva", Jyoti, cantando hinos em sânscrito, segundo uma testemunha.

Em seguida, os moradores do vilarejo festejaram o casamento com quitutes e bebidas alcoólicas.

A cadela pertence aos vizinhos do noivo e, depois da cerimônia, foi libertada para andar livremente pela área. Não houve pagamento de dote, disse a testemunha, e o menino ainda poderá se casar com uma noiva humana no futuro, sem precisar entrar com pedido de divórcio.

As leis indianas não reconhecem os casamentos entre pessoas e animais, mas o ritual sobrevive em áreas rurais e tribais da Índia, onde milhões de pessoas ainda são analfabetas".

DERRAMAMENTO DE DIESEL NO PURUS

Empresas assumem compromissos na Justiça Federal

Três empresas responsáveis pelo derramamento de 25 mil litros de óleo diesel nas águas do Rio Purus, no município de Santa Rosa do Purus (AC), na fronteira Brasil-Peru, se comprometeram na Justiça Federal em cumprir a todas as exigências feitas em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal e Ministério Público do Estado do Acre.

O juiz Jair Facundes, da 3ª Vara da Justiça Federal no Acre, estabeleceu prazo de 60 dias para que a Companhia de Eletricidade do Acre (Eletroacre), a empresa Guascor do Brasil, responsável pela usina termelétrica de Santa Rosa, e a empresa A.M. Barreto, contratada pela Eletroacre para o transporte do combustível, cumpram as exigências.

Leia mais no Blog da Amazônia.

A FIFA NA SALA VIP

Tem hora que não dá mesmo pra levar a sério nossas autoridades. Como sou testemunha do que fizeram para inaugurar a Biblioteca da Floresta (leia) e no Encontro Internacional de Manejo Florestal (leia), dou crédito ao relato hilário (antigo, mas atual) no blog do deputado Luiz Calixto:

"Pouca gente ficou sabendo do golpe aplicado pelos organizadores da sede verde da Copa de 2014, no Acre, para enganar o pessoal da FIFA e da CBF.

O primeiro contato com a delegação foi na sala VIP do aeroporto de Rio Branco.


E foi exatamente ali que os petistas aplicaram o famoso “171” nos ilustres visitantes.

Para impressionar, os sofás velhos, esgarçados e desbotados da Infraero foram retirados e substituídos por poltronas luxuosas e caras.


Jarros, quadros e vasos de flores foram arranjados para decorar a sala onde foram recebidas as Very Important Person.

O local ficou uma “lindeza”.

Fato é que a turma ficou de queixo caído com tanto luxo do aeroporto que um dia foi classificado com internacional.


Vinte minutos após os cartolas do futebol deixarem a sala, o caminhão baú da empresa que faturou pelo aluguel dos movéis, jarros e outros adereços, estacionou e levou de volta os objetos usados no golpe.

Mas como a primeira impressão é a que fica, o imperador Ricardo Teixeira, o big boss da CBF, deve ter ficado boquiaberto".

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

NATURA E ASHANINKA NÃO SE ENTENDEM

Termina sem acordo audiência de conciliação


Terminou sem acordo a audiência de conciliação realizada na 3ª Vara da Justiça Federal no Acre, onde a indústria de cosméticos Natura é acusada pelo Ministério Público Federal (MPF) de exploração indevida de conhecimento tradicional da etnia ashaninka da aldeia Apiwtxa do Rio Amônea, na fronteira Brasil-Peru.

Além da Natura, estão arroladas na ação civil pública com pedido de antecipação de tutela a Chemyunion Química LTDA e o empresário Fábio Dias Fernandes, proprietário da empresa Tawaya, de Cruzeiro do Sul (AC), fabricante de um sabonete com ativo de murmuru.

Embora fosse uma audiência pública, os advogados da Natura recusaram a presença da imprensa quando o procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes comunicou-lhes que jornalistas queriam acompanhar a tentativa de acordo promovida pela Justiça Federal.

- A nossa cliente não tem o menor interesse que a audiência seja acompanhada pela imprensa - alegou um dos dois advogados da Natura. Durante a audiência, os advogados reclamaram da repercussão negativa que o caso estava tendo para a imagem da fabricante de cosméticos. No final da audiência, os advogados da Natura sairam pelos fundos do prédio da Justiça Federal para evitar a imprensa.

A ação civil pública do MPF requer que o material pesquisado e produzido pelo empresário Fábio Fernandes seja devolvido à comunidade ashaninka, bem como apresente relatório detalhado de quais pessoas, laboratórios e empresas tiveram acesso ao material, as datas respectivas, as senhas para decodificação.

O MPF também pede que sejam declaradas nulas de pleno direito, e não produzam efeitos jurídicos, as patentes ou direitos de propriedade intelectual (inclusive marcas comerciais) concedidas ou que vierem a ser concedidas sobre processos ou produtos direta ou indiretamente resultantes da utilização de conhecimentos da comunidade ashaninka, especialmente três pedidos de patente e três pedidos de registros da marca Tawaya.

Na ação, o procurador da República José Lucas Perroni Kalil, pede a inversão do ônus da prova quanto à obtenção do conhecimento para as supostas invenções e marcas. O MPF pede que Fábio Dias Fernandes, Chemyunion Química e a Natura sejam condenados à indenização no montante de 50% do lucro bruto obtido nos anos de exploração até o momento e pelos próximos cinco anos, a contar da data de trânsito em julgado da decisão final. Essa seria a maneira de possibilitar a equânime distribuição dos benefícios quanto à exploração de produtos com murmuru.

Outra exigência do MPF envolve o Instituto Nacional da Propriedade Industrial, para que a Justiça determine que o órgão exija a indicação da origem do acesso ao conhecimento tradicional, e subseqüente equânime distribuição dos benefícios para todo e qualquer pedido de patente ou registro que tenha por objeto marca, invenção, desenho industrial ou modelo de utilidade originado de acesso a conhecimento tradicional.

Por fim, o MPF pede que Fábio Dias Fernandes, a Chemyunion Química e a Natura Cosméticos sejam condenados solidariamente a indenização por danos morais à sociedade e à comunidade, em valor a ser arbitrado pelo juiz Jair Facundes, da 3ª Vara da Justiça Federal no Acre. O valor seria revertido metade à Associação Apiwtxa e metade ao Fundo Federal de Direitos Difusos.

- O murmuru chegou ao conhecimento da Natura após a pesquisa que era nossa. A empresa viu o potencial dele passou a entrar no mercado a partir de um projeto da nossa comunidade. As empresas não querem reconhecer nossos direitos porque temem abrir um precedente para outras casos. Mas nós vamos continuar lutando por nossos direitos - afirmou o líder Moisés Ashaninka, cuja expectativa é de que o juiz federal julgue o caso nas próximas semanas, embora a data da audiência de instrução e julgamento não tenho sido definida.

A Convenção da Diversidade Biológica, aprovada no país através do Decreto Legislativo n. 4, ordena a justa recompensa às populações indígenas quando houver utilização de seu conhecimento. De acordo com o MPF, baseado em Gabriela de Pádua Azevedo, “a biopirataria é a apropriação gratuita (ou quase) de um recursos biológico e/ou de um conhecimento tradicional com valor comercial, sem qualquer tipo de retorno ao país ou a comuniade detentora daquele conhecimento - uma ofensa internacional”.

O jornalista Mauro Lopes, da assessoria de imprensa da Natura, disse que a reportagem do Blog da Amazônia “está tendo grande repercussão e prejudica fortemente a Natura”. Lopes enviou nota oficial, que traduz basicamente a argumentação exposta pelos advogados da Natura durante a audiência de conciliação. Leia mais no Blog da Amazônia.

BIOPIRATARIA DE MURMURU

Acusada pelo MPF, a fabricante de cosméticos Natura enfrenta hoje índios ashaninka em audiência de conciliação na Justiça Federal


Acusada de cometer biopirataria ao usar o ativo de murmuru (Astrocaryum ulei Burret), a indústria de cosméticos Natura enfrenta hoje uma audiência de conciliação na Justiça Federal, em Rio Branco (AC), decorrente de ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) em defesa dos índios ashaninka da aldeia Apiwtxa do Rio Amônea, na fronteira Brasil-Peru.

A ação do MPF, contra a exploração indevida de conhecimento tradicional ashaninka, começou em agosto de 2007. Ela também envolve o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), a Chemyunion Química LTDA, e o empresário Fábio Dias Fernandes, proprietário da empresa Tawaya, de Cruzeiro do Sul (AC), fabricante de sabonete de murmuru.

O MPF no Acre chegou a recomendar ao Inpi a suspensão do pedido de patente relativo à formulação do sabonete de murmuru, obtido a partir do conhecimento tradicional dos ashaninka. A patente de nº PI0301420-7 foi homologada pelo proprietário da empresa Tawaya.

De acordo com o MPF, a elaboração da manteiga de murmuru se deu mediante o acesso a conhecimentos tradicionais da comunidade, quando o empresário realizava projeto de pesquisa e levantamento de produtos florestais em parceria com a organização não-governamental Núcleo Cultura Indígena, sediada em São Paulo.

Ao final da pesquisa, Dias decidiu implantar a empresa de beneficiamento para produzir a manteiga de murmuru em escala industrial. Os índios forneceriam as sementes e teriam direito a 25% dos rendimentos obtidos pela empresa. Com isso, os ashaninka preocuparam-se em formar e capacitar a comunidade para exploração da semente de murmuru de forma sustentável, sem que o conhecimento da fabricação do produto fosse externalizado.

Leia mais no Blog da Amazônia.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

GRILEIROS DO ACRE


A Justiça Federal no Acre bloqueou mais de 11,5 mil hectares de terras públicas pertencentes à União que estavam sendo griladas há mais de 20 anos no Cartório de Registro de Imóveis do município de Sena Madureira (AC). O juiz Marcelo Bassetto, da 2ª Vara, deferiu o pedido de liminar do Ministério Público Federal e do Ministério Público do Estado, reconhecendo a veracidade das afirmações que comprovaram o crescimento da área do Seringal Novo Destino, além de outras terras contíguas.

Em abril de 1914, na matrícula 1.027 do Cartório de Imóveis de Sena Madureira, o seringal Novo Destino aparecia como propriedade de Adelbert H. Alden Limited, por seus sucessores Alden’s Sucessors Limited, uma sociedade comercial com sede em Londres, com a área de 4 mil hectares. Ao verificar a cadeia dominial do seringal, mais 8 mil hectares tomados do Seringal São Pedro do Icó, o Ministério Público constatou que se gerou uma área de 23,5 mil hectares, divididos entre oito matrículas.

A ação terá prosseguimento para julgar o pedido de condenação do madeireiro Ciro Machado Filho e do fazendeiro Edmar Sanches Cordeiro a indenizarem a União pelo tempo de ocupação abusiva de terras públicas federais, em valores que a justiça determinar. Machado e Cordeiro até então eram citados pelo “governo da floresta”, do Acre, como exemplos de produtores rurais que se modernizaram ao adotarem tecnologia e plano de manejo florestal em suas áreas.

- Os réus Ciro Machado Filho e Edmar Sanchez Cordeiro usurparam de terras públicas federais por diversos anos, proporcionando lesão aos cofres públicos. No presente caso, se os mencionados réus ocuparam terras públicas indevidamente, usufruindo-as economicamente sem o pagamento de qualquer retribuição em favor da União, está configurado o enriquecimento indevido deles. Esse enriquecimento sem causa gera o dever de indenizar o detentor do patrimônio prejudicado (no caso, a União) - argumentam o procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes e o promotor de justiça Marco Aurélio Ribeiro.

O réus promoveram, administrativamente, a retificação do registro público imobiliário, aumentando a área originalmente registrada. Segundo o Ministério Público, a alteração afronta diretamente a lei, pois as retificações em registros devem ser feitas mediante despacho judicial, salvo no caso de erro evidente, o qual o oficial, desde logo, poderá corrigir, com a devida cautela, de acordo com a lei.

As terras públicas são insuscetíveis de apropriação pela usucapião. São igualmente insuscetíveis de gerar em favor de terceiros efeitos possessórios. Os ocupantes sem autorização têm apenas a detenção, necessariamente precária, do imóvel.

Para determinar a antecipação da tutela, a Justiça aceitou a tese da difícil reparação, caso os imóveis fossem repassados a terceiros, prevenindo que outros particulares, além da própria União, pudessem ter prejuízos.

Com a decisão liminar, o Cartório de Imóveis de Sena Madureira está proibido de realizar qualquer movimentação nos registros e averbações das áreas inscritas sob as matrículas bloqueadas.

O Banco Central, Banco da Amazônia, o Ibama e o Instituto de Meio Ambiente no Acre também foram notificados da decisão, para que se abstenham de conceder empréstimo, ou autorizações para atividades exploratórias, como planos de manejo que atinjam as áreas em questão.

Blog da Amazônia.

GETÚLIO VARGAS


Getúlio Vargas segura ouriço de castanha na Amazônia. Foto de Hart Preston, da revista Life, 1940.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

GOOGLE PAGE RANK 6

Reencontro virtual com meu amigo Zeca Louro. Ele afirma que este blog é Google Page Rank 6. E explica:

- O Google tem um algoritmo em segredo de estado que qualifica os sites. É o maior segredo deles. Eles fazem umas avaliações de importância das pessoas que linkam o seu site. Se um site bunda mole te linka, você cai, mas se um site fodão linka você, você sobe. Page Rank 6 é muito difícil. Pra você ter idéia: o site da Caixa Econômica Federal é Page Rank 6. Mas isso é besteira, porque não dá dinheiro. É só curtição. Eu cheguei a Page Rank 6 com meu blog, mas ainda não comi ninguém.

Nem eu, Zeca Louro. Pelo que sei, por essas bandas do deserto ocidental amazônico, quem andou comendo alguém mesmo ultimamente foram os kulina de Envira (AM)). E antropólogos e indigenistas já explicaram que não é uma etnia que aprecia carne humana. Bem, Zeca Louro recomenda Villa-Lobos em fotos da revista americana Life, que foi digitalizada pelo Google. Clique aqui.

LAGARTA





Como podem ver, este blogueiro está acostumado com cobras e lagartos. E outras peçonhas menos cotadas.

ADIB JATENE

Ele queria voltar para o Acre



Folha de S. Paulo traz especial (aqui para assinante) sobre 16 médicos apontados como os melhores em cinco especialidades (pediatria, ginecologia, cardiologia, ortopedia e oncologia) na opinião de outros médicos. Entre eles, o acreano Adib Jatene, com breve perfil assinado pela repórter Flávia Montavani:

"Prestes a completar 80 anos, o cirurgião torácico Adib Jatene afirma que faz tudo o que recomenda aos pacientes: não fuma nem bebe, controla as taxas de colesterol e triglicérides, caminha, faz musculação e mantém o mesmo peso há 30 anos.

Mais do que isso, procura controlar o estresse. "Não dá para evitá-lo. O que você pode é reagir de forma equilibrada às tensões. E não adianta se desesperar diante de uma encrenca. Acho que elas são estímulo para a criatividade", afirma.

E foi assim, buscando soluções criativas para os problemas, que o médico construiu dispositivos como o primeiro coração-pulmão artificial do Hospital das Clínicas da USP e uma válvula cardíaca artificial.

A válvula, por exemplo, era cara demais quando foi trazida para o Brasil, por volta de 1963. "Não podíamos comprá-la, então resolvi que ia fazer a válvula. Fui atrás de saber que liga era, que metal era, como é que fazia", conta. Com o coração-pulmão artificial também foi assim. "As máquinas importadas estavam fora da nossa realidade. Já a que eu fiz podia ser consertada em qualquer lugar."

O primeiro modelo, testado em cães, ele criou quando atuou em Uberaba (MG). Se mais tarde ele passou a contar com centros de bioengenharia equipados, na época tudo foi feito com a ajuda de Chiquinho "Veludo", dono de uma retificadora de motores. "Acabei aprendendo a tornear e a fazer essas coisas de mecânica."

As invenções foram uma oportunidade para Jatene exercitar sua veia de engenheiro -até o terceiro ano científico, era isso que ele queria ser.

Mudou de planos porque quis estudar saúde pública para voltar ao Acre, onde nasceu. "Eu tinha dois anos quando meu pai morreu, e a ideia é que ele tinha morrido por falta de assistência. Não foi bem isso. Mas eu queria voltar." Acredita-se que foi a febre amarela que matou seu pai, um libanês que vendia mercadorias a um seringal em Xapuri (AC).

Na faculdade, Jatene se envolveu, "por acaso", no grupo de cirurgias torácicas orientado por Euryclides Zerbini, pioneiro na área no Brasil, com quem trabalhou por 11 anos. "Aprendi tudo com ele. Era um grande trabalhador. Dizia que, se a pessoa é séria, competente, nada resiste ao trabalho."

No InCor (Instituto do Coração da USP) e no Instituto Dante Pazzanese, Jatene foi pioneiro em uma série de cirurgias. Fez, pela primeira vez no país, a operação de ponte de safena, assim como a de troca de válvula. E criou uma técnica batizada com seu nome para correção de uma cardiopatia congênita.

Quando aceitou, em 1979, o convite para ser Secretário Estadual de Saúde do então governador de São Paulo Paulo Maluf, deixou todo mundo surpreso. "Não esperavam que um cirurgião cardíaco que atuava fortemente na área fosse trabalhar na saúde pública."

Foi ainda ministro da Saúde dos governos Collor e FHC. "Fui atrás de recurso para a saúde, porque saúde é prioridade no discurso, mas não é na prática." Idealizador da CPMF, o extinto imposto do cheque, Jatene continua a defendê-lo.

"Nas discussões no Congresso, eu sempre dizia: "A CPMF não é meu clube nem meu partido. É a alternativa que eu encontro. Se tiverem alternativa melhor, eu aceito". Mas ninguém tinha."

Ele calcula que já operou em torno de 20 mil pacientes -chegou a fazer cinco ou seis cirurgias por dia. Mas, se alguém lhe diz que trabalha muito, ele nega. "Quem trabalhou muito foi minha mãe. Ela era sozinha e ficou sem nada quando meu pai morreu. Tinha 28 anos e quatro filhos para criar."

Com a voz embargada, Jatene conta que ela abriu uma loja e costurava para ganhar a vida. "Eu me emociono porque ela era fantástica. Tinha mil problemas e nunca se queixava. Quando fechou a loja, não tinha nada. Mas tinha os filhos formados. Essa era a meta dela."

Além das atividades ligadas à medicina, Jatene é presidente do conselho deliberativo do Masp e coleciona obras de arte.

Casado há 54 anos, tem quatro filhos e dez netos. Lê "o que lhe cai na mão" e cuida de sua fazenda no interior de São Paulo. E diz que, "enquanto sua mão obedecer a cabeça e a cabeça pensar direito", não vai se aposentar. "Enquanto eu der conta eu vou em frente."

sábado, 14 de fevereiro de 2009

FOTO DA SEMANA


À esquerda, o empresário e ex-governador do Acre Orleir Cameli, tantas vezes acusado pelas lideranças do PT de narcotraficante, invasor de terras indígenas, corrupto e dono de quatro CPFs. Quando ocupava o Palácio Rio Branco, o jornal O Globo chegou a publicar a manchete "Um campeão de falcatruas na cadeira de governador". Ao centro, o ex-deputado José Bestene, atual presidente do Departamento de Água e Saneamento do Acre, outro que era acusado de corrupção pelos petistas quando ocupava o cargo de secretário de Saúde na gestão de Cameli. À direita, o médico e senador Tião Viana (PT-AC), que foi uma das vozes mais críticas da conduta de ambos. O trio assinou na sexta-feira a ordem de serviço para construção da nova rede de abastecimento de água de Cruzeiro do Sul no valor de R$ 25 milhões. Na verdade, na região do extremo-oeste brasileiro estão em jogo R$ 40 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento apenas para o abastecimento de água tratada nos municípios de Marechal Thaumaturgo, Porto Walter, Mâncio Lima e Rodrigues Alves. Leia mais no AC 24 Horas e na Agência de Notícias do Acre.

P.S.: a nota foi sugerida por um leitor anônimo.

CADÊ O FUMACÊ?



Belo clipe sobre a dengue, da banda Rud e Uscaba, de Porto Velho (RO). Cadê o fumacê no Acre? Rio Branco, a capital do Estado, enfrenta um surto epidêmico da doença.

Bem, mais do que fazer um som, o publicitário Rudney Prado, compositor e cantor nas horas vagas, gosta de fazer barulho junto com a banda.

Fumacê tem como tema a dengue. É uma crítica à pouca importância que o setor público e a população dão à prevenção e combate ao mosquito aedes aegypti. Fones para contato: (69) 9221-2237 e 8467-2292


JIBÓIA


Agora tenho em casa a companhia desta criatura amiga, devoradora de ratos e lagartixas. Que seja talismã contra eventual mau-olhado.

CONTRA A DENGUE


Foto de Sérgio Vale mostra os secretários de saúde municipal (Pascal Khalil) e estadual (Oswaldo Leal) participando de mobilização comunitária contra a dengue no bairro Conquista, o mais castigado pela doença em Rio Branco. Leia mais na Agência de Notícias do Acre.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

WORLD PRESS PHOTO


Foto ganhadora do primeiro lugar na categoria "Notícias Gerais" do World Press Photo of the Year. De autoria do brasileiro Luiz Vasconcelos, do jornal A Crítica/Zuma Press, a imagem mostra uma mulher tentando impedir o despejo em Manaus, em 10 de março de 2008. A Polícia Militar do Amazonas foi chamada para expulsar 200 sem-teto de uma faixa de terra privada na zona rural da cidade. Havia no grupo 105 indígenas, de sete etnias.

SURTO EPIDÊMICO DE DENGUE

Acre entra em campo após receber Comitê da Fifa

Autoridades do Acre passaram a encarar com realismo um surto epidêmico de dengue no Estado após recepcionarem há 10 dias o Comitê da Fifa na esperança de tornar Rio Branco uma das 12 subsedes da Copa de 2014. É a partir de Rio Branco, a capital de 301 mil habitantes, que a dengue se expande para mais sete municípios e sobrecarrega o atendimento nas unidades de saúde pública.

Nos últimos 45 dias dias, já foram notificados ao Departamento de Vigilância Epidemiológica e Ambiental de Rio Branco 2,8 mil casos suspeitos de dengue e um caso de febre hemorrágica que causou a primeira morte no Estado.

O secretário de saúde de Rio Branco, Pascal Khalil, admite que o número de pessoas com dengue na cidade supera o que está contabilizado oficialmente. Segundo Khalil, muitas pessoas não buscam atendimento e permanecem doentes em suas casas.

- Na verdade o número de casos confirmados não reflete a realidade. Na casa de minha mãe, por exemplo, quatro pessoas tiveram dengue, mas nenhum dos casos foi notificado. Já temos mais de 400 casos confirmados em Rio Branco, mas tenho certeza de que esse número é bem maior - comentou Khalil.

Na terça-feira, em Brasília, durante o Encontro Nacional de Novos Prefeitos, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou que a situação da dengue no Acre é motivo de preocupação. Segundo o ministro, enquanto na maior parte do país houve redução da média de casos de dengue, no Acre, Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia, no entanto, o número de notificações da doença tem superado a média nacional.

Rio Branco é uma das 71 cidades brasileiras que atualmente encontram-se em situação de alerta em relação à dengue. O ano mais crítico foi 2005, quando foram notificados 6 mil casos da doença na cidade. No ano passado, foram 3,7 mil casos.

Leia mais no Blog da Amazônia.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

BRASÍLIA


Do Cartunista Braga. Clique na imagem.

UM ADMIRADOR DE TIÃO VIANA

Do leitor Jabor Theina Silva sobre a polêmica ambulância do Jordão:

"Sempre admirei o senador Tião Viana e continuo admirando-o, não por ser um exemplo de ética (isto não passa de um mito no meio politico desse nosso país corrupto), mas por sua inteligência política, leia-se, saber jogar o jogo dos interesses, disfarçado no eufemismo "a arte de se fazer política". Este é um ponto.

Outro ponto é querer brigar contra os fatos. A foto é real, o veículo existe? Então o Sr. Romerito Aquino quer o quê ? Que ninguém critique? Só pode ser uma patusca!!!

Parabenizo o autor do blog, não só pela divulgação do fato, mas principalmente pela publicação da réplica e da tréplica do assesssor do senador. Isto sim é jornalismo!

Cabe agora a nós, os leitores, fazer juízo diante dos fatos.Como acadêmico de jornalismo, esta foi a melhor aula que tive até o momento.

Como disse, o Tião Viana tem uma ótima inteligência política. Falta porém inteligência emocional aos seus assessores.

Talvez seja por isso que pérolas politicas como essa se torne realidade: pintaram o carro com nome do Tião bem grande e não queriam que desse na vista. Quaquaquaquaquaquá...

Definitivamente, o Tião Viana não precisa disto".

Meu comentário: como a imprensa acreana impõe a si a autocensura, milhares de leitores e eleitores ficarão sem saber que um desatinado pespegou o nome do senador Tião Viana na lataria de uma ambulância da qual ele teria sido apoiador de uma doação do veículo pela PF à prefeitura de Jordão.

EXIGÊNCIAS DO MPF AO BASA


O Ministério Público no Acre enviou recomendação para que o Banco da Amazônia (Basa) passe a observar uma série de exigências legais antes e após a liberação de créditos aos produtores rurais. O Basa terá que exigir certidões ambientais e firmar termo de compromisso de que as atividades rurais que serão financiadas na Amazônia não resultarão na retirada de madeira que não seja de plano de manejo sustentável regularizado.

A recomendação, assinada pelo procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, sugere ao Basa a realização de monitoramento por satélite, ainda que de forma indireta, contratando para isso órgãos ou entidades, sempre que o valor financiado for superior a R$ 200 mil.

O banco terá que estabelecer metas de produtividade para o aproveitamento do solo, de forma a induzir a substituição do modelo da pecuária extensiva. Além disso, o Basa deverá promover política de juros diferenciados para cada financiamento de acordo com o grau de responsabilidade ambiental do tomador de crédito, instituindo juros mais baixos como bônus aos que executarem projetos de recuperação ambiental.

O Basa deverá comunicar ao Ministério Público Federal e aos órgãos ambientais quaisquer indícios de atos ilícitos ambientais perpetrados pelo contratante financiado.

O procurador da República se baseou no Decreto 6.321, de 2007, que proíbe agências oficiais federais conceder crédito a empreendedores que tenham atividade embargada por órgão ambiental ou que já tenham incorrido na infração administrativa de descumprimento do embargo.

Segundo o Ministério Público, todos os agentes da cadeia produtiva são responsáveis pelos danos ambientais gerados com seu consentimento. Portanto, o financiador tem responsabilidade sobre a fiscalização e deve exigir toda a documentação necessária para que os empreendimentos estejam legais do ponto de vista da proteção ao meio ambiente.

Blog da Amazônia.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

PARANDO O TEMPO

José Augusto Fontes

Foi assim, penetrei no teu futuro, atravessei, trouxe umas lembranças na bagagem, entrei, acho, na contramão do teu rumo, dos teus sentidos, pensando em não explicar, em não compreender, depois peguei a linha, soltei o fio do tempo, sendo tomado pelo prazer de agradar, pelo inesperado e longo prazer de dar boas-vindas à surpresa. Foi mesmo sem explicação nem entendimento que possuí teu tempo e invadi tuas pernas, o que fez com que nenhum de nós continuasse ou voltasse. A continuação possível, naquele momento meio eterno, foi ficar parados, num vai-e-vem quieto. E para parar, seguramos nas nossas mãos, por onde escorria o passado, apertando o presente.

Vivemos assim até agora, quando estou aqui, sem jeito, lembrando de tudo, pensando na nossa caminhada, querendo mais e sabendo que dizer a nossa história só cabe a ti, com teu inevitável silêncio, com tuas mãos de condão, com a imensidão dos teus olhos abrindo um presente que me dá o futuro. E o silêncio é agora, está aqui, deitado nas costas do prazer, sonhando nosso amor vindouro, quando estivermos na dimensão do inexplicável, quando nosso abraço não alcançar entendimento com nenhuma partida, e esse presente atravessar nossa vontade de aceitar o que vem e o que vai, quando movimentar nossa vontade de parar o tempo e quando segurar com força nossa ilusão, por onde vai escorrer outro passado, por onde chegará um futuro rápido, que já vai quase passando do próprio conceito, enquanto tua mão prende meu pensamento, que partia no rumo do teu jeito de gesto mudo.

Tudo o que penso cala, quando vejo em ti uma boa história para continuar. Será que o tempo desconfia disso? E assim vivemos, na imensidão do mistério, na exatidão da nossa intersecção, levando a bagagem que nos cabe, sabendo ser melhor viajar do que apenas chegar. Assim vamos, seguimos no mesmo ponto de encontro, o futuro é nosso velho conhecido, jogamos com ele e já saímos batidos. Em nosso presente, a fita passa a imagem renovada da trapaça, dona perene da razão, nessa partida sem final.

E agora está assim, um presente explica todos os rumos, a compreensão da brincadeira do futuro quer a contramão antiga, no sentido que está na chegada ao destino e que está também além do seu tempo, do teu, do nosso, do incessante jogo, da incansável fantasia. A indefinição do amor vence a razão e divaga querendo vencer o tempo, querendo vencer a voz, para ser possível dizer para a ilusão que o tempo acaba com tudo que há, que havia. E fica assim, na indefinição, a ilusão de querer vencer.

É assim, o silêncio caminha para nada, é caminho para nenhum outro rumo, é caminho para ficar, não há para onde ir, não há de onde voltar, inexiste surpresa no passado. Parar, perseguir ou deixar estar, em tuas mãos, as boas-vindas ao nosso futuro, que ainda nem partiu, que nem tem bilhete para chegar, é nisso que gastamos o tempo, que nem é nosso, é de ninguém. E a chegada, já passamos dela, sem notar sequer que estávamos indo, agora que voltamos.

Ir ficando, parar é o sentido possível, sem que nenhuma dinâmica seja maior que a nossa, nesse infinito instante que quer ultrapassar o tempo, nesse esgotado momento que registra o conceito de destino, preso dentro dos teus olhos que libertam a idéia de andar ainda mais para dentro, estar lá e cá, vivendo nossa interminável poesia, cuja expressão está em teu gesto, rindo do tempo, do texto e do tecido, simplesmente, encantando e explicando tudo.

Todo o tempo que me cabe está em teus limites. E nos das minhas sementes. É o que me digo quando ouço que a vida é uma árvore. Por isso penetrei teu futuro e semeei em tuas pernas, para colher outra vida e juntar às que já tinha. Essa luz me clareia o caminho e eu preciso, pois há muito caminho numa floresta, nesta minha floresta, só agora, com várias clareiras. Por isso essas matas me dão teus olhos para seguir, essa cor me alumia.

Mas tudo isso só sei ver e sentir, sabendo que não sei dizer sem mentir, por isso parei o tempo, desliguei a surpresa, enganei as regras com as quais furtava todo o eterno jogo, com as quais vencia minha vontade de vencer, e dei meus passos à tua estrada. Adotei esta fábula e digo para dentro, contando o que nem sei se realmente vivemos, se viveremos. Acho que por isso, o teu infinito calou o meu silêncio. É também por isso, imagino, que a poção com a qual venho enganando o tempo, ficou cheia de palavras.

José Augusto Fontes é acreano, poeta, cronista e juiz de direito