terça-feira, 31 de março de 2009

A CIDADE QUE NÃO ESTAVA LÁ

Vale a pena conferir o relato de Eliane Brum, repórter especial da revista Época, sobre a chegada de mais "progresso" para Porto Velho (RO)



"As famílias dos trabalhadores das polêmicas usinas do Rio Madeira começam a desembarcar em Porto Velho, capital de Rondônia. Encontram uma cidade com aluguéis mais elevados que São Paulo, sistema de saúde precário, rede escolar deficiente, calçadas esburacadas, saneamento básico quase inexistente e lixo para todo o lado. Com a perspectiva de anos de trabalho por lá, os maridos tem de se esforçar para que a mulher não faça as malas e pegue um avião de volta enquanto ele está no trabalho. São funcionários das empresas dos consórcios que constroem as usinas de Santo Antonio e Jirau e não têm escolha, é “vai ou vai”. “Meu marido não me contava a verdade quando falava comigo por telefone”, conta Andrea Rocha Izac, de 37 anos, três filhos. “O bicho é muito mais feio do que eu pensava. Acho que meu marido tinha medo que, se contasse como era, eu não viesse. E ainda nem sei se vou conseguir ficar!”

Clique aqui para ler a reportagem completa.

MPF APERTA GOVERNO E PREFEITURAS


Colégio Glória Perez, Biblioteca da Floresta Ministra Marina Silva, Usina de Arte João Donato, Colégio Estadual Armando Nogueira... A novelista, a senadora, o músico e o jornalista são alguns exemplos de acreanos vivos cujos nomes, para homenageá-los, foram atribuídos a bens públicos durante o segundo mandato do governador petista Jorge Viana.

O Ministério Público Federal no Acre instaurou procedimento administrativo para averiguar eventuais irregularidades no que se refere à nomeação de locais públicos com nomes de pessoas vivas, bem como a utilização de meios públicos de divulgação e publicidade para enaltecimento de imagem pessoal de autoridades públicas no Estado.

- Não estamos questionando o mérito dessas pessoas que foram homenageadas, mas a legalidade do uso de verbas públicas para a promoção desse tipo de homenagem - pondera o procurador da República Ricardo Gralha Massia.

Embora a Lei nº 6.454/77 proíba em todo o território nacional a atribuição de nome de pessoa viva a bem público de qualquer natureza pertencente à União, no Acre a lista é enorme e abrange estádios de futebol, institutos, salas, auditórios, bairros e ruas.

Existem estádios com o nome do ex-governador e ex-senador Nabor Júnior (Nabozão) e do ex-deputado João Tota (Totão), além de bairros em homenagem ao bispo dom Moacir Grechi e ao ex-prefeito de Rio Branco Mauri Sérgio.

Leia mais no Blog da Amazônia.

segunda-feira, 30 de março de 2009

LAMENTO DA GUASCOR DO BRASIL

Nota enviada pela assessoria de imprensa da Guascor do Brasil:

"A Guascor do Brasil, responsável pela usina termelétrica do município de Tarauacá (AC), lamenta o derramamento de óleo diesel em suas dependências em 26 de março.

Durante o descarregamento de um caminhão-pipa, operação realizada pela empresa milhares de vezes nos últimos dez anos sem qualquer incidente, uma falha humana acarretou o transbordamento de combustível do tanque de armazenamento para o dique de contenção da usina, barreira construída para situações de emergência. Entretanto, em virtude das fortes chuvas, uma pequena parte do total de óleo retido no dique, e misturado à água, vazou para o solo.

No mesmo dia, a equipe técnica de Meio Ambiente da Guascor adotou os procedimentos de segurança necessários e cabíveis para minimizar o impacto do acidente, que já se encontra sob controle em virtude de rigoroso monitoramento e medidas de mitigação ambiental.

Ciente de seu compromisso com a comunidade e com o meio ambiente, a Guascor empreenderá todos os esforços para reparar os danos ocasionados pelo acidente.

Guascor do Brasil"

Tão chocante quanto os reiterados derramentos de óleo diesel em nossos rios (leia) é o silêncio do secretário Eufran Amaral, do Meio Ambiente, e da presidente do Instituto de Meio Ambiente do Acre, Cleísa Cartaxo. Desde a sexta-feira a reportagem tenta insistentemente saber de ambos quais as providências adotadas em relação ao segundo derramento de diesel pela Guascor em Tarauacá. O silêncio depõe contra um governo que se diz comprometido com a defesa ambiental. Vale a pena a indagação da leitora Myris Silva: "Cadê o movimento ambientalista daí que até agora não se pronunciou sobre algo tão grave?" O "movimento" está no governo, Myris.

Atualização às 16h32: o secretário Eufran Amaral telefonou para a reportagem, o que não significa que tenha sido por causa da nota. Disse que técnicos ambientais estão em Tarauacá e que o Imac deverá concluir um relatório na próxima semana. Gravei a conversa, que não difere muito do que acaba de ser publicado na Agência de Noticias do Acre, a partir de informações de Cleísa Cartaxo.

RECEITA: LIMÃO, ABELHA E FLOR

PRA NÃO PERDER O RUMO



O presidente da Assembléia Legislativa do Acre, deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), reforçou a posição de várias correntes da coligação Frente Popular durante uma solenidade do partido em Cruzeiro do Sul.


Magalhães disse que existe um déficit de debate dentro da Frente Popular e exortou que, antes de pedir um quarto mandato, a coligação tem que dizer o que quer.

As declarações do deputado devem causar arrepios naqueles que se acham capazes de eleger até poste em 2010. Leia:

"Nós precisamos estar atentos para que esse movimento político que nós construímos, que fez uma transformação radical e uma construção administrativa invejável do ponto de vista dos resultados obtidos, não possa se transformar num pólo de poder e se descaracterizar. Nós não podemos perder o rumo. Está na hora de fazer o balanço".

"Eu sou daqueles que acha que, antes da gente pedir o quarto mandato ao povo acreano, a gente tem que dizer o que queremos com a Frente Popular para o quarto mandato. Acho que a Frente Popular tem que fazer um balanço enquanto ela está bem, pra que possa ser um pólo de esperança pra juventude, trabalhadores e excluídos e um pólo que seja inovador na política acreana".

"Nós temos que fazer esse debate político, porque se não fizermos alguém vai fazer no nosso lugar e quando alguém faz o debate correto no lugar da gente, toma o lugar".

Saiba mais no relato de Genival Moura, da Tribuna do Juruá.

domingo, 29 de março de 2009

FLAVIANO MELO - ENTREVISTA

"A mudança do fuso horário do Acre foi um erro grave, um ato antidemocrático", diz o deputado



O deputado Flaviano Melo (PMDB-AC) é autor do Projeto de Decreto Legislativo que dá direito ao eleitor acreano decidir se quer ou não que o horário oficial do Acre permaneça com uma hora de diferença em relação ao de Brasília, como determina a Lei 11.662, de autoria do senador Tião Viana (PT-AC), sancionada em maio do ano passado pelo presidente Lula. Até então, a diferença do fuso horário do Acre era de duas horas a menos em relação à Brasília.

- O fato de não ter consultado a população foi um erro dele [Tião Viana]. Um erro grave. Foi um ato antidemocrático. Talvez ele não tenha a experiência democrática que eu tenho. Talvez ele não tenha a vivência de ter lutado pela democracia como o meu partido, eu e minha família lutamos. Talvez ele ainda não tenha assimilado o direito democrático de todos. Porque fez o que fez, impondo uma mudança tão drástica à vida das pessoas. Eu não considero isso democrático - disse o ex-governador e ex-senador do Acre em entrevista por telefone ao Blog da Amazônia.

Veja os melhores trechos da conversa:

Qual é o estágio da tramitação do Projeto de Decreto Legislativo de sua autoria para que um referendo popular decida sobre a mudança do fuso horário do Acre?

Ele foi para a Comissão de Constituição e Justiça. As comissões começaram a funcionar e eu vou acompanhar mais de perto no sentido de que seja logo apreciado e vá para plenário. Fico feliz com a decisão do Michel Temer, presidente da Câmara, de que só as sessões ordinárias serão bloqueadas pelas Medidas Provisórias. Isso nos dá a garantia de que vamos votar muita coisa em sessão extraordinária. Então o meu esforço é para que seja aprovado e encaminhado para o Senado.

Quando vem dormir no Acre o senhor sente o impacto da mudança?

Para nós, que vamos e voltamos toda semana de Brasília, nosso organismo sente menos o impacto com a diferença de apenas uma hora, como está posto. Quando chego aqui, e eu tenho o costume de ir ao mercado... Quando o inverno amazônico começou, isto é, a partir de outubro, novembro e dezembro, o dia começa a clarear mais cedo e a gente não sente tanto. Mas quando começa a clarear mais tarde, como agora, o impacto é muito forte. Quando vou ao mercado às 6 horas da manhã ainda está muito escuro. Quando passo às 6h30, em frente das escolar, está totalmente escuro. Isso vai num crescendo até o dia clarear efetivamente às 7 horas da manhã. Sofrem os que que tem crianças, que vão pra escola, que necessitam estar cedo fora de casa. Todos sofrem porque não conseguem mudar o horário de dormir. Essa é a grande verdade.

O senhor chegou a ser signatário, segundo o senador Tião Viana, de um documento apoiando a mudança do fuso horário do Acre?

Isso não é verdade. O que eu acho que assinei, pois faz muito tempo, durante meu outro mandato... Lembro que sugeri, durante uma reunião da qual o então governador Jorge Viana participou, que o Acre voltasse a entrar no horário brasileiro de verão. O Acre entrava e por isso nós nunca ficávamos com três horas de diferença em relação à Brasília. Aí o governador Jorge Viana disse que ia consultar os empresários. Isso sim, foi o que sugeri.

O senhor acredita que o referendo poderá acontecer mesmo em 2010, como está sendo proposto?

É tudo o que eu gostaria. Acho que é tudo o que o povo do Acre quer. O povo do Acre quer opinar. Eu não entro em discussão se o povo gosta mais do fuso com uma hora ou duas de diferença em relação ao horário de Brasília. O que percebo é que o povo tende a questionar. Mexeram com a vida das pessoas. Tínhamos direito de fazer um plebiscito e não fizemos. Como isso não é mais possível, então vamos fazer um referendo popular para que o povo possa decidir se gostou ou não gostou da mudança. Ou: "eu quero o horário do jeito que está" ou "eu quero o fuso horário anterior, com duas horas de diferença em relação à Brasília". Eu defendo o horário que existia porque a maioria das pessoas diz que prefere ele.

Algumas pessoas argumentam que a realização do referendo junto com a eleição é inconveniente. Outros argumentam que o senhor se beneficiará politicamente disso. Caso o senador Tião Viana seja mesmo candidato a governador, haveria eleitor defendendo a candidatura dele e sendo contra a mudança do fuso horário. O senhor fez isso para politizar a questão?

Não, de modo algum, e eu nem havia analisado a questão por esse ângulo. Além disso, nas democracias mais aperfeiçoadas, como nos Estados Unidos, o eleitor vota em duzentas coisas simultaneamente. Eles aproveitam o momento eleitoral para incluir até a escolha de xerife. Qual é o problema nisso? Nós temos que partir para o aperfeiçoamento da democracia e para que as eleições sejam livres. Cada cidadão acreano poderá decidir o que é melhor em relação ao fuso horário do Estado.

Como o senhor avalia a mudança comandada pelo senador Tião Viana?

O fato de não ter consultado a população foi um erro dele. Um erro grave. Foi um ato antidemocrático. Talvez ele não tenha a experiência democrática que eu tenho. Talvez ele não tenha a vivência de ter lutado pela democracia como o meu partido, eu e minha família lutamos. Talvez ele ainda não tenha assimilado o direito democrático de todos. Porque fez o que fez, impondo uma mudança tão drástica à vida das pessoas. Eu não considero isso democrático.

Todos dizemos no Acre que o senhor é dono do jornal A Gazeta. Como o seu nome não aparece no contrato social, permita-me perguntar assim: por que o jornal de sua família é tão tímido na defesa do seu projeto?

[risos] A Gazeta não é um jornal da minha família. Isso não existe. Você sabe muito bem que não existe.

Mas um primo seu é sócio majoritário do jornal...

Dizem que sou dono da TV Gazeta, disso e daquilo... Conversa com o Roberto Moura [dono da TV Gazeta] que ele te conta essa história.

Gostaria de saber: por que a Gazeta não é mais enfática na defesa do projeto de sua autoria contra a mudança do fuso horário?

Não sei, pergunta para o Sílvio Martinello [diretor e sócio do jornal]. Eu não trabalho na Gazeta, cacete. Não sou o editor do jornal.

Então voltemos ao fuso horário. Quais seus próximos passos em relação ao referendo popular?

Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance em defesa do referendo. O presidente da Comissão de Constituição e Justiça é um parlamentar do PMDB. Vou pedir que o relator apresente seu relatório antes do prazo e vou pedir ao presidente Michel Temer para que inclua na pauta tão logo passe pela comissão. Se for necessário urgência urgentíssima, tenho o apoio do meu líder Henrique Alves. Já conversei com ele e ele disse: "seu pedido será atendido na hora que você quiser". Não quero atropelar nada. Eu poderia pedir urgência urgentíssima e o projeto sairia da comissão, sem ser apreciado na comissão, direto para o plenário. Mas eu quero que passe pela Comissão de Constituição e Justiça, que é a mais importante da Casa, para que tudo seja da forma mais transparente. Dessa maneira, evitarei que digam que se está conduzindo a coisa politicamente.

O senhor tem algo mais a dizer?

Apenas que se forma num dos cafés
, no mercado de Rio Branco, todas as manhãs, uma turma boa: Dudé Lima, assessor do governador Binho Marques, Abrahim Farhat, assessor do senador Tião Viana, os aposentados Zezé Gouveia e Gouveião, além do comerciante Cléber Cara-rachada, entre outros. Dia desses, chamei o Lhé e falei: quero convidá-lo para ser oficialmente o coordenador da campanha em defesa do referendo. O Abrahim disse que não pode, que é contra a mudança, mas que não iria atuar contra o senador.

"A mudança do fuso horário acreano patrocinada pelo Senador Tião Viana (PT), candidato certo da Frente Popular ao cargo de governador do Estado em 2010, é um tema que não vai lhe deixar em paz e poderá representar um desafio eleitoral significativo caso sua candidatura seja confirmada", avalia Evandro Ferreira. Leia no blog Ambiente Acreano.

CASO ENCERRADO

De J.R. Guzzo, da revista Veja:

"Um bom momento para examinar com mais calma como funciona a cabeça dos políticos brasileiros é logo depois que eles dão por "encerrado" qualquer dos casos em que vivem se metendo. Como se sabe, é assim que resolvem praticamente tudo, quando a coisa fica feia: dizem que o assunto não existe mais, e pronto. O senador Tião Viana, do PT, fornece um exemplo admirável, no noticiário mais recente, das vantagens oferecidas por esse estilo de vida. Sabia-se que o senador, no começo do ano, disputara e perdera a presidência do Senado Federal para José Sarney e, mais ainda, para seu homem forte, Renan Calheiros; na ocasião, foi dito que ele estava do lado do bem. Sabe-se, agora, que fez uso de um bem público em proveito particular, e, quando foi descoberto, prometeu ressarcir o Erário da União. Feito isso, deu o episódio por "encerrado".

A vida seria uma maravilha se o cidadão comum pudesse se comportar da mesma maneira no seu dia a dia – se pudesse, por exemplo, ignorar o prazo de 30 de abril para entregar à Receita Federal sua declaração de renda. Na hora em que a Receita viesse para cima dele, e é certo que virá, prometeria entregar o documento mais tarde e daria o caso por "encerrado". Não se recomenda a ninguém fazer esse tipo de coisa; se fizer vai acabar arrumando, com cem por cento de certeza, uma tremenda dor de cabeça. É só para quem está na vida pública que existe a opção de passar por cima das regras e exigir, em seguida, que não se toque mais na história. É por isso, justamente, que vale a pena tocar em histórias como a do senador Tião Viana, pois é nessa hora, quando ele diz que o problema acabou, que o problema de fato começa. No seu mundo mental, a partir daí, está tudo bem – e se está tudo bem é claro que todos, ele e seus colegas, ficam à vontade para continuar na mesma batida.

Os fatos, no caso, são simples. Em um certo momento, algum tempo atrás, o senador Tião pegou um celular de propriedade do Senado Federal, cujas faturas mensais são pagas pelo público, e entregou à filha, para que ela o utilizasse durante uma viagem pessoal ao México. Abriu campo, com isso, para uma série de perguntas de ordem prática. Por que, em primeiro lugar, ele entregou à filha um objeto que não lhe pertence? Por distração não pode ter sido. O senador, pelo que se imagina, sabe o que é seu e o que não é; não sai por aí pegando os celulares dos outros para falar de graça e não gostaria nem um pouco se alguém fizesse a mesma coisa com ele. Mas um celular do Senado, no seu modo de ver as coisas, não é realmente do Senado – é dele, para usar como bem entender, no Brasil ou no México. Nesse ponto o senador Tião não faz nada que a maioria dos seus colegas não faça; estão convencidos de que os bens exigidos por eles para exercer as suas funções – automóveis, residências, passagens aéreas e tudo o mais que conseguem arrancar do Erário – servem para atender a sua conveniência pessoal. Se alguém lhes lembrar que esses bens pertencem ao patrimônio público – ou "ao povo brasileiro", como gosta de dizer o partido do senador Tião –, vai ser tratado como um débil mental. Em qualquer caso, acham que o assunto é "pequeno", o que nos leva à pergunta seguinte: se uma conta de celular com ligações do México, por exemplo, é algo "pequeno", por que o responsável por ela não a pagou do próprio bolso, logo de cara? Já que o público está condenado a pagar as despesas maiores, poderia pelo menos ser poupado das despesas menores. O senador Tião, naturalmente, não é um morto de fome; poderia muito bem ter pago as conversas da filha. Mas não quis. Só concordou, pelo que ficou demonstrado, quando o caso apareceu no noticiário.

Surgem, aí, mais perguntas. Quanto o contribuinte teria de pagar se essa história continuasse escondida? O senador Tião não diz; acha que ninguém tem nada a ver com isso, a partir do momento em que prometeu cobrir a despesa. Como não fala, permite que apareçam todas as adivinhações sobre o montante. O que se sabe é que o senador, segundo ele próprio informou, levantou um empréstimo, a ser quitado em 72 prestações, para pagar o que ficou devendo pela viagem mexicana do celular. Quem levanta um empréstimo de seis anos para pagar uma conta de telefone? Não se entende.

O comentário mais comum, diante desse tipo de questão, é que não adianta discutir as partes quando o problema está no conjunto. Mas o diabo não se interessa pelo conjunto; ele gosta, mesmo, é de lidar com as partes. Sabe, por longa experiência, que se cuidar bem delas o conjunto sempre acaba vindo, mais cedo ou mais tarde."

CORRUPÇÃO NO GOVERNO DO ACRE

Há menos de duas semanas, o governador Binho Marques (PT) afirmou que "hoje tem muita gente ganhando dinheiro no Acre, mas honestamente".

Três dias depois, Antonio Alves, assessor do governador, ponderou aos leitores deste blog que deveríamos dar dois descontos: um para o governador garantir a honestidade de seu próprio governo e outro para o velho humor socialista que considera "ganhar dinheiro honestamente" uma impossibilidade teórica.


Causa espanto que o governador Binho Marques e sua equipe não considerem como sendo uma boa notícia, por exemplo, o combate que fazem à corrupção na máquina pública.

Foi necessário que a reportagem do AC 24 Horas revelasse à sociedade o envolvimento de oficiais da Polícia Militar do Acre no desvio de R$ 1,1 milhão do erário para o pagamento indevido de gratificações a mais de 100 membros da corporação.


O comandante Polícia Militar, coronel Romário Célio, ordenador das despesas, limitou-se a distribuir uma nota (leia) destacando que "a fraude de R$ 1,1 milhão em gratificações pagas irregularmente foi descoberta pelo próprio Comando da Corporação que mandou apurar por meio de uma auditoria”.

- Todos os documentos já foram enviados à Justiça em forma de denúncia e o Comando-Geral reafirma seu compromisso em defender as leis, encaminhando os acusados para que sejam julgados - afirma Romário Célio na nota, sem admitir que faltou transparência na apuração desse caso de farra com verba pública.

A pilantragem na folha de pagamento da PM consistia em pagar gratificações de até R$ 600,00. Metade do valor era embolsado por quem liberava a gratificação junto à Secretaria de Gestão Administrativa.

A fraude na folha de pagamento da PM deveria ter sido pauta da Agência de Notícias do Acre, que torna homogêneo o conteúdo dos quatro diários da cidade. Por que o governo do Acre se esforça tanto para omitir da sociedade os poucos casos de corrupção que consegue identificar e apurar?

sábado, 28 de março de 2009

O VOO DO TIÃO

Binho Marques



Uma geração que um dia foi chamada de "meninos do PT" mudou a política do Acre, amadureceu no Governo e realiza melhorias significativas para o nosso povo. Mas o rótulo "meninos do PT" era duplamente injusto, porque além de meninas como Marina Silva, excluía o DNA suprapartidário da Frente Popular. Pela capacidade de realização dos nossos governos, também criaram uma mania de citar essa ou aquela obra como a mais expressiva da Frente Popular.

Fala-se de estradas, economia, educação. Mas para mim a conquista mais importante da nossa geração foi reunir um grupo de pessoas capazes de colocar o Acre acima dos seus projetos pessoais. Isto é a raiz da nossa luta. Para não cometer inevitáveis omissões, ilustro a qualidade deste grupo lembrando que nele se reuniam desde sonhadores universitários de classe média até trabalhadores formados na mais dura realidade da vida, como Chico Mendes.

Trazer essa decisão até aqui custou muito trabalho, provações e até sacrifícios a muitos daqueles meninos e meninas de tempos atrás. É claro que chutamos muitas bolas fora, mas nunca abrimos mão da esperança nem do dever ético.

Por isso chateia quando figurinhas carimbadas por todo tipo de vício político aprontam confusões como esta criada contra o senador Tião Viana, depois que ele disputou a presidência do Senado e defendeu lá a mesma renovação que fizemos aqui. Da mesma forma que, na falta de idéias alternativas, apostam no "quanto pior melhor", políticos de baixa qualidade sempre tentam nivelar tudo por baixo.

O mandato do senador Tião Viana é um apoio seguro em Brasília. Busca recursos, articula políticas públicas, agiliza processos decisivos para as realizações dos nossos governos. É assim comigo e foi assim com o ex-governador Jorge Viana. Essa contribuição também acontece com o governo do presidente Lula, inclusive em relação a chamada governabilidade, por sua interlocução acreditada no Plenário e na opinião pública nacional. Ao lado da senadora Marina Silva e dos companheiros na Câmara dos Deputados, Tião resgatou nossa bancada Federal como uma instância da política acreana respeitada pelo Brasil e indispensável para o Estado.

Graças a Deus, conseguimos mudar e melhorar o Acre porque, vinte anos atrás, reunimos aquele grupo disposto a fazer política colocando uma causa coletiva acima dos nossos projetos pessoais. Uma causa coletiva que nos exigiu resistência e agora pede paciência. Nesse momento, pede muito mais do Tião, vítima de ataques que resvalam covardemente até na família que ele tanto ama, cuida e preserva.

Além da seriedade e da competência na política e na medicina, Tião é uma pessoa solidária. Por isso ele não pode e não deve entrar nessa disputa de ódio e rancor para a qual querem lhe puxar. Tem que agir como o piloto de uma historinha que me contaram outro dia.

Era um homem que sonhava poder voar e passou muito tempo construindo um pequeno avião de asas cobertas de pano. Mas quando finalmente conseguiu levantar voo e alcançar os céus, o homem logo percebeu que seu sonho ameaçava se tornar tragédia. No longo tempo que trabalhava no motor, dezenas de ratos haviam se abrigado na estrutura do avião e, em pleno voo, devoravam avidamente o pano das asas. Ele calculou que não havia tempo para voltar à terra firme, porque antes o estrago nas asas derrubaria seu avião. A única solução era livrar-se dos ratos rapidamente. Foi então que pensou: "Ratos vivem em esgotos, não devem suportar os céus." E ao invés de descer, voou cada vez mais alto. No ar rarefeito das alturas, os ratos perdiam força e caiam um atrás do outro.

Assim deve ser o voo do Tião. Cada vez mais ético, mais esperançoso, mais transparente e limpo, longe do alcance dos roedores de dignidade.

Artigo do governador Binho Marques (PT) reproduzido da Agência de Notícias do Acre. Meu comentário: o rasga seda ocorre uma semana após o governador ter criticado duramente, sem nominá-los, aliados da Frente Popular, incluindo os irmãos Jorge Viana e Tião Viana, quando advertiu que não suportaria abusos. Detalhe: ao contrário do que sugere o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, o governador escreve "acreana" e não "acriana".

sexta-feira, 27 de março de 2009

JUDICIÁRIO REPUDIA PROTÓGENES

Os desembargadores do Tribunal de Justiça do Acre estiveram reunidos para definir os termos de uma "nota de repúdio" contra as declarações do delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, feitas em entrevista à revista Caros Amigos.

Protógenes, que trabalhou no Acre em 1999, disse à revista, na edicão de dezembro, que em Rio Branco havia 980 pontos de distribuição de cocaína e que encontrou no Estado "autoridades ligadas ao narcotráfico", além de "um juiz com ponto de drogas" e "desembargador viciado".

A reação do Judiciário, três meses após a publicação da entrevista, decorre de uma nota deste blog (leia) em que foram mencionadas as declarações de Protógenes Queiroz relacionadas à passagem dele pelo Acre.

O presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Pedro Ranzi, considerou "infundadas, irresponsáveis e caluniosas" as acusações contra o Judiciário do Acre.

- Devido à gravidade das declarações, causadoras de danos à imagem do Judiciário Acreano, serão adotadas as medidas judiciais cabíveis, de forma a trazer a público a verdade dos fatos - assinala.

Leia na íntegra a nota:
"Rio Branco, 27 de março de 2009.

O Poder Judiciário do Estado do Acre, na pessoa de seu Presidente, Desembargador Pedro Ranzi, diante das declarações feitas pelo delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, em entrevista para a revista Caros Amigos, edição de dezembro de 2008, e agora repercutidas na imprensa local, vem expressar publicamente o seu repúdio às informações divulgadas, consideradas infundadas, irresponsáveis e caluniosas contra esta Instituição.

Devido à gravidade das declarações, causadoras de danos à imagem do Judiciário Acreano, serão adotadas as medidas judiciais cabíveis, de forma a trazer a público a verdade dos fatos.

A Justiça do Estado do Acre não permitirá atos levianos de desmoralização e continuará cumprindo a sua missão de assegurar a paz e a ordem social, protegendo e restaurando direitos.

Desembargador Pedro Ranzi
Presidente"

GUASCOR DERRAMA MAIS DIESEL


A empresa Guascor do Brasil, responsável pela usina termelétrica do município de Tarauacá (AC), derramou mais de 30 mil litros de óleo diesel num córrego que deságua no rio Tarauacá. Parte do diesel foi coletado pelos moradores do bairro Novo e revendido por R$ 0,50 - o litro de diesel custa R$ 2,75 na cidade.

O derramamento de diesel começou quando o reservatório, cuja capacidade estava completa, continuou recebendo o óleo bombeado a partir de um caminhão. O registro do tanque estourou por causa da pressão e o óleo vazou entre 7 e 11 horas da manhã de quinta-feira.

No ano passado, a Guasco causou outro derramamento de diesel em Tarauacá, quando houve rompimento no oleoduto que a empresa construiu interligando o porto da cidade à sua usina.

Em janeiro, uma balsa da Companhia de Eletricidade do Estado Acre (Eletroacre) derramou 25 mil litros de óleo diesel no leito do Rio Purus, próximo da fronteira Brasil-Peru, após colidir com um banco de areia numa das regiões mais remotas do país.

O combustível seria usado pela Guascor do Brasil na geração da energia elétrica de Santa Rosa do Purus. No mês passado, três empresas responsáveis pelo derramamento de diesel se comprometeram na Justiça Federal em cumprir a todas as exigências feitas em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal e Ministério Público do Estado do Acre.

O juiz Jair Facundes, da 3ª Vara da Justiça Federal no Acre, estabeleceu prazo de 60 dias para que a Companhia de Eletricidade do Acre (Eletroacre), a empresa Guascor do Brasil, responsável pela usina termelétrica de Santa Rosa, e a empresa A.M. Barreto, contratada pela Eletroacre para o transporte do combustível, cumpram as exigências.

O chefe do escritório da Guaspor em Rio Branco e o secretário Eufran Amaral, do Meio Ambiente, não atenderam as chamadas da reportagem ao telefone para que se pronunciassem sobre o novo derramamento de diesel no Acre.

- Estou informado sobre o caso e o mesmo já está sob os cuidados do promotor Marco Aurélio Ribeiro, do Ministério Público Estadual - disse o procurador da República, Anselmo Cordeiro Lopes.


Fotos: F. Salles, do blog Cidade em Notícia.

DELEGADO PROTÓGENES NO ACRE

"Um juiz com ponto de drogas, desembargador viciado"

O governo do Acre e a bancada situacionista na Assembléia Legislativa deveriam ser mais cautelosos e tolerantes em relação ao deputado Walter Prado (PSB).


Prado, que tem 20 anos de experiência como delegado da Polícia Civil, ocupou a tribuna para afirmar (leia mais no AC 24 Horas) que pelo menos 20 mil pessoas no Acre vivem do comércio de drogas, como forma de ter uma renda para o sustento familiar.

- Qualquer notícia dando os índices de violência como caindo [no Acre] devem ser considerados como mentirosos - acrescentou Prado, que é aliado do governo estadual.

Antes de Prado, o delegado Protógenes Queiroz, em entrevista à revista Caros Amigos, havia contado que abandonou, em 1998, as "delícias da burguesia" e veio ser funcionário público no Acre. Veja esse trecho da entrevista:

Que situação você viu lá?


Autoridades ligadas ao narcotráfico. Rio Branco tinha 980 pontos de distribuição de cocaína. Uma coisa assustadora. Polícia Militar, Civil, Ministério Público, Justiça Estadual, prefeitura, governador, Assembleia, Câmara Municipal. Um juiz com ponto de drogas, desembargador viciado. “Identifiquei caixa dois, dinheiro de narcotráfico. O grande volume foi de desvio de recurso público, o que me deixou chateado. Aí pegamos os políticos.


Em que ano?

Em 1999. José Roberto Santoro era o procurador que me auxiliava. Abro inquérito por lavagem de dinheiro para o narcotráfico, quebra de sigilo bancário: governador, prefeito, exgovernador, Fernandinho Beira Mar que tinha ligação com o narcotráfico, com a narcoguerrilha colombiana, as Farc, o Hildebrando Pascoal [ex-deputado federal, o "homem da motosserra" que mandou cortar em pedaços um desafeto]. Aí o Santoro dá um parecer paralisando a investigação, dizendo que não poderia investigar [Hildebrando] por lavagem de dinheiro, tinha que comprovar que era narcotraficante. Não dei bola. Fizemos a prisão preventiva por grupo de extermínio. A primeira condenação foi por lavagem de dinheiro. Fechei a investigação em cima do Hildebrando e dos 40 que estavam com ele. Eu disse "doutor Santoro, o tempo é o senhor da razão". Ele disse que eu estava vendo muito filme.

quinta-feira, 26 de março de 2009

NOVA ENQUETE

A enquete para saber se o governador do Acre Binho Marques (PT) deve ser candidato ou não à reeleição somou 354 votos - 217 (61%) responderam "sim" e 142 (40%) "não".

Pergunta da nova enquete: Após o escândalo no Senado você votaria em Tião Viana para governador?

quarta-feira, 25 de março de 2009

ELIANE BRUM


Alegria por ter recebido Eliane Brum, a respeitada repórter especial da revista Época. Veio até minha casa às 6 horas da matina. Pediu para ser minha sombra o dia inteiro e fazer um perfil do que chamou "blogueiro mais influente do Acre". Sugeri que chegasse àquela hora para que percebesse a vida acreana transtornada após a mudança do fuso horário.

Além da boa prosa, abrimos os trabalhos com mingau de banana, tapioca, café, castanha in natura, suco de cupuaçu, bacuri, além de outras frutas menos cotadas. Após o café, foi atendida ao pedir para experimentar um porronca. Mais adiante, a conversa foi interrompida algumas vezes para que pudéssemos acompanhar a evolução do tambaqui e bananas assados lentamente na brasa. A conversa avançou pela tarde.

Eliane Brum é gaúcha e uma das mais premiadas jornalistas brasileiras. Ganhou quase 40 prêmios de reportagem, como Esso, Vladimir Herzog, Ayrton Senna e Sociedade Interamericana de Imprensa.

Quando ela estava em São Paulo e perguntou se eu topava a entrevista, aceitei sob a condição de que trouxesse um exemplar autografado de O Olho da Rua (Editora Globo), o terceiro livro dela, que reúne de forma ampliada 10 reportagens que foram publicadas de modo resumido na revista.

Eu nem lembrava mais da "exigência" que fizera para ser entrevistado. Por volta das 17 horas, quando começamos a nos despedir, Eliane Brum tirou da mochila um exemplar do livro, cruzou as pernas na cadeira mais próxima e demorou ao menos cinco minutos a escrever uma caprichosa dedicatória.

Munida de caneta, folhas de papel ofício e excessiva simplicidade, ela havia mergulhado na minha rede e flutuado no céu de minha varanda.

Eliane Brum tem o dom ouvir. É por isso que suas reportagens são reconhecidas como literatura da vida real.

ACREANOS REAGEM AO "ACRIANO"


O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em vigor desde o dia 1º de janeiro, fez surgir no Acre um movimento de políticos e intelectuais em defesa do gentílico acreano para continuar designando quem nasce no Estado. A reação ao "acriano" como a única grafia correta para quem é natural do Acre, como sugere o Acordo Ortográfico, mexeu com o brio daqueles que gostam de se orgulhar como os únicos que são brasileiros por opção.

Na verdade a nova questão do Acre ganhou contornos de movimento quando a deputada federal Perpétua Almeida (PC do B) percebeu a reação espontânea da população, vários artigos em jornais e blogs, e decidiu convocar intelectuais do Estado para enfrentarem o caráter restritivo do Acordo Ortográfico em relação Estado e sua história.

- Descobrimos que as contestações devem ser dirigidas para a Academia Brasileira de Letras, mas devidamente fundamentadas e com a salvaguarda de instituições afins, como a Universidade Federal do Acre, a Academia Acreana de Letras, a Assembléia Legislativa e os demais poderes. Acreano era uma variação assumida pela população desde o surgimento do Acre, mas agora o Acordo Ortográfico quer eliminá-la e não vamos aceitar - assinala a parlamentar.

Os documentos da história do Acre mostram que havia divergência quanto ao acreano e acriano, mas a primeira grafia acabou prevalecendo no processo histórico da conquista do Estado. O presidente da Assembléia Legislativa do Acre, deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), já convenceu seus pares da Mesa Diretora a baixarem um ato para que gentílico seja preservado nos documentos oficiais.

- Tomaremos essa decisão amparados em pareceres da Academia Acreana de Letras e da Universidade Federal do Acre. É a nossa identidade social, histórica e cultural que está sendo ameaçada e não poderíamos aceitar isso passivamente. Nós não somos "acrianos" - afirma Magalhães.

Até o governador do Acre, Binho Marques (PT), aderiu ao movimento. Na semana passada, Marques deu ordens para que a estatal Agência de Notícias do Acre descartasse o "acriano" que fora adotado pelos redatores após o Acordo Ortográfico ter entrado em vigor no país.

O gramático e filólogo Evanildo Cavalcante Bechara (foto), 81 anos, titular da cadeira nº 16 da Academia Brasileira de Filologia e da cadeira nº 33 da Academia Brasileira de Letras, em breve receberá uma comitiva de políticos e intelectuais acreanos que se sentem ofendidos quando tratados como acrianos.

- Eu vejo no movimento pela manutenção do acreano uma devoção ao nome. Os árabes dizem: dar nomes às coisas é sinal de possuí-las. Então eu vejo o movimento sentimental dos acreanos com alegria, porque eu vejo o respeito pela forma escrita. Como filólogo, repito, isso me causa muita alegria. Mas como técnico da língua, vejo em acreano com "e" um erro de história da língua. Quer dizer, nós estamos defendendo acreano em nome da história do Estado, mas contrariando a história da língua. Então o que há é a história da língua, que é universal, contra a história dos acreanos, que é digna de respeito e admiração, mas é muito pontual. Mas vamos ver - pondera.

Vale a pena a leitura da entrevista com Evanildo Bechara no Blog da Amazônia.

terça-feira, 24 de março de 2009

RIO BRANCO VAI APAGAR AS LUZES

Parece pegadinha


Rio Branco aderiu ao movimento Hora do Planeta 2009. No dia 28 de março, alguns pontos da cidade, conhecidos e frequentados pela população, terão suas luzes apagadas por uma hora, das 20h30 às 21h30.

Serão apagadas as luzes do Palácio Rio Branco, sede do governo estadual, da prefeitura, Horto Florestal e Novo Mercado Velho, às margens do rio Acre.

O movimento Hora do Planeta, um ato simbólico de alerta contra o aquecimento global, é promovido mundialmente pela Rede WWF desde 2007 e acontece pela primeira vez no Brasil.

No Brasil, já aderiram ao movimento mais de 40 cidades e quase 500 organizações, entre empresas, ONGs, associações e veículos de mídia. Movimento de abrangência mundial, a Hora do Planeta vai acontecer em mais de 83 países.

Fica faltando alguma autoridade explicar que a Eletroacre na verdade é pioneira dessa campanha, pois há anos, diariamente, radicaliza nos apagões em todo o Acre.

MUDANÇA CLIMÁTICA É CRISE MUNDIAL


O empresário e banqueiro inglês Hylton Murray-Philipson, ex-CEO do Morgan Grenfell Bank no Brasil, é um homem simples e informal. Na semana passada, pela quarta vez, trocou a vida cheia de compromissos em Londres pelo convívio com seus amigos yawanawá da Terra Indígena do Rio Gregório, no município de Tarauacá (AC).

Hylton Murray-Philipson, que é assessor especial para o Projeto de Florestas Tropicais do Príncipe Charles da Inglaterra, veio com um grupo de amigos participar em plena floresta amazônica da inauguração do Centro Cerimonial de Curas e Terapias Yawanawá.

Depois de uma uma longa noite tomando uni (ayahuasca), quando dançou e cantou com a tribo até o amanhecer, Hylton Murray-Philipson desceu o Rio Gregório numa pequena canoa até a localidade de São Vicente, depois, na BR-364, prosseguiu de carro até Cruzeiro do Sul. E de lá retornou para Rio Branco de avião, para uma série de reuniões de trabalho com autoridades do governo do Acre e com a liderança Joaquim Tashka Yawanawá.

Além de ter instalado o Morgan Grenfell no Brasil, Hylton Murray-Philipson também foi diretor-executivo do banco de investimentos Henry Ansbacher, em Nova Iorque. Fundou, em 1990, a Wingate Ventures oferecendo serviços financeiros corporativos às empresas que ofereciam uma contribuição positiva ao meio ambiente, incluindo as iniciativas Carbon Conservation e Canopy Capital, que estão liderando a captação de capital para as florestas remanescentes.

Antes de retornar para Londres, Hylton Murray-Philipson conversou com exclusividade com o Blog da Amazônia sobre as preocupações dele em relação às florestas tropicais, serviços ambientais e mudanças climáticas. Leia alguns trechos da conversa no Blog da Amazônia.

MANCHETE PRIMOROSA



Da edição de hoje do Página 20, o mais situacionista dos quatro (sim, temos quatro mesmo) diários de Rio Branco. Quem vê assim pensa que é algum protesto contra a censura, daqueles que o Estadão fazia ao publicar Os Lusíadas e receita de bolo. Como a imprensa é um playgroud pago pelo governo, onde todos se divertem e cada um tem o seu brinquedo, conforme escreveu Toinho Alves, o jornal evitou destacar o aviso segundo o qual o governador Binho Marques não suportará abusos de seus aliados na Frente Popular do Acre. Caso você não consiga ler o título com diagramação encavalada, o jornal anuncia que hoje é o Dia Mundial de Combate à Tuberculose. O título não está encavalado na edição impressa.

segunda-feira, 23 de março de 2009

POR FALAR EM ABUSOS

Antonio Alves

Quem olha de fora, não entende muita coisa. Fica parecendo que a relação do governador Binho Marques com a imprensa azedou nos últimos dias, por conta da publicação das acusações contra o assessor Francisco Pianko. O caso é realmente escabroso, mas típico na vida futriqueira da província. Um assessor do governo é acusado de abusar sexualmente de menores, acusação gravíssima que deve ser investigada em segredo, como manda a lei e por motivos óbvios. O caso chega ao conhecimento da imprensa e os repórteres se apressam em colocar o microfone na boca do promotor e também do acusado porque, afinal, deve-se "ouvir o outro lado".

Mas há detalhes: a acusação foi feita por uma pessoa que tem, há vários anos, uma rixa política e pessoal com o acusado, apoiada por uma advogada que é figurinha carimbada, bem conhecida de outros carnavais. E foram elas mesmas que "vazaram" o assunto para a imprensa. Que os repórteres jovens e inexperientes queiram transformar em notícia o que pode ser apenas baixaria, tudo bem; mas que editores e colunistas antigos e calejados embarquem nessa ubá rachada e passem a recomendar, solenes e pomposos, que o governador afaste o assessor a bem da moralidade, aí já passa da conta. Afinal, em denúncias anteriores, envolvendo seus patrões ou aliados políticos, esses mesmo jornalistas sacavam do bolso velhos chavões como "todos são inocentes até que se prove o contrário". Sempre foram acostumados a publicar os desmentidos sem terem publicado as acusações. E em casos envolvendo seus colegas de profissão, mesmo que tivessem sido presos em flagrante, num motel, usando drogas em companhia de crianças, jamais publicaram uma linha para não "promover um linchamento moral".

Ao que parece, foi com esses jornalistas que o governador perdeu a paciência. A eles se referiu, num discurso em solenidade pública, dizendo que estão "vendendo uma moralidade que não sei de onde tiram, em suas vidas".

Coisa muito boa no Acre é que não há necessidade de citar nomes, cada um já pega sua carapuça. Um acha que o governador estava "nervosinho", outro que foi "destemperado" e todos temem a volta da censura, ó coitados, eles que tanto sofreram com a ditadura e já comeram o caviar que o diabo amassou em governos passados. Atitude mais esperta é daqueles que não passam recibo, simplesmente esvaziam o assunto e tocam o barco adiante. Esses arranca-rabos são passageiros, tem que acontecer de vez em quando, no fim do mês o governo repassa a grana, os jornais publicam o release da assessoria e tudo volta às boas. Não é sempre assim?

Seria, se assim fosse. Mas desta vez há sutis diferenças. Vou tentar ser explícito, sem ser pornográfico. Começo pelo fato, um tanto incomum no Acre, do governador ter feito suas declarações no discurso de lançamento de uma grande obra, a tal quarta ponte de Rio Branco, na presença dos barões da política e da economia. Binho lembrou que as grandes obras no passado foram oportunidades para a corrupção: "hoje tem muita gente ganhando dinheiro no Acre, mas honestamente".

Devemos dar dois descontos, uma para o governador garantir a honestidade de seu próprio governo e outro para o velho humor socialista que considera "ganhar dinheiro honestamente" uma impossibilidade teórica. Fora isto, o recado é bem claro: todos estão contentes e satisfeitos, então controlem a ganância, mantenham o clima de acordo político e não deixem que os secretários, técnicos e assessores sejam jogados às feras porque são eles que se esforçam para que todos tenham lucro. (Pianko não é o único a ser processado, há vários secretários e assessores suportando calados acusações que deveriam ser dirigidas a outros.) Em resumo, o governo trabalha para vocês mas não o tratem como um empregado pois, afinal, não é o governo que depende de vocês -vocês é que dependem do governo.

Binho referiu-se aos "aliados", relembrou o "projeto" que começou a ser construído em 1990, com a primeira campanha de Jorge Viana e repetiu o mantra "não vamos nos dispersar" para esconjurar um tempo em que no Acre dominava a lei de "cada um por si". Com quem estava falando e qual era o recado? Com os chefes políticos que já começam o foguetório e o tiroteio eleitoral, disputando posições nos bastidores ou à luz dos holofotes mas com o governo garantindo a munição. Todo mundo quer inaugurar ponte, entregar casa, abrir escola, distribuir remédio.

O governador não faz falta na solenidade, mas viro bicho se não me convidarem. O técnico elaborou e negociou o projeto, aplicou o dinheiro e contratou a obra, preparou a festa e contratou os músicos mas, no final, esqueceu de botar o meu nome no folder, um absurdo! Meu nome, minha família, minha empresa, meu partido, minha igreja, meu município... todo mundo é dono de um pedaço mas acha pequeno.

Como a imprensa entra nisso? Ora, a imprensa é um playgroud pago pelo governo, onde todos se divertem e cada um tem o seu brinquedo. Em cada jornal ou emissora, há jornalistas a serviço dos chefes políticos. Quem são os seus donos? Como diz o fado, "não sei, não sabe ninguém" além dos próprios, é claro. Daí o governo faz algo importante -tem que escrever e filmar porque nenhum jornalista aparece- e a matéria sai num cantinho escondido enquanto as manchetes são dedicadas às viagens dos figurões que, aliás, ficam também com as colunas sociais e notinhas políticas e até esportivas. O povo tem a página policial.

A insatisfação, portanto, não é de hoje e nem apenas com "a imprensa". Pra explicar, vou ser duas vezes indiscreto. Primeiro, revelando um comentário que saiu da boca do Binho para a orelha de seu secretário Aníbal Diniz: "não me incomodo com os jornalistas sem moral, mas com os que financiam a moral dos jornalistas". Tomaram?

Pode-se responder dizendo que o governo é o principal financiador, mas isso deixa que eu faço cometendo a segunda indiscrição: Binho Marques quis mudar a relação entre governo e imprensa que já vigorava desde sempre. Mas se conteve para não provocar nenhum "racha". Não quis fazer uma ruptura e tornar-se também mais um cacique político. Resolveu assumir a decisão coletiva em nome da tal governabilidade que é, no final das contas, apenas a eleitorabilidade.

Será que seu desabafo representa uma mudança? Fiquem tranqüilos, meninos. Binho é da escola da professora Marina, que joga para o time e agüenta calada desaforos em nome da preservação de um projeto do qual, aos trancos e barrancos, alguns sonhos vem sendo realizados. Mas não abusem.

Esse é, afinal, o recado que serve para todos, inclusive pra mim, que vou parar por aqui porque já falei demais e acho que já estou abusando.

O jornalista Antonio Alves é assessor especial do governador do Acre Binho Marques (PT).

PICADO, RODELA E TOLETE

FAÇA O QUE EU DIGO

Marina Silva

No encontro com Barack Obama, o presidente Lula pediu ao presidente americano pronta adesão à Convenção da Biodiversidade, renegada por George Bush. Oportuna cobrança, pois em 2010 entra em vigor o sistema de pagamento pelo uso da biodiversidade, que deverá gerar recursos importantes para conservação em países megadiversos, como o Brasil.


O problema é que, na maioria das vezes, temos posição externa ousada e correta. Internamente, contudo, fazemos mal a lição de casa. O Brasil ratificou a Convenção em 1994 e até agora não temos uma Lei para disciplinar o acesso aos recursos genéticos. Em 1995 apresentei ao Senado projeto com essa finalidade. Não foi votado até hoje.

Em 2003, o Ministério do Meio Ambiente articulou para que o governo apresentasse projeto atualizado e submetido a negociação exaustiva com todos os setores interessados.

Após cinco anos de complexa construção de consensos, sob a coordenação da Casa Civil, chegamos a um texto. Quando de minha saída do governo, faltavam apenas consultas a comunidades tradicionais e agricultores familiares para enviá-lo ao Congresso Nacional no segundo semestre de 2008.

Inesperadamente, o MMA interrompeu o processo para elaborar outra proposta, atendendo a demandas do Ministério da Agricultura, entre elas a de criar sistema paralelo de gestão dos recursos genéticos da agrobiodiversidade. Pretende-se retalhar artificialmente a gestão da biodiversidade para acomodar pressões diversas.

Continua-se a bater na tecla de que uma justa partilha de benefícios, para remunerar os conhecimentos tradicionais associados ao uso dos recursos naturais, limitará a pesquisa e os usos comerciais. Mas, sem regras, esses conhecimentos poderão ser apropriados por empresas a troco de nada ou quase nada.

Uma leitura otimista do recado do presidente Lula a Obama é a de que o governo resolveu, finalmente, pegar à unha a criação do regime nacional de acesso à biodiversidade, entendendo que ratificar a Convenção não é só apor uma assinatura. Implica replicar aqui as diretrizes do acordo internacional, numa política una, com força para alinhar ações públicas e privadas. Se essa leitura for a correta, em breve deverá chegar ao Congresso o texto do projeto do Executivo, sem retrocessos e condizente com o espírito da Convenção.

Se, ao contrário, a pauta foi sugerida ao presidente apenas para rechear seu discurso e projetar mais uma vez o óbvio cacife ambiental brasileiro, em prol dos biocombustíveis, é perda de tempo e de algo mais. De credibilidade, por exemplo.

A senadora Marina Silva (PT-AC) escreve às segundas=feiras na Folha de S. Paulo.

domingo, 22 de março de 2009

ENQUETE

O governador do Acre Binho Marques (PT) declarou na sexta-feira que não é candidato a nada. No topo da coluna, à direita, uma enquete para saber dos leitores do blog se o governador deve ser candidato ou não à reeleição. A enquete será encerrada às 12 horas de sexta-feira.

sábado, 21 de março de 2009

"BANDO DE URUBUS"

O governador Binho Marques (PT) questionou duramente a moralidade dos jornalistas que pediram a exoneração do assessor de Assuntos Indígenas Francisco Pianko, acusado no Ministério Público Federal de cometer abuso sexual contra menores nas aldeias.

Sem citar nomes de jornalistas, Binho Marques disse que não vai atender apelos de pessoas sem moral para exigir o afastamento de um integrante de sua equipe. Sílvio Martinello e Luis Carlos Moreira Jorge, ambos colunistas políticos de A Gazeta, foram os únicos que pediram abertamente a cabeça de Pianko.

O governador chegou a afirmar que "estão com saudades do tempo da roubalheira".

Isso me fez lembrar de dois episódios narrados a mim, na semana passada, pelos jornalistas Roberto Vaz, Ely Assem de Carvalho e Luis Carlos Moreira Jorge.


O primeiro, logo no início da gestão do governador Orleir Cameli, quando ele começou a negociar com os deputados estaduais a aprovação de uma autorização para aplicar R$ 42 milhões do Fundo Previdenciário do Acre na construção de casas populares.

Sabedora que Cameli se valia do pagamento de propina para fazer com que os parlamentares ajudassem-no a desviar a verba do Fundo Previdenciário, a imprensa começou a criticar o projeto. Os sindicalistas do PT reforçaram o coro dos descontentes e a situação se complicou.

Mas logo Cameli conseguiu serenar os ânimos e até obteve apoio da imprensa após designar o secretário Alércio Dias como interlocutor de um "cala-boca" de R$ 1 milhão para cada veículo de comunicação, exceto o jornal Página 20.

Até hoje Cameli jura que pagou e os empresários juram que não receberam.

O segundo episódio ocorreu mais adiante, quando o governo começou a atrasar em até seis meses os repasses mensais de verba para as contas dos veículos de comunicação.

Foi então que reuniram-se Narciso Mendes (O Rio Branco), Ely Assem de Carvalho (A Tribuna), Roberto Vaz (TV5), Roberto Moura (TV Gazeta) e Sílvio Martinello (A Gazeta).

Eles decidiram exigir uma providência diretamente a Orleir Cameli. E certo dia foram recepcioná-lo no aeroporto de Rio Branco.

Quando avistou os donos dos veículos de comunicação na sala de desembarque, Cameli deu meia volta e pediu para ser resgatado por seu motorista na pista do aeroporto.


Os cinco empresários perceberam a manobra e seguiram o governador pelas ruas da cidade até a casa dele. Cameli não percebeu que fora seguido e se refugiou em sua mansão.

Logo em seguida, os empresários estavam todos no portão da casa. Disseram ao porteiro que o governador aguardava-os, foram autorizados a entrar e se acomodaram nos confortáveis sofás da ampla sala-de-estar.

Cameli percebeu uma certa algazarra na casa, saiu da suíte e foi ver o que acontecia na sala. Estava apenas de cueca, mas decretou:

- Bando de urubus! Se retirem de dentro de minha casa, agora! Vamos! Bando de urubus! Saiam, saiam!

Sílvio Martinello e Roberto Moura ficaram atordoados com a reação. Na hora de sair avançaram em direção ao corredor que ia dar na suíte do governador:

- Seu Martinello e seu Moura, o caminho da rua é por ali. Pra fora, já! - esturrava Cameli.

O mais prosaico desse balaio de gatos é que os empresários de comunicação recebiam do governador Orleir Cameli e repassavam uma parte para a manutenção do jornal Página 20, naquela época o único que fazia oposição.

Cameli e Binho têm ascendência árabe, mas Binho não é Cameli.

SUPOSTO ABUSO SEXUAL NAS ALDEIAS

Joaquim Tashka Yawanawa



Cheguei ontem de uma viagem à Terra Indígena do Rio Gregório, acompanhado de amigos ingleses que foram visitar o povo Yawanawa. O clima na aldeia era de muita comida, muita festa e muita alegria. Meus amigos ficaram encantados com a energia contagiante do povo Yawanawa. Inauguramos o novo shuvo (casa tradicional) na aldeia do Mutum, uma construção incrível, de fazer inveja a qualquer construção moderna.


Depois de uma noite de uni (ayahuasca), dançando e cantando até o amanhecer, tomamos o barco para vir até São Vicente, onde pegamos um carro até Cruzeiro do Sul e de lá retornamos de avião para Rio Branco, onde tínhamos pré agendado várias reuniões.

Atravessando a balsa de Rodrigues Alves, encontrei o Flávio Contanawa, que me contou que o Francisco Pianko, atual assessor indígena do governo do Estado do Acre, estava sendo acusado na imprensa de abuso sexual de jovens yawanawa. Ouvindo isso do Flávio, fiquei muito triste, senti uma energia muito ruim, das muitas vezes que atravessei o Rio Juruá para ir e vir da aldeia. Nunca tinha atravessado o Rio Juruá com tanta tristeza.

Perguntei a mim mesmo, onde está a ética da política? Até que ponto o movimento indígena chegou? Sempre me mantive margem do movimento indígena, na entrelinha, para acompanhar o processo de mudanças que o mesmo atravessa. Sempre me posicionei a favor de um movimento indígena unificado.

No caminho para Cruzeiro do Sul, fiquei pensando nos rumores que tinha ouvido antes de viajar para a aldeia. A minha tristeza se deu por conta de que, enquanto a comunidade está vivendo um novo momento de reorganização, depois de passar por um ano todo de reorganizações das divisões internas, quando começa a aparecer uma luz no fim do túnel, aparecem novos problemas para tirar a paz e o silêncio das aldeias.

Chegando em Cruzeiro do Sul, tinha muitas mensagens no telefone, todos pedindo uma resposta urgente para saber se os yawanawá estavam sabendo do que estava acontecendo.

Acabou a tranqüilidade e me dei conta de que já estava na cidade, envolvido num redemoinho do qual não fazia parte, nem tampouco fui chamado. No entanto, como envolvia o povo yawanawa, me senti na obrigação de me pronunciar em nome das cino aldeias que a Associação Sociocultural Yawanawa representa.

Chegando na minha casa em Rio Branco, procurei me informar do que estava sendo noticiado pela imprensa. Para minha surpresa e decepção, o povo yawanawa era o alvo da atenção quanto a denúncia feita no Ministério Público Federal sobre o suposto abuso de nossas jovens pelo Assessor Indígena do Governo do Acre. Como já estamos arrolados num processo público sem saber, tenho o seguinte a esclarecer:

- As denúncias apresentadas não partiram do povo yawanawa e tampouco de um de seus representantes. A denúncia não partiu da aldeia. O povo yawanawa não está envolvido neste imbróglio. Lamento profundamente que o nome de nosso povo esteja envolvido num processo do qual não fazemos parte.

- Quanto `s meninas envolvidas no caso, os familiares das meninas nunca foram contatados para que seja ouvidos, para que se possa verificar a veracidade do caso. Hoje comunicamos isto à comunidade e criou-se uma grande revolta interna por causa da denúncia. Estamos trabalhando para acalmar os ânimos nas aldeias.

- Quanto à omissão do governo no caso da denúncias das lideranças, não tem fundamento e não é verdade. A única vez que as lideranças yawanawa se reuniram com a equipe do governo, no qual estava presente Fábio Vaz, Carlos Alberto e Edigar de Deus, foi uma reunião solicitada por mim e prontamente atendida por eles. Fomos recebidos com a devida atenção e respeito e tivemos nossas reivindicações atendidas e tratamos de assunto de interesse do povo yawanawa. Em nenhum momento tratamos de denúncia contra o Assessor Indígena.

- Não estamos aqui defendendo o assessor indígena e o governo, apenas estamos esclarecendo os fatos reais, pois temos visto no noticiário rumores que não condizem com o que está acontecendo nas aldeias. Acho precipitação da mídia local emitir opiniões, julgar ou até condenar sem que antes seja apurada a veracidade dos fatos.

- Nestes últimos anos tenho feito duras criticas ao assessor indígena por ele não saber lidar com a política indígena, de ele usar as facilidades, a confiança e o poder que ele tem dentro do governo para desestruturar o movimento indígena. Sempre fui e sempre serei um defensor de uma política de autonomia do movimento indígena, que resguarde os direitos dos povos indígena.

- Mantenho posição pelo afastamento do assessor indígena, porque considero que que Francisco Pianko não tem capacidade nenhuma de articulação e diálogo para possibilitar aproximação do governo com as lideranças indígenas. Vou continuar defendendo a mudança na Assessoria Indígena, vou continuar defendendo uma política que atenda os interesses dos povos indígenas do Acre. Não sou aliado do Francisco, nem tampouco estou defendendo ele de qualquer arbitrariedade que possa ter cometido sem o nosso conhecimento em nossas aldeias. Mas no meu entendimento as nossas diferenças não podem permitir que injustiças sejam cometidas. Por discordar do Francisco, não posso permitir que ele ou quem quer que seja, seja injustiçado.

Agora que a denúncia foi feito, cabe a apuração para que o Ministério Público Federal e a Justiça possam verificar os fatos. Não queremos encobrir nenhuma injustiça que esteja acontecendo na aldeia ou em qualquer lugar. Não compactuo com nenhum tipo de injustiça, no entanto, temos nossos próprios meios de nos defender. Estamos à disposição da Justiça para cooperar no que for necessário para esclarecer essa história triste.

Pedimos respeito ao povo Yawanawa. Paz e harmonia a todos.

Joaquim Tashka Yawanawa é liderança do povo yawanawa e coordendor da Associação Sociocultural Yawanawa. Saiba mais sobre a etnia yawnawa no blog Awena.

sexta-feira, 20 de março de 2009

BINHO FALA GROSSO

Do do site O Estado do Acre:

"O governador Binho Marques saiu hoje em defesa do seu assessor para Assuntos Indígenas, Francisco Pianko, que está sendo alvo de investigação no Ministério Público Federal sob a acusação de abusos sexuais em aldeias, garantindo que não o demitirá do cargo.

-Eu não vou afastá-lo do cargo - disse para uma platéia da Frente Popular em silêncio sepulcral.

Binho aproveitou para reafirmar que não é candidato "a nada" depois de cumprir o seu mandato, mas fez questão de ressaltar sobre quem manda no governo.

-Não sou candidato a nada, mas o Acre tem governo - enfatizou.

Sobrou ainda para a imprensa, os "pseudo-jornalistas" [falsos aliados], para setores do judiciário e do MP que, para o governador, querem "apenas holofotes".

-Estão com saudades do tempo da roubalheira. No Acre de hoje, os empresários estão ganhando muito dinheiro, mas de forma decente. Ninguém no meu governo ganha dinheiro com corrupção - afirmou.

Binho Marques disse que embora a ocasião fosse para estar alegre, ele estava "triste". O discurso do governo deve repercutir por todo o final de semana.

Começou hoje o segundo período do mandato de Binho Marques."

DECRETO DE ALAN GARCIA

O presidente Alan Garcia, do Peru, assinou nesta quarta-feira, 18, um decreto que suspende novas autorizações para exploração mineral na região de Madre de Dios até o dia 31 de dezembro de 2010. Esse é o prazo que Garcia julga necessário para consolidar medidas corretivas que adotem a recuperação gradual das áreas impactadas.

A decisão do governo peruano aconteceu um dia após o Blog da Amazônia revelar os danos ambientais decorrentes do garimpo de ouro no Rio Guacamayo, no trecho situado na altura do Km 100 da Estrada Interoceânica, que liga o Brasil ao Peru, contando de Puerto Maldonado em direção a Cusco.

No “Decreto Supremo” Garcia reconhece que a exploração mineral na Amazônia Peruana, precisamente em Madre de Dios, ocorre sem critério técnico, gerando sério impactos ambientais e contaminação dos recursos hídricos e terrenos por manejo inadequado de mercúrio.

Leia mais no Blog da Amazônia.

É O FIM DA PICADA

Rio Branco, a capital do Acre, que ousa concorrer para sediar jogos da Copa do Mundo em 2014, está sem energia elétrica há mais de meia hora. Imaginem uma partida de futebol tendo que ser interrompida por falta de energia elétrica na city.

E ainda tem gente do governo estadual que tem a cara-de-pau de afirmar que aqui sobra energia. Assim fica difícil o Acre se transformar no melhor lugar para se viver na Amazônia até 2010, conforme prometido pelo governador Binho Marques.

Quem telefona para o 0800 da Eletroacre ouve daquela voz estridente:

- Neste momento, todas as linhas do serviço solicitado estão ocupadas.

Vou mudar para Jordão, a Pasárgada da florestania.

JARBAS PASSARINHO E A AMAZÔNIA

TEXTO: CLÁUDIO LEAL
FOTOS: PAULO SANTOS/Interfoto


O coronel reformado do Exército e ex-ministro da Justiça Jarbas Passarinho, 88 anos, remexe a ironia ao reclamar das dores na perna:

- Meus problemas estão todos na esquerda…

Na lista médica, além da perna, inclui ainda o joelho e o ombro esquerdos. Quando vai à fisioterapia no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, comete a delicadeza de informar:

- Doutor, não pergunte onde é. Procure na esquerda que acha!

Dados para uma teoria da predestinação ideológica. No futebol, em sua tenra juventude paraense, Passarinho era lateral… direito.

- No tempo em que eram cinco atacantes - acrescenta.

Recuemos para seu primeiro jogo na escola militar, em 1941. Um trombaço tira do eixo o futuro ministro de três governos militares. Dura dividida.

- Me arrebentaram numa disputa com a bola. Arrebentei o joelho, os ligamentos e o famoso menisco. Atrofiei um pouco a perna esquerda, mas depois recuperei. Não ficou igual. Agora que está tudo fora da garantia, tem que aguentar.

Outra dor, não exatamente física, o mobiliza nos últimos meses. Guarda em seu arquivo, “prontinho”, um livro sobre a Amazônia. Mas não consegue publicá-lo. A editora UniverCidade, do Rio de Janeiro, acertou a edição no ano passado.

- Com a crise financeira, houve um recuo. Não tenho meios financeiros para bancar - diz o ex-ministro.

Nascido em Xapuri (AC) e criado no Pará, onde foi governador durante a ditadura (1964-1966), Passarinho ocupou o Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia e realizou inúmeras viagens à fronteira.

Tornou-se um dos ideólogos da ocupação amazônica. Levou essa carga de experiência às páginas datilografadas em sua máquina Olivetti (mais tarde, transferidas para o computador). Por sugestão da primeira editora, definiu como título: “Planetarização da Amazônia?”.

- Tive o cuidado total de não ser faccioso. Coloquei fatos para serem julgados com dados concretos. Não sei se vou conseguir ainda em minha vida publicar esse livro.

Em entrevista ao Blog da Amazônia, Jarbas Passarinho oferece “um resumo apaixonado”. No cerne da obra, a tese de que a maior ameaça à soberania nacional, na Amazônia, é o “vazio militar”.

Ontem, por dez votos a um, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram pela legalidade da demarcação de forma contínua da reserva indígena Raposa/Serra do Sol e determinaram a retirada de não-índios.

- Eles [os militares] acham que, a partir do momento que há linha contínua [na demarcação de terras indígenas], e ela passa da fronteira, a soberania do Brasil está atingida. Não está, não. Eu digo que a defesa está atingida pelo vazio militar.

Essa ideia reduziu “seu Ibope” no meio verde-oliva, brinca. Mas sustenta a argumentação com um exemplo:

- Nós temos outras demarcações, de índios também, mas garantidas, porque são áreas do Sul do Brasil onde a presença militar é forte.

As imagens que ilustram essa reportagem são de um ensaio do fotógrafo Paulo Santos. Confira os principais trechos da conversa no Blog da Amazônia.



ACRI

Comentário do leitor Walmir Lopes:

"Si insistirim im quirir mi chamar di acriano, daqui pra frinti passarii a iscrivir ixataminti assim, nigando-mi catigoricaminti a grafar i pronunciar a litra qui quirim surrupiar di miu Acri. Ora mirda! Intindiram?"

quinta-feira, 19 de março de 2009

COBRA NÃO TEM MEDO DE BLOGUEIRO


Pelo tamanho da pança, fácil deduzir que comeu algumas víboras, desceu do telhado e veio até a porta me observar, às 23h43, a pouco mais de um metro de minha mesa.


Aproximou-se demais e tive que levantar pensando que queria a cadeira.


Como percebi que não conseguiria subir na cadeira, convidei-a para blogar. Ela aceitou.


E parecia ter gostado do confortante calor do teclado.


Percoreu o monitor, como se quisesse mergulhar na virtualidade.


E se afastou sem dizer adeus. Devolvi-a ao teto da varanda, onde observa os visitantes e se alimenta das víboras que rondam a luz a procura de insetos.

NÃO É BAGDÁ


O antigo Mercado dos Colonos, no centro de Rio Branco, foi desocupado no ano passado para ser revitalizado. Clique na imagem.

quarta-feira, 18 de março de 2009

OS CÃES PASSAM E A CARAVANA LADRA

Leila Jalul

Por motivos de força maior, felizmente uma virose nas aéreas superiores, fiquei a ver a roda do mundo girando, girando, girando, até entontecer. E, pior, entontecer sem uma única latinha da minha preferida. Já está passando e nem ladrei.

Comecei por ver o excomungador do futuro, reacionário, estúpido e malfazejo lá das bandas de Recife e Olinda. Mais um vexame da apostólica romana, despreparada, obtusa e de viseiras para a o desenvolvimento do mundo. Também pudera, seu já muito reduzido cast engloba uma porção significativa de praticantes de sexos com anjos, aqui e alhures.

Acentuando mais ainda a grande hipocrisia, lá se vai o grande mentecapto e ariano da nada Santa Sé declarar, em plena África, que o uso de camisinhas, ao contrario de evitar a contaminação da AIDS, provoca efeitos mais nocivos. Penso eu que esta prosaica declaração é resultante de pesquisas realizadas nos porões do Vaticano. Ciência sagrada, pois. Ciência sem probabilidade de erros, pois.

Felizmente a igreja católica está em vias da bancarrota. Não me causa dó. Louvo as baleias, os peixes-bois e as araras azuis. Se elas forem salvas me darei por feliz.

Ainda no repouso da afonia descubro, aqui onde moro, uma penca de pastores evangélicos que inventaram o trízimo. Não é mais dízimo. É trintão por cento do que a classe pobre e ignóbil está pagando para alimentar o condutor de ovelhas das burras e inocentes almas. Estelionatários da fé. O difícil é escolher entre o excomungador e teólogo que faz apologia do atraso da ciência e o cobrador do trízimo. Que o fogo do inferno lhes seja suave.

Hoje, já com um pouco mais de voz, nariz desentupido, leio, releio e vejo e revejo o vídeo gravado com um desabafo do meu velho amigo Abrahim Maluf Farhat, mais conhecido por Brachula ou Lhé. O meu querido Lhé, cujo único pecado é ser primo do Paulo Maluf, está albinizado pelo vitiligo.

É um lutador da causa palestina e das causas acreanas. Parece uma figurinha folclórica, jeitão de andarilho, alpercatas nos pés, quase sempre de branco. Às vezes gozado pelos intelectualóides, Lhé carrega em seu peito a vontade de ver justiça nos bairros, nas esquinas, nas ruas. Um mundo azul, digamos assim.


Amigo de Lula desde que o PT era PT, está desiludido com as mudanças de rotas. Lhé esqueceu de mudar junto, daí a desilusão. Embora não admita que o poder já corrompeu o que ele achava incorruptível, espero que Lhé passe a entender que os puristas são maçãs podres e dispensáveis na nova era.

Que sonhe com o tempo passado, de lutas e passeatas, prisões e mortes, sem perder o prumo e a constatação que o PT não é mais aquele PT e, embora com quase 30 anos, está eivado de vícios seculares, tanto quanto os outros, ou até mais. A palavra de ordem agora é outra. Os quadros novos anularam os que abriram caminhos.

Acho que foi Ruy Barbosa quem falou a seguinte frase: burro é quem pretende se manter estático diante de um mundo de constantes renovações (mais ou menos isso). Que Lhé se renove pode até ser necessário, desde que não absorva e saboreie carniças junto com os abutres.

Há gente boa no meio dessa revoada de jacus. Se tiverem inteligência, podem e devem prestar uma atençãozinha aos reclamos, resmungos, denúncias e críticas destacadas pelo velho companheiro Lhé.

Agora vou comer meu pão sírio com azeite extra virgem, zata e dois dentes de alho. Só para lembrar do Lhé e ajudar na cura da virose. E ademã que eu vou em frente. A semana foi cheia, os cães estão passando e a caravana ladrando.

Leila Jalul é cronista acreana

ACREANOS DOS PÉS RACHADOS

Perpétua Almeida

Também estou muito incomodada com esta coisa do acriano ou acriana. Nós somos acreanos e acreanas, ora bolas. Já brigamos para sermos todos brasileiros. A resistência está no nosso sangue. E, acredito, vamos resistir a mais uma.

Estou surpresa com o espírito de passividade que tomou conta de muitos acreanos em não se incomodarem em escrever que são acrianos.

Mas vamos aos fatos: provocada pelo jornalista Altino Machado, já fiz vários contatos para ver de onde deve ser o nosso ponto de partida para manter as nossas raízes, nossa identidade, nossa história, nossa tradição, nossa acreanidade.

Já falei com o profesro Clodomir Monteiro, da Academia Acreana de Letras, com o Aníbal Dinzi, assessor do governador Binho Marques, e com o presidente da Assembléia Legislativa, com o jornalista Sílvio Martinelo, com o cronista Toinho Alves, entre outros. Com todos argumentei da necessidade de buscarmos as alternativas possíveis para continuarmos sendo acreanos.

Aqui na Câmara, já tem uma pessoa da assessoria que pedi para estudar nossas alternativas.

Fiz contato com a Academia Brasileira de Letras, com sede no Rio. Estou pedindo uma audiência para depois da Semana Santa. O ideal é ir uma boa delegação de representantes do Acre, se for o caso, para que nossos estudiosos da área sejam ouvidos. Isso porque fui informada que a Academia Brasileira de Letras ficou responsável para ouvir os reclames no Brasil relativos ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Acho importante que possamos desenvolver, sim, essa campanha na internet, até para termos uma noção se o caminho é esse mesmo. É importante sabermos a opinião do máximo de pessoas possíveis.

Vamos tocar pra frente como acreanos e acreanas dos pés rachados.

Perpétua Almeida é deputada federal pelo PC do B. Na próxima semana, por iniciativa do presidente da Assembléia Legislativa, deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), será anunciado um ato da Mesa Diretora pela manutenção nos documentos oficiais da casa dos gentílicos acreano e acreana e não acriano ou acriana, contrariando a recomendação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Magalhães espera contar com a adesão do Executivo e do Judiciário. Certa vez rodaram a baiana por causa de uma reforma ortográfica e por isso a Bahia continua com "H".

Leia mais:
Acreano vira acriano
Sem acordo

Ser acriano ou não ser acreano

AOS INDÍGENAS E À SOCIEDADE DO ACRE

Francisco Pianko

Desde que assumi a Secretaria dos Povos Indígenas do Acre em fevereiro de 2003, no segundo mandato do governador Jorge Viana, e depois a Assessoria Especial dos Povos indígenas, na atual administração do governador Binho Marques, sempre tive a oposição de algumas pessoas ou grupos contrários às políticas publicas que colocamos em prática com o objetivo de acabar com o assistencialismo e a dependência reinantes no passado.

Um dos aspectos importantes da nossa política foi a descentralização das ações e das decisões, que deixaram de passar pelo crivo das entidades intermediárias e passaram a acontecer diretamente com as comunidades. As entidades eram e continuam sendo respeitadas, mas enquanto organismos representativos com missões definidas, de acordo com as deliberações das comunidades.

Nesse processo, as comunidades passaram a gerir seus próprios projetos, abrindo espaço para o surgimento de novas lideranças em praticamente todas as aldeias indígenas do Acre.

Isso desagradou fortemente algumas pessoas que se diziam lideranças indígenas, a maioria delas há muitos anos distante das aldeias, que queriam manter o controle da política e dos projetos destinados às comunidades.

Não encontrando o mesmo espaço de antes, essas falsas lideranças, que acabaram com a credibilidade e levaram importantes entidades à falência, como a UNI e outras, começaram a me atacar e me acusar de estar fazendo uma política de enfraquecimento do movimento.

Essas acusações de ordem política não encontraram ressonância nas comunidades, que estão cada vez mais organizadas, lutando pelo fortalecimento das suas identidades e dispostas a conduzir seus próprios destinos.

Agora, num ato criminoso de total irresponsabilidade, essas pessoas, tendo a frente a advogada Joana Dárc e a Sra. Letícia Luiza Yauanauá, que se opõe desde o início à minha presença na Assessoria Especial dos Povos Indígenas, chegaram ao extremo de levantar falsas denúncias de ordem pessoal contra mim, com o objetivo de me indispor com as comunidades indígenas e também com a sociedade acreana da qual também faço parte.

Fui espontaneamente ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal para dizer que essas denúncias não têm qualquer fundo de verdade e que sou o primeiro a exigir a máxima rapidez na apuração, para que eu possa processar cada uma das pessoas que estão me caluniando e injuriando perante a sociedade.

Lamento ainda mais que uma denúncia vazia, que nem sequer foi investigada pelas autoridades, seja tornada pública em forma de julgamento prévio, causando prejuízo irreparável à minha imagem e tamanho transtorno frente à minha família, ao meu povo e à sociedade.

Sou inocente dessas acusações absurdas e a prova disso é que sempre viajo para as aldeias acompanhado por uma equipe de trabalho, que pode falar sobre a agenda que cumprimos nos nossos deslocamentos.

Espero confiante na justiça!

Francisco Pianko é Assessor Especial para Assuntos Indígenas do Governo do Acre. A nota de esclarecimento é uma resposta às acusações, publicadas no site AC 24 Horas, segundo as quais Pianko teria cometido abuso sexual (leia) em aldeias indígenas. O site publicou erroneamente a foto do índio Benke (irmão de Francisco) como sendo do assessor do governador Binho Marques. Atualização às 18h10: a foto de Benke foi suprimida após a publicação desta nota.