sexta-feira, 22 de junho de 2007

NA VANGUARDA DA PQP

Menino, vai dar água pros bois!

Antonio Alves


O engenheiro agrônomo Judson Valentim, um dos mais dedicados pesquisadores da Embrapa que, há duas décadas vem estudando alternativas tecnológicas para a pecuária no Acre, publicou um artigo no blog do Altino em que expressa suas esperanças com a chegada do mega-abatedouro Bertin Ltda. Não para responder ao Judson, que é gente boa, mas para demonstrar meu cansaço com toda essa onda desenvolvimentista, postei lá um comentário mal-educado que o Altino colocou na página principal. Repito aqui o que escrevi:

E a minha esperança é que todo esse gado morra e seja comido pelos urubus. E também que os "pequenos produtores" percebam que a floresta é uma "poupança" muito melhor para o futuro de seus filhos, netos, bisnetos e tataranetos.

Talvez o Mário Lima, que é professor de economia, possa escrever algo mais respeitável. De minha parte, estou apelando para a ignorância. Acontece que estou de saco cheio da economia, da sociologia, da política, do crescimento, do desenvolvimento, do escambau. E estou impressionado com a facilidade com que aceitamos o capitalismo como se fosse uma lei imutável da natureza.

Querem um exemplo? Ninguém, na cidade de Rio Branco, esboça um protesto conta a privatização da água potável. Só as famílias mais pobres bebem a água do Saerb, uma espécie de cloreto de merda que sai do poluído rio Acre e percorre toda a cidade em canos furados até pingar nas torneiras das casas. Do poço não dá pra beber, todo o lençol freático está contaminado, assim como os igarapés, pelos dejetos do favelão que é a cidade. Resultado: a maioria compra água para beber e cozinhar. Falta água? Liga para a distribuidora, vai ao supermercado ou ao posto de gasolina mais próximo. Compra. É tão natural, ninguém sente qualquer estranheza.

(Antes que digam que estou brigando com a Prefeitura ou o Saerb, vou esclarecendo: não estou. Os governantes atuais tem apenas a culpa de manter, sem grandes mudanças, um sistema de “saneamento” que herdaram dos governos anteriores, as ETAs, cogumelos e canos do PMDB e PDS.)

Daqui a uns dias virá “investir no Acre” uma grande empresa de vender ar engarrafado. Nos meses de agosto e setembro, quando pequenos e grandes “produtores” cobrem a Amazônia com um manto de fumaça, a venda de ar engarrafado será um ótimo negócio. Logo alguma firma oferecerá serviço de oxigenação de salas de reunião, e então poderemos respirar ar puro enquanto planejamos as obras de infra-estrutura e os investimentos econômicos que colocarão o Acre em destaque no PAC e na vanguarda da PQP.

Antonio Alves, ideólogo da florestania, é da assessoria do governador Binho Marques. Escreve no blog O Espírito da Coisa. Vale a pena lembrar que resolver o problema de abastecimento de água da capital foi uma das principais promessas do PT.

11 comentários:

Anônimo disse...

Eu também tou puto com isso...

Tomara que os ecologistas morram enforcados nos cipós das capoeiras, que se afoguem nos rios de água pura, que morram queimados nas fogueiras feitas com "cedro e louro-preto".

O buraco para o enterro será cavado na serra do divisor.

Obrigado.

Editor disse...

Já sei, quando o Renan for cassado, quem sabe o Binho não o chama para ser secretário de agricultura e pecuária. Com tanta rentabilidade no ramo não há nome melhor. O Sibá que está com os dias contados no Senado, pode ser assessor especial de Renan na secretaria. Viva os chifres. Queima floresta.

Anônimo disse...

Caro Toinho,

o único PAC que "nóis aceita" é o Programa de Aumento das Cutias.

Gostei do artigo.

Editor disse...

Bom poeta(Toinho),

Vc critica mais não rejeita um bom churrasco de picanha na churrascaria petista. Que tal uma crônica sobre isso na próxima eleição?

Anônimo disse...

Não sei se já repararam, o Antonio Alves é que nem o Arnaldo Jabor, o primeiro (quer dizer, o Toinho é o segundo) opositor a favor, tipo assim rebelde oficial. E o que é bom é sempre do governo que ele em última instância defende e para o qual trabalha; o que é ruim é herança que o governo que ele defende e para o qual trabalha herdou, tadinho. Ó vida, ó azar! Dez anos dessa cantilena. Como é difícil ser equilibrista, digo, ideólogo oficial.

Anônimo disse...

Reforço caro Toinho que os bois moram mesmo.
Muito bom seu artigo.

Anônimo disse...

É, meu caro, muito bonito, discurso maravilhoso, verde.
Só que deixaram acontecer e a chegada do "desenvolvimento" virá como o passar das horas. Queiramos ou não as horas passam e os caras "lá de baixo" virão, com todos os seus prós e contras.
Na verdade já chegaram desde a época do Dantinha...

Anônimo disse...

Que o comentário do Antonio Alves sirva de lição e ensinamento, para os idiotas e malfazejos, que querem destruir o planeta. Para eles dou a seguinte sujestão:
Façam residência em Marte, e lá curtam aquele clima! Quando fizer calor é só ligar o ar condicionado!
Se faltar ar, é só ligar uma mangueira de lá até aqui, que a gente manda um pouco de ar pra amenizar a temperatura. Ok?

Anônimo disse...

Se ficar puto, xingar, baixar o nível, ficar com raiva, etc... acabasse com o capitalismo, desse não teriamos nem a lembrança.Fazendo uma análise mais sociológica e usando a linguagem do Toinho, somente será resolvido esse problema quando aprendermos a peidar sem usar a bunda.

Anônimo disse...

Lendo a coluna do Mainardi, na Veja, sobre o jornalista Elio Gaspari, "a fada Sininho de Lula”, lembrei do Toinho e acho que o mesmo se aplica a ele, infelizmente:

“Quando a bomba dos piratas está para estourar no colo de Lula, providencialmente aparece Elio Gaspari, batendo as asinhas. Ele carrega a bomba para longe e – bum! – estoura junto com ela, sempre pronto a se sacrificar pela Terra do Nunca.”

É só trocar Lula por Jorge ou Binho e pronto, a comparação é perfeita: "Toinho, a fada sininho do Binho".

E não preciso dizer que a Terra do Nunca é o Acre do desenvolvimento sustentável e da florestania, ficções que representam o caminho mais longo e tortuoso para o capitalismo "inevitável" e selvagem de pastos, poços de petróleo e privatizações.

Anônimo disse...

ABAIXO O BOI MANDADO! VIVA O BAGRE!

Admirar-se que o Antonio Alves coma um churrasco na churrascaria do partido tal ou qual, porque questiona, assim como outros idealistas, a validade de algum mega projeto desvairado e inconseqüente a expensas de nossas florestas, é uma atitude no mínimo descabida, considerando a seriedade com que se deve tratar a questão da saúde ambiental. É o mesmo que afirmar que não deve fazer coco aquele que defende um saneamento de qualidade que trate eficazmente nossos dejetos e não polua os rios e lençóis freáticos. Ou que não deve respirar, para não expelir gás carbônico, o que luta para evitar as queimadas e suas conseqüências funestas. Questões sérias não admitem sofismas simplórios, mas discussão saudável e convencimento racional, através de uma argumentação consistente e embasada, sejam contra ou a favor. Não sou político profissional, nem “expert” nas matérias em epígrafe, mas sou acreano da gema, filho de acreana da gema e convivi intimamente com as florestas e os rios acreanos de 40 anos atrás, ou seja, antes da “invasão” sulista através das estradas “integradoras”.
Um mínimo de discernimento já sugere que apesar do sincero desabafo, o autor do texto não é contra projetos, inclusive os agropecuários. Ao contrário, me parece ser a favor, desde que possam ser desenvolvidos e canalizados para conviver harmonicamente com o meio ambiente, sem agredi-lo, distribuindo renda e bem-estar de forma horizontal, alimentando as economias locais com equilíbrio, em conjunto com os projetos extrativistas, de manejo florestal e conservacionistas, entre outros bem conduzidos, utilizando os infinitos recursos renováveis que a floresta oferece e que a grande maioria de nós brasileiros, em especial acreanos, numa espécie de letargia cultural, moral e cívica, se negam a entender, proteger e explorar de forma sensata, quando não agem e não exigem com veemência ações políticas nesse sentido, aceitando calados as políticas de governo, algumas mascaradas de políticas públicas, atendendo antes aos interesses oligárquicos do capital privado, que felizmente com exceções, financia campanhas de “políticos”, assumindo de fato o controle dos mandatos, num círculo infernal, vicioso e secular. Haja vista nosso honorável congresso, onde mal cicatriza uma ferida e a navalha já abre outra.
Mas proteger toda essa riqueza natural de quê, ou de quem, além do sedento capital privado nacional ?
Principalmente contra o fenômeno do capital internacional e sua globalização voraz e volátil, que se materializa e se fixa provisoriamente num local para financiar projetos, que maquiados de sociais ou desenvolvimentistas, escondem habilmente sua verdadeira face predatória até o momento em que, após exaurir os locais onde se fixaram, retiram-se à procura de outro, deixando naqueles, pouquíssimas ilhas de riqueza, cercadas de muitos bolsões de pobreza. Esse fenômeno torna-se mais virulento quando ocorre em locais onde esse capital se consorcia com o capital nacional somado a ambições políticas individuais e/ou coletivas, numa simbiose maligna que multiplica seu poder ofensivo contra o estado onde se instalou, transformando não raro, carreiras políticas até então brilhantes, em verdadeiros “bois mandados” .

Abaixo o boi mandado!

Viva o bagre!