quinta-feira, 30 de junho de 2005

NERVOS DE AÇO


Deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) durante o seu primeiro depoimento na CPI dos Correios em foto de Roberto Stuckert Filho que ilustra a capa do jornal O Globo.

Jefferson teria se ferido ao cair de uma escada quando buscava na estante de seu apartamento um CD de Lupicínio Rodrigues para ouvir a canção "Nervos de Aço":


Você sabe o que é ter um amor, meu senhor

Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor
Nos braços de um outro qualquer
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço
Que nem um pedaço do seu pode ser
Há pessoas de nervos de aço
Sem sangue nas veias e sem coração
Mas não sei se passando o que eu passo
Talvez não lhes venha qualquer reação
Eu não sei se o que trago no peito
É ciúme, despeito, amizade ou horror
Eu só sei é que quando a vejo
Me dá um desejo de morte ou de dor

quarta-feira, 29 de junho de 2005

S.O.S

Tenho um cunhado, o Helter de Oliveira Martins, que descobriu no ano passado que é portador de hepatite C.

Estava sendo submetido a tratamento com interferon, mas as plaquetas do sangue dele despencaram e os médicos não conseguiram estabilizá-las com medicamento.


Como as plaquetas estão relacionadas com o processo de coagulação do sangue e no Acre não existe aparelho para processá-las, o paciente terá que viajar para São Paulo.

A luva do mensalão supostamente paga a um parlamentar apoiador de Lula daria para comprar três desses aparelhos.


Helter corre risco de sofrer hemorragia e morrer a qualquer hora. Esse risco cresce em decorrência da altitude durante uma viagem de avião.

Ele necessita tomar pelo menos cinco bolsas de sangue do tipo "O -" ("o" negativo), que não existe neste momento no Hemocentro do Acre.

As plaquetas que vir a tomar em São Paulo duram no máximo cinco horas no organismo, mas são necessárias para livrá-lo do risco de hemorragia.


É mais um drama dos milhares de portadores de hepatite que padecem no Acre. Quem for doador e quiser socorrê-lo, favor telefonar para 9974 3770 ou enviar e-mail.

Agradeço.

BAIXA NA EXPEDIÇÃO

Paleontólogo Alceu Ranzi está percorrendo as regiões de La Paz, Puno, Juliaca e Arequipa, nas nascentes do Amazonas.

Ele integra a Expedição Andes-Amazonas, que sofreu uma baixa no domingo. Janary de Moraes, coordenador geral da expedição, sofreu um ataque cardiovascular e morreu em Machu-Pichu.

Ranzi chega ao Acre no próximo dia 17, acompanhado de pesquisadores da Finlândia e do museu Emílio Goeldi, para tratar de geoglifos durante 10 dias.

Vale a pena visitar o site da expedição.

terça-feira, 28 de junho de 2005

OLHA O ERRO



Uma peça publicitária como esta acima nunca é publicada por aqui sem que seja apreciada antes ao menos por 10 pessoas. Mas ninguém foi capaz de livrar os leitores dos jornais desse "São pedro".

Relevem a grafia do horário do show, mas a verdade é que o hotel Imperador Galvez, a Prefeitura de Rio Branco e o Governo do Acre não ficaram bem na foto.

Como no Acre todo mundo é publicitário, jornalista ou modelo, continua valendo aquela máxima do saudoso jornalista José Chalub Leite:


- Ninguém vem pro Acre impunemente.

segunda-feira, 27 de junho de 2005

FOME


Faminto, menino de 4 anos deita no chão em centro de caridade da organização Médico sem Fonteiras em Paliang, a cerca de 160 km de Rmbek, no Sudão. Foto da agência Reuters.

domingo, 26 de junho de 2005

PAULO DELGADO



‘A publicidade levou a nossa alma’



Maria Lima


Chamado de embaixador por seu livre trânsito no meio diplomático, o decano da bancada do PT, o mineiro Paulo Delgado, disse ao GLOBO o que pensa dos erros do partido. Para ele, o PT errou na política de coalizão e perdeu a força para fazer as mudanças, exaurindo a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva inutilmente. Delgado ajudou Lula a fundar o PT e foi seu companheiro de bancada na Constituinte. Aos 53 anos, está no quinto mandato. No discurso de posse de José Dirceu na Casa Civil, foi citado pelo então ministro como sua “consciência crítica”. Temendo agravar a crise interna, relutou em dar a entrevista, mas acabou aceitando. Para ele, a saída para o PT é esclarecer tudo. “Só a verdade nos salva.”

O senhor é um dos fundadores do PT. Como analisa agora a quebra desse paradigma da moralidade petista, do sonho de uma geração?

PAULO DELGADO: Entre bombeiros não se pisa na mangueira. O PT pode ter cometido um erro, mas tenho certeza que não cometeu um crime. Nossa história de crítica a tudo quando fomos oposição, considerando nos outros qualquer erro como má-fé ou crime, acabou dando nisso. Os deuses, quando morrem, voltam como doença. Muito do que fizemos era considerado certo mais pelo vigor da decisão do que pelo seu próprio conteúdo. Muitos dos que acusamos foram absolvidos pela Justiça. E hoje, por ironia, o PT precisa — mas parecemos não merecer — do benefício da dúvida. Só a verdade nos salva, porque fica em pé por si só.

Como a crise envolvendo o primeiro governo do PT chegou a esse ponto?

DELGADO:O problema vem desse modelo de gestão, do governo de coalizão que se tornou a característica da Nova República, em que se faz a partilha do Estado entre os partidos aliados. Não faz sentido que a empresa que cuida da correspondência do povo brasileiro (Correios) tenha que ser dirigida por um partido ou que a Petrobras seja dirigida por partidos.

Esse fatiamento do controle das empresas públicas cria os focos de corrupção?

DELGADO: O fator de estabilização do governo não contém os símbolos de mudança para os quais o povo votou no PT. A falta de sintonia entre a estabilidade política e o desejo de mudança é que nos enfiou no sistema que dizíamos combater.

A máquina do governo petista virou uma máquina igual à dos outros partidos?

DELGADO:Não. Temos um certo limite na capacidade de gestão que é uma tradição da esquerda. A esquerda tem mais tradição de tomada de decisão do que de implementação de programas e projetos. Quando você chega ao poder e é obrigado a construir uma base parlamentar que não contém os símbolos de mudança que o elegeram, os fatores de frustração são maiores do que os de admiração. Quando nós não enfrentamos a estrutura fisiológica do Estado, e aceitamos o jogo nesse terreno, o PT perdeu a força para fazer as mudanças. No primeiro ano exaurimos a liderança de Lula sem modernizar o Estado. Pelo contrário.

Quais problemas estruturais foram agravados?

DELGADO:Somos o segundo país do mundo com mais ministérios. Só somos menores que a Índia, que tem 40. Levamos ao extremo o tamanho da máquina da composição política.

Lula não conseguiu vencer essa estrutura?

DELGADO: Deveríamos ter enfrentado como a primeira medida a ser tomada: retirar da composição política a partilha do Estado, enxugar a máquina e ampliar a força do funcionário de carreira. Isso diminuiria os elementos de barganha. Não havia necessidade do pragmatismo da base homogênea, sem compromisso programático.

Qual seria a alternativa?

DELGADO: Se tivéssemos construído uma base social-democrata, de centro-esquerda, certamente teríamos mais capacidade parlamentar.

O que afastou o governo dos partidos de centro-esquerda?

DELGADO:Não havia elemento de barganha, não havia elemento de negociação substantivo na relação com os partidos de princípios, que trabalham com programas de projetos. Nosso governo agravou o deslocamento de poder da política para a economia construindo uma estrutura independente na moeda e no crédito. Hoje o Copom é a velha Sumoc (Superintendência da Moeda e do Crédito) com reuniões mensais. Você imagina uma pessoa fazendo exame de sangue todo mês? Ou é para lucro do laboratório ou o sujeito está doente mesmo.

Esse poder paralelo da equipe econômica gerou mais um foco de atrito na base?

DELGADO:Atrito e frustrações. Enquanto a variável de ajuste da economia forem os juros e não o crescimento econômico, não tem fator de ampliação da base do governo para os setores mais progressistas. Os setores mais progressistas estão fora do processo de gestão do Estado. Como o Congresso precisava continuar funcionando, era preferível buscar no Congresso alianças domesticáveis, que não estivessem interessadas nos programas de governo.

Mas interessadas em nomeação e cargos?

DELGADO:Isso. Nosso governo tem uma característica antiparlamentar. Está sempre incomodado de sofrer influência do Parlamento. Não quer dialogar, quer pontificar sobre o Parlamento. Tem uma compreensão insuficiente da harmonia e da independência dos Poderes.

A falta de apetite do presidente Lula para negociar com o Parlamento agravou a crise?

DELGADO: A publicidade levou a nossa alma. O PT e o governo imaginaram que, isolando a economia da política, bastava entregar a política à publicidade. A partir da idéia de que a publicidade ostensivamente vai se imiscuindo em tudo, em estar explicando e justificando tudo, também criou uma ilusão no governo, de que bastava divulgar como positivo que seria visto como positivo. A publicidade na democracia também tem de ser objeto de fiscalização. O PT viveu isso desde o início. O guardião da virtude tem de ser virtuoso.

Desrespeitar essa máxima provocou a crise de credibilidade do PT?

DELGADO: Esse é o princípio que deve reger a política de um partido de esquerda , um partido popular . O PT era o crítico feroz do comportamento dos outros, ele tinha que ter o mais austero dos comportamentos.

Faltou austeridade no PT governo?

DELGADO:Eu diria o seguinte: é difícil compreender que o censor passa a ser censurado. Que o guardião da virtude não seja virtuoso. Isso voltou como doença, como disse lá atrás. Não sei se o povo se voltou contra o PT. Será?

O que o senhor acha bom para o Brasil, um líder carismático ou um profissional?

DELGADO: O presidente Lula, com essa reforma, pode mostrar que quer ampliar a força dos profissionais no seu governo.

Para isso ele tem que se distanciar mais do PT?

DELGADO: Um outro fator de surpresa em alguns casos é essa fragilidade doutrinária e teórica do PT que apareceu no governo. Ficamos conhecidos como o partido das grandes formulações, dos grandes projetos. Não tem sentido nós não conseguirmos formular de maneira adequada os desafios.

O senhor criticou os que voltaram a falar em luta armada e ditadura. O senhor vê clima de conspiração e golpe?

DELGADO: A luta pela redemocratização foi feita predominantemente pelos brasileiros que não pegaram em armas. Então não devemos querer criar uma casta especial dos que pegaram em armas, até porque o símbolo é negativo hoje. O lema que o PT deve defender para a América Latina é mais democracia. E na democracia é mais importante responder do que reagir. O PT tem de esclarecer e responder a tudo o que está ocorrendo. Não cabe o discurso da conspiração e do golpe.

O que o senhor diz nas ruas para defender o que Lula defendeu em quatro campanhas?

DELGADO:Que é preciso preservar a verdade dos fatos, saber distinguir fato e notícia. Reconhecer o problema. A honra é a visão que o outro tem de você. Se o PT está sendo visto assim, tem que admitir que está sendo visto assim. Essa crise fere mais o petismo do que os petistas.

A volta do discurso belicoso, das galeras do deputado Chico Vigilante no retorno de José Dirceu à Câmara, não atrapalha ainda mais?

DELGADO: Não é o momento de claque e confronto. Nenhuma atitude conflitiva permite melhorar a reflexão sobre o que ocorre. Tem que aguardar o que vai acontecer. Confiar nas instituições, evitar manipulações e depois pensar como o Barão de Itararé: “Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades”.

Fonte: O Globo

sábado, 25 de junho de 2005

INTEROCEÂNICA

Empresas do Brasil ganham licitação para construir Interoceânica

Lima,(EFE).- Um consórcio brasileiro e outros dois integrados por empresas do Brasil e do Peru venceram na quinta-feira a licitação para construir três de cinco trechos da estrada Interoceânica, que ligará os dois países, informou uma fonte oficial.

Os três trechos licitados ficam no sul do Peru.

O consórcio brasileiro Intersur, integrado pelas empreiteiras Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, construirá a estrada entre Inambari e Azángaro, de 305 quilômetros, no sul do Peru.

A empresa estatal Pró Inversión informou que o consórcio brasileiro receberá um pagamento anual de US$ 25,449 milhões e US$ 4,683 milhões para manutenção.

A construção da estrada entre Inambari e Iñapari, de 403 quilômetros, ficará a cargo do consórcio Concesionario Interoceánica Inambari-Iñapari, formado pela subsidiária peruana da empresa brasileira Odebrecht, e pelas empreiteiras G y M, JJC, Ingenieros Civiles e Contratistas Generales.

O grupo receberá US$ 40,6 milhões de pagamento anual e US$ 5,9 milhões para por manutenção de obras.

Essas mesmas empresas formaram o consórcio Concesionario Interoceánica Urcos-Inambari e venceram a concorrência para construir o terceiro trecho, entre essas duas cidades, que tem 300 quilômetros.

O consórcio receberá para esse serviço US$ 31,8 milhões de pagamento anual e US$ 4,7 milhões para manutenção.

A cerimônia de anúncio dos vencedores da licitação foi realizada no porto de Ilo, ao sul de Lima, com a presença do presidente do Peru, Alejandro Toledo.

"Este sonho começa a se tornar realidade, começa com o esforço de todos", afirmou o presidente sobre a construção da estrada, que permitirá aos brasileiros que enviem seus produtos para as nações da Ásia pelo Pacífico e ao Peru que tenha acesso ao Atlântico.

Toledo destacou que a estrada beneficiará mais de 5 milhões de pessoas que vivem em 11 departamentos do sul do país, pois dinamizará a economia e o comércio da região.

A estrada Interoceânica tem extensão total de 2.600 quilômetros e ainda falta construir 1.100 quilômetros em território peruano. A construção da estrada terá um custo total de 700 milhões de dólares, dos quais 60% serão financiados pelo Brasil.

ESTRADA DO PACÍFICO

Andrade Gutierrez e Odebrecht farão estradas no Peru


LIMA. Dois consórcios brasileiros, liderados pelas empreiteiras Norberto Odebrecht e Andrade Gutierrez, venceram na quinta-feira uma licitação de US$ 810 milhões para construir e operar, por 25 anos, a parte peruana do projeto rodoviário que ligará Peru e Brasil, a chamada Rodovia do Pacífico.

A estrada de 1.200 quilômetros vai ligar Assis, no Acre, aos portos de Ilo, Matarani e Marcona, no Sul do Peru. O projeto é financiado pelos governos dos dois países e pela empresa de desenvolvimento andina.

O consórcio liderado pela Odebrecht, com as peruanas Grana y Montero, JJC Contratistas Generales e Inginieros Civiles y Contratistas Generales, vai construir 703 quilômetros entre as cidades de Urcos, Inambari e Inapari, no Peru, ao custo de US$ 595,4 milhões. Já o grupo de Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Camargo Correa ficará com 306 quilômetros entre Inambari e Azangaro, ao custo de US$ 215 milhões.

Fonte: O Globo

sexta-feira, 24 de junho de 2005

ISTO É MARINA SILVA


Fera ferida
Depois de uma sucessão de derrotas,
Marina Silva se esforça para mostrar
que o governo Lula também teve
avanços na política ambiental


Aziz Filho

Na Amazônia vive um terço das espécies do planeta. Um dos bichos que despertam mais a afeição dos povos da floresta é o gato maracajá, ameaçado de extinção pelo mercado de casacos de pele. “É menor do que uma onça, mas é tão ágil que a onça nunca consegue pegá-lo no pulo. É o meu preferido”, diz a ministra Marina Silva, que desperta na cidadania amazônica admiração semelhante à que nutre pelo gato-do-mato. Escalada para o Ministério do Meio Ambiente como ícone dos ecologistas, a miúda Marina, 47 anos, amarga dias difíceis na selva de Brasília. O corpo frágil, danificado por cinco malárias, duas hepatites e uma leishmaniose, parece incapaz de suportar um dos cargos mais espinhosos da República. A escassez de verbas, a visão de desenvolvimento como sinônimo de chaminés e uma sucessão de derrotas emblemáticas fustigam a herdeira política de Chico Mendes. Um de seus desafios é convencer o País de que coleciona conquistas, imperceptíveis aos que esperavam ações espetaculares da “Senadora da Floresta”. Outro é ter fôlego para saltar, como o gato maracajá, na jugular dos predadores da selva à qual dedica a vida.

Depois de perder a batalha da Lei de Biossegurança, que liberou os
transgênicos, engolir a importação de pneus usados do Mercosul e anunciar o segundo recorde de desmatamento da Amazônia, Marina se viu forçada a mostrar as garras, alterando o semblante sereno. Partiu para o ataque quando a Polícia Federal anunciou a prisão de 127 acusados de integrar uma quadrilha que falsificava licenças para desmatamento, 47 deles de dentro do órgão federal de fiscalização, o Ibama. Apoiada sobre uma elegante bengala que ganhou de seu médico, Aloysio Campos da Paz, Marina tem subido em palanques para trocar o sorriso tímido por gritos de guerra.

“Cortamos a cabeça de um sistema criminoso de 14 anos, e quando você corta a cabeça de uma serpente ela balança o rabo violentamente”, esbraveja. O discurso em defesa da mata não livra nem os ouvintes que a reverenciam sob o sol, a poeira e a secura do cerrado: “Às vezes a gente nem imagina que pode estar comendo em uma mesa de madeira manchada pelo sangue de alguém.” A respiração parece difícil, a voz é fina e as artérias inflam para que as palavras saiam fortes. Tira até o xale – tem mais de 30 deles – que lhe protege o colo das viroses e do frio que sente longe das temperaturas acreanas. Antes de voltar para o apartamento do Senado no qual mora com o marido e os quatro filhos, ela enfrenta o batalhão de repórteres. E repete que, “pela primeira vez na história deste país”, seu Ministério ganhou o poder de interferir nos projetos de desenvolvimento, das rodovias aos leilões de petróleo. É a tal “transversalidade”.

Chico Mendes – “A transversalidade não emplacou porque não depende só dela. Ninguém viu o Ministério da Agricultura esboçar recuo”, relativiza Adriana Ramos, coordenadora da ONG Instituto Socioambiental. Para ela, a projeção de Marina serve de pára-choques para as críticas ao governo – ou um enfeite, como os casacos de pele que ameaçam o gato maracajá. Outra ONG que sempre reverenciou a Senadora da Floresta, mas discorda de seu discurso de realizações, é o Greenpeace. Para seu diretor executivo, Frank Guggenheim, “a transversalidade não acontece”. Ele cita a derrota para a ideologia do “crescimento acima de tudo”, como definiu o jornal New York Times ao elogiar Marina e criticar o governo pelos desastres ambientais. Guggenheim aponta uma “decepção generalizada” com a política ambiental, a mesma que serviu de pretexto para o rompimento dos sete deputados do PV com o governo, em maio, após o balanço do desmatamento da Amazônia.

A lealdade a Lula está em todos os discursos de Marina Silva. “Lula ia para o Acre há 25 anos, quando a gente não juntava nem 30 pessoas para ouvi-lo. Quando o Chico Mendes foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional, ele estava junto. E deu espaço para eu lutar por minha causa.” A profusão de números e argumentos para provar que o governo avança na proteção ao meio ambiente cede vez à emoção quando ela aponta para uma foto de Chico Mendes. “Se o Chico fosse vivo, não ia acreditar que estamos fazendo empate com o Exército, a polícia e tantas estruturas do Estado. Empatávamos com os madeireiros levando velhos e crianças para proteger as árvores”, compara, voz embargada e olhos marejados. “Choro, sim. Não sou uma dama de ferro, sou de carne e osso muito frágeis. Só choro quando vale a pena”, diz.

Seguidora da Assembléia de Deus há oito anos, Marina não sai de casa nem do gabinete sem a Bíblia. A conversão religiosa de quem na juventude sonhou ser freira se deu em um momento de grave problema de saúde. Sobre qual o momento mais difícil de uma vida recheada de infortúnios, ela diz que nada é mais difícil do que suportar o desmatamento da Amazônia. “A dor na alma é muito mais forte do que no físico. Toda vez que o índice do desmatamento não cai, é minha alma que dói.” A do Brasil também.


Fonte: Revista IstoÉ

JUDICIÁRIO X IMPRENSA

Justiça do Pará condena jornalista Lúcio Flávio
a pagar indenização a empreiteiro acusado de grilagem


O jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto foi condenado pela Justiça do Pará a pagar indenização por danos morais no valor de R$ 8 mil a Cecílio do Rego Almeida, dono da empresa C. R. Almeida.

Em matéria publicada em 2000 em seu Jornal Pessoal, o jornalista denunciou grilagem de terras praticada pela empresa, cujo nome está inscrito no Livro Branco da Grilagem no Brasil, editado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário em 2002.

Confira a íntegra da nota divulgada pelo jornalista:

À OPINIÃO PÚBLICA


O Diário da Justiça do Estado, edição de hoje (24) publica sentença de autoria do juiz Amílcar Guimarães, respondendo pela 4ª vara cível do fórum de Belém, datada do dia 27, dando ganho de causa a Cecílio do Rego Almeida, dono da Construtora C. R. Almeida, em ação ordinária de indenização por danos morais que moveu contra mim.

O juiz me condenou a pagar ao autor indenização no valor de R$ 8 mil, acrescidos de correção monetária pelo INPC da Fundação IBGE a partir da data da publicação da matéria considerada ofensiva, em 2000, juros de mora de 6% ao ano a partir da citação, mais 15% de honorários advocatícios sobre o valor da condenação. Autorizou C. R. Almeida a dar publicidade à decisão, embora não me impondo a publicação.

O juiz Amílcar Roberto Bezerra Guimarães é titular da 1ª vara cível. Ele foi designado para responder pela 4ª vara, por portaria do presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, desembargador Milton Nobre, no dia 15. Luzia do Socorro Silva dos Santos, que é juíza substituta da 4ª vara, havia pedido licença para freqüentar um curso fora do Pará.

A portaria de designação de Amílcar foi publicada no Diário da Justiça do dia 16. No dia seguinte os autos do processo de indenização proposto pelo empresário Cecílio de Almeida lhe foi concluso. No mesmo dia, uma sexta-feira, o juiz deu sua sentença, de seis laudas. Na segunda-feira seguinte retornou ao seu posto, com o retorno da juíza Luzia do Socorro.

A C. R. Almeida é apontada, no "Livro Branco da Grilagem no Brasil", editado em 2002 pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, como a responsável pela mais grave tentativa de apropriação indébita de terras públicas no país. A empresa, uma das maiores empreiteiras brasileiras, com sede no Paraná, se diz proprietária de uma área de terras que pode ter de cinco a sete milhões de hectares, no vale do Xingu, no Pará. Essa área, que integra a chamada "Terra do Meio", é cobiçada por ter a maior concentração de mogno, a árvore de maior valor da Amazônia e seu produto de maior cotação (cada metro cúbico pode chegar a valer 1.800 dólares).

Uma das matérias publicadas por meu "Jornal Pessoal", quinzenário que edito em Belém há quase 18 anos, denunciou essa grilagem, confirmada por todas as instâncias do poder público, que movem ações para anular os registros e transcrições imobiliárias dessa falsa propriedade junto ao cartório de Altamira. A base dessas ações é que jamais o Estado expediu um título sobre essas terras. A cadeia dominial em poder da C. R. Almeida tem como origem um "título hábil", que ninguém jamais apresentou pelo fato simples e categórico de que inexiste. Trata-se de uma imensa grilagem sem título, enquanto a outra grilagem famosa, a de Carlos Medeiros, não tem grileiro (o personagem é fictício, um "laranja" inventado por advogados e corretores imobiliários).

Na sua sentença, o juiz Amílcar Guimarães afirma que toda a prova do dano moral perpetrado pela reportagem contra Cecílio do Rego Almeida está contida na própria matéria do "Jornal Pessoal": "O que ali consta é suficiente para que este juízo, ou o Tribunal no julgamento de eventual recurso decida se houve ou não danos à moral do autor", escreveu o juiz.

Para ele, "os fatos são incontroversos" e a causa "é simples", apesar do contraditório desenvolvido pelas partes nos autos, com argumentações, documentos e provas juntados, formando um volumoso processo, com dois apensos. Por considerar a "simplicidade da lide", o juiz admite ter sido "obrigado a apreciar preliminares sem sentido e agora o insosso argumento da falta de nexo de causalidade e de conduta culposa ou dolosa". Tanto as preliminares quanto o argumento são da defesa. Nenhuma objeção ao autor da ação.

O magistrado declara que as teses foram levantadas nos autos "apenas para torturar o julgador obrigando-o a um infrutífero trabalho braçal". Para ele, "as duas únicas questões relevantes para o julgamento da lide" são: "A matéria publicada pelo jornalista Lúcio Flávio Pinto, no seu 'Jornal Pessoal', tem potencial ofensivo para lesar a moral de um homem médio? A liberdade de imprensa, direito constitucional, não lhe assegura publicar suas reportagens com os exatos termos que publicou?".

Sobre esses dois temas, o juiz garante que "poderia escrever um livro, talvez uma biblioteca inteira". Mas escreveu logo uma sentença, na qual conclui que a matéria do "Jornal Pessoal" era "uma narrativa jornalística sem qualquer potencial ofensivo, exceto quando o jornalista sai da linha editorial com que se conduzia e afirma; 'Cecílio do rego Almeida é apenas o mais audacioso, esperto e articulado desses piratas fundiários'".

Nesse ponto, segundo Guimarães, o jornalista "não está informando seus leitores (direito constitucional). Está apenas ofendendo o autor com uma afirmação grosseira, sem qualquer conteúdo jornalístico e que nada de útil acrescentou à matéria publicada".

Esse trecho, segundo a sentença, provocou o dano, que é presumido. "E nem poderia ser diferente", argumenta o juiz, "uma vez que a dor moral ocorre no plano interior do indivíduo sendo impossível a sua constatação". Por isso, considerou "irrecusável" a "reparação pelo dano moral" sofrido pelo empresário Cecílio do Rego Almeida.

Por enquanto, é o que me permito informar à opinião pública, chocado pelas circunstâncias e o conteúdo dessa decisão, que pune dessa forma (e por essa via) quem tem defendido o valioso patrimônio do Estado do Pará contra esses piratas.

Voltarei ao assunto. Peço que o divulguem ao máximo;

Lúcio Flávio Pinto

Fonte: Amazonia.org

quinta-feira, 23 de junho de 2005

DE ALCEU RANZI

Oi Altino!
Talvez esteja na notícia abaixo a razão de tantos postos de combustível em Rio Branco:

Dois extremos
O Acre foi o estado onde a Agência Nacional de Petróleo mais achou combustível adulterado mês passado. Cerca de 16% dos postos fiscalizados lá tinham ""batizados"" a gasolina, o álcool e/ou o diesel. Na outra ponta da reta apareceu o Espírito Santo, sem nenhuma ocorrência.(Ricardo Boechat, colunista do Jornal do Brasil)

EXCESSO DE CAUTELA

Depois de ter anunciado ontem que a transmissão da entrevista do deputado Roberto Jefferson fora censurada na TV Aldeia, o colunista Cláudio Humberto escreveu outra nota hoje sobre a questão:

- Limitou-se à transmissão ao vivo a censura do governo de Jorge Viana (PT), no Acre, ao programa "Roda Viva" que entrevistou o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). A gravação foi exibida depois. Bem tarde da noite.

Bem, ao ser questionado em seu blog sobre o episódio, o jornalista Antonio Alves respondeu ontem a um de seus leitores:

- Vou checar, mas não acredito. Seria muita burrice.

Toinho complementou mais tarde:

- Perguntei a quem viu. O Roda Viva foi ao ar normalmente, na TV Aldeia. Esse Claudio Humberto só chuta pra fora.

Assisti ao programa via web, mas consultei o jornalista Elson Martins. Ele afirmou:

- Andrea Zílio e outros alunos de jornalismo telefonaram perguntando-me porque a TV Aldeia não estava transmitindo o Roda Viva na hora anunciada. Eu estava assistindo a entrevista na Sky e respondi: o programa está passando. Liguei na TV Aldeia e não estava. Mas depois que terminou na Cultura começou na TV Aldeia.

BAIXARIA NA PLANÍCIE


Foto do jornal O Globo mostra a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) tentando arrancar um saco plástico com o nome "mensalão" das mãos de Jair Bolsonaro (PP-RJ).

quarta-feira, 22 de junho de 2005

RONDONIAGORA

EXCLUSIVO: AS FITAS BRUTAS - “A PROPOSTA DE OPORTUNIDADE É ÚNICA, R$ 50 MIL PARA CADA DEPUTADO”, DIZ CASSOL AO VER RESISTÊNCIA A SUAS CHANTAGENS

As fitas brutas apreendidas pela Polícia Federal (PF) na casa de Ivo Cassol (PSDB) confirmam com clareza que o governador não vai conseguir sair impune do caso da corrupção atribuída aos deputados estaduais. Obtidas com exclusividade pelo RONDONIAGORA, o material, que o jornal divulga em partes, é totalmente incriminador ao próprio Cassol. Em uma das gravações, por exemplo, quando conversa com Amarildo Almeida, ele é taxativo. "A proposta de oportunidade é única, R$ 50 mil para cada deputado", diz durante o bate-papo em que se sentia tão a vontade que suas câmeras o registram limpando o nariz. O parlamentar hesita em várias oportunidades em aceitar fazer parte da corrupção proposta pelo governador, afirmando, que assim como ele, foi, eleito para agir em prol da população. "Então se tem um acordo dessa natureza, o senhor já pode contar com R$ 50 mil a menos", completa Amarildo Almeida.

Depois da apreensão das fitas, o governador providenciou rápido uma versão, divulgada pelo jornal oficial, "Folha de Rondônia", de que na realidade, teria dado corda para os deputados, querendo saber até onde chegariam. Não se lembrou no entanto, que os parlamentares podem também alegar o mesmo com um atenuante: quem comanda os sofres públicos foi quem ofereceu dinheiro e vantagens.

Chico Paraíba e a Globo

Nas fitas brutas em poder do RONDONIAGORA há comprovações de montagem do material para prejudicar os deputados em várias situações. Cassol revela a vários parlamentares que Chico Paraíba não pediu dinheiro, mas sim emendas para sua região. Nas imagens que foram levadas ao ar pelo "Fantástico", Ronilton Capixaba faz uma contagem junto com Cassol citando vários nomes até chegar a 10. A "Globo" paralisou a imagem por aí. Nas fitas brutas a conversa segue. Cassol informa então que não são 10 os deputados, mas 9 porque no dia anterior já havia conversado com Chico Paraíba e se comprometeu com suas emendas. "Risca esse aqui que já conversei com o Chico ontem", diz o governador. Curiosamente a "Globo" preferiu não divulgar essa parte.

CONFIRA OS PRINCIPAIS TRECHOS DAS FITAS BRUTAS DE CASSOL COM O DEPUTADO AMARILDO ALMEIDA:

AMARILDO - Não tenho fundação, não tenho rabo preso com ninguém. Eu entrei na Assembléia ontem, porque que eu vou lá fazendo briga se eu tenho um mandato todo pela frente... Meu pessoal fica lá me cobrando. Amarildo, cadê o resultado, eu tenho que sentar com o senhor aqui, rapaz eu tenho que trabalhar. Eu sempre fui assim. Eu peqguei uma saúde em Ouro Preto toda deteriorada, o Miguel sabe disso. Fomos secretários na mesma época. A gente conseguiu aprovar um recurso, tá ai...

... No momento que eu já te ajudei, meu compromisso já se encerrou, eu preciso trabalhar e eu não quero saber. O Ivo Cassol foi eleito para resolver o problema do Estado de Rondônia e o Amarildo foi eleito para resolver o Estado de Rondônia, ajudar a resolver.

CASSOL - Estamos conversando com os demais, ai temos que ver uma proposta ai. A proposta de oportunidade é única, R$ 50 mil para cada deputado. Os 14. Ai quero trabalhar com cada um em separado...

INTERROMPIDO POR AMARILDO - Governador deixa eu falar um negócio pro senhor. Numa proposta dessa eu nem iria vir falar com o senhor porque pra mim não serve. Estou sendo sincero com o senhor. Não, estou sendo sincero com o senhor. Eu pra sair com uma proposta dessa... Se um deputado falar pro senhor que um deputado chegar ne mim e dizer que estou vindo aqui para arrochar o senhor dizer que eu vim pra cá, não. Eu quero espaço de trabalho eu não venho pra cá. Venho pelo mandato que fui eleito. Eu tenho meus problemas, tenho. Agora por exemplo eu vou resolver meus problemas de acordo com meu salário.

CASSOL - Tá certo

AMARILDO - Então se tem um acordo dessa natureza, o senhor já pode contar com R$ 50 mil a menos. Agora um senhor tem um grupo lá dentro?

CLIQUE AQUI E ASSISTA O VÍDEO

Fonte: Rondoniagora

MARINA PODE SAIR

Ciro Gomes pode substituir Humberto Costa na Saúde

Lula mostrou um quadro com as mudanças que pensa em fazer. Além de Aldo, Jucá e Henrique Meirelles, Lula analisa a saída, no PT, dos ministros Humberto Costa (Saúde), Olívio Dutra (Cidades), José Fritz (Secretaria da Pesca), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social). Também cogita-se substituir Marina Silva (Meio Ambiente), caso ela decida disputar o governo do Acre ano que vem. Nos outros partidos, a disposição é a mesma. Por esse critério, sairiam os ministros Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) e Eunício Oliveira (Comunicações).

E voltou a ganhar força a troca de Humberto Costa por Ciro Gomes (Integração Nacional). A ampliação do espaço do PMDB também está definida. O partido pode ficar com a pasta de Minas e Energia e Integração Nacional, além de manter Previdência e Comunicações. Mas Lula não chamou a cúpula do PMDB para tratar do assunto.

Fonte: O Globo

terça-feira, 21 de junho de 2005

ABSURDO

Ser direito dá cadeia
ELIO GASPARI

Aconteceu entre Brasília e Cuiabá um episódio que deve levar os procuradores do Ministério Público e a imprensa a refletirem sobre seus papéis na defesa da lei e dos direitos dos cidadãos.

Deu-se o seguinte:

No dia 2 de junho os esforços do procurador Mário Lúcio Avelar e da Polícia Federal resultaram no desencadeamento da Operação Curupira, destinada a capturar larápios que se haviam associado a quadrilhas de desmatadores de terras indígenas. Em poucos dias encarceraram-se 93 pessoas. O maior peixe da rede, preso a pedido do procurador, chamou-se Antônio Carlos Hummel, diretor de Florestas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, o Ibama. Depois de ser tratado como foragido, Hummel se apresentou à Policia Federal, em Brasília. Viajou algemado para Cuiabá. Aos 50 anos, esse engenheiro florestal com 23 de anos de serviço público, dois filhos, um apartamento de três quartos e dois carros Gol, foi transformado no seguinte:

Segundo o procurador, “ele autorizou operações ilegais que levaram à comercialização de dez milhões de metros cúbicos de madeira”. (Feitas as contas, noticiou-se que a quadrilha desmatou área equivalente a 52 mil campos de futebol, tirando madeira suficiente para encher 66 mil caminhões, ao valor de quase R$ 900 milhões.) Faz bem à saúde pública que o Ministério Público corra atrás da ladroeira florestal, mas havia uma questão pendente na cadeia de Cuiabá: e o que é que Hummel teve a ver com isto? A essa altura, guardado numa cela, o engenheiro chorava.

O presidente do Ibama defendeu-o e a ministra Marina Silva lembrou que não recebera o inquérito que o incriminava. “Se ela quiser eu envio para ela. Já mandei uma cópia para a PF, é só ela pedir que vai entender tudo”, respondeu o doutor Avelar.

No dia 7, depois de passar quatro noites na cadeia, o engenheiro soube, pelo procurador, que seria solto. Só então iriam ouvi-lo. Com a palavra o delegado federal Tardelli Boaventura, responsável pelas investigações da Curupira: “O procurador acompanhou o interrogatório. A Polícia Federal não tinha nada contra ele. No final, o procurador concluiu que não deveria sequer ter indiciado ele.”

Vai-se à internet e cadê a notícia de que Hummel foi desonerado e solto? Foi publicada aqui e ali, magra como um faquir. Jogou-se fora o trigo e mascou-se o joio. Um diretor de órgão público avançando no patrimônio da Viúva não chega a ser novidade. Sensacional é o servidor honesto ir para a cadeia e vir a saber, antes de ser ouvido, que será solto sem mais nem menos. Isso é que é notícia, como diz Hummel: “Ser direito dá cadeia.”

O sujeito trabalha a vida toda naquilo que gosta, servindo ao Estado na defesa do meio ambiente. Constrói uma reputação internacional e, de uma hora para outra, está em cana, com a vida triturada. Desde a prisão de Edmond Dantés sabe-se que coisas desse tipo podem acontecer, até por acidente. Hummel não pretende ser um Conde de Monte Cristo, mas vai à Justiça para entender o que lhe aconteceu.

O engenheiro estava na cadeia enquanto a ECT do ministro Eunício Oliveira contratava como consultores diretores que demitira. Henrique Meirelles e Romero Jucá continuavam no Banco Central e no Ministério da Previdência. Ambos respondem a inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Lula, que não sabia do men$alão, prefere mantê-los nos cargos. Já o pobre (pobre mesmo) Hummel foi preventivamente afastado da diretoria de Florestas do Ibama.

Fonte: O Globo

LULA FALA DE CORRUPÇÃO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje, em discurso na cerimônia de abertura do Congresso Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária em Luziânia (GO), que ele é a pessoa mais indicada para fazer o que precisa ser feito em relação à corrupção.

- Ninguém neste país tem mais autoridade moral e ética do que eu para fazer o que precisa ser feito nesse país. Tudo isso que estamos vivendo é por conta de um cidadão que diz que pegou R$ 3 mil, um cidadão de terceiro escalão. As denúncias de corrupção deverão ser investigadas sem manchar o nome de pessoas inocentes e cobrou do Congresso agilidade na votação dos projetos. Eles não sabem com quem estão lidando. Eu vou repetir uma coisa: com corrupção a gente não brinca, porque a gente não pode manchar o nome das pessoas, a gente não pode colocar pessoas desnudas na frente da sociedade, depois não provar nada e ninguém pede desculpas. Nós já vimos isso ao longo da história - afirmou o presidente.

Clique aqui para ler o discurso completo de Lula.

DE GAULLE TINHA RAZÃO

O jornalista acreano Luis Carlos Moreira Jorge, um dos mais duros críticos dos governos do PT, escreve oportunamente hoje, no jornal Página 20, o artigo "De Gaulle tinha razão", no qual critica o deputado Roberto Jefferson (PTB) e faz uma defesa apaixonada de Lula, Jorge Viana e dos petistas em geral.

Embora a opinião do Crica
tenha no contexto da crise o peso de uma pena, ela serve de alento aos petistas do Acre, que têm sido tão parcimoniosos diante das denúncias que pesam contra o partido.

segunda-feira, 20 de junho de 2005

300 PICARETAS

Luiz Inácio
(Herbert Vianna)

Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou
Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou

Eles ficaram ofendidos com a afirmação
Que reflete na verdade o sentimento da nação
É lobby, é conchavo, é propina e jeton
Variações do mesmo tema sem sair do tom
Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei
Uma cidade que fabrica sua própria lei
Aonde se vive mais ou menos como na Disneylândia
Se essa palhaçada fosse na Cinelândia
Ia juntar muita gente pra pegar na saída

Pra fazer justiça uma vez na vida
Eu me vali deste discurso panfletário
Mas a minha burrice faz aniversário
Ao permitir que num país como o Brasil
Ainda se obrigue a votar por qualquer trocado
Por um par se sapatos, um saco de farinha
A nossa imensa massa de iletrados
Parabéns, coronéis, vocês venceram outra vez
O congresso continua a serviço de vocês
Papai, quando eu crescer, eu quero ser anão
Pra roubar, renunciar, voltar na próxima eleição
Se eu fosse dizer nomes, a canção era pequena
João Alves, Genebaldo, Humberto Lucena
De exemplo em exemplo aprendemos a lição
Ladrão que ajuda ladrão ainda recebe concessão
De rádio FM e de televisão
Rádio FM e televisão

Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou
Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou

FOGO AMIGO

Para relator da CPI dos Correios,
Lula pode acabar como Collor

Apesar de governista, deputado do PMDB diz que presidente foi omisso e vários parlamentares serão cassados

José Antônio Pedriali
Especial para o Estado

LONDRINA - O relator da CPI Mista dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), faz uma previsão sombria sobre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Vamos ver acontecer o que aconteceu com Collor." O deputado refere-se ao processo de impeachment que culminou com a cassação do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

Serraglio fez esta declaração na sexta-feira à noite, durante o programa Entrevista Coletiva, da TV Tarobá, de Cascavel (PR). O deputado, que foi escolhido relator por ser de confiança do governo Lula, mostrou-se firme ao ser questionado pelos entrevistadores se a CPI iria até as últimas conseqüências ou terminaria em pizza, como muitas outras. Serraglio foi categórico: no que depender dele, garantiu, as denúncias de corrupção nos Correios e de existência do mensalão serão apuradas "rigorosamente". Serraglio foi firme em relação a Lula que, para ele, foi "omisso" ao tratar das denúncias de corrupção, sobretudo quanto ao mensalão, sobre o qual o presidente foi alertado pelo governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Na opinião de Serraglio, se forem comprovadas a existência do mensalão e a conivência do governo petista com essa irregularidade, vários deputados serão cassados. "Aí nós vamos ver acontecer o que aconteceu com Collor".

Aliás, em relação ao mensalão - que poderá ser investigado pela CPI dos Correios ou por outra CPI específica - Serraglio disse acreditar em sua existência. "Acredito, mas não sei em que nível", disse. "Fala-se em partidos, mas tem muita gente séria nesses partidos", ressalvou.

SUSSURROS - Segundo o deputado, a existência do mensalão era sussurrada há meses no Congresso e não foi investigada antes porque "ninguém faz nada antes de ter informações mais detalhadas".

Serraglio está no segundo mandato. No governo de Fernando Henrique Cardoso, garantiu, não houve esse tipo de pagamento a deputados em troca de apoio aos projetos do governo. O relator da CPI, que declarou na edição de ontem do Estado sentir-se incomodado quando o classificam de "chapa-branca" por pertencer à ala governista do PMDB, admitiu apoiar o governo, mas com "ressalvas". Entre essas ressalvas, ele apontou a ocupação da máquina administrativa por petistas, sem a exigência de concurso. Em segundo lugar, a capacidade técnica do primeiro escalão do governo.

"Acho que ele (o presidente Lula) tinha que ter sido mais criterioso na composição do ministério, até em matéria do PT... as pessoas que não tinham onde ser acomodadas e viraram ministros, não é por aí", disse Serraglio.

Fonte: O Estado de S. Paulo

domingo, 19 de junho de 2005

GOLPE E SILÊNCIO?

A reportagem “O silêncio dos inocentes”, da edição de hoje da Folha de S. Paulo, destaca que os intelectuais petistas assistem à onda de acusações ao governo sem manifestar solidariedade ou fazer críticas públicas.

“Onde estão os intelectuais petistas? A crise política das últimas semanas explicitou o crescente mal-estar dos acadêmicos ainda identificados com o PT de uma forma inusitada: pelo silêncio. As principais estrelas pensantes do partido estão em casa, fechadas em copas. Evitam as entrevistas, desconversam, têm preferido nada dizer a ter de criticar ou defender o governo de Luiz Inácio Lula da Silva”, observa a redação da Folha.

Segundo o jornal, desde o início do mês, um dos principais intelectuais do país, nunca identificado organicamente com o partido, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, vem defendendo a idéia de que há um "golpismo branco" em processo no país. “Nenhum pensador petista de alta estirpe veio a público secundar a análise. Ou, ao menos, dizer que ela é frágil -afinal, a crise do "mensalão" surgiu como a manifestação explosiva de uma disputa interna, no campo do governo e de seus sócios, por espaços de poder”.

Na edição passada da revista Carta Capital, Wanderley Guilherme dos Santos foi destaque em entrevista na qual afirmou que FHC apoiaria “golpe branco”. Segundo Santos, o PSDB não quer o impeachment de Lula, mas não recuará se houver essa possibilidade. Clique em FHC apoiaria “golpe branco” para ler a entrevista.

sábado, 18 de junho de 2005

URUCUM YAWANAWA


Modelo pintada de urucum durante desfile de lançamento no Rio de uma grife inspirada na arte da tribo iawanawá. A foto foi tirada pelo líder indígena Joaquim Tashka, que é um dos destaques da seção Gente da revista Veja da semana.

DA REVISTA VEJA



Cacique no high society


Patrono de festas antológicas, às quais comparece a nata da sociedade e do mundo artístico, o empresário Olavo Monteiro de Carvalho conseguiu convidados perfeitos para o tipo de anfitrião que já viu de tudo e fez de tudo: índios da tribo iauanauá, do Acre, que foram ao Rio de Janeiro lançar uma grife inspirada na arte indígena. O grupo, liderado pelo cacique-empresário Joaquim Taska – de camiseta da grife, adereços da tribo e rosto pintado de urucum –, retribuiu com cânticos a recepção, que congregou cerca de 100 socialites e modelos (algumas fantasiadas de índias, para melhor compor o cenário) em torno de uma mesa de moqueca de peixe e lombinho. "Eles disseram que quando recebem amigos também fazem muita comida", anota, com a tranqüilidade de quem também já viu de tudo, a irmã de Olavo, Lilibeth.

sexta-feira, 17 de junho de 2005

DECLARAÇÃO

De um leitor anônimo:
Você se lembra desta declaração?

"Se eu ganhasse a Presidência para fazer o mesmo que o Fernando Henrique Cardoso está fazendo, preferiria que Deus me tirasse a vida antes. Para não passar vergonha. Porque, sabe o que acontece? Tem muita gente que tem direito de mentir, o direito de enganar. Eu não tenho. Há uma coisa que tenho como sagrada: é não perder o direito de olhar nos olhos de meus companheiros e de dormir com a consciência tranqüila de que a gente é
capaz de cumprir cada palavra que a gente assume. E, quando não as cumprir, ter coragem de discutir por que não cumpriu." (Luiz Inácio Lula da Silva, novembro de 2000, em entrevista à revista "Caros Amigos!")

Resumindo:

Se tudo der certo, o Lula deve morrer por estes dias...

VAI OU NÃO VAI?

Leia o que a mídia diz a respeito dos petistas do Acre.

Blog do jornalista Ricardo Noblat:

Marina está ameaçada*

O substituto do ministro José Dirceu na Casa Civil da presidência da República será um dos atuais ministros - mas não será o da Justiça. Nem o da Educação.

O governador Jorge Viana, do Acre, está cotado para substituir Marina Silva no ministério do Meio Ambiente.

O ministério da Coordenação Política será extinto.


O prefeito Marcelo Deda, de Aracaju, continuará prefeito.


(Nenhuma dessas informações valerá se Lula acordar invocado no início da próxima semana.)


O Estado de S. Paulo:
Sob suspeita, Dirceu cai antes da reforma ministerial
Na Câmara, para onde volta com objetivo de se defender de denúncias de Jefferson, ex-ministro não terá vida fácil

Vera Rosa

O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, saiu sozinho. Ele pediu demissão ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes da reforma ministerial na qual pretendia diluir o impacto de seu afastamento. Vai agora reassumir seu mandato na Câmara. Deputado licenciado e fiador das alianças eleitorais que conduziram Lula ao Palácio do Planalto, Dirceu era a cara do PT no governo e chegou a ser o mais poderoso dos ministros.

Dirceu deixou o cargo ao final das 48 horas mais nervosas da administração petista. Dois dias antes, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) pedira sua saída para não transformar o presidente em réu. Dirceu, segundo o petebista, estava envolvido no esquema de pagamento de mesada a deputados, acusação que ele nega.

"Não me envergonho de nada que fiz. Tenho as mãos limpas, o coração sem amargura. Saio de cabeça erguida do ministério. Continuo no governo como deputado da base de sustentação e continuo no governo porque sou PT", afirmou Dirceu, no discurso de despedida que fez no Planalto, citando a mãe, a mulher e os filhos.

Emocionado, e protegido por um cordão formado por 18 ministros, além de deputados e senadores do PT, o chefe da Casa Civil afirmou que sempre sonhou em governar o Brasil com Lula. "O governo do presidente Lula é a minha paixão, é minha vida e eu, ao sair, deixo aqui parte da minha alma, do meu coração. Mas não deixo a minha alma, ela vai comigo para a luta. Tenho humildade de voltar para meu partido como militante e de voltar para a Câmara como deputado. Eu sei lutar na planície e no planalto."

Dirceu comunicou sua demissão em carta endereçada a Lula, com 19 linhas, depois de almoçar com ele e ministros do PT. O presidente respondeu com outra carta, "louvando o desprendimento pessoal" do companheiro. "Só pessoas de sua grandeza são capazes desses gestos", escreveu Lula.

Não foi anunciado ainda quem vai substituir Dirceu. O governador do Acre, Jorge Viana, que também é do PT, é cotado para o cargo, mas Dirceu não gostaria de vê-lo em sua cadeira. Viana é próximo do PSDB. Apesar de ter seu nome citado há tempos, o prefeito petista de Aracaju, Marcelo Déda, negou que vá ocupar a vaga. A Coordenação Política, hoje comandada por Aldo Rebelo, do PC do B, deve ser extinta e reincorporada à Casa Civil, como era até o início de 2004.

Folha de S. Paulo:
Substituto de Dirceu deve ser petista com perfil gerencial

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem a auxiliares que os ministros Aldo Rebelo (Coordenação de Governo), Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) e Ricardo Berzoini (Trabalho) retornariam à Câmara na segunda etapa da reforma ministerial, que começou com a saída de José Dirceu da Casa Civil. O substituto de Dirceu deverá ser petista e com experiência administrativa -perfil de gerente reconhecido pelo PT.

A Folha apurou que Campos já está se mexendo para ficar. Berzoini se disse preparado para retomar o mandato de deputado federal. E Aldo perdeu faz tempo as condições de ser um coordenador político eficiente. Lula aguardava oportunidade para tirar Aldo. A intenção é extinguir a pasta.


O presidente estuda ainda substituir Humberto Costa (Saúde), Romero Jucá (Previdência Social) e Henrique Meirelles (Banco Central). Lula depende de uma resposta do empresário Abílio Diniz, sondado para uma pasta. Aventa-se a possibilidade de ele substituir Jaques Wagner no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Lula deseja ter ministros com peso na sociedade para evitar a idéia de uma reforma de rendição aos políticos tradicionais.


Ao fim do dia de ontem, havia diversas versões sobre o substituto de Dirceu. Uma delas dava conta de que Lula já havia optado pelo governador do Acre, Jorge Viana (PT), mas que preferia anunciar isso na segunda-feira.


Noutra versão, apareciam cotados Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda. A hipótese de Antonio Palocci Filho (Fazenda) ocupar o posto voltou a ser lembrada, mas era menor que as anteriores.


Ministros e auxiliares disseram reservadamente que Lula poderia tentar surpreender, apresentando alguém de perfil mais executivo, para tocar uma Casa Civil mais gerencial e menos política.

Em conversas reservadas ao longo do dia de ontem, Lula disse que pretendia fazer hoje um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, mas decidiu adiar para outro momento, quando deverá ter concluído negociações.

A intenção do presidente é enxugar o ministério (35 pastas) e reduzir a fatia do PT (19 assentos). Secretarias especiais ocupadas por pessoas com status de ministro deverão ser fundidas à Secretaria Geral da Presidência, chefiada pelo "apagado" Luiz Dulci.


A intenção é ampliar o espaço do PMDB. Eunício Oliveira (Comunicações) deverá continuar no posto e Lula deve dar a Integração a um peemedebista. O PP deverá entrar no primeiro escalão. (KA)

quinta-feira, 16 de junho de 2005

Janene é número um do mensalão, diz sobrinho
Segundo Aristides Barion Júnior, o líder do PP na Câmara "ficou rico depois que entrou para a política"

Fausto Macedo

Aristides Barion Júnior, sobrinho de José Mohamed Janene (PR), líder do PP na Câmara, não ficou surpreso com as denúncias que envolvem o tio deputado como suposto operador do esquema do mensalão. "Surpreso, eu? Claro que não. O Zé é terrível, você não conhece ele. Quando o Zé vê que o cara é menor, ele esmaga. Se vê que não pode com o cara, tenta fazer um acordo. O Zé é o número um do mensalão. Não tenho dúvida."
Barion, 31 anos, é filho de Solaima, irmã de Janene. Ele não gosta do tio, mal pode ouvir falar em seu nome. Não esconde isso de ninguém. A briga é antiga. O motivo é dinheiro - US$ 1 milhão, pelas contas de Barion, proprietário de uma loja de cosméticos e perfumes no município de Cambé, interior do Paraná. Cambé, 100 mil habitantes, fica perto de Londrina, onde Janene mora e construiu sua carreira política.

"Ele ficou rico depois que entrou para a política", diz o sobrinho. "O Zé mora em um apartamento que vale mais de 1 milhão de reais, tem fazenda, carros importados, tem avião, tem dois apartamentos na praia, mas é tudo em nome de terceiros."

Barion, que tem dois filhos pequenos, diz que tem medo do tio. "E quem não tem?" Afirma que o parente é truculento. "Mas nunca acontece nada com ele", protesta.O depoimento de Barion não é apenas a narrativa de um sobrinho inconformado. É também o relato de quem foi assessor parlamentar e coordenador de campanha de Janene.

Por que o sr. foi à Justiça contra o deputado?
Dívida de campanha. Fui coordenador-geral da campanha do Zé em 1994, quando ele se elegeu pela primeira vez. Antes, em 1990, o Zé já tinha saído candidato, mas perdeu. Em 1994, pela proximidade familiar, emprestamos dinheiro para ele e até o avalizamos. Perdemos R$ 1 milhão. Na época, era US$ 1 milhão. Tiramos das nossas economias, fizemos empréstimos. Uma campanha custa caro. Ele foi eleito com 45 mil votos e foi para Brasília.

A causa do rompimento?
A gente começou a notar que ele não tinha a menor vontade de pagar o que deve. Você pode ter idéia de uma coisa dessas dentro da família. Eu tinha dois postos de gasolina e distribuidora de produtos alimentícios. Perdi tudo. Saí de Londrina, não suportei mais a pressão dos credores, do Zé, de tudo.

Como Janene faz política?
O estilo dele é conhecido. Quando toma um baque, ele primeiro acusa, diz que o cara é louco, é maluco, que está tentando fazer chantagem. Sempre dá uma de bonzinho. Quando o cara é mais forte, ele procura um acordo. Se for mais fraco, ele tenta dizimar. Esse é o estilo do Zé. Os seus métodos agressivos são conhecidos nas campanhas. É truculento.

Janene tem muitos bens?
Ele era dono de uma empresa (Eletrojan Iluminação e Eletricidade) em Rondônia, que tinha bastante problemas. Era uma empresa de iluminação pública. Foi para a política. Primeiro, foi coordenador político do Antônio Belinatti (ex-prefeito de Londrina). Coordenou duas campanhas do Belinatti. Ele sempre quis entrar na política. Depois que virou deputado, ficou milionário. Mas os bens não estão em nome dele. Mora em apartamento de 1.000 metros quadrados em Londrina, no edifício Arcádias. Ele pinta e borda na cidade. Tenta intimidar de todas as maneiras mais sórdidas possíveis. Ficou rico depois que virou deputado. Tinha uma vida boa, mas remediada, com limitações. Hoje perdeu o limite. É muita grana, anda com segurança para cima e para baixo.

A Justiça nunca o condenou.
Ele dribla a Justiça, uma coisa de louco. A Justiça leva anos para citar o Zé. Na ação que movi, ele pediu perícia, dizendo que a assinatura em documentos não era dele. Quis auditoria contábil, mas não quer pagar. Quer que eu pague porque sabe que não tenho como pagar. Ele fica enrolando. Faz muita pressão.

O deputado nega.
Já vi o Zé se envolver em dez escândalos e nunca aconteceu nada. O Ministério Público já moveu céu e terra para comprovar que ele roubou dinheiro público. Continua tudo na mesma. Ele me quebrou, desgraçou minha família.

O sr. acredita que ele está envolvido com o mensalão?
Eu acho que o Roberto Jefferson falou a verdade. O Zé era o operador. Não duvido que ele era o número um. Mas o nosso Brasil é isso. Eu tenho certeza de que ele aposta nessa impunidade. Estou falando do que eu conheço. Duvido que o José Dirceu vá deixar ele afundar.

Como ele arruma dinheiro para as campanhas?
Aí você tira suas conclusões. As campanhas são ostensivas, ele gasta uma fortuna. Na última eleição, não tinha uma esquina em Londrina que não tinha duas ou três pessoas dele com bandeiras. É muito dinheiro. Ele trabalha em cidadezinha pequena. Vai lá, acerta com o prefeito e com os vereadores, 60 a 80 cidades pequenas. Aí faz votos, manda bala sem dó nem piedade.

Fonte: O Estado de S. Paulo

quarta-feira, 15 de junho de 2005

PUBLICIDADE

Marcos Valério foi 12 vezes ao prédio do PT este ano
Rodrigo Rangel

BRASÍLIA - Um dos personagens centrais das denúncias de corrupção no governo, no PT e na Câmara, o publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza esteve, só este ano, pelo menos 12 vezes no prédio onde funciona o escritório nacional do PT em Brasília. Segundo o sistema eletrônico que controla a entrada de visitantes no prédio, cinco registros identificam como destino do empresário o escritório do PT. A última visita foi há duas semanas, já no meio da crise.

Há mais oito entradas de Valério no prédio, mas esses registros não informam a data das visitas e o andar onde ele esteve. Sócio das agências DNA Propaganda e SMP&B, que têm contas de estatais como Correios e Eletronorte, do Ministério dos Esportes e da Câmara dos Deputados, Marcos Valério é apontado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, como operador de um suposto caixa dois comandado pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares. O publicitário seria, diz Jefferson, um dos responsáveis pelo pagamento do mensalão a deputados do PP e do PL.

Na maioria dos registros, o nome do publicitário aparece completo: Marcos Valério Fernandes de Souza. Em todos figura o número que seria de sua carteira de identidade. A última visita registrada foi em 31 de maio. Considerando só as visitas registradas, ele esteve uma vez a cada 13 dias no prédio.

Direção do PT não soube informar motivo das visitas

Nas cinco entradas de Marcos Valério com data registrada há informação sobre o destino do publicitário: o escritório do PT. Três visitas foram em abril, nos dias 6, 13 e 19. Antes, Marcos Valério esteve no escritório em 23 de fevereiro. Não há referências ao nome de quem o recebeu nem de quem autorizou sua entrada. Mas nos registros de 6 e 19 de abril consta a observação de que ele participaria de reuniões na sala do PT.

Nos registros sem data aparece só o nome Marcos Valério, com o mesmo número de identidade. O sistema tem só entradas deste ano. Não há registro da reunião da qual Jefferson disse ter participado em 2004 para tratar de recursos para o PTB.

O escritório do PT fica no 7 andar de um dos quatro blocos do Centro Empresarial Varig, no Centro de Brasília. Procurada pelo GLOBO, a direção nacional do PT informou que não teria como dizer, ontem, o motivo das visitas de Marcos Valério ao escritório. A assessoria do partido também não respondeu.

Fonte: O Globo

terça-feira, 14 de junho de 2005

A SECRETÁRIA KARINA


A ex-secretária do publicitário Marcos Valério, acusado de ser um dos operadores do mensalão pago a aliados do PT, revela o elo da agência SMP&B com o governo em entrevista à revista IstoÉ Dinheiro.

Fernanda Karina Ramos Somaggiola afirma:

- Já vi o boy sair com o motorista para tirar R$ 1 milhão do Banco Rural. Para dividir dinheiro, entendeu? No dia 23 de setembro de 2003, uma terça-feira, foi fechada a suíte presidencial do Sofitel para levar todo mundo para lá. Era uma festa para oito pessoas, com gente do PT também.

- O Delúbio Soares voa no jato do Banco Rural. É a pessoa mais próxima da agência e fala com o Valério uma vez por semana.

- Depois do Delúbio, a pessoa mais ligada à SMP&B é o Sílvio Pereira. Em outubro de 2003, ele esteve com o Valério no Maksoud Plaza.

segunda-feira, 13 de junho de 2005

MINISTRO VOLUNTÁRIO

Acho que o governador Jorge Viana obteve excelente desempenho no programa Roda Viva, da TV Cultura.

Terá sido a entrevista organizada como lançamento do nome dele para o ministério de Lula? Foi uma sabatina para avaliar o futuro ministro da Casa Civil?


Diante de cobras do jornalismo brasileiro, Viana se mostrou um excelente driblador. Falou pouco quando era conveniente falar pouco.

Conseguiu desarmar os entrevistadores em vários momentos. Mas parece ter cometido ato falho ao declarar: "Uma das mudanças que iremos fazer...". Já está acertado que será ministro?


A entrevista deve render bons comentários e até otimismo a respeito do PT. Pode até ser usada para justificar ao povo do Acre sua eventual renúncia ao mandato.

Deixaria o governo estadual para contribuir no projeto maior de ajudar Lula a superar uma fase grave da história do país.


Caso não venha a substituir o ministro José Dirceu, já é o ministro voluntário de Lula.

domingo, 12 de junho de 2005

ASSÉDIO

Do blog do jornalista Ricardo Noblat:

Viana está sob forte assédio para trocar de endereço


Jorge Viana, governador do Acre, está sendo assediado por Lula para trocar de endereço.

Seria exagero dizer que Viana é unha e carne com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o alguns outros líderes do PSDB. Mas se a imagem pudesse se aplicar a algum petista, seria a ele.

Lula implora pelos préstimos dele - com gabinete exclusivo no Palácio do Planalto. O gabinete de José Dirceu, da Casa Civil. Ou o de Aldo Rebelo, da Coordenação Política.


É mais forte a aposta no primeiro gabinete. Para onde também poderá ser convocado Marcelo Deda, prefeito de Aracaju, caso Viana roa a corda.

O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) caiu fora da CPI dos Correios para tentar cair dentro do ministério prestes a ser reformado.

MUDANÇA FEDERAL

Da Agência Estado:

O debate sobre as mudanças no governo movimentou o domingo em Brasília e entrou pela noite, quando Lula se reuniu na Granja do Torto com Dirceu e o presidente do PT, José Genoino. A discussão deverá vir a público nesta segunda-feira.

O senador Tião Viana (PT-AC) promete fazer um discurso pedindo que os ministros do PT entreguem seus cargos, deixando Lula à vontade para promover a reforma. "O presidente precisa estar livre para escolher nomes que estejam acima dos partidos e sem qualquer suspeita", argumenta Tião Viana. "Justamente os ministros do PT, partido que está sob suspeita de desvio de conduta, precisam dar exemplo pedindo demissão."

O nome mais cotado para o lugar de Dirceu é o do irmão do senador: o governador do Acre, Jorge Viana, tido pelos petistas como um político habilidoso e com trânsito fácil nos meios de comunicação. Não é a primeira vez que Jorge Viana aparece nas discussões sobre reforma ministerial, só que para ocupar o comando da Casa Civil ele teria de renunciar ao governo estadual.

JORGE NO RODA VIVA

O governador Jorge Viana será o entrevistado do programa ao vivo Roda Viva, na segunda-feira 13, a partir das 20h30. O site da TV Cultura o apresenta como engenheiro florestal envolvido com a questão ambiental que construiu, em sua carreira política, forte ligação com o presidente Lula, de quem se tornou um dos mais importantes interlocutores.

Por essa proximidade vive e participa, como poucos, das ações e das situações que a cada momento envolvem o governo federal, como a atual crise política. Jorge Viana já foi prefeito de Rio Branco em 1992 e está em seu segundo mandato de governador do Acre (eleito em 1998 e reeleito em 2002).

Em sua administração ganhou destaque o enfrentamento ao crime organizado que resultou, entre outras operações, na prisão do ex-deputado Hildebrando Paschoal e quase uma centena de pessoas que comandavam o narcotráfico e grupos de extermínio, muitos deles ligados à exploração ilegal de recursos naturais, especialmente a madeira.

Entrevistadores: Fernando Rodrigues (Folha de S.Paulo); Maurício Stycer (Carta Capital); Alexandre Machado ( TV Cultura); Oswaldo Buarim (Correio Braziliense); Mario Andrada e Silva (Agência Reuters/SP); Helena Chagas (O Globo); Mauro Vitor (engenheiro florestal- Conselho Nacional de Florestas).

O apresentador do programa,
que será transmitido no Acre pela TV Aldeia, é o jornalista Paulo Markun.

sábado, 11 de junho de 2005

"O PT ACABOU"


Entrevista: Fernando Gabeira

Ícone da esquerda brasileira, o deputado
diz que o PT é "igual aos outros partidos"
e que o presidente Lula está deslumbrado
com o poder

Thaís Oyama

Na lista da sucessão de erros que diz ter cometido ao longo da vida, o deputado e escritor Fernando Gabeira (PV) acrescentou, recentemente, mais um: o apoio ao governo Lula, que ele hoje define como "uma farsa". O ex-guerrilheiro do MR-8, que participou do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick em 1969, afirma que Lula "traiu" a nação e que o autoritarismo intrínseco do PT, partido ao qual ele próprio pertenceu até 2003, está na raiz da sua derrocada – que ele considera consumada. O ícone da esquerda brasileira, que já quis morrer pela revolução e se libertar pelo desejo, hoje diz que crê apenas na eficácia e na nobreza das pequenas ações. Aos 64 anos, pai de duas filhas – uma, surfista profissional, outra, estudante de psicologia –, o deputado já não vai de bicicleta ao Congresso, trocou-a por uma moto. O existencialismo que o inspirou na juventude ainda se revela no formato do atual casamento: à moda de Sartre, é cada um na sua. Na semana passada, ele deu a seguinte entrevista a VEJA.

Veja – O senhor escreveu, em artigo recente, que a chegada de Lula à Presidência foi uma crueldade histórica. O que isso significa?
Fernando Gabeira – Quando Lula foi candidato pela primeira vez, o Muro de Berlim havia caído e a etapa mundial que nós vivíamos já era a etapa do fracasso completo do socialismo. O que eu quis dizer foi que a eleição de Lula representou, simbolicamente e pela via eleitoral, a chegada de um operário ao poder, mas em um momento em que isso já não significava muito mais. Era um sonho retardatário. Nós chegamos a ele atrasados em relação à situação mundial. Na verdade, se tivéssemos tido um pouco mais de percepção, veríamos que, em vez do roteiro de Marx – da chegada do operário ao poder –, nós estávamos assistindo à chegada da classe operária ao paraíso. Porque o que aconteceu foi isso: Lula, ao chegar ao poder, ficou deslumbrado com ele.

Veja – Em que momentos o senhor percebe esse deslumbramento?
Gabeira – Em muitos momentos. A chegada ao governo significa uma ascensão social, pelo menos nessa circunstância. Você passa a desfrutar de bens materiais superiores aos que desfrutava antes. E quando você chega ao governo no bojo de um grande movimento social, muito admirado e cortejado, isso contribui para que você, de certa maneira, perca o rumo. E aí você vai ver as pirâmides, tirar foto ao lado das pirâmides, comprar um avião... Isso tudo aconteceu com Lula e, no seu caso, houve ainda a agravante de ele não ser uma pessoa inquieta, do ponto de vista intelectual.

Veja – Essa inquietação poderia ter contribuído para amenizar o deslumbramento a que o senhor se refere?
Gabeira – Sim, porque a chegada ao poder, com todos os atrativos que ele oferece, é sempre um questionamento da sua sabedoria. E também um desafio à capacidade de saber olhar os seus projetos e se manter fiel a eles. E nem o PT nem Lula souberam responder a isso. Diante da necessidade de abandonar um programa que talvez não estivesse totalmente ajustado à realidade, eles optaram simplesmente por jogar esse programa para o ar – sem substituí-lo. Não foi à toa que, durante a campanha eleitoral, poucos de nós, intelectuais que apoiamos Lula, se submeteram àquele mico no programa de televisão, de andar de um lado para o outro com uma pasta debaixo do braço, dando a impressão de que todos os problemas do Brasil estavam equacionados e que, quando chegássemos ao governo, resolveríamos tudo.

Veja – O senhor se recusou a participar da gravação desse programa?
Gabeira – Eu não fui convidado. Mas quando eles fizeram o programa final, com o Lula já eleito no primeiro turno, nós fomos chamados a São Paulo para gravar. Era um programa de auditório, e nós tínhamos de levantar as mãos, todos juntos, e balançá-las para o alto. Eu fiquei perplexo com aquilo, não fiz. O Lula até reclamou: "Poxa, Gabeira, você tá dormindo?". Claro que eu não estava dormindo, eu estava achando aquilo ridículo. Éramos participantes de um projeto político que, no último momento, havia sido sintetizado em um programa de auditório. Parecíamos chacretes.

Veja – Foi nesse momento que o senhor achou que o trem começava a sair dos trilhos?
Gabeira – O momento em que eu acho que o trem começa a sair dos trilhos é quando o Lula decide, nessa última campanha, que vai ganhar – e que, para ganhar, é preciso ter dinheiro e um excelente programa de televisão. São premissas aparentemente sensatas. Mas, ao descobrir o imenso potencial do veículo e da linguagem publicitária, ele passou a superestimar o trabalho de marketing em detrimento do movimento social que o apoiava. E isso marcou o princípio do governo: a agenda dele passou a ser uma agenda de foto-oportunidade, para usar uma expressão dos ingleses. O presidente recebia misses, por exemplo, enquanto o Cristovam Buarque, durante o tempo em que foi ministro, esteve com ele apenas uma vez. O ministro da Educação! Lula saiu da história para entrar no marketing.

Veja – O senhor participou da montagem do governo. Houve um momento, portanto, em que acreditou nele.
Gabeira – Eu acreditei pelo seguinte: nunca houve tanto entusiasmo popular em torno de uma candidatura. Nunca tantas pessoas competentes e interessantes se juntaram para ajudar uma candidatura. Então, eu achava que nós tínhamos um capital humano suficiente para realizar um processo de transformação importante para o Brasil. Só que o que houve foi uma traição.

Veja – A quem?
Gabeira – Às pessoas que acreditaram nele. Eu andei mais de 1 000 quilômetros com o Lula. Vi a esperança nos olhos das quebradeiras de coco do Maranhão, das plantadoras de cebola de Santa Catarina... Era visível a esperança delas, era visível que acreditavam na gente: "Essas pessoas são ligadas a nós, vão mudar a nossa vida". Vi mães chorando quando a caravana passava, mulheres levantando os seus bebês para que vissem o palanque... Era um capital de esperança muito grande. E parece que eles não se importaram muito com isso. Eles não tinham um projeto de Brasil, não tinham um projeto de nação – tinham um projeto de poder. E perderam o contato com a realidade. Prova disso é que, no auge dessa crise, José Dirceu disse àquele grupo de escritores espanhóis com que se encontrou em Madri que o projeto do PT era ficar doze anos no poder.

Veja – Qual o futuro da sigla, na sua opinião, diante dessa crise?
Gabeira – O PT tem um grave erro de origem. Ele opta pelo centralismo democrático, que foi um instrumento criado por Lenin, no princípio do século XX, para organizar trabalhadores fabris na luta contra o Exército do czar. Ora, nós já estamos no princípio do século XXI e o PT continua fazendo coisas em nome desse centralismo, como a expulsão da senadora Heloísa Helena. Isso é uma coisa ridícula, já não existe mais. Na Inglaterra, 240 deputados do Partido Trabalhista votaram contra a guerra no Iraque e continuam lá, ninguém vai expulsá-los. O PT foi construído de uma forma autoritária, e essa construção autoritária é que permitiu o deslocamento da camarilha que está hoje no Palácio do Planalto e que designa os caminhos do partido.

Veja – Do ponto de vista histórico, então, o PT estaria condenado. E do ponto de vista ideológico?
Gabeira – Desse ponto de vista, ele não existe mais. Acabou, foi para o espaço. A população já descobriu que o PT é igual aos outros que ele denunciava.

Veja – Em que momento isso aconteceu?
Gabeira – Quando ele achou que poderia abrir mão da bandeira ética que mantinha quando estava na oposição. Eles adotaram a tática da visita da velha senhora, a peça do Dürrenmatt (dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt). Ele mostra uma prostituta que sai da cidade e volta rica. Aí, diz: "O mundo fez de mim uma prostituta e eu vou fazer desse mundo um bordel". Eles tiveram de conseguir dinheiro, tiveram de entrar no jogo e tiveram de comprar a sua base, já que não podiam buscá-la no PMDB nem no PSDB.

Veja – Em que medida essa saída fisiológica não seria também responsabilidade do sistema político brasileiro, em que o Executivo não tem maioria garantida no Congresso e precisa ficar o tempo todo tentando seduzi-lo para conseguir governar?
Gabeira – Acho que a culpa dessa estrutura é parcial. Porque, se você considerar a centro-esquerda brasileira, como o PT e o PSDB, existe uma base numérica para você dirigir o país. O problema é que, como os dois não vão jamais se entender, estão ambos condenados ao fisiologismo – ou, como diz o Fernando Henrique, condenados a ser a vanguarda do atraso. O que nos leva a uma situação em que, em 2006, restará só perguntar de quem será a vez de pedir a CPI – e de quem será a vez de abafá-la. Nós poderíamos superar essa etapa da história brasileira criando uma frente política que fosse não tão rigidamente ideológica, como eles querem, mas uma frente política dos homens e mulheres de bem. Havendo essa demarcação ética, o governo conseguiria isolar progressivamente os fisiológicos. O processo do PT foi justamente o contrário: ele fortaleceu o fisiologismo e colocou na presidência da Câmara, por meio dos seus erros, um homem que está em contradição com o Brasil moderno, que é o Severino Cavalcanti.

Veja – O ministro José Dirceu esteve presente em vários momentos importantes da sua vida. Foi um dos presos libertados por seu grupo em troca do embaixador americano seqüestrado, esteve exilado em Cuba na mesma época em que o senhor e teve peso fundamental na sua saída do PT. Qual a relação que vocês têm hoje?
Gabeira – Não há relação. Ele jamais gostou de mim. Em 1989, fui escolhido pela convenção do PT candidato a vice de Lula na eleição contra Collor e ele ficou muito zangado com isso. Aliás, foi um bombardeio geral. Chegaram a dizer – não ele, pessoalmente, mas aliados e pessoas do próprio PT – que eu não era viril o suficiente para representar a classe operária. Excelente isso, não?

Veja – A que se deveria isso, na sua opinião?
Gabeira – Acho que o temor dele é que as pessoas ocupem o seu espaço, que ameacem aquele trono que ele construiu tão duramente, através de tantas reuniões e tanto café frio. Imagine uma pessoa que coleciona sessenta grupos de trabalho! Eu digo que ele é o Tio Patinhas dos grupos de trabalho, que a piscina dele está cheia de relatórios e ele não deixa ninguém chegar perto. Como se dissesse: "Quem vai cuidar do imobilismo aqui sou eu". Mas, de maneira geral, acho que o PT não convive bem com uma personalidade. No sentido de que toda a estrutura do pensamento da esquerda clássico está voltada para fazer com que o conjunto se imponha sobre o indivíduo. Eles são anteriores à fase em que os indivíduos já deram um passo adiante, buscando a autenticidade como referência. Convivem mal com essa idéia.

Veja – Houve um momento em que o senhor acreditou na luta de classes como saída para a transformação da sociedade. Em outro momento, defendeu a política do corpo e, mais recentemente, viveu a experiência de ser, por dez meses, governo. Foram três decepções?
Gabeira – Eu acho que, realmente, na escolha do socialismo houve um erro meu no sentido de não compreender o momento histórico. Contribuiu para isso o fato de estarmos na ditadura militar e essa ditadura militar ser, em si, um símbolo do atraso. Então, você é facilmente levado à ilusão de que, sendo contra ela, você está na frente, quando a verdade é que você está na frente de um projeto em declínio. Quando entendi isso, com a visão do marxismo sendo superada na minha cabeça, não havia mais uma explicação da história, que era uma espécie de substituição da religião. Aí, eu tive de me voltar para dentro de mim para buscar onde estava a referência. Nisso, me vi com a política do corpo, que eu reconheço que foi absorvida pelo sistema. Passou a ser uma grande indústria, como, aliás, ocorre com todos os grandes movimentos. O elemento mais recente nessa sucessão de fracassos foi esse envolvimento com um governo que ia transformar o país e que resultou nessa farsa que vemos agora.

Veja – Diante desses três fracassos, o que restou das suas convicções?
Gabeira – A decisão de me apoiar em alguns princípios de atuação: a democracia – como uma visão estratégica, e não mais como os comunistas a viam, uma tática para chegar ao poder –, a defesa dos direitos humanos, da consciência ecológica e, finalmente, da justiça social. E caminhando por aí eu acho que posso fazer alguma coisa. Não é mais uma grande revolução, com o esplendor daqueles tempos, mas é um pouco parecido com aquela história do Salinger, de O Apanhador no Campo de Centeio: quando eu era jovem, eu queria morrer pela revolução. Agora, quero viver para transformar um pouco as coisas. Sem grandiosidade, sem melodrama. Com pequenas ações, apenas.

Veja – O senhor se separou recentemente. Voltou a se casar?
Gabeira – Eu tenho uma companheira, mas vivo na minha casa, com minha filha.

Veja – É um casamento à la Sartre, então?
Gabeira – O que me fascinou no existencialismo, em Sartre e Simone de Beauvoir, inicialmente, foi justamente a maneira como eles lidavam com essa questão da afetividade. Mas, hoje, não diria mais "a monogamia ou a liberdade", por exemplo. Diria que, se você está bem com uma pessoa, ótimo. Se não está, acho razoável que tente ficar bem com mais de uma.

Veja – O ministro Gilberto Gil declarou que parou de fumar maconha aos 50 anos. O senhor também parou?
Gabeira – Ah, mas eu não fiz 50 anos ainda! O Gil é mais velho, eu sou muito jovem...

Fonte: Veja