terça-feira, 31 de janeiro de 2006

PIRARUCU

Oi Altino!

Como está? Estive ausente nos últimos dias, pois o jornal agora me toma bastante tempo. Claro que tudo piora com a aproximação das eleições.

Tenho uma boa notícia: cerca de três mil pescadores vão capturar 17.528 pirarucus dentro do programa de manejo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Reserva Extrativista Uati-Paraná, no médio Solimões. É a maior captura já autorizada pelo Ibama.

Piraruru é o maior peixe de água doce da bacia hidrográfica da Amazônia, além de tradicionalíssimo nos pratos regionais.

No total, a captura deve ocorrer em 140 lagos, num volume de 770 toneladas de pirarucu. Vale lembrar que o resultado é trabalho dos ribeirinhos e não de programas governamentais.

Sei que na região do município de Mal. Thaumaturgo, aí no Acre, a comunidade se prepara para trabalhar o manejo de pesca. Estive no lago São Francisco, acompanhando técnicos da Seater, onde os pescadores do local já contavam 70 pirarucus.

O trabalho em Mamirauá também começou pequeno e hoje é exemplo para toda a região. Espero que a iniciativa da comunidade São Francisco seja tão bem sucedida quanto a de Mamirauá.

Forte abraço

Michelle Portela
Manaus (AM)

BEM-TE-VI

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

GLÓRIA PEREZ DO ACRE

Após quase dois anos sem nos comunicarmos, a escritora Glória Perez reaparece com uma boa notícia.

- Olá Altino, tomara que este mail chegue a você, acabei de pegar o endereço na internet...

Bem, posso adiantar apenas que ela vai começar a escrever agora a minissérie sobre a História do Acre para a Rede Globo.

Em novembro de 1999, me vali da internet para fazer a entrevista "Coração acreano" com Glória Perez, que serviu para nos aproximar virtualmente. Minha última pergunta foi se o Acre estava nos planos da escritora.

- Sempre esteve. Meu grande sonho é escrever sobre o Acre. Tenho certeza que há de ser o meu trabalho mais bonito.

Ninguém duvida que a acreana Glória Perez escreverá a minissérie com a própria alma.

JORGE VIANA CRITICA O PT


"O PT sofre a síndrome da eterna oposição"

Vera Rosa (*)
Brasília

Com a experiência de quem já foi reeleito, o governador do Acre, Jorge Viana, virou uma espécie de conselheiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e assumiu a tarefa de dar um chacoalhão no seu próprio partido, o PT. Inconformado com as cobranças de companheiros na direção do Palácio do Planalto, Viana diz que há petistas "acovardados" diante da crise política, que só querem aparecer e não conseguem nem mesmo defender o governo. "O PT sofre da síndrome da eterna oposição", desabafa.

Sem citar nomes, o governador afirma haver "pessoas do PT" que ficariam melhor nas fileiras do PSDB e do PFL. Motivo: fazem "verdadeiro jogo de cena" diante da televisão, nas CPIs e nos Estados. "Estou começando a ter vergonha de ter alguns petistas ao meu lado", admite. "Não pelo que fizeram, mas pela capacidade de se hipnotizar pelas câmeras de TV. Parece que foram mordidos pela mosca azul."

Prestes a terminar o mandato, cotado para concorrer ao Senado e integrar o comitê da campanha de Lula, Viana entrou numa polêmica há nove dias, quando, de cima do palanque montado num assentamento rural [clique aqui para assistir], no Acre, entregou ao presidente um manifesto, apelando a ele para que aceite disputar a reeleição. Foi o que bastou para o PSDB entrar com representação contra Lula, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por propaganda fora de época.

"Tudo bem que disputar o Brasil seja mais importante do que o mandato de prefeito de São Paulo, mas acho que, se há sinais de campanha fora de época, não se deve procurar no PT", provoca Viana, numa referência ao prefeito José Serra, um dos pré-candidatos tucanos à sucessão de Lula.

Do grupo moderado do PT, mas afiado nas respostas, o governador que já teve um vice do PSDB no primeiro mandato vai mais longe nas estocadas. "Um político do PSDB disse que Serra é um eterno candidato a Deus. Se os aliados dele falam isso, quem sou eu, um petista do Acre, pecador e cristão, para fazer outra análise?", ironiza Viana, um engenheiro florestal de 46 anos. Com esse tom, o governador que enfrentou o Esquadrão da Morte diz que está na hora de o PT deixar de "levar pancada" e articular rapidamente a defesa do governo Lula na temporada eleitoral.

O manifesto que o sr. entregou ao presidente Lula, pedindo que ele aceite disputar a reeleição, provocou polêmica. Rendeu protestos do PSDB, que alegou propaganda fora de época. Além disso, o ministro Marco Aurélio Mello, que assumirá a presidência do TSE em junho, disse que Lula não pode transformar inaugurações em eventos eleitorais. Como o sr. responde?
Se existe um partido que tem know-how de fazer campanha fora de época é o PSDB. Está em campanha com dois candidatos - o governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra -, e todos nós sabemos como conseguiu emplacar uma proposta de reeleição para evitar que Lula chegasse à Presidência. Não tem crime nenhum nem uso da máquina quando se faz um manifesto solicitando que o presidente aceite disputar a eleição. Isso é bem menos do que hoje se faz em São Paulo.

O que se faz em São Paulo?
Estou aqui de longe, no Acre, mas acho que Serra está consumindo tempo demais na sucessão para presidente. Tudo bem que disputar o Brasil seja mais importante do que o mandato de prefeito de São Paulo, mas, se há sinais de campanha fora de época, não se deve procurar no PT. Há uma marcação cerrada em cima do presidente Lula e a coisa começa a não ter pé nem cabeça. Essa CPI dos Bingos já virou sobra.

Por que, governador?
Eu sempre aprendi que CPI faz a apuração de algo determinado. Ali não tem limite. Os parlamentares têm de tomar muito cuidado para que uma investigação séria não se transforme num palco eleitoral.

Por que a estratégia é o PT lançar a candidatura do presidente Lula agora, enquanto ele continua dizendo que não é candidato?
Quem está na oposição tem tempo de sobra para bater. Mas quem está no governo tem que governar. Eu achei equivocada a discussão que o PT e o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) estavam fazendo, pedindo ao presidente que antecipasse a candidatura para março. Diante dessa crise toda, o PT não pode ficar fazendo cobranças ao Lula. É um erro.

Mas o presidente também vive jogando a culpa de tudo no PT, não? Diz que foi traído, que o PT tem que sangrar...
Essa crise afetou o PT, mas temos de levantar a cabeça. Não fomos nós que criamos o caixa 2. Não é possível que os arautos da corrupção queiram nos dar lição de honestidade. Entramos nessa história, mas tiramos lições e saímos dela. Outros passaram a vida inteira dentro do caixa 2. Quando se tem um problema no PT e na esquerda, todos correm ao Lula para que ele decida. Nesse momento, nós devemos dizer o que queremos.

O PT já disse que quer o presidente candidato...
Se queremos Lula candidato à reeleição, que nos manifestemos - os senadores, deputados, prefeitos, governadores, movimentos sociais, partidos da base. Depois, ele vai avaliar as condições da aliança e o projeto para o segundo mandato. Mas isso é lá na frente. Se nós, da esquerda, ficarmos nos acovardando diante da crise e não tivermos altivez, a militância vai nos atropelar.

Como assim?
Sinto que os militantes do PT, os movimentos sindicais e sociais já superaram mais a crise do que algumas lideranças. Temos de enfrentar a crise com argumentos políticos, dialogando com o País e com as oposições. Não sei por que a direção do PT, do PSB e do PC do B não estão se reunindo a cada dez dias para se posicionar sobre os problemas. Não é possível colocar tudo nas costas do presidente Lula. Está na hora de o PT sair da situação de coitadinho, de ficar só levando pancada.

O prefeito Serra disse que incomoda os opositores por ter idéias próprias. Afirmou, ainda, que o presidente Lula prega a deseducação no País. É preconceito?
Um político do PSDB disse que Serra é um eterno candidato a Deus. Se os aliados dele falam isso, quem sou eu, um petista do Acre, pecador e cristão, para fazer outra análise? O que posso dizer é que ninguém investiu mais em educação do que o governo Lula. Então, como ele pode estar fazendo apologia do não-estudo? Isso é inconcebível. Aliás, não temos medo desse debate. O nosso maior patrimônio para disputar essa eleição são os resultados do governo.

Mas há uma enorme crise política no meio do caminho...
Há companheiros nossos que ficam acovardados, isso sim. Outros, querendo mostrar que são independentes, fazem verdadeiro jogo de cena diante das câmeras de TV, nas CPIs. Estou começando a ter vergonha de ter alguns petistas ao meu lado. Não pelo que fizeram, mas pela capacidade de se hipnotizar pelas câmeras. Parece que foram mordidos pela mosca azul.

De quem o sr. está falando?
Não vou citar nomes, por enquanto. Vou esperar as convenções, porque na hora da eleição eles nos procuram. São pessoas do PT, que estão no Congresso e nos Estados. Há uns que estão passando dos limites: tinham que ir logo para o PFL, para o PSDB, porque aí ficaria mais verdadeiro. Está na hora de a gente saber quem é petista e quem não é. Precisamos saber diferenciar quem é capaz de assumir e pedir desculpas pelo erro daqueles que querem se beneficiar da crise. Tem petista que incorporou o espírito do caos absoluto e abandonou o barco antes mesmo de tentar tapar o buraco no fundo do casco.

Para um segundo mandato do presidente, parte expressiva do PT defende mudanças na política econômica. O sr. concorda?
Um eventual segundo mandato será bem diferente porque o presidente já terá uma economia estável. Será mais a nossa economia do que a das circunstâncias. Poderíamos ter sido mais eficientes na execução orçamentária. Agora, precisamos melhorar os canais de diálogo do PT com o governo. O problema é que temos uma capacidade impressionante de não saber capitalizar as conquistas.

O sr. pode dar um exemplo?
Não é possível que a gente ponha fim à nossa dependência do Fundo Monetário Internacional e o PT não comemore. A Argentina pagou uma parcela da dívida com o FMI e praticamente parou. Fez uma grande festa. Nós nos livramos do FMI, bandeira histórica do PT, e nem comemoramos. Parece que o PT sofre a síndrome da eterna oposição. Parece que a gente não aprendeu nada de ser governo.

Depois da queda da verticalização nas coligações, o presidente deve fazer alianças com partidos envolvidos no escândalo do mensalão, como PTB, PL e PP, e comprar briga com o PT, que defende a volta às origens?

Se fôssemos levar caixa 2 como regra, provavelmente não sobrariam partidos para fazer aliança. Embora haja várias pessoas identificadas por caixa 2, pergunto: e os outros partidos que deram origem a essa situação e não foram investigados? Está evidente que esse é um problema sistêmico. E por que, depois de constatá-lo, o Congresso não fez as mudanças? Eu achei interessante a proposta do PFL, que tentou criar um mecanismo para baratear campanhas. Mas saiu da agenda.

O sr. é cotado para ser o novo José Dirceu na campanha do presidente Lula à reeleição. Vai aceitar?
Está querendo me cassar, é?

Não, de forma nenhuma...
O Zé Dirceu estava lá fazendo o seu trabalho e o prêmio que deram para ele foi uma cassação. Eu não sou candidato a Zé Dirceu. Ainda vou me aconselhar sobre o meu futuro. Pena que o Acre é longe e nossos indicadores ficam ofuscados. Não tenho preconceito contra o eixo Sul-Sudeste, mas acho que há uma visão paulista demais no nosso País. Talvez a gente precise de uma visão mais esparramada na política.

(*) Vera Rosa é repórter do jornal O Estado de S. Paulo

domingo, 29 de janeiro de 2006

SYDNEY POSSUELO

“Lula é indiferente ao índio"

Por Paloma Oliveto (*)

Decepcionado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o sertanista e indigenista Sydney Possuelo acredita que a atual administração petista é o pior governo para os índios nos últimos 20 anos. Ele também acredita que, depois das declarações do presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, o caminho para a demarcação de novas terras indígenas foi dificultado. Um exemplo seria a liminar de reintegração de posse que favoreceu uma fazenda localizada dentro da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. “A decisão do juiz é um reflexo dessa nova ordem”, avalia. A liminar foi concedida na semana passada por um juiz federal de Roraima, que, na prática, ignorou o decreto de homologação da reserva, assinado por Lula ainda no ano passado. Abaixo, trechos da entrevista ao Correio Braziliense:

A Funai informou que o senhor foi demitido porque havia divergências com a atual administração. Além da crítica às declarações do presidente, que outros problemas ocorreram?
Não consigo enxergar nenhum benefício no que esse homem (Mércio Pereira Gomes) tem feito por aí. Eu discordo dele desde o primeiro dia em que ele colocou os pés na Funai, na primeira reunião. O que ele disse, sobre a quantidade de terras indígenas foi muito perigoso, foi terrível. Principalmente porque o momento da política indigenista é de fragilidade. Está tudo desarticulado, a saúde dos índios está péssima. Também é um momento em que a Amazônia está sendo invadida por grileiros. Quando diz que tem muita terra para os índios, é como dizer que essas terras são inúteis para a população. É dizer que a árvore em pé não vale nada, só vale cortada. A questão não é se índio tem ou não pouca terra, mas a postura do presidente da Funai.

O senhor acha que, ao demiti-lo, ele estava cumprindo ordens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva?
Sou um crítico danado do Lula, porque, ao se omitir, ele mostra qual a política do seu governo. Mas não acho que ele tenha mandado me exonerar. Então, se Mércio não tem um chefe que determine que ele faça o que faz, ele está a serviço de quem? Será que é meramente à postura do governo? Eu acho que o governo Lula é indiferente ao índio.

Que interesses ele poderia estar defendendo?
Não sei, acho que essa pergunta tem de ser lançada. O que ele está falando só vai beneficiar os madeireiros, os plantadores de soja, o agronegócio.

O senhor acreditava que a política indigenista iria melhorar no governo Lula?
Sempre fui apolítico, nunca me filiei a partido nenhum, mas sempre votei no Lula. Eu estava embalado pelo sonho romântico do operário, do trabalhador que chega ao poder. Acreditei nisso. Mas o governo Lula é uma balela que já foi desfeita. O presidente não tomou nenhuma atitude e pode se arrepender disso. No Brasil, as pessoas torcem o nariz para a questão indígena, mas é uma área sensível, que tem muito peso internacional. Não falo sobre a minha demissão, mas sobre Lula ter se omitido em relação às declarações do Mércio. Falar que índio tem muita terra em um momento em que a questão está sendo discutida na América Latina, por causa da chegada de um índio ao poder…

Pode-se esperar agora um Abril Indígena mais crítico?
Com certeza. Os caiapós, que mandaram a carta para o presidente da Funai, são um dos povos indígenas mais aguerridos. Eles vão à luta. Há pouco tempo, a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) escreveu um manifesto duríssimo. Essas pessoas estão se manifestando de uma forma dura contra o presidente da Funai, à medida que percebem que nenhuma providência é tomada.

(*) Paloma Oliveto é repórter do Correio Braziliense

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

POLÍTICA É...

Do jornalista Antonio Alves, no blog O Espírito da Coisa, em resposta ao leitor Marcos Diniz, que pediu-lhe não usar de eloqüência para se camuflar da política:

- Vivo no meio da política há muitos anos.
Entendo de política, sei fazê-la, faço-a bem. Por isso digo, com conhecimento de causa: política é uma merda. Eloqüente é quem consegue falar alguma coisa boa a respeito dela.

SANTO DAIME

Polícia apreende 840 quilos de cipó
usado na preparação da ayahuasca

Por Tatiana Campos (*)


A Polícia Rodoviária Federal apreendeu ontem 840 quilos de cipó jagube (Banisteriopsis caapi), às 19 horas, numa barreira montada em Vila Extrema (RO). O cipó, usado no preparo da ayahuasca, estava acondicionado em 24 sacos, dentro de um caminhão cujo condutor não dispunha de Autorização para Transporte de Produtos Florestais.

A carga de jagube foi levada pelos policiais para o Posto de Fomento do Ibama, localizado na Vila Acre, em Rio Branco, onde permanecerá até que o processo do caso seja julgado pela justiça. Até lá, o jagube se tornará imprestável para o preparo da ayahuasca, uma bebida usada em rituais religiosos.

O proprietário da carga, identificado por Roberval Francelino da Silva, será enquadrado no artigo 46 da Lei de Crimes Ambientais (9.605) e está sujeito a uma pena que varia de seis meses a um ano de prisão, além de multa que varia de R$ 100 a R$ 300 por quilo de produto apreendido.

- Tudo indica que o cipó foi retirado de território boliviano, o que caracteriza crime de contrabando internacional. O cipó estava sendo levado para Salvador, a capital da Bahia - afirmou Adalberto Dourado, técnico ambiental do Ibama.

Uma equipe do Ibama se deslocou até a Vila Extrema para lavrar o auto de infração contra Roberval Francelino da Silva. A Polícia Rodoviária, que atua apenas como parceira, encaminhou ao Ibama um relatório da apreensão do cipó.

Dourado disse que a comercialização do cipó é permitida, desde que feita em área de manejo autorizada e vistoriada pelo Ibama. "Nenhum produto da floresta pode ser transportado sem que haja a autorização do Ibama, a ATPF”, alertou.

O cipó jagube ou mariri e a folha chacrona ou rainha (Psychotria viridis) são usadas no preparo da ayahuasca, o chá utilizado sobretudo pelos seguidores da doutrina do Santo Daime. Separadas, as duas plantas não têm qualquer efeito sob o organismo, mas, quando fervidas juntas, resultam na ayahuasca, bebida acre-doce, cuja cor é amarronzada.

Estima-se que milhões de dólares são movimentados anualmente pelo comércio internacional da ayahuasca, do turismo religioso, da abertura de centros, do dízimo, da maconha, da cocaína e de outras drogas que têm sido criminosamente associadas nos rituais de algumas seitas. Vários grupos, dentro e fora do país, frequentemente retiram das florestas acreanas, de modo ilegal, milhares de sacos de jagube e chacrona para seus rituais.

A prática tem sido criticada pelos grupos originais da doutrina fundada pelo maranhense Raimundo Irineu Serra, que geralmente têm a imagem associada àqueles que contrariam as regras estabelecidas pelo fundador.

Através da internet já é possível fazer a encomenda de compra de ayahuasca ou de cipó jagube e folha chacrona. Por causa do comércio crescente e da banalização de um ritual considerado sagrado, alguns seguidores temem que a situação acabe por se configurar num problema de saúde pública a ser enfrentado pelas autoridades brasileiras.

O Centro de Iluminação Cristã Luz Universal (Ciclu- Alto Santo), onde surgiu a doutrina do Santo Daime, dirigido por dona Peregrina Gomes Serra, viúva do mestre Irineu Serra, não possui nenhum outro centro ligado à entidade. Desde a fundação, os seguidores de Irineu Serra são proibidos de convidar pessoas para os rituais do centro.

(*) Tatiana Campos é repórter do jornal A Gazeta.

CHICO PRA JUVENTUDE



Por Ivini Ferraz (*)


O DVD "Chico Mendes para Juventude" é resultado de uma intensa pesquisa que tive a oportunidade de fazer entre 2003 e 2005 no nosso querido Acre.

Após a minha experiência de dirigir o espetáculo "Chico Mendes e o Encantado", em São Paulo, tudo começou sem muita pretensão. A intenção era colher depoimentos das pessoas do movimento para que eu e os atores pudéssemos aprofundar a construção dos personagens.

Quando cheguei em São Paulo, no início de 2004, após ter ministrado a oficina de teatro "O Empate", pude então perceber que o que eu havia trazido era uma narrativa complexa, que explicava não só a história de Chico Mendes mas a história da ocupação Amazônia.

Naquele ano, em São Paulo, comecei a trabalhar com 350 jovens da periferia num projeto de educação ambiental chamado Chico Mendes para Juventude.

No final do ano, não pude me conter e de repente lá estava eu num batelão indo para o Jordão visitar as aldeias kaxinawá. Logo depois, em maio de 2005, estava de volta ao Acre já para gravar o baile anual dos soldados da borracha, entrevistar estes seringueiros corajosos com suas empolgantes histórias da mata e dos seringais.

Encerro o vídeo com uma fala do senhor Tavares, um ex-soldado da borracha, quando ele diz:

- Chico Mendes eu ouvi falar! Mas da mata eu conheço tudo. Qualquer bicho que me perfurar eu sei.

No vídeo "Chico Mendes para Juventude", todos os personagens são narradores. O próprio Chico é um narrador da história do Acre. Como queria atingir principalmente o público jovem, associei estas narrativas à interpretação dos atores da peça e do ator acreano Cícero Faria, com o qual havia trabalhado na oficina "O Empate".

Introduzi uma trilha bastante forte, com letras que eu compus para o CD "O Aquiri é aqui", que também faz parte da coleção Chico Mendes para Juventude.

Destas viagens, voltei com muito material que organizei no vídeo de 53 minutos, dividido em 10 capítulos temáticos. O objetivo do vídeo é ser distribuído para escolas do ensino básico, contribuindo para difundir o legado de Chico Mendes e dos povos da floresta para as futuras gerações.

(*) Ivini Ferraz é coordenadora do projeto Chico Mendes para Juventude.

CHICO MENDES EM VÍDEO

quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

O SONHO ACREANO

Por Claiton Pena (*)

Os acreanos sonham e como sonham. Sonham tanto que muita coisa está virando realidade. São tão sonhadores que agora incluíram no dicionário regional sinônimos para palavra acreano: virtuoso, ser superior, acreanismo e acreanidade.

Digamos o seguinte: os acreanos estão tão de bem com a vida que eliminaram os criminosos da sociedade. Comentam, com a maior serenidade, que os bandidos atuando em Rio Branco chegaram de Porto Velho.

Os acreanos pensam que estão salvos. Costumam repetir que se não fosse isso, ou aquilo, se não fosse a acreanidade, estariam hoje tão ruins quanto Rondônia. Para eles, Rondônia é um caos. O Acre o céu.

Já se ligaram ao Pacífico através do Peru, primeiro que os rondonienses. A ponte Brasil-Perú, em Assis Brasil, foi inaugurada pelo presidente Lula, que pela sexta vez esteve no Acre durante seu mandato. A propaganda oficial diz: “O futuro passa aqui. Ponte Brasil Peru – um sonho acreano mudando o Brasil”.

O sonho acreano é poderoso. Nos meios políticos comentam que o atual governador Jorge Viana, poderá até ser candidato em Rondônia, para tentar salvar o nosso querido Estado de um mal maior.

O sonho acreano mudou Rio Branco. A cidade está muito mais urbanizada que Porto Velho. Não têm bons hotéis, mas excelentes restaurantes. Investem em qualidade de vida, pistas quilométricas para caminhadas seguem as ruas duplas asfaltadas de um extremo a outro da capital.

De noite, ruas iluminadas lembram qualquer cidade litorânea, muita gente caminhando, lanchonetes e restaurantes lotados. Só falta a orla marítima.

Nem todo mundo é PT no Acre. Mesmo quem não é, admite com certo ressentimento e ciúmes: o pessoal do PT está mudando o Acre. E muitos que não eram PT se converteram, influenciados pelo carisma e habilidade política do governador Jorge Viana.

Quando estou em Rio Branco, digo sempre: não sou acreano, mas sou do bem. Para demonstrar que reconheço a profundidade do orgulho acreano, e que mesmo não estando neste patamar, mesmo assim, não sou hostil.

E, então, olhando para eles, tenho muita vontade de ver Rondônia do mesmo jeito. De ver a prosperidade circular. De ver gente feliz. E o que mais me acalenta é que somos um povo batalhador. Temos grandes líderes. Temos apenas que fazer como os acreanos: sonhar muito e ter orgulho de ser rondoniense.

(*) Claiton Pena é jornalista, advogado e publicitário. Nasceu em Sorocaba (SP), mas vive em Rondônia há 25 anos. O artigo foi publicado no blog Marketing Político e Jornalismo, do jornalista mineiro Fred Perillo, que vive em Rondônia há um ano. Perillo, que conhece o Acre, disse sentir pena dos rondonienses e que assinaria embaixo o artigo. Acho bom o povo acreano reforçar a porteira pela qual Rondônia pode passar. O Claiton contou a mim que o dono de um jornal de lá disse o seguinte: "Ou Rondônia muda ou vamos nos mudar de mala e cuia para o Acre".

FERNANDO MELO PROTESTA

O site da organização não governamental Business Professional Women (BPW) destacou na íntegra a carta que o deputado estadual Fernando Melo (PT-AC) enviou para o escritório da ONU no Brasil, na qual enfoca o cerceamento da liberdade de expressão.

A BPW foi fundada, em 1930 em Genebra na Suíça, pela Dra. Lena Madesin Phillips, nascida nos Estados Unidos e que foi eleita primeira Presidente Internacional, e trabalhou ativamente até 1947.

A Federação das Associações de Mulheres de Negócios e Profissionais do Brasil, e todas as Federações do mundo estão padronizadas com a sigla BPW. Atualmente existem 28 BPWs no Brasil, nas cinco regiões, a maioria delas nas regiões Sul e Sudeste.

Eis a manifestação da coordenação da BPW a respeito da carta do deputado Fernando Melo:

- Sua atitude foi cidadã e reflete o posicionamento de nós mulheres que trabalhamos pela construção de uma sociedade mais humana e igualitária.

Clique aqui para ler a carta no site da BPW.

A PALESTINA DO HAMAS

Por Moisés Diniz (*)

Ehud Olmert, Condoleezza Rice, Silvio Berlusconi, por enquanto...

Ainda faltam Tony Blair, Ângela Merkel e toda a matilha de escribas e ‘comentaristas’ que se vendem do sul ao norte do planeta. A irritação é visível. Eles não estão ‘entendendo’ o resultado das eleições legislativas na Palestina.

O Hamas venceu! O Fatah governista sofreu forte derrota. A direita israelense está em polvorosa. Como é que ela vai continuar ‘negociando’ a morte dos palestinos? Como será possível manter as ‘negociações’ sobre a ocupação criminosa dos territórios palestinos?

O Hamas venceu! Como na Venezuela e na Bolívia, os proscritos estão tomando o poder. Os ‘comentaristas’ das grandes redes de comunicação, que não passam de capitães do mato da mídia, já estão consultando as suas velhas teorias. Eles ‘precisam’ encontrar um argumento para essas imprevisibilidades que estão vindo de baixo.

Era normal o exército de Israel bombardear uma cidade palestina, matando velhos, crianças e mulheres grávidas, em represália à morte de um soldado israelense. A imprensa noticiava e, no dia seguinte, os dirigentes palestinos estavam de joelhos pedindo negociação. Bush aplaudia.

E agora, Mahmoud Abbas?

A vitória do Hamas nos envia ao velho debate sobre ofensiva e negociação. Que vitórias o povo palestino conquistou nesses anos todos de negociação? Milhares de mortos, perdas de território e um milhão e meio de refugiados. O Hamas resistiu de armas nas mãos.

Como todo mundo sabe, o fundador do grupo, Sheikh Yassin, velho, cego e paraplégico, foi morto em um ataque de mísseis em março de 2004 e seu sucessor, Rantissi, foi assassinado menos de um mês depois. Era essa a negociação de Israel!

Israel pôde equipar um dos mais modernos e letais exércitos do planeta, alimentado por três bilhões de dólares, anual, a fundo perdido. Presente dos Estados Unidos, que não fez o mesmo com os miseráveis e aidéticos países da África.

Mas, o Hamas não podia se armar. Era a sentença dos países ricos, consumidores de petróleo e destruidores da camada de ozônio. Por isso alimentaram Israel com dólares e tecnologia nuclear. Era preciso continuar dividindo os países árabes e os seus lençóis petrolíferos.

Agora, o jogo mudou. Israel tem dois caminhos. Varrer a Palestina da terra santa (porque do mapa já o fez) ou negociar, de fato, os seus direitos seculares. O Hamas, com certeza, vai negociar com Israel. Mas, será uma negociação diferente, sem submissão. Eles, agora, só vão se ajoelhar para Alá.

Condoleezza Rice afirmou, em relação à vitória do Hamas, que “não é possível manter um pé na política e outro no terrorismo”. É o contrário, senhora secretária, o Hamas, agora, vai manter um pé na política e outro nas armas.

Seus políticos negociarão e seus soldados militantes protegerão o seu povo. E, em pouco espaço de tempo, esses militantes armados formarão o exército regular da Palestina. Nada mais normal.

Se o Fatah conservador tivesse vencido, os jornalões estariam comemorando. Todos, junto com Bush, afirmariam a capacidade de discernimento dos palestinos. Mas, como venceu o Hamas, questiona-se a soberania do voto dos palestinos ocupados. Aliás, estão até esquecendo a alta participação nas eleições, com altíssimo índice de 78%.

Eu fico com a decisão soberana do povo palestino. Eles saberão evoluir da luta armada para a negociação política, sem largar a segurança que os trouxe até aqui. O Hamas mexeu com o mundo!

Al-hamdu lillah!

(*) Moisés Diniz é escritor e deputado estadual do Acre

A FLORESTA E O PFL

Como ocorre todos os dias, caminhões carregados de madeira transitam no centro de Rio Branco. Tirei a foto de um deles, às 11h25, no cruzamento da rua Mal. Deodoro com Av. Brasil. Com certeza era madeira de floresta manejada.



PFL quer mudar projeto de florestas


Emendas podem emperrar votação de projeto do governo que permite exploração sustentada de madeira

Por Gilse Guedes e Herton Escobar (*)

Ministério do Meio Ambiente (MMA) e organizações ambientalistas fizeram de tudo para que o projeto de lei que trata da gestão de florestas públicas fosse aprovado pelo Congresso ainda em 2005.

Não conseguiram. E agora, a votação do texto no Senado é ameaçada por uma nova reviravolta política.

O relator do projeto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), José Agripino (PFL), resolveu apresentar emendas à proposta, o que forçaria o texto a ser votado novamente pela Câmara.

O projeto, considerado crucial pelo MMA para os esforços de conservação da Amazônia, prevê a concessão de florestas públicas para exploração por empresas privadas e populações nativas.

A idéia é usar as concessões para legalizar a indústria de produtos florestais (principalmente madeira) e combater a grilagem de terras, por meio da regularização fundiária das áreas exploradas.

Três emendas foram apresentadas ontem por Agripino (PFL-RN), que, em dezembro, foi acusado por organizações ambientalistas de usar o projeto como "moeda de troca nos embates políticos entre governistas e oposicionistas".

A modificação mais polêmica exige que concessões de áreas maiores do que 2.500 hectares (ou 25 quilômetros quadrados) sejam aprovadas pelo Senado.

"É um desastre", disse ao Estado Paulo Adário, diretor de campanha do Greenpeace na Amazônia.

Segundo ele, 2.500 hectares é uma área muito pequena para a implementação de planos de manejo sustentáveis, que funcionam em ciclos de 30 anos. "Uma área dessas você explora em dois anos."

Como ninguém vai querer passar pela morosidade de uma aprovação no Senado, ele acredita que a emenda forçará a apresentação de projetos pequenos, em áreas que serão exploradas rapidamente e depois abandonadas - com estradas abertas para a penetração do fogo e de madeireiros ilegais.

"Você joga a concessão de florestas no varejo", disse. "O impacto ambiental pode ser seriíssimo."

Outra emenda apresentada por Agripino exige que os diretores do futuro Serviço Florestal Brasileiro, que será criado para gerenciar as concessões, sejam também sabatinados pelo Senado.

E a terceira, que o comitê gestor, composto apenas pelo MMA, segundo o texto do governo, seja formado por mais seis ministérios, entre eles o de Ciência e Tecnologia.

Briga política

Segundo Agripino, o PFL já conseguiu apoio de parlamentares do PMDB, PSDB e PTB para aprovar as emendas no Senado.

O projeto deve ser votado na próxima semana em plenário, mas o governo terá de convencer senadores da oposição a rejeitar a proposta de alteração do texto.

A tática da base governista será sugerir que as emendas façam parte de um outro projeto, que tramitaria separadamente ao PL de florestas públicas - algo que já teria sido acordado na votação do projeto na CCJ.

Segundo o secretário de Biodiversidade e Florestas do MMA, João Paulo Capobianco, é preciso evitar a aprovação das emendas, pois isso obrigaria o projeto a voltar para a Câmara, o que causaria ainda mais atrasos no combate ao desmatamento.

"O PL para nós é uma ferramenta básica para a Amazônia, sem a qual não é possível o poder público se assenhorear das florestas", afirma Capobianco.

Em fevereiro, quando o governo encaminhou o projeto, houve forte rejeição à proposta.

Muitos parlamentares da oposição chegaram a acusar o governo de querer privatizar a Amazônia. "Quem é da Amazônia é à favor do projeto", rebate Adário, do Greenpeace.

(*) Gilse Guedes e Herton Escobar escrevem para o jornal O Estado de S. Paulo.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

EDUCAÇÃO INDÍGENA


A Comissão Pró-Índio do Acre está realizando no Centro de Formação dos Povos da Floresta, em Rio Branco, a formação continuada de 42 professores indígenas já preparados anteriormente pela organização.

O trabalho é financiado pela Rainforest Foundation Noruega e pela Secretaria de Educação do Governo do Acre. A Noruega é um dos poucos doadores bilaterais que tem um programa de apoio especificamente voltado para os povos indígenas.

Há 23 anos, a CPI-Acre se preocupa com o enfoque institucional e pedagógico particular do "projeto de autoria" nas Escolas da Floresta, que corresponde ao à primeira parte do Ensino Fundamental e ao Magistério Indígena de nível médio.

Os currículos têm sido construídos em movimentos de diálogo e confronto com o currículo da educação básica, comum a todo o território nacional.

- Temos alcançado isso através de cursos de formação presenciais no Centro de Formação dos Povos da Floresta, em Rio Branco, e nas assessorias pedagógicas realizadas nas comunidades, observando o cotidiano das escolas nas aldeias - explica a secretária executiva da CPI, Vera Olinda Sena.

Os índios vieram das regiões mais remotas do Acre. Os kaxinauá, por exemplo, vivem no Rio Jordão, no município de Taraucá, na fronteira com o Peru. De lá até o município, são necessários quatro dias de viagem de barco e mais sete dias de volta, subindo o rio.

Em Jordão, o litro de gasolina custa R$ 5,00 e na viagem de ida e volta até Tarauacá o barco consmo 300 litros. Para vir até Rio Branco e voltar à Tarauacá, são gastos mais R$ 600,00 de passagem de avião com cada professor kaxinawá.

A CPI-Acre é uma das organizações não governamentais mais respeitadas do país. Ela foi fundada pelo antropólogo Terri Vale de Aquino. Possui um acervo de 86 publicações didaáticas de educação indígena.

VERA SENA

PROFESSOR ALDIR


Aldir Santos de Paula é doutor em linguística pela Universidade Federal de Alagoas. Ele costuma dizer que é acreano desde 1988, quando começou a realizar pesquisas na região, que resultaram em sua dissertação de mestrado e na tese de doutorado sobre línguas dos povos poyanáwa e yawanawá.

Assisti parte de uma aula dele aos professores índios no Centro de Formação dos Povos da Floresta. Os índios chamam o sinal "?" de ponto de pergunta. E este "!" é o ponto de admiração!

Em algumas línguas de povos do grupo pano não é necessário o uso do sinal "?" porque existe uma palavra que designa aquilo que chamamos de ponto de interrogação.

ALDIR DE PAULA

VALE A PENA

Vale a pena conferir abaixo os depoimento de Edilson Arara, Fernando Kaxinawá e João Napoleão sobre educação indígena.

EDILSON ARARA

FERNANDO KAXINAWÁ

JOÃO NAPOLEÃO

BLOG DA MARY ALLEGRETTI

Eis uma boa nova: a antropóloga Mary Helena Allegretti criou um blog hoje com um objetivo imperativo:

- É preciso construir um espaço de comunicação a respeito do que acontece hoje nos territórios protegidos da Amazônia - afirma Mary Allegretti, que trabalha na Amazônia desde 1978, tendo como área de pesquisa os movimentos sociais, as políticas públicas, os seringueiros e as reservas extrativistas.

Doutora em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília, atualmente ela é consultora independente e professora visitante na Universidade da Flórida (EUA).

Recentemente, foi contratada pelo Governo da Floresta para finalizar a proposta do programa piloto de conversão da dívida externa em investimentos no Acre. A intenção já foi aprovada pelo ministro da Fazenda Antônio Palocci e apresentada ao Tesouro dos EUA em Washington pelo governador Jorge Viana.

A iniciativa pioneira pode abrir espaço para que outros estados brasileiros utilizem o mecanismo norte-americano de conversão de dívidas para obtenção de recursos para conservação de parques estaduais, proteção de populações indígenas, capacitação em manejo florestal, educação e comunicação comunitária. A proposta é aplicar no Acre 15 milhões de dólares da dívida nestas áreas nos próximos 15 anos.

Mary Allegretti foi uma das responsáveis pela projeção internacional do líder sindical e ecologista Chico Mendes. O blog dela será uma fonte segura de informação para quem se interessa pelo destino dos povos que habitam a Amazônia.

Clique aqui para acessá-lo agora.

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

TRADIÇÃO MUSICAL INDÍGENA

O etno-musicólogo Gustavo Pacheco se aliou à ONG Comissão Pró-Índio do Acre para registrar em CD a tradição musical do povo kaxinawá, que é considerada imensa, porém pouco conhecida fora de seu universo.

A primeira etapa do trabalho deverá ser concluída até o meio do ano. O registro será distribuído nas aldeias como reforço ao programa de educação indígena conduzido pela organização no Acre.

No ano passado, Gustavo foi premiado com o trabalho "Brinquedo de cura: um estudo sobre a pajelança maranhense", sobre folclore e cultura popular, pelo Ministério da Cultura, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular.

Também lançou um livro com dois CDs sobre o repertório da festa do Divino Espírito Santo no Maranhão e é editor da coleção Documentos Sonoros do Museu Nacional.

Assista a entrevista que fiz com Gustavo Pacheco no Centro de Formação dos Povos da Floresta, na estrada Transacreana, mantido pela Comissão Pró-Índio do Acre.

GUSTAVO PACHECO

CARNAVAL DO FANATISMO



"Caro Altino, como vão as coisas?


Recentemente, recebi alguns "spams" contendo informações preocupantes sobre a livre distribuição das plantas que compõe a ayahuasca, cursos para aprender a produzir o chá e também propagandas de "crie sua própria igreja", vindas de um grupo comandado por um tal de Gideão.

Como pesquisador do assunto, fiquei preocupado com estas propagandas, que nem chegaram para o meu e-mail particular, e sim em forma de "spam".

Acredito que este tipo de coisa pode prejudicar as instituições ayahuasqueiras em geral, pois este tipo de prática é perigosa e pode ser confundida com os grupos principais.

Além disso, as pessoas de maneira geral estão sujeitas à possíveis danos jurídico-policiais nessas "novas igrejas" e ficam expostas a possíveis danos psicológicos os eventuais participantes de grupos conduzidos por indivíduos não preparados adequadamente para servir o chá.

É por isso que estou encaminhado esta mensagem para pedir sua ajuda para criticar este grupo, pois acredito ser uma prática irresponsável.

Uma sugestão seria a de juntar o apoio de lideranças importantes do Daime, UDV e Barquinha. O que você acha?

Grato pela atenção,
Rafael G. dos Santos"

Nota: Caro Rafael, após visitar o site Nossa Senhora da Conceição sugerido por você, o que posso fazer é reconhecer que a situação é grave. A história da doutrina do Santo Daime, fundada por Raimundo Irineu Serra, permanece ofuscada por versões mentirosas que se valem de todas as mídias. São centenas ou milhares de grupos que banalizam uma doutrina dentro e fora do país. Ela tem sofrido um longo assalto no qual, obviamente, não se respeita sequer direitos autorais. É fácil constatar isso no Google, onde existem 65 mil ocorrências relacionadas à expressão Santo Daime. Nenhuma delas foi publicada pelos que realmente seguem, sem fanatismo, a organização estabelecida pelo fundador. Também não existe nenhum outro centro subordinado ao centro original da doutrina do Santo Daime, do qual ninguém recebe convite para frequentá-lo ou sequer vai encontrar o seu endereço na mídia. Mas a cada dia os messiânicos dissidentes se fracionam mais e mais. Paradoxalmente, o tal Gideão está sendo mais honesto que a maioria ao publicar a tabela de preços e anunciar algumas promoções na cobrança de seu xamânico carnavalito . Assim como acontece em relação ao nome de Jesus, existe muita gente ganhando muito dinheiro usando o nome de Raimundo Irineu Serra e da sua doutrina. São milhões de dólares decorrentes do comércio internacional da ayahuasca, do turismo religioso, da abertura de centros, do dízimo, da maconha, da cocaína e de outras drogas que têm sido criminosamente associadas aos pretensos rituais, que são mais carnavalescos que religiosos quando comparados ao original. A situação caminha para se configurar num problema de saúde pública a ser enfrentado de modo firme e competente pelas autoridades brasileiras. As pessoas precisam estar atentas para que possam se defender do assédio do fanatismo, que se expõe apenas como simulacro do conhecimento oculto da humanidade. Quanto à sua sugestão, compete aos centros. Esta é apenas a minha opinião. Um abraço.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

ECO-GUERREIRA MARINA



Existe na edição de hoje da Folha de S. Paulo uma notinha dando conta que a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) foi citada pelo jornal britânico "The Independent" como uma das dez pessoas que mais lutam (por vezes literalmente) pelo ambiente no planeta.

O ranking foi feito pelo jornalista especializado em ambiente Fred Pearce, e coloca a acreana ao lado da ativista queniana Wangari Maathai, Prêmio Nobel da Paz de 2004, e do militante antibiotecnologia francês José Bové, famoso por seus ataques a lanchonetes McDonald's.

- [Marina] Silva está envolvida em proteger a floresta amazônica e a vida de seus guardiões, incluindo os seringueiros. Com [Chico] Mendes, que foi assassinado em 1998 [o correto é 1988], ela ajudou a organizar a resistência aos madeireiros no Estado do Acre - diz o jornal, em referência ao movimento dos empates.

Outros "eco-guerreiros" listados pelo "Independent" são Paul Watson, fundador da ONG Sea Shepherd e Amory Lovins, profeta da energia renovável.

Na foto do Sérgio Vale aparecem o governador Jorge Viana e a ministra Marina Silva caminhando até a casa de um seringueiro cuja família ajudou a combater os incêndios em Xapuri durante a seca amazônica de outubro.

EXCLUSIVO

ÍNDIAS NO BERTHA LUTZ


As índias acreanas Kátia Hushahu e Raimunda Putani (clique sobre a foto), da etnia yawanawá, estão entre as 54 mulheres brasileiras que concorrem ao prêmio Mulher-Cidadã Bertha Lutz.

A indicação das pajés, por iniciativa do senador Tião Viana (PT), foi recebida no mês passado pela Subsecretaria de Apoio a Conselhos e Órgãos do Parlamento.

No vídeo acima,
Kátia Hushahu afirma:

- Nós tivemos a coragem de enfrentar esse desafio. Os nossos corpos são de mulheres, nós somos mulheres, mas o que nós pensamos e fazemos não são pensamentos e ações de mulheres.

Os índios se recusaram a traduzir as palavras sagradas proferidas pelas pajés durante o trabalho de cura para a menina Kanemani, de cinco anos, filha do líder indígena Joaquim Tashka Yawanawá, autor da filmagem.

- As palavras não podem ser traduzidas. São palavras de pajés. Somente os pajés ou alguem autorizado por eles podem traduzí-las - explicou a índia Edna Yawanawá.

Hushahu e Putani apareceram na mídia a primeira vez, em novembro, neste modesto blog (veja aqui), quando Laura Soriano Yawanawa relatou que as duas mulheres se mostraram mais corajosas que os homens da tribo ao prestar juramento ao Rare, uma planta sagrada do povo yawanawá, usada apenas na iniciação ao xamanismo.

Dias depois, o jornal O Estado de S. Paulo destacou a proeza delas em reportagem de João Maurício Rosa, correspondente no Acre. Hushahu e Putani já receberam o apoio do Movimento Mulheres pela Paz.

Hushahu e Putani tiveram que passar por provas muitos difíceis para se tornar pajés. Chegaram até a pensar que fossem morrer.

A dieta delas, que encerra em fevereiro, é rigorosa. Além de abstinência sexual, tiveram que ficar nove meses sem beber água e sem comer alimento doce ou salgado.

Elas se alimentam basicamente de frutas e algum tipo de peixe pequeno, mas apenas uma vez por dia. Tiveram até que caçar cobras sucuris gigantes, para enfrentá-las até a morte.

O principal alimento delas é espiritual, baseado no uni (ayahuasca), a bebida sagrada de vários povos da Amazônia, e o rume (rapé) inalado pelo nariz.

Hushahu e Putani entre as concorrentes do Bertha Lutz já é um prêmio para o povo yawanawá.

LIMPEZA NO PFL

O conselho de ética do PFL no Acre decidiu pela expulsão de Paulo Ximenes, membro da executiva regional, acusado de traição ao partido. Ele havia sido nomeado pela executiva nacional por indicação do pré-candidato ao governo Chagas Freitas.

A expulsão foi decidida em decorrência de Ximenes aparecer frequentemente nos veículos de comunicação do empresário Narciso Mendes para se contrapor à decisão da direção nacional de lançar candidato próprio ao governo estadual.

Ximenes defende a candidatura de Márcio Bittar (PPS) ao governo.
Clique na setinha abaixo e assista a entrevista com o presidente regional do PFL.

domingo, 22 de janeiro de 2006

CHAGAS FREITAS

LAGARTAS NA SAMAÚMA

Elas congestionaram o tronco de uma das samaúmas do quintal.

Existe alguma substância na cabeça delas que atrai as moscas.

Sem repugnância, clique sobre a foto.

sábado, 21 de janeiro de 2006

CINEMA DE CABOCLO

Aproveitei a visita de Lula ao Acre para tornar mais útil a minha câmera digital.

Gravei o apelo do governador Jorge Viana ao presidente, para que aceite disputar a reeleição, e a resposta de Lula.


Desculpem-me pela qualidade das imagens, pois foram gravadas, experimentalmente, sem tripé, em baixíssima resolução.

Prometo aprender a usar melhor a ferramenta para publicar boas entrevistas e animar esse modesto blog.

Os vídeos me levaram a encontrar aquele vídeo no qual Lula brinca com o então candidato a prefeito Ferrando Marroni e afirma que Pelotas (RS) é uma cidade-pólo, exportadora de veados.

Clique na seta dos posts abaixo para assistir os dois vídeos.

O APELO DE JORGE

A RESPOSTA DE LULA

NO CHIQUEIRO

Chiqueiro é aquele espaço que as autoridades, geralmente a Presidência da República, costuma reservar aos jornalistas durante as solenidades. No chiqueirinho da Bonal havia até lama de verdade.

Putz! Esqueci o nome do fotógrafo que aparece na foto, à esquerda, de camiseta azul. Alguém me ajuda?

Depois dele: Lamlid Nobre (Secretaria de Comunicação do Acre), Daniela Assayag (TV Globo), Mirella D'Elia (CBN), Luiza Damé (O Globo), Liege Albuquerque (Estadão), Kátia Brasil (Folha) e eu, agachado.

Bom reencontrar velhos e fazer novos amigos.

P.S.: A jornalista Luiza Damé enviou a seguinte mensagem: "Tudo bem, Altino. Adorei teu blog. Adorei a surpresa!!! O fotógrafo é o Alex, do Estadão. Mostrei para o pessoal aqui do comitê do Palácio. Abraços, Luiza"

DANIELA E LIEGE

As jornalistas Daniela Assayag (TV Globo) e Liege Albuquerque (Estadão) conferem a qualidade das fotos que tiraram em máquina digital.

- Presidente planta seringueira na bonal - está anotado no bloco da Liége.

Ela trabalhava na sede do Estadão, em São Paulo, mas desde o ano passado voltou para Manaus, onde é a correspondente.

Foi surpresa saber que essa competente repórter é acreana.

- Nasci em Tarauacá, mas nossa família mudou para Manaus quando eu tinha apenas dois anos. Ainda tenho parentes lá e quero que surja oportunidade para voltar à terra.

LULA E MARINA

O presidente Lula e a ministra Marina Silva plantam seringueira e pupunha na sede da Bonal, antigo seringal Bom Destino, em Senador Guiomard (AC).

KAMBÔ

E a princesa beijou o sapo

Veneno de rã usado por índios vira moda entre terapeutas alternativos, para preocupação da saúde pública

ANA ARANHA

A nova onda entre terapeutas florais e mesmo médicos homeopatas é uma receita repulsiva - e um tanto perigosa. Na busca pela serenidade de espírito, pela beleza e pelo equilíbrio do físico, a moda é o kambô, veneno de uma pequena rã amazônica. Conhecido há gerações por grupos indígenas do Acre, o kambô é usado para dar vitalidade nos tempos de caça. Entre os brancos, ganhou fama de remédio milagroso. Como o veneno nunca foi suficientemente estudado e as reações a ele são violentas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária decidiu proibir a propaganda do produto (só a publicidade, já que o kambô mesmo não pode ser vetado pela Anvisa, pois não é classificado como remédio). A determinação, entretanto, ainda não surtiu efeito: o veneno segue cada vez mais procurado. Uma simples dose é vendida em São Paulo por R$ 120.

Os divulgadores da substância destacam principalmente seu efeito anti-stress, mas a estudante Bruna Lobo, de 21 anos, encontrou na substância um tratamento para seu problema de acne, conseqüência de distúrbios hormonais. "Na hora vomitei e senti dor no estômago. Depois de algum tempo as espinhas foram desaparecendo e meu ciclo menstrual ficou regulado." O músico Wellington Machado, de 29 anos, sofre de reumatismo. Procurou o kambô porque lhe disseram que melhorava a circulação sanguínea. "Minhas dores diminuíram em 80%", afirma.

Não são apenas os médicos que manifestam suas reservas em relação ao uso do kambô. Até os líderes indígenas criticam o modismo. Segundo o cacique Tashka, líder dos iauanauás, a propaganda de que o veneno cura todos os males funciona como placebo. "Se você der Coca-Cola a quem nunca tomou e disser que é remédio, ele vai se sentir bem. Esses movimentos new age querem achar na cultura indígena a resposta para seu mundo vazio", diz Tashka. Fernando Katukina, líder dos catuquinas, reclama os direitos de conhecimento tradicional sobre a substância. Ele acusa divulgadores no sul do país de charlatanismo. "Eles usam a gente, dizem que mandam o dinheiro de volta, mas nunca recebemos nada."

Os relatos sobre a rã e a disputa pela propriedade geraram a criação de um grupo no Ministério do Meio Ambiente, composto de médicos, antropólogos e biólogos, que vai dissecar as propriedades do veneno. Um dos médicos do grupo, Glacus de Souza, alerta para os riscos da substância. "Não dá para saber como pessoas com problemas cardiológicos e neurológicos seriam afetadas. Não há relatos de morte, mas tenho muitas reservas à urbanização do procedimento sem o acompanhamento da experiência indígena."

Ritual
da aplicação
- Com um pedaço de cipó em brasa, são feitas queimaduras no braço dos homens e na perna das mulheres. Os pontos variam de três a 13

- O kambô é colocado sobre os pontos, sendo absorvido pela pele queimada, e entra na corrente sanguínea

-Em segundos o veneno acelera os batimentos cardíacos, aumenta a pressão arterial e causa formigamento

- Depois de alguns minutos, o organismo passa a reagir com contrações gastrintestinais, o que gera náusea e vômito

- Quinze minutos depois da aplicação, retira-se o kambô e a sensação que se segue é de bem-estar e relaxamento


Entrevista com índio Tashka sobre kambô


ANA ARANHA

Tashka é o líder dos Yawanawá, grupo indígena da língua Pano que usa o kambô há diversas gerações no Acre. Sua aldeia é composta por 620 pessoas que vivem de caça, pesca e da parceria com uma empresa americana de cosméticos. Os Ayawanawá chamam o veneno do sapo de kapun - apenas uma, das muitas variações do nome. Tashka, também conhecido como Joaquim Yawanawá, morou quatro anos nos Estados Unidos aprendendo inglês, computação, cinema - e muito sobre como funciona o mundo dos brancos. Ele deu a seguinte entrevista pela única linha telefônica de sua aldeia, instalada na semana passada.

ÉPOCA - Em que momentos os Yawanawá usam o kambô?
Tashka - A gente começa a usar antes de nascer, quando nossas mães ainda estão gravidas, e logo depois que a gente nasce, para limpar o sangue da mãe e renovar as energias. Acreditamos que, depois do parto, a mulher ainda guarda resíduos dentro dela. O kapun limpa e como fortificante. Quando crianças, tomamos para sermos fortes e felizes em nossas pescarias e caçadas, para não sermos crianças preguiçosas. Quando adultos, tomamos sempre que nos falta inspiração, energia e motivação. Também para prevenir doenças e deixar o espírito forte.

ÉPOCA - Com que freqüência vocês usam?
Tashka - Depende da pessoa, não tem data marcada. Se toma mais no inverno, que é a época em que chove e que o sapo canta.

ÉPOCA - Alguma vez alguém passou mal ou morreu por causa do efeito?
Tashka - Tomando de forma respeitosa e seguindo o ritual, nunca morreu ninguém. Agora, tomando como os New Ages do sul do pais, não duvido que morra um a qualquer hora.

ÉPOCA - Os vendedores de Kambô no sul costumam dizer que ele funciona como cura para todos os males, que é medicina indígena, essa é a concepção correta?
Tashka - Essas propagandas são muito enganosas. O kapun tem suas especificidades. É aquela história de que, se você acredita, você se cura. Se você der Coca-cola para quem nunca tomou e disser que é remédio, ela vai se sentir bem, mas é psicológico. O kapun está ligado ao lado espiritual e físico, mas as pessoas tomam porque se sentem bem. A gente toma muito para caçar, e funciona. De manhã cedo, os jovens se juntam numa roda, tomam e vão para a mata buscar o que pediram: sorte, energia e saúde. Também pode curar algumas doenças específicas, mas não do jeito que é divulgado nas cidades.

ÉPOCA - Quais são as doenças?
Tashka - A malária. Quando os seringueiros chegaram aqui na Segunda guerra, morriam de malária aos montes. Aí o patrão deles veio perguntar para o meu avô como a gente tratava malária, e meu avô disse que tinha um remédio que, ou ía curar, ou ía matar eles todos. O patrão aceitou e todos os que tomaram ficaram curados. Funciona muito também como se fosse uma vitamina, a gente dá para criança que está magra e amarela. A gente toma também para verme e para a preguiça. Aqui na aldeia não tem índio preguiçoso. Índio acorda às cinco da manhã e vai pescar, se estiver com preguiça toma o sapo que é para dar coragem.

ÉPOCA - Como vocês avaliam o jeito que o kambô vem sendo usado no sul do país?
Tashka - Tem uma terapeuta chamada Soninha (Sônia Menezes) que está fazendo várias seções em São Paulo, usando o povo Katukina para fazer o mandado dela. Isso entristece muito nosso povo. O que existe hoje é um roubo do conhecimento tradicional Ninguém mais que o povo indígena sabe usar o kapun. Uma pessoa que visita a aldeia e se diz terapeuta não é a pessoa correta para fazer a aplicação. Tem muita gente em São Paulo dizendo que é pajé para fazer ritual, mas nunca nem estudaram para ser. Eu acho que o xamanismo hoje está perdendo sua essência por conta desses New Ages, eles vêem na cultura indígena a resposta para o seu mundo vazio. Eles não conseguem se encontrar e vão procurar na cultura dos outros as respostas que eles querem. Mas o que a Soninha está fazendo tem no mundo todo. Quando morei em São Francisco, na Califórnia, vivia rodeado de New Ages e ouvia as pessoas dizendo “você é índio, você é grande, vem se apresentar como pajé que todo mundo vai te ouvir”. E eu dizia que eu não era pajé, mas não adiantava. Não pode, suja a imagem de quem dedica uma vida inteira nisso.

ÉPOCA - Como os Ayawanawá vêem o movimento de empresas farmacêuticas e laboratórios de pesquisa estudando e patenteando substâncias do kambô para desenvolver remédios?
Tashka - Nos preocupa de que forma vamos proteger o conhecimento. As companhias farmacêuticas e laboratórios estão estudando o sapo arduamente para tirar dele a essência e nos devolver em forma de pílula ou remédio industrializado. Nós, os donos do saber não vamos levar nada e, as grandes companhias, tudo. Eu defendo que cada povo, cada tribo do mundo tem que ser respeitada. Tudo bem, aqui na Amazônia tem muito medicamento que pode curar, a gente não pode ser ambicioso e prender isso só para a gente. Mas precisa de reciprocidade. Aqui na aldeia, quando você dá, você recebe sem esperar. Nesse mundo das grandes indústrias não existe reciprocidade, só ganho. Existe uma disputa muito grande, eles patenteiam e viram donos só porque fizeram uma pequena mudança, prejudicando os verdadeiros donos. A lei de patentes no Brasil é muito frágil. Ainda não existe uma política que protege o conhecimento tradicional, eu estou muito decepcionado com a lentidão com que o Ministério do Meio Ambiente conduziu a discussão. Eu achei que a ministra Marina Silva ía avançar, sendo uma defensora do meio ambiente, mas nada. Há pouco tempo estive em um congresso nos EUA e conheci uma pessoa que tinha a expressão “medicine hunter” estampada na sua mochila. Ela já tinha morado no amazonas e a função dela era procurar medicina para as empresas farmacêuticas e “ajudar as comunidades” (risos). Essa última parte é difícil de acreditar. A gente sabe que há vários biopiratas espalhados pela Amazônia, mas o problema é que essas pessoas não vêm com uma placa na testa, eles sempre dizem que vem para ajudar. Não dá para identificar.

Fonte: Revista Época

LULA E EUPÍDIO


O governador Jorge Viana, o presidente Lula e o ministro Antonio Palocci estiveram hoje cedo na modesta casa do Eupídio Moreira, no bairro Defesa Civil, a pouco mais de um quilômetro da rua onde eu moro.

Eupídio, tetraplégico aposentado, é amigo de Lula dos tempos de sindicato. Ele perguntou a Lula sobre a candatura à reeleição.

- É cedo ainda para definir. Os adversários até querem que eu entre em campanha agora - respondeu Lula.

Eupídio criticou Lula sobre seu futebol.

- Você é ótimo presidente, mas como jogador de futebol precisa treinar bem mais.

- Vou mostrar como não sou. Vou enviar um vídeo pra você com imagens do meu futebol.

As paredes de madeira e o sofá da sala foram forrados com um simples tecido de algodão para receber os visitantes ilustres.


A foto é do Mauro Maciel.

NÃO DUVIDE DE MIM



Por Joaquim Tashka Yawanawá (*)


Olá Altino e seus fiéis leitores!

Viva 2006, de muito alto astral. Voltei ontem da aldeia, após um mês junto com minha esposa e minhas duas filhas, filmando dois novos documentários que vão estar prontos até metade deste ano. Um será sobre o ritual do sapo kapu, também conhecido como kambô, e outro sobre o xamanismo do povo yawanawá.

Estive por um mês isolado na mata, com um grupo de sete yawanawá, que está sendo iniciado no xamanismo através dos pajés Tata, Yawarani e Tui Kuru. Este grupo é parte do trabalho de conscientização e valorização da cultura que vêm sendo feita pelo meu povo. O pessoal fez um juramento ao Rare, que é uma planta sagrada que inicia ao mundo da espiritualidade yawanawá. O juraramento consiste em aprender, zelar, cuidar e proteger o conhecimento tradicional yawanawá.

Ando muito feliz por presenciar este acontecimento de modo natural e espontâneo, partindo dos próprios yawanawá. Desta forma, podemos fechar acordos com empresas internacionais, como a Aveda, e lançar uma grife de moda com a marca do próprio povo, sem perder o caminho de onde viemos. Aproveitei e acabei também entrando numa dieta por um mês, isolado, em abstinência sexual, sem comer nada doce, nada de carne de caça grande. O pessoal do grupo sequer recebe visitas. Ficam isolados, em dieta mais severa, tomando apenas ayahuasca e Raré.

Quero compartilhar com vocês um sonho que tive, que me fez acreditar muito mais na força do espírito de nossos ancestrais. Sonhei com a força do Rare ou do Runuã, que é a cobra jibóia. Não sei ao certo o que era. Sei que estava em algum lugar, que parecia uma casa de cura. De repente, chegou uma pessoa que era esperada por todos. Chegou um homem negro, de altura mediana, de aparecência serena, vestido com uma bata branca. Ele se aproximou para fazer uma limpeza em mim e na minha casa. Isso mesmo, eu estava em casa.

Meus julgamentos e idéias sobre crenças espirituais resistiam e rejeitavam suas curas. Eu queria antes saber sobre sua verdadeira identidade. Lutei com essa entidade para saber quem era de verdade. Pude olhar em seus olhos e ver seu rosto. Meu sexto sentido dizia que ele era um espírito muito forte que fora a enviado pelo Rare. Minha falta de fé e meus julgamentos sobre ele, fizeram-me lutar com ele.

No entanto, ele tinha vindo em paz, não havia necessidade de uma luta. De repente, ele se transformou numa serpente e disse:

- Não duvide de mim, não brinque comigo. Para que me chamastes se não acreditas em mim?

Despertei com um grande grito, que despertou a vizinhança. Os cachorros latiram assustados com meus gritos, o vizinho abriu a janela para ver o louco que gritava no meio da noite. Estou aqui em casa, andando na sala. Fumei uns dois cigarros e sinto falta do meu rapé, que deixei na aldeia. Agora, sentado diante do computador, tento montar pedaços do meu sonho e entender a mensagem.

Hoje ainda volto pra aldeia, para retomar o trabalho de iniciação espiritual e para acompanhar o tratamento da minha filha de cinco anos que está também isolada na mata com o grupo, nas cabecerias do Rio Gregório. É lá que descansa em paz nosso avô e grande xamã Antônio Luis.

O desenho que estou enviando é da Hushahu, uma das mulheres xamã yawanawá, que está concluindo a dieta agora em fevereiro. É sobre o espírito da jibóia, que representa para os yawanawá o espírito do Uni (ayauhasca).

(*) Joaquim Tashka Yawanawá é um dos líderes do povo yawanawá. Clique aqui para saber mais a respeito dele.

Comentário do Txai Terri Aqui: "Só pra lembrar ao amigo Joaquim Tashkã que estou com muitas saudades dele porque, há quase dois meses, não o vejo; e dizer que é muito bom que ele esteja fazendo uma vigorosa dieta alimentar e sexual nesse novo ano que se inicia; e que quando voltar não se lambuze no mel e venha com espírito bem forte pra conseguir demarcar a Terra Indígena do Rio Gregório, que os Yawanawá partilham com os Katukina, ainda neste ano de 2006; lembro-lhe que o presidente da Funai disse recentemente que os índios brasileiros já têm muitas terras e que é preciso dá um basta nas reivindicações indígenas, exortando o Supremo Tribunal Federal de ajudá-lo nisso; e também pra lhe lembrar que o governador Jorge Viana me disse recentemente que você pode confiar nele nessa luta pela demarcação da TI Rio Gregório nos limites proposto pelo GT de identificação e delimitação da Funai, cujo relatório já foi encaminado à Diretoria de Assuntos Fundiários da Funai; acho que ele está, de fato, disposto a lhe ajudar nessa articulação toda, mesmo contra a vontade do atual presidente da Funai, que não só declarou, mas, de fato, paralizou todos os processos de regularização de terras indígenas no país. É isso aí, Joaquim. Venha da floresta com a força do cipó e do rare pra enfrentar os inimigos passarão que continuam dominando a Funai do governo Lula, que se encontra, hoje, aqui entre nós. Um grande abraço pra você,meu amigo Tashkã. E não seja um homem de pouca fé (ou de por café), porque esses mistérios todos existem mesmo, não é conversa fiada, não. "O sonhar é uma verdade, igualmente a luz do dia ..." (trecho de um hino do Cruzeiro, do Mestre Juramidã). Txai Terri"

BAIANO PORRETA

Mensagem do jornalista Carlos Navarro, ex-diretor da sucursal do Estadão em Salvador, com quem trabalhei no final dos anos 1980:

"Grande Altino,

sei lá... faz 20 anos que não nos falamos. Acho que a última vez foi em 88, em Recife, em um congresso de jornalistas. Bom saber de você. Encontrei-o hoje no Blog do Noblat. Desde 97 deixei o Estadão, faço consultorias, marketing político, edito umas publicações, essas coisas. Lembro de você em uma dessas vezes que teve de sair daí para não ser morto, apenas por fazer bom jornalismo. Vejo que você não mudou.

Um grande abraço

Carlos Navarro"


Nota: Caro Navarro, saudades daqueles tempos, em Recife ou São Paulo. Recorrendo àquela palavra, não percamos a "sinergia" por mais 20 anos. Meu e-mail é altinoma@uol.com.br. Bom saber que, após tantos anos, você permanece tão disposto para o trabalho. Conhecendo sua lisura, posso imaginar que você não tem a mesma vida fácil de seu conterrâneo Duda Mendonça. Por aqui, a corrupção e os grupos de extermínio diminuiram bastante e agora se pode viver sem tantos sobressaltos e escândalos. Lula está em Rio Branco desde o final da tarde de ontem. A comitiva ficou hospedada em um hotel, mas o presidente dormiu na nova residência do governador Jorge Viana, que há sete anos morava na casa de uma irmã dele. Na nova casa, os móveis e o piso são de madeira certificada, originária de manejo comunitário na floresta. O Palácio Rio Branco, sede do governo estadual, é o único do mundo cujos móveis também são de madeira certificada. E Antônio Palloci entra para a história como o primeiro ministro da Fazenda a visitar o Estado. Aliás, o engenheiro florestal Jorge Viana costuma contar, sem revelar o nome, que certo dia convidou um ministro para conhecer o Acre e obteve a seguinte resposta: "Ótimo convite, Jorge. Tenho uma agenda a cumprir em Belém, no Pará, e como o Acre é pertinho, darei um pulo até lá". A Amazônia permanece fora de foco na mídia e no governo. Forte abraço, Navarro.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

AO POVO AMAZÔNIDO

Comentário de Taís Ladeira, Gerente da Rádio Nacional de Brasília, em relação à nota "Agência sem censura":

"Caríssimo Altino,

a equipe de jornalismo da Rádio Nacional da Amazônia, incluindo a nossa correspondente, Thaís Brianezi, têm se esforçado para pautar mais e melhor a Amazônia Legal na mídia brasileira. E, principalmente, cumprindo o dever de levar informação de qualidade ao povo amazônido, com fatos importantes e vitais para sua cidadania. Estamos felizes com seu reconhecimento.

Abraço fraterno,
Taís Ladeira"

DOCE DILEMA

Eis o doce dilema da família Viana diante de Lula:

- O Jorge pode tudo; o Tião não pode nada.

A conversa dos três hoje à noite pode ajudá-los a encontrar a saída.

ILHA DAS FLORES

Meu amigo Branco Medeiros, que já viveu no Acre e vive agora em Belém, deu uma dica que me levou finalmente a assistir o premiadíssimo documentário "Ilha das Flores", de Jorge Furtado, com Ciça Reckziegel.

Narrado por Paulo José, o documentário de 13 minutos encerra assim:

- Livre é o estado daquele que tem liberdade. Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguem que explique e ninguém que não entenda.

Clique em Porta Curtas para acessar as seleções especiais criadas pela editoria do site.

DIREITO À INFORMAÇÃO

Comentário do jornalista Rodrigo Savazoni, Redator-Chefe da Agência Brasil, a respeito da nota "Agência sem censura":

"Altino,

Para nós da Agência Brasil, o reconhecimento do trabalho por um profissional com a sua história, com o seu nível de compromisso com a liberdade de imprensa, é motivo de extremo orgulho. Reforça ainda mais o nosso compromisso assumido com o cidadão brasileiro e com a universalização do direito à informação".

AVISO AOS NAVEGANTES

A imprensa que acompanhará a partir de amanhã a visita de Lula ao Acre vai deparar com um prato cheio caso o deputado Chicão Brígido (PMDB) seja mesmo signatário do documento no qual ilustres acreanos pedem ao presidente para encarar o desafio da candidatura à reeleição.

O instituto da reeleição foi obtido por FHC, em 1997, a preços altos. Gravações revelaram que os deputados Ronivon Santiago e João Maia, que eram do PFL do Acre, ganharam R$ 200 mil para votar a favor do projeto. Os deputados foram expulsos do partido e renunciaram aos mandatos.

De acordo com a denúncia, cabia aos governadores do Amazonas, Amazonino Mendes, e do Acre, Orleir Cameli, efetuar o pagamento. Na conversa registrada na fita, Ronivon dizia que mais três parlamentares – Osmir Lima, Zila Bezerra e Chicão Brígido – tinham vendido seus votos.

Ainda em 1997, veio a público que Chicão Brígido alugava o mandato para a suplente Adelaide Neri e recebia parte dos salários dos funcionários do gabinete.

Quem avisa, amigo é.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

AGÊNCIA SEM CENSURA

Justiça seja feita ao governo do presidente Lula: a estatal Agência Brasil não sofre censura. É por isso que hoje é a melhor agência de notícias do país em abrangência e conteúdo.

Possui repórteres em Brasília e nas sucursais do Rio e São Paulo, além de correspondentes no Paraná, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Sul, Maranhão e Amazonas.

A Agência Brasil tem alcançado credibilidade crescente sem bajular o presidente, o governo e o PT. O noticiário segue as regras básicas do bom jornalismo e até expõe, sem afetação, o ponto de vista de quem faz oposição ao governo.

Isso talvez explica o fato de o material produzido se tornar cada vez mais visível na mídia ao ser utilizado e citado por centenas de veículos de comunicação, entre os quais se incluem as tradicionais agências privadas.

A Agência Brasil tem a melhor cobertura do que acontece na Amazônia. Hoje, por exemplo, a repórter Thaís Brianezi, correspondente em Manaus, revelou que um prefeito do PT em Rondônia mantém no cargo o secretário que confessou o assassinato de um líder seringueiro.

- O delegado já pediu a prisão duas vezes, mas a Justiça negou. Ele continua na prefeitura até ser condenado e preso. O crime que ele cometeu não teve nada a ver com a administração - declarou à Agência Brasil o prefeito de Vale do Anari, João Alves.

Os governos estaduais e as prefeituras, sobretudo aqueles sob o controle de administrações do PT, poderiam se inspirar no grande serviço que a Agência Brasil está prestando à opinião pública e à liberdade de imprensa no país.

Clique aqui para ler a reportagem completa sobre o prefeitinho de meia-tigela.

ESTRADA DO PACÍFICO

Está cada vez mais próximo o dia em que poderemos transitar por estradas pavimentadas do Atlântico ao Pacífico. A ponte que será inagurada no sábado sobre o rio Acre, ligando os precários portos fluviais brasileiro e peruano, de Assis Brasil e Iñapari, na verdade, faz parte de uma imensa rede de pontes, estradas, portos e outros investimentos de infra-estura, capazes de revolucionar o comércio e o turismo em 12 países da América do Sul.

Ao todo, são 335 projetos que se agrupam em oito áreas de integração, chamados de Pólos de Desenvolvimento. A ponte em Assis Brasil integra a obra de 2.603 quilômetros da rodovia interoceânica, batizada pelos acreanos de Estrada do Pacífico, que ligará definitivamente o Brasil aos portos peruanos de San Juan de Marcona, Matarani e Ilo, no Pacífico.

A Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana foi proposta originalmente pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Embora não seja muito conhecida do público, a proposta fundamental do plano é viabilizar a integração dos países do continente.

FHC apresentou o plano durante um encontro de chefes de estado da América do Sul, realizado em Brasilia, em 2000. São projetos prioritários: pontes, estradas, ferrovias, canais e gasodutos. Muitos estão em construção e a maioria deve ser concluída em 2010.

A iniciativa é considerada o plano mais ambicioso de investimentos em infra-estrutura que pretende desenvolver e integrar as áreas de transporte, energia e telecomunicações da América do Sul. A expectativa é de que o plano criará novas oportunidades econômicas, atrairá milhares de turistas e apresentará novos desafios aos ambientalistas que tentam proteger áreas naturais.

O Acre está a 1.470 quilômetros do Pacífico, mais precisamente a 740 quilômetros da cidade andina de Cusco, mas percorrer esta distância é uma verdadeira aventura, sobretudo durante a época das chuvas, quando se torna praticamente impossível transitar por uma estrada de barro muito precária. De Assis Brasil a Cusco, uma viagem de carro nessas condições pode durar mais de uma semana.

O Brasil sempre foi o maior interessado em pavimentar o trecho, tanto que o BNDES emprestou U$ 417 milhões ao Peru para completar o projeto e a Cooperação Andina de Desenvolvimento emprestou outros U$ 300 milhões, sendo a contrapartida do governo peruano de U$ 100 milhões.

A Estrada do Pacífico significará também mudanças no desenvolvimento econômico no interior da Bacia Amazônica, por exemplo, com o transporte de madeira e soja para os países asiáticos. porém, as autoridades envolvidas preferem vender a idéia de que a infra-estrutura servirá mais para estimular o comércio e o turismo entre os países vizinhos.

Alegam que milhares de pessoas ao visitarem anualmente a capital inca de Cusco e as ruínas de Machu Pichu teriam a oportunidade de também conhecer a Amazonia brasileira, a partir do Acre. Por outro lado, os ambientalistas insistem na necessidade de planejamento que contemple a adoção de medidas preventivas.

A Estrada do Pacífico vai expor a região denominada MAP (Madre de Dios, Acre e Pando) a um considerável desenvolvimento e aumentará a pressão sobre recursos naturais, sobretudo a madeira. Vários cientistas e pesquisadores argumentam que isso pode resultar numa pressão irresistível sobre áreas protegidas que abrigam algumas das maiores concentrações de espécies de fauna e flora do planeta.

Embora a Iniciativa de Integração da Infra-estrturua Regional Sul-americana tenha sido proposto por FHC, e agora Lula esteja se beneficiando com a inauguração de uma ponte, o governador Jorge Viana figura como a estrela mais visível das obras entre os três países.

Talvez a Estrada do Pacífico sirva para que os acreanos constatem a inviabilidade de outro sonho: a pavimentação da BR-364 visando interligar os seus municípios. Está cada dia mais evidente a impossibilidade de se construir uma estrada numa região onde, por exemplo, o seixo é importado do Amazonas a um custo altíssimo.

A BR-364 até poderá ser concluída um dia, mas a tendência é o custo de manutenção se tornar insustentável. Um dia, quem sabe, quando diminuir a pressão dos petrodólares, a sociedade passa a considerar a possibilidade de uma ferrovia com todas as vantagens que o projeto encerra.