sábado, 31 de maio de 2008

DEVOLVA OS DÓLARES, SURVIVAL!

Evandro Ferreira

Quem ganhou ou vai ganhar dólares com a divulgação das fotos dos "índios invisíveis" do Acre?

Altino Machado, não se iluda. Entendo a sua frustação de jornalista que não foi devidamente citado nas matérias que hoje correm o mundo. Da mesma forma, vejo que o sertanista José Carlos dos Reis Meireles está satisfeito porque o trabalho dele está sendo reconhecido, deu entrevistas para dezenas de jornais e revistas do mundo etc. Mas o que a Survival International (SI) tem a ver com as fotos e o trabalho da Funai? Nada.

Mesmo assim a ONG tirou a sorte grande e obteve, com as suas técnicas de marketing, colar o nome da entidade em quase todas as matérias relevantes de jornais e revistas mundiais que publicaram matérias sobre as fotos dos índios isolados, sem ter dado um centavo para tornar realidade o que vimos em primeira mão neste blog e na Terra Magazine.

É só fazer uma busca no Google e ver que as expressões "Survival International" e "uncontacted amazona tribes" são quase sinônimos.

Os dirigentes da SI devem estar comemorando, estão em júbilo. E com toda a razão. Conseguiram dar visibilidade mundial à entidade deles a partir do nada. Tudo porque a BBC resolveu consultar um dos seus diretores para opinar sobre as fotos que a ONG publicou em seu site. Foi o fio da meada.

Conseguiram passar a impressão para o mundo que eles efetivamente estão contribuindo para a causa dos índios isolados do Acre. A Funai e o Governo do Estado deveriam mandar a conta do aluguel do avião para eles pagarem.

O The Wall Street Journal afirma que "Officials from Survival International are quoted in many stories about the photos. And Survival International jumped into the top 10 on Google’s “Hot Trends” list of surging search terms this morning—presumably reflecting online news readers who wanted to learn more after reading the coverage. That all adds up to a powerful effect from one photo".

Nos próximos dias e semanas, eles, experts em marketing que são, vão lançar uma ampla campanha de "arrecadação" de doações para serem "usadas" na defesa dos índios.

A Funai e o Governo do Acre deveriam cobrar caro pela indevida divulgação das fotos e reverter o dinheiro para financiar a proteção dos índios.

Essa gente arrecada milhões de dólares. Uma fração desse dinheiro é suficiente para pagar por alguns anos de 10 a 20 agentes indígenas recrutados entre as tribos já contactadas para garantir efetivo bloqueio no acesso à área onde vivem os isolados.

O orçamento da Funai, a gente sabe, todo ano é contingenciado. Volta e meia os servidores entram em greve. Essa é a hora. Tem que agir logo.

Survival International, enviem para o Brasil 50% ou mais do que vocês vão arrecadar com as doações das pessoas que ficaram impressionadas com o "trabalho em defesa dos índios isolados do Acre" - "trabalho" que vocês jamais desenvolveram por aqui. Nada mais justo.

Evandro Ferreira é pesquisador do Inpa e do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre. Mestrado em Botânica no Lehman College, New York, USA, e Ph.D. em Botânica Sistemática pela City University of New York (CUNY) & The New York Botanical Garden (NYBG). Escreve no blog Ambiente Acreano.

CARTAS PRESSIONAM PERU

Fiona Watson, da ONG Survival, fica surpresa com a
repercussão mundial das fotos dos "índios invisíveis"



A coordenadora do departamento de investigação da ONG Survival, Fiona Watson, relatou neste sábado ao sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, da Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira, sobre a enorme repercussão mundial das fotos e histórias dos índios isolados do Acre, na fronteira com o Peru.

Vejam também:
Índios isolados são fotografados pela 1ª vez no AC

- Nunca, nunca imaginei que iria ser assim. Acho que foi em grande parte devido a alta qualidade das fotos, que chamam tanto a atenção e pela curiosidade do público em saber que ainda existem povos indígenas isolados neste mundo - afirma Fiona Watson no e-mail enviado ao sertanista.

A organização, que tomou conhecimento da existência das fotos dos índios isolados no dia 23 de maio, quando foram publicadas com exclusividade por Terra Magazine, espera que a repercussão mundial possa ajudar os índios isolados "no Peru, Acre, no resto do Brasil e no mundo inteiro". Os isolados do Acre eram conhecidos até então como "índios invisíveis".

Fiona Watson vai enviar ao sertanista e à Coordenação Geral de Índios Isolados da Funai um dossiê da cobertura da mídia internacional.

- Acho que a cobertura tem sido muito positiva para a política da Funai de demarcar os territórios dos índios isolados e de não fazer o contato com eles - assinala a coordenadora da Survival.

Fiona Watson comunica ao sertanista que a Survival está dirigindo uma campanha junto ao governo peruano sobre a situação do outro lado da fronteira, onde se calcula que 60% da reserva dos isolados Murunhua foi desmatada pelas madeireiras.

- Parece que a combinação de suas e das nossas pressões resultaram na decisão do governo peruano de mandar uma equipe para a fonteira. Vamos ver se resulta em algo na prática, mas de nosso lado vamos seguir pressionando - afirma.

- Estou agora mais satisfeito porque a Survival avisa que milhões de cartas do mundo inteiro estão sendo enviadas ao governo peruano pedindo que ele pare com o desmatamento ilegal e faça mais para proteger os índios isolados lá - disse Meirelles.

Terra Magazine.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

SOBRE AS FOTOS DOS ISOLADOS

Declaração do sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira:

- Para que fique claro, declaro que as fotos usadas no Blog do Altino e depois utilizadas no Terra Magazine, foram por mim fornecidas ao Sr. Altino Machado. Estas fotos são de propriedade da Fundação Nacional do Índio, enquanto os índios fotografados forem isolados e não podem ser usadas para fins comerciais e muito menos comercializadas.

E do Itaan Arruda, assessor de imprensa do governo do Acre:

- Gostaria de te informar que as imagens captadas por qualquer repórter-fotógrafico ou repórter-cinematográfico da Assessoria de Imprensa do Governo do Acre pertencem ao povo do Acre. São imagens públicas. São patrimônios públicos. Em respeito ao povo do Acre, a nós, servidores públicos e trabalhadores da Comunicação Pública do Acre, não nos é permitido lucro ou "complementação de renda" utilizando um patrimônio que não é privativo de ninguém exclusivamente. No entanto, vale ressaltar que o uso dessas imagens deve obedecer critérios de cessão que se iniciam com o contato óbvio e elementar com a Assessoria de Imprensa do Governo ou de qualquer órgão que trabalhe em parceria conosco. Cuidado que tu e o jornalista Bob Fernandes tiveram. Um grande abraço.

UM SENHOR MOGNO DO PARALELO 10



Do sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior:

- Altino: este é o objeto da cobiça de qualquer madeireiro. Um velho senhor mogno, das cabeceiras do Envira, perto da fronteira com o Peru, onde existe a maior reserva de mogno do Planeta. Uma árvore dessa vale um belo carro. Eu a encontrei durante uma viagem na companhia de meu filho Arthur, quando passamos bem pertinho da maloca dos índios que estão se mudando do Peru para o Brasil, no paralelo 10 graus. Tomara que os peruanos nunca encontrem aquele senhor mogno.

JOSÉ CARLOS DOS REIS MERELLES

Uma entrevista "antiga" com o sertanista


Assim como fiz na semana passada, quando o recebi em minha casa para entrevistá-lo para Terra Magazine, no dia 2 de setembro do ano passado conversei longamente com o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, à sombra de uma mangueira, aqui mesmo, no quintal de minha casa.

O sertanista, que coordena há 20 anos a Frente de Proteção Etno-Ambiental do Alto Rio Envira, na fronteira do Brasil com o Peru, relatava a situação dos índios isolados perseguidos por índios a mando dos madeireiros peruanos que invadem o território brasileiro para retirar mogno numa das regiões mais inóspitas do Planeta.

Nunca dependi de fotografias para acreditar na luta do sertanista, como o fez até aqui a suposta grande imprensa. A entrevista abaixo já foi publicada neste blog. Está sendo reprisada agora porque continua atual, assim como a nossa causa em defesa dos índios isolados.



Clique aqui ou aqui para ler dezenas de posts sobre o sertanista e os índios isolados.

DEU NA TERRA MAGAZINE

Uma semana depois, a mídia vê "índios invisíveis"



Claudio Leal


A descoberta de índios isolados, no Acre, às bordas da fronteira amazônica com o Peru, provocou, na quinta-feira, 29, e sexta, 30, um frêmito na mídia brasileira e internacional. Magicamente, o trabalho do sertanista José Carlos Meirelles e as fotos de Gleilson Miranda, divulgadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai), ganharam as páginas da BBC, UOL, Estadão, Globo, G1, Survival International, além de despachos da Reuters e AP. À noite, freqüentaram as principais redes de televisão.

No farto material jornalístico, mil sensações em torno das fotos dos índios de etnia ainda desconhecida, nas cabeceiras do Igarapé Xinane. Belo, belo. Ótima oportunidade para o leitor de Terra Magazine, do Portal Terra, reconferir uma semana depois as mesmas fotos, as mesmas informações e saber que anda clicando no local certo.

Veja também:
Índios isolados são fotografados pela 1ª vez no AC
Meirelles matou um índio em "situação dramática"

"Saiba mais": com exclusividade, uma semana antes, o repórter Altino Machado publicou, nesta Terra Magazine, as mesmíssimas fotos e os mesmíssimos fatos. A reportagem trazia detalhes do "primeiro contato" e um precioso perfil do sertanista Meirelles. As imagens dos índios, feitas por Miranda (sim, dona Dolores, elas não são da AP), ocuparam o quadrante superior do Portal Terra e o banner desta revista, em 23 de maio. Desde então, correram a "blogosfera". Verificável no Google.

No Acre, os índios isolados são conhecidos como "invisíveis". E, de fato, passaram por "invisíveis" durante seis longos dias.

"Uncontacted tribe photographed near Brazil-Peru border", estampou a Survival International, na quinta-feira, 29, seis dias depois de Terra Magazine. Certamente que a língua inglesa é universal. Donde, a partir da Survival International a informação se re-espalhou.

Ao clicar aqui, os ausentes podem conferir o texto original de Machado e as fotos de Gleilson. Vale um confronto com o material posteriormente publicado.

O relato do sertanista Meirelles sobre os "índios invisíveis" foi reproduzido pelos jornais Le Monde, The Guardian, New York Times, Corriere della Sera, El País, entre outros.

No Brasil, seis dias depois, Altino foi contactado pela Folha de S. Paulo, que o ouviu e o republicou na edição desta sexta-feira, 30, como manda a boa regra: "A Funai tirou mais de mil fotos. Meirelles decidiu repassar o material fotográfico ao jornalista Altino Machado, que publicou três fotos no site 'Terra Magazine'", diz a Folha. E o correspondente do Guardian da distante Inglaterra, Tom Phillips, entrou em contato com Machado.


Cláudio Leal é da equipe da Terra Magazine.

FOTOS DOS ÍNDIOS ISOLADOS DO ACRE

Edvaldo Magalhães


"Após quase 20 horas num avião monomotor, o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental da Funai, comandou um sobrevôo que resultou nas primeiras fotografias dos índios de uma das quatro etnias isoladas que vivem na fronteira do Acre com o Peru. As mulheres e suas crianças fugiram para a floresta em busca de proteção, enquanto os guerreiros da tribo se posicionaram e reagiram atirando flechas no avião".

Assim escreveu o jornalista Altino Machado em matéria postada no Terra Magazine [na sexta-feira da semana passada] que ganhou a audiência por aqui e no além mar.

Muitos comentaram não ser favorável a divulgação do material fotográfico, temendo riscos à sobrevivência deste povo isolado.

O sertanista Meirelles me contou nestes dias que já se considerava vencedor ao ver aqueles índios "parrudos", com roçados lotados de banana e macaxeira e dispostos a derrubar avião de flechada. Na verdade isso só está sendo possível devido o trabalho de intensa dedicação desenvolvido por ele durante anos a fio, evitando que a invasão branca colocasse em risco a sobrevivência destes povos.

Estas imagens servem para chamar atenção para os novos desafios que todos temos para garantir que estes povos possam seguir seu caminho, sem ser importunados, até que um dia, por seu único e exclusivo desejo, resolvam nos contatar. Tomara que demorem séculos. Não temos nada a lhes ensinar.

As imagens foram clicadas pelo fotógrafo Gleilson Miranda. Pertencem aos arquivos da Secretaria de Comunicação do Governo do Acre e ao acervo da Funai.

O deputado Edvaldo Magalhães (PC do B) é blogueiro e presidente da Assembléia Legislativa do Acre. Veja dezenas de fotos dos índios isolados no Blog do Edvaldo.

"ATÉ OS ACREANOS"

Do jornalista Chico Bruno:

- Altino, até os acreanos! Essa Renata Brasileiro, do Página 20 [leia aqui], é uma voadora. Ela escreveu: "A notícia veio à tona por meio da agência BBC e foi veiculada com destaque em quase todos os jornais on line no início da tarde de ontem. De acordo com a agência, as fotografias foram feitas durante uma missão da Funai, que incluiu um sobrevôo à região isolada". Estou revoltado com a omissão da fonte correta pela mídia nacional e internacional, mas não poderia supor que seus vizinhos agissem dessa forma.

Caro Chico, desonestos nascem em todos os lugares. É assim que agem os invejos, canalhas, sórdidos, avarentos, incapazes e pobres de espírito. Conheço todas essas peçonhas. A "recórter" copiou o texto da BBC e ainda ousa pespegar o nome dela como sendo autora do feito insano. O ex-deputado Hildebrando Pascoal tinha razão, Chico, quando avisou-me: "Altino, seus maiores inimigos são alguns colegas seus de profissão. Eles me telefonam quase todos os dias falando horrores de você". É por isso que meu modesto blog tem mais leitores do que os quatro diários de Rio Branco, que circulam com menos de mil exemplares, totalmente financiados pelo governo estadual com verba do contribuinte acreano. Alguns deles, acredite, circulam com até 200 exemplares. Ao menos, na Folha de S. Paulo [aqui, para assinantes], que é o jornal mais influente e de maior circulação no país, o que é relatado é diferente:

"A Funai tirou mais de mil fotos. Meirelles decidiu repassar o material fotográfico ao jornalista Altino Machado, que publicou três fotos no site "Terra Magazine". A idéia era sensibilizar o governo do Acre, que prometeu instalar um posto de vigilância na área, que virou alvo do garimpo ilegal".

E mais adiante:

"Meirelles, que trabalha há quase 40 anos na Funai e se tornou o maior defensor dos índios isolados na fronteira Brasil-Peru, matou um índio no final dos anos 80. Em entrevista ao "Terra Magazine", ele admitiu que nunca superou o episódio, que classificou como "acidente de percurso".

Eram índios Masko, um povo nômade que vive nas cabeceiras dos rios Purus, Envira e Juruá. "Você imagina o que é ser cercado por um monte de índios? Sobrevivi com uma certa dose de consciência, pois, se fosse uma pessoa qualquer, na situação que eu estava, poderia ter matado um monte de índios. Eu estava armado e apenas um morreu", contou".

quinta-feira, 29 de maio de 2008

RACINHA MISERÁVEL

O UOL e a BBC reproduzem hoje o furo internacional que este modesto jornalista deu com a reportagem publicada na semana passada por Terra Magazine sobre uma das últimas tribos isoladas da Terra, os "índios invisíveis", que foram fotografados em Feijó (AC) e reagiram a flechadas contra um avião.

- Altino, desde que a sua reportagem foi publicada no seu blog e em Terra Magazine, meu telefone não pára de tocar cinco minutos. São ambientalistas, advogados, amigos de faculdade e jornalistas de rádios, jornais e TVs do Brasil e do Exterior. Estou vivendo os meus 15 minutos de fama para chamar a atenção para a vulnerabilidade de nossa fronteira com o Peru, onde os madeireiros estão causando danos graves à floresta e aos índios isolados. O pior de tudo é que eu falo uma coisa e eles escrevem outras - disse o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles.

A reportagem do UOL (leia), feita por telefone, a partir de São Paulo, sequer confere o crédito das fotos ao repórter fotográfico Gleilson Miranda, da Assessoria de Comunicação do Governo do Acre, mas à agência AP. Quer dizer que a AP está comercializando as fotos? Miranda não faria isso sendo funcionário do governo.

Por sua vez, quem diria, a BBC (leia) diz que as fotografias de um grupo isolado de índios na Amazônia foram divulgadas "pela primeira vez" por um funcionário da Funai, que sobrevoou a região em uma missão financiada pelo Governo do Acre.


Ninguém menciona que Terra Magazine foi a primeira a publicar reportagem e as tais fotografias. Como vocês podem ver, a sordidez e a má fé da imprensa perpassam Rio Branco, São Paulo e Londres.

Êta racinha miserável. Espera passar um tempo (cinco dias) e depois publica como se fosse furo deles. Seguem tratando a Amazônia como uma terra exótica, pois não aprofundam na questão que mais preocupa ao sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, que é "O começo do fim da Amazônia peruana", publicado por Terra Magazine antes do furo internacional de sua reportagem.

Leiam a mensagem que recebi hoje do jornalista
Tom Phillips, correspondente no Brasil do diário inglês The Guardian:

- Caro Altino, tudo bem com você? Você tem o contato do José Carlos dos Reis Meirelles Júnior por acaso? Um grande abraco.

E assim foram dezenas de outros pedidos de contato com o sertanista que atendi por causa da reportagem sobre os índios isolados. Os russos são honestos. Confira aqui. Ou o brasileiro José Murilo Júnior, do Global Voices.

O episódio me fez lembrar de outra reportagem que foi um furo internacional: o incêndio de Roraima, em março de 1998, quando eu era correspondente da Folha em Manaus. Ao encontrar comigo em Boa Vista, o correspondente do Le Monde no Brasil à época foi logo se explicando:

- Meu caro, usei o seu relato todo e foi a primeira vez que o Brasil foi manchete do jornal.

O pessoal que faz "recortagem" a partir do que escrevo já tinha feito o mesmo comigo no começo deste mês. Leia o post "Bonito de ver e muito singular".

"MEU CORAÇÃO É PURO"


Faz 12 anos que fiquei diante do coronel e ex-deputado Hildebrando Pascoal para uma entrevista que considero memorável. Ninguém fez jamais outra entrevista parecida com aquele que era o homem mais temido do Acre.

Hildebrando estava com 43 anos e eu com 33 anos. Naquele ano, o carisma do coronel, de 1,90m de altura, podia ser medido pela votação que obteve num Estado onde é possível se eleger com até
600 votos.

O coronel havia se tornado o deputado estadual mais votado da história política acreana, com 7.841 votos, e se vangloriava de ser, proporcionalmente, o mais votado no Brasil. Formado pela Academia do Barro Branco, em São Paulo, com pós-graduação no Recife, Hildebrando Pascoal ingressou na primeira turma recrutada pela PM do Acre, em 1974.

O plano dele era se tornar governador do Acre. Ao retornar de uma diligência no interior do Estado, Hildebrando aceitou ser entrevistado em sua casa (protegida permanentemente por até 10 seguranças) para se defender das acusações do Ministério Público Federal.

Ele estava na companhia do secretário de Segurança Pública, Illimani Lima Suares, além de sete guarda-costas. Veja um trechinho da entrevista, publicada no Jornal do Brasil e no Página 20.

Existem ou não grupos de extermínio dentro dos órgãos de segurança estadual, conforme denunciou o Ministério Público Federal ao pedir a intervenção no Acre?
Os três procuradores da República estão procurando chifre na cabeça de cavalo, É um absurdo que atribuam esses crimes à família Pascoal. Somos uma família bem sucedida, que possui médicos, advogados, procuradores e oficiais da Polícia Militar. Acho que estão sonhando, estão loucos. Isso não procede.

O Ministério Público acusa a família Pascoal de ter controle da Polícia Militar e dos grupos de extermínio. Nesse sentido, afirma que o ex-comandante Aureliano, seu primo, galgou o posto em decorrência de indicação política feita pelo senhor. Qual a influência que os Pascoal exercem na PM?
A família Pascoal é uma família bem sucedida e preparada para exercer qualquer função. Nós nos preparamos para chegar ao poder. Chegamos ao poder, mas não podemos evitar que loucos, como os procuradores do Ministério Público, digam besteiras como as que escreveram em seus relatórios. Acho que eles deveriam fiscalizar os poderes e as leis e não ficar criando coisas como as que criaram.

O sr. acredita em Deus?
Demais. Sou abençoado.

Qual a sua religião?
Sou evangélico da Igreja Batista Regular. Sou muito abençoado por Deus porque nunca fiz nada na vida para não dar certo. O meu coração é puro. Só procuro fazer o bem, tá certo?

Vai continuar candidato vice-prefeito de Rio Branco?
Meu nome está solto, mas o meu objetivo maior é localizar o assassino de meu irmão para colocá-lo atrás das grades.

O sr. é a favor da pena de morte?
Não. A vida é uma dádiva divina.

Qual a sua opinião sobre os "justiceiros"?
Sou contra. Temos a Justiça para colocar quem é bandido atrás das grades.

Qual o sinal de que o sr. não é a favor da pena de morte?
Sozinho, como oficial da Polícia Militar, acabei com o esquadrão da morte aqui no Acre. Enfrentei os bandidos, eles foram embora e acabou a brincadeira de se "desovar" cadáveres nas estradas.

Agradeço-lhe pela entrevista.
Agora você é um homem vivo.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

ÉLCIO SABO MENDES JÚNIOR


É o juiz que presidirá o julgamento do ex-deputado Hildebrando Pascoal, que está remarcado para o dia 14 de julho. Na tarde de hoje, o juiz foi de uma elegância e didatismo raros quando ocorre o encontro de magistrados e jornalistas.

Como a notícia da nova data do julgamento começou a circular muito cedo, a imprensa buscava informações diversas sobre o processo. Por causa disso, Élcio Sabo decidiu atender numa entrevista coletiva no Fórum Barão do Rio Branco.

Na verdade não foi bem uma entrevista coletiva como a maioria dos jornalistas está acostumada. Ele recebeu a todos de modo gentil e evitou qualquer tipo de comentário a respeito do processo.

Estava empenhado mesmo era em mostrar que todo cidadão (não apenas jornalistas) goza do direito de consultar qualquer processo que não esteja transitando sob segredo de justiça.

O próprio juiz fez questão de abrir as portas da Vara do Tribunal do Júri e indicar a estante onde estão os três processos que tramitam contra Hildebrando Pascoal e seu bando.

O juiz aconselhou que os jornalistas estudem os autos. Surpreendeu ao reiterar, diante dos servidores da Vara do Tribunal do Júri, que a sua determinaçao era para que fosse facilitado o acesso da imprensa e de qualquer cidadão que queira conhecer autos de processos reunidos ali.

- Nós estamos aqui para atender bem a todos - afirmou o juiz, que chegou até a pedir sugestões dos jornalista sobre a organização do espaço para o trabalho da imprensa no dia do julgamento.

Élcio Sabo Mendes Júnior é titular da Vara de Delitos de Tóxicos e Acidentes de Trânsito. É parente do ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal.

O Tribunal de Justiça transmitirá, em tempo real, via internet, o julgamento do "homem da motosserra", o que tornará possível o acesso a partir de qualquer cidade ou país. Haverá uma sala para a imprensa, equipada com computadores. Em toda a área do Fórum haverá sinal de internet sem fio. Haverá, ainda, telão para quem queira acompanhar o julgamento fora da sala do Tribunal do Júri.

O coronel e ex-deputado estadual Aureliano Pascoal, que é primo de Hildebrando e comandava a Polícia Militar do Acre quando o mecânico Agilson Firmino, o Baiano, foi torturado e assassinado com uma motosserra, é réu no caso. Porém, o processo contra ele foi desmembrado. Ao ser denunciado pelo Ministério Público, Aureliano tinha foro privilegiado como parlamentar.

Os demais réus são Pedro Pascoal, Adão Libório e o ex-sargento Alex Fernandes. O policial e ex-vereador Alípio Ferreira, dono de uma oficina onde Baiano foi barbarizado pelo bando, faleceu e o processo contra ele foi extinto.

A atitude do juiz Élcio Sabo Mendes Júnior prova que o Acre melhorou nos últimos anos.

"SABIA QUE POSSO MATÁ-LO?"

Uma das entrevistas mais emocionantes de minha vida profissional foi a que fiz com o coronel Hildebrando Pascoal para o Jornal do Brasil, em julho de 1996, que foi reproduzida pelo jornal Página 20, do Acre. Aconteceu quando ele retornou de uma incursão no interior do Estado em busca de Jorge Hugo, assassino do irmão dele, Itamar Pascoal.

Baseado no relatório do Ministério Público Federal, o JB publicou um quarto de página sobre o clima de terror no Acre desde o assassinato de Itamar Pascoal. O texto foi publicado sem que eu tivesse conseguido ouvir o coronel, embora tenha telefonado para a casa dele e deixado recado dando conta de minha intenção.

No dia seguinte, Hildebrando telefonou:

- Você quer falar comigo?

- Sim, coronel.

- Então venha até a minha casa.

Confesso que fui rezando, sozinho. Ao chegar à casa, o coronel abriu o portão. Logo avistei uns seis policiais armados, postados junto ao muro.

Havia duas cadeiras no pátio, bem perto da entrada da casa, de onde eu avistava a sala e nela as crianças de Jorge Hugo que ele mantinha em cárcere privado.

O coronel mandou que sentasse num das cadeiras. Obedeci. Ele permaneceu em pé, dedo em riste. E com o corpo quase colado ao meu, advertiu:

- Você sabia que posso matá-lo aqui, agora?

- Coronel, não quero morrer, mas não tenho medo da morte - respondi.

- Você é mesmo atrevido. Bem que seus colegas me avisaram - disse.

Entreguei-lhe, a pedido do procurador da República que estava preocupado com minha vida, a cópia do relatório. E o coronel então se deu conta de que eu não era o autor das denúncias.

- Coronel, estou aqui para que o senhor possa apresentar a sua versão. O jornal exige isso de minha parte - insisti.

- Você sabe como me defender, Altino - ele rebateu.

- A melhor pessoa para defendê-lo nesta hora é o senhor mesmo. Trouxe um gravador. Faço as perguntas e o senhor as responde.

- Tudo bem, pode ligar o gravador.

Durante a entrevista compareceu o delegado Illimani Lima Suarez, um boliviano naturalizado brasileiro. Era o então secretário de Segurança, que obedecia ordens de Hildebrando e seu bando. Para livrar a pele, no curso do processo Suarez virou testemunha de acusação do coronel.

Pois bem, ao término da entrevista, agradeci ao coronel e ele disse ter imaginado que ao me receber em sua casa iria receber o capeta.

- Altino, seus maiores inimigos são alguns colegas seus de profissão. Eles me telefonam quase todos os dias falando horrores de você.

Não sem antes dizer:

- Você é mesmo um grande filho da puta. Me fez falar de algo que eu não queria. Agora você pode se considerar um homem vivo.

Mais adiante, quando a revista Veja usou o mesmo relatório do Ministério Público para a reportagem que resultou na cassação do mandato do deputado Hildebrando Pascoal, estive com a vida ameaçada.

O coronel estava em Rio Branco quando a reportagem foi publicada e eu trabalhava em A Gazeta. Na segunda-feira, cedinho voltei à casa do coronel. Ele não estava e deixei recado, explicando ao sogro dele que não pretendia escrever nada a respeito da reportagem da revista, a menos que o coronel quisesse contestá-la.

Anos depois, o jornalista Roberto Vaz contou que, naquele dia, conversava com o jornalista Luis Carlos Moreira Jorge, então assessor de imprensa da prefeitura de Rio Branco, quando o colega atendeu uma chamada no telefone celular.

- Roberto, conversamos depois. O pessoal está caçando o Altino, a mando do Hildebrando. Vão matá-lo agora - disse Moreira Jorge após desligar o telefone.

Amigo do coronel, Moreira Jorge o encontrou pessoalmente, mas levou algumas horas até demovê-lo da decisão de tirar minha vida. Já tive a oportunidade de agradecer ao Moreira Jorge, que é colunista político de A Gazeta.

- Fiz o que devia ser feito - disse.

Ter sobrevido aos sobressaltos daqueles anos de terror (veja), quando tive que fugir do Acre várias vezes, me fez acreditar um pouco mais na existência de Deus e da Rainha da Floresta.

Depoimento para Terra Magazine.

O CRIME DA MOTOSSERRA


O julgamento do coronel e ex-deputado federal Hildebrando Pascoal foi remarcado para o dia 14 de julho. Além de Hildebrando, o processo tem como acusados Pedro Pascoal Duarte Pinheiro Neto, Adão Libório de Albuquerque e Alex Fernandes Barros.

Todos eles são acusados do assassinato do mecânico Agilson Firmino, o Baiano, ocorrido em julho de 1996. O erro de Baiano foi ter ajudado, no dia 30 de junho daquele ano, na fuga de José Hugo, o Mordido, assassino de Itamar Pascoal, irmão do coronel. Baiano e o filho Wilder, 13, foram torturados antes da morte.

Ambos foram interrogados por Hildebrando e seu bando, mas não revelaram o paradeiro de Hugo. O adolescente morreu quando o corpo foi queimado com ácido. Além de ter sido castrado, o pai dele teve o corpo fatiado com uma motossera. Os braços e as pernas foram serrados e os olhos perfurados.

Os corpos de ambos foram amarrados numa corda. O bando teve a ousadia de arrastá-los com caminhonete pelas ruas de Rio Branco e deixá-los nas imediações de uma emissora de TV, como forma de intimidar jornalistas que ousassem escrever sobre o assunto.

Leia mais na Terra Magazine.

Ou, se preferir, veja imagens de como agia o bando de Hildebrando Pascoal, no Blog do Edvaldo.

A foto acima é de Marcos Vicentti.

O CARTAZ

terça-feira, 27 de maio de 2008

QUEM FUMA TAMBÉM SOFRE


O Ministério da Saúde e o Instituto Nacional de Câncer lançaram hoje as novas imagens de advertências de embalagens de produtos com tabaco.

Está decidido: vou fumar um porronca (cigarro de tabaco cultivado na floresta, sem pesticida) a mais todo dia em protesto contra essa campanha bizarra. Fume um também e relaxe.

Clique aqui e veja como fumar também faz bem.

ELOGIOS DE LULA

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Presidente Lula discursa durante cerimônia de posse do novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Encheu o ambiente de lisonjas à ex-ministra Marina Silva:

- Minc, sabe como eu me sinto hoje? Como na copa de 1962, quando o Pelé foi tirado de campo. Você deveria ser muito jovem. O Pelé se machuca, é tirado de campo e os brasileiros gritam: acabou, o Brasil perdeu. Colocaram Amarildo e ele fez os dois gols brasileiros. Faz de conta que você está entrando no lugar de Pelé, mas é importante lembrar que o Pelé não era insubstituível.

- Sei do tormento que passou a companheira Marina, e sei, meu caro Minc, do tormento que você vai viver. Primeiro quiseram passar a idéia de que sai Marina porque é ambientalista e entra Minc porque é desenvolvimentista. Eu, como conheço os dois há 30 anos, sei que nenhuma das versões é verdadeira. Nem o Minc é um cortador da Amazônia, e nem a Marina deixou de levar a sério a possibilidade de levar o desenvolvimento daquela região.

Marina deve estar mais tranquila. Minc disse que Lula não vai rever o decreto que lista 36 municípios que mais destróem a floresta amazônica. Na semana passada, a ex-ministra disse com exclusividade ao blog que esperava do sucessor, como demonstração de continuidade da política ambiental, que resistisse à pressão do governador Blairo Maggi, do Mato Grosso, que atua contra a manutenção de uma resolução do Conselho Monetário Nacional. A partir de 1º de julho, a resolução obriga o sistema financeiro a exigir regularidade ambiental como condição para o crédito rural na Amazônia.

Clique aqui para ler o discurso de Lula.

HÁ QUASE 18 ANOS

Antonio Alves

Novembro de 1990. Em apenas dois estados, Acre e Amapá, os candidatos do PT tinham conseguido passar ao segundo turno das eleições para governador.

Lula, que havia perdido as eleições para Collor de Melo no ano anterior e era a grande estrela da oposição, estava em Rio Branco para participar da campanha de Jorge Viana.

Estávamos no aeroporto, aguardando um avião bimotor que os levaria aos municípios do interior. Além de Jorge e Lula, ia também a vereadora, recém-eleita deputada estadual, Marina Silva.


A conversa era descontraída. Lula repetia seu velho bordão de campanha:

- O trabalhador tem o direito de ter o seu carrinho, sua casinha com ar condicionado, tomar sua cervejinha no fim-de-semana” etc. Nesse momento, Marina o questionou:


- Mas Lula, nós vamos ter que criar uma alternativa aí. Porque, veja bem, se todo mundo tiver um carro e um aparelho de ar condicionado, quanta energia será necessária? Esse é um padrão de consumo insustentável.

Lula não se abalou. Disse que isso era “conversa das elites” que queriam negar os direitos históricos da classe trabalhadora, e repetia incansavelmente a lista de coisas que todo mundo deveria ter.

Marina ainda insistiu um pouco, falando na poluição causada pelos combustíveis fósseis e na inundação de grandes áreas para construir hidrelétricas, mas suas palavras pareciam cair ao chão após chocarem-se contra um muro, e a conversa morreu por ali.

Mudaram de assunto, chegou o avião, eu voltei para o estúdio com imagens do grande líder para colocar no programa eleitoral.

Tanta coisa que eu devia ter filmado...

Do blog O Espírito da Coisa, do poeta Antonio Alves.

ANTIPOEMA 6

Paes Loureiro

Triste Amazônia ou o empate de Marina Silva

Tu és frágil sim
mas tu és forte.
Tu pareces uma delicada lenda xapuri
mas tu és forte.
Tu pareces uma pétala da floresta
mas tu és forte.

Tu estavas ali
braços cruzados contra o latifúndio.
Tu estavas ali
braços cruzados contra os grãos da morte.
Tu estavas ali
cabeça erguida contra as chamas das queimadas.
Tu estavas ali
contra os tratores e correntões do erro.
Tu estavas ali
o coração na mão a defender
teus antigos irmãos
irmãos de sempre.

A teu lado estava Chico Mendes.
A teu lado estava Dorothy Stang.
A teu lado estavam Pe. Josino, Espártacus, Canuto
Paulo Fonteles, Mártires do Araguaia,
Ianomâmis, Zumbi, Ajuricaba
Guaimiaba, Herzog, Luter King,
Cristo, Caruanas, Édson Luís
legiões de rostos desaparecidos
rostos que poderiam ter sido nossos filhos
nossos pais, irmãos, nossos amigos
que desceram à cova e se plantaram
sementes da Amazônia e do Mundo que queremos.

Ai!Amazônia!Amazônia! Quem te ama?

Ai! Marina! Marina!
Que posso a ti oferecer senão o sonho
a indignação e o desespero,
quando buscaste apenas a terra da doçura
para o índio, nativo da terra
para o colono, semente da terra
para a Amazônia, paraíso na terra.

Nenhum decreto há de enterrar tua luz
porque tua luz há de queimar decretos.
Tu que és da Amazônia
a Amazônia retiraram de tua mão.
Mas não há força humana ou desumana
capaz de retirar
a Amazônia cravada em teu coração.

Do blog do escritor paraense Paes Loureiro.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A EX-PATROA DA SENADORA

O comentário "Marina é a utopia do PT", da professora Célia Pedrina, em destaque abaixo, me fez lembrar de um 7 de Setembro em Rio Branco, há seis ou sete anos.

Após os desfiles, no centro da cidade, caminhava com a senadora Marina Silva. O trânsito na Rui Barbosa fora interrompido e por isso bastante gente também caminhava na rua.

De repente, na esquina em frente ao Hotel Rio Branco, Marina pediu-me para esperá-la ali. Atravessou a rua e surpreendeu uma mulher com um abraço caloroso, demorado mesmo.

Marina estendeu os braços, a mulher correspondeu ao gesto e permaneceram algum tempo conversando de mãos entrelaçadas. Atravessei a rua lentamente e logo estava próximo delas.

A mulher era branca, alta. Aparentava ser pelo menos 10 anos mais jovem que Marina.

Com certeza não foi por causa de minha aproximação, mas logo soltaram as mãos, voltaram a se abraçar e se despediram felizes.

- Você sabe quem é ela? - perguntou quando prosseguimos a caminhada.

- Eu a conheço de vista, mas não sei o nome dela - respondi.

- Ela era minha patroa. Trabalhei como doméstica na casa dela um bom tempo - disse Marina Silva.

Foi a maior demonstração de humildade que já presenciei. A humildade que falta aos reizinhos que tomaram de conta do PT e do País.

Utopia e ilusão
Gosto dos "pensamentos imperfeitos" de meu amigo Luciano Martins Costa, um mestre do jornalismo, para quem a utopia é uma realidade possível, porque é idealizada em cima de premissas reais, enquanto a ilusão é uma projeção impossivel, porque idealizada em cima de premissas falsas.

- Imaginar que podemos ter uma sociedade perfeita, sem competição entre as pessoas, onde tudo possa ser partilhado por todos, é uma ilusão, pois contraria tudo que sabemos sobre a natureza humana, como a inveja, o ciume etc. Agora, imaginar uma sociedade que busca a sustentabilidade pela criação de um sistema econômico e político no qual as necessidades e desejos da sociedade possam ser alcançados sem comprometer os direitos das sociedades futuras (nossos descendentes), é uma utopia possivel, pois nesse cenário a natural competitividade humana pode ser administrada dentro de padrões que atendam a esse objetivo maior e coletivo, de se alcancar uma sociedade aceitável para hoje, sem destruir aquilo que permitirá sua permanência. O problema do PT é que uma parte dele construiu um projeto de ilusões e assumiu o poder em cima dessa plataforma irreal, desautorizando os que insistiam na utopia possível. Depois, desembarcaram direto da ilusão para o cinismo - assinala Martins Costa com exclusividade ao blog.

MARINA É A UTOPIA DO PT

Célia Pedrina

Caro Altino,

Para ser coerente com uma nova proposta colocada para mim agora - aquela de encarar a entrada dos 60 anos e fazer uma transição para um novo olhar sobre um possível significado para a vida -, tenho procurado não me intrometer em questões políticas, nem mesmo em relação àquelas que ainda mexem muito com o meu coração petista.

Desde que fui afastada do PT - um afastamento provocado pelo cansaço de sentir a constante desqualificação do meu discurso, embora seja importante ressaltar que aqui não vai nenhuma pretensão de busca de culpados, mas sim apenas a constatação de que um grupo, pequeno, mas forte, tomou de conta das “decisões internas”- não costumo obedecer a ordens sem poder questionar por que elas foram geradas.

Amo tanto a minha liberdade, conquistada a duras penas, que só aceito ainda o meu vício de fumar porque fumo “free”. Mas estou escrevendo hoje a você para elogiar e apoiar o seu último artigo sobre o PT - o cinismo e a hipocrisia com que foi tratada a ex-ministra Marina Silva ao retornar ao Acre.

Como você bem disse, a Marina sabe quem ela é e todo o valor que tem. Também é conhecedora do respeito que tenho por ela, por algumas de suas posições e por outras questões de foro íntimo, que não necessitam ser aqui reveladas. Na minha trajetória partidária, quando era Secretária do Diretório Municipal do PT de Bragança-Paulista, minha cidade natal, onde vivi nos anos em que estive afastada do Acre, houve um momento em que eu e um candidato ambientalista que concorria ao cargo de vereador, precisamos do seu apoio, e Marina atendeu ao nosso pedido.

Assim como eu, muitos outros petistas - fundadores ou “jurássicos” como gostam de nos classificar - que estão afastados talvez pelos mesmos motivos que os meus; outros admiradores ou simpatizantes do PT sequer foram convidados. É por isso que bastava aquele auditório pequeno, no centro da cidade.

Era uma reunião para um grupo seleto, daqueles que giram em torno do próprio umbigo ou do umbigo de quem os mesmos dependem. No entanto, teve algo que, para mim, não ficou muito claro: quando a própria Marina citou o papel do PT do Acre, destacando até que poderia vir a ser um “modelo” (o grifo é meu!) para os diretórios do Brasil. Fico a pensar em duas possíveis situações:

1. Ela sabe de tudo o que acontece, conhece o processo centralizador da atual e das últimas direções, que pouco se importam de assim agir, portanto, nem para ela foi surpresa ou desprestígio a ausência de um público maior e, consequentemente, nada deve ser mudado;

2) Ela sabe de tudo o que acontece, conhece o processo centralizador, mas agora, liberada para uma atuação partidária com maior intensidade, vai contribuir para que isso mude.

É claro que, se a hipótese “2” é a que melhor traduz a verdade, ainda podemos ter um fio de esperança na possibilidade de uma mudança de rumo nos destinos do Partido dos Trabalhadores e aproximá-lo mais dos princípios e das questões ideológicas que resultaram na sua criação.

Como a Marina Silva é maior, mais humilde, mais sábia e, segundo suas próprias palavras em entrevista à TV Acre, ainda se deixa mover pela utopia, continuarei na expectativa de ainda ver o PT voltar a democratizar suas decisões internas, ao contrário do que hoje ocorre, com meia dúzia de pessoas se considerando representantes da vontade de um País com mais de 100 milhões de habitantes.

A professora Célia Pedrina é fundadora do PT no Acre.

O MPF NO ACRE PRECISA ACORDAR

A Escola Superior do Ministério Público da União (Esmpu) prepara-se para realizar em Rio Branco, de 4 a 6 de junho, o congresso Proteção Ambiental e Questões Indígenas.

A atuação do Ministério Público Federal no Acre tem sido pífia desde meados dos anos 90. Seus dias de glória por aqui foram mesmo quando da passagem do procurador Luis Francisco Fernandes de Souza, aquele destemido que efetivamente desarticulou e mandou para a cadeia o esquadrão da morte que era liderado pelo coronel Hildebrando Pascoal. Desde então o MPF voltou ao ostracismo.

O que fez até agora em defesa dos índios isolados do Acre? O que fez contra a indústria que chegou para cultivar cana-de-açúcar para a produção de etanol sem respeito à legislação ambiental? O que fez para exigir providências a partir das frequentes denúncias de invasão do território brasileiro por madeireiros peruanos? O que fez contra a escandalosa corrupção promovida por brancos e índios naqueles convênios milionários que envolviam a União das Nações Indígenas e a Funasa? Nada.


Diferente do que diz a divulgação do evento, duvido que o mesmo possa servir realmente para discutir as questões ambientais e indígenas no Estado do Acre, aspectos que influenciam o desenvolvimento da região e que têm gerado demandas jurídicas de difícil resolução.

Acreditem: o MPF no Acre até hoje não conseguiu instalar uma procuradoria especilizada em questões ambientais e indígenas. Na prática, os seus procuradores podem fazer tudo ou nada. Quisera contasse com a salvaguarda e o salário de procurador da República numa terra como o Acre. Tenho certeza de que não faria vergonha na defesa das leis e da sociedade.


Entre os conferencistas, estarão membros do MP e do Judiciário, representantes de órgãos ligados à preservação do meio ambiente e especialistas em ciências sociais e direito ambiental.

Um evento dessa magnitude não pode prescindir da presença, entre outras vozes da resistência acreana, do sertanista José Carlos dos Reis Meirelles e dos antropólogos Terri Vale de Aquino e Marcelo Piedrafita. Limitá-lo à presença do professor Jacó César Picolli no tema indígena, por exemplo, seria uma declaração explícita de descompromisso com a sociedade.


Portanto, espera-se que as 12 horas de congresso tenham a legitimidade necessária, quando forem apresentados temas que envolvem a proteção ambiental nas atividades de exploração, a legislação indigenista, os crimes e as infrações administrativas e ambientais. Do contrário, será mais um evento para acadêmicos, causídicos e outros engomadinhos.

A Esmpu informa que a programação é composta de três painéis, divididos em palestras e debates com a participação do público.
Estão disponíveis 571 vagas, sorteadas eletronicamente: seis para membros do MPF, 35 para os servidores desse ramo e 530 para o público externo.

As inscrições estão abertas até o dia 29 de maio, somente via internet, no website da Esmpu, a partir do link “Inscrições e Resultados”.

Telefonei para o MPF no Acre, a quem disponibilizei espaço para manifestação de seus procuradores. Um dos assessores, o jornalista Hermington Franco, pediu tempo para localizar o procurador-chefe Marcus Vinicius Aguiar Macedo, que está fora do Estado, a trabalho. Horas depois, Franco avisou que em breve (não sabe quando) o órgão vai se posicionar "serena e tecnicamente".

sábado, 24 de maio de 2008

A HIPOCRISIA DO PT

Partido não incorporou a questão ambiental,
critica a ex-ministra Marina Silva


A foto acima mostra bem o que o PT do Acre fez a pretexto de homenagear a senadora Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, na tarde deste sábado, 24, num pequeno auditório no centro de Rio Branco, a capital do Acre.

O partido mobilizou uma pequena platéia para a "homenagem" àquela que é considerada umas das 50 personalidades que podem ajudar a salvar o Planeta.

Além de alguns amigos da senadora, havia o suplente dela, o prefeito de uma cidade do interior e um secretário de Estado que falou em nome do governador do Acre, o petista Binho Marques.

Não compareceu nenhum vereador, deputado estadual, deputado federal, senador ou ex-governador.

Não estavam lá os petistas que defendem o cultivo de cana-de-açúcar no Acre, a prospecção de petróleo, muito menos aqueles que organizaram caravanas para defender nas audiências públicas, em Rondônia, a construção das usinas do Rio Madeira a qualquer custo.

Tampouco compareceram os petistas que viraram pecuaristas, que bebem uísque contrabandeado da Bolívia nas mansões de fazendeiros que participaram do complô que assassinou o seringueiro Chico Mendes, os que conspiram pela redução da área de reserva legal na Amazônia ou que passaram a defender os transgênicos após ganhar viagem ao exterior patrocinada pela multinacional Monsanto.

A ex-ministra e ex-seringueira impressionou, especialmente, ao finalizar o discurso:

- O PT do Acre não é o PT do Brasil. E o PT do Brasil não incorporou a questão ambiental em suas fileiras. O PT precisa compreender que, se ele não for capaz de se alinhar às utopias do século XXI, vai ficar fazendo o discurso do século XIX. O PT do Acre pode dar essa contribuição. Nós precisamos nos atualizar e nos ressignificar sob pena de ficarmos na contramão da história e não sermos mais capazes de tocar no coração e nas mentes daqueles que projetam as esperanças e as utopias para o futuro - afirmou.



Marina Silva disse que "o ministro Carlos Minc é da agenda" e que aprendeu o "be-a-bá da ecologia" com ele, Fernando Gabeira, Alfredo Sirkis e Fabio Feldmann e, no Acre, com a antropóloga Mary Allegretti e com o poeta Antonio Alves, a quem citou várias vezes como alguém que foi capaz de compreender bem antes de todos vários conceitos da sustentabilidade.

A ex-ministra tratou com deferência o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Lembrou que chegou a telefonar para pedir que FHC convencesse os parlamentares do PSDB a aprovar, entre outros, o projeto da lei de concessão de florestas públicas.

- Pedi que me ajudasse a aprovar porque muitos do meu partido e da base do governo não foram capazes de compreender e aprovar a proposta. Existem coisas que são maiores do que nós. A questão ambiental é maior do que nós individualmente e é maior do que cada um de nós isolados de nossos partidos. Os tucanos, petistas e pefelistas precisam de terra fértil, água limpa e de ar puro para respirar - disse.

O retorno de Marina Silva ao Senado representa o reposicionamento de forças na Frente Popular do Acre, a coligação que domina a política no Estado há mais de 10 anos. Vários amigos dela comentavam após a "homenagem" que não conseguem entender de onde a "neguinha" tira tanta força para suportar os "cabeças-de-bagre e suas trairagens", dentro e fora do Acre.

- Ela é maior que o partido. PT saudações - afirmou resignado um deles.

Texto atualizado para Terra Magazine.

MAIS FOTOS DOS "ÍNDIOS INVISÍVEIS"


Veja no Blog do Edvaldo mais de 30 fotos resultantes dos sobrevôos que revelaram ao mundo a existência dos índios isolados do Acre, que até então também eram conhecidos por "índios invisíveis", pois não havia imagens dos mesmos. Na foto acima aparecem o piloto Jairo, o fotógrafo Gleison Miranda, da Secretaria de Comunicação do Governo do Acre, e o sertanista José Carlos dos Reis Meireilles Júnior, da Funai. O cinegrafista Pedro Devanir, da Secretaria de Comunicação, estava na expedição, mas não aparece porque foi quem tirou a foto. Veja mais no Blog do Edvaldo.

VIGILÂNCIA NA FRONTEIRA

Após encontro com sertanista, governador do Acre
cria posto de fiscalização para "índios invisíveis"


As mais de mil fotos tiradas pela primeira vez dos índios isolados do Acre, durante sobrevôos na fronteira Brasil-Peru, serviram para sensibilizar o Governo do Estado a atender uma reivindicação que já durava 20 anos, feita pelo sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental mantida pela Funai no Rio Envira. O governador Binho Marques (PT) recebeu o sertanista e anunciou que o Estado vai financiar a instalação de um posto de vigilância e fiscalização no igarapé Santa Rosa, no município de Santa Rosa do Purus, no limite da fronteira entre os dois países.


Os índios isolados, que já contam com duas bases de fiscalização de suas terras, mantidas pela Funai, encontram-se nas cabeceiras dos rios Breu, Jordão, Tarauacá, Humaitá e Envira. Cada posto de fiscalização custa entre R$ 250 mil e R$ 300 mil ao ano.

As águas do Alto Purus atravessam a fronteira internacional, vindas de território peruano, e entram no Brasil pouco acima de Santa Rosa. Índios isolados vivem e andam em ambas margens do Alto Purus peruano. Na margem direita, esses índios, conhecidos como Masko, percorrem as cabeceiras do Rio Iaco, na Terra Indígena Mamoadate.

Do outro lado da fronteira está situado Puerto Esperanza, que é uma guarnição do Exército peruano, com um considerável efetivo militar e pista de pouso asfaltada, com capacidade para abrigar aviões de grande porte. A construção de Esperanza e da pista foi durante vários anos atrativo para que ali se estabelecesse grande contingente populacional, inclusive famílias kulina, Kaxinawa, jaminawa, mastanawa, contanawa e sharanawa vindas do Rio Curanja e do Alto Purus.

Atendendo outra solicitação de Meirelles, o governador disponibilizou o antropólogo Terri Vale de Aquino para assessorá-lo no trabalho de proteção aos índios isolados.

- Espero contribuir muito para esse trabalho - disse Aquino a Terra Magazine, antes de viajar para participar de uma reunião dos ashaninka do Brasil e do Peru, além de outras lideranças indígenas do Alto Juruá, na aldeia Apiwtxa do Rio Amônea, no extremo-oeste brasileiro.

A vigiliância e a proteção dos índios isolados deverá contar, ainda, com a participação do antropólogo Marcelo Pierdrafita. Os antropólogos e o sertanista esperam convencer o governo estadual a fazer a inclusão dos povos isolados do Acre no Programa de Desenvolvimento Sustentável, que vem sendo financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Leia a reportagem completa na Terra Magazine.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

ÍNDIOS DO ACRE

Uma das últimas tribos isoladas da Terra, os "índios invisíveis" são fotografados em Feijó (AC) e reagem a flechadas contra um avião


Após quase 20 horas num avião monomotor, o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, coordenador da Frente de Proteção Etno-Ambiental da Funai, comandou um sobrevôo que resultou nas primeiras fotografias dos índios de uma das quatro etnias isoladas que vivem na fronteira do Acre com o Peru. As mulheres e suas crianças fugiram para a floresta em busca de proteção, enquanto os guerreiros da tribo se posicionaram e reagiram atirando flechas no avião.

No verão amazônico de 2004, ao sair de sua casa para pescar, Meirelles foi alvejado com uma flecha, que entrou no lado esquerdo do rosto e saiu na nuca. No final da década de 80, numa circunstância descrita como "dramática", o sertanista viu-se obrigado a matar um índigena que tentara atingir o sogro dele.

- Nós já sabíamos da existência desses povos, mas, a partir de agora, temos a prova material de que a região é uma das poucas que abriga as últimas etnias isoladas ou desconhecidas do Planeta - afirma José Carlos Meirelles.

Clique na foto de Gleilson Miranda e leia com exclusividade a reportagem na Terra Magazine.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

MADEIREIROS "SÃO O ESTADO" NO PERU


Manchete da Terra Magazine destaca artigo no qual o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior critica a extração ilegal de madeira na Amazônia peruana e a ausência do Estado na região da fronteira com o Acre. "O governo brasileiro e o governo peruano sabem de tudo isso, mas não movem uma palha ao menos para tentar solucionar a questão", afirma. "Além da madeira, os madeireiros ilegais exploram carne de caça e peixe, pescado com dinamite nas cabeceiras dos rios", conta. "Por lá, nada parece ser proibido".

Na imagem acima, aparecem armados os índios ashaninka do lado peruano. Segundo o sertanista, eles "vigiam sua aldeia com uma guarda armada 24 horas por dia, com medo de retaliação e não podem mais subir o rio Amônea, nas cabeceiras, para pescar, com medo de serem mortos".
Leia "O começo do fim da Amazônia peruana" na Terra Magazine.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

VEJA O QUE VEM POR AÍ


A revista Veja vai se prestar a mais um desserviço ao elaborar uma "reportagem" apurada por telefone, a partir de São Paulo, na qual vai abordar com o sensacionalismo habitual o uso da ayahuasca como sendo alguma coisa de drogados.

É uma reação de intolerância ao pedido (leia aqui) formalizado no dia 30 de abril por representantes dos centros que integram os três troncos fundadores das doutrinas ayahuasqueiras. Eles pediram ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional o reconhecimento do uso da ayahuasca em rituais religiosos como patrimônio imaterial da cultura brasileira.

A solicitação mereceu o apoio do governador do Acre Binho Marques (ele já usou ayahuasca muitas vezes), do presidente da Assembléia Legislativa do Acre Edvaldo Magalhães (também já teve experiências com a bebida) e do ministro da Cultura Gilberto Gil, que conheceu-a em 1967. O projeto é resultante de uma iniciativa da deputada Perpétua Almeida (PC do B), que ontem foi entrevistada por Veja.

- O repórter totalmente desinformado começou a conversa, por telefone, argumentando que a ayahuasca é uma droga e questionou o fato de a deputada defender a bebida como patrimônio imaterial da cultura brasileira. Existe desinformação ou má fé - adverte Paulo de Tarso, assessor da parlamentar.

Perpétua Almeida expôs seus argumentos, mas em contato posterior com a assessoria dela, a reportagem de Veja revelou que vai abordar a questão pelo prisma da droga. Portanto, será o mesmo viés preconceituoso e sensacionalista de sempre.

Descalça, a deputada aparece na imagem acima, em Santa Rosa do Purus, na fronteira com o Peru, ao participar na manhã de hoje de um mariri com índios da etnia kaxinawá, que são usuários da ayahuasca desde tempos imemoriais.

A droga é Veja
Clique aqui e leia o que a deputada disse ontem em defesa da ayahuasca durante discurso na tribuna da Câmara.

Veja vai reincidir no mesmo padrão de 2000? Não aprendeu com o tempo? O Observatório da Imprensa acolheu versão do jornalista Flamínio Araripe após a publicação da reportagem caluniosa da revista naquele ano. Leia "Abuso, preconceito e inverdades".

FALTOU CABEÇA AO PETECÃO

Narciso Mendes

Flaviano Melo, Márcio Bittar, Tião Bocalon e N. Lima, só para ficar com este quarteto, foram os principais incentivadores do rompimento do cabeçudo deputado Sérgio Petecão (PMN) com a Frente Popular. Uns inteligentemente, outros malandramente, acabaram assistindo aquilo que na atividade política já virou uma rotina, qual seja: a criatura voltar-se contra o criador.

Fosse um trabalho feito com o propósito de arrancá-lo da FPA e trazê-lo para engrossar as fileiras da oposição, aí sim, teria sido um golpe de mestre. Acontece que, após ver quebradas todas as pontes através das quais poderia retornar ao antigo convívio, Petecão se viu envolvido numa verdadeira esparrela, qual seja, nenhum dos quatros acima citados estão mais admitindo apoiá-lo enquanto candidato a prefeito de Rio Branco.

Apesar de, volumetricamente, ser possuidor de uma avantajada cabeça, faltou cabeça, no que diz respeito ao quesito inteligência, porquanto Petecão não avaliou as consequências de sua precipitada decisão, e mais que isto, por não ter avaliado que poderia está sendo utilizado numa manobra que logo mais se mostraria desastrosa para consigo mesmo.

Decerto, Petecão correu todos os riscos na esperança de se tornar o candidato único das oposições a prefeito de Rio Branco. Diga-se de passagem, eram essas as promessas que lhes foram feitas, entretanto, após vê-se completamente rompido com a FPA, aqueles mesmos que o incentivara a largar a nau governista foram os primeiros a conspirar contra sua candidatura. Unidas já seriam remotíssimas as possibilidades de derrotar o prefeito Raimundo Angelim; desunidas, jamais.

Enquanto oposição propriamente dita, as oposições do Acre bem parecem um bando de doidivanas, onde cada bando cuida de seus próprios interesses e faz aquilo que lhe for mais conveniente. O próprio Flaviano Melo, beneficiário que foi em 2000, quando disputou a prefeitura de Rio Branco, bem sabe avaliar o quanto lhe foi importante ter encontrado um MDA devidamente organizado para lhe dar sustentação eleitoral e política. De igual modo, Márcio Bittar sentiu na pele o quanto foi difícil ser candidato apoiado por uma avacalhada coligação.

Petecão tem toda razão em parafrasear o então presidente Fernando Collor quando seu impeachment ia se avizinhando: “Não me deixem só”. Moral da história: “Quando a cabeça não pensa, o corpo, ou melhor, neste caso, a candidatura é quem padece”.

O empresário Narciso Mendes, dono da TV e do jornal Rio Branco, escreve neste blog às quartas-feiras.

PERU QUER TRÂNSITO LIVRE NO BRASIL


Teve início hoje, em Santa Rosa do Purus, um dos municípios mais isolados do País, na fronteira com o Peru, mais uma sessão do programa "Assembléia Aberta", promovido pela mesa diretora da Assembléia Legislativa do Acre. O evento está sendo pontuado pela presença de uma delegação da localidade de Puerto Esperanza, chefiada pelo cônsul peruano no Acre, Lanzeth Ludeña, que tenta sensibilizar os brasileiros sobre os interesses do seu país acerca de cooperação amazônica e desenvolvimento fronteiriço. Esperanza está mais isolada em território peruano que Santa Rosa em território brasileiro, mas ambas estão cercadas pela floresta que abriga a maior reserva de mogno do planeta.

No final do mês passado, no Rio de Janeiro, aconteceu a IV Reunião do Grupo de Trabalho Binacional Brasil-Peru, quando embaixadores e representantes dos dois países passaram a examinar cinco temas relacionados à região de fronteira. O principal deles é o pedido de trânsito fluvial e multimodal entre Puerto Esperança e Iñapari pelo território brasileiro.


Leia mais na Terra Magazine.

terça-feira, 20 de maio de 2008

APERTEM OS CINTOS

Mensagem distribuída pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, professor do Museu Nacional e da Universidade Federal do Rio de Janeiro:

"Colegas,

O tempo fechou total em Altamira (PA), onde se desenrola(va) uma reunião sobre o megaprojeto hidrelétrico do Xingu. O presidente da Eletrobrás, após ter se comportado com arrogância e mostrado desrespeito pela platéia (mais de 3 mil pessoas, índios e brancos), foi imprensado por um grupo de Kayapó e ferido a faca, duas horas atrás.

Trata-se do mesmo indivíduo que recebeu aquele carinho do terçado feito pela índia Tuira na reunião de 1989, quando era presidente da Eletronorte.

É fácil imaginar o tamanho do prejuízo que esse incidente vai acarretar, agora em que o clima não anda nada bom para os índios e seus aliados.

Apertem os cintos."

Nota oficial dos organizadores do Encontro Xingu Vivo

NOTA OFICIAL À IMPRENSA

A comissão organizadora do /Encontro Xingu Vivo para Sempre/ vem lamentar o episódio ocorrido nesta terça-feira, dia 20 de maio, no Ginásio Poliesportivo de Altamira, quando o representante da Eletrobrás e coordenador dos estudos de inventário da Usina Hidrelétrica de Belo Monte sofreu uma agressão que lhe ocasionou ferimentos. O evento reúne representantes de comunidades indígenas, ribeirinhas, agricultores e movimentos sociais para discutir os projetos hidrelétricos planejados para a Bacia do Rio Xingu. O triste episódio não representa o espírito democrático de diálogo desse encontro, que busca dar voz a todos os atores e segmentos sociais envolvidos e afetados por esses projetos.
Comissão Organizadora do Encontro Xingu Vivo para Sempre


Notícia no site da Eletrobrás:

"O Engenheiro Paulo Fernando Rezende, coordenador dos estudos de Belo Monte, foi ferido, hoje à tarde, durante evento em Altamira, no Pará, organizado pela Arquidiocese de Altamira, Instituto Sócio Ambiental (ISA) e por várias outras organizações não governamentais.

Paulo Fernando já teve atendimento médico e, agora, estão sendo feitos registros policiais necessários.

O Engenheiro da Eletrobrás foi à Altamira, convidado pelos organizadores do evento, para apresentar os estudos que estão sendo feitos sobre aproveitamento hidrelétrico de Belo Monte.

A Diretoria Executiva da Eletrobrás manifesta sua indignação diante do ocorrido e afirma que tomará todas as providências necessárias para que os responsáveis pela agressão sejam punidos".

Leia mais, no site Amazônia, a reportagem de Thais Iervolino sobre o incidente.

POLÍTICA SEM TEOLOGIA É NEGÓCIO

Leonardo Boff

A saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente representa uma pesada perda de qualidade política do governo Lula. Por qualidade política entendo a competência do governante de manter a unidade dos contrários, contrários esses, inerentes a todo convívio social e democrático, que confere dinamismo e vida à sociedade. Marina Silva representava um pólo decisivo no governo e fundamental para uma política responsável pelo futuro da vida e da integridade do Planeta: o cuidado com o ambiente inteiro e com as condições ecológicas que garantem a vida em toda sua imensa diversidade.


No outro pólo estão outros, em maior número, que perseguem um projeto que nos remete ao século XIX, de crescimento material acelerado e a todo custo, sem considerar a mutação das consciências ocorrida no Brasil e no mundo face principalmente às perigosas transformações negativas do estado da Terra, ocasionadas, em grande parte, por aquele projeto. Missão do governante é ser um homem de síntese, capaz de articular os pólos e ter a sabedoria suficiente para decisões estratégicas, mesmo difíceis, que garantam o futuro de nossa existência neste pequeno Planeta. O atual presidente mostrou essa capacidade de síntese. Mas desta vez, parece-nos, se operou desastroso desequilíbrio. Com a ausência de Marina Silva, há o risco do pensamento único e da obsessão furiosa pelo crescimento fazendo crescer nossa dívida para com a natureza e as gerações futuras.

A ex-ministra Marina Silva mantinha tenaz coerência com a missão que se propôs de introduzir a partir de seu Ministério a transversalidade do cuidado ecológico em todas as instâncias do poder, no esforço de conferir uma direção inovadora e à altura dos desafios contemporâneos ao desenvolvimento sócio-ambiental sustentável. Foi vista como obstáculo ao crescimento e como empecilho à modernização. E efetivamente era e precisava sê-lo. Não é possível, contudo, o que sabemos da história e da experiência recente continuar com o tipo de crescimento retrógrado que visa a acumulação à custa da devastação da natureza e do aprofundamento das desigualdades sociais. Há que se estigmatizar essa modernização conservadora e socialmente criadora de tantas vitimas no campo e nas cidades. As pressões contra a ministra vindas do interior do próprio governo e do exterior, de grupos poderosos ligados à pecuária e ao agronegócio, solaparam a sustentação política e a viabilidade de seu trabalho, especialmente com referência à preservação da floresta amazônica. Retirou-se do ministério pela porta da frente, com elevado espírito público e ético, protestando lealdade e fidelidade ao presidente.

Marina Silva era uma das reservas éticas do governo, uma referência de credibilidade para o Brasil e para o mundo. Mas ética era pouco para ela. Movia-a uma inspiração espiritual, de serviço à vida e de proteção a todo o Criador. Ela me faz lembrar a frase de um dos grandes pensadores da escola de Frankfurt, que foi um rigoroso marxista e materialista: Max Horkheimer. No final de sua vida escreveu um instigante livro: "Saudade do Totalmente Outro". Ali, como marxista e não como cristão, diz: "uma política, sem teologia, é puro negocio". E explicava: "teologia significa aqui, a consciência de que o mundo não é a verdade absoluta, que não é o fim; teologia é a esperança de que tudo não se acabe na injustiça que tanto marca o mundo, que a injustiça não detenha a última palavra". Estimo que Marina Silva mostrou em sua vida e prática a verdade desta sentença. Por isso todos lhe somos agradecidos e devedores.

Leonardo Boff é teólogo. O artigo foi lido durante o Fórum de Desenvolvimento Eco-Sustentável da Ilha de Itaparica (BA).

EXÉRCITO DE DEUS




DIRETO DE SANTA ROSA DO PURUS

Sob o ataque implacável dos piuns


Estou em Santa Rosa do Purus, um dos municípios mais isolados do Acre, com 3,9 mil habitantes, onde será realizada amanhã mais uma sessão da "Assembléia Aberta", que é o programa de interação criado pelo deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), presidente da Assembléia Legislativa. Durante as sessões abertas, parlamentares se tornam ouvintes de vereadores, sindicatos de trabalhadores e associações de classe nas cidades do interior do Estado.

A viagem de Rio Branco até Santa Rosa durou uma hora e meia num avião bimotor. A outra forma de alcançar o município é percorrer o rio Purus, a partir de Sena Madureira, a 146 quilômetros da capital. A viagem de barco durante o inverno amazônico, quando o rio está cheio, dura em média uma semana. Porém, nesta época do ano, dependendo do barco, pode demorar até 14 dias.

É a primeira vez que venho a Santa Rosa e minha impressão negativa estava muito influenciada pelas imagens precárias do lugar, sobretudo das que foram feitas quando a vila foi declarada município, há 16 anos. A maioria das ruas é pavimentada com tijolos e os moradores transitam sem pressa, a pé ou em bicicletas e motos, sem que sejam importunados pelos 11 carros existentes na cidade.

Existem por aqui apenas 1,8 mil eleitores. O prefeito José Tamir (PT) foi eleito com 430 votos. Quando concorreu a vereador, em 1992, foi o mais votado, com cinco votos. Existem nove vereadores, sendo que o mais votado na última eleição foi Júlio Brandão, que era do PT e mudou para o PMN. Cada vereador ganha R$ 1,2 mil.

Viver por aqui não é fácil. A cidade estava sem gás de cozinha há mais de uma semana. Uma botija de 18 quilos custa R$ 53,00. No momento falta gasolina. O litro custa R$ 4,25. O diesel, R$ 3,80. Tudo gira em torno do Fundo de Participação do Município, que injeta mensalmente R$ 300 mil na economia. O máximo por aqui é ser funcionário público ou aposentado do INSS.

Nuvens de piuns (insetos, borrachudos) castigam os moradores, sobretudo às margens do rio Purus. Neste momento, estou no ponto de acesso à internet existente na prefeitura. Já acendi vários porroncas (aliás, o fumo daqui é excelente, Toinho) e tenho lançado baforadas de fumaça, mas meus braços, pés e o rosto já estão mais enrugados de tantas picadas dos insetos. Eles parecem resistentes aos três tipos de repelente que apliquei desde que desembarquei na pista de terra dos aviões.

Existe muito peixe no Purus e nos lagos no entorno de Santa Rosa. Como em todas as cidades acreanas, a incidência de hepatite é elevada. Hoje mesmo foi enterrado um índio vítima da doença. Índios da etnia kaxinawá, kulina e jaminawa habitam a região. O vice-prefeito José Domingos (PT) é da etnia kaxinawá. Os indígenas representam 80% da população, sendo que parte deles vive embrigada na beira do rio e nas ruas da cidade.

Conheça o website da prefeitura de Santa Rosa do Purus.