Jair Araújo Facundes
M. (chamemo-la assim) vamos tomar um potente psicoativo? Uma substância de efeito forte, que lhe trará visões várias, estimulando seus sentidos, inteligência, possibilitando percepções diferentes da realidade, expandindo sua consciência, além de permitir enorme autoconhecimento?
- Deus me livre. Isto é droga. Coisa do diabo. Quero não - respondeu-me.
- Mas a senhora toma Daime - contrapus.
- Daime é da Divindade, me aproxima de Deus, das pessoas, da minha família. Não é droga.
Em que contexto ayahuasca deixa de ser uma crença e passa a ser apenas uma substância psicoativa? Ou, como querem alguns pesquisadores, quando que o psicoativo passa a ser o sagrado?
O caboclo amazônida, na sua resposta simples, demonstra saber discernir um de outro, como indica o diálogo, verdadeiro, que introduz este texto. A simplicidade de sua resposta resume a complexa questão referente ao uso ritual da ayahuasca e revela como as pessoas, que dela fazem uso, a diferenciam de outras substâncias e/ou de outros contextos. Ao mesmo tempo indica o quanto essa bebida representa como elemento importante na construção de sua identidade cultural.
A ayahuasca, para esse povo simples e caboclo, não é ingerida na busca de sensações psicodélicas, ou como tentativa de esquecer, por alguns momentos, a vida e seus problemas, frustrações e desafios. Ou para se divertir. Ingerem ayahuasca com a serena convicção de que praticam ato de fé, tendo nela meio de comunhão com a Divindade.
Entre os índios, onde se originou a prática religiosa, não há uma forma única de uso, e a multiplicidade de nomes (yagé, mariri, caapi, natema etc) indica a multiplicidade de rituais e de modos de preparo. Apesar das diferenças, uma característica se destaca, pouco importando o nome da bebida ou o ritual: ayahuasca como elemento do sagrado que agrega, que integra o homem ao seu meio, ao seu grupo; ayahuasca como religião, mas não só: ayahuasca como importante fator de identidade, capaz de acentuar e estimular o sentido de pertencimento a um tempo, grupo e lugar.
No meio urbano seu primeiro uso doutrinário é atribuído a Raimundo Irineu Serra, que trouxe ayahuasca, após conhecê-la no Peru, para a cidade de Assis Brasil/AC, em meados da década de 20 do século passado. No fim da década de 40, também no Acre, um discípulo seu, Daniel Pereira de Matos, dá início a outra doutrina, que veio a se tornar popular com o nome de "Barquinha", com caracteres bem distintos. No começo da década de 60, José Gabriel da Costa cria a União do Vegetal, em Porto Velho-RO, atribuindo à bebida o nome de "Vegetal", delineando um uso ritualístico também com características bem próprias.
◙ Jair Araújo Facundes é juiz federal da Seção Judiciária do Estado do Acre e adepto da doutrina do Daime. Clique aqui para continuar a leitura do artigo "Ayahuasca: do sagrado ao mundano. Breve prosa de sua conversão em psicoativo", publicado originalmente no blog do advogado Sanderson Moura.
4 comentários:
Creio perfeitamente que na história cronológica contada esta a verdade. Refiro-me ao período 1920 quando Irineu trouxe a doutrina para área urbana; posteriormente em 1940 veio Daniel, e em seguida Gabriel. Estranho é que os seguidores desse ultimo afirma que Gabriel foi o precursor da ayahuasca e quem devemos considerá-lo o Mestre Maior do uso desse chá. Sob o nome Vegetal tudo bem, mas a mistura da folha com o cipó e o culto levado ao conhecimento dos seguidores, é claro que foi IRINEU. Andrerororiz@gmail.com CArlos André
Sim.. devem atribuir ao Mestre Gabriel por que o Vegetal não é só Ayahuasca(Jagube e Chacrona).. O Vegetal tem outras ervas também... Inclusive com outros psicoativos.
Filipe, não levante FALSO TESTEMUNHO (prá não dizer outra coisa).
O Vegetal é o mariri e a chacrona: APENAS.
É a mesma Ayahuasca que o Daime (das seitas bem intencionadas, claro).
O que já se encontrou foram outras substâncias em algumas denominações do Daime. Isso sim foi fato verdadeiro.
Mas a corrupção vem da mão de alguns homens, não da religião.
Mestre Gabriel respeitava Irineu, e Irineu respeitava M.Gabriel.
Aprenda respeito com os dois.
A CULTURA INDÍGENA NUNCA FOI TÃO DESRESPEITADA QUANTO POR ESSE POVO QUE COMERCIALIZA a droga alucinógena AYAHUASCA. O que é droga? Droga é um nome genérico dado a todo o tipo de substância natural ou não, que ao ser introduzida no organismo provoca mudanças físicas ou psíquicas.Com meus 50 anos de Cultura Indígena, convividos com Orlando Villas Boas, Darcy Ribeiro e tantos indígenas que nem falavam português, afirmo que esse chá nas mãos de KUBEN (não indígena) é um grande insulto e desmerecimento. A base da estrutura indígena é AMOR E RESPEITO, o que eles demonstram a cada relato que isso nunca existiu com as vítimas dessa experiência. Apenas egoísmo, arrogância, desprezo, agressividade e insensatez.
Uma pergunta. Será qiue eles pagam royalty pela fórmula, ou foi roubada dos indígenas?
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