quinta-feira, 29 de setembro de 2005

PEIXE PODRE



Por Elson Martins (*)


Olha aí, Altino, como os índios sabem das coisas:

Quando o senador João Alberto Capiberibe -ex-militante da ALN de Carlos Marighella, cassado na semana passada em último recurso no Supremo Tribunal de Justiça- governava o Amapá, era costume os caciques índios do Estado serem convidados para almoçar ou jantar na residencial oficial.

Durante os dois mandatos de governador, durante os quais desenvolveu o PDSA (Programa de Desenvolvimento Sustentável do Amapá), Capiberibe contou com as lideranças indígenas como “parceiros preferenciais”.

Um deles, o cacique Geraldo Galiby, dizia que Capi (como o tratava carinhosamente) era “feito de outra massa”. Uma distinção.


Foram muitos almoços e jantares, sempre com a recomendação aos cozinheiros para prepararem caldeiradas de peixe fresco, de várias espécies, o que é tarefa fácil naquele Estado, piscoso por excelência.

Um dia, porém, quando todos saboreavam um delicioso filhote, apanhado na maré do rio Amazonas, no dia anterior, Capiberibe perguntou ao cacique Waiapi Kumai, o que ele estava achando da comida. Veja o que Kumai respondeu:

- Tá boa, governador, menos o peixe, que é podre!

O peixe estava ótimo para os brancos, claro, mas para os Waiapi, que habitam as cabeceiras do rio Matapi, pescam e comem moqueadas várias espécies, o filhote com poucas horas de gelo tinha sabor alterado.

Embora surpreendidos com a resposta, Capi e outros comensais não índios acataram, com algum riso amarelo, o paladar apurado do cacique.

(*) Jornalista acreano, colaborador do blog

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