Carlos Valério Gomes
Interessante o relato sobre William James, que parece surgir como um norte-americano contrubuidor ao conhecimento científico da história natural da Amazônia no seculo XIX – se verdadeiro seria algo relativamente novo. Porém, me parece existir um certo exagero na sua possível contribuição com relação à produção científica sobre a região. Este argumento, de que tal expedição visava rebater as teses de Darwin, me parece um tanto quando exagerado. De fato, a Amazônia deu pouca contribuição para Darwin na elaboração de sua teoria de evolução das espécies. Com relação à Amazônia, o maior nome sobre o tema, que estava trabalhando na mesma linha de pensamento que Darwin, foi Alfred Russel Wallace (1823-1913). Ele desembarcou no Pará, em 1848, e viajou pela Amazônia durante quatro anos. Viajou extensivamente pelo Rio Negro e alcançou distâncias nunca atingidas por outros naturalistas até então. Wallace era um evolucionista com treinamento em botânica e zoologia. Além do seu papel como coletor, uma outra razão que o trouxe para a Amazônia foi para investigar as causas da evolução orgânica. Ele era particularmente interessado em investigar as formas como a geografia limitava ou facilitava a extensão do raio de ação das espécies. Como resultado de sua viajem na Amazônia, escreveu o livro “A Narrative of Travels on the Amazon and Negro (1853)”.
Posteriormente, Wallace viajou por oito anos em Singapura e formulou sua teoria da evolução por seleção natural. Ao contrair malária e achar que iria morrer, Wallace escreveu para Darwin sobre suas idéias. Isto levou Darwin a revelar a sua própria teoria mais desenvolvida e pesquisada que a desenvolvida por Wallace. Wallace é considerado por muitos na comunidade científica internacional como o “pai esquecido” da ciência moderna. Agora, trazer um novo nome para esta discussão, usando a Amazônia, me parece meio “promocional,” mas esperemos o livro. Os maiores responsáveis pelo início da produção cientifica da região foram os naturalistas europeus. Durante o século XVI, a grande maioria dos viajantes era ligada à Coroa Portuguesa, estando entusiasmados para explorar a Amazônia em bsuca do “El Dorado”, tal como ocorreu em outras regiões do Novo Mundo. Esses primeiros exploradores estavam pouco interessados em conhecer a riqueza biológica do ambiente natural a que se estavam inserindo. Estavam mais interessados em encontrar recursos já conhecidos, sobretudo ouro e prata.
A necessidade de avanço da exploração produtiva na Amazônia aprofundava a demanda por maiores conhecimentos de suas características econômicas potenciais. Então, produtos extrativistas, muitos já usados pela população local, ganharam significância econômica e tornaram-se o principal motor do processo de colonização e penetração no vale amazônico. As chamadas "drogas do sertão" e recursos aquáticos passaram a render bons lucros no mercado internacional e foram alguns dos produtos monopolizados pela metrópole portuguesa no final do século XVII. Com o avanço da economia extrativista são incentivados os inventários dos recursos naturais na região e assim passa-se para uma nova fase de conhecimento que vai além das expedições de relatos técnicos. Ou seja, passa-se da fase de expedições de exploradores para expedições científicas.
Dessa forma, os viajantes dos séculos XVIII e XIX diferenciavam-se desses dos séculos anteriores, visto que na sua maioria eram patrocinados por instituições científicas e tinham como principais objetivos a aquisição de conhecimentos sobre o ambiente natural. Charles-Marie de la Condamine, que viajou para o Pará a partir de Quito no final de 1744 foi um dos precussores e deu uma grande contribuição científicas e descobertas na Amazônia. Condamine inspirou Humboldt, que por sua vez inspirou Spruce, Wallace e Bates. Outros naturalistas também suplementaram o estoque de conhecimento criado sobre a região. Em 1835 Lieutenant Smyth desceu o Huallaga e viajou pelo Ucayali e Amazonas. Em 1852, Lieutenant Herndon seguiu o caminho de Smyth, penetrou o Purus e desceu o Mamoré e o Madeira. A partir do Pará, Von Martius, em 1820 examinou parte do curso do Amazonas e Japura. Von Spix subiu pelo Amazonas até Tabatinga no mesmo ano. O Príncipe Adalberto da Prússia subiu pelo Xingu em 1842 e Edwards subiu o Rio Negro. Esses naturalistas, ingleses, franceses e alemães engajados em conhecer os diversos recursos naturais da região atravessaram extensas áreas e com isso abriram capítulos da História, Geografia, Antropologia, Zoologia e Botânica da região. Devido à energia e talento desses naturalistas, a ciência contribuiu imensamente para o estoque de conhecimentos da história natural que temos sobre a Amazônia hoje.
Trazer um pesquisador norte americano como contribuir dos conhecimentos cientificos sobre a região na epoca e algo novo. Além do argumento sobre rebater as teses de Darwin usando a Amazônia, o outro argumento problematico é o de um “projeto de desenvolvimento norte-americano” para a Amazônia na epoca. O comercio internacional da Amazônia na epoca era principalmente com a Europa. Os americanos passaram a exercer uma certa influência com a explosão do mercado internacional de borracha iniciado em 1880. Espero que a autora brasileira não tente promover o nome de William James baseada em argumentos modernos, e sim mergulhe na história verdadeira de produção de conhecimento da história natural da região.
◙ Carlos Valério Gomes é estudante acreano de doutorado em geografia na Universidade da Flórida. Enviou o artigo como comentário ao post William James na Amazônia.
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