POR LUCIANO MARTINS COSTA
Na semana passada, o portal G1, do grupo Globo, enviou a Rio Branco, no Acre, uma repórter para documentar o que seus editores consideravam uma curiosidade digna de suas telas: a inauguração do primeiro grande shopping center da cidade (ver).
A jovem cumpriu a encomenda com disciplina: o texto, intitulado “Primeiro shoping muda hábitos da população do Acre” é um primor de jornalismo provinciano: aquele que, embora produzido a partir de um ambiente cosmopolita, enxerga apenas uma fração do objeto analisado, reforçando idéias preconcebidas.
A jornalista tomou um taxi no Hotel Terra Verde, se deslocou até o centro de compras, onde realizou as entrevistas, depois conversou com lojistas da cidade, escreveu sua reportagem e passou horas no saguão do hotel lendo os comentários dos leitores.
A reportagem deu curso a uma sucessão de manifestações preconceituosas contra as populações do norte e do nordeste do país, revelando que o brasileiro não conhece o Brasil.
O texto da jornalista, correto do ponto de vista da pauta que lhe foi encomendada, revela, porém, certos vícios do jornalismo brasileiro contemporâneo: a ênfase no aspecto comercial, a obsessão por infográficos e estatísticas e nenhuma sensibilidade para contextos sociais e culturais envolvidos com o tema.
Se tivesse saido um pouquinho da rota traçada por seus editores, a repórter teria descoberto uma cidade interessante, provavelmente a capital do país que mais mudou nos últimos vinte anos, transformando-se de uma aldeia lamacenta em uma cidade vibrante, alegre, cheia de novidades e que no entanto preserva muito de suas características tradicionais.
Se tivesse parado para olhar os acrianos (com “i”, segundo o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, conforme lembra o texto), a repórter teria conhecido o estado mais republicano do Brasil, onde as crianças aprendem o hino nacional e o hino do estado, conhecem a bandeira nacional e a do estado – sem, no entanto, o aspecto separatista e xenófobo que caracteriza outras regiões do país.
Teria observado que em Rio Branco, a capital, pode-se acessar a internet gratuitamente em vários locais públicos, como praças, que há mais bibliotecas públicas, proporcionalmente à população, do que em qualquer outra capital, que há mais semáforos com temporizador do que em São Paulo e que o sistema de trânsito foi planejado recentemente levando em conta o fenômeno do crescimento das cidades médias e as mudanças de hábitos de uma população tipicamente rural.
E que a mudança de hábitos é causada pelas transformações ocorridas nessas cidades, não pela inauguração de um shoping center.
A reportagem sobre o shoping acabou sendo apenas isso: uma curiosidade.
Mas poderia ter sido uma oportunidade para mostrar aos brasileiros a gente que habita esse pedaço de terra que foi grudado ao território nacional pela vontade dos acrianos.
Na semana passada, o portal G1, do grupo Globo, enviou a Rio Branco, no Acre, uma repórter para documentar o que seus editores consideravam uma curiosidade digna de suas telas: a inauguração do primeiro grande shopping center da cidade (ver).
A jovem cumpriu a encomenda com disciplina: o texto, intitulado “Primeiro shoping muda hábitos da população do Acre” é um primor de jornalismo provinciano: aquele que, embora produzido a partir de um ambiente cosmopolita, enxerga apenas uma fração do objeto analisado, reforçando idéias preconcebidas.
A jornalista tomou um taxi no Hotel Terra Verde, se deslocou até o centro de compras, onde realizou as entrevistas, depois conversou com lojistas da cidade, escreveu sua reportagem e passou horas no saguão do hotel lendo os comentários dos leitores.
A reportagem deu curso a uma sucessão de manifestações preconceituosas contra as populações do norte e do nordeste do país, revelando que o brasileiro não conhece o Brasil.
O texto da jornalista, correto do ponto de vista da pauta que lhe foi encomendada, revela, porém, certos vícios do jornalismo brasileiro contemporâneo: a ênfase no aspecto comercial, a obsessão por infográficos e estatísticas e nenhuma sensibilidade para contextos sociais e culturais envolvidos com o tema.
Se tivesse saido um pouquinho da rota traçada por seus editores, a repórter teria descoberto uma cidade interessante, provavelmente a capital do país que mais mudou nos últimos vinte anos, transformando-se de uma aldeia lamacenta em uma cidade vibrante, alegre, cheia de novidades e que no entanto preserva muito de suas características tradicionais.
Se tivesse parado para olhar os acrianos (com “i”, segundo o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, conforme lembra o texto), a repórter teria conhecido o estado mais republicano do Brasil, onde as crianças aprendem o hino nacional e o hino do estado, conhecem a bandeira nacional e a do estado – sem, no entanto, o aspecto separatista e xenófobo que caracteriza outras regiões do país.
Teria observado que em Rio Branco, a capital, pode-se acessar a internet gratuitamente em vários locais públicos, como praças, que há mais bibliotecas públicas, proporcionalmente à população, do que em qualquer outra capital, que há mais semáforos com temporizador do que em São Paulo e que o sistema de trânsito foi planejado recentemente levando em conta o fenômeno do crescimento das cidades médias e as mudanças de hábitos de uma população tipicamente rural.
E que a mudança de hábitos é causada pelas transformações ocorridas nessas cidades, não pela inauguração de um shoping center.
A reportagem sobre o shoping acabou sendo apenas isso: uma curiosidade.
Mas poderia ter sido uma oportunidade para mostrar aos brasileiros a gente que habita esse pedaço de terra que foi grudado ao território nacional pela vontade dos acrianos.
Luciano Martins Costa escreve diariamente no Observatório da Imprensa.
10 comentários:
Tudo bem, Luciano, mas "de uma aldeia lamacenta a uma cidade vibrante"? menos!
Rio Branco é sim uma cidade maravilhosa mas, não por causa de seus administradores dos últimos 20 anos, nem por causa de semáfaros ou shoping. Ao contrário, é uma cidade maravilhosa justamente porque ainda preserva um pouco da simplicidade de sua gente. Não estraguemos isso! já basta o mal que fizeram com a mudança do horário, desrespeitando a vontade do povo, tudo para se "assemelhar" às vontades do Centro-Sul.
Lindomar Padilha
Lindo texto Luciano. É como você disse, acabou sendo uma curiosidade. A verdade é que se fossem fazer um documentário sobre a região e as pessoas, mais uma vez filmariam a floresta, as aldeias, os igarapés, como sempre fazem, contribuindo para a falsa imagem que o sul do país tem da região, que aqui é só floresta, bichos e índios.
menos Luciano...
transito planejado???
internet gratuita, mas que não funciona....
menos Luciano, bem menos...
Antes tinha o velho mercado livre que ficava onde é hoje o calçadao onde tem as estatuas em homenagem aos seringueiros ; era so lama .
Mais na epoca os Acrianos estavam acostumados.
Agora em relaçao ao " Sul maravilha " ver apenas mato e bicho aqui no norte isso tambem tem explicação .É que eles estão tão absorvido com as grandes cidades que nao enxergam mais nada.
Alias é assim que a grande maioria dos Americanos nos enxergam - SÓ MATO E BICHOS.
Faltou ele citar a periferia que também está como a vinte anos, sem saneamento, segurança, iluminação....
Impressionante como os comentaristas aqui vêem problema em tudo, não conseguem enxergar nada de bom que possa ser de alguma forma associado à administração da FPA. Sim, somos uma das cidades que mais mudaram nos últimos anos. E graças à FPA. Graças à eles. Engulam isso, porque é a realidade. Critiquem zilhões de coisas: segurança, saúde, índices econômicos e de IDH, pra tudo isso cabe questionamento sobre ter piorado ou não ter melhorado o suficiente. Mas as mudanças da cidade não há o que questionar, neste ponto Rio Branco se destaca a nível nacional, com espaços públicos bem cuidados e uma intensa remodelagem urbana de uma cidade que era caótica. Rio Branco melhorou demais, como nenhuma capital brasileira conseguiu em tão pouco tempo. Méritos à quem merece. Visitem Porto Velho se quiserem ver uma cidade que foi na direção contrária e vejam se eles quando passam por aqui não saem invejando o que aconteceu em Rio Branco. Temos problemas como todas as cidades brasileiras, mas o saldo é positivo. Se vocês acharem uma administração que eliminou todas as mazelas de uma cidade brasileira, me apontem por favor, estou curiosíssimo pra conhecer.
Calma RodB, melhorou? Claro, às vezes até penso que piorar não podia, agora por isso devo endeusar alguém?! Não fizeram mais do que deveriam, afinal é este o seu trabalho. Quanto ao texto do Luciano, está ótimo, bem patriótico, colocando o autor em patamar digno de membro de uma AERP, mas tenho que concordar com o Roberto Feres, o transito aqui é caótico, tenho sérias dúvidas sobre a dita "engenharia de tráfego" do Detran, e a Floresta Digital, parece que foi só mesmo pra vender antena.
Luciano, obrigado por me ajudar a entender o conceito da "internacionalização da Amazônia"!
A Suiça é aquí em Rio Branco, enquanto o Haiti fica em Brasiléia...
Você é o cara!
Mas o problema é exatamente esse, Marcel. Reconhecer, elogiar um trabalho é visto por você como endeusamento. Deixo claro no meu comentário que muitas críticas podem ser feitas e elogio o governo num ponto em que acho que merecem elogios. O problema é que os cegos pelo partidarismo ou os que guardam ranço de lideranças políticas - e estes são tão numerosos quanto os "puxa-sacos" - não enxergam nada de positivo. O que é bom e elogiável "não é mais que a obrigação". Pudera as administrações anteriores terem feito a sua obrigação, certamente os problemas seriam bem menores atualmente, até porque as mazelas de Rio Branco vêm de muitas décadas atrás e o desafio é minimizá-las agora que chegaram neste ponto (é utópico resolvê-las todas, só conseguiremos diminuir). A internet gratuita tem problemas? Vamos cobrar, reclamar. Mas e as 26 capitais que nem internet gratuita com problemas possuem? Criticar é fácil, não falta o que criticar, mas é preciso também saber reconhecer quando alguma coisa é bem feita. Longe de perfeição e que ninguém espere perfeição, porque esta sempre foi inalcançável.
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