Célia Pedrina
Caro Altino,
Para ser coerente com uma nova proposta colocada para mim agora - aquela de encarar a entrada dos 60 anos e fazer uma transição para um novo olhar sobre um possível significado para a vida -, tenho procurado não me intrometer em questões políticas, nem mesmo em relação àquelas que ainda mexem muito com o meu coração petista.
Desde que fui afastada do PT - um afastamento provocado pelo cansaço de sentir a constante desqualificação do meu discurso, embora seja importante ressaltar que aqui não vai nenhuma pretensão de busca de culpados, mas sim apenas a constatação de que um grupo, pequeno, mas forte, tomou de conta das “decisões internas”- não costumo obedecer a ordens sem poder questionar por que elas foram geradas.
Amo tanto a minha liberdade, conquistada a duras penas, que só aceito ainda o meu vício de fumar porque fumo “free”. Mas estou escrevendo hoje a você para elogiar e apoiar o seu último artigo sobre o PT - o cinismo e a hipocrisia com que foi tratada a ex-ministra Marina Silva ao retornar ao Acre.
Como você bem disse, a Marina sabe quem ela é e todo o valor que tem. Também é conhecedora do respeito que tenho por ela, por algumas de suas posições e por outras questões de foro íntimo, que não necessitam ser aqui reveladas. Na minha trajetória partidária, quando era Secretária do Diretório Municipal do PT de Bragança-Paulista, minha cidade natal, onde vivi nos anos em que estive afastada do Acre, houve um momento em que eu e um candidato ambientalista que concorria ao cargo de vereador, precisamos do seu apoio, e Marina atendeu ao nosso pedido.
Assim como eu, muitos outros petistas - fundadores ou “jurássicos” como gostam de nos classificar - que estão afastados talvez pelos mesmos motivos que os meus; outros admiradores ou simpatizantes do PT sequer foram convidados. É por isso que bastava aquele auditório pequeno, no centro da cidade.
Era uma reunião para um grupo seleto, daqueles que giram em torno do próprio umbigo ou do umbigo de quem os mesmos dependem. No entanto, teve algo que, para mim, não ficou muito claro: quando a própria Marina citou o papel do PT do Acre, destacando até que poderia vir a ser um “modelo” (o grifo é meu!) para os diretórios do Brasil. Fico a pensar em duas possíveis situações:
1. Ela sabe de tudo o que acontece, conhece o processo centralizador da atual e das últimas direções, que pouco se importam de assim agir, portanto, nem para ela foi surpresa ou desprestígio a ausência de um público maior e, consequentemente, nada deve ser mudado;
2) Ela sabe de tudo o que acontece, conhece o processo centralizador, mas agora, liberada para uma atuação partidária com maior intensidade, vai contribuir para que isso mude.
É claro que, se a hipótese “2” é a que melhor traduz a verdade, ainda podemos ter um fio de esperança na possibilidade de uma mudança de rumo nos destinos do Partido dos Trabalhadores e aproximá-lo mais dos princípios e das questões ideológicas que resultaram na sua criação.
Como a Marina Silva é maior, mais humilde, mais sábia e, segundo suas próprias palavras em entrevista à TV Acre, ainda se deixa mover pela utopia, continuarei na expectativa de ainda ver o PT voltar a democratizar suas decisões internas, ao contrário do que hoje ocorre, com meia dúzia de pessoas se considerando representantes da vontade de um País com mais de 100 milhões de habitantes.
◙ A professora Célia Pedrina é fundadora do PT no Acre.
Um comentário:
Ufa!!!!
Até que enfim chegou o momento da companheira Célia gritar o que lhe apertava a goela e travava a língua. Não foram poucas as humilhações que passou. Foram dias, meses, anos debeixo da chibata do tal grupelho que açambarcou as decisões de partido e, não raramente, as de governo.
Fui testemunha disso.
É lamentável que, nos extremos de capacidade de suportação de ser ministra, tenha o PT nacional e o acreano virado as costas para Marina. Sobraram amigos, individualmente considerados. O partido calou-se.
Acredito também na segunda hipótese. Ela vai saber agir.
Marina é fiel de balança e sabe disso. A não ser que seja barrada pelo tal grupelho, por ser considerada démodé.
Não quero crer nisso.
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