POR EDILSON MARTINS
A guinada realizada por
Marina Silva após ter sido nocauteada pela cassação de sua Rede e logo
em seguida construir uma aliança com o PSB, levou, e está levando
ainda, as forças governistas, a um círculo confuso, alguma coisa
surpreendente, deixando não poucos à beira de um ataque de nervos.
Marina
hoje, já há algum tempo, é a expressão legítima da mulher brasileira
que faz história. Por conta própria, sem cobertura de padrinho, sem
origem de família, sem alianças de casamento, sem procedências
milionárias, sem alavanca de partidos.
Rita Camata foi
vice de Serra para Presidente, ela própria esposa de um Senador: Marta
Suplicy é de alta linhagem, e tem Matarazzo no nome; Dilma, bom, Dilma
foi eleita, a escolhida de Deus, quero dizer Lula. E tantas outras, no
mesmo modelo, sem desmerecer nenhuma.
Poderia
prosseguir, mas paremos por aqui. Sua luta é a luta da teimosia. Pedro
Casaldáliga diria teimosia e esperança. Pois bem: ela obtém um balaio de
quase 20 milhões de votos, nas últimas eleições, num partideco como é o
PV no país, sem recursos, mergulhado em lutas intestinas,
sem dinheiro para cooptar, dobrar, comprar como fazem os partidões, e sem tempo
na TV.
Obteve
esse balaio de votos falando a língua da simplicidade, sem gritar, sem
performances de auditório, sem os trejeitos da retórica sindical, nada
prometendo, apenas propondo novos modos de fazer política.
Pois
bem, novamente: segunda melhor avaliada hoje na corrida presidencial,
sem partido, sem propaganda nas TVs, diminuída pela elite pensante,
demonizada pelos arautos do poder, subestimada pela classe média,
continua provocando ruído e temor.
Com 26% de
aprovação para presidente -Data Folha - abdica de tudo isso, e firma uma
aliança para apoiar um candidato já existente, ocupando já a janela,
conforme diria Romário, Eduardo Campos, governador de Pernambuco, que não vai além de 8% de intenções de votos.
Aliás,
agora, Romário, deputado federal, virou parceiro de Marina. Que se tem
notícia, postura como essa, só a teve Ulysses Guimarães, no crepúsculo
da ditadura, quando cedeu a vez para Tancredo Neves, por sabê-lo mais
assimilável pelos milicos. O mesmo Tancredo que não tinha peitado os
militares, não tinha se exposto, não tinha corrido risco de cassação,
que não tinha sido perseguido pelos cães da ditadura, conforme fora
Ulisses.
Marina tem dito, pra quem tenha ouvidos para
ouvir; sua opção ora promovida, é programática, é maior que seus
projetos pessoais. Ela quer derrubar um governo que perdeu a confiança
de muitos, um governo mergulhado em mensalões, um governo da Velha
República, cassação de partidos hostis, um governo sustentado por
políticas marqueteiras. Em suma: dois gestos, dois estadistas.
Edilson Martins é jornalista escritor.
Um comentário:
É muito cedo, para afirmar que Marina não será a cabeça da chapa... Parece-me um projeto da Marina, chegar à Presidência. Ainda tem muita água para correr embaixo da ponte.
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