domingo, 6 de outubro de 2013

Marina, ditadura e Ulysses

POR EDILSON MARTINS

A guinada realizada por Marina Silva após ter sido nocauteada  pela cassação de sua Rede e logo em seguida construir uma aliança com o PSB, levou, e está levando ainda,  as forças governistas, a um círculo confuso, alguma coisa surpreendente, deixando não poucos à beira de um ataque de nervos.

Marina hoje, já há algum tempo, é a expressão legítima da mulher brasileira que faz história. Por conta própria, sem cobertura de padrinho, sem origem de família, sem alianças de casamento, sem procedências milionárias, sem alavanca de partidos.

Rita Camata foi vice de Serra para Presidente, ela própria  esposa de um Senador: Marta Suplicy é de alta linhagem, e tem Matarazzo no nome; Dilma, bom, Dilma foi eleita, a escolhida de Deus, quero dizer Lula. E tantas outras, no mesmo modelo, sem desmerecer nenhuma.

Poderia prosseguir, mas paremos por aqui. Sua luta é a luta da teimosia. Pedro Casaldáliga diria teimosia e esperança. Pois bem: ela obtém um balaio de quase 20 milhões de votos, nas últimas eleições, num partideco como é o PV no país, sem recursos,  mergulhado em lutas intestinas,
sem dinheiro para cooptar, dobrar, comprar como fazem os partidões, e sem tempo
na TV.

Obteve esse balaio de votos falando a língua da simplicidade, sem gritar, sem performances de auditório, sem os trejeitos da retórica sindical, nada prometendo, apenas propondo novos modos de fazer política.

Pois bem, novamente: segunda melhor avaliada hoje na corrida presidencial, sem partido, sem propaganda nas TVs, diminuída pela elite pensante, demonizada pelos arautos do poder, subestimada pela classe média,  continua provocando ruído e temor.

Com 26% de aprovação para presidente -Data Folha - abdica de tudo isso, e firma uma aliança para apoiar um  candidato já existente, ocupando já a janela, conforme diria Romário, Eduardo Campos, governador de Pernambuco, que não vai além de 8% de intenções de votos.

Aliás, agora, Romário, deputado federal, virou parceiro de Marina. Que se tem notícia, postura como essa, só a teve Ulysses Guimarães,  no crepúsculo da ditadura, quando cedeu a vez para Tancredo Neves, por sabê-lo mais assimilável pelos milicos. O mesmo Tancredo que não tinha peitado os militares, não tinha se exposto, não tinha corrido risco de cassação, que não tinha sido perseguido pelos cães da ditadura, conforme fora Ulisses.

Marina tem dito, pra quem tenha ouvidos para ouvir; sua opção ora  promovida, é programática, é maior que seus projetos pessoais. Ela quer derrubar um governo que perdeu a confiança de muitos, um governo mergulhado em mensalões, um governo da Velha República, cassação de partidos hostis, um governo sustentado por políticas marqueteiras. Em suma: dois gestos, dois estadistas.

Edilson Martins é jornalista escritor.

Um comentário:

Regina Cavalcanti disse...

É muito cedo, para afirmar que Marina não será a cabeça da chapa... Parece-me um projeto da Marina, chegar à Presidência. Ainda tem muita água para correr embaixo da ponte.