sexta-feira, 11 de abril de 2008

SEXO, CHICOS E MARATONAS

Ivan Lessa
Colunista da BBC Brasil

Use uma camisinha, companheiro. Não, não. Nada a ver com essa que lhe cobre o peito magro e, no meio, tem “eu”, um coraçãozinho e depois a cidade em que vive.

Dessas que os homens de bom caráter botam no caráter, pois não? Se é que têm os ouvidos e a mente afiados. Eu li no metrô, local onde se passa 80% de minha vida cultural.

Lá está, no alto da página, em inglês da Rainha Elizabeth e de Pete Doherty (ora por trás das grades): “Como o sexo pode salvar a selva das chuvas amazônicas”.

Nunca entendi essa mania dos ingleses chamarem selva tropical de rainforest. Chove pouco nas selvas tropicais.

Na amazônica então, a época da seca é lendária. Aqueles barcos todos paradões no imenso Amazonas ressequido e ressabiado…

Enfim, vamos às besteiras que eu li no tal jornal que é distribuído – também pudera – grátis.

Como que então eles berram “sexo”, para chamar a atenção de todo mundo, usam o verbo “salvar”, para acenar às poucas pessoas de bom senso, e, finalmente, guardam para o fim esse conhecido desmancha-prazeres da leitura que é a selva tropical amazônica, eles em letrinha menor, embora em negrito, dão o serviço.

“Da próxima vez em que você usar uma camisinha, você estará não só protegendo a si próprio e à sua parceira (partner, em inglês, é neutro; eu desneutralizei por conta própria) como também estará salvando a maior selva tropical do mundo.”

E explicam:

“Isso porque o Brasil começou a produzir as primeiras camisinhas feitas com látex selvagem amazônico – um estratagema (ploy) destinado a combater a Aids e preservar a floresta. O látex será extraído de árvores da reserva Chico Mendes por seringueiros que protegem suas árvores – e, assim, a selva tropical amazônica – e, ainda por cima, garantem sua sobrevivência. A reserva fica situada no Estado do Acre e ganhou o nome em homenagem ao ambientalista, sindicalista e seringueiro Chico Mendes, assassinado pelos donos de terra locais.”

Aí, tenho a impressão de que houve um “pastel”. O Brasil tem mais de 20 Estados, nenhum deles no entanto se chama “Acre”. O jornal gratuito deve ter confundido com Amazonas ou Pará.

De qualquer forma, num futuro mais próximo do que se pensava, não serão os homens aqueles a perguntar para a parceira, antes do ato sexual:

- Você está de chico?

Não, não. A coisa toda muda de figura e teremos mais uma vitória do feminismo no século 21. Chegará a vez das damas, antes do ato sexual, perguntarem aos parceiros:

- Você está de Chico?

Com maiúsculas, com maiúsculas!

Um comentário:

morenocris disse...

Que texto. Muito legal. Ri demais. Ainda bem que não é no Pará. Senão seria Párachico e a coisa não aconteceria... rsrs

Beijos.