segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

UM EXERCÍCIO DE SAUDADE

Mário José de Lima

Há poucos dias, recebi um exemplar de Suindara, a mim enviado pela autora, minha velha amiga Leila Jalul. Tivera conhecimento desse lançamento através de manifestações postadas aqui, no blog do Altino Machado.

Abri o envelope e, como costumo fazer, a cada vez que me defronto com um livro, fui percorrer suas páginas em busca de conteúdos particulares, títulos e uma leitura meio transversal das páginas. Não fiz isso com Suindara. Simplesmente, li todos os textos deliciando-me pelos desdobramentos temáticos, para mim, acreano que viveu os anos finais da década de cinqüenta e os anos sessenta em Rio Branco, um exercício de relembrar momentos e personagens que povoam minha memória.

Sendo mais velho, ainda assim sou contemporâneo de Leila, nos conhecemos, parece, desde de sempre. Até heróis temos comuns. A partir dos anos iniciais dos setenta, passamos a integrar a primeira comunidade universitária que se forma com a criação da Universidade Federal do Acre. Leila demonstrou, pelo que me permite entender essa convivência tão próxima, interesse por tudo que acontecesse a sua volta. Adora conversar e forma, permanentemente, uma comunidade em torno de si e, por isso, sua casa é destino de muita gente a cada instante.

Ficar, entretanto, nesta perspectiva meramente memorialista é ficar antes, abrir mão de uma outra dimensão de Suindara. Leila vai além da posição de uma excelente contadora de causos. Para compreender isso é suficiente buscar uma compreensão do que dá ao livro uma certa contextualidade, uma certa unicidade. Antes de tudo, Suindara nos fala de um particular modo de vida e, não sendo pouco, avança, também, e, em muitos textos, de forma muito evidente, em temas humanos universais. Muitos dos textos podem ser anotações para escritos mais amplos. Contos ou romances. Tragédias? Nem tanto, Leila prefere delinear com um certo lirismo aspectos da condição humana, tratando dos personagens de uma Rio Branco que, hoje, está imersa na penumbra do tempo.

Suindara é a promessa de uma esticada maior, exercício primeiro de uma escritora que pode estar se preparando para roteiros mais longos. Espero que não prevaleça as inquietações que marcam a personalidade de Leila e esse debruçar-se sobre a literatura seja duradouro.

Como escreveu Hegel, "a coruja de Minerva só levanta vôo ao anoitecer". O filósofo alemão se referia à necessidade de distanciamento dos fatos como meio para poder interpretá-lo do ponto de vista estrutural e não apenas como exercício de levantamento conjetural. Aqui, sem nenhuma cerimônia como referência a Suindara, a afirmação de Hegel se presta para afirmarmos o amadurecimento de Leila como escritora. Esperemos que não lhe falte ânimo para novos projetos. O exercício da literatura pode fazer muito bem ao universo acreano.

Mário José de Lima é professor de economia na PUC de São Paulo.

3 comentários:

Jalul disse...

Aí eu choro!!!!
Pois é, amigo Mário, não fosse a generosidade e a (im)paciência desse blogueiro amigo, SUINDARA estaria ainda em velhos papéis amarelados, guardados desde 94, quando tive a honra de quebrar a perna em oito lugares.

O crédito é dele. A memória é minha e da velha Azize. Ela me dizia o nomes dos perfumes, das bebidas, dos seringais e de muitos dos personagens. às vezes eu sabia dos milagres e esquecia o nome dos santos. Ou vice-versa.

SUINDARA é a tradução do tempo da inocência. Não avancei a Getúlio Vargas. Parei na Prefeitura. O próximo, aí não. Aí a coisa vai pegar, a partir do momento que ultrapassar as escadarias da UFAC, deparar-me com aquele painel Picassiano do velho Garibaldi Brasil. Salve-se quem puder!

Você já tem em mãos o ABSINTO MAIOR, fruto da minha fase relax. Sensualidade, frêmitos e gozos.Só faltou a banheira de espuma... rs Já até tenho nome para o próximo. Vou batizá-lo de DOBRANDO AS ESQUINAS. Esse vai ser nitroglicerina pura!

Ultimamente estou às voltas com a mudança para a Bahia e lidando com problemas outros. Estou sem escrever e sem dar atenção para o Altino. Ele me entende. Mas sinto falta, muita falta. As anotações estão sendo feitas. Para ordenação e elaboração dos textos vou precisar de paz.

Obrigada pelo carinho. SUINDARA trouxe muitas alegrias. Tem vida própria e asas possantes. Agora mesmo está em Lisboa e Paris.

PS. esse tal de Hegel é solteiro? Ando doida por uma perna de calça! rs

morenocris disse...

Caramba, poderia ser disponível em Belém? Temos a livraria Jinkings aqui. Gostaria de comprá-lo.

Beijos.

morenocris disse...

Este exercício reconheço. E como!

Beijos.