sábado, 5 de janeiro de 2008
EIRUNEPÉ
Demoramos exatas 50 horas ininterruptas de navegação de Cruzeiro do Sul (Ac) até Eirunepé (AM). O ambiente é belo e hostil. Existem poucos ribeirinhos até aqui, onde se concetra uma população de 32 mil habitantes. Nas duas margens do Juruá, o que a vista alcança é apenas floresta de várzea, botos, garças e casinhas cercadas de água e solidão.
Após três dias de viagem, os 23 passageiros do Igaratim-Açu seguem eufóricos. No convés, dois violonistas param de tocar apenas quando chove ou faz sol em excesso. Na sala-de-estar, os demais passageiros lêem, jogam dama ou dominó, enquanto parece se descortinar pela janela sempre a mesma paisagem.
A parafernália de pesca de Naluh Gouveia e Jair Santos, incluindo as 10 caixas de isopor com minhocas, chegou a tempo, mas peixe que é bom nada. O casal, o deputado Juarez Leitão e eu pegamos ontem uma voadeira e descemos o Juruá, na frente da lancha. Foi um fracasso a pescaria, pois apenas Naluh fisgou dois mandis e um candiru.
O Juruá está cheio e por isso impróprio para pescaria. Dizem que os peixes estão famintos e procuram as várzeas e as centenas de lagos imensos que começam a subir com a água que transborda do rio. Ontem e hoje tivemos que comprar peixe de pescadores mais habilidosos para variar o nosso cardápio à base de carnes e massas.
A sinuosidade das curvas do Juruá é impressionante e exige enorme perícia da tripulação para conduzir o barco que está sendo empurrado por um rebocador. O turno mais difícil é cumprido pela tripulação da noite, que se vale de dois faróis potentes para marcar o ponto de cada curva para que possamos seguir viagem sem trombar com a terra.
Leia mais nos blogs do Edvaldo Magalhães e do Roberto Braña.
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9 comentários:
Violino? Você está brincando!!!!!!
Caramba, perfeito! Peça pra tocar Bach!
Beijos.
Boa viagem.
Bom trabalho.
Saudades.
EU queria saber Altino,
O que vocês sentem quando veem os ribeirinhos de cócoras à beira do juruá, todos com a barriga grande, descalços, despidos, e com fome?
O que vocês sentem quando veem aquelas casinhas de pachiúba e palha, com o giral na única janela da cozinha apenas com alguns pés de cebola-de-palha?
O que vocês sentem quando veem aquelas mães, com fome, lavando algumas poucas mudas de roupas, em cima de um tronco que desceu no rio?
O que vocês sentem quando veem os meninos matando piún na beira do rio, sem a chance de usar pelo menos uma camiseta para alivar o martírio?
O que vocês sentem quando ficam jogando dominó, comendo massas e carne, e vendo a triste realidade causada pela pseudo-proteção da natureza?
Será que vale a pena sacrificar pessoas miseráveis por uma utopia política e acima de tudo capitalista?
Será que vale a pena humilhar através de políticas de repressão praticadas por órgãos como IBAMA, IMAC, etc?
Tem muita gente boa a bordo desse barco, mas a verdadeira intenção é a diversão a custa dos miseráveis à beira-rio.
Na volta, aproveitem e tragam os doentes de malária, hepatite, mulheres grávidas, etc, etc a bordo do barco.
Ah, não se preocupem em variar o cardápio pra eles e nem com as acomodações ou diversão interna, eles estão acostumados da "peia" mesmo.
Obrigado.
Ao que tudo indica, a quinta foto de cima pra baixo é uma casa de farinha bem organizada, com caititu motorizado pra ralar macaxeira, prensa pra secar a massa e extrair goma e manipueira, e o forno, que parece estar ativo no momento, torrando a farinha. Se as águas subirem mais um metro, vamos ter, ao invés da farinha, o pirão do Juruá.
DOIS MANDIS E UM CANDIRU
Dois mandis e um candiru
Nesse grande mundo fluido
Não é praga de urubu
(Nem acho que deu na vista)
Foi um pequeno descuido
Do Jair sindicalista
E da esposa Naluh
Mas o descuido primeiro
Da dama boa de voto
E seu marido guerreiro
Foi não ter encomendado
Ao menos pra tirar foto
Um tambaqui congelado
No mercado de Cruzeiro!
Já ouço a Naluh dizendo
Pro Jair: “Só não me deixe
Vir dez quilos de minhoca,
Voltar cem gramas de peixe!”.
Belo relato até o momento, Altino.
Tanto que tomei a liberdade de apresentar no meu blog - com fotos e tudo.
Fico no aguardo de novidades.
Grande abraço!
Gustavo Timm de Oliveira
(Jornalista do Rio Grande do Sul - aquele da conversa pelo msn ;D)
Não, Cris, violões. Pode render Bach, mas, o repertório deve ser outro. Qual é, Altino?
Olá, viajante
Um violino, não. O Toinho disse que você iria colocar um cabo de vassoura e improvisar uma antena. Pelo visto você está só na base da vara de pescar e clicando o panorama.
Breve regresso.
...primeiro, as minhocas que não foram embarcadas; depois, chegam as minhocas e nada de peixe, o meu medo é Naluh começar a chorar. Aí, dez dias será pouco tempo para choro de Naluh.
Caramba, perdão!
Beijos.
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