segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

WALQUÍRIA RAIZER

Senhorf, uma das revistas de rock mais conceituadas do país, publicou entrevista sobre "a leveza e a força da palavra acreana"



Fernando Rosa

Walquiria Raizer é uma nova “cara do Acre” que mostra a força da produção cultural do Estado mais ao Norte do Brasil. Ligada ao cinema e à música jovem local, ela está sempre envolvida nas atividades do Festival Varadouro. Mais do que isso, Walquiria escreve letras para as bandas locais, como ‘Abraços de Monstros Caídos’, com Blush Azul.

No entanto, ela gosta mesmo é do livro impresso, que é como “uma pessoa, tem alma”, mas reconhece que “sem a internet, não teria os leitores que tenho hoje”. “A internet abrevia distâncias, te coloca na casa do leitor. Você pode encontrar poetas grandiosos na web. Poetas que você não conheceria se não houvesse a libertação internética”, diz ela.

"Me encanta a leveza e a força de suas palavras. Eu, que sou filha desta mesma terra, deste pedaço abençoado de mata, gente e luta, me orgulho de ver nascer mais uma estrela das letras, mais um astro para a nossa bandeira verde, amarela e rubra", definiu a novelista Gloria Perez, na apresentação do livro de estréia de Walquíria.

Entrevista

Senhor F - O que te levou a escrever? Desde quando você escreve? Quais as tuas influências literárias? O primeiro livro que leu? A escola teve alguma influência nisso, ou foi uma busca individual?

Walquíria Raizerr - O meu avô contava histórias de onças e jacarés. Ficava com essas histórias na cabeça o dia todo. Às vezes discordava do final e ficava mudando as falas. Quando aprendi a escrever fui passando pro papel. Escrevo antes de escrever. È uma coisa antiga mesmo. O primeiro livro de poesia do Mário Quintana. O Mário Quintana é o meu poeta! Ele abre a janela, faz você sentir a rua, mas não te conta a cor da casa. É um poeta que liberta. A escola? Tinha uma sala de leitura e eu me escondia lá das horrendas aulas de educação física (rsrs). Sou da escola pública, faço a defesa. Há coisas que as empresas do ensino jamais vão dar ao aluno.

Senhor F - Como tem sido a experiência de ter um primeiro livro publicado, assim tão jovem? Qual a tua expectativa em relação a isso, a escrever, publicar novos livros? Você já tem novos textos ou mesmo livros escritos?

Walquíria Raizerr - Sou compulsiva. Tenho dependência química pela escrita. É a minha cachaça! Se não escrever, morro. Isso é certo. Mas quando me lêem, ah, é como se o mundo me visse e gosto desse olhar do mundo. Quero saber o que sentem, se gostam ou não. Publicar é uma luta, porque livros são muito caros e eu sou uma escritora que mora no Acre! Não temos editoras aqui. A única editora no Acre é a da Universidade Federal, que publicou ‘O segundo ponto das reticências’, mas que antes só publicava teses acadêmicas O pior disso é que sei que por mais comovida que a Universidade esteja, não vão poder publicar meus outros livros. Raios não ficam caindo toda hora (rsrsrs). Acabo de escrever um romance, tenho um livro infantil e outro de poemas.

Senhor F - Como é ser escritora atualmente, neste mundo virtual, de sites e blogs? Como você vê essa relação da literatura com as novas tecnologias? Os jovens ainda lêem livros, impressos? Ou todo mundo já foi "pra rede", como na música?

Walquíria Raizerr - Sempre quis ter um livro impresso, que o leitor pudesse levar pra casa, ler aos pouquinhos e no ritmo dele. Livro é afetivo. Mas sem a internet, não teria os leitores que tenho hoje. A internet abrevia distâncias, te coloca na casa do leitor. Escrevo a tempos nos overmundos da vida, em sites e blogs. Você pode encontrar poetas grandiosos na web. Poetas que você não conheceria se não houvesse a libertação internética! Isso é ótimo! Lindo mesmo! Quanto aos livros, bem, diferente dos CDs, os livros nunca vão acabar. O livro é como uma pessoa. Tem alma. É ótimo ter amigos na internet, mas tem horas que você precisa de um abraço e a web não pode fazer isso por você. Então os livros vão sempre existir.

Senhor F - Algumas bandas de Rio Branco têm músicas com letras suas. Como aconteceu essa relação com a música? São textos que "viraram" letra, ou foram escritas especialmente como "letras"/poesia mesmo?

Walquíria Raizerr - Comecei a escrever sobre a cena musical acreana. Sobre as bandinhas de rock, os shows, sobre o Festival Varadouro. Os meus amigos são da cena, acabei assessorando banda e sendo publicada em sites e revistas especializadas. Acabei levando os personagens pros shows. (rsrs) Tem personagem do meu livro que ouve Superguidis (rsrs). Anterior a isso, as bandas já sabiam dos poemas, da escrita compulsiva. Daí, começaram a musicar os poemas. O meu livro, publicado pela Universidade Federal, leva o selo do Circuito Fora do Eixo. É o primeiro produto literário de um movimento originalmente "de música", justamente por causa dessa parceria. Na ultima edição do Festival Varadouro a Blush Azul tocou "Abraços de monstros caídos", que a letra é minha. Tenho também música com a Nicles, com o Saulinho, que é o super-guitarrista da Filomedusa, com o Aarão da Camundogs e o Alexandre Nunes, com a Kelem Mendes da Gogó de Sola. Pensando nesse link com a cena, começamos a gravar as músicas, em parceria com o Coletivo Catraiae com a direção musical do Alexandre Nunes, para um CD-ROOM. O CD terá 8 músicas com as bandas, letras, release de cada uma, ensaio fotográfico. No começo, os poemas viraram músicas, agora estou escrevendo como letra mesmo.

Senhor F - Assim como na música, vamos a tradicional lista das preferências, no caso, de livros: quais teus 5 livros clássicos preferidos, e quais os 5 novos autores que você mais gosta, acha mais interessantes?

Walquíria Raizerr - Ah, tenho alguns autores que são pra vida inteira: Mário Quintana, Antonio Gramsci, Cacaso, Neruda e Gabriel Garcia Marques. Os novos, tem essa imensidão que precisa cair no mundo. Adoro Giovana Manfredi, poeta do Rio de Janeiro, Márcio Bezerra e do Kílrio Farias (vocalista da Nicles) aqui do Acre, do Herói Hesitante Danislau Também, puts, adoro o que aquele Porcas Borboletas escreve. É lindo! A cena tem grandes poetas, maravilhosos. Poetas com uma musicalidade própria e bastante rock´n´roll.

- Leia o livro 'O segundo ponto das reticências', editado pela Universidade Federal do Acre, com apoio da Fundação Elias Mansur e Fora do Eixo - Email da autora.

Fernando Rosa é editor de Senhor F.

10 comentários:

Unknown disse...

Beleza. Notícia sobre gente acreana fazendo suesso. Mas, pera aí. Eu pensei que falava do Acre, mas, fala do estado "mais ao norte"... O Acre está mais a "oeste"..ao norte está - dou um doce para a autora da matéria dizer.

Unknown disse...

Desculpem, eu me empolguei com a moça e troquei as coisas:é "autor da matéria" e não autora.

Unknown disse...

Olha, desculpem, mas quero fazer mais uma correção. Desta vez nas informações passadas pela Walquíria. Existem mais editoras em Rio Branco, sim, além da Editora da UFAc. O Paim, um velho e teimoso livreiro de Rio Branco, tem uma editora organizada, que já publicou bastante material produzido aí mesmo. Por exemplo, algo da produção do professor Carlos Alberto, do Departamento de História da UFAC, foi editado pela Editora do Paim e tem muito mais títulos. Além disso, uma empresa gráfica de Rio Branco, a do Carlos Alberto, o velho Bode da Jamana (amigo velho do peito), também edita. Não sei se conseguiu montar um programa editorial. E existem outras empresas gráficas que tentam avançar em linhas editoriais.

Certamente, experiências empresariais desse tipo enfrentam sérias dificuldades relativamente as possibilidades de atingir áreas de mercado mais amplas o que é necessário para o sucesso econômico. Pensar só no mercado regional é coisa meio complicada, são mercados limitados. A distribuição nacional depende da montagem de redes de vendedores e distribuidores que custa muita grana para organizar. Para alcançar tais redes a editora precisa contar com um catálogo amplo e com nomes muito conhecidos. Imaginem o que significa isso em termos de literatura. O mercado nacional tem uma forte ancoragem em nomes estrangeiros e os nomes brasileiros já afirmados como grande vendedores, estão ligados a grandes editoras.

Vamos torcer para que a Walquíria se transforme num sucesso de vendas e que se mantenha editada por alguma editora acreana, criando, assim, as bases para o fortalecimento de uma indústria editorial no Acre. Que novos nomes surjam.

Jalul disse...

Calma, Mário, calma!

Jalul disse...

É verdade Mário, também fui informada de que o Leônidas edita livros. Gráfica Estrela, acho.

morenocris disse...

Caramba, mjlima que informação legal. Qualificou o post. Gostei de saber disso.

Beijos aos dois.

Unknown disse...

Com essa adição feita pela Leila, podemos ver mesmo, Walquíria que precisamos, mesmo, é de mais gente como você. Gente que tenha em mente construir um projeto de vida apoiado na literatura. e temos gente de nível extraordinário na poesia, na crônica; só para exemplificar: Dandão e Bruxinha, Toinho (deve ter muito mais gente nova que não conheço ainda).

Unknown disse...

Mas seja criativa e tente não plagiar o título na próxima edição!

Unknown disse...

Hoje, aconteceu um fato interessante. Recebi uma mensagem da Walquíria Raizerr. Num primeiro momento, achei natural a consulta que ela me fez.

Entretanto, depois de reler a mensagem conclui que ela, punha em dúvida as informações que prestei como comentário a sua entrevista. Ela me pediu informações sobre os livros que eu editei em alguma editora de Rio Branco que ela queria comprar. Eu respondi dizendo que eu não editara nada em Rio Branco e, apenas, reiterei a informação do comentário.

Eu a imaginava bem mais informada, dado que tratou com a Editora da Universidade e deve ter buscado, antes disso, outras alternativas (agora, vejo que não).

O fato é que livros - e adiciono agora - muitos livros, desde resultados de trabalhos acadêmicos a romances, livros de poesia e muito, mas muito mesmo, material didático editado pelas empresas gráficas de Rio Branco. O Paim deve ter já bastantes títulos no catálogo de sua editora.

Estivesse em Rio Branco iria providenciar um levantamento de tudo publicado por essas editoras para repassar para ela. Talvez assim acreditasse.

Unknown disse...

Como a mensagem não é grande, vou pedir licença ao Altino para repassá-la integralmente. O tom de ironia eu não percebi num primeiro momento, afinal, nos comentários, em nenhum momento, quisemos ofendê-la ou minimizar sua obra ou seja lá o que for. Ao contrário, saudei o seu livro como evento positivo para afirmar a indústria livreira na região. A mensagem:


Caro MJLima, gostaria de comprar seus livros, principalmente os publicados pelas Editoras do Acre.
Poderia me indicar o site?

Abraços,

Walquíria Raizer