EXISTEM PICARETAS ESPERANDO A VEZ

Leila Jalul

O Acre tem um chama para alguns aproveitadores. Parece esponja, pára-raios, sei lá. Dona Solange Ramos, a partir da data de sua palestra-relâmpago, ou curso-relâmpago, poderá vir a se tornar a mais nova integrante da coleção de picaretas importados pelo Acre. Esta coleção, desde sempre, só aumenta. Que sina, Santo Deus. Eles aumentam em progressão geométrica.

Não quero ser peremptória, daí usar poder e não dever, como verbo. Ela é que tem que provar o contrário. Se não provar, se não houver uma boa explicação, sua empresa é mais uma dessas empresinhas bem apropriadas para a aplicação do artigo 171 e seguintes do Código Penal Brasileiro.

Li e reli o trecho das meninas que trabalham na TV Aldeia e, tanto quanto elas, senti embrulhos no estômago. Mas não me atenho apenas aos fatos relatados pelas meninas. Primeiro por não me espantar com eles. Conheci muito de perto, de pertíssimo, de dentro de casa, posso dizer, a capacidade e o poder da Rede Globo de Televisão. A poderosa é capaz de fazer o cabra gemer sem sentir dor.

A ser verdadeiro, sua assessoria é tão indigna quanto indignos são os outros entes envolvidos. O que causou espécie foram as palavras impróprias para um evento da natureza, sob os auspícios de uma instituição de ensino superior. Ou essa moça tomou um choque com o fuso horário, ou pensou que estava na república das minhocas de duas cabeças, ou é picareta mesmo. Já reclamaram que faço uso abusivo de palavras que ferem os ouvidos de alguns moralistas de plantão. Mas bem que cabia um palavrão agora.

Puta que pariu, donde diabos arranjaram essa mulher, formada, proprietária de empresa, para destrambelhar a dizer asneiras, numa platéia que, se não de todo seleta, era composta também por estudantes que pagaram para atualizar conhecimento? Não sabe a moça que racismo é crime? No que concerne à adoção de crianças, o relevante é saber se hoje, agora, elas têm um lar estável.

Se houve jogo ou barganha, ou qualquer outro tipo de troca de favores entre a emissora e o então juiz, foi em nome da liberação do ator para atuar com crianças. Adoção, ao que eu saiba, não é pena. Cumpridas as exigências, é ato de amor. Em resumo: a grande lição de Solange Ramos foi: é permitido comprar e fumar maconha à rodo (grande besteira! em toda esquina deste país vende-se Carlton, Free, Charme, Camel e outros)? É. Pode ser preso? Pode. O que não pode é casar com uma velha de cara pelancuda.

Trabalhando na Globo, isso não é problema. Se um juiz quiser se fingir de durão, basta contratar a empresa onde ela trabalha, o dono faz a intermediação, consegue quinze minutos de fama pro doutor no programa do Faustão, arranja um "negrinho bonitinho", faz o meliante adotar e pronto. Tudo resolvido! Cadê a crise? Que crise? Alguém aqui falou em crise? Isso não é lindo , geeeente? Isso é Brasil, ora, pois, pois!

A falta de ética da moça, em nenhuma hipótese, deverá interferir na continuidade do programa. Desse e de outros, financiados ou não por instituições públicas e/ou privadas. Dias atrás, segundo me disseram, o lançamento do livro "O Filho Eterno", do escritor Cristóvão Tezza, foi muito bom. O erro de organização, que me perdoe a coordenação, está em não triar melhor os convidados, e em não aproveitar profissionais que o mercado dispõe.

O Acre, também, ao que eu saiba, é um pedaço de Brasil povoado por pessoas de todos os outros Estados. Aqui há PHDs e mestres em muitas áreas do conhecimento, acreanos ou não. Desconheço se há em astrofísica, em física quântica e em tecnologia aeroespacial. Para ministrar uma palestrinha sobre gestão de crise, salvo outro juízo superior, não precisa ter ganho o Nobel, nem ter cursado pós-doutorado em Harvard. Não sou adepta do acreanismo ferrenho, odeio bandeiras de separatistas, inclusive os bascos. Dá asco. Isso é alopramento. A prática de valorizar o mercado evita, e muito, o risco de engrossar a coleção de picaretas.

Solange Ramos, pelos testemunhos dos ouvintes de sua palestra desastrada, como jornalista e administradora de gestão de crises, pariu uma que poderá voltar-se contra ela própria. Bem que poderia, com as qualidades que demonstrou, servir ao senador Renan Calheiros na gestão de sua crise política e existencial. Depois ela abriria a boca e contaria tudo, tim-tim por tim-tim, de preferência no Fantástico, já que transita livremente nos bastidores da empresa. Quem tem uma assessoria dessas dispensa inimigos. Sobre picaretas, esse assunto não se esgota. Há muitos esperando a vez.