terça-feira, 9 de outubro de 2007

DOIS LADOS DO BALCÃO

Assessorias e jornalistas, ainda uma relação controversa

Luciano Martins Costa

As relações entre a imprensa e as assessorias de imprensa sempre foram muito controversas. Jornalistas de redações muitas vezes se queixam do assédio de assessores mais afoitos, enquanto assessores consideram alguns jornalistas arrogantes e pouco receptivos a um relacionamento profissional. A tendência à integração entre os departamentos de comunicação e marketing em grandes empresas, colocando jornalistas e profissionais de relações públicas sob o comando de "marqueteiros", é um fator complicador desse quadro, na rotina do relacionamento entre agências de comunicação corporativa e a imprensa.

Mas nada se compara ao trabalho da gestão de crise, quando as assessorias de comunicação se juntam a consultorias jurídicas e empresas especializadas em investigação, como a Kroll Associates, no trabalho de preservar a reputação de seus clientes. Quem, como este observador, já atuou em crises de grandes empresas, sabe que a principal função dos profissionais contratados é esclarecer e isentar a empresa envolvida, evitando longas seqüências de notícias negativas, ou tentar "blindá-la", mantendo-a longe do noticiário sobre escândalos, por exemplo.

É o que faz há três meses o núcleo de gestão de crise da Gol, cujo fundador foi citado no escândalo que levou à renúncia o ex-senador e ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz. O mesmo trabalho foi realizado pela Schincariol, no episódio de junho de 2005, em que seus diretores foram presos, e também agora, durante o processo contra o senador Renan Calheiros, no qual a empresa é apontada como beneficiária de gestões do presidente do Senado para reduzir suas dívidas junto ao INSS.

Em tempo recorde

O trabalho de gestão de crises exige profissionais com muita experiência e, principalmente, um rigoroso código de ética. Apesar do episódio ocorrido em 2004, quando foi acusada de promover escutas ilegais na disputa entre o Grupo Opportunity e a Telecom Itália, a Kroll é conhecida por estabelecer limites legais antes de firmar seus contratos. Crises mal administradas, ou conduzidas pelo critério da "esperteza", muitas vezes retornam algum tempo depois, com efeitos devastadores sobre a reputação da empresa ou instituição envolvida.

A rotina mostra que, na verdade, o que ocorre mais freqüentemente é a manipulação pura e simples do noticiário, operações de dissimulação baseadas em trocas de favores e a mistura de interesses que acaba influenciando as redações em benefício do cliente em crise. A julgar pelo que afirma um grupo de profissionais da TV Aldeia, de Rio Branco, no Acre, é essa prática que ensina a jornalista Solange Ramos, diretora da Rio Press Assessoria Empresarial.

Na quinta-feira (4/10), ao proferir um curso de assessoria de imprensa que costuma oferecer Brasil afora a preços entre 15 reais e 80 reais a cabeça, Suzana explicou aos jornalistas e estudantes presentes como funcionam os bastidores de um trabalho como esse.

Solange Ramos usou como exemplo de gestão de crise o caso do ator Marcello Anthony, da TV Globo, que em 17 de abril de 2004 foi preso em flagrante em Porto Alegre quando comprava maconha de um traficante que estava sendo observado pela polícia. Conforme explicou a assessora de imprensa, o episódio exigiu a reunião do comitê de crise da Globo, porque o ator estava escalado para ser o mocinho na novela Senhora do Destino, a estrear no mês seguinte. Um mocinho acusado de tráfico pelo Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul seria um desastre para o enorme investimento que a emissora havia feito.

Segundo o depoimento de pelo menos seis jornalistas presentes à palestra, que postaram voluntariamente textos no blog do jornalista Altino Machado, Solange Ramos quebrou o contrato de sigilo que normalmente se faz nos comitês de crise e revelou, em detalhes, a operação montada para resguardar e recuperar a reputação do ator e preservar a imagem da Rede Globo.

A estratégia escolhida foi a de praxe: redimensionar a acusação – o que foi feito pela assessoria jurídica da emissora, ao desqualificar a acusação de traficante para a de usuário eventual, apesar de o ator ter entregue um cheque de 400 reais ao traficante – e inundar a imprensa com notícias positivas sobre ele. A alternativa apontada pelos gestores de crise foi induzi-lo a adotar uma criança. Segundo o relato dos presentes, Solange explicou que a "sacada genial foi do próprio Marcello Anthony, que resolveu adotar um menino já grande e negro. Até que bonitinho, o negrinho", teria dito a assessora.

A assessora não poupou detalhes. Contou, segundo os jornalistas da TV Aldeia, que o então titular da Vara da Criança e da Juventude do Rio, o agora desembargador Siro Darlan, foi chamado para resolver o problema da urgência: como conseguir uma criança negra para adoção em tempo recorde? Segundo Solange Ramos, Darlan teria pedido, em troca de autorizar a adoção, uma aparição no programa Domingão do Faustão para divulgar seu mais recente livro.

O jornalista Luciano Martins Costa é articulista do Observatório da Imprensa. Clique aqui para ler o artigo completo.

13 comentários:

Anônimo disse...

Jornalistas e assessorias de imprensa se complementam no mundo globalizado em que vivemos. São tantos os temas/assuntos, que o jornalista precisa ter em suas relações uma rede de informantes que enriqueçam seus comentários. O limite deve ser a ética, sem dúvida.
Cabe ao profissional, a meu ver, se cercar de informantes sérios, que não colocariam uma informação de má fé, ou empresas/profissionais inescrupulosos na reportagem.
Quanto à professora, creio que foi traída pelo entusiasmo de "se colocar acima dos amazônidas ocidentais", da mesma forma que o preparado ex-ministro Ricupero se colocou quanto ao povo brasileiro, no famoso flagra em entrevista à televisão.
A referida professora deve estar arrependida da bravata, e repensando seu "valor" de mensurar o grau de desenvolvimento sócio-cultural de um povo pelo número de shoppings existentes em seu habitat.
Deveria, a infeliz professora, vir a público, com a humildade de Jó, da forma feita pelo ex-Ministro, e esbravejar para todos: "Deus dá!, Deus tira!, seja feita a vontade do Senhor!"

Anônimo disse...

Lendo o texto do Luciano, um especialista em comunicação, me veio a cabeça que, neste momento, pelo menos três comitês de crise estariam em pleno funcionamento: o da firma da Solange Bocuda Ramos, o do Anthony e um para o Juiz - pode ser que a própria Glogo tenha convocado uma reunião do dela para avaliação do fato.

O que mais complica nessa história toda é que levantamentos rápidos mostram que a estória pode ser uma ficção, ou seja, inventada pela Solange para impressionar a platéia de estudantes.

Aliás, desde o início, a possbilidade de ter sido uma estória inventada ficava mais ou menos evidente: imaginem uma empresa como a Globo ter de andar montando comitês de crise as pressas e convidando para compô-los a própria Solange. O mais provável é que advogados e especialistas nas diversas áreas da comunicação social sejam profissionais compondo seu quadro de pessoal permanente.

Pelo que transparece, a estratégia da Solange Bocuda Ramos para administrar a crise provocada por sua indiscrição profissional é manter-se calada. Nada de lenha na fogueira. Espera que o fogo consuma o que tiver sido posto de lenha na fogueira - são poucas a toras mais grossa - e torcer para que as labareda terminem.

Anônimo disse...

assino embaixo o que foi dito acima (ou abaixo??). A Globo teria que ser amadora pra operar com uma figura dessas que sai por ai contando histórias. E amadorimo é coisa que não se pode atribuir à Rede Globo, bem ao contrário.
Agora, o mundo da imprensa fede tanto quando o parlamento, se não mais. Só que uns são foco, já outros escolhem os focos... e sentem-se imunes a toda crítica.

Anônimo disse...

A Solange Bocuda Ramos pode até ter aumentado, mas não é tudo só invenção não! Afinal houve sim outra adoção após a prisão, não?

Anônimo disse...

A Imparcialidade é algo tão subjetivo que dificilmente as meninas da TV aldeia estiveram livres de não serem parciais ao relatar os fatos ocorridos na famosa 'palestra' sobre gestão de crise. Possivelmente o caráter emocional prevaleceu, já que o julgamento da ilustríssima Solange foi baseado em ofensas ao Acre. Por isso eu pergunto: Alguém gravou a palestra? As meninas da TV entraram no jogo da doida contratada irresponsavelmente sei lá por quem e quiseram revidar. Deviam ter permanecido até o final da palestra, e no final terem gravado as acusações da própria boca da jornalista. E só depois preparar uma lição bem dada nela, Já que esse era o objetivo. Já pensou se a acusada entra numas de vítima. Se ela negar tudo e alegar que os estudantes distorceram os fatos? Não percam os próximos capítulos. Agora no final das contas a situação pior é do tal de Itan que partiu pro ataque direto sem apurar a informação, assinou uma carta e até agora não disse nada para se retratar com o ator, nem com os leitores e nem com os acreanos que pagam impostos para garantir o salário dele.

Anônimo disse...

Comentários feitos, passo aqui apenas para registrar minha repulsa sobre o episódio gestão de crise. Infelizmente é mais uma evidência de q o jornalismo está ferido na alma, pois teima em buscar a verdade num mundo em q "parecer ser" é mais importante que "ser". Fico feliz pela indignação dos jovens repórteres da TV Aldeia, alguns deles nossos alunos de Jornalismo na UFAC. Continuem teimosos!
Pena que pessoas como a tal palestrante sejam assediadas para contar suas presepadas Brasil afora, prestando um desserviço enorme. Precisamos ter consciência de que Assessoria de Comunicação e de Imprensa não são Jornalismo, mas sim Relações Públicas ou Publicidade. Isso não é demérito para a Ass. de Com., mas apenas devemos saber separar as coisas. Vivemos na era da publicidade, e sugiro para os interessados a leitura do livro "Jornalismo na Era da Publicidade", de Leandro Marshall (Editora Summus). E peço gentilmente aos educadores de comunicação deste país q escolham melhor os integrantes de palestras, debates e mesas-redondas. Não precisamos buscá-los no Rio, em SP ou nas empresas dos 'cases' de sucesso. É mais importante priorizarmos os concultores com princípios do que os cheios de grana.
Abraços a todos.

Anônimo disse...

O tal Itaan, cujo nome foi elogiado aqui como bonito (há gosto para tudo!) foi amador!...

Anônimo disse...

Julgamento baseado em ofensas ao Acre? minha querida ou meu querido "imparcialidade" acho que você não sabe do que, e sobre o que esta falando!. Sugiro que leia a carta novamente. Abraço.

Andryo Amaral.

Anônimo disse...

Pois é, interpretação correta de texto é uma falha terrível, por outro lado cada um vê, lê e ouve aquilo quer quer... deixa pra lá.

Anônimo disse...

também sempre concordei que a função de jornalista como assessor de imprensa deveria ser repensada, pois como ser isento com uma empresa ou ou pessoa na redação pela manhã da qual se é assessor à tarde? é uma discussão que está longe de terminar e embora o caso relatado por nós tenha servido de gancho para esta abordagem e para outros focos com maior audiência como o julgamento para a atuação da Rede Globo, do Desembargador Siro Darlan e do ator Marcelo Anthony, nossa indignação e motivação ao expôr o fato foi o comportamento da senhora Solange Ramos e não por causa dos envolvidos. Independente dos personagens envolvidos nossa reação teria sido a mesma, embora algumas abordagens demonstrem mais interesse pelo ator e pelo desembargador, mas isso ao meu ver e de meus colegas é uma outra história que com certeza deve ser investigada. Sou acreana, vivi 17 anos em São Paulo, trabalhei e convivi com comunicadores renomados, outros nem tão famosos mas igualmente competentes e outros nem tão competentes assim. Assisti muitas palestras, algumas bem fracas de conteúdo inclusive, mas nada, nada chegou perto daquela palestra surreal ministrada pela senhora Solange Ramos e assim como todos os absurdos que ela falou, a falta de ética sim, essa deve ser debatida em qualquer profissão, sob todos os aspectos e em qualquer momento. e não me vehma com a pergunta batida: E o que é ética então? um pouco de bom senso e menos vaidade evitaria situações como a tão desastrosa palestra.

Anônimo disse...

só mais uma coisinha que esqueci de acrescentar em relação ao texto jornalista e assessores sobre o caso Solange Ramos. Não podemos atribuir sua atitude ao fato de ser jornalista-assessora de imprensa, isso não quer dizer que se fosse apenas jornalista-jornalista tb não o teria feito, pois como já dito antes por outros blogueiros, muitos outros colegas já deram e dão diariamente motivos p/ inumerosas discussões sobre sua conduta e abordagem.

Anônimo disse...

Só uma coisa querida Surama Chaul Ética, tá muito longe de "bom senso e muito menos vaidade"...
Vc é formada em que mesmo?

Anônimo disse...

carro Anônimo,fico feliz com sua participação, vc é nosso mais fiel espectador, consegue acompanhar a repercussão até mais que eu q passo o dia trabalhando intensamente.
Ah, só mais uma coisinha, qndo disse em outras ocasiões, leia novamente meu comentário e interprete-o melhor, quem sabe vc vai conseguir entender q eu não resumi ética em bom senso e vaidade... bom, de qq forma adoro suas abordagens.