Sinto-me no dever de reconhecer que ainda, por muito tempo, serei governado pelos meus adversários
Narciso Mendes
Binho Marques e Jorge Viana são iguais em razão de suas diferenças e são diferentes em razão de suas naturais semelhanças.
Dei como resposta o cabeçalho acima, quando instado a responder a uma pergunta que me fora feita por uma expressiva figura do mundo político acreano. Como não tenho duas respostas para uma mesma pergunta, porém questionado num ambiente relativamente privado, portanto, adequado às costumeiras dissimulações, senti-me no dever de respondê-lo publicamente, o que faço agora e ao tempo em que, aproveito a mesma oportunidade, para também responder aos tantos quantos que gostariam de saber qual a avaliação que faço do governo Binho Marques.
Poderia até ter respondido que Binho e Jorge são complementares. Senão vejamos: nas três oportunidades que teve (prefeito de Rio Branco e duas vezes governador do Acre) Binho Marques sempre foi o mais destacado e prestigiado assessor de Jorge Viana, sempre ocupando a poderosa e destacada secretaria de educação. Isto jamais ocorreria, senão adrede planejado!
Paradoxalmente, o jeito Binho Marques, sobretudo sua discrição, cai perfeitamente bem no jeito vitrine de Jorge Viana. Binho gosta de trabalhar em silêncio e Jorge, fazendo barulho. Como silêncio e barulho, em política, também se complementam, cada um a contento, cumprem bem sua missão. Isto para o fortalecimento, honra e glória da Frente Popular do Acre (FPA).
Mais a mais, a candidatura Binho Marques ao governo do Acre em 2006 nasceu no exato momento em que foi feita a escolha do seu nome para ser candidato a vice-governador em 2002. Só os tontos, quer os da oposição e alguns poucos da própria FPA, no devido tempo, não pressentiram o planejamento de médio e longo prazo que ali fora estabelecido. Ao fim dos seus oito anos de governo, Jorge Viana precisava deixar em seu lugar alguém que pudesse assegurar a continuidade do projeto de poder da FPA, diga-se de passagem, uma continuidade e não um continuísmo, porquanto a mesmice, e quem entende de política sabe disso, faz acelerar o envelhecimento de qualquer estrutura de poder. Na física este fenômeno é chamado de fadiga do material. Na política: de alternância de poder.
Diferente da oposição que tudo improvisa, na FPA tudo é planejado. Diferente da oposição onde impera a desordem, na FPA prevalece a ordem. Foi dentro dessa mesma lógica que se deu a eleição de Raimundo Angelim para prefeito de Rio Branco, outro que é diferente, mas que guarda as maiores semelhanças com o estilo Jorge Viana. Raimundo Angelim copia, e bem copiado, as virtudes de Jorge Viana, enquanto dos seus vícios procura ficar a léguas de distância. Não sem razão, por sua decência e competência - pessoal e política - apenas aguarda o calendário eleitoral para ser consagrado quando vier disputar sua reeleição. Quando o quesito é a lealdade, aí sim, todas as lideranças da FPA, de mamando a caducando, se comportam igualmente.
Em favor de sua longevidade no poder a FPA precisava de alguém como Binho Marques para governar o Acre na presente quadra, porquanto só dribla a mesmice o igual que souber se mostrar um tanto diferente. Mais a mais, há que se considerar um outro fator importantíssimo: como Tião Viana tem tudo para ser a bola de vez em 2010, Binho Marques cumpre o papel de descaracterização de um suposto vianismo instalado na política acreana. Tudo sem maiores problemas, pois se não for Tião o próprio Binho partiria para sua reeleição, ou em última análise, dar-se-ia o retorno triunfal do próprio Jorge Viana.
Quando escuto parvoíces do tipo: "Jorge e Binho vão acabar brigando", me dá pena e dó. Mais pena e mais dó chego a ter quando este tipo de análise é feita por alguém que se diz líder da oposição. Se é nessa briga que estão apostando, sinceramente, os 20 anos de poder da FPA já são favas contadas.
O velho, saudoso e experiente Ulisses Guimarães já dizia: "Brigas entre aliados precisam ser ensaiadas". Binho, Jorge, Tião, Marina e Angelin, titulares do quinteto violado da FPA, entendem-se por música. Só tocam e cantam a mesma música quando esta lhes convém, quando não, cada um toca e canta a música que melhor agradar aos seus ouvidos.
Reafirmando minhas convicções antipetistas, mas quedando-me a realidade, sinto-me no dever de reconhecer que ainda, por muito tempo, serei governado pelos meus adversários, afinal de contas, brigas e estultices, aos montes, por incrível que possa parecer, facilmente encontramos entre as ruínas deixadas pelo arrivista Márcio Bittar.
A oposição que nas duas últimas eleições se fez representar por um usurpador ainda tem muito o que aprender, o que fazer e o que pagar para ser levada a sério. Não me perdôo de ter embarcado naquela canoa, sobretudo porque sabia que seu casco estava avariado.
◙ Narciso Mendes, que é dono e melhor redator do jornal O Rio Branco, era o principal adversário dos governos petistas no Acre. Digamos que agora ele anda zen. "Zen" coragem, "zen" dinheiro e "zen" apoio político.
2 comentários:
Apenas um detalhe, o binho nao pode se reeleger. Como ele foi vice, conta como uma legislatura, já que em alguns momentos ele assumiu o governo. =)
Mas, engraçado como as coisas mudammm...
Não sei se Maquiavel ou Sun Tzu nos ensinou que para derrotar um inimigo primeiro precisamos conhece-lo. Narciso Mendes, com certeza, começou a preparar-se para a batalha....
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