quarta-feira, 13 de junho de 2007

MORRE ZÉ ALENCAR, UM CONTADOR DE HISTÓRIAS


Luciano Martins Costa

O repórter José Roberto Alencar morreu na noite desta terça-feira, dia 12, no Hospital Nove de Julho, em São Paulo.

Ele sofreu um aneurisma da aorta abdominal e foi submetido a uma operação no dia 23 de abril. Em 1o. de junho, quando se recuperava em Poços de Caldas, sofreu uma hemorragia grave e foi internado novamente na UTI do Nove de Julho.

Deu sinais de melhora na quinta-feira da semana passada e os médicos o transferiram para a Unidade de Tratamento Semi-Intensivo, mas na terça seu quadro se agravou abruptamente e ele faleceu por volta das 22 horas.

Quando da primeira internação, Zé Alencar escreveu uma mensagem para os amigos, quase se "desculpando" pelo aborrecimento. Era um grande contador de histórias, um repórter detalhista que sempre centrava seu trabalho nos personagens. Parte de suas histórias está em seus livros, "Sorte e Arte" e "Muita Sorte & Pouco Juizo". Outras estão na memória de quem as leu e teve o privilégio de ouvir de sua própria boca.

Abaixo, a mensagem do Zé Alencar comunicando a cirurgia:

"Para não provocar preocupações (infelizmente inúteis) em quem gosta de mim, nem alegrias (que se revelariam precipitadas) em quem não gosta, não falei com ninguém da cirurgia.

Claro que os mais xeretas descobriram. Agora, de volta à vida, espalho -- até por necessidade de explicar meu sumiço real e virtual desde o dia 23 de abril.

A caca se chamava aneurisma da aorta abdominal. Onde podia ter no máximo quatro centímetros de diâmetro, a abdominável aorta estava com oito e ameaçava explodir.

Foram cinco horas e meia no Centro Cirúrgico do Nove de Julho em São Paulo, seguidos de dois dias na UTI, sete na Ala e outros tantos na casa da minha prima em São Paulo.

Ainda dói, ainda apelo para o Oxigênio, ainda não consigo trabalhar, mas ao menos já estou de novo em Casa, em Poços de Caldas, e na próxima sexta pretendo estar na USP, cumprindo minha pauta ao lado do Marcelo Beraba, no Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo

desculpem o mau jeito.

zé alencar"

Luciano Martins Costa é jornalista e escritor paulista. "Era um grande sujeito (mais de um metro e noventa), muito espirituoso. Como repórter, sempre dava extrema atenção aos personagens e costumava arrancar histórias até debaixo das pedras", comentou Luciano ao enviar a notícia. No Acre, Zé Alencar era amigo do jornalista Elson Martins. Leia mais no Consultor Jurídico e no blog do Luis Nassif, um dos grandes amigos do "Grandão". No Profissão: repórter, de Luiz Maklouf Carvalho, uma entrevista com José Roberto Alencar:

Como, por que e quando você escolheu ser jornalista?

Foi de nascença. Molecote, já locutava no alto-falante da pracinha de Santa Rita. E se me for dado escolher, reencarno repórter, brasileiro - e namorado de uma Guida igual.

O como ficou por conta da sorte. Não fiz faculdade. Ao sair do sanatório de Campos do Jordão em 71, fui posto por Luís Nassif na Exame. Ele me ensinou a escrever e Molina a apurar. Obtive o registro por ter escrito antes da lei (de 69) num jornaleco de Poços.

O porque é obvio: para mudar o mundo. Busco o furo para atrair o leitor, apuro com rigor para merecer sua confiança e escrevo caprichado para ver se o vicio em textos. Quanto mais viciados houver em livros, revistas, jornais, manuais de aparelhos e bulas de remédio, menos gente vai se intoxicar, levar choque e votar em safado. Aumentarão a felicidade e o valor da vida, pois o homem que lê vale mais – como comprova a tabela da pistolagem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Zé deixou um legado. Luciano Martins, Elson Martins e Luiz Nassif
relatam muito bem quem foi esse gênio que nos estimulava sempre e nos
brindou com algumas das melhores páginas dos jornalismo brasileiro. Que o Superior o tenha em sua luz.