quarta-feira, 4 de abril de 2007

LA MALA EDUCACIÓN

Fátima Almeida

Na Europa, ativistas estão propondo uma aliança entre os verdes e os vermelhos. Chamam a isso de ecosocialismo. O socialismo se constituiu em cima da visão marxista de que a propriedade privada é o que alavanca a exploração do homem pelo homem.

A exploração dos recursos naturais não renováveis ficou fora de foco e só após a segunda metade do século XX é que os autores dos livros didáticos de história, por exemplo, passaram a incluir fatos como as grandes navegações, a extinção de florestas no Líbano, em Portugal, para a construção de navios, no litoral brasileiro para a cultura extensiva do açúcar e a interferência no clima e outros.

A partir de Descartes, no inicio da era moderna, o racionalismo passou a ser o carro chefe da ciência e esta, um reboque da indústria. A preocupação maior foi eliminar a dimensão do sagrado, considerado coisa de supersticiosos. Por isso mesmo denominaram a Idade Média de Idade das Trevas, apenas porque a humanidade estava contida pelos ciclos da natureza.

Paradoxalmente, foi através da observação da natureza auto-regulada que eles extraíram a idéia de que o mecanicismo é o único modo seguro de se estabelecer as bases de todo e qualquer conhecimento, do poder do Estado, das relações sociais, da produção de mercadorias e da dominação de uma classe sobre a outra.

Para isso priorizaram o ensino laico e criaram escolas, desde Napoleão Bonaparte, para doutrinar as gerações com noções de patriotismo, devoção a símbolos nacionais e, sobretudo, para se pensar o conhecimento como modo de ascensão social. E esta sendo possível dentro dos padrões da sociedade burguesa: o individualismo, a competição, o descaso com os menos favorecidos, o descaso com a natureza.

Assim, adora-se bandeiras, meros símbolos, e se permite que as matas sejam devoradas pelo fogo e pelas motoserras, permite-se que homens sejam mortos a tiros apenas porque estavam pescando numa fazendo que possui 60 açudes.

Mesmo algumas religiões, como as protestantes, são totalmente racionalistas, priorizam o livro e a lei que está no livro. Vivem, pois, com as cabeças em Sião. As religiões que dirigem o foco para a natureza são precisamente aquelas de origem africana e as da América pré-colombiana.

Para inferiorizá-las chamam-nas de primitivas, exóticas. Para punir os indígenas que viviam em outro tempo, que não o da temporalização capitalística, estigmatizaram-nos de “preguiçosos”.

A maior decepção de todas, para mim, com relação ao PT, foi Marilena Chauí não ter assumido o Ministério da Educação. Se ela é capaz de pensar esse problema até à exaustão, de fazer uma leitura do enorme desvio feito pela ditadura militar no âmbito da educação e da cultura neste país, qual o valor do trabalho dela se a educação continua seguindo pelos trilhos deixado pelo regime de exceção? Que projeto esse partido tem? O que podemos esperar de engenheiros e médicos que passaram por escolas napoleônicas e universidades cartesianas?

Fátima Almeida é historiadora acreana.

Um comentário:

Anônimo disse...

fátima e Michelle no mesmo dia num só blog ,é um prêmio! Altino você é um homem de sorte,essas mulheres são gênios.