quarta-feira, 4 de abril de 2007

NO ACRE

Movimento social está desarticulado para debater prospecção de petróleo e gás; Comitê Chico Mendes defende exploração

Representantes da Federação dos Trabalhadores Rurais, Comitê Chico Mendes, CUT e SOS Amazônia começaram a se reunir hoje em Rio Branco para formular uma proposta em nome do movimento social acreano para ser apresentada no seminário que debaterá no próximo dia 12 o polêmico projeto do senador Tião Viana (PT) que prevê a prospecção de petróleo e gás no Acre.

A reunião, realizada com inexpressiva participação das organizações do movimento social, não foi divulgada publicamente. Seus participantes são os mesmos que integraram a comitiva que visitou na segunda-feira a Província de Petróleo e Gás do Rio Urucu (AM), organizada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), Petrobrás e pelo senador Tião Viana (PT).

O ambientalista Miguel Scarcello, que havíamos anunciado erroneamente como tendo recusado participar da comitiva, foi conhecer Urucu e voltou de lá bastante entusiasmado com os aspectos ambientais da exploração de petróleo e gás. Scarcello, que foi uma das primeiras pessoas a criticar o projeto, recebeu em seu escritório, na SOS Amazônia, a primeira reunião do movimento social.

Os supostos representantes do movimento social passaram a falar da "excelência ambiental" da exploração de petróleo e gás no município de Coari. A militante petista Júlia Feitosa, do Comitê Chico Mendes, que é formado por várias entidades, voltou impressionada com o que viu em Urucu e já se tornou defensora da prospecção no Acre.

"A Petrobrás cometeu muitos erros no passado, mas o que faz agora em Urucu é algo extremamente coerente do ponto de vista ambiental. É algo muito bacana, inacreditável", disse Júlia Feitosa.

Na exploração de petróleo e gás, segundo ela, "o único risco existente é o de uma fatalidade à qual todos estamos sujeitos". A representante do Comitê Chico Mendes disse que, caso haja petróleo e gás no Acre, a sociedade não teria como impedir a sua exploração.

Embora se sintam ameaçados pelo projeto, os índigenas e suas organizações não foram convidados para a reunião. A antropóloga Malu Ochoa, da Comissão Pró-Índio do Acre, disse que a entidade ainda não tem uma posição a respeito do polêmico projeto do senador.

"Conhecemos os problemas que podem ocasionar, mas precisamos discutir com os nossos parceiros indígenas. Estamos propondo várias reuniões com consultorias especializadas para começar a elaborar um posicionamento a respeito", disse.

Malu Ochoa lamentou o fato de que não haverá, no seminário do próximo dia 12, por exemplo, a presença de alguém que tenha opinião diferente daqueles que estão defendendo a prospecção de petróleo e gás. "Nesse sentido, o relato de alguma liderança indígena do Equador, onde ocorre exploração de petróleo em floresta, seria muito importante", observou.

Outra entidade que não foi convidada para a reunião, muito ligada ao governo estadual, é o Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre (Pesacre), que se dedica a estudos e pesquisas sobre o uso sustentável dos recursos naturais, e promove práticas sustentáveis de utilização desses recursos em benefício das populações tradicionais da região.

Embora o Pesacre desenvolva projetos e ações voltadas para a conservação do meio ambiente e o desenvolvimento de tecnologias para o correto uso dos recursos naturais da região, até agora a prospeção de petróleo e gás não entrou na pauta da entidade. "A gente nao tem discutido esse assunto. Estamos em transição na entidade, pois estou saindo para assumir o Pró-Florestania no governo estadual", disse o coordenador Ronei Sant’Ana de Menezes.

Em nome de Deus
O frei Heitor Turrini, da Ordem dos Servos de Maria no município de Sena Madureira, tem dedicado sua vida a atender os fiéis e a denunciar as agressões ambientais na região. Ele e o frei Paolino Baldassari criticam o projeto de prospecção.

"A gente gostaria de energia limpa para poder rezar o terço com mais silêncio e devoção. Padre Paolino e eu temos o mesmo posicionamento. Estamos gastando muito dinheiro para os motores no planeta, para as estradas, que realmente são necessarias, mas também é necessário salvar a amazônia", disse.

Segundo Turrini, a prospecção de petróleo e gás visa criar mais condições para a exploraçao madeireira e a consequente destruição das florestas. "Estamos preocupados em nome de Deus. A igreja pede justiça para os povos. Suplicamos à humanidade que tenha pena dos pobres do Acre - os índios, os seringueiros, os ribeirinhos e os pequenos colonos, que serão afetados pelo projeto".

Falei com Elenira Mendes. Ao tomar conhecimento da posição do tal Comitê Chico Mendes, que na verdade sempre foi uma organização virtual, a filha do líder sindical e ambientalisa disse: "Que coisa, hein? É uma pena". Em outra oportunidade, recentemente, Elenira havia dito o seguinte: "Eu sei qual o impacto ambiental que isso irá trazer para o nosso Estado. Tenho certeza que ele [Chico Mendes] não ia gostar de tudo isso". O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que desconhece a articulação entre os "movimentos sociais", já tem sua posição clara, decidida em reunião com todas as suas equipes. A entidade já se manifestou contra o projeto e está colhendo informações sobre a ação das petroleiras no Equador e no Canadá. A assessoria jurídica prepara um parecer para o movimento indígena.

5 comentários:

Francisco José Lima da Silva disse...

Caro Altino,
Paz e Bem
Parece que a comitiva que foi até o Urucu foi picada pela mosca das comodidades que o poder oferece.
Devem ter sidos bem tratados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), Petrobrás e pelo senador Tião Viana (PT).
Boas acomodações, boa comida, boa bebida.
E aí o ponto olhado começa ir por este caminho: o das regalias pagas com o dinheiro público.

Anônimo disse...

É pelo visto o dinheiro ainda fala mais alto!
O chico já se foi, os sindicatos e comitês são hoje elites...
Vamos então explorar!
Que tal também: Ouro, minérios, diamantes, costumes indígenas e etc.
Vamos vender tudo e ficar ricos!
Depois vamos curtir o lindo deserto do Acre!

Anônimo disse...

Desde que seja feita de maneira diferente do que ocorre em alguns lugares e também tomando alguns cuidados para evitar erros do passado, nada contra "procurar" petróleo em território acreano. Apenas acho que quem definiu os participantes da comitiva não se preocupou em ter um representante da comunidade científica/acadêmica. Não precisa nem dizer que na Embrapa e UFAC tem gente com qualidade suficientes para isso (não vou falar a Funtac pois no Governo JV e particularmente na administração do César Dotto a preocupação principal foi dizer que tem dinheiro/projeto mas se esqueceu do principal: pesquisadores). Se não tinha ninguem aqui no Acre que tivesse "qualidade" para compor esta equipe, poderia ter algum represente de outra instituição que ja participasse de pesquisas em áreas onde se faz exploração de petróleo. Realmente fez falta.

Anônimo disse...

É lamentàvel que estas pessoas que se dizem representante do movimento social, estão agora representando interesses do capital, isso mostra a que ponto chegamos no Estado da Florestania, todo mundo preocupado com as verdinhas (dolares) que podem chegar as suas instituições...e o governo só pensando em encher o cofre para distribuir com os seus...lamentável

Anônimo disse...

Essa senhora, Júlia Feitosa, com quem nunca troquei uma palavra em toda minha vida sempre me pareceu, a uma saudável distância, uma mera ajudante de ordens. Ela e os outros não têm a menor representatividade. Eles se identificam como sendo do "movimento", uma senha para entrar e sair dos gabinetes,distribuir cargozinhos e dar suporte aparentemente legal às decisões tomadas pelos autocratas do partido. Todo fim de ano fazem um showzinho a parte em memória de Chico Mendes e desfilam com camisetas pelo Café da elite riobranquense numa atitude tipicamente fascista, exclusiva e excludente. Nunca promoveram um dabate sequer. Mas seria importantíssimo a sociedade saber quanto a CUT recebe do repasse anual da contribuição sindical a que estamos obrigados todos os trabalhadores deste país, e como essa grana é administrada aqui no Acre por esses parasitas.