A HIPOCRISIA DOS DESOCUPADOS

E como não sou covarde, dou nome aos bois: refiro-me aos jornalistas Antônio Alves e Altino Machado, que se apresentam como "pensadores" de um Acre novo, etcetra [sic], mas não podem viver sem cargos públicos.

Tião Maia
Assessor de imprensa do senador Tião Viana (PT)

Me desculpe o leitor, mas o que se segue é, a um só tempo, um artigo e um desabafo. Se o caro leitor não tiver paciência, pode pular a página. Mas vou ser rápido. Não há mais lugar para a hipocrisia no mundo, pelo menos no que diz respeito ao meio ambiente. Quem é contra ou a favor, tem que se apresentar. E mesmo os que são a favor têm que fazer algo mais que a retórica. Era disso que eu lembrava, quinta-feira à noite, quando participava, como obsequioso observador, do debate promovido pelo gabinete do senador Tião Viana no Teatro Plácido de Castro, em torno da possibilidade de prospecção de petróleo no Acre.

Antes de entrar propriamente no debate, deixe-me, caro leitor, contar-lhe uma experiência de São Paulo na área ambiental: lá, organizadores de grandes eventos começaram a praticar uma idéia simples, mas de resultados práticos na contribuição para a preservação do meio ambiente.

Chega o fim de um evento. Hora, portanto, de prestar contas e devolver ao meio ambiente aquilo que foi tirado dele durante o evento. O combustível do gerador que iluminou os desfiles, a produção de material promocional, o transporte do público, o preparo da decoração emitiram 643 toneladas de gás carbônico. É a conclusão do cálculo feito pelos organizadores. Para neutralizar o dano à natureza será preciso plantar árvores. Ambientalistas fizeram o cálculo: 4,290 mil mudas que vão ajudar a reflorestar a mata atlântica. As árvores são plantadas. Ponto um.

Ponto dois. As árvores absorvem o gás carbônico e diminuem quantidade de poluentes na atmosfera. Isso reduz o efeito estufa que ameaça o planeta. Isso é lei.Todas as empresas envolvidas em eventos publicitários, nos 32 parques da cidade de São Paulo têm que neutralizar os gases lançados no ar. E a coisa está se expandindo para o interior. Uma editora de livros de São Carlos foi obrigada a plantar árvores. Uma prova de respeito à natureza que a empresa precisou dar para ter o direito de publicar um livro sobre meio ambiente de um autor americano. A produção do papel, o preparo da tinta, a plastificarão da capa, a distribuição do livro país afora. Todo o processo afetou o meio ambiente com a emissão de gás carbônico. Como a quantidade de livros foi de cinco mil exemplares, correspondendo a 20 toneladas de poluentes no ar, 136 árvores para compensar foram plantadas.

Agora me deixe falar do Acre, o nosso umbigo, e um pouco de mim. Não sou tão importante, não tenho amigos influentes, mas não sou omisso. Nunca apareci nas novelas sobre o tema, mas fui amigo e aliado de Chico Mendes. Sobre isso, há diversas testemunhas. Fui aliado nos tempos em que ele dormia em casas diferentes para escapar de atentados. Dormi também na casa dele, comi farofa (de paca, registre-se) no chão de sua sala, com sua família, com seus amigos. O Raimundão é testemunha. Me reuni também com ele nas suas greves de fome, nas suas reuniões clandestinas. Tenho fotos as quais nunca mostrei discursando com ele e a então professora Marina Silva e a atriz Lucélia Santos ao meu lado numa tentativa de apoiar seu movimento e sua própria vida. Fui aliado de sua causa e não mudei de lado.

Mas convém esclarecer que a questão não é pessoal nem tampouco interesseira. Sou, sim, assessor de imprensa do gabinete do senador Tião Viana, um cargo do qual me orgulho. Fui, sem menos orgulho, um modesto assessor de imprensa (assessor do assessor, diga-se) quando seu irmão Jorge Viana foi governador. Mas, igualmente como sou aliado hoje, já divergi deles. Em várias vezes, escrevi na imprensa, em vários jornais, artigos criticando-os. O fiz sem medo, sem recuar. Não cruzei ruas quando os encontrava porque estou na vida pública muito antes deles. Mas um dia nos encontramos de novo companheiros. Eu, que havia sido expulso do PT pelo Antônio Manuel Camelo Rodrigues e seus seguidores e desde então trilhei caminhos antagônicos a tudo ao que os petistas poderiam representar, percebi que algo de novo estava sendo construído no Acre e que, coincidência ou não, tudo aquilo tinha um pouco de mim, dos meus sonhos, dos meus ideais. Era 1999.

Eles haviam chegado ao poder, Jorge governador, Tião Viana senador - uma dobradinha política jamais registrada na histórica da democracia brasileira. Isso, em si, me causava espécie. Mas veio o governo, as ações de governo, o mandato do Tião em Brasília. Nas duas ações, a vontade e a determinação de mudar o Acre. E eu não pude ficar omisso. Ao perceber que aquele governo que estava sendo construído reunia tudo o que eu, como acreano, sempre defendi, não tive dúvidas e resolvi me juntar à tropa. Sem medo, sem dúvidas.

E agora estou, de novo, num fogo cruzado: tenho que defender as idéias do Tião Viana. E pior: defendê-las diante de pessoas que, durante os últimos oito anos viveram às expensas deles, como aliados, mas, à boca pequena, sempre que podiam, ao sabor das conveniências, mesmo que fosse o aplauso fácil, criticavam e criticam suas ações, sua forma de fazer política. Isso em privado. Em público, os saudavam como revolucionários. Como agora.

E como não sou covarde, dou nome aos bois: refiro-me aos jornalistas Antônio Alves e Altino Machado, que se apresentam como "pensadores" de um Acre novo, etcetra, mas não podem viver sem cargos públicos. Eles fazem algo concreto em defesa de alguma coisa como o pessoal de São Paulo a que me referi no início do artigo? Quem conhece o trabalho concreto de algum deles em defesa do meio ambiente? Á única coisa concreta e em comum é que eles fazem é fumar tabaco de rolo, naturalismo - talvez para protestar contra a tabacaria internacional ou nacional mas industrializada. Cigarrinho que eles saboreiam após os seguidos cafés em restaurantes da moda, como Café do Teatro, como nos velhos tempos de O Casarão.

O fato é que, sem financiamentos para seus projetos pessoais, sem o custeio de diárias para suas viagens, sem o dinheiro público a lhes custear até os almoços nos restaurantes da moda com seus amigos importantes, nos locais e com os quais eles "elaboram" suas idéias de ataques pessoais públicos para depois pedir desculpas em privado, eles não fazem nada. São hipócritas. E o mundo está cheio de hipocrisia.

◙ O artigo foi publicado na sexta-feira, no blog do Edinei Muniz, um dia após o debate sobre prospecção de gás e petróleo promovido pelo gabinete do senador Tião Viana. Em troca de algum punhado de dinheiro, Tião Maia desempenhou o mesmo papel para os ex-governadores Romildo Magalhães e Orleir Cameli, entre outros menos votados, como os ex-deputados Narciso Mendes e Carlos Aírton. E que me perdoem os leitores por ceder espaço à baixaria, mas se trata de uma fonte "oficial" do debate. A última "contribuição" dele foi entregar e pedir, no Café do Teatro, para que eu publicasse no blog a imagem (veja aqui) do convite do gabinete do senador, apontando o erro "prospeccção de derivados de petróleo". Disse que estava insatisfeito com o chefe de gabinete dele. "Mas não diga que fiz isso", pediu. Antonio Alves é uma das testemunhas. O mundo está cheio de covardia e hipocrisia, realmente.

Em tempo: Não é verdade que foi do senador a iniciativa do debate, do esclarecimento, da possibilidade do surgimento do diálogo e não do enfrentamento. Foi deste modesto blog, com seus leitores e colaboradores, a exigência da necessidade do debate. E o debate começa a ganhar espaço na mídia brasileira. Do contrário, teriam apresentado a grande solução, pronta, e caberia a nós agradecer e tomar a benção. Este blog também repudia toda forma de cerceamento à livre expressão, assim como toda tentativa de achincalhe das pessoas e instituições que procuraram iniciar o diálogo acerca das vantagens econômicas da prospecção, dos impactos socioambientais e das salvaguardas ambientais e sociais necessárias antes do início das atividades. Qualquer cidadão tem o direito de divergir da iniciativa do senador Tião Viana, sobretudo seus eleitores. Em que pese a leviandade do assessor, o senador continuará sendo tratado aqui com o respeito que merece.