domingo, 15 de abril de 2007

ORLEIR CAMELI VIRA ECOLOGISTA

"Eu, que já fui um devastador, agora sou verdão. Sou ecologista também", disse o ex-governador, aliado do Governo da Floresta

Lindomar Padilha


Foi fraquinha, fraquinha, a palestra sobre prospecção de petróleo e gás, realizada aqui em Cruzeiro do Sul, nesta noite, organizada pelo senador Tião Viana (PT). Começou com 20 minutos de atraso.

Havia no Teatro dos Náuas uma platéia de aproximadante 120 pessoas, formada basicamente por políticos e comerciantes. Foram distribuídos exemplares de um encarte do jornal A tribuna, como em Rio Branco, com o título "O petróleo é nosso".


O palestrante Ronaldo Dreyer Bressane, da Petrobras, veio vender o peixe dele e falou cerca de meia hora sobre o que a empresa tem feito na região amazônica, especialmente em Urucu (AM). Ele me pareceu muito confuso.

Apresentou um mapa da região onde provavelmente há petróleo. A área coincide com o Parque Nacional da Serra do Divisor, onde, de acordo com a lei, não pode acontecer esse tipo de atividade. O senador Tião Viana não palestrou, mas fez algumas intervenções discretamente.


Ao final da palestra, abriram tempo para a manifestação de sete pessoas que estavam inscritas. Eram basicamente políticos ou funcionários do governo estadual. Aliás, estranhei muito o número de funcionários públicos estaduais que estavam trabalhando para organizar o evento. O governo do Acre foi representado pelo vice-governador César Messias.

Durante as intervenções dos iscritos, apenas rasgação de seda, a começar pelo ex-governador Orleir Cameli, que se declarou ambientalista.

- Eu, que já fui um devastador, agora sou verdão. Sou ecologista também - disse.

A intervenção mais estranha foi da professora Karen (não sei o sobrenome dela), uma paleantóloga da tal Universidade da Floresta. Ela disse que já possui um grupo trabalhando nessa área de pesquisa e que o senador pode contar com o irrestrito apoio da Universidade da Floresta para a prospecção de petróleo e gás. Não sei o nível de autonomia dela para falar dessa forma.

O coordenador da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá compareceu e estava visivelmente incomodado com a organização do evento por duas razões.

O senador havia marcado uma conversa sobre o tema com as lideranças indígenas, em Rio Branco, para o dia 19 de abril, que foi desmarcada por causa da palestra de hoje.


A outra razão foi o fato de a palestra ter sido marcada em cima da hora, o que impossibilitou a vinda de representantes das aldeias. O próprio coordenador veio às pressas, pois estava em viagem para as aldeias.

Confidenciou-me que não falou porque se sentiu constrangido. Também pudera, só tinha a nata da sociedade cruzeirense, cujo preconceito contra os indígenas costuma ser manifesto escancaradamente.


Para finalizar, no meu entendimento, não houve debate. O que houve foi um grupo de narcisistas diante do espelho, além de meia dúzia de políticos querendo aparecer. Às 20h15 o festival de auto-namoro e vaidade já havia terminado.

Lindomar Padilha é da coordenadoria do Conselho Indigenista Missionário em Cruzeiro do Sul e colaborador do blog. No auge da gestão, Orleir Cameli mereceu no jornal O Globo a seguinte manchete: "Um campeão de falcatruas na cadeira de governador". É compreensível a guinada de devastador para ecologista: o projeto de prospecção de petróleo e gás vai beneficiar as empresas e os latifúndios que o ex-governador possui no Vale do Juruá.

14 comentários:

Anônimo disse...

O Acre está mostrando hoje ao mundo a incrível arte de administrar a floresta a partir da jaula dos macacos. E tome pirueta!

Anônimo disse...

Oleir ser ecologista não é estranho, até o Collor jé é, mas essa moça da Universidade da Floresta, depois de eu ainda imaginar que se poderia engrandecer a universidade com o dinheiro da prospecção (Dêem uma olhada no Blog Fora). Aí é falta de inteligência, não tem pra onde, podendo puxar o bonde pra si, faz é empurra-lo para longe! Tadinha, prefiro pensar que é porque o Orlei estava por perto, e já que ele estava "doando" suas terras para a "ampliação" da universidade, era necessário não dessoar dele.

Arison Jardim

Anônimo disse...

Prezado Sr. colaborador do Blog do Altino
Como pessoa que aparentemente deve defender a liberdade de expressão gostaria de lhe informar que qualquer professor tem autonomia para elaborar e executar qualquer projeto, desde que tenha tramitado e sido aprovado pela instituição. O processo porém não depende de interferência/benção do reitor, presidente do pais, governador, ong ou blog. Esta é a tão falada autonomia universitária que apesar do grau de independência também tem a outra face que é o ostracismo perante a comunidade caso a instituição não dê resposta à sociedade. Como já foi falado porém esta resposta não tem compromisso em agradar qual seja lá o grupo ou segmento da sociedade. O compromisso é em resolver problemas/apresentar respostas. A tal Universidade da Floresta da Floresta a qual o Sr. se refere é uma unidade da UFAC que apesar de defeitos tem também suas qualidades. A forma como o Sr. se refere a instituição demonstra um mágoa talvez pelo fato da instituição não seguir os caminhos que alguns grupos ou pessoas gostariam e sim caminhar independente. Espero que esta seja a tua opinião é não da coordenadoria do Conselho Indigenista Missionário em Cruzeiro do Sul, pois caso isto ocorra serei levado a acreditar que a instituição trabalha para divulgar impressões de uma pessoa e não de um grupo para o qual teoricamente foi criada para atender.

Anônimo disse...

O PT, que já foi triturador de reputações, agora virou lavanderia de biografias. E Orleir Cameli no Acre, como Jáder Barbalho no Pará, José Sarney no Amapáranhão (mistura do Amapá com o Maranhão), Paulo Maluf e Orestes Quércia em São Paulo, Fernando Collor nas Alagoas e tutti quanti, bem que podem dizer: eu não mudei.

Anônimo disse...

Caro Altino, esta professora a que tanto te estranha, é a PROFESSORA DOUTORA KAREN ADAMI RODRIGUES (http://lattes.cnpq.br/0038216423389766), diretora do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza (www.ufac.br/ccbn), Paleontóloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Uma profissional (funcionária federal concursada) que trabalha incansavelmente para o sucesso do campus floresta e do projeto Universidade da Floresta, sem distinção de sábado ou domingo. Ela comanda uma equipe de 12 doutores e 5 mestres que conseguiram no ano de 2006, obter quase 2,4 milhões de reais em projetos submetidos a Finep, CNPq e Boticário, para serem investidos em Cruzeiro do Sul, firmaram convênios com o PIATAM/Petrobrás, CAPDA/Suframa, UNIR, e em 2007 com a UNIFESP para financiamento e desenvolvimento de projetos conjuntos.
Desde 2006, antes deste alarde do Petróleo no Acre, ela conseguiu aprovar no Universal/CNPq o projeto: “Avaliação do Potencial Fossilífero da Amazônia Ocidental - Acre nas Reconstituições Paleoambientais para Prospecção de Petróleo e Gás.” obtendo R$ 175.100,oo. Vale a pena ressaltar que somente alguns pesquisadores conseguem aprovar um projeto deste valor no Universal/CNPq.
Se existe alguém que pode colocar a CCBN do Campus Floresta (Universidade da Floresta) a total dispor do Senador e da Petrobrás para auxilia-los nesta empreitada, é a professora Karen.

Atenciosamente

Leonardo Calderon

Anônimo disse...

Eita que tá ficando bom. A universidade da floresta ajudando na prospecção de petróleo na floresta. Poderia ajudar tambem na prospecção de outros minérios. Eu acho que tem diamente na serra do Moa. Em santa Rosa do Purus também.
O que é isso Altino! A professora não precisa se defender. Quem é a favor é a vavor. Quem é contra é contra. Assim é que se dá o debate.

Anônimo disse...

Calderón tem algo a ver com a caldeira deixada pela Petrobrás na Serra do Moa?

Anônimo disse...

Pow Altino, como que tu não publica meu comentário, só porque eu fazia propaganda? heheheheh

Arison Jardim

Anônimo disse...

O Orleir sempre foi verde.
Eu o conheci caçando borboletas nas florestas do juruá.

Anônimo disse...

Até o Orleir é ecologiasta.Isso já é se preparando para ganhar uns trocados da prospecçãoKKKK!!!!

Anônimo disse...

Professor Lindomar, me lembro das aulas que tinha contigo. Uma coisa que você sempre falava nas aulas de antropologia filosófica é que não existe ciência neutra nem pesquisador não humano. Todos têm seus sentimentos, sonhos, grandezas, vaidades. Temos antropólogos que também são contra os indios, você mesmo dizia isso. Com muita consideração e sabendo que é a favor da democracia, deixa a professora ser a favor da prospecção.

ALTINO MACHADO disse...

Caro Altino Machado,

No domingo, dia 15, fiz uma nota e tentei enviar para você mas acredito que não consegui. Pode ter sido por problema de BIOS - Bicho Ignorante Operando sistema, no meu computador. Apresnte a seguir a mesma.

um grande abraço,

VALDEMIR NETO


Fiz parte da equipe de mobilização para a palestra sobre “Prospecção de Petróleo no Acre e Responsabilidade Socioambiental”, organizado pelo Gabinete do Senador Tião Viana e pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cruzeiro do Sul.
Quero de forma muito fraterna discordar das afirmações feitas pelo companheiro Lindomar.
1. Desde 5ª feira, dia 12 de abril, que a divulgação deste evento está sendo realizada através da rádio Juruá FM, rádio de maior audiência em Cruzeiro do Sul;
2. Na 6ª feira foi entregue o convite impresso, - a partir das 11:30 horas, após o vôo da RICO, até o final da tarde, - para as instituições governamentais e não governamentais, entre estas: as igrejas, pastorais, sindicatos, associações, etc.
3. A maioria das instituições que atuam em Cruzeiro do Sul foram convidadas. Se alguma ficou de fora, foi uma falha nossa que estávamos mobilizando e não foi proposital;
4. Na nossa catedral, temos missas no final de semana, SABADO as 19:30 h, DOMINGO as 06:00 h, as 08:15 e as 19:30 h e se preferir, na 2ª feira as 19:30 h. Sou católico e para poder participar do debate, já participei da santa missa as 6 da manhã deste domingo. Com isso, cumpri a minha obrigação prazerosa de cristão e irei participar do encontro as 18 horas;
5. Nunca se foi tão democrático o debate sobre um assunto tão polêmico. Anteriormente, vinha alguém “ empurrava de goela a baixo” o assunto e fingiam um debate só pra dizer que era democrático;
6. Agora todos estão podendo participar dos fóruns de discussão, inclusive meu amigo Lindomar que mesmo sendo contra o projeto do senador, foi respeitosamente convidado para externar sua opinião;
Este com certeza, será o primeiro de vários debates que surgirão a respeito do tema. Eu particularmente estou ansioso pois tenho dúvidas. Estou buscando informações em várias fontes para poder ter uma opinião racional formada sobre o assunto.
Não é hora de radicalizar. A hora é de construção de um jeito acreano de ver o assunto. Nos já conseguimos avançar em tantos temas, por que não nesse? É isso que nos faz diferente. Somos capazes de pegar o modelo de desenvolvimento conservador que exclui e destrói e, transformá-lo em sustentável.
Acredito que iremos construir uma proposta equilibrada, que será boa para toda a sociedade acreana. Acredito que não fugiremos de nosso propósito que é transformar o Acre no melhor lugar para se morar na Amazônia, no Brasil e no Mundo. Sustentabilidade é e tem que ser sempre a palavra chave.

Se no futuro, após todos os debates, observarmos que não é isso que queremos, lutaremos para construir uma alternativa. O que não podemos é ser contra o debate.
Respeito ao Juruá se constrói com participação, com propostas positivas e com a boa luta de nosso povo.

Valdemir Neto, Gestor de Políticas Públicas, Dirigente do PT em Cruzeiro do Sul

Anônimo disse...

Prezados, deixa defederem a prospecção, tá claro que petróleo não tem mesmo, GAS PODE SER. O pior, concordo, é a "UNIVERSIDADE DA FLORESTA" se mobilizar, com projetos bla bla bla a favor de um ideal político em especial, isso sim é que é feio de se ver, principalmente para quem está começando. E ainda quem sai em defesa - uma CALDEIRA apresentando um Curriculum Vitae do CNPQ isso foi mais engraçado mesmo.

Anônimo disse...

Caro Altino Machado, leitores e comentaristas

No domingo dia 15 no Teatro do Museu em Cruzeiro do Sul fui juntamente com colegas da UFAC - Campus Floresta- "Universidade da Floresta", convidada a participar do debate sobre o projeto do Senador Tião Viana. Ao fazer a primeira fala, após a explanação do Geólogo da Petrobrás, tentei de alguma forma demonstrar que os professores deste novo Campus estão atentos e estarão apoiando o projeto no sentido de acompanhamento de levantamentos biológicos, avaliação de possíveis impactos negativos ao meio ambiente da Amazônia Ocidental, pois somos um grupo de pesquisadores de diversas áreas. Ao falar em apoio, me reportei ao projeto aprovado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)encaminhado em julho de 2006, antes desta polêmica da prospecção de petróleo iniciar. O projeto enviado ao CNPq, se refere a Avaliação do Potencial Fossilífero na Amazônia Ocidental - Acre nas Reconstituições Paleoambientais para prospecção de gás e Petróleo. Em resumo, não existe forma de prospecção sem pesquisa científica associada e mais, se as pesquisas apontarem que não há condições, nada será feito. Isto é referência dentro da Petrobrás e de seus centros de pesquisa em micro paleontologia. Estou iniciando a formação de alunos desta Universidade, ACREANOS, para atuar em uma área da Paleontologia (não antroplogia) que não foi pesquisada ainda, e esta realmente fará uma reconstituição da Amazonia pretérita para criarmos modelos ambientais e climáticos do passado, junto a grandes centros do pais. Assim, penso ser a Universidade da Floresta (UFAC - CAMPUS FLORESTA) da região do Vale do Juruá a que possibilitará entre outras iniciativas o cuidado para que este ou outros projetos sejam microscopicamente examinados e discutidos. Sem pesquisa meus caros, sem melhorias; sem cursos superiores para os filhos do Acre, sem desenvolvimento sustentável. Nós não somos pesquisadores iniciantes e estamos extremamente preocupados com as questões em debate, por isso nos sentimos responsáveis quanto pesquisadores a estar participando deste processo! Ou seria melhor americanos, ou outros pesquisadores de fora? Aqueles que vem aqui e levam a nossa biodiversidade de barquinho pelo Peru, Bolivia ou chegam disfarçados ou acompanhados de cidadãos acreanos para outras atividades (...?)ou compram? Ou ainda, seria melhor abrirmos debates sobre os impactos negativos já existentes hoje no Acre sem a prospecção? Ou seria melhor assinarmos embaixo que o povo está bem muito obrigada? Ora meus caros, peguem seus barquinhos, voadeiras, visitem os povos indigenas e as populações ribeirinhas, ouçam e fiquem com eles um pouquinho (em um ano e meio, creio que já conhecemos cantos e encantos que muitos acreanos sentados em seus gabinetes desconhecem). Temos responsabilidades com todas as comunidades do ACRE como profissionais e cidadãos já Acreanos. Não temos compromissos eleitoreiros, porque somos funcionários dedicação exclusiva e dedicação aos povos de maneira socioambiental e integralmente. Assim, considero um tanto ingênua e bastante calorosa as manifestações de alguns que ainda nos desconhecem. Somos tão responsáveis que nos colocamos com nossas lupas ao lado e junto dos encaminhamentos deste projeto, e não a margem vendo o processo acontecer de qualquer maneira ou simplesmente perdendo tempo em criticas ansiosas, descabidas ou ainda criando expectativas apressadas nas comunidades, coisas essas comuns .
As mesmas causas da degradação ambiental, meus caros, são as causas da degradação social! Quais seriam as já existentes aqui no Acre? Não costumo responder ou me reportar aos tipos de comentários aqui realizados, porém como Diretora de um Centro da Universidade, realmente senti a maldade e porque não dizer deselegância de alguns comentaristas. Não sou a favor da prospecção, e nem meus colegas, até ficar claro pelas pesquisas : onde, como e quem vai realizar a possível prospecção! Por isso estou junto e ao lado do Projeto! Minhas considerações de muito respeito a comunidade Acreana consciente e ambientalmente correta!
Karen Adami Rodrigues