sexta-feira, 20 de abril de 2007

DEU NO QUE DEU


Havia mais de 15 anos que não tirava um tostão do bolso para comprar jornais do Acre. Hoje desembolsei R$ 1,50 por causa do jornal O Rio Branco, que completou 38 anos e dedicou quatro páginas ao aniversário. Tal qual quem aparece em coluna social, comprei um exemplar após alguém ter avisado que havia duas fotos minhas na edição.

A minha ligação com o jornalismo começou no Colégio Acreano, no finalzinho dos anos 70, onde usava estêncil para tirar, em papel A4, o "Enxerto", cujo símbolo era uma cunha penetrando a cabeça de um garoto.

Metido a poeta, logo em seguida aceitei convite para editar a página semanal "Contexto Cultural", n'O Rio Branco, quando o professor Clodomir Monteiro decidiu fazer mestrado no Recife. O meu interesse era basicamente publicar minhas poesias e ler as dezenas de livros que as editoras enviavam ao editor.

Foi bom rever as fotos, mesmo aquelas onde aparecem alguns canalhas que desapareceram do Acre sem que a gente sinta a mínima falta deles. Mas senti falta de uma foto do jornalista Antonio Alves, que tirou O Rio Branco do ostracismo com suas crônicas geniais no começo dos anos 80.

A foto no alto foi tirada no dia que tocaram fogo no prédio da Assembléia Legislativa do Acre. Eu era correspondente do Estadão. Encontrei o vice-governador isolado, contemplando o fogo, e ousei perguntá-lo sobre o motivo que levou o grupo político dele a promover aquele incêndio. Fui suspenso pelo colarinho, mas consegui me livrar de um murro no rosto. Ele me soltou e ordenou que o coronel Coriolano (no fundo) me prendesse. Populares e os jornalistas Pheyndews Carvalho, Abelardo Jurema e Chico "Araldite" Araújo impediram a prisão.

Na foto abaixo, aparecem o jornalista Aníbal Diniz (ao telefone), o saudoso fotógrafo Maia Coelho, os diagramadores Afonso Marcílio e Roberto Parra, além do Edson Luiz, Suede Chaves e eu, mui concentrado diante de uma Remington. Eu estava com 18 ou 19 anos.

Contemplando as fotos, sem saudosismo, pude concluir que a imprensa acreana naqueles anos era bem menos ruim. O saudoso editor José Chalub Leite e o diretor Eduardo Mansour, por exmplo, estimulavam a diversidade de idéias na redação, onda havia gente do PT e do PDS.

Tudo mudou para pior quando despontaram na política Flaviano Melo, Edmundo Pinto, Orleir Cameli e Jorge Viana. Todos abusaram ao tratar a imprensa como mero acessório de suas ambições eleitoreiras. Deu no que deu.

Em tempo: acabou a farra de comentários anônimos neste blog. Quem quiser fazer comentarios terá que se registrar. É a forma que encontrei de barrar a leviandade da qual eu mesmo já fui vítima em blog. Quem preferir pode enviar comentários para meu e-mail e indicar a qual post se destina. Quem não gostar, que crie seu próprio blog. É bem simples.

4 comentários:

Cartunista Braga disse...

Mano velho tenho que te corrigir. E quem sou eu para fazê-lo sem cometer um ou dois mil deslizes na língua mater (Boçal que sou e devidamente armado de um bom Huais). É saudosismo, sim. E tu tens que ser saudosista mesmo, perto que estás da hora de ser saudosista. Tu és humano. E, como todo bom humano, cheio de sentimentos, cheio de coisas que vais tentar explicar enquanto viveres. Falei do Phé ainda agorinha para pessoas que não imaginam o que é ser contemporâneo de gente como tu, Chico Araújo, Abelardo "Doido" Jurema, Aníbal Diniz e Zé Leite.
Parece que eu estava lá, no dia em que o Romildo, governador, esticou o braço no rumo da única boca que perguntou o que ninguém teve coragem de perguntar. Mas tiveram a coragem de acreditar que tu tava certo.
Muito linda essa homenagem do nosso Jornal O Rio Branco a quem fez jornalismo de verdade no Acre.

Anônimo disse...

Altino,
Sou leitor assíduo de seu blog. Diariamente, você nos brinda com informações exclusivas e, nos últimos dias, tens propiciado um debate qualificado acerca do Acre atual.

Ocupo seu espaço por outra razão. O post "Deu no que deu" me fez viajar no tempo. Aquela foto (eu com cara de assustado ao lado do Abelardo Jurema e do Pheyndews Carvalho) trouxe boas lembranças do bom jornalismo de outrora do Acre. Que bons tempos! Aliás tempo em que nossas casas (a sua e a minha) foram alvejadas de balas. Corremos risco; denunciamos trabalho escravo, o aluguel de parte do Acre

de parte do Acre para empresas da Colômbia, o loteamento do poder, o crescimento da hepatite, CPFs falsos, compra de avião, etc, etc. Lembrei-me do matraquear inconfundível das Olivetti Línea 98 (recorda-se a primeira greve que fizemos ) e as horas a fio que passava ao telefone soletrando cada palavra da matéria transmitida para as redações do Sul. Recordei-me também das acaloradas reuniões da AJA (hoje Sinjac) no porão do Palácio das Secretarias, na Ufac-Centro e no auditório da Prefeitura.

Tudo feito por um Acre melhor; um Acre decente. E o que se vê uma década depois? Toda aquela gente que enlameou o nome do Acre se passando de bons mocinhos. É demais!

Aqui em Brasília, onde me refugiei, vendo tudo isso, tenho de tirar o chapéu para o Luiz Pereira, ex-prefeito de Plácido de Castro, que um dia nos ensinou que a política é dinâmica, e rememorar os ensinamentos do saudoso José Chalub Leite, que não se cansava de dizer: "o Acre é terra de muro baixo". E como é.

E você não esquece do apelido que me aplicou.

Continua firme.

Chico Araújo

Cartunista Braga disse...

Ei, Chico, momo véi
Devo lembrar-te que esses tiros nas casas de vocês foram folclorizados por colegas,e "amigos" de boteco que diziam terem sido os buracos nos muros feitos com chave de fenda para chamar a atenção das autoridades e que vocês não passavam de joranalistas embriagados e, pejorativamente, endaimados. A vida de vocês e suas famílias não significava nada nem pra quem andava com vocês. Mas tu tá "muito bem, obrigado!" e o Altino mala, chato, pulsante e vivo mais do que nunca.

Anônimo disse...

Grande cartunista Braga.

Mas o Acre é assim mesmo. Um estado atípico; um estado onde é preciso acontecer uma tragédia para que os poderosos de plantão dêem crédito. Bom, deixa isso para lá. O mais importante é que demos nossa parcela na construção da história do Estado.

Hoje, meu caro Braga, estou em uma nova trincheira. A defesa da Amazônia; aliás, quero convidá-lo por meio do Blog do Altino a fazer uma tirinha semanal na Agência Amazônia.

Que Deus lhe abençoe e proteja sua família.

Chico Araújo