segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

BINHO MARQUES NA POSSE

Novo governador do Acre chora ao lembrar de Marina Silva e ao agradecer a Jorge Viana; anima o público ao encerrar discurso com o grito "vamos à luta"

O governador Binho Marques (PT) prometeu na madrugada de hoje, durante os discursos de posse e de transmissão de cargo, que vai democratizar os espaços de ação na vida social, institucional e econômica do Acre e renovar o projeto popular representado pelo Governo da Floresta. Ele reconheceu a magnitude das mudanças, realizações e conquistas na gestão do ex-governador Jorge Viana e afirmou que tem o desafio de renovar o que de melhor já se deu no Governo do Acre.

Segundo o governador, o desafio de renovar a boa governança começa pela adequação do organograma governamental às necessidades de gestão. Ele declarou o compromisso de zelar pela honestidade, valorizar a competência e subordinar o poder ao interesse público.

- Renovar significa fazer de novo e fazer de forma nova. Significa recomeçar e também mudar para melhor. Renovar significa tornar novo e dar novas forças. Sendo assim, isto não é uma tarefa para ser cumprida por um só cidadão, ainda que investido na condição de governador. Trata-se de uma evolução a ser trabalhada pelo conjunto da sociedade.

Binho disse que a economia só será forte com a independência dos setores produtivos e que compete ao Estado remover entraves burocráticos, valorizar vocações econômicas, zelar pela sustentabilidade e apoiar a produção, reconhecer o lucro honesto, defender o salário justo e fomentar a distribuição de riquezas.

Disse que o Acre finalmente oferece boa infra-estrutura e um horizonte de possibilidades à iniciativa privada que, além das nossas fronteiras, se estende para o mundo.

- Agora é hora de fortalecer parcerias por melhores serviços e pela promoção da cidadania.


Emoção

Binho Marques interrompeu o discurso três vezes para chorar ao lembrar dos continuadores da luta de Chico Mendes, especialmente da senadora Marina Silva, ministra do Meio Ambiente.

- São milhares de homens e mulheres, são centenas de companheiros e companheiras que mereciam ser citados aqui – mas tenho certeza que todos se sentirão honrados quando resumo tantos nomes com a lembrança da nossa companheira Marina.

O governador contou que conheceu Marina Silva em 1979, mas foi na Universidade Federal do Acre, onde chegaram juntos em 1981, que ela o fez entender que a luta social exige muito mais que a simpatia ou colaboração eventual. "A transformação da sociedade é sentimento de solidariedade e amor que se deve viver intensamente".

- Com a sua própria história, a Marina me mostrou a pobreza, mas me mostrou também que é possível transformá-la. A ela devo a minha consciência política e social.

O governador também se emocionou ao agradecer a Jorge Viana por ter interferido decisivamente na trajetória de sua vida.

- Não tenho receio em afirmar que o Jorge sempre acreditou mais em mim do que eu mesmo. Quando ele me provocou a trocar o conforto da minha carreira profissional para viver o desafio de fazer educação, eu não queria aceitar, mas ele me convenceu que eu podia fazer algo maior.

Binho também lembrou que ficou entre os que resistiam quando Viana sugeriu seu nome para vice-governador. Ele disse que o ex-governador lhe deu a oportunidade de retomar a participação num projeto para o Acre e de resgatar os sonhos que alimentou nos seringais, fundando escolas e aprendendo com Chico Mendes.

- Minha gratidão ao Jorge não se esgota neste agradecimento e nunca se esgotará. É meu dever honrá-la com o tempo. Por isso levarei esse sentimento sempre no coração.


Em defesa dos povos

Binho disse que a sociedade acreana já viveu tempos de conflito, mas superou a intolerância que obrigava os empates, abriu espaço para o diálogo político e dá crescente mostra de superação de preconceitos, aprendendo a valorizar uma diversidade cultural que vai sendo reconhecida como um patrimônio "do nosso povo – ou dos nossos povos".

Ele assinalou que o Acre finalmente reconhece a legitimidade do movimento social, pois todas as organizações têm a garantia de encaminhamento das suas demandas, o que aconselha a reflexão do papel que elas podem e devem desempenhar.

- Indicadores sociais e econômicos atestam que o Acre encontrou o caminho do desenvolvimento sustentável, mas para seguir em frente é fundamental consolidar a mudança do modelo do nosso Estado de provedor para articulador das atividades sociais, econômicas e políticas.

Ao ar livre, na frente do Palácio Rio Branco, após a receber de Jorge Viana a faixa de governador, Binho Marques pediu um minuto de silêncio em memória, entre outros, de Wilson Pinheiro, Ivair Higino e João Eduardo, lideranças populares que foram assassinadas no Acre.

Entre os sonhos que espera realizar está o da "extinção tanto quanto possível" do analfabetismo. Como prova de que sempre é tempo de aprender e ensinar, o governador apresentou o estudante Francisco Davi da Cruz, 89 anos, que veio do Ramal do Alexandre, em Rodrigues Alves, prestigiar a posse.

- Seu Francisco Davi é o estudante mais idoso do Brasil. Em 2005 ele participou do programa de alfabetização de adultos e não parou mais de estudar, já estando matriculado para o ano letivo de 2007. Isso representa bem a capacidade de perseverar da gente do Acre e o compromisso de transformação social da nossa educação.

Binho Marques assinalou que foi eleito governador pela conjunção de dois fatos: a evolução da luta popular iniciada nos anos 70, que envolveu sua geração a partir dos anos 80; e a vontade da sociedade de renovar o processo de mudanças políticas, econômicas e sociais iniciadas por Jorge Viana com o Governo da Floresta.


Sustentabilidade ambiental

O governador disse que a consciência ambiental que desperta no Brasil, inclui o reconhecimento da dívida do país com a Amazônia e com os seus povos. Segundo ele, o desfecho das recentes polêmicas que envolveram a ministra Marina Silva também aponta a prevalência do bom senso no Governo Federal e a preferência dos mercados consumidores pela produção sustentável.

- O mundo reclama nossas florestas e nossas reservas de água doce. Mas elas são nossas e cabe a nós escolher entre tentar escondê-las das vistas do mundo globalizado ou buscar as oportunidades que elas criam.

Marques lembrou que um único produto da floresta, a borracha, fez o Acre viver dois ciclos históricos de acentuada geração de riqueza. Segundo ele, o mundo inteiro está enganado se a nossa diversidade não guardar tesouros inesgotáveis, se explorados com inteligência, e suficientes para fazer justiça social para nossa população.

- Já demos os primeiros passos, estamos aprendendo rapidamente a manejar nossas riquezas naturais e podemos assumir a vanguarda da produção florestal brasileira. É meu dever perseverar na união do Acre pela realização deste sonho que despertou com Chico Mendes e ganhou vida no Governo da Floresta, porque agora o desenvolvimento sustentável é uma possibilidade real.

Binho Marques foi mais aplaudido quando ergueu o braço direito com a mão fechada e encerrou o discurso com um grito:

- Vamos à luta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa união dos políticos do Acre é um exemplo pro Brasil. Voces estão de parabéns.